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Palavras de Edificação 32

(Revista bimestral publicada originalmente em Janeiro/Fevereiro 1992)

 

ÍNDICE


 

PREPARANDO-SE PARA MUDAR


O proprietário da casa em que morei como inquilino por muitos anos, avisou-me que não irá mais providenciar reparos nela. Ele me disse que devo preparar-me para mudar.


A princípio essa não foi uma notícia das melhores. A vizinhança aqui é boa em muitos aspectos, e se não fosse pelo evidente apodrecimento da estrutura da casa, eu até que a consideraria satisfatória. Porém até mesmo um vento fraco a faz tremer, e todos os reforços não têm sido suficientes para fazê-la verdadeiramente segura. Por isso estou me preparando para mudar.


É estranho a rapidez com que passamos a nos interessar por nosso futuro lar. Tenho consultado mapas do lugar para onde vou, e tenho lido a respeito de seus habitantes. Um deles foi até lá e voltou, e por meio dele aprendi que o lugar é de uma beleza sem igual – a própria linguagem é incapaz de exprimir as coisas que escutou enquanto estava lá. Ele contou que, a fim de fazer um investimento lá, sofreu a perda de tudo o que possuía aqui, e o que para ele é motivo de regozijo, é visto pelos outros como "sacrifício" (Fp 2:17).


Outro, cujo amor por mim foi demonstrado pela maior prova imaginável, encontra-se lá agora. Ele tem me enviado cachos das mais deliciosas frutas. Depois de experimentá-las, todo alimento daqui, em comparação, não tem sabor nenhum.


Por duas ou três vezes, eu fui até à beira do rio que fica na fronteira, e cheguei até mesmo a desejar estar junto daqueles que se encontram do outro lado. Não seria maravilhoso viver em um lugar onde "conhecerei como também sou conhecido" (1 Co 13:12), não tendo nada para esconder, nenhuma dúvida, nenhum engano, somente amor, comunhão e serviço, "delícias perpetuamente" (Sl 16:11)?


Muitos dos meus amigos já se mudaram para lá. Pude ver o sorriso em seus semblantes, enquanto os perdia de vista. Aqui, as verdadeiras alegrias da vida – o amor e a comunhão – nunca são plenamente desfrutadas em razão das limitações de tempo, dias, estações do ano, compromissos e celebrações, mas "ali não haverá noite" (Ap 21:25), e terei a eternidade à disposição.


Há muitos que sugerem, que eu deveria, fazer mais investimentos materiais aqui, mas na verdade muitos dos que já fiz têm trazido mais preocupações do que satisfação. Por outro lado, aqueles que já fiz lá têm me dado grande gozo e paz. Como nosso coração está onde estiver o nosso tesouro, estou decidido a não fazer mais daquilo que se costuma chamar aqui de "bom investimento", pois digo com toda a sinceridade: Creio que devo me aprontar para a mudança.

Christian Treasury – Dez/87


 

COMO EDUCAR A CRIANÇA?


Prefácio

Ao publicarmos "Como Educar A Criança?", sentimos que é importante lembrar, antes de mais nada, que coisa alguma pode ser feita apropriadamente se os pais ou responsáveis não forem verdadeiros filhos de Deus. Se este livreto caiu nas mãos de uma mãe ou de um pai incrédulo, nosso desejo é que você aceite o Senhor Jesus como Salvador.


Talvez você tenha um lar em ordem, segundo os padrões humanos, mas lembre-se do que Deus diz: "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11:6). Ao pensar naquelas crianças tão queridas que Deus colocou sob seus cuidados, com sua alma preciosa e imortal, convém que você se certifique de estar, a si próprio, em ordem com Deus. Foi para pecadores perdidos, e sem qualquer esperança, como nós, que o Senhor Jesus morreu.


Só Ele pode lavar seus pecados, e isso Ele fará se você vier a Ele agora, suplicando tão somente a sua culpa, e confiando no valor de Seu precioso sangue para purificá-lo de toda mancha diante de um Deus santo (1 Jo 1:7). E então, havendo se tornado um dos filhos de Deus, você estará capacitado – e certamente será este também o seu desejo – a criar seus filhos para o Senhor e para Sua glória.


Até que sejam verdadeiramente salvos, os pais não podem estabelecer a motivação adequada diante de seus filhos. O pensamento do homem natural nunca pode ir mais alto do que a si mesmo, e mesmo na educação de seus filhos, pais não convertidos colocarão diante deles o seu próprio eu. Eles ensinarão seus filhos a falar a verdade porque eles (os pais) não gostam de mentiras. Eles irão ensiná-los a ter boas maneiras a fim de tornarem seus filhos agradáveis e populares na sociedade. Dirão a eles que seus amigos não gostarão deles se fizerem certas coisas, e, portanto, não devem fazê-las. Realmente, em toda a sua educação, será por um motivo egocêntrico; e, nesse caso, não poderia ser de outro modo.


Agora, até mesmo um Cristão, se estiver desatento, estará inclinado a copiar essas idéias mundanas. Tais motivos apelam ao nosso coração natural, assim como de nossos filhos, mas não se trata de uma motivação vinda de Deus. Criar nossos filhos "na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef 6:4), é algo totalmente contrário a isso. Devemos ensiná-los a dizer a verdade, porque são responsáveis diante do Senhor, e Ele odeia a mentira. Devemos ensiná-los a ser afáveis, porque o Senhor diz: “sedeafáveis” (1 Pe 3:8), e eles devem procurar agradá-Lo. Devemos ensiná-los a buscar sempre fazer o que é correto, não para serem bem vistos pela sociedade (pois haverá ocasiões em que serão desprezados justamente por isso), mas tão somente para agradar ao Senhor. Isto é exatamente o oposto do ponto de vista humano, mas é o único caminho certo, se buscamos educar nossos filhos em conformidade com Deus.


Sentimos que é nosso dever frisar bem aqui que nossa confiança em educar nossos filhos, bem como em tudo aquilo acerca do que devemos ter confiança, deve estar no Senhor, e não em nós mesmos ou em nossos métodos. "Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus" (2 Co 3:5). Não há um pai ou uma mãe que possa afirmar ter educado corretamente seus filhos em todos os detalhes. Deus nos torna conscientes de nossa fraqueza e de nosso fracasso, a fim de podermos nos voltar a Ele, e reconhecer que devemos tudo à Sua graça. Que o Senhor possa dar graça a cada um de nós, e a todos os pais que lerem estas linhas, para que possamos buscar n'Ele a graça, sabedoria e força necessárias, que somente Ele pode suprir a cada dia, para sermos capazes de encaminhar nossa família a Ele nestes últimos dias.

H.E.Hayhoe (1881-1962)


Como Educar a Criança?

"Criai-os na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef 6:4)

Quão pouca importância é dada a este versículo! Vivemos numa época em que há um grande zelo pela educação; novas escolas estão surgindo de todos os lados; novos sistemas e novos livros para educar o jovem em todos os aspectos. Essas coisas podem, muito bem, despertar um exercício em nosso coração. Trata-se de um assunto que deveria encontrar morada em cada consciência; dificilmente haverá um lar onde ele não se aplique.


Este é um assunto, mais do que em qualquer outro, que somos propensos a enxergar com mais clareza as faltas dos outros do que vermos as nossas próprias. Devemos suspeitar de nosso juízo próprio. Às vezes, fico perplexo com a demora de pais Cristãos sensatos, em admitir que seus filhos cometeram alguma falta ou merecem uma repreensão.


Vamos colocar agora diante de nós algumas sugestões – “a palavra a seu tempo” (Pv 15:23). Não as rejeite, porque são contundentes e simples.


Primeiro, se pretendemos educar nossos filhos com sabedoria, devemos educá-los de acordo com a Palavra de Deus

Lembre-se, crianças nascem com uma evidente inclinação para o mal. Portanto, se deixarmos que elas escolham por si próprias, com certeza farão a escolha errada.


A mãe não pode prever como será o seu tenro bebê quando crescer; alto ou baixo, forte ou fraco, sábio ou tolo; ele poderá se tornar uma coisa ou outra – é tudo uma incerteza. Mas há algo que uma mãe pode dizer com certeza: ele possuirá um coração corrupto e pecaminoso. Faz parte da nossa natureza agirmos errado. Deus diz que "a estultícia está ligada ao coração do menino" (Pv 22:15). "A criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Pv 29:15 – ARA).


Portanto, se desejamos agir sabiamente com nosso filho, não devemos deixá-lo sob a direção da sua própria vontade. Devemos pensar por ele e julgar por ele, assim como teríamos que fazer por alguém cego e débil, mas jamais devemos abandoná-lo às suas próprias tendências e caprichos. Não são os seus gostos e desejos que devem ser consultados. Ele ainda não sabe o que é bom para a sua mente e para a sua alma, tanto quanto ele não sabe o que é bom para o seu corpo. Não deixe que ele decida o que deve comer, o que deve beber, e como deve se vestir. Quantas cenas vergonhosas à mesa poderiam ser evitadas se os pais buscassem sabedoria divina acerca do que é melhor para se colocar no prato de uma criança.


Se não concordamos com este primeiro princípio divino de se educar a criança, não trará nenhum proveito continuar a leitura deste livreto. A vontade própria é geralmente a primeira coisa que surge na mente de uma criança, e nosso primeiro passo deve ser o de resistirmos a ela. O melhor cavalo do mundo teve que ser domado.


Eduque seu filho com toda ternura, afeição e paciência

Não estou querendo dizer que você deva mimá-lo, mas sim fazê-lo ver que o ama. Bondade, gentileza, longanimidade, tolerância, paciência, simpatia, disposição de participar dos problemas infantis, prontidão em participar das alegrias infantis – essas são as cordas pelas quais uma criança pode ser conduzida com a maior facilidade; são as pegadas que você deve seguir se deseja encontrar o caminho ao coração dela.


Austeridade e severidade nos modos as desanimam e fazem com que se afastem. Isso fecha seu coração, e você cansará tentando encontrar a porta. Mas deixe que vejam que você tem um sentimento afetivo para com elas; que você realmente deseja fazê-las felizes e fazer-lhes o bem; e que se você as pune é buscando o bem delas.


As crianças são criaturas frágeis e sensíveis, e, como tais, precisam ser tratadas com paciência e consideração. Devemos manuseá-las delicadamente, como plantas delicadas, pois um tratamento áspero lhes fará mais mal do que bem.


Não devemos esperar que aprendam tudo de uma só vez. Devemos nos lembrar o que são, e ensiná-las aquilo que podem suportar. O entendimento delas é como um vaso com gargalo estreito; devemos introduzir nelas o vinho do conhecimento gradualmente, caso contrário a maior parte se derramará e se perderá. Linha após linha, preceito após preceito, um pouco aqui e um pouco acolá; esta deve ser a nossa regra. É verdade que para se educar uma criança há necessidade de paciência, mas sem esta nada poderá ser feito.


Não existe nada que possa compensar a ausência de amor e ternura. Você pode colocar os deveres de seus filhos diante deles, pode dar-lhes ordens, ameaçá-los, puni-los, discutir com eles; mas se faltar afeição no seu tratamento, todo o seu trabalho terá sido em vão. Amor é o grande segredo de uma educação bem sucedida. Ira e aspereza podem assustar, mas não convencerão uma criança de que você esteja certo, e se ela o vê fora de si com frequência, bem cedo deixará de respeitá-lo. O medo põe fim a um relacionamento franco; o medo leva a criança a fazer as coisas às escondidas; o medo lança a semente da hipocrisia e leva muitas a mentirem. Há uma mina de verdade nas palavras do apóstolo aos Colossenses: "Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo" (Cl 3:21).


Eduque seus filhos diligentemente, lembrando-se da importância de uma educação correta

Os primeiros hábitos (se assim podemos falar), são mais importantes para Deus. Somos o que somos pela educação que tivemos. Nosso caráter toma a forma do molde, que são colocados, em nossos primeiros anos, sem esquecer, evidentemente, o que a graça de Deus pode fazer por aqueles que olham para Ele.


Deus dá aos nossos filhos uma mente que receberá impressões como argila úmida, e confiarão em nossa palavra, e não na de um estranho. Em poucas palavras, Deus nos dá uma oportunidade de ouro para lhes fazermos bem. Fique atento para não negligenciar essa oportunidade, desperdiçando-a.


Eu sei que você não pode converter seu filho. Sei muito bem que aqueles que são nascidos de novo são nascidos, não da vontade do homem, mas de Deus. Mas também sei que Deus diz expressamente, "criai-os na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef 6:4), e Ele nunca deu ao homem uma ordem sem prover também a graça para que fosse capaz de cumpri-la. O caminho de obediência é o caminho de bênção. Temos tão somente que fazer como fizeram os servos na festa de casamento em Caná, ou seja, encher os vasos com água; e podemos seguramente deixar que o Senhor transforme a água em vinho.


Tenha sempre em mente que a alma de seu filho é o que deve estar em primeiro lugar

Sem dúvida, esses pequeninos são preciosos aos nossos olhos, mas se os amamos iremos nos preocupar constantemente com suas almas. Nada poderá nos interessar mais do que seu bem estar eterno. Nenhuma parte deles deveria ser tão querida a nós, quanto aquela que nunca morrerá. O mundo, com toda a sua glória, passará, mas o espírito que habita naquelas criaturinhas que tanto amamos, sobreviverá a tudo, e se será para felicidade ou para miséria (falando como homem), isso dependerá de nós. Este é o pensamento que deveria estar sempre em primeiro lugar em nossa mente, em tudo aquilo que fazemos para nossos filhos: "Como isso afetará sua alma?"


Acariciar, mimar e satisfazer todos os caprichos de nosso filho, como se este mundo fosse a única coisa importante para ele, e esta vida a única ocasião disponível para ser feliz; não é amor verdadeiro, mas crueldade. Tampouco é fidelidade a Cristo.


Um Cristão fiel não pode ser escravo da moda, se quiser educar seu filho para o Senhor. Ele não deve se contentar em fazer as coisas meramente por serem o costume do mundo, principalmente no que diz respeito ao mundo religioso com suas tradições populares, mas não autorizadas biblicamente, como é o caso do "Natal" e da "Páscoa" (Gl 4:10; Rm 12:2), você tampouco os estará protegendo se permitir que leiam as vãs revistas em quadrinhos e livros de qualidade questionável, simplesmente porque todo mundo os lê. O que pode trazer mais o mundo para dentro de casa, do que a televisão? Pais Cristãos, não devem se envergonhar se chamarem seu método de educar estranho e excêntrico. E se for, o que importa? O tempo é curto – a moda deste mundo passa logo. Aqueles que têm educado seus filhos para o céu em vez de educá-los para a terra – para Deus em vez de fazê-lo para os homens – são pais que serão chamados sábios, no final. "E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" (1 Jo 2:17).


Eduque seu filho no conhecimento da Bíblia

Não podemos fazer nossos filhos amarem a Bíblia, eu admito. Ninguém, além do Espírito Santo, pode dar a eles um coração que se deleite com a Palavra. Mas, podemos fazer com que nossos filhos fiquem familiarizados com a Bíblia; e pode ter certeza de que nunca será cedo demais para fazê-lo, e eles nunca estarão familiarizados demais para você dar a tarefa por encerrada. Deixe que a Bíblia, simplesmente, seja tudo na educação de suas almas; e que todos os outros livros fiquem em segundo lugar.


Faça com que seus filhos leiam a Bíblia reverentemente; em verdade ela é a Palavra de Deus. Certifique-se com que a leiam regularmente.


Fale a eles do pecado, de sua culpa, das consequências, do seu poder, de sua vileza – você verá que são capazes de compreender algo a esse respeito. Fale a eles do Senhor Jesus Cristo, do Seu amor, da Sua obra para nossa salvação – Sua cruz, Seu sangue derramado, Sua ressurreição, ascensão e breve retorno. Você descobrirá que há algo que não está além da compreensão deles.


Eduque-os no hábito da oração

Pais, se você ama seus filhos, faça tudo o que estiver ao seu alcance para educá-los no hábito da oração. Mostre a eles como começar. Diga a eles o que falar. Encoraje-os a perseverarem. Lembre-os caso se tornem descuidados e negligentes neste assunto. Assim como os primeiros passos em qualquer atividade são os mais importantes, o mesmo acontece com a maneira como as orações de nossos filhos são oradas, um assunto que merece nossa maior atenção. Poucos os que parecem saber o quanto depende disto. Devemos estar atentos para que não passem a fazer suas orações de uma maneira precipitada, descuidada e irreverente. Querido leitor, se você ama seus filhos, eu lhe rogo que não deixe passar a época do plantio da semente do hábito de orar.


Eduque-os a se reunirem com o povo de Deus numa maneira bíblica

Diga a eles onde o povo do Senhor está reunido ao Seu nome, ali o Senhor Jesus está presente de uma maneira especial, e aqueles que se ausentam, como o apóstolo Tomé, devem esperar perder uma bênção. "Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns" (Hb 10:25).


Não permita que cresçam com o hábito de decidir se querem ou não ir às reuniões. Tampouco, gosto de ver aquilo que chamo de "cantinho dos jovens" em uma assembléia. Ali eles com frequência adquirem o hábito de ficar desatentos e irreverentes, o que leva anos para desaprender, se é que conseguem desaprendê-los. Gosto de ver todos os membros de uma família sentados juntos. "Havemos de ir com os nossos meninos, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas,… porque festa do Senhor temos" (Êx 10:9).


Também não deveríamos desperdiçar levianamente o Dia do Senhor transformando-o em um dia de recreação e proveito próprio.


Eduque-os para que lhe obedeçam, mesmo que muitas vezes não saibam o por quê

Devemos ensiná-los a aceitar tudo aquilo que exigimos deles, como sendo para seu próprio bem. Tenho ouvido alguns dizerem que nunca deveríamos exigir das crianças coisas que elas não possam entender; que devemos explicar e dar uma razão para tudo o que desejamos que façam. Eu o alerto solenemente contra tal conceito. E vou mais além: creio que se trata de um princípio infundado, e sem base nas Escrituras. É, sem dúvida, um absurdo fazer mistério de tudo o que fazemos, e há muitas coisas que é melhor que expliquemos às crianças, a fim de verem que são coisas sábias e razoáveis. Porém, criá-las com a idéia de que não devem receber nada sem antes se certificarem – que elas, com sua compreensão fraca e imperfeita, devem ter antes os "por quê?" e os "qual o motivo?" claramente explicados para cada passo que devem dar – trata-se, isto sim, de um terrível engano que, provavelmente, trará um péssimo efeito à mente das crianças.


Coloque diante de seus filhos o exemplo de Isaque, quando Abraão levou-o para oferecer sobre o Monte Moriá (Gn 22). Ele perguntou a seu pai simplesmente: "Onde está o cordeiro para o holocausto?" (Gn 22:7). E não recebeu outra resposta além desta: "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho" (Gn 22:8). Como, quando, de onde, de que maneira, ou por que meios – nada disso foi dito a Isaque; mas a resposta foi suficiente. Ele creu que tudo estaria bem pois seu pai lhe dissera, e ficou satisfeito com isso.


Eduque-os no hábito de uma pronta obediência

Este é um assunto, que compensa o trabalho que dá. Creio que nenhum hábito tem maior influência em nossa vida do que este. Pais, estejam determinados a fazer com que seus filhos lhe obedeçam, mesmo que isso possa custar a você mais trabalho, e a eles mais lágrimas. Que não haja questionamento, argumentação ou disputa, e que não procedam de modo a ganhar tempo. Quando você der uma ordem, faça com que vejam claramente que sua vontade será cumprida. A característica de uma criança bem educada é fazer tudo o que seus pais ordenam. Pois, onde estará a honra de que fala Efésios 6:1-3, se os pais não são obedecidos alegremente, prontamente e de boa vontade? (leia também: Cl 3:20).


A obediência que começa cedo tem toda Escritura a seu favor. É dito no louvor de Abraão, não apenas que ele educaria seus filhos, mas "ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele" (Gn 18:19). Acerca do Senhor Jesus foi dito que, quando jovem, “era-lhes sujeito” (a Maria e a José – Lc 2:51). Observe como o apóstolo Paulo menciona a desobediência aos pais como um dos maus sinais dos últimos dias (2 Tm 3:2).


Pais, vocês desejam ver seus filhos felizes? Cuide de educá-los para que obedeçam quando recebem uma ordem. Creia-me, não somos feitos para uma completa independência; não servimos para isso. Mesmo os libertos de Cristo têm um jugo para levar – “porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:24). Nunca é cedo para as crianças aprenderem que este é um mundo onde não pretendemos governar, e nunca estaremos no lugar certo, até sabermos como obedecer. Ensine-os a obedecer enquanto são jovens, ou mais tarde estarão, pelo resto da vida, em conflito contra Deus, dominados pela vã idéia de serem independentes do Seu controle.


Você encontrará muitos em nossos dias que permitem que seus filhos escolham, e pensem por si mesmos muito antes de serem capazes de fazê-lo, e que até mesmo dão desculpas para a sua desobediência, como se fosse algo que não merecesse uma repreensão. Para mim, uma das cenas mais tristes de se presenciar é ver um pai ou uma mãe cedendo sempre, e uma criança tendo sempre a última palavra; triste, pois trata-se de uma inversão e perversão da ordem estabelecida por Deus; triste, pois sei que no final, com toda certeza, o caráter daquela criança acabará em vaidade e vontade própria.


Eduque-os para que falem sempre a verdade, toda a verdade e nada além da verdade

Deus é apresentado como o Deus da verdade. Menos do que a verdade é uma mentira. A evasão, a desculpa, e o exagero são caminhos intermediários para o que é falso, e devem ser evitados. Encoraje-os, a serem francos, em toda e qualquer circunstância, e a falarem a verdade custe o que custar.


Exorto-o, também, para que possamos ficar mais tranquilos e sermos auxiliados em tudo o que tivermos que tratar com eles. Descobriremos ser isto uma poderosa ajuda, de fato, poder sempre confiar no que disserem. Isto tem um efeito ainda mais amplo, pois ajuda a prevenir aquele hábito que infelizmente prevalece entre as crianças, de fazer as coisas às escondidas.


Eduque-os no hábito de sempre aproveitarem o tempo

Ociosidade é a melhor amiga do diabo. É, com certeza, a maneira mais segura de dar a ele uma oportunidade de fazer mal. Uma mente desocupada é como uma porta aberta, e se Satanás não entrar nela pessoalmente, é certo que lançará dentro dela alguma coisa para gerar maus pensamentos. Devemos ter nossas mãos cheias, e nossas mentes ocupadas com alguma coisa, do contrário nossa imaginação cedo fermentará e acalentará o mal. "Eis que esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã; soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela" (Ez 16:49). Verdadeiramente, creio que a ociosidade leva a mais pecado do que qualquer outro hábito que se possa mencionar. Gosto de ver as crianças ativas e diligentes, e se entregando de coração a tudo o que fazem.


Eduque-as com constante aversão à autopiedade

Sei muito bem que a punição e a correção são coisas desagradáveis. Nada é mais desagradável do que causar dor naqueles que amamos, produzindo neles muitas lágrimas. Mas já que o coração é o que é, é vão supor, como regra geral, que as crianças possam ser criadas sem que haja correção. A palavra "arruinar" é muito expressiva e, infelizmente, cheia de significado. A maneira mais rápida de se arruinar as crianças é deixar que sigam o seu próprio caminho – permitir que façam o que é errado, e não puni-las por isso. Creia-me, você nunca deve agir assim, não importa quanta dor possa lhe custar, a não ser que deseje arruinar a alma de seus filhos.


"O que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que o ama a seu tempo o castiga" (Pv 13:24). "Castiga a teu filho enquanto há esperança, mas para o matar não alçarás a tua alma" (Pv 19:18). "A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele" (Pv 22:15). "Não retires a disciplina da criança, porque, fustigando-a com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno" (Pv 23:13-14). "A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe. …Castiga a teu filho, e te fará descansar; e dará delícias à tua alma" (Pv 29:15,17).


Quão fortes e convincentes são estes versículos! Como é triste que em muitas famílias Cristãs até pareçam ser desconhecidas! Seus filhos precisam de repreensão, mas esta quase nunca é dada; eles precisam de correção, mas quase nunca é empregada. O livro de Provérbios ainda não está obsoleto e inadequado para os Cristãos; foi dado por inspiração de Deus e é proveitoso. Com toda a certeza, o crente que cria seus filhos sem prestar atenção aos seus conselhos está se fazendo a si mesmo mais sábio do que aquilo que está escrito, e fazendo assim erra tremendamente.


Pais e mães, afirmo claramente que se não punem seus filhos quando cometem uma falta, estão lhes infligindo um grave mal. Quero alertá-los de que esse modo de agir é o recife no qual os santos de Deus, de todas as épocas, com muita frequência naufragaram. Gostaria de persuadi-los a serem sábios no tempo presente, e passarem ao largo de tal perigo.


Veja o caso de Eli. Seus filhos Hofni e Finéias tornaram-se vis, e ele não os repreendeu. Ele não lhes deu muito mais do que uma mansa e leve repreensão, quando devia tê-los repreendido asperamente. Em suma, ele deu mais honra aos seus filhos do que a Deus. E no que terminou isso? Ele viveu apenas o suficiente para ouvir da morte de ambos os seus filhos no campo de batalha e seus próprios cabelos grisalhos foram levados com tristeza à sepultura (1 Sm 2:12-34; 3:10-18).


Veja, também, o caso de Davi. Quem poderá ler, sem um sentimento de dor, a história de seus filhos e seus pecados? O incesto de Amnon, o assassinato e rebelião praticados por Absalão, a ardilosa ambição de Adonias (2 Sm 13 a 18; 1 Rs 1). No que diz respeito a Adonias, em 1 Reis 1:6 lemos que "nunca seu pai o tinha contrariado, dizendo: Por que fizeste assim?". Ali estava o fundamento de toda a maldade. Davi era um pai indulgente ao extremo – um pai que deixa que seus filhos seguissem sua próprio caminho; e ele colheu de acordo com o que semeou.


Rogo aos pais, pelo bem de seus próprios filhos, que tenham o cuidado com a indulgência excessiva. Gostaria de lembrá-los, que o principal dever dos pais, é consultar as necessidades reais de seus filhos, e não seus gostos e manias; é educá-los, e não agradá-los; dar a eles o que é proveitoso, não meramente agradar.


Você não deve ceder a cada desejo e capricho da mente de seu filho, não importa o quanto você o ame. Não deve fazê-lo pensar que sua vontade está acima de tudo, e que basta ele querer algo, e será feito. Não faça, rogo-lhes, de seus filhos ídolos, para que Deus não os leve, e quebre seus ídolos, para convencê-lo de sua insensatez. Aprenda a dizer "não" aos seus filhos. Mostre-lhes que você estará pronto a recusar qualquer coisa que achar imprópria para eles. Certas atividades escolares e diversões são desnecessárias, a decisão acerca disso exige firmeza, a menos que queira ver seus filhos serem arrastados pela correnteza das seduções de Satanás.


Mostre a eles que você está pronto para punir toda desobediência, e que quando você fala de punição, não está pronto apenas para ameaçar, mas também para executá-la. "Deixando as ameaças" (Ef 6:9). Menos punições, porém sérias e eficientes, são melhores do que punições leves e frequentes, porém nunca permita que a desobediência fique impune. Quando disciplinar seus filhos se torna necessário, é imperativo que os pais estejam de comum acordo em cooperação de amor.


Cuidado ao permitir que pequenas faltas passem despercebidas, sob o pretexto de que "é pequeninha". Não há pequenas coisas na educação das crianças; todas são importantes. Pequenas ervas daninhas devem ser arrancadas tanto quanto as outras. Deixe-as em paz e em breve estarão grandes. Querido leitor, se você não tiver trabalho com seus filhos enquanto são pequenos, eles lhe darão trabalho quando forem grandes.


Eduque-os, lembrando continuamente de como Deus educa a Seus próprios filhos

Se quiser educar seus filhos sabiamente, observe bem como, Deus o Pai, educa os que Lhe pertencem. Ele faz todas as coisas bem; o plano que Ele adota deve ser o correto. Os filhos de Deus, depois de uma longa jornada, diriam que foi algo bendito não terem seguido seus próprios caminhos, e que Deus havia feito melhor por eles, do que aquilo que poderiam ter feito por si mesmos. Sim, e poderão lhe dizer também que o modo de Deus tratá-los lhes trouxe mais alegria do que eles jamais teriam conseguido por si próprios.


Rogo a você que conserve no coração a lição, que lhe ensina, o modo como Deus trata Seus próprios filhos. Não tema privar seu filho qualquer coisa que você considera poder causar-lhe algum dano, quaisquer que sejam seus desejos. É este o plano de Deus. Ser perpetuamente indulgente é a maneira de se criar um egoísta; e pessoas egoístas e crianças mimadas raramente são felizes. Querido leitor, não seja mais sábio do que Deus; eduque seus filhos como Ele educa os d'Ele.


Eduque-os, lembrando continuamente da influência do seu próprio exemplo

Não há substituto para a piedade – o real temor de Deus na vida dos pais. Instruções, conselhos e ordens terão pouco valor, a não ser que tenham respaldo no padrão apresentado por sua própria vida. Seus filhos nunca acreditarão que você está falando sério, e que realmente deseja que lhe obedeçam, se suas atitudes estiverem contradizendo seus conselhos. Pouco conhecemos a força e o poder do exemplo. As crianças observam nossos passos; registram a nossa conduta; observam nosso comportamento. Nunca, creio eu, o exemplo fala tão alto quanto no relacionamento entre pais e filhos. Pais e mães, não se esqueça que seus filhos aprendem mais pelo olho do que pelo ouvido. O que eles vêem tem um efeito muito mais forte sobre suas mentes do que aquilo que lhes é falado.


Esforce-se ao ponto de ser uma epístola viva de Cristo, de modo que seus filhos possam ler claramente. Seja um exemplo nas palavras, no temperamento, na diligência, na temperança, na fé, na bondade, na humildade. Não pense que seus filhos irão praticar aquilo que não virem você fazer. Os pais são o modelo que eles copiarão. Seu raciocínio e suas repreensões, seus sábios comandos e seu bom conselho – tudo isso pode ser que não entendam, mas podem entender sua vida. A medida de Cristo que você desfruta para si mesmo, eles crerão tratar-se de algo real. As crianças são observadores muito ágeis; muito ágeis em enxergar através da hipocrisia, muito ágeis em descobrir o que você pensa e sente, muito ágeis em adotar todos os seus modos e opiniões; e você logo descobrirá ser verdadeira a expressão: "tal pai, tal filho".


Eduque-os, lembrando continuamente o poder do pecado

Isto o guardará de acalentar esperanças não bíblicas. É doloroso constatar quanta corrupção, e quanto mal existe no coração de uma pequena criança, e quão cedo isso começa a dar fruto: temperamento violento, vontade-própria, orgulho, obstinação, ira, preguiça, egoísmo, engano, astúcia, falsidade, hipocrisia, uma terrível aptidão para aprender o que é ruim, uma dolorosa lentidão para aprender o que é bom, uma prontidão para fingir qualquer coisa a fim de atingir seus propósitos. Você não deve achar estranho e inusitado que este pequeno coração possa estar tão cheio de pecado. Trata-se da única herança que nosso pai Adão nos deixou; a natureza caída com a qual viemos a este mundo.


Nunca dê ouvidos àqueles que dizem que seus filhos são bons e bem-criados, e que são de confiança. No fundo eles precisam apenas de uma pequenina faísca para acender sua corrupção. Raramente, os pais são muito cautelosos. Lembre-se da natureza depravada de seus filhos, e tome cuidado.


"Lança o teu pão sobre as águas", diz o Espírito, "porque depois de muitos dias o acharás" (Ec 11:1). Muitos filhos, não tenho dúvida, se levantarão no dia do julgamento e bendirão a seus pais pela boa educação que receberam, mesmo que nunca tenham dado mostra de haverem tirado algum proveito disso durante a vida de seus pais. Portanto, siga adiante por fé, e pode ter certeza de que seu trabalho não será totalmente em vão. Por três vezes, Elias, se estendeu sobre o corpo do filho da viúva antes que este revivesse (1 Rs 17:17-24). Siga o exemplo dele e persevere.


Eduque-os com contínua oração por bênção em tudo o que você está fazendo

Olhe para seus filhos como fazia Jacó para com os dele; ele diz a Esaú: "os filhos que Deus graciosamente tem dado a teu servo" (Gn 33:5). Olhe para eles como José olhou para os seus, quando disse a seu pai: "Eles são meus filhos, que Deus me tem dado aqui" (Gn 48:9). Conte-os com o salmista como "herança do Senhor" (Sl 127:3). Veja como Manué fala ao anjo acerca de Sansão: "Qual será o modo de viver e serviço do menino?" (Jz 13:12) (N.T.: ou, na tradução livre da versão inglesa – KJV, "Como devemos ordenar a criança, e como devemos proceder para com ela?"). Observe com que ternura Jó cuidava da alma de seus filhos: Ele "oferecia holocaustos segundo o número de todos eles", pois ele dizia, "porventura pecaram meus filhos, e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente" (Jó 1:5).


Pais, se vocês amam seus filhos, vão em frente e façam o mesmo. Nunca será demais, trazer à memória o nome de seus filhos diante do propiciatório.


Caros Pais, vocês podem mandar seus filhos para as melhores escolas, dar a eles Bíblias e encher suas cabeças com conhecimento; mas se durante todo esse tempo não houver uma educação consistente no lar, digo-lhes claramente, temo que no final as coisas serão difíceis para os seus filhos, no que se refere às suas almas.


Os cálices mais amargos que o homem já bebeu foram aqueles preparados pelos filhos. Filhos têm sido os causadores das mais tristes lágrimas que o homem já derramou. Adão podia falar a respeito disso; Davi também podia fazer o mesmo. Não há tristezas neste mundo como aquelas que filhos trouxeram a seus pais.


Oh! Tenha cuidado para que sua própria negligência não lhe traga miséria em sua velhice.


"Derrama o teu coração como águas diante da face do Senhor: levanta a eles as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos" (Lm 2:19).


Não poderíamos terminar sem uma palavra de advertência contra duas inovações dos anos recentes (Século XX) – o rádio e a televisão – os quais o diabo está usando para introduzir, no lar, o mundo com todas as suas influências degradantes. A televisão, com seus programas corruptos, é certamente a última obra-prima do diabo, e os pais Cristãos devem se precaver contra ela.

J.C.Ryle (1816 – 1900)

 

OS LOBOS, E OS CORDEIRINHOS


Certo homem, ao visitar um pastor de ovelhas que cuidava de um grande rebanho, encontrou-o muito triste.


– Os lobos atacaram o rebanho na noite passada e levaram sessenta e cinco dos meus melhores cordeirinhos – respondeu o pastor ao ser indagado acerca de sua tristeza.


– E quantas ovelhas foram mortas? – perguntou o visitante.


O pastor, olhando para ele com uma expressão de espanto, disse:


– É claro que nenhuma ovelha foi morta! Acaso você não sabia que um lobo nunca ataca a ovelha se puder apoderar-se facilmente de sua cria?


Mantenhamos contínua vigilância sobre nossos filhos.


 

A IGREJA E A TRIBULAÇÃO


Talvez não exista uma doutrina errônea que tenha sido mais prejudicial às almas dos filhos de Deus do que aquela que supõem que aqueles que compõe a Igreja de Deus terão que passar pela "grande tribulação". Tal declaração subverte a revelação de Deus acerca da Igreja como corpo e noiva de Cristo, reduzindo o povo celestial ao nível de associações judaicas, e os priva-lhes de uma atitude de expectativa e espera pela vinda de Cristo a qualquer momento. Tais pessoas, mergulham em um ponto de vista político da vinda do Senhor, ao olharem para os acontecimentos, em vez de olharem para a Sua Pessoa, ou ao se preocuparem mais com o aparecimento do anticristo do que com o de Cristo. Desta forma, as afeições, a consciência, e a esperança da alma ficam seriamente prejudicadas por tal doutrina.


Nada pode estar mais claro nas palavras de despedida que o Senhor dirigiu aos Seus discípulos antes de subir para o Pai, do que o fato de que os deixou de posse da bendita expectativa de poderem vê-Lo muito em breve. Entre a vinda do Espírito Santo e a volta do Senhor dos céus, Ele não colocou uma série de eventos que tivessem que se cumprir. Assim, nos é dito que os primeiros Cristãos esperavam pelo Filho de Deus vindo dos céus.


A parte das Escrituras que tem sido pervertida para dar base à essa doutrina é Mateus 24. Porém, um breve exame dela mostrará que a "vinda" à qual os discípulos se referem, em suas perguntas ao Senhor, não era a Sua vinda para nós, mas a Sua vinda para Jerusalém, quando viremos com Ele e quando todo olho O verá descendo sobre as nuvens dos céus com poder e grande glória (Mt 23:39; Mt 24:3) {“Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt 23:39). “E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?”(Mt 24:3)}. Aqueles que são ali mencionados passarão pela tribulação. Eles são os "Seus eleitos" (Is 65), que é um termo aplicado por Isaías ao remanescente de judeus consagrados.


As referências feitas nos versículos que se seguem mostram com clareza que se referem ao tempo da "angústia de Jacó" (Israel), o qual ele terá que passar e do qual será livrado:

  1. "no Sábado" (v.20);

  2. "na Judéia" (v.16);

  3. "fujam para os montes" (v.16);

  4. "carne se salvaria" (v.22);

  5. "a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel" (v.15);

  6. "grande aflição (tribulação), como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tão pouco há de haver" (v.21). Ela é precedida pela pregação do "evangelho do reino" (v.14), não pelo evangelho da graça, conforme é agora pregado. Trata-se da "hora da tentação" caindo sobre todo o mundo, da qual o Senhor promete nos salvar. "Como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra" (Ap 3:10).


É interessante observar que quando nosso Senhor fez referência à Sua rejeição pelos Judeus – Judá e Benjamim, as duas tribos – Ele disse, "Eu vim em nome de Meu Pai, e não Me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis" (Jo 5:43). Esta, sabemos por outras passagens, é a forma como será introduzida a incomparável tribulação, e, em justa retribuição, as próprias tribos que rejeitaram o Messias irão passar por ela. As dez tribos só serão reunidas depois disso, quando o Senhor descer dos céus (Mt 24:31).

C.H.Mackintosh (1820-1896)


 

"E TEVE COMPAIXÃO DELES"

(continuação do número 30)


E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não tem pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6:34).


Em um mundo de miséria e necessidade, quão abençoado é conhecer Alguém cujo coração sente tudo, tomando sobre Si as nossas dores, e cujas emoções de profundo amor são tão expressivas que podemos vê-las e conhecê-las nestas palavras: "E teve compaixão deles". Aquela bendita face expressava claramente o palpitar de uma misericórdia divina a revolver o Seu interior. O coração se expressou antes mesmo que a mão se movesse para aliviar aquilo que Seus olhos contemplavam. Não se tratava de um sentimento passageiro, uma emoção passageira. A miséria humana encontrou morada no coração de Jesus, e Ele, que é "o mesmo ontem, e hoje, e eternamente" (Hb 13:8), embora agora no trono de Deus em glória, ainda tem "compaixão deles", como olha para nós, e assimila toda a miséria e necessidade que suplicam incessantemente, e com uma intensidade cada vez mais profunda, ao trono de misericórdia.


Se o Pastor de Israel foi movido de compaixão, quando Ele olhava para os filhos de Abraão, "como ovelhas que não têm pastor", quão profunda deve ser a emoção com que agora o Senhor Jesus contempla os filhos de Deus mais uma vez “espalhados” (Gn 11:4)! Que terrível estrago os "lobos cruéis" fizeram "ao rebanho" (At 20:29)! Como os pregadores de coisas perversas atraíram "os discípulos após si" (At 20:30)! Quanta divisão, e ofensa generalizada, trouxeram aqueles que "não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre" (Rm 16:18)! Certamente tudo isso aparece com força perante Ele que "amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela" (Ef 5:25).


Mas será que tudo se resumia no fato de ser, o povo de Jeová, "como ovelhas que não têm pastor"? Não foram eles próprios que pecaram? Terá o coração deles sido "reto para com Ele"? Teriam eles sido "fiéis ao Seu concerto"? Ele sabia muito bem que tinham sido exatamente o contrário; a longa e triste história daquele povo perverso e obstinado estava toda diante d'Ele, "mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniquidade" (Sl 78:37-38).


E terá a Igreja do Deus vivo sofrido apenas em razão de falsos mestres e guias maus? Tem os filhos de Deus uma história melhor que a dos filhos de Israel? Terão sido menos perversos e obstinados? Terão todos, juntamente, guardado a Sua Palavra? Terá o vosso coração sido reto para com Ele, que os redimiu com Seu próprio sangue? Quão bem Ele sabe que os privilégios mais elevados e as melhores promessas apenas revelaram um pecado mais profundo, e, relativamente, menor resposta ao Seu amor! Certamente todo coração conhece isto. Quão doce, então, em nossos dias, nos voltarmos para Aquele cujas “misericórdias não têm fim” (Lm 3:22), e que "como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13:1)!


Fazemos bem em estar em casa e poder contar com aquele coração profundamente comovido de intenso amor e perdão, que "começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6:34). Embora Ele hoje fale a nós lá do céu, trata-se do mesmo céu que está aberto para nós, não existindo distância para a fé.


A ruína e a ignorância encontram-se ao nosso redor. Podemos tão somente perceber a primeira e ministrar à segunda, enquanto permanecemos com Ele que, acima de todo mal, vê tudo e apenas aguarda o momento certo para o ministério do amor.


Aqueles que, em qualquer medida, servem às ovelhas de Cristo nestes últimos e derradeiros dias, precisam ponderar muito estas palavras, dirigidas a alguém no passado, "executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um a seu irmão" (Zc 7:9), enquanto, acima de tudo, permaneçam bem no espírito d'Aquele que é "misericordioso e fiel Sumo Sacerdote" (Hb 2:17), que, rodeado de fraqueza, e tocado com os mesmos sentimentos que temos, pode "compadecer-Se ternamente dos ignorantes e errados" (Hb 5:2).

"Misericordioso Sumo Sacerdote,

Nosso Salvador, Pastor, Amigo,

É somente em Teu amor que confiamos

Até o fim."

C.Wolston (1834-1923)


 

PROSPERIDADE NESTE MUNDO


Cremos que, um dos maiores obstáculos para a alma, é ser cativada pelo desejo de prosperar neste mundo. A consequência disso, é que o Senhor não tem o Seu lugar de direito em vosso coração, e, não importa quantas desculpas possam dar, a questão na verdade é: "Estou eu buscando lucro neste mundo ou o gozo da presença do Senhor? Será que o maior desejo de meu coração é ter comunhão com Ele?" Talvez não haja um ponto de maior importância para nós colocarmos verdadeiramente na presença de Deus. Se as vantagens neste mundo, sem falar no acúmulo de riquezas, é o que consideramos sempre em primeiro lugar, não fiquemos surpresos se aqueles que buscam tais coisas, estejam se afastando cada vez mais do Senhor.


Se, no entanto, estamos dispostos a sofrer perda, e, a deixar de lado tudo aquilo que impede desfrutarmos o gozo de Sua doce companhia, então podemos estar certos de que Ele não nos deixará faltar o que comer e o que vestir. Cremos que as Escrituras são hoje tão verdadeiras como sempre o foram: "Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6:33). Fazemos bem em lembrar que para o crente é dito: "Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n'Ele, como também padecer por Ele" (Fp 1:29).

H.H.Snell (1815-1892)


 

PERGUNTAS E RESPOSTAS


P. Em que sentido Cristo "aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu"? (Hb 5:8)


R. Tratava-se de algo inteiramente novo para o glorioso Filho de Deus aprender obediência. Aquele que ordenou todas as coisas desde a eternidade veio a este mundo de pecado, e ocupou o lugar de obediência, e numa senda de sofrimento em que nunca sucumbiu à tentação – "naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu" (Hb 2:18), mas nunca cedeu – aprendeu neste mundo o que era obedecer. Nós aprendemos obediência pela sujeição da ímpia vontade de nosso coração a Deus. Ele aprendeu isso como alguém para Quem se tratava de algo totalmente novo, e que tinha uma vontade perfeita, mas a deixou de lado – ("não para fazer a Minha vontade"Jo 6:38), Aquele que Se sujeitou a tudo, que obedeceu em tudo, e que dependeu de Deus para tudo. Sua obediência terminou em morte, mas não fracassou na fidelidade ou obediência a Seu Pai. Quão contrário ao primeiro Adão foi o Segundo em tudo isso! E o Cristão é eleito "segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pe 1:2). Que possamos ter a graça de sermos conformados a Ele e O obedecermos!

Scripture Notes and Queries

F.G.Patterson (1832-1887)


 

VIVER PARA CRISTO


"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas" (Mt 11:28-29).


Oh, querido jovem Cristão! Não deixe que o diabo sussurre no seu ouvido, que viver uma vida para Cristo neste mundo vai ser uma privação – que você vai desperdiçar alguns bons momentos. É uma mentira de Satanás! Esteja certo de que a pessoa mais feliz aqui neste exato momento, é aquela que está dando a Cristo o lugar de honra em sua vida. "Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas" (Sl 23:2). Há alimento; há refrigério. Ser Cristão é algo feliz e glorioso – ser salvo e andar por este mundo como alguém que pertence àquEle Homem bendito e glorificado nos céus: o bom Pastor das ovelhas!

C.H.Brown (1884-1973)


 

OUVINTES DA PALAVRA


A chuva que cai sobra a rocha é a mesma que cai sobre o solo ao seu lado, mas a rocha permanece estéril, enquanto que o solo se torna fértil e dá frutos. Será isso uma falha da chuva, ou será que o resultado depende do tipo de solo? Do mesmo modo, a Palavra de Deus cai sobre diferente coração, e alguns permanecem estéreis e não produzem frutos, enquanto outros os dão às centenas. A falha está na dureza do coração do ouvinte.


"Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam" (Lc 11:28).


 

COMUNHÃO


A comunhão com Cristo nos auxilia, mais do que qualquer outra coisa, a termos comunhão uns com os outros. As abundantes nascentes que brotam para formar rios caudalosos não se originam no leito onde podem ser vistas. Elas têm uma conexão escondida, secreta, com um inesgotável lençol d'água que se encontra a uma distância e profundidade desconhecida do observador. Pelo contínuo suprimento que recebe daquele manancial, a nascente jorra, e suas águas correm para se juntar a outras águas de origem similar, unindo-se, no final, com o vasto oceano.


Portanto, busquemos sorver da secreta e inescrutável plenitude de Cristo, o manancial inesgotável – escondido dos olhos de carne, mas conhecido dos olhos da fé. No devido tempo, após havermos levado refrigério para muitas terras sedentas ao longo de nossa jornada, chegaremos ao pleno oceano de gozo que está preparado para toda a Igreja de Deus.


 


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