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Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus: Os Céus Abertos - Parte 1/3

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ÍNDICE


 

Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus

Os Céus Abertos

John Gifford Bellett

 

Hebreus 1 – 2 


A Epístola aos Hebreus ilustra de forma impressionante uma qualidade do Livro de Deus. Pode ser lido sob várias luzes; ainda assim, nenhum raio interfere em outro. De seis ou sete maneiras, esta epístola poderia ser lida com a maior facilidade. Examinarei agora especialmente os dois primeiros capítulos. Isso abre os céus para você como eles são agora.

 

Quão abençoada é a introdução de tal coisa no coração! Você olha para cima e vê os céus físicos acima de você; mas são apenas os céus superficiais que você vê. Esta epístola apresenta a você os céus interiores, e não em caráter físico, mas em caráter moral. Apresenta-nos as glórias que cercam e se ligam ao Senhor Jesus, agora aceito nos céus. Somos assim capazes de ver os céus nos quais Ele Se assentou, o que Ele está fazendo lá e o que sucederá a esses céus. Quando o Senhor Jesus esteve aqui, como aprendemos em Mateus 3, os céus se abriram para que Ele pudesse ser visto. Havia um Objeto aqui que merecia a atenção dos céus. Ele retornou – e os céus tinham um Objeto que nunca haviam conhecido antes – um Homem glorificado. E agora é função de nossa epístola mostrar-nos os céus como o lugar deste Homem glorificado. E assim como em Mateus 3 temos os céus abertos para olharmos para Cristo aqui, então em Hebreus você tem os céus abertos para que você possa olhar para Cristo lá.

 

Mas suponhamos que você pergunte: Essa é toda a história dos céus? Você foi até o fim? Na verdade, não. Em Hebreus 4 e Apocalipse 5 vemos os céus se preparando para o julgamento da Terra. Então, no final do volume, encontro os céus não apenas como a habitação do Homem glorificado, mas também da Igreja glorificada. Que livro é aquele que pode nos apresentar tais segredos como esses! É uma biblioteca divina. Você pega um volume da estante e lê sobre os céus; em outro volume você lê sobre o homem em ruínas; tome um terceiro e você lerá sobre Deus em graça; e assim por diante, em uma variedade preciosa e maravilhosa.

 

Agora nos colocaremos diante de Hebreus 1 e 2: “havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-Se à destra da Majestade, nas alturas”. Isso é apenas cumprir o compromisso que fiz – de que a epístola nos abrirá os céus. O Senhor esteve aqui fazendo a purificação de nossos pecados e Ele subiu para ocupar os céus como o Purificador de nossos pecados. Supondo que eu estivesse em um país distante, poderia descrevê-lo para você, de modo a enchê-lo de gozo e desejo de visitá-lo. Mas quando o Espírito Santo vem e lhe mostra os céus distantes, Ele faz mais do que isso – Ele mostra que seus interesses são aconselhados lá. Nosso Representante está assentado no lugar mais alto e assentado com esse mesmo caráter. É possível ter uma ligação mais íntima com o lugar? É de se admirar que não estejamos todos ansiosos para chegar lá o mais rápido possível! E pensar que porque Ele veio para morrer uma morte miserável por nós, Ele está assentado lá! Eu desafio você a ter um interesse mais rico nos céus do que aquele que Deus lhe deu.

 

Agora, em Hebreus 1:4, vemos que não apenas como o Purificador de nossos pecados, mas na verdade de Sua Humanidade, Ele está lá, assentado acima das hostes angelicais. Já vimos o interesse que temos n’Ele como o Purificador dos nossos pecados. Agora o capítulo apresenta-O a nós como o Filho do Homem acima dos anjos. O homem foi preferido aos anjos. A natureza humana na Pessoa de Cristo esteve acima da natureza angélica, ainda que seja em Miguel ou em Gabriel. Todo o capítulo 1 de Hebreus está, portanto, ocupado em lhe dar duas visões de Cristo no céu. Que dois segredos são esses! O Purificador de nossos pecados, e o próprio homem, como nós mesmos, assentado à direita da Majestade nas alturas.

 

Eu leio os primeiros quatro versículos de Hebreus 2 como um parênteses. Você não gosta desse parênteses? O Espírito Santo fala a linguagem da natureza. Vemos amigos quando conversam entre si, afastando-se um pouco para o lado para conversar sobre um com o outro; assim o apóstolo fala aqui: “Estou vos ensinando coisas maravilhosas. Tenham cuidado para não deixar tais coisas caírem em ouvidos descuidados”. Não devemos ser meros estudiosos. Se formos discípulos de um mestre vivo na escola de Deus, teremos a consciência exercitada enquanto prosseguimos em nossa lição. É isso que o apóstolo está fazendo aqui. Esse parêntese cai no ouvido de maneira mais doce e aceitável.

 

Mas embora seja um parêntese, ele nos revela uma nova glória. Como o campo da Escritura está repleto de frutos! Não é algo que você precise cultivar diligentemente e obter apenas poucos frutos. Esse parêntese contém outra glória de Cristo. (Certamente não deveríamos precisar de exortação!) Ele está assentado ali como um Apóstolo – meu Apóstolo.

 

O que isso significa? Ele é um pregador para mim. Deus falou em tempos passados pelos profetas. Ele está falando conosco agora pelo Filho; e Cristo nos céus é o Apóstolo do Cristianismo. E qual é o Seu assunto? Salvação. Aquela salvação que, como o Purificador de nossos pecados, Ele operou por nós; e que, como Apóstolo da nossa confissão, Ele nos dá a conhecer. Há mais provisões dos céus para você.

 

Então Hebreus 2:5 retorna ao tema de Hebreus 1. Prossegue com as glórias distintivas de Cristo, como supereminente, acima dos anjos. "Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro" O que é “o mundo futuro”? É a era milenar, sobre a qual lemos no Salmo 8. Temos aqui três condições do Filho do Homem: “Um pouco menor do que os anjos”; coroado “de glória e de honra”; e colocado “sobre as obras de Tuas mãos”. Para que o mundo vindouro não seja submetido aos anjos, mas ao Filho do Homem. Agora você descobre que tem interesse neste Homem glorificado. Eu estava falando que se fosse a uma terra distante e descrevesse para você seus cenários maravilhosos, você desejaria vê-la. Mas esta epístola mostra que você tem um interesse pessoal nessas glórias. Será que existe um único ponto pelo qual o Filho do Homem peregrinou que você não tenha interesse? O apóstolo traça isso aqui para você. Então, novamente eu digo que esta epístola está abrindo os céus distantes à sua vista e mostrando-lhe as glórias que estão conectadas a Cristo, e que você tem um interesse imediato e pessoal nessas glórias.

 

Em Hebreus 2:10 surge um novo pensamento: “aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles” (ARA). Detenham-se aqui por um momento. Tornou-se a glória de Deus dar-vos um Salvador perfeito. Vocês creem nisso? Que pensamentos surgem na alma quando chegamos a isso! Você está de posse d’Ele, de modo que nunca em um único pensamento seja tentado a olhar para algo além d’Ele? Nós obtivemos uma salvação inquestionável e infalível, que resistirá ao choque de todos os dias vindouros?

 

Em Hebreus 2:11 vemos ainda nosso interesse no Homem glorificado. Porque, assim O que santifica como os que são santificados, são todos de Um; por cuja causa não Se envergonha de lhes chamar irmãos”. Não se envergonha! Dizei-o para que a Terra e o céu o ouçam! Este Homem glorificado é um Irmão dos eleitos de Deus. Ele “não Se envergonha” por causa da dignidade deles. Não apenas por causa da Sua graça, mas por causa da dignidade pessoal deles. Ele designou-me uma parte do Seu próprio trono. Será que Ele Se envergonha dos Seus próprios feitos – de Suas próprias adoções? Não tenha pensamentos rebaixados e frios ao ler a Escritura. Nossos pensamentos sobre Cristo devem ser tais que levem cativo o nosso velho homem – para nos carregar em asas de águia. “Cantar-Te-ei louvores no meio da congregação”. Cristo alçando e liderando o cântico dos resgatados, e não Se envergonha de ser encontrado em companhia deles! “E outra vez: Porei n’Ele a Minha confiança”. Ele fez isso quando esteve aqui, e nós fazemos isso agora. “E outra vez: Eis-Me aqui a Mim e aos filhos que Deus Me deu”. Aí está o nosso interesse no Homem glorificado.

 

Então voltamos para ver Quem Ele era em humilhação. “Ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão”. Ele deixou os anjos onde os encontrou. Os anjos se destacaram em força. Eles mantiveram seu primeiro estado, e Ele os deixou lá. O homem se destacou em maldade, e Ele veio e uniu-Se ao homem. Então o versículo 17 nos apresenta outra glória que se liga a Cristo nos céus. Nós O vemos lá como nosso Sumo Sacerdote, sempre esperando com reconciliação para os pecados e socorro para as tristezas. A epístola transborda em glórias divinas. É maciça em glória e repleta em pensamentos divinos que se comprimem em seu pequeno tamanho.


 

Hebreus 3 – 4


Estávamos observando que uma das principais características desta epístola é que ela nos dá uma visão do céu como ele é agora – não como era em Gênesis 1, e não como será em Apocalipse 4 ou 21. O céu de Gênesis 1 não tinha nenhum homem glorificado nele, nenhum apóstolo, nenhum sumo sacerdote. O céu de Hebreus tem tudo isso. Sendo esse o caráter geral da epístola, olhamos para o Senhor Jesus como se estivesse naquele céu. Então estávamos observando como o Senhor está ali como um Homem glorificado – como o Purificador dos nossos pecados - como nosso Apóstolo pregando a salvação, e como o Sumo Sacerdote fazendo a reconciliação pelos pecados. Cada página é fecunda em evocar as glórias do Senhor Jesus agora no céu.

 

Agora vamos considerar Hebreus 3 e 4. Tendo sido apresentados aos céus onde Cristo está, e ao Cristo que está nesses céus, Hebreus 3 e 4 voltam-se um pouco sobre si mesmos e olham um pouco atentamente para nós e nos dizem ter cuidado agora que estamos peregrinando pela estrada em companhia d’Ele. O primeiro pensamento é que devemos considerá-Lo em Sua fidelidade. A exortação aqui é comumente mal entendida.

 

Para que devemos considerar o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa profissão? É para imitá-Lo? A mente religiosa diz isso. Mas esse não é o objetivo da passagem de forma alguma. Devo considerá-Lo como Fiel, por minha causa, a Deus; Fiel para que eu possa ser salvo eternamente. Se eu não O considero assim, mais do que enfraqueci o significado da passagem e perdi o sentido da graça. A palavra deveria ser, não “era Fiel”, mas “é Fiel” ou “sendo Fiel”. Não caminhando aqui, mas agora no céu. Eu olho para cima e O vejo exercendo esses ofícios, Fiel Àquele que O constituiu. Não é da minha alçada imitá-Lo em Seu sumo sacerdócio. Mas devo considerá-Lo para meu conforto.

 

Que imensidão de graça há em tudo isso! A graça de Deus que O designou, a graça do Filho que executa a obra e a graça que abre Hebreus 3 são infinitas em magnificência. Poderia haver uma exortação mais sublime ou uma doutrina mais divina? Temos o Filho nos mais altos céus, ali assentado como o Purificador dos nossos pecados, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa profissão, e poderia qualquer exortação ser mais divina do que aquela que me diz para ficar quieto e olhar para Ele em Sua fidelidade lá?

 

Então, nos versículos 3 e 4 em diante, temos mais glórias reveladas em contraste com Moisés. A primeira dispensação é aqui chamada de casa. Era um servo para servir a um Cristo vindouro – Moisés e a casa são idênticos. Todas as atividades daquela dispensação de nada valeriam se não prestassem testemunho de um Cristo vindouro: portanto, era um servo. Quando o Senhor vem, por outro lado, Ele vem como Filho, para reivindicar aquilo que é Seu como Seu; e tudo agora depende disso – a casa sobre a qual Ele está colocado será fiel a Ele?

 

Qual é a fidelidade dela? Conservar “firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”. “Cristo para mim, Cristo para mim!” Não aceitarei nada além deste Cristo Todo-Suficiente. Apegue-se a Ele dia após dia até que a jornada no deserto termine. Então você é parte integrante daquela casa sobre a qual Ele preside como Filho. Ele não apenas preside sobre ela, mas também a reivindica como Sua – um pensamento mais precioso. É muito certo estar sujeito a Ele, mas Ele lhe diz para ficar perto de Seu coração. Fidelidade não é apenas estar sujeito ao Senhorio de Cristo. Se estou deitado em Seu seio, então sou fiel. De modo que quando o Espírito vem exortar, em Hebreus 3 e 4, Ele não abandonou o terreno elevado e maravilhoso de Hebreus 1 e 2.

 

Então, tendo chegado a esse ponto, Ele Se volta para o Salmo 95. Se você começar a ler o Salmo 92 e ler até o final do Salmo 101, descobrirá que é um belo e pequeno volume milenar. São exortações e despertares da fé em Israel pelo Espírito, convocando-os a olhar adiante, para o descanso de Deus.

 

Como isso é trazido aqui? A jornada de Israel no deserto é uma imagem bela e viva da jornada que o crente está agora percorrendo desde o sangue até a glória. As pessoas às vezes, no início de Hebreus 4, voltam-se para si mesmas. Mas aqui não se trata de descanso para a consciência. A passagem nos assegura que estamos fora do Egito e olhando para Canaã. O perigo não é que o sangue não esteja na verga da porta, mas sim que podemos desfalecer pelo caminho, como milhares fizeram no deserto. Você nunca é chamado para reexaminar a questão de ter encontrado descanso por meio do sangue, mas para cuidar de como você percorre o caminho. Quando o Espírito fala de repouso, é do repouso do reino que Ele fala, não do repouso da consciência. Então a todo o período pelo qual estamos passando Ele chama de um dia - "Hoje". Foi um dia curto para o ladrão moribundo, um dia curto para o martirizado Estêvão. Um dia mais longo para Paulo e um dia mais longo ainda para João; porém, seja a jornada no deserto curta ou longa, ela é um dia, e você deve se apegar a Cristo até o fim. Se quiserem ser participantes de Cristo, devem permanecer firmes até o fim.

 

Então, o que é o Cristo do versículo 14? Cristo crucificado? Não, Cristo glorificado. Somos feitos participantes de Cristo no reino se nos apegarmos firmemente em Cristo crucificado. Que este “hoje” ressoe no coração e na consciência a cada hora. Apegar-se a um Cristo crucificado é o meu título para o repouso de um Cristo glorificado. Duas coisas disputam isso com você – pecado e incredulidade. Você não reconhece esses dois inimigos quando passa por eles? Devo continuar no pecado? Devo dar lugar a um pensamento errado? Posso ser derrotado, mas devo tratá-los de outra forma a não ser como inimigos? Então, a incredulidade é uma ação da alma contra Deus. Você e eu não sabemos o que é caráter santificador – o que é estar entre o Egito e Canaã se não estivermos cientes de que essas duas coisas se levantam para resistir à nossa caminhada todos os dias.

 

Hebreus 4 ainda prossegue no assunto. O Cristo de Hebreus 3:14 é o repouso de Hebreus 4; Cristo glorificado – glorioso descanso. Ele nos tirou do Egito. A exortação se refere a um povo que saiu do Egito. Deixamos para trás a verga da porta onde foi colocado o sangue. A gloriosa Canaã está diante de nós. Tomemos cuidado para não ficar aquém disso. “Porque também a nós foram pregadas as boas-novas, como a eles”. As boas novas, não do sangue de Cristo, mas da glória de Cristo. Elas tomaram uma forma no ouvido dos israelitas e tomaram outra forma para nós, mas para eles, como para nós, o descanso foi pregado.

 

Então Ele Se volta, de uma maneira bela, para o repouso sabático do Criador. O bendito Criador Se proveu a Si mesmo de um repouso após a criação. Ele prometeu a Si mesmo um repouso em Canaã depois de levá-los pelo deserto. Adão perturbou o Seu repouso na criação. Israel perturbou Seu repouso em Canaã. Ele está, portanto, frustrado em Seu repouso? Não; Ele o encontrou em Cristo. O segredo de todo o Livro de Deus é que Deus voltou-Se para Cristo quando o homem em todos os sentidos O desagradou. Cristo é Aquele que produziu esse repouso, e que o mantém agora, repouso que permanece com Ele tanto para Deus quanto para Seus santos. “Visto, pois, que resta que alguns entrem nele". Não é mais uma coisa falível dependendo de Adão ou de Israel, portanto, tomemos cuidado para não ficarmos aquém disso.

 

Agora temos duas maneiras de nos servir de Cristo. Tínhamos dois inimigos no final de Hebreus 3, agora temos duas maneiras de nos servir de Cristo no final de Hebreus 4. Devemos nos servir d’Ele como a Palavra de Deus e como o Sumo Sacerdote de nossa confissão. É assim que estou me servindo d’Ele? Essas duas maneiras de se valer d’Ele se opõem ao pecado e à incredulidade. Deixe a Palavra de Deus discernir os pensamentos e intenções do coração. Em vez de dar lugar às suas concupiscências e vaidades, permita a entrada da espada de dois gumes, que não admite uma única partícula de pecado. E quando você tiver arrastado o inimigo para fora - encontrado alguma concupuscência favorita neste canto e alguma vaidade insuspeita naquele outro, o que você deve fazer com elas? Leve-as a Cristo e deixe Seu sumo sacerdócio dispor delas na misericórdia e graça que estão nele.

 

Aí fazemos uma pausa para o momento. Vimos os céus abertos e olhamos para dentro, e encontramos lá um Homem adornado de glórias, cada uma das quais eu tenho interesse. E então vem a exortação. Dois inimigos cercam você – tome cuidado. Em vez de ceder a eles, use a espada de dois gumes, e quando você os descobrir, leve-os a Jesus. Há uma bela adequação entre o Cristo que é exibido acima, em Hebreus 1 e 2, e você e eu como somos exibidos aqui embaixo em todas as características de Hebreus 3 e 4.


 

Hebreus 5 - 6 


Leremos agora Hebreus 5:10; e daí até o final de Hebreus 6 podemos observar que o apóstolo se volta para uma advertência colocada entre parênteses. Ele é cheio desse estilo; e nosso estilo um com o outro é cheio disso. Tais pequenas pausas e interrupções em um discurso são sempre bem-vindas.

 

Nos primeiros dez versículos de Hebreus 5, uma questão de maior peso é introduzida em nossos pensamentos. No primeiro versículo, temos um pensamento abstrato geral do sacerdócio. É aquilo que serve aos homens em seus relacionamentos com Deus. Em seguida, o caráter do serviço nos é apresentado – "para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados", isto é, para que Ele possa conduzir serviços de adoração e serviços sacrificiais ou expiatórios diante de Deus. Ele está pronto para conduzir nossos interesses junto a Deus em qualquer forma. Ele é “tomado dentre os homens” para que tenha compaixão dos ignorantes e dos que erram. Ele não é tomado dentre os anjos, portanto, lemos em Timóteo: "Jesus Cristo, Homem". Deus, ao ordenar um Sacerdote para nós, escolheu Aquele que pode ter compaixão. Encontramos no final de Hebreus 7 que o Senhor Jesus não estava sujeito à fraqueza. Mas o sacerdote aqui era alguém que, por causa das fraquezas, podia ter empatia. O Senhor Jesus teve que aprender a ter empatia, bem como aprender a obediência pelas coisas que Ele sofreu.

 

Nas Escrituras do Velho Testamento, duas pessoas são claramente colocadas no ofício do sacerdócio – Arão em Levítico 8 e 9 e Fineias em Números 25. A diferença entre eles era que Arão foi simplesmente chamado para o sacerdócio; Fineias adquiriu um título ao sacerdócio.

 

Quando nos aproximamos do Senhor Jesus, descobrimos que ambos, Arão e Fineias, são vistos n’Ele. Ele foi "chamado por Deus, como Arão". E este era um simples sacerdote chamado. O sacerdócio de Números 25 contrasta com o de Arão. Fineias não foi chamado, como o foi Arão, mas adquiriu seu título a ele. Como ele fez isso? Fez uma expiação por Israel no dia de sua grande transgressão, envolvendo as filhas de Baal-Peor e permitiu que o Senhor olhasse com satisfação novamente para Seu arraial errante. Fineias se levantou para vingar a questão da justiça e fazer expiação pelo pecado do povo. “Então, o Senhor falou a Moisés, dizendo: Fineias... desviou a Minha ira de sobre os filhos de Israel... Portanto, dize: Eis que lhe dou o Meu concerto de paz... o concerto do sacerdócio perpétuo". Nada pode ser mais belo do que isso. Não poderia haver uma luz mais magnífica para apreender o Cristo de Deus do que naquele ato de Fineias. Arão nunca teve direito a um concerto de paz. Assim, temos essas duas luzes do Velho Testamento para apreender o sacerdócio do Senhor Jesus[1]. Ele era o verdadeiro Arão e o verdadeiro Fineias. Ambos são trazidos aqui. O bendito Senhor Jesus foi chamado ao ofício, assim como Arão; mas Ele estava no ofício porque fez uma expiação. Esta Terra era como o átrio do templo, onde ficava o altar de cobre. O Senhor Jesus está agora assentado no santuário celestial, que Deus levantou, e não o homem, porque Ele passou pelo altar de cobre na Terra. Ele passou pelo altar e satisfez suas exigências. Nada poderia ser mais simples e, no entanto, nada poderia ser mais misteriosamente grandioso. Como Deus deu testemunho da satisfação do altar de cobre? Rasgando o véu. Assim, é fácil passar adentro. Se Deus rasgou o véu, devo eu deixa-lo rasgado em vão? Se ele está rasgado agora, tenho tanto direito de entrar quanto os israelitas de outrora eram obrigados a ficar do lado de fora. Ao satisfazer o altar, Ele passou pelo véu rasgado para o santuário celestial. Tudo isso é mostrado aqui. Cristo não glorificou a Si mesmo para ser feito Sumo Sacerdote.

[1]  Melquisedeque foi o terceiro (Hb 7).

 

Por que é uma questão de honra ser feito sumo sacerdote? Vocês me dirão que nada pode dignificar o Filho de Deus; e eu admito isso. Mas deixe-me perguntar: será que os homens sabem o que é ter honra adquirida, bem como honras hereditárias? O filho de um nobre indo para uma batalha pode adquirir honras, somadas às dignidades hereditárias de sua família? E diga-me: qual ele vai valorizar mais? Aquelas que ele adquiriu. Ele mesmo é mais honrado por essas adquiridas. Suas dignidades hereditárias são dele, e não graças a ele, mas suas honras adquiridas são mais especialmente suas.

 

As coisas divinas são ilustradas pelas coisas humanas. Quem pode acrescentar algo Àquele que é Deus sobre todos, bendito para sempre? Mas o Filho esteve na batalha e adquiriu honras que nunca teriam sido Suas se Ele não tivesse assumido a causa dos pecadores, e como quão caras e preciosas para Ele são essas honras! A palavra "chamado" é muito doce no original grego. Deus O "saudou", O “cumprimentou" quando O assentou no santuário, assim como O cumprimentou quando O assentou no trono — "Assenta-Te à Minha mão direita". A Epístola aos Hebreus mostra, nos céus abertos, um trono, bem como um santuário.

 

Nos versículos 7, 8 e 9, encontramos algumas verdades muito importantes relacionadas a nós. “O Qual, nos dias da Sua carne” (notemos isso com santa reverência), “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte”. A cena desse conflito foi eminentemente marcada no Getsêmani. O que aconteceu lá? Ele, apropriadamente Se retraiu ao Se submeter ao juízo de Deus contra o pecado. “tendo sido ouvido por causa da Sua piedade” (ARA). Ele foi ouvido porque a morte, o salário do pecado, não tinha direito sobre Ele. Sua reivindicação de libertação foi permitida. Em vez de o juízo de Deus ser enviado para consumir Sua carne, um anjo foi enviado para fortalecê-Lo.

 

Mesmo assim, Ele sofreu a morte. Ele poderia ter reivindicado Sua própria isenção pessoal dela, mas Ele passou por ela. Ele aprendeu obediência à Sua comissão peregrinando desde o Getsêmani até ao Calvário, e agora Se apresenta aos olhos de todos os pecadores na Terra como o Autor da salvação eterna.

 

Vemos o Senhor no Getsêmani suplicando, se assim posso me expressar, Seu direito contra a morte. Seu título é reconhecido, no entanto, embora a morte não tenha direito sobre Ele pessoalmente, Ele diz: "faça-se a Tua vontade". Ele poderia ter ido do Getsêmani para o céu, mas Ele foi do Getsêmani para o Calvário, e assim, tendo sido aperfeiçoado lá, Ele Se tornou o Autor da salvação eterna para todos os que O recebem. Então, quando o altar é satisfeito, o santuário O recebeu, e lá Ele está.

 

Na criação, Deus plantou um homem no jardim em inocência; na redenção, Deus plantou um Homem no céu, em glória. Há uma glória que excede. A glória na redenção torna a glória que uma vez esteve na criação como um nada.

 

Agora chegamos ao versículo 10. Observe que a linguagem do versículo 10 é retomada no versículo 20 de Hebreus 6, e o argumento não avançou além deste versículo 10. Suponha, então, que eu o levasse aos capítulos 1, 2 e 3 de 1 Coríntios, você encontraria o apóstolo ali impedido em seu ensino. “Vocês são carnais, não posso ensiná-los com os ricos tesouros que eu tenho guardado para a Igreja". Isso acontece aqui em Hebreus; só que em Coríntios o mal que impedia era moral; aqui é doutrinal.

 

Era muito difícil para o hebreu se desapegar das coisas nas quais havia sido educado. Ele era "inexperiente na Palavra da justiça" (ARA). A mente legalista está apta a assumir a justiça como Moisés fez, como uma coisa exigida de nós. Deus a considera como uma coisa que Ele nos dará. E no capítulo 6, encontrando esse obstáculo entre eles, ele soa um alarme, como na abertura de Hebreus 2, ele soou uma exortação. Uma mente carnal e uma mente legalista são dois grandes vilões. Ambas são raposinhas que fazem mal às vinhas de Deus.

 

"Agora", diz o apóstolo, "você deve deixar essas coisas. Devo colocá-lo em outro livro, e esse livro é o da perfeição". "Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados", e assim por diante. Ou seja, “Não está ao meu alcance fazê-lo”. Devemos deixar isso para Deus, sejam eles trazidos de volta ou não. Isso é algo somente entre eles e Deus. É uma coisa terrível voltar às ordenanças depois de ter conhecido a Cristo, mas não tenho autorização para dizer que não serão perdoados aqueles muitos que foram assim enganados, mas voltaram.


 

Hebreus 7 


Olhar atentamente para o sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedeque é importante para nossa alma. Portanto, por enquanto, deixaremos de lado o parêntese no final de Hebreus 6 e leremos parte de Hebreus 5 e todo o texto de Hebreus 7. Estamos olhando para o sacerdócio do Senhor Jesus como refletido em Arão e Fineias. Vimos que Arão foi simplesmente chamado ao seu ofício; Fineias ganhou o dele. Vamos agora olhar para a fase de Melquisedeque do mesmo sacerdócio.

 

Suponha que eu lhe dissesse que este mundo é uma cena de vida perdida – você me entenderia. A vida não passa de uma morte suspensa. Voltar à vida é voltar a Deus. Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos. O pecado resultou na perda da vida, consequentemente, se posso voltar à vida, volto a Deus. Em dois caracteres, Deus visita este mundo – como Vivificador e como Juiz, e João 5 nos diz que todos estamos interessados em uma ou outra dessas visitas. Agora é o propósito desta epístola é fazer com que todo pobre crente em Jesus saiba que ele voltou à vida e que sua ocupação agora é com o Deus vivo e com Deus Vivificador. “O Deus vivo” é uma expressão que ocorre com frequência nesta epístola. "Apartar-se do Deus vivo", "servir ao Deus vivo", "à cidade do Deus vivo". Assim, o Deus vivo ocupa o campo da minha visão tanto agora quanto na glória. Agora não devo me afastar d’Ele, o que indica que voltei para Ele. Eu escapei da região da morte e voltei para a região da vida; e em breve, na glória encontrarei "a cidade do Deus vivo".

 

A pergunta é: "Como voltei para Ele?" A epístola revela isso de maneira bela. É um assunto moral magnífico seguir o Senhor Jesus em Seu ministério por meio dos quatro evangelhos e vê-Lo desde o início até o fim de Sua história, mostrando-Se como o Deus vivo neste mundo. Contemplá-Lo no Getsêmani — contemplá-Lo entregando o espírito — depois como o Deus vivo levantando-Se do túmulo e concedendo o Espírito Santo. Vemos o Deus vivo numa cena repleta de morte. É o propósito desta Epístola aos Hebreus apresentar muito especialmente a Cristo como o Deus vivo. O apóstolo está cheio com a morte e com a cruz de Cristo. Ela não seria a Epístola aos Hebreus se não tratasse de Cristo em Seu caráter vicário.

 

Mas, embora vejamos o Cordeiro no altar, também vemos o sepulcro vazio. Observamos antes que o próprio Senhor sempre liga à história de Sua morte a história de Sua ressurreição. "O Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e condená-Lo-ão à morte... e ao terceiro dia ressuscitará". Temos a mesma coisa aqui, só que de forma doutrinal e não histórica. A cruz é frequentemente nomeada, mas sempre em companhia da ascensão. Veja a abertura da epístola — "havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados". Como Ele os purificou? Pela morte. A morte olha para você na abertura desta epístola; mas ao mesmo tempo você lê: "assentou-Se à destra da Majestade, nas alturas". Lemos novamente “para que [Ele], pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. A história termina aí? Não, Ele é "coroado de glória e honra". O que acontece historicamente nos evangelhos é retomado doutrinalmente na epístola aos Hebreus.

 

O Espírito Santo está considerando o Deus vivo na Pessoa de Jesus, como Jesus estava exibindo o Deus vivo em Sua própria Pessoa. Então, novamente em Hebreus 2, “Para que pela morte” - a morte olha novamente para você, mas o que vem a seguir - “aniquilasse o que tinha o império da morte”. Não tenho novamente o sepulcro vazio, bem como o altar e o Cordeiro? Entro nesta epístola para encontrar um túmulo vazio, mas não como "Maria Madalena e a outra Maria". Espero encontrá-lo vazio. O erro delas, queridas mulheres, era que esperavam encontrá-lo ocupado. Eu me dirijo a ele esperando encontrá-lo vazio e assim o encontro. Quando vejo o Cordeiro sobre o altar e o sepulcro vazio, eu me aproprio de uma vida vitoriosa e infalível. Essa é vida sobre a rocha que o Senhor falou a Pedro.

 

Em Hebreus 5, descobrimos que no Getsêmani Ele tratou da questão de Seu direito e foi ouvido por Sua piedade. Ele tinha um direito moral para a vida. Então Ele abriu mão esse direito moral e tomou Seu lugar como Substituto. Do Getsêmani, Ele caminhou até o Calvário. No Getsêmani foi um momento maravilhoso. Lá, a grande questão da vida e da morte foi resolvida entre Deus e Cristo; e em vez de fazer a jornada a que Ele tinha direito lá para cima, Ele seguiu pelo caminho sombrio em que nossos pecados O colocaram aqui embaixo. Tudo isso é de um abençoado e imenso interesse.

 

No Calvário, novamente O encontramos na morte, mas no momento em que Ele entregou o espírito, todas as coisas sentiram o poder do Conquistador. Ele havia descido para as regiões mais sombrias da morte, mas no momento em que as tocou, cada uma sentiu o poder do Conquistador. A Terra tremeu, as rochas se fenderam, os túmulos se abriram e os corpos de santos foram ressuscitados.

 

Se olharmos em João 20, vemos não apenas o túmulo vazio, mas o túmulo repleto dos símbolos da vitória - os lençóis de linho no chão, e o lenço que não estava com os lençóis de linho, mas envolto em um lugar à parte. Nunca seremos capazes de apreender o mistério do Cristo de Deus se não nos lembrarmos d’Ele como o Deus vivo no meio da morte, obtendo vitórias dignas de Si mesmo. Nós O vemos na morte rasgando o véu. No túmulo, vemos o lenço enrolado à parte para contar a história da vitória. Nós O vemos então com Seus discípulos, e Ele é exatamente o Deus vivo de Gênesis 1. Encontramos Deus soprando vida nas narinas do homem — a Cabeça e a Fonte da vida. Em João 20, o Senhor brilha diante de nossos olhos como a Cabeça e a Fonte da vida infalível e inesgotável, soprando sobre os discípulos e dizendo: “Recebei o Espírito Santo”.

 

Nesta epístola, O encontramos nesse caráter, como tendo direito à vida e mantendo-a para nós. Esse é o Seu sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque. Ele não é apenas o Deus vivo. Ele O teria sido se tivesse ido do Getsêmani para o céu, mas Ele foi do Calvário para o céu, e agora está lá como o Deus vivo por nós; e Deus está satisfeito — com certeza Ele está satisfeito. Como poderia ser de outra forma? O pecado foi posto de lado e o bendito Deus sopra o princípio de vida. Esse é, por assim dizer (e dizendo isso com coração de adoradores), o elemento próprio de Sua natureza, e Ele está satisfeito. E Deus expressou a Sua satisfação. Mas como? Quando Cristo ressuscitou diante do mundo que disse: "Não queremos que Este reine sobre nós". Deus disse: "Assenta-Te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés". Essa foi a Sua satisfação num Cristo rejeitado.

 

Quando Cristo subiu aos céus em outro caráter, como tendo feito expiação, Ele O colocou nos céus mais altos com um juramento e construiu um santuário para Ele – "o verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". É possível que Ele nos mostre de forma mais interessante que está satisfeito com o que Cristo fez por nós?

 

Os serviços de um tal Sumo Sacerdote são suficientes para mim? Eles devem ser. Estou em conexão com a vida, e todas as questões estão resolvidas entre mim e Deus. Ele é Rei de Justiça e Rei de Paz, e Ele concede tudo o que você precisa em virtude da autoridade real de Seu próprio nome.

 

No momento em que você apreende o Deus vivo que é expandido nesta epístola, descobre que tudo o que Ele toca, Ele comunica vida por toda a eternidade. Seu trono é para todo o sempre – Hebreus 1 diz isso. Sua casa é para todo o sempre – Hebreus 3 diz isso. Sua salvação é eterna – Hebreus 5 diz isso. Seu sacerdócio é imutável – Hebreus 7 diz isso. Seu concerto é para todo o sempre – Hebreus 9 diz isso. Seu reino não pode ser abalado – Hebreus 12 diz isso. Não há nada que Ele toque que Ele não transmita eternidade àquilo que foi tocado. Para intitular a Epístola aos Hebreus em poucas palavras, podemos dizer que é "o altar cheio e o sepulcro vazio".

 

Cristo Se colocou a Si mesmo em possessão da vida, não para guardá-la para Si mesmo. O Jesus vivo no mais alto dos céus diz: "Agora que tenho tomado possessão da vida, vou compartilhá-la com vocês". “Ó profundidade das riquezas!”


J. G. Bellett

 

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