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O Filho de Deus - Parte 3/6

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O Filho de Deus

John Gifford Bellett 

 

Capítulo 3


“Porei n’Ele a Minha confiança” (Hb 2:13)

 

Que momento deve ter sido quando o Senhor acalmou o vento no Lago da Galileia! Deve ter sido maravilhoso e belo testemunhar isso; como seria agora, se apenas tivéssemos um coração sensível às glórias de Cristo, para pensar nisso. As pessoas podem falar do curso necessário dos princípios, das leis da natureza e do curso das coisas; mas certamente é a primeira lei da natureza obedecer ao seu Criador. E aqui, num piscar de olhos, o Mar da Galileia sentiu a presença e respondeu à palavra d’Aquele que, segundo Sua vontade, transfigura o curso da natureza ou com um toque desequilibra tudo (Marcos 4).

 

Este era Jesus – Jeová. Este era o Deus a Quem o Jordão e o Mar Vermelho, no passado, obedeceram: “Que tiveste, ó mar, que fugiste, e tu, ó Jordão, que tornaste atrás? E vós, montes, que saltastes como carneiros, e vós, outeiros, como cordeiros? Treme, Terra, na presença do Senhor”A resposta está aí, quer ouçamos a voz do Mar Vermelho nos dias do Êxodo, quer a voz do Mar da Galileia nos tempos do evangelho. A presença de Deus conta o segredo: “Porque falou, e tudo se fez”.

 

Lemos que quando o Sol e a Lua pararam no meio do céu, o Senhor ouviu a voz de um homem. Josué falou então com o Senhor, e o Senhor lutou por Israel. E a ocasião foi cheia de maravilhas. O Espírito Santo, que o registra, dá-lhe esse caráter. “Isso não está escrito no Livro do Reto? O Sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o SENHOR, assim, a voz de um homem”. Mas Jesus age imediatamente e por Si mesmo, e não é de admirar que isso aconteça. Todo o espanto que se sente vem dos corações despreparados e incrédulos dos discípulos, que não conheciam a glória do Deus de Israel. Mas sob o Seu ensino, que toma as coisas que são de Cristo para mostrá-las a nós, nós, amados, deveríamos entendê-lo melhor, discernindo-o igualmente, seja no Mar Vermelho dividido ou no Jordão que foi tornado “atrás” ou em o calmo Lago da Galileia.

 

Mas há mais de Jesus no Mar Vermelho do que na divisão das suas águas. A nuvem que apareceu a Israel assim que foram redimidos pelo sangue no Egito, e que os acompanhou pelo deserto, foi o guia do arraial. Mas foi também o véu ou a cobertura da glória. No meio de Israel, tal era aquele maravilhoso mistério. Era uma glória normalmente oculta; às vezes manifestada, mas sempre presente; o guia e companheiro de Israel, mas também seu Deus. Aquele que habitava entre os querubins caminhou pelo deserto diante de Efraim, Benjamim e Manassés (Sl 80).

 

A glória residia na nuvem para uso de Israel, mas também estava no lugar santo; e assim, enquanto conduzia o arraial em sua forma velada ou humilhada, assumiu as honras divinas do santuário.

 

E tal era Jesus, “Deus manifestado em carne”, comumente velado sob a “forma de Servo”, sempre, sem usurpação, igual a Deus na fé e adoração de Seus santos, e às vezes brilhando na graça e autoridade divinas.

 

Agora, quando se aproximavam do Mar Vermelho, Israel tinha de ser protegido. A nuvem faz essa misericórdia por eles. Coloca-se entre os egípcios e o arraial e há trevas para uns e luz para os outros, de modo que um não chegou perto do outro durante toda a noite; e então, pela manhã, o Senhor olhou para o exército do Egito através da coluna de nuvem e perturbou o exército do Egito. E assim, em uma ocasião semelhante a esta no Mar Vermelho, Jesus atua como a nuvem e a glória. Ele Se coloca entre Seus discípulos e Seus perseguidores: “se, pois, Me buscais a Mim, deixai ir estes”. Ele os protege com Sua presença como antigamente. E Ele olha através da nuvem, e novamente, como antigamente, perturba o exército do inimigo: “Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou Eu, recuaram e caíram por terra”. Ele apenas olhou com cuidado e descobriu que Seu braço não estava encurtado. Com igual facilidade e autoridade, o Deus de Israel realiza Seus atos apropriados no Mar Vermelho, e Jesus faz o mesmo no jardim do Getsêmani (Êxodo 14; João 18). Os deuses do Egito O adoraram no Mar Vermelho, os deuses de Roma O adoraram no Getsêmani, e quando trazido novamente ao mundo pela segunda vez, será dito: “E todos os anjos de Deus O adorem”.

 

Mas ainda mais: no decorrer da sua história, Israel teve de ser repreendido e também protegido; para ser disciplinado, bem como para ser redimido. Vemos isso quando deixamos o Mar Vermelho e entramos no deserto. Mas a mesma glória, escondida dentro da nuvem, fará esta obra divina por eles assim como fez a outra. No dia do maná, no dia dos espias, na questão de Corá, nas águas de Meribá, Israel provoca a santidade do Senhor, e a glória é vista na nuvem, testemunhando o ressentimento divino (Êx 16; Nm 14; 16; 20).

 

E da mesma forma, Jesus novamente, quando entristecido – como ficou a Glória na nuvem – pela dureza de coração ou incredulidade dos discípulos, Ele dá algum sinal, alguma expressão, de Seu poder divino com palavras de repreensão. Como naquela ocasião a que me referi, no Lago de Tiberíades, pois ali Ele disse aos discípulos: “Por que estais com tanto medo?” (JND) bem como aos ventos e às ondas: “Cala-te, aquieta-te”. E assim, repetidas vezes, quando os discípulos revelam pensamentos ignorantes e incrédulos sobre Ele, como, por exemplo, para Filipe em uma ocasião distinta, Ele diz, na tristeza e ressentimento da Glória na nuvem: “Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14:9).

 

Certamente aqui também estava o mesmo mistério. O Senhor não estava aqui novamente brilhando através do véu para confundir a desobediência ou incredulidade de Israel? Esta foi a glória vista na nuvem, como no dia do maná ou em casos semelhantes já mencionados. Muito exata é a correspondência destas formas de poder divino. A nuvem era algo comum; a glória interior era manifestada de vez em quando, mas sempre estava . O Guia e Companheiro do arraial era o Senhor do arraial. E não é tudo isso Jesus em um mistério? A glória era o Deus de Israel (Ez 43:4; 44:2), e Jesus de Nazaré era o Deus de Israel, ou a glória (Is 6:1; Jo 12:41). O Nazareno velava uma luz, ou manifestava em carne uma glória, a qual, em sua própria plenitude, é “inacessível” (1 Tm 6:16).

 

De uma maneira bela, Moisés recusou glória, mas Jesus a escondeu. “Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó” (Hb 11:24). E foi uma bela vitória sobre o mundo que existiu. Gostamos de ostentar nossas honras, de tirar o máximo proveito do que somos e até de receber mais do que temos direito, se os homens cometerem erros a nosso favor. Mas Moisés humilhou-se no palácio egípcio; e essa foi uma bela vitória da fé sobre o curso e o espírito do mundo. Mas Jesus fez mais. É verdade que Ele não tinha servos e cortesãos para ensinar, pois era um estranho aos palácios. Mas os aldeões de Nazaré O intitularam como “o filho do carpinteiro”, e Ele quis que fosse assim. A Glória das glórias, o Senhor dos anjos, o Criador dos confins da Terra, o Deus do céu, estava escondido sob esse relato comum, e ali Ele ficou sem resposta a isso.

 

É a graciosa obra do Espírito Santo em Hebreus abrir as fontes deste grande mistério. A graça de Deus de bom grado se exerceria ou se entregaria – por mais precioso que seja esse pensamento – e o louvor d’Aquele “para Quem são todas as coisas e mediante Quem tudo existe”, exigia o mistério, por assim dizer (Hb 2:9-10). Essas coisas nos são contadas ali. Estas são as ricas fontes de onde fluem o grande propósito e as ocupações; aquela ocupação, aquele mistério indizível de redenção através da humilhação do Filho de Deus, que deve dar seu caráter à eternidade. A graça divina procurou se satisfazer a si mesma, e a glória divina seria manifestada com perfeição. Todas as questões dessas fontes. Carne e sangue foram assumidos pelo Santificador; a morte foi sofrida; tentações semelhantes com os irmãos, aparte do pecado, foram suportadas; relacionamentos com Deus, experiências em Si mesmo e empatias com os santos foram suportados e conhecidos; a vida de fé na Terra, com suas orações e lágrimas, Àquele que foi capaz de salvar da morte; vida de intercessão no céu; toda aptidão para ser um Sacrifício e um Sacerdote realizada; capacidade para socorrer e dignidade para morrer, bem como ressurreição, ascensão, expectativa presente e um Reino e glórias vindouras – tudo isso encontra suas fontes e recursos ali.

 

O Filho de Deus tomou Seu lugar em relação a tudo isso. Ele era dependente, obediente, crente, esperançoso, contristado, sofredor, desprezado, crucificado, sepultado; tudo o que o grande plano eterno tornou necessário para Ele. Ele Se esvaziou de Si mesmo por tudo isso, mas tudo o que Ele fez foi infinitamente digno de Sua Pessoa. A palavra no início, “Haja luz. E houve luz”, não foi mais digna d’Ele do que as orações e súplicas “com grande clamor e lágrimas” nos dias de Sua carne. Ele nunca poderia ter Se aliado a algo indigno da Divindade, embora encontrado, abundantemente e a todo custo Pessoal, em condições e circunstâncias às quais nossa culpa e Sua graça, ao afastá-la, O levaram.

 

A Pessoa na manjedoura era a mesma que estava na cruz. Era Deus “que Se manifestou em carne”. E no sentido pleno dessa glória, só podemos falar de Sua humilhação de Si mesmo, desde o primeiro até o último momento daquela jornada maravilhosa. Guiados por Deus, os sábios do Oriente adoraram “o Menino” em Belém. Posso dizer que Simeão O adorou num momento anterior no templo; e estranhamente, o que nada pode explicar a não ser a luz do Espírito Santo que então o encheu, ele abençoa a mãe e não a criança. Ele tinha o Menino em seus braços e, naturalmente, em tal ocasião, teria dado sua bênção a Ele. Mas ele não. Pois ele tinha aquela Criança em seus braços, não como uma criança débil a quem ele confiaria aos cuidados de Deus, mas como a Salvação de Deus. Nesse caráter glorioso, na hora de perfeita fraqueza da natureza, ele O sustentou em seus braços e glorificou-se n’Ele. “O menor é abençoado pelo Maior”. Não cabia a Simeão abençoar Jesus, embora sem injustiça ou usurpação ele abençoasse Maria.

 

Ana, a profetisa, O recebe com o mesmo espírito. E ainda antes, ainda por nascer, Ele foi adorado, posso dizer, pelo salto da criança no ventre de Isabel, à saudação de Maria. Como também, antes de ser concebido, o anjo Gabriel O reconhece como o Deus de Israel, diante de cuja face o filho de Zacarias deveria ir; e então também Zacarias, no Espírito Santo, O reconhece como o Senhor cujo povo era Israel e como “a Aurora lá do alto” (TB).

 

A obediência abnegada, a sujeição de um tipo único, deve, portanto, ser vista em cada estágio e ação de Tal Pessoa. E qual foi esse serviço na estima d’Aquele a Quem foi prestado? Como o Nascido, o Circuncidado, o Batizado e o Ungido, o Servo, o Sofredor e o Crucificado, e depois como o Único de então, Ele andou aqui na Terra sob o olhar de Deus. No segredo do ventre da Virgem, na solidão de Nazaré, nas atividades e serviços de todas as cidades e aldeias de Israel, no profundo sacrifício de Si mesmo da cruz, e depois no novo florescimento da ressurreição, este Homem “Maravilhoso” foi visto e deleitado por Deus – perfeito, imaculado, relembrando o deleite divino no homem mais do que quando antigamente ele foi feito à imagem de Deus, e mais do que anulando todos os arrependimentos divinos da antiguidade, que o homem havia causado na Terra.

 

Sua Pessoa conferiu glória a toda Sua senda de serviço e obediência, o que o tornou de valor indizível. Não é apenas que Sua Pessoa fez todo esse serviço em obediência voluntária. Há algo muito além do que ser assim voluntária. Há algo nesse serviço que é aquilo que a Pessoa (“Meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos”) transmite: e quem pode pesar ou medir isso? Sabemos disso muito bem entre nós. Quero dizer, na mesma espécie. Quanto mais elevado em dignidade, em dignidade pessoal, é aquele que nos serve, mais elevado o valor do serviço se eleva em nossos pensamentos. E com razão; porque mais foi empenhado por nós, mais foi dedicado por nós, do que quando o servo fosse um inferior; mais o coração aprendeu instintivamente que o nosso bem foi realmente buscado, ou que nossos desejos e vontades se tornaram um objeto. Não esquecemos a Pessoa no serviço. Não podemos fazer isso. E assim, neste precioso mistério que temos meditado, o serviço e a obediência de Jesus foram perfeitos; infinitamente, sem mistura, dignos de toda aceitação.

 

Mas, além disso, além da qualidade do fruto, houve a Pessoa que o produziu; e isso, como dissemos, conferiu-lhe um valor e uma glória que são indescritíveis. O mesmo valor repousava nos serviços de Sua vida, que posteriormente deram caráter à Sua morte. Foi Sua Pessoa Quem deu todas as virtudes que Sua morte ou sacrifício possui; e foi Sua Pessoa que deu glória peculiar a tudo o que Ele fez em Sua senda de obediência em humilhação própria. E a complacência de Deus num caso foi tão perfeita quanto Sua aceitação judicial no outro. Algum símbolo (como o do véu rasgado) é visto pela fé expressando aquela complacência e pleno deleite de Deus por cada ato ocorrido na vida de Jesus[1]. Quem dera tivéssemos olhos para ver e ouvidos para ouvir isso enquanto seguimos pelos caminhos de Jesus, desde a manjedoura até o madeiro! Mas assim foi, quer tenhamos visto ou não. A complacência de Deus, além de qualquer pensamento que se possa conceber, repousava em tudo o que Ele fez e em tudo o que Ele foi ao longo de Sua vida de obediência. Como alguém disse: “A sabedoria divina é o caminho de nossa recuperação por meio de Jesus Cristo, 'Deus manifestado em carne', destinado a glorificar um estado de obediência. Ele tornaria Sua obediência incomparavelmente mais agradável, desejável e excelente, do que jamais poderia parecer ter sido na obediência de todos os anjos no céu e dos homens na Terra, se eles tivessem continuado nela, na medida em que Seu próprio Filho eterno entrou em um estado de obediência e assumiu a forma ou condição de Servo a Deus”.

[1] N. do A.: Falo do véu rasgado como símbolo da aceitação divina. Nenhuma obediência na vida de Cristo poderia tê-lo rasgado; apenas Sua morte.

 

Estes são pensamentos fortalecedores sobre os caminhos de Jesus. Essas formas de serviço e sujeição a Deus devem ter seu caráter peculiar e à nossa vista. A obediência foi glorificada em Sua Pessoa mostrada em toda a sua inefável beleza e desejabilidade; de modo que não devemos apenas dizer que a complacência de Deus n’Ele foi sempre mantida em sua plenitude, mas que vai além de todo pensamento criado. N’Ele “a forma de Servo” era uma realidade, tanto quanto “a forma de Deus”; como verdadeiramente uma realidade assumida, assim como a outra era uma realidade essencial e intrínseca. E sendo assim, Seus caminhos eram os de um Servo; assim como, sendo o Filho, Suas glórias e prerrogativas eram as de Deus. Ele orou; Ele continuou noites inteiras em oração. Ele viveu por fé, o Padrão perfeito de um crente, conforme lemos sobre Ele: “O Autor e Consumador da fé”. Na tristeza, Ele fez de Deus Seu refúgio. Na presença de inimigos, Ele Se entregou Àquele que julga com justiça. Ele não fez a Sua própria vontade, por mais perfeita que fosse, mas a vontade d’Aquele que O enviou. Destas e de todas as maneiras semelhantes “a forma de Servo” foi encontrada, provada, lida e conhecida com perfeição. Parece ter sido uma grande e viva realidade. A vida deste Servo foi uma vida de fé do começo ao fim.

 

Na Epístola aos Hebreus, somos ensinados a considerar Jesus como “o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão”, e também como “o Autor e Consumador da fé” (Hb 3:1; 12:2-3). Como o primeiro, Ele é colocado diante de nós para o alívio de nossas consciências e o socorro em nossos momentos de tentação; como o segundo, para o encorajamento de nosso coração na mesma vida de fé. Como “o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa profissão”, Ele está sozinho; como “o Autor e Consumador da fé”, Ele está conectado a uma grande nuvem de testemunhas. Como o primeiro, Ele é por nós; como segundo, Ele está diante de nós. Mas mesmo quando está diante de nós, como na luta e na vida de fé, há alguma distinção; pois o Espírito Santo nos convida a olhar para este “Autor e Consumador da fé” de uma forma que Ele não fala a respeito de nenhum outro. Ele fala de estarmos rodeados por elas, mas nos convida a olhar para Ele.

 

E, além disso, foram as “contradições dos pecadores contra Si mesmo” que formaram a vida de provação e de fé em Jesus; e essas são palavras peculiares. Outros como Ele, na luta da fé, tiveram zombarias e açoites cruéis, o fio da espada, as cavernas da terra, torturas, amarras e prisões, e tudo por causa da inimizade do homem. Mas o conflito deles em meio a tais coisas não é assim mencionado. Não é chamada de “contradição dos pecadores contra eles mesmos”. Há uma força e uma elevação em tais palavras que se adequam apenas à vida de fé que Jesus liderou e pela qual lutou.

 

Quão perfeitos são esses pequenos detalhes da sabedoria do Espírito na Palavra! O Salmo 16 nos apresenta Jesus nesta vida de fé. Ali o Filho de Deus é Aquele em Quem “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”, como em Hebreus 12:2-3. Ele desfruta da porção presente de um homem sacerdotal. Ele coloca o Senhor sempre diante d’Ele e sabe que, como está à Sua direita, não será abalado. Ele busca também os prazeres à direita e o gozo da presença de Deus em outros lugares.

 

O Salmo 116 é o fim de Sua vida de fé em ressurreição, gozo e louvor; e o apóstolo, no “mesmo espírito de fé”, pode procurar compartilhar o mesmo gozo da ressurreição com seu divino Senhor e Precursor (2 Co 4:13-14).

 

“Porei n’Ele a Minha confiança”, pode-se dizer que foi a linguagem da vida de Jesus. Mas Sua fé era ouro, ouro puro, nada além de ouro. Quando provado na fornalha, sai a mesma massa que havia entrado, pois não havia escória. Os santos geralmente têm que ser corrigidos pela fornalha. Alguma impaciência, egoísmo ou murmúrio devem ser reduzidos ou silenciados, como nos Salmos 73 e 77. Jó foi vencido: problemas o atingiram e ele desmaiou, embora muitas vezes tivesse fortalecido as mãos fracas e sustentado com sua palavra aquelas que estavam caindo. Como diz um velho escritor, “os mais fortes perdem as pernas”. Pedro dorme no jardim e na sala do julgamento conta mentiras e jura para eles; mas houve Alguém a Quem a fornalha, aquecida sete vezes, provou ser Precioso além da expressão.

 

Leia Lucas 22: Veja essa Pessoa naquele grande capítulo; veja Jesus ali na hora da prova de fé. Ele está primeiro em companhia do sofrimento que O esperava, depois com Seus discípulos, depois com o Pai e depois com Seus inimigos: e observe tudo, amado. Quão indescritivelmente perfeito tudo é! – esta fé em sua preciosidade pura quando provada no fogo! Mas toda a vida de Jesus foi a vida e a obediência da fé. Sob um aspecto, foi certamente a vida do Filho de Deus na “forma de Servo”, humilhando-Se até a morte, embora na “forma de Deus”, e embora Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus”. Mas sob outro aspecto, foi a vida de fé: “Porei n’Ele a Minha confiança”, “Tenho posto o SENHOR continuamente diante de Mim; por isso que Ele está à Minha mão direita, nunca vacilarei”. Estas são Suas respirações, e nós O celebramos, à nossa maneira, em Sua vida de fé, e cantamos juntos sobre Ele.

 

“Fiel em meio à infidelidade,

 No meio das trevas apenas luz,

 Tu confessaste o nome de Teu Pai, E em Sua vontade Te deleitaste.”

  

E toda essa preciosa vida de fé foi respondida pelo cuidado e proteção de Deus. “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. A fé d’Aquele que servia na Terra era perfeita, e a resposta d’Aquele que habitava nos céus era perfeita (Salmo 91).

 

O cuidado que velava por Ele foi incessante desde o ventre até o túmulo. Assim foi declarado antigamente por Seu Espírito nos profetas: “Sobre Ti fui lançado desde a madre; Tu és o Meu Deus desde o ventre de Minha mãe; O que Me preservaste estando ainda aos seios de Minha mãe”. Foi incansável o tempo todo. “Tu sustentas a Minha sorte”“a Minha carne repousará segura [em esperança – JND]. Pois não deixarás a Minha alma no inferno (Hades), nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção” (Salmo 16). Essa ajuda, cuidado e vigilância, em um aspecto de Sua história, eram tudo para Ele. Ela cuidou d’Ele naquela mesma noite em que o anjo avisou José para fugir para o Egito. Foi um indizível gozo do Pai exercer a diligência daquela hora. Aquele que guardou aquele Israel não poderia dormir agora.

 

Mas tudo isso, em vez de ser inconsistente com os plenos direitos divinos de Sua Pessoa, obtém deles o seu caráter especial. A glória deste relacionamento, e do gozo e complacência que o acompanhou, desaparecerá, se a Pessoa não for justificada e honrada. Tal era a Pessoa, que Sua entrada no relacionamento foi um ato de auto-esvaziamento. Em vez de iniciar uma senda de sujeição, seja na fuga para o Egito ou na manjedoura em Belém, Ele havia assumido “a forma de Servo” em conselho antes de o mundo começar; e, como fruto disso, Ele foi “achado na forma de homem”. E todas as Suas ações e serviços foram os caminhos d’Este que tinha Se esvaziado: todos eles, desde os primeiros até os últimos. Pois Ele era tão verdadeiramente “Deus manifestado em carne” quando na jornada para o Egito nos braços de Sua mãe, como quando no Getsêmani, na glória e no poder de Sua Pessoa, o inimigo vindo para devorar Sua carne tropeçou e caiu. Ele era tão simplesmente Emanuel quando Criança em Belém, como agora está à direita da Majestade nos céus[2]. Tudo foi humilhação de Si mesmo, desde o ventre até a cruz. Se duvido disso, eu esqueço Sua Pessoa ou Quem Ele era. Mas sob outra luz do glorioso mistério, devemos ver o relacionamento e o terno e perfeito cuidado e ajuda que, de acordo com isso, o Pai sempre Lhe prestava. Mas essas coisas são apenas como as várias luzes ou carácteres nos quais os diferentes evangelistas apresentam o Senhor, como geralmente conhecemos. Ele era o Objeto dos cuidados do Pai e, ainda assim, o Companheiro de Jeová; e podemos olhar para Seu caminho sob a luz de aprovação com a qual aquele cuidado e vigilância divinos a investem, enquanto podemos contemplá-la naquela luz mais brilhante e na mais excelente glória nas quais Seus direitos e honras como o Filho de Deus a apresentam para nós. Se Ele tinha esse relacionamento com os cuidados de Deus, assumido, como era, de acordo com os conselhos eternos, assim todas as criaturas, terrenas e celestiais, angélicas e humanas, em todo o universo, também tinham o mesmo relacionamento com Ele.

[2] N. do A.: Não quero dizer que por ocasião da fuga ao Egito “o Menino” tenha exercitado Sua mente ou vontade. Isso seria uma afirmação além da Escritura. Mas esse ato, como todos os outros, desde Belém ao Calvário, tem o único caráter de obediência e humilhação própria.

 

Por causa de verdades tão diversas como esta, Ele poderia dizer: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”; e ainda assim o Espírito Santo poderia dizer d’Ele que o Deus de paz O trouxe novamente dentre os mortos (Jo 2:19; Hb 13:20). Seus inimigos que buscavam Sua vida caíram diante d’Ele com uma palavra; e, no entanto, Sua fé perfeita reconheceu o cuidado e a proteção perfeitos de Deus, a ponto de Ele poder dizer: “pensas tu que Eu não poderia, agora, orar a Meu Pai e que Ele não Me daria mais de doze legiões de anjos?” (Jo 18:5-6; Mt 26:53). Ele poderia, com um toque, curar a orelha do servo, ou melhor, restaurá-la quando cortada, quando ao mesmo tempo Ele teria Sua própria fronte sangrando sob a coroa de espinhos (Lc 22:51; Mc 15:17-19). Na perfeição de Seu lugar como Aquele que Se esvaziou, Ele pediria simpatia e diria: “nem uma hora pudeste vigiar Comigo?” e pouco depois, num momento de tristeza ainda maior em certo sentido, Ele poderia estar acima da piedade das filhas de Jerusalém e honrar, com a promessa do Paraíso, a fé de um malfeitor que estava a morrer (Mt 26:40; Lc 23:28, 42-43). Pois no resplendor Ele brilha, mesmo no momento mais profundo de Sua humilhação: e que os pecadores saibam que não é a compaixão dos homens que Sua cruz busca, mas sua ; que não lhes pede com bondade humana que sintam aquela hora, mas com fé nos seus corações e na plena paz das suas consciências para serem abençoados por essa hora; não ter pena da cruz, mas apoiar-se nela e saber que, embora realizada na fraqueza, é o próprio pilar que deve sustentar a criação de Deus para sempre.

 

De formas tão diferentes, mas consistentes, lemos a vida do Filho de Deus em carne. Será que uma é menos real pelo fato de a outra ser verdadeira? As lágrimas de Jesus por Jerusalém foram tão reais como se não houvesse mais nada em Seu coração além da tristeza de um Senhor e Salvador mal correspondido por um povo rebelde e incrédulo. E, no entanto, Seu gozo no pleno propósito da sabedoria e da graça divina era exatamente a mesma realidade indivisa e sem mistura. O “Ai de ti, Corazim!” e então o “Graças Te dou, ó Pai”, eram afetos igualmente vivos e verdadeiros na alma de Jesus (Mateus 11). Não havia nenhuma falta de realidade plena em nenhum dos dois; e assim “a forma de Servo”, com todos os seus resultados perfeitos, e “a forma de Deus”, em todas as suas glórias próprias, eram, da mesma forma, mistérios reais e vivos na única Pessoa.

 

E não podemos, às vezes, desviar-nos para contemplar mais atentamente para Sua Pessoa, enquanto seguimos os atos de Sua vida ou os segredos de Seu amor e verdade? Faz parte da obediência de fé fazer isso. “O temor do Senhor é limpo” (Sl 19:9), mas há um temor que não é totalmente limpo, contendo algum espírito de escravidão e descrença. A recusa em virar-se e contemplar tais visões tão grandiosas como essas pode revelar esse espírito. Eu reconheço o “mistério” e que o mistério é “grande”. Portanto, foi uma visão grande e misteriosa que Moisés se voltou para ver; mas com os pés descalços ele ainda poderia olhar e ouvir. Se ele não tivesse se virado, ele teria ido embora sem ser abençoado. Mas ele ouviu até descobrir que o “EU SOU” estava na sarça; e mais ainda, que “o Deus de Abraão” também estava lá. Um lugar estranho para tal glória se enclausurar! Mas assim foi. Em uma sarça ardente, o Senhor Deus Todo-Poderoso foi encontrado (Êxodo 3).

 

E supondo que eu vá ao Calvário e olhe lá para o “Pastor” ferido, Quem encontrarei, se tiver os olhos abertos, senão o Companheiro do Senhor dos Exércitos? (Zc 13:7). E se eu for para o meio da turba que cercou o tribunal de Pilatos em Jerusalém, Quem encontrarei lá? Aquele mesmo Quem foi cuspido, esbofeteado e ridicularizado; Aquele que antigamente secou o Mar Vermelho e cobriu os céus do Egito com pano de saco? (Is 50:3).

 

E eu pergunto: “Depois de ter observado isso e feito essas descobertas pela luz do Espírito que estava nos profetas, devo me retirar rapidamente?” Se eu tivesse entranhas, poderia perguntar: “Onde posso ir para obter um refrigério de espírito mais rico?” Se minha fé descobrir, no entristecido e insultado Jesus, entre os homens de Herodes e os oficiais dos romanos, o Deus que fez Suas maravilhas antigamente na terra de Cam, não devo demorar-me naquele monte de Deus e, à semelhança de Moisés, virar-me para olhar e ouvir? Não posso considerar a visão como sendo grande demais para mim. Não acredito que tal seja a mente do Espírito. A liberdade de pensamento, enquanto eu permanecer no monte, será repreendida se transgredir avançando limites; mas demorar-me ali não é transgressão, mas adoração. Falo, Deus sabe, de princípios, não de experiências. Os exercícios do coração ali são realmente monótonos e frios; e a tristeza existe (se é que podemos falar pelos outros), não porque pensamos muito no mistério da Pessoa do Filho de Deus, mas porque nos retiramos para outros objetos muito rapidamente.

 

Essa Pessoa será “a eterna maravilha e ornamento da criação de Deus”. Alguns podem reconhecer, em geral, a Humanidade e a Divindade naquela Pessoa. Mas também devemos reconhecer a plena e imaculada glória de cada uma delas. Nem a alma nem o homem moral, nem o templo do corpo devem ser profanados. O Homem inteiro deve ser justificado e honrado. E embora o relacionamento que Jesus manteve com Deus, o cuidado que isso induziu e a obediência que isso envolveu possam muito bem ser outra grande visão para nos voltarmos para olhar, ainda assim deixaremos de ver isso corretamente e olhar em sua glória se esquecermos de alguma forma a Pessoa d’Aquele que a sustentou.

 

(Um dos mártires dos dias da Rainha Maria escreveu assim em sua prisão: “Ele fez tudo, comprou tudo e pagou caro por tudo: com Seu próprio corpo imaculado Ele libertou seus corpos do pecado, da morte e do inferno, e com Seu preciosíssimo sangue pagou seu resgate e seu preço total, de uma vez por todas e para sempre”).

 

O raciocínio divino na Epístola aos Hebreus, entre outras coisas, evidencia isto: que a eficácia do sacerdócio de Cristo depende inteiramente de Sua Pessoa. Leia os primeiros sete capítulos: que palavras são essas! Em nosso Sacerdote devemos encontrar um Homem; Alguém capaz de socorrer os irmãos, por ter sido tentado como eles. De modo que devemos ver nosso Sumo Sacerdote passando para os céus em meio aos sofrimentos e tristezas da cena aqui. Certamente sim. Mas em nosso Sacerdote devemos encontrar também o Filho, porque em nenhum outro participante de carne e sangue havia “o poder de uma vida indissolúvel” (Hb 7:16). E, consequentemente, Melquisedeque representa a Pessoa, bem como as virtudes, dignidades, direitos e autoridades do verdadeiro Sacerdote de Deus; como lemos sobre Ele: “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (Hb 7:1-3).

 

E que visão tudo isso nos dá do “Sumo Sacerdote da nossa profissão”! Ele desceu do céu na glória pessoal e plena do Filho; e no devido tempo Ele subiu ao céu, carregando a virtude de Seu sacrifício pelo pecado e aquelas compaixões que socorrem os santos. A fé se familiariza com todo este caminho de Jesus. Reconhece n’Ele o Filho enquanto Ele habitou em carne entre nós; e quando Sua senda de humilhação e sofrimento terminou aqui, a fé reconhece o Homem uma vez rejeitado e crucificado, glorificado nos céus – a única Pessoa: Deus manifestado em carne aqui, o Homem escondido na glória ali. Ao lermos sobre Ele e Seu caminho bendito e maravilhoso: “Deus Se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima em glória” (1 Tim. 3:16 – JND)[3].

[3] N. do A.: Ele era, de fato, o verdadeiro Homem e o verdadeiro Deus em uma Pessoa. Tudo depende deste “grande mistério”. A morte de cruz não seria nada sem isso, assim como tudo seria nada sem essa morte.

 

Na “forma de Deus”, Ele era realmente Deus; na “forma de Servo”, Ele era realmente um Servo. Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus”; exercer todos os direitos divinos e usar todos os tesouros e recursos divinos com plena autoridade; e ainda assim tornando-Se sem reputação, esvaziando-Se e sendo obediente. Isto conta o segredo. Tudo o que aparece na história é interpretado pelo mistério. É como a glória na nuvem novamente. O Companheiro do arraial, em todas as Suas aflições, era o Senhor do arraial. A glória que atravessou o deserto em companhia das peregrinações de Israel foi a Glória que habitou entre os querubins no Santo dos Santos.

 

Mas as palavras adicionais desta Escritura (Filipenses 2) me convidam a continuar um pouco mais.

 

“Pelo que também Deus O exaltou soberanamente” (v. 9). Ficamos simplesmente maravilhados quando lemos essas palavras. Pois o que, podemos perguntar, poderia exaltá-Lo? Antes de iniciar Sua senda de sofrimentos e glórias, Ele era em Si mesmo infinitamente Grande e Bendito. Nada poderia exaltá-Lo pessoalmente, sendo, como Ele era, “o Filho”. Sua glória era divina. Era indescritível e infinita. Nenhuma outra honra poderia aumentar Sua glória pessoal. Mas ainda assim O vemos percorrendo um caminho que ainda O conduz à honra e à glória.

 

Estranho e excelente mistério! E – mais estranho e mais excelente, como podemos dizer – essas glórias novas e adquiridas são, em certo sentido, as mais queridas por Ele. A Escritura nos autoriza a falar, assim como a falar de muitas coisas de Sua graça, que o coração nunca teria concebido. E, no entanto, com tudo isso – comparar as coisas divinas com as humanas, como é o caminho da instrução do Espírito – aquilo de que falo agora é conhecido entre os homens. Que o mais elevado entre nós por nascimento, que um príncipe, filho de um rei, saia e adquira dignidades: suas dignidades adquiridas, embora não possam elevá-lo pessoalmente, serão suas distinções mais queridas e constituirão os materiais mais escolhidos de sua história na estima dos outros. Algo como isso é instintivamente entendido entre nós. E o mesmo acontece (no mistério indescritivelmente precioso de Cristo) com o Filho de Deus. De acordo com os conselhos eternos, Ele saiu para a batalha; e as honras que Ele adquiriu, as vitórias que Ele conquistou ou ainda irá conquistar, serão Seu gozo por toda a eternidade. Elas formarão a luz na qual Ele será conhecido e os carácteres nos quais Ele será celebrado para sempre; embora pessoalmente Ele habite em uma luz à qual nenhum homem pode se aproximar. E isto Ele preza: “Jeová-Jiré”, “Jeová-Rapha”, “Jeová-Shalom”, “Jeová-Tsidkenu” e “Jeová-Nissi”[4] são todas honras adquiridas. E como estas são supremas para Ele nos caminhos indescritíveis da ilimitada graça! Em Êxodo 3, Ele comunica Seu Nome Pessoal a Moisés, dizendo desde a sarça: “EU SOU O QUE SOU”. Mas então Ele comunica também Seu Nome adquirido, chamando a Si mesmo de “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”; e a este segundo, esse Nome adquirido, Ele acrescenta: “Este é o Meu Nome eternamente, e este é o Meu memorial de geração em geração”: palavras que nos dizem profundamente como Ele valorizava aquela glória que havia adquirido em Suas ações pelos pecadores. Como também no tabernáculo, ou templo, onde Seu Nome foi gravado, foi Seu Nome adquirido e não Seu Nome Pessoal que foi escrito e lido ali. Os mistérios daquela casa não falavam de Sua onipotência essencial, onisciência ou eternidade, ou de glórias semelhantes, mas d'Aquele em Quem a misericórdia triunfava sobre o juízo, e que havia descoberto uma maneira de trazer Seus banidos de volta à casa, para Ele. [4] N. do T:. “Jeová-Jiré” – “O  Senhor proverá” (Gn 22:14); “Jeová-Rapha” – “O Senhor que te sara” (Êx 15:26); “Jeová-Shalom” – “O Senhor é Paz” (Jz 6:24); “Jeová-Tsidkenu” “O Senhor, Justiça nossa” (Jr 23:6) e “Jeová-Nissi” – “O Senhor é minha Bandeira” (Êx 17:15).

 

Certamente estas são testemunhas de que valor, aos Seus olhos, é Seu Nome adquirido em serviço para nós. Mas “Deus é amor” pode explicar tudo isso. Lá o segredo é revelado. Se as manifestações são excelentes e maravilhosas, as fontes ocultas que se abrem n’Ele nos dão a conhecer tudo.

 

Devemos conhecê-Lo como “nascido sob a lei”, tão certamente como O conhecemos em Sua glória pessoal, muito acima de toda lei. Toda a Sua vida foi a vida do Obediente. E assim, embora fosse Deus sobre tudo, o Jeová de Israel e o Criador dos confins da Terra, Ele era o Homem Cristo Jesus. Ele era Jesus de Nazaré, ungido pelo Espírito Santo, que andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo: porque Deus estava com Ele. Nessas luzes nós O vemos, e nessas luzes lemos Sua variada e maravilhosa história. Ele concedeu o Espírito Santo e ainda assim foi ungido com o Espírito Santo.

 

O Filho veio para tomar parte da carne e do sangue.

 

Assim havia transcorrido o caminho e a graça do conselho eterno; nossas necessidades também exigiam isso. Ele foi achado “na forma de homem”. Ele foi exercitado em uma vida de total dependência em Deus e cumpriu uma morte que (entre outras virtudes) estava em plena sujeição a Ele. Este foi o Seu lugar no concerto, e em tal lugar Ele agiu e sofreu com perfeição; e daí vieram os serviços e as aflições, os clamores e as lágrimas, os trabalhos e as tristezas do Filho do Homem na Terra.

 

Mas ainda mais; mesmo agora que Ele está no céu, ainda é, em grande sentido, a mesma vida. Uma promessa O aguardava ali, e essa promessa Ele recebeu e vive até hoje: “Assenta-Te à Minha destra, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés”, foi-lhe dito enquanto ascendia; e na fé e esperança dessa palavra Ele asssentou-Se no céu, “assentou-Se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os Seus inimigos sejam postos por estrado dos Seus pés” (Hb 10:12-13 – ARA). Aqui estava a esperança respondendo à promessa, e isso foi encontrado no coração de Jesus quando Ele ascendeu e assentou-Se no céu, assim como Ele era Aquele que crê, Aquele que espera, Aquele que é o Obediente e Aquele que serve, quando estava nesta nossa Terra.

 

E ainda mais em Seus avantes caminhos de glória, Ele não continuará ser sujeito? Toda língua irá confessá-Lo Senhor; mas não será isso “para a glória de Deus Pai”? E quando o Reino for entregue, não está ainda escrito: “então, também o mesmo Filho Se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”? E assim, como Sujeito Àquele que submete todas as coisas a Ele, assim nas mesmas regiões da glória vindoura será Seu gracioso deleite servir Seus santos; como lemos: “Ele Se cingirá, os fará sentar à mesa e, chegando-Se, os servirá”. E novamente: “e Aquele que está assentado sobre o trono estenderá o Seu tabernáculo sobre eles. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem cairá sobre eles o Sol, nem calor algum; porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (1 Co 15:28; Lc 12:37; Ap 7: 15-17 – TB).

 

J. G. Bellett

 

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