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N. Simon (1962- )

Justificação

A Justiça de Cristo Imputada Examinada à Luz da Escritura


Por Nicolas Simon


 

ÍNDICE

 


Iniciarei esta breve revisão da doutrina bíblica da justificação com duas citações do ministério Cristão contemporâneo. Infelizmente, elas representam a opinião comum defendida sobre o assunto. A primeira citação afirma: O que Cristo recebeu de nós – a culpa – trouxe-Lhe morte. O que recebemos d’Ele – bondade – nos traz vida. A bondade que obtemos vem do mérito que Jesus conquistou, e a bondade de Jesus permeou todos os detalhes de Sua vida.[1] E a segunda diz: Embora sua obediência à lei de Deus seja contaminada e imperfeita, a obediência de Cristo é perfeita e completa. E Deus não apenas perdoou os seus pecados (tanto os sutis quanto os não tão sutis), mas também creditou a você aquela obediência imaculada de Cristo.[2] Os livros citados não são únicos; um se enquadra no gênero da apologética, o outro é um livro de ministério prático. Expressões semelhantes podem ser encontradas em uma ampla série de ministérios Cristãos antigos e atuais. Esses livros não refletem ensinamentos radicais, nem seus posicionamentos estão limitados a uma tendência teológica. Posso garantir que essas citações não foram tiradas do contexto; em vez disso, elas capturam de forma bastante concisa a maneira como muitos Cristãos veem a justificação. Este ensino permeia o pensamento Cristão. Infelizmente, não é bíblico.


A doutrina expressada é chamada de justiça de Cristo imputada. Ela afirma que, embora Cristo tenha morrido para o perdão de nossos pecados, nós estamos diante de Deus na justiça de Cristo imputada.[3] É dito que a vida justa que Cristo viveu na Terra foi creditada a nós e, porque os méritos de Cristo foram colocados em nossa conta, isso nos permite ser justificados. Apesar de isso ser um entendimento popular (ou variantes dele), não é apoiado pela Palavra de Deus. Naturalmente, isso levanta a questão: Se esta é uma visão antibíblica da justificação, o que a Escritura tem a dizer sobre o assunto?



Antes de começarmos nossa investigação, gostaria de voltar no tempo e considerar um evento importante na história do Cristianismo, a Reforma. Martinho Lutero (1483-1546), uma figura-chave da Reforma, começou sua carreira como um sacerdote católico romano. Embora fosse um padre, Lutero tornou-se cada vez mais contrário a certos ensinos e práticas da igreja. Ele entendeu que a salvação não era baseada em obras, mas somente na fé. Uma prática que especialmente irritou Lutero foi a venda de indulgências. Uma indulgência poderia ser comprada para reduzir a quantidade de punição a ser recebida por alguém por determinados pecados. Como a Igreja Católica Romana chegou a essa concepção – de que a compra de um certificado poderia reduzir a consequência (mesmo que apenas temporariamente) do pecado de uma pessoa, é notável! Esse sistema ensina que existe um tesouro, um armazém, por assim dizer, dos méritos de Jesus Cristo e dos santos.[4] Eles podem (ou assim ensinam) ser acessados para nosso benefício.


Reconheço que simplifiquei as coisas, mas os detalhes desse ensino não afetam o princípio geral em questão. Não importa como alguém olhe para isso, existe essa noção de que os méritos de um podem ser transferidos para outro. Isso é completamente sem fundamento bíblico. E ensinar que alguém pode acessar esses méritos pela transferência de dinheiro – a compra de uma indulgência – é uma grande iniquidade (At 8:20). A venda de indulgências nada mais era do que um imposto sobre o pecador em benefício monetário da Igreja Católica – o Papa Leão X precisava de dinheiro para reconstruir a Basílica de São Pedro. Martinho Lutero tinha todo o direito de estar indignado. A recusa de Lutero em aceitar indulgências foi uma daquelas faíscas que acabou se transformando nas chamas da Reforma Protestante. A Reforma trouxe uma luz notável após as trevas da Idade Média. É surpreendente para mim, portanto, que o ensino comum sobre a justificação (que resultou da Reforma) ainda envolva a transferência de mérito. Certamente, Cristo, em comparação com os santos católicos, tem méritos incomparáveis, mas que Sua vida justa (em particular, Sua obediência à Lei) possa ser transferida para mim, é totalmente sem base bíblica. Todos esses esquemas tentam consertar o homem na carne; para preencher o que está faltando, atribuindo a ele a justiça da vida de Cristo. As implicações deste ensino quanto à justiça de Deus, a obra de Cristo, a natureza do homem e a lei são inimagináveis.



O que é justificação? O que significa a palavra? “Como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9:2). A justificação contrasta com a condenação – as duas são antônimos. Além disso, as palavras justo, justificado e justificação claramente estão juntas, assim como reto, correto e retidão. Não fica, entretanto, imediatamente óbvio para quem fala português que essas famílias de palavras estejam relacionadas. Em grego (a língua original do Novo Testamento), a correlação das palavras é bastante evidente. Alguém que é reto é justo – a palavra é a mesma no grego (dikaios). Alguém que é justificado (dikaioo), foi declarado justo (dikaios). Simplificando, justificação significa declarar justo.


Agora temos uma definição bastante abstrata de justificação – declarar justo – mas gostaríamos de um entendimento mais profundo. Enquanto o perdão volta-se para a pena de nossos pecados, a justificação tira nossa culpa. Um ladrão pode ser perdoado (nesse caso, ele não paga nenhuma pena; ele não restaura o que tirou), no entanto, ele ainda é um ladrão, embora, um ladrão perdoado. Certamente não se diria, lá vai um homem justo. É importante reconhecer que o perdão não me muda – ele tira a obrigação ligada à minha culpa. A justificação, por outro lado, faz exatamente isso – por meio dela somos declarados justos aos olhos de Deus. Como pode ser isso? Como Deus pode ser justo (consistente com Seu próprio caráter) ao justificar o ímpio (Rm 4:5)? Antes de responder a esta pergunta, alguns outros equívocos devem ser abordados.


Alguns podem ter ouvido justificação (ou pelo menos o resultado dela) definida como justo como se nunca tivesse pecado. Isso está terrivelmente aquém de seu verdadeiro caráter. A questão é que nós pecamos e, pior do que isso, somos pecadores por natureza. Deus criou o homem em um relacionamento Consigo mesmo; o pecado de Adão tem consequências tanto em nossa posição atual quanto em nossa natureza. Nascemos longe de Deus e possuímos uma natureza deliberadamente independente de Deus. Aquela relação de inocência que Adão tinha com Deus foi irrevogavelmente perdida e, como resultado, todos os nascidos da raça de Adão se encontram na mesma posição. Dizer que minha condição é de justo como se nunca tivesse pecado me leva de volta ao estado de ingênua inocência. Adão era inocente no Éden; ele não conhecia o bem ou o mal. Não há retorno para esse estado – e, a propósito, nem o quereríamos. E mais, a justificação nos leva para além de ser apenas um pecador salvo pela graça. Essa expressão comum pode parecer humilde, mas não corresponde à nossa verdadeira posição. Deus não nos vê dessa maneira, e nem nós deveríamos; não é útil para o crescimento espiritual.



Vamos agora ver o que a Escritura tem a dizer sobre justificação. O sangue de Cristo é a base: “Tendo sido agora justificados no poder do Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rm 5:9 – JND). O sangue é da maior significância em toda a Palavra de Deus e é a base e a prerrogativa para todas as bênçãos Cristãs. Ele tem um significado que transcende a Lei de Moisés. O sangue foi derramado para vestir Adão e Eva (Gn 3:21); vemos isso novamente na oferta de Abel (Gn 4:4). O sangue, sem dúvida, aparecia com destaque na Lei (Hb 9:18-22). “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” (Lv 17:11 – ARA). O derramamento de sangue vai além de dar vida; o sangue derramado de Cristo foi mais do que a evidência de Sua morte. “Este é Aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo: não só por água, mas por água e por sangue.” (1 Jo 5:6). Os sacrifícios do Velho Testamento foram uma sombra das coisas boas que viriam e, como tal, eles nos dão uma visão sobre muitas verdades do Novo Testamento (Hb 10:1). Na água, temos purificação moral; o sangue, por outro lado, trata com as exigências judiciais da condição do homem. Ao ler os primeiros capítulos da epístola de Paulo aos Romanos, onde a culpa do homem, a justiça de Deus e o assunto da justificação são abordados, a pessoa tem a sensação de que está em um tribunal de justiça – o tribunal de Deus. “Porque do céu se manifesta a ira de Deus” (Rm 1:18). Não é justiça humana, nem um tipo de justiça terrena. Nestes capítulos, encontramos como Deus, em perfeita justiça, justifica o ímpio – e é no sangue derramado de Cristo que os requisitos judiciais de Deus são cumpridos.


A ressurreição de Cristo é a prova da justificação. “Jesus nosso SenhorO Qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação.” (Rm 4:25). A ressurreição de Cristo é a testemunha de que cada reivindicação que Deus tinha sobre nós foi totalmente satisfeita. Além disso, a morte e ressurreição de Cristo são aplicadas à nossa própria condição: no capítulo cinco de Romanos quanto à nossa justificação, no capítulo seis quanto à nova vida do crente e no capítulo sete quanto à Lei. Os três primeiros versículos do oitavo capítulo nos dão um resumo:

  1. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8:1) – respondendo à justificação da vida (mais sobre isso será comentado adiante) encontrada no quinto capítulo.

  2. "Porque a Lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” (Rm 8:2) – respondendo ao sexto capítulo onde a morte e ressurreição de Cristo são aplicadas à vida do crente: “Porque aquele que está morto está justificado do pecado... Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6:7, 11 – JND).

  3. “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3) – que tem sua contrapartida em Romanos sete; estamos, por princípio, mortos para a lei e casados com outro, Cristo em ressurreição: “Também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais d'Outro, d'Aquele que ressuscitou de entre os mortos.” (Rm 7:4).


Somos justificados pela graça; tudo deve ser de Deus. Não há nada que possamos fazer para merecer a justificação. “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24). É tudo graça da parte de Deus. Isso é contrário à inclinação natural do homem, em que ele busca se justificar diante de Deus. Justificação, entretanto, é baseada no princípio da fé e não das obras, e é pela fé que desfrutamos dela. Deus é o “Justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rm 3:26). “O homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.” (Rm 3:28). Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). “Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras (Rm 4:6).


Embora eu tenha feito distinção entre perdão e justificação, nós não podemos separá-los. Quer a justificação seja vista como um perdão abrangente, ou quer a vejamos trabalhando em conjunto com o perdão, o perdão não pode ser separado da justificação. O ponto é que justificação vai além de perdão. A justificação tem dois lados. Do lado negativo, fomos eximidos de todas as acusações feitas contra nós; do lado positivo, Deus agora nos vê em uma posição inteiramente nova em Cristo. Estou diante de Deus em Cristo, em toda a bem-aventurança dessa posição, sabendo que meus pecados foram perdoados, minha culpa foi colocada de lado e fui judicialmente liberado de todas as consequências relacionadas a minha vida anterior; eu sou “justificado em Cristo” (Gl 2:17).



É impressionante notar que a expressão justiça de Cristo nunca aparece na Palavra de Deus. A justiça de Cristo imputada é uma doutrina que carece de uma Escritura. Que Cristo era justo, não há dúvida. Mas nós perguntamos, a obediência de Cristo é a base para nossa justiça diante de Deus? Neste caso, Sua obediência O levou à morte, e só nisso isso é verdade. “Sendo obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:8). “Pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de Um muitos serão feitos justos” (Rm 5:19). A caminhada justa e santa de Cristo aqui na Terra foi uma parte essencial de Seu Ser; Ele era realmente o Homem perfeito e o “Cordeiro sem defeito e sem mancha” (1 Pe 1:19 – AIBB). Mas é em Sua morte, e não em Sua vida na Terra, que minha salvação repousa. “Também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3:18). É por meio da morte de Cristo, e somente Sua morte, que somos levados a Deus. A Escritura não conhece outro fundamento. Só depois que o grão de trigo caiu no solo e morreu que deu muito fruto – somos agora o fruto de uma semente totalmente diferente.


Perguntarão, não fomos feitos n’Ele “justiça de Deus”? (2 Co 5:21). Vejamos o contexto: “Àquele que não conheceu pecado, O fez pecado por nós” (2 Co 5:21). Foi então e somente então – quando Ele foi feito pecado por nós como aquela vítima propiciatória – que encontramos a base para nossa justificação. Na verdade, é neste terreno que Deus, em perfeita consistência com Sua natureza santa e justa, justifica o pecador. Na verdade, é nisso que a justiça de Deus é revelada. “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação... Porque nele se descobre a justiça de Deus (Rm 1:16-17). Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26). A expressão, a justiça de Deus, significa exatamente isso – a justiça inerente a Deus. Este versículo não está se referindo a nós sermos justos diante d’Ele.[5] Justiça em Deus é aquele atributo que mantém o que é consistente com Seu próprio caráter, e necessariamente julga o que se opõe a isso.[6] Sob a lei, Deus buscava justiça no homem, mas não a encontrou. Agora, por meio do evangelho, Deus age em graça e vemos, de Sua parte, uma justiça positiva mostrada. N’Ele fomos “feitos justiça de Deus (2 Co 5:21). Nada aqui fala da justiça pessoal de Cristo; não é a vida justa de Cristo imputada. Ao contrário, agora somos a prova evidente da justiça de Deus e nos tornamos participantes dessa justiça divina em Cristo.



Muitos concordam que Cristo suportou a pena por nossos pecados[7] na cruz, o Justo pelos injustos (1 Pe 3:18). No entanto, alguns dizem que nós agora estamos diante de Deus na justiça da perfeita obediência de Cristo à Lei, e que é nesta base que Deus justifica o crente. Citando um conhecido professor da Bíblia: Nós falhamos em guardar perfeitamente a lei de Deus e, portanto, deveríamos morrer; mas Jesus não falhou – somente Ele cumpriu a lei de Deus perfeitamente[8] – e por isso não deveria ter morrido. No entanto, em Sua misericórdia, Deus proveu em Cristo uma grande substituição – uma troca abençoada – de acordo com a qual Jesus pode nos defender para com Deus, oferecendo Sua justiça perfeita no lugar de nosso fracasso e o sangue de Sua própria vida no lugar do nosso. … Quando recebemos a misericórdia que Deus nos oferece em Cristo pela fé, Sua perfeição é imputada – ou creditada ou contada – a nós e nossa falha pecaminosa é imputada – ou creditada ou contada – a Ele.[9]


Perguntamos: nossa justificação repousa sobre a obediência de Cristo à Lei? “Se a justiça provém da Lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2:21). Este versículo sozinho resolve isso; a justiça do crente não vem por meio da obediência de Cristo à Lei, mas sim por Sua morte. Será, no entanto, insistido que este versículo fala de nós guardarmos a Lei e que a obediência legal de Cristo é uma coisa totalmente diferente. E ainda, Jesus era verdadeiramente Homem e foi como Homem que Ele aprendeu a obediência (Hb 5:8). Se a obediência de Cristo à Lei é imputada a mim, sou justificado pela Lei – esse é o princípio pelo qual sou justificado. Isso contradiz todo o argumento de Paulo: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. (Gl 2:16). A expressão “pela fé de Jesus Cristo” pode ser aproveitada, mas significa simplesmente a fé que tem Cristo como seu objeto.[10] como a próxima frase confirma, “temos também crido em Jesus Cristo”. As traduções modernas[11] traduzem esta expressão como “fé em Jesus Cristo”, o que corretamente dá o sentido. A expressão não deve ser interpretada como significando a fé de Cristo.


No quarto capítulo de Romanos, o apóstolo deixa bem claro que a justiça imputada a Abraão foi por conta da fé – a justiça da fé – e não da Lei. Não poderia ser de outra forma; a Lei veio muitos anos depois de Abraão. “Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé.” (Rm 4:13). A justiça da fé é imensamente diferente da justiça da Lei (Rm 10:3-10). Esta última é baseada em obras – conduta justa no homem, aceitável a Deus. A primeira repousa sobre Deus e Sua palavra – em nosso caso, o que Deus tem a dizer sobre a obra de Seu amado Filho na cruz.


A Lei foi introduzida como medida, um aio [ou tutor], até que Cristo viesse: “A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gl 3:24). Em vez de produzir justiça em Israel, a lei expôs sua natureza pecaminosa, e isso continua a ser assim hoje em dia (1 Tm 1:8-9). “Porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:20). “A fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno” (Rm 7:13). É verdade que a perspectiva de vida era oferecida ao obediente israelita, mas era a vida na Terra. Nunca encontramos o céu aberto diante deles, nem houve qualquer mudança na essência da sua posição diante de Deus. Quanto ao Cristão, Paulo deixa bem claro que não estamos debaixo da Lei: “Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6:14). Se eu não estou debaixo da Lei, por que ela deveria ter sido cumprida em meu nome?


Suponhamos por um momento que nossa justiça fosse baseada na Lei; onde isso nos levaria? Seria exatamente uma justiça jurídica baseada em obras. A lei dada a Israel adequava-se ao relacionamento deles com Deus - Jeová; representava um comportamento justo em um povo terreno. Como medida, no entanto, isso fica aquém da glória de Deus. “Pois a Lei nenhuma coisa aperfeiçoou” (Hb 7:19). Para estar diante de Deus – não o Deus velado do Velho Testamento – nossa justiça deve corresponder à perfeição absoluta de Deus: Sua justiça, santidade, verdade, majestade e amor – nada pode ser discordante. O ensino, portanto, de que posso estar diante de Deus na justiça de uma lei cumprida, representa uma falha grosseira em compreender tanto o caráter de Deus quanto a natureza e o propósito da Lei. Nossa justiça em Cristo repousa sobre Sua obra completa na cruz e na aceitação de Sua Pessoa e obra diante de Deus. “E, por meio d’Ele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés” (At 13:39 – ARA).


A justiça de Deus é manifestada no evangelho completamente à parte da Lei. “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas, isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença” (Rm 3:21-22). Deus é muitíssimo justo, gloriosamente justo,[12] se assim posso dizer, ao estender misericórdia ao homem (a todos) e justificar o ímpio (a todos os que creem) por causa da obra incomparável e completa de Jesus Cristo no Calvário. Tudo nos escritos de Paulo exige que mantenhamos a Lei inteiramente fora da justificação.


Um comentário adicional deve ser feito em relação à citação anterior. Foi dito: Falhamos em guardar a lei de Deus perfeitamente, e então deveríamos morrer ... Jesus não falhou e então Ele não deveria ter morrido. A morte é meramente o resultado da violação da lei? A resposta é não. “A morte reinou desde Adão até Moisés” (Rm 5:12-14). Adão recebeu um mandamento: “Não comerás” (Gn 2:17), assim como Moisés: “Não tomarás” (Êx 20:7-17). Aqueles desde Adão até Moisés nunca tiveram um mandamento explícito; no entanto, eles também morreram. Todos, desde Adão, possuíam uma natureza caracterizada pela morte – mesmo quando não havia Lei para responsabilizar-lhes. O Homem Jesus, entretanto, não tinha uma natureza pecaminosa como Adão; Sua natureza era inteiramente santa. Ele permanece como o Cabeça de uma nova criação (1 Co 15:22). “n'Ele não há pecado” (1 Jo 3:5). O cumprimento da Lei por Cristo (Mt 5:17) não foi a razão pela qual Ele poderia ter escapado da morte; Ele não possuía uma natureza caída. Por outro lado, Jesus tinha um corpo humano que podia morrer. “E, achado na forma de Homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Fp 2:8), e Ele o fez, pela graça de Deus, por nós. “Ninguém Ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la.” (Jo 10:18).



algo imputado a nós, mas não é o mérito de Cristo, nem é isso creditado à nossa conta. A palavra usada ao longo do quarto capítulo de Romanos traduzida de várias maneiras como imputado, considerado, contado, significa exatamente isso, contado. “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado (contado) como justiça.” (Rm 4:3). Não há a ideia aqui de Deus transferindo a justiça para Abraão. Deus contou Abraão como justo por causa da fé – Abraão aceitou a Deus em Sua Palavra. Não era a fé em si. Antes, no que a fé se apoia. Naquele tempo, eram as promessas de Deus; agora é a obra plena e completa de Cristo. “Os que cremos n’Aquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; O Qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação.” (Rm 4:24-25). É por causa da morte e ressurreição de Cristo que Deus pode agora nos considerar justos com base no princípio da fé.


É importante reconhecer que é Deus Quem considera, não o homem. É o tribunal de Deus e Ele, como Juiz, é Quem pronuncia o veredito. Só quando chegamos ao capítulo sexto de Romanos é que encontramos algo para considerarmos: “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6:11) O assim também, nos diz que sermos contados vem como resultado de outra coisa, algo inteiramente de fora de nós, a morte e ressurreição de Cristo (v. 10).


Uma palavra diferente também traduzida como imputado, o que significa colocar na conta, aparece apenas duas vezes no Novo Testamento: uma em Romanos 5:13 (onde fala do pecado) e a outra em Filemom. A carta de Paulo a Filemon diz respeito a um escravo fugitivo que provavelmente roubou de seu mestre; Paulo diz: “Se [ele]... te deve alguma coisa, põe isso à minha conta... eu o pagarei” (Fm 18-19). Nós nunca, no entanto, lemos sobre justiça sendo colocada em conta de outrem.



Até o décimo segundo versículo de Romanos cinco, o apóstolo trata da justificação das ofensas. Foi Cristo “O Qual por nossos pecados foi entregue” (Rm 4:25). A partir do décimo segundo versículo, porém, ele aborda um novo assunto: “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Rm 5:12). O apóstolo agora considera o que somos por natureza como filhos de Adão. Ele traz diante de nós duas cabeças, Adão e Cristo.[13] O pecado entrou neste mundo por meio da queda de Adão, e todos nós herdamos sua natureza – uma natureza caída. Pode-se contestar e perguntar: O que o pecado de Adão tem a ver comigo? Uma pergunta simples produz a resposta: Você peca? Se sim, então você é filho de Adão – o fruto estabelece a raiz; não podemos escapar de nossa herança. Há mais, no entanto, do que apenas uma natureza comum. O pecado de Adão o afastou de Deus – o chamado no jardim foi: Onde estás?” (Gn 3:9). Os descendentes de Adão estão igualmente afastados de Deus – não poderia ser de outra forma; viemos ao mundo no lugar de Adão.


Como Deus trata a natureza caída? “Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;” (Rm 8:3). Na cruz, Deus condenou o pecado na carne; está terminado. A Lei não era falha, mas a carne era incapaz de guardá-la. Deus agora vê o crente como morto e sepultado com Cristo. Se alguém ocupasse meu lugar na forca, a justiça aceitaria a morte do substituto como minha morte. Eu seria visto como tendo morrido com meu substituto. Da mesma forma, na mente de Deus, estamos crucificados com Cristo. Não pode mais haver condenação por uma sentença executada e sofrida por outro. Além disso, fui levado a uma nova posição de vida em Cristo a Quem Deus ressuscitou de entre os mortos. A justiça está satisfeita e Deus agora me vê em Cristo como justificado. Ele agora é minha justiça na presença de Deus (1 Co 1:30; 2 Co 5:21) – não por causa de Sua vida na Terra, mas por causa de Sua morte e ressurreição.


A ofensa de um, Adão, trouxe um reinado de morte (Rm 5:14). O dom gratuito de Deus em Cristo, por outro lado, trouxe um reino de vida para aqueles que O recebem: “Muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” (Rm 5:17). Isso é o que as Escrituras chamam de justificação de vida. “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida(Rm 5:18). Qual é a condenação que paira sobre a cabeça de cada homem? Morte![14] Com a justificação, por outro lado, temos a vida estendida a todos, uma vida à qual o pecado nunca pode se associar – esta é a justificação de vida. Sua eficácia é limitada, entretanto, àqueles que receberam esse dom em Cristo. Na última parte de Romanos cinco, vemos esses contrastes: a vida de Adão trouxe morte; a morte de Cristo trouxe vida. Em um temos condenação, no outro justificação.



Deus não acoberta com justiça, por assim dizer, as características do que sou em Adão. Vestir de justiça o que sou por natureza – seja de Cristo ou de outra forma – não seria justo ou santo da parte de Deus.


Deve notar-se que a palavra hebraica para expiação no Velho Testamento significa cobertura. Notadamente, não encontramos a palavra expiação no Novo Testamento.[15] Às vezes usamos a palavra ao nos referirmos aos sofrimentos expiatórios de Cristo. Desde que entendamos que se trata de uma satisfação plena e não de uma cobertura, isso é aceitável. O sangue dos sacrifícios provia uma cobertura, mas nunca poderia purificar a consciência ou atingir a natureza daquele que oferecia; as ofertas foram aceitas aos olhos de Deus porque anteciparam a vinda do Senhor Jesus Cristo. O ofertante, entretanto, nunca teve a certeza dos pecados perdoados. Ele esperava a tolerância da parte de Deus. Nós, entretanto, permanecemos na justiça revelada de Deus.


O apóstolo Paulo usa as expressões “velho” e “novo homem” para descrever o estado corrompido do homem caído em contraste com as características de uma nova vida em Cristo (Rm 6:6; Ef 4:22-24; Cl 3:9-10). O velho homem não tem nada de bom nele – aos olhos de Deus, ele está totalmente arruinado): “Nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito” (Rm 6:6). Tudo o que sou em minha natureza de Adão foi posto de lado na cruz. Não há melhora para o homem caído – o remédio para o que sou é a morte. Ao contrário, o novo homem não tem defeitos. “Novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:24). Uma vez que entendemos que temos uma vida totalmente nova em um Cristo ressuscitado, uma vida que não tem possibilidade do pecado se associar a ela, a necessidade de imputar os méritos de Cristo ao crente para justificação se torna manifestamente absurda.


Até que partamos desta cena, temos a carne em nós – Deus pode ter dado um fim a ela, mas nós ainda vivemos com ela. Ela não deveria mais ser a força que nos governa, pois também temos uma nova vida, uma vida movida pelo Espírito de Deus (Rm 8:9-12). Quando se trata de justiça prática, porém, muitas vezes falhamos. Felizmente, o crente permanece em uma justiça perfeita, totalmente à parte de si mesmo. É em Cristo que agora está nossa vida. Estar em Cristo é estar diante de Deus no lugar de aceitação de Cristo. “Cristo Jesus, O Qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1:30 – AIBB).



A confusão quanto à epístola de Tiago tem sido tão grande que alguns acham que ela contradiz Paulo. (Martinho Lutero teve divergências com o livro.) Nada poderia estar mais longe da verdade. A chave para Tiago é encontrada neste versículo: Mas dirá alguém: Tu tens a fé e eu tenho as obras: mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tg 2:18). A Epístola de Tiago pergunta: Onde está a evidência de sua fé? Não posso mostrar minha fé a alguém, exceto pelos frutos que ela produz. A fé, como o vento, não pode ser vista; os efeitos, entretanto, são muito visíveis. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tg 2:26). A fé sem obras é morta – tão sem vida quanto o corpo sem o espírito. A fé morta não é fé alguma; está morta, não está morrendo ou como tendo morrido – ela está morta.[16] Os demônios também creem e tremem (Tg 2:19). Nenhuma quantidade de obras produzirá fé ou comunicará vida a alguém que não é salvo.


Quando Tiago fala de Abraão sendo justificado pelas obras, a que ele está se referindo? É o incidente encontrado em Gênesis 22: “Nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? (Tg 2:21). Por outro lado, quando Paulo escreve sobre Abraão, a que ele se refere? “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado [contado – KJV] como justiça... Mas, àquele que não pratica, porém crê n'Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada [contada – KJV] como justiça” (Rm 4:3, 5). Encontramos isso em Gênesis 15: “E creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gn 15:6). Tiago e Paulo trazem dois eventos diferentes da vida de Abraão. O de Paulo vem primeiro e está separado do incidente mencionado por Tiago por pelo menos trinta anos. Cada escritor usa aquilo que é consistente com sua mensagem. Paulo fala daquilo que é voltado para Deus; é justificação diante de Deus. Tiago apresenta a prova da fé de Abraão; é justificação diante do homem. A fé de Abraão foi corroborada por sua obediência a Deus.



O ensino deste livreto é frequentemente recebido com declarada hostilidade. É visto como um ataque a séculos de ensino Cristão – o que, em alguns aspectos, é uma avaliação justa. A longevidade de uma doutrina não é esquecida, mas isso, por si só, não estabelece sua exatidão. Charles Spurgeon, um pregador e evangelista talentoso do final dos anos 1800 escreveu sobre a justificação: Veja o que Cristo fez em Sua vida e Sua morte, Seus atos se tornando nossos atos e Sua justiça sendo imputada a nós.[17] Ele pregou veementemente contra aqueles que rejeitaram a justiça de Cristo imputada: Há a rejeição igualmente sem reservas de outra doutrina (entre os irmãos de Plymouth) que a grande maioria dos crentes considera de vital importância. Refiro-me à doutrina da justiça de Cristo imputada.[18] Vou poupar o leitor do restante de seu artigo, mas ele certamente não poupou! A má doutrina é um fundamento instável que leva a mais erros. Spurgeon faz referência (neste mesmo artigo) a outra das heresias mortais dos irmãos: A doutrina de que a lei moral é algo com o qual os crentes em Cristo nada têm a ver, nem mesmo como regra de vida.[19] Não deveria nos surpreender que alguém que baseia a justificação na obediência à lei fique confuso quanto ao uso adequado da Lei.


A justiça de Cristo imputada é um ensino sem fundamento bíblico – uma teoria proposta pelo homem, mas que não encontra resposta na Palavra de Deus. Como tal, deve ser rejeitada. Sempre que acrescentamos ou retiramos da Palavra de Deus, o resultado nunca será benigno. Esse ensino deprecia a justiça. Ela se torna uma mercadoria que pode ser transferida de um indivíduo para outro, tornando-os justos – apesar do que são por natureza. Ela confunde a justiça de Deus com a conduta correta do homem, e a Lei se torna a medida da justiça de Cristo. Além disso, se não entendermos que Deus nos vê em Cristo – mortos, sepultados e ressuscitados junto com Ele em novidade de vida – nossa vida espiritual deve necessariamente ser frustrante e prejudicada. A morte me tirou do terreno da responsabilidade legal que eu tinha em Adão e, na ressurreição de Cristo, me colocou em um lugar totalmente novo de aceitação em Cristo diante de Deus.


Em nada disso há qualquer sugestão de que deveríamos ter uma visão reduzida da vida de perfeita obediência do Filho aqui na terra. Longe seja o pensamento! O que devemos rejeitar é que a vida justa de Cristo e o cumprimento da Lei foram transferidos para nós. Isso não seria justo da parte de Deus e não poderia tornar justo o homem caído. Deus justifica o ímpio (aquele sem justiça, não aquele a quem foi imputada a vida justa de Cristo) porque Ele vê o crente no resultado pleno da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.



Saber que Cristo “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25) nos permite dizer: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo;” (Rm 5:1). Todos os nossos pecados foram tratados na cruz e nunca mais surgirão para revisão. Deus tratou com eles em perfeita justiça. Nossa paz agora repousa sobre Sua percepção e aceitação dessa obra. É pela fé que desfrutamos disso.


Todos os seus pecados foram colocados sobre Ele,

Jesus os carregou no madeiro;

Deus, que os conhecia, os colocou sobre Ele,

E, crendo, você está livre.[20]


Quando chegamos ao oitavo capítulo de Romanos, entretanto, não é mais uma questão de pôr de lado os pecados, mas sim de uma nova posição inteiramente fora do alcance de tudo a que o juízo de Deus se aplica. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8:1 AIBB). Cristo esteve de fato sob o efeito da condenação em nosso lugar; mas quando ressuscitou, onde Ele apareceu? Não menos do que na presença de Deus! Poderia haver aí alguma questão de pecado, ou de indignação, ou de condenação? Impossível! Isso foi resolvido antes de Ele ascender em glória. Cristo está na presença de Deus porque isso foi resolvido, e essa é agora a posição maravilhosa de todo Cristão em Cristo.[21]


O oitavo capítulo de Romanos nos dá nosso lugar em Cristo diante de Deus. Estamos no lugar do Filho. Na verdade, temos o Espírito de Deus dentro de nós dando testemunho de que somos filhos de Deus, levando-nos a clamar Aba Pai (Rm 8:15-16). Maravilhoso além da medida! Podemos duvidar, e Satanás certamente acusa (Ap 12:10), mas não há garantia encontrada olhando para dentro de si. O julgamento próprio não deve ser negligenciado, mas a ocupação consigo mesmo deve começar e terminar apenas para julgamento próprio. Quanto à nossa posição diante de Deus em Cristo, devemos olhar para a Palavra e ver o que Deus tem a dizer – é aí que reside nossa confiança. “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus Quem os justifica.” (Rm 8:33). É Deus Quem justifica! Quando Satanás lança uma acusação aos nossos pés, a Quem ele deve responder? A Deus!


O ensino que procurei expressar neste livreto é resumido sucintamente no seguinte hino. Em quatro versos simples, ele apresenta a verdade da justificação – tanto nosso livramento da pena de nossos pecados, quanto nossa nova vida diante de Deus em Cristo, o Senhor ressuscitado!


“Nenhuma condenação!” Palavra preciosa!

Ó minha alma, isso considere!

Todos os teus pecados foram sobre Jesus colocados;

Suas pisaduras te curaram.


No céu o sangue para sempre fala.

No ouvido onisciente de Deus;

Os santos, como joias em Seu coração,

Jesus sempre mantém.


“Nenhuma condenação!” Ó minha alma,

É Deus que fala a palavra,

Perfeito em formosura és Tu

Em Cristo, o Senhor ressuscitado.


Ensina-me, ó Deus, a fixar meus olhos

Em Cristo, o Cordeiro imaculado,

Então, amarei a Tua preciosa vontade,

E glorificarei Seu nome.[22]




 

[1] Gregory Koukl, The Story of Reality, pg. 121.

[2] Jerry Bridges, Respectable Sins, pg. 87.

[3] Há também um ensino chamado justiça infundida. A teologia católica ensina que uma pessoa é infundida com a justiça de Deus por meio de uma vida piedosa.

[4] No catolicismo, o título de Santo é dado (após a morte) àqueles que supostamente viveram uma vida excepcional de santidade e que foram canonizados pela igreja. Outros no céu, de acordo com seus ensinamentos, também podem ser chamados de santos (menores) se eles viveram uma vida agradável ao Senhor. A Escritura, por outro lado, sempre chama todos os verdadeiros crentes santos: “A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos” (Rm 1:7 JND).

[5] João Calvino limita a apenas isso (como muitos fazem). Em seu comentário sobre a Epístola aos Romanos, ele escreveu: Entendo que a justiça de Deus significa aquilo que é aprovado perante Seu tribunal.

[6] Veja Justiça no Dicionário Bíblico Conciso.

[7] Também será dito que pecado é transgressão da lei – um resultado da tradução pobre de 1 João 3:4. Pecado é iniquidade, mesmo à parte da lei.

[8] O autor insere a referência: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15). O Senhor Jesus pode, de fato, identificar-Se com nossas enfermidades (Ele se cansou, teve sede, teve fome) e Ele também teve provações (Mt 4; Lc 4); mas este versículo nada diz sobre Sua obediência à Lei.

[9] John Piper, What God Requires, Christ Provides

[10] É o genitivo objetivo; o substantivo recebe a ação. Normalmente associamos o caso genitivo à possessão, mas nem sempre é assim, como tal, cito um exemplo inglês: o patriota tinha um grande amor do país. É o amor do patriota (não do país) e seu objeto é o país.

[11] RSV, ESV, etc.

[12] Eu não falo do motivo da parte de Deus, pois isso certamente seria Sua bondade amorosa – não Sua justiça. Como Deus se mantem justo mesmo ao estender misericórdia ao homem é um dos grandes paradoxos respondidos na epístola de Paulo aos Romanos.

[13] No sexto capítulo encontramos dois senhores, o pecado e Deus; e no sétimo capítulo dois maridos, a Lei e Cristo.

[14] Final e eterna, não apenas morte natural.

[15] Romanos 5:11 deveria dizer reconciliação em vez de expiação (KJV).

[16] πίστις χωρὶς ἔργων νεκρά ἐστιν.

[17] Charles Spurgeon, Spurgeon’s Sermons –1865

[18] Charles Spurgeon, The Sword and the Trowel – June 1869

[19] Deve notar-se que Spurgeon estava citando outro, James Grant, com quem ele aparentemente estava de acordo.

[20] Joseph Denham Smith, Little Flock Hymn Book, #35

[21] J. N. Darby, Synopsis of the Books of the Bible, Romans (adaptado)

[22] J. N. Darby, Synopsis of the Books of the Bible, Romans (adaptado)


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