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Paciência (Outubro de 2021)

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ÍNDICE


Christian Truth

W. J. Prost

J. N. Darby

H. Anstey

F. C. Blount

F. W. Lavington

W. J. Prost

J. N. Darby

J. N. Darby

F. G. Patterson

Young Christian

E. H.


 

Paciência


Depressa, preocupe-se, espere! A maioria sabe o significado das duas primeiras palavras! “Oh, anda logo! Estou com muita pressa, não posso esperar!”, é uma expressão frequentemente repetida. A pressa não traz preocupação e causa desperdício de energia?


Quem não se lembra, quando éramos crianças, do espírito de impaciência que nos movia a ajudar o açafrão a sair da sua cobertura de prata?[1]. Nós desejávamos muito vê-lo abrir, mas (que lástima!) nossos dedos infantis apressavam a obra de Deus e acabavam estragando aquilo que teria sido belo se tivesse tido todo o tempo destinado por Deus para abrir. Quantas crianças pedem a fruta que não está madura e não aceitam não como resposta! Ela está bonita, mesmo verde; deve estar boa. Porém, ainda não está madura.


O “extra” do ano passado pode ter sido um de preocupação e inquietação. E, se tivermos nos rendido a isso, a nossa paz foi perturbada, o nosso espírito afligido e a comunhão perdida. Provações vieram e se foram; será que aprendemos, em alguma medida, a verdade de Isaías 28:16, “Aquele que crer não se apressará” (AIBB)? Crer no Senhor e em Seu poder dá paciência, e acalma-se o espírito questionador de “por quê?” e “como?” para que descanse.


Nas Escrituras, tanta coisa é dita sobre esperar no Senhor – tanta coisa incentivando a paciência. “Espere no Senhor o dia todo” (Sl 25:5; 27:14). Deus, não o homem, está no controle das circunstâncias da nossa vida. “Espera somente em Deus (Sl 62:5).


Sem pressa, sem preocupação, podemos andar, e paciência podemos ter, se “esperarmos no SENHOR”.


Christian Truth, Vol. 20 (adaptado)


 

Paciência para Hoje


A paciência sempre foi um ingrediente importante na vida Cristã. Uma observação interessante é que a paciência (ou perseverança) não é mencionada no Velho Testamento, embora, sem dúvida, essa qualidade fosse necessária e exercitada entre os crentes do Velho Testamento. Por exemplo, Abraão não recebeu herança neste mundo, “nem ainda o espaço de um pé” (At 7:5), e ele espera pacientemente por ela na ressurreição. No entanto, nesta dispensação da graça, nós recebemos promessas muito maiores – promessas de bênçãos celestiais – e somos exortados várias vezes quanto a ter paciência ao esperar pelo cumprimento delas. Ainda assim, quão frequentemente esta necessária virtude parece nos escapar!


Sem reclamar

Paciência pode ser definida como suportar o que é incômodo ou doloroso, sem reclamar. Essa é uma qualidade que está desaparecendo rapidamente no mundo de hoje – um mundo em ritmo acelerado e cada vez mais egocêntrico. É claro que, superficialmente, há muitos motivos para ficarmos impacientes hoje, e todos nós poderíamos fazer uma lista do que mais nos irrita. Para alguns, pode ser algo tão simples como operadores de telemarketing; para outros, podem ser falhas constantes encontradas ao navegar em sites da internet. Outros acham que os engarrafamentos são um verdadeiro problema, ou longas filas que precisam ser enfrentadas para conseguir as coisas necessárias. Ainda outra frustração é que muitas vezes as pessoas não fazem o que deveriam fazer, causando atrasos e perda de tempo aos outros. A atual pandemia de COVID-19 agravou o problema grandemente, visto que longas filas se tornaram ainda mais longas, mercadorias frequentemente não estão disponíveis e restrições à nossa socialização, viagens e entretenimento tornaram-se rotina.


Muitos neste mundo estão prontos para ser pacientes, desde que tudo corra bem dentro de um prazo razoável. Margaret Thatcher observou certa vez: “Sou extraordinariamente paciente, desde que eu consiga o que quero no final”. No entanto, cada um tem a sua própria definição de quanto tempo pode esperar para que algo aconteça, e agora estamos testemunhando como a paciência de muitos está, como diz o ditado, “se esgotando”. As restrições da COVID foram, em sua maioria, respeitadas nos países ocidentais, mas, com o passar do tempo, mais e mais pessoas estão desrespeitando a lei. O problema se agravou com vários exemplos de líderes que impõem regulamentações sobre os outros enquanto, secretamente, eles mesmos ignoram as mesmas regras. A desculpa e explicação de costume supostamente resolvem o assunto: “Eu estava agindo com o coração, não com a cabeça”.


Rebeldia e raiva

Muito mais graves do que essas condutas são as reações extremas de alguns, que, cheios de impaciência e frustração, assumem uma atitude ou de desespero ou de rebeldia, associada com a raiva. Isso resulta em coisas como violência doméstica, comportamento agressivo, violência no trânsito e, em alguns casos, assassinato em massa, muitas vezes associado com o suicídio do criminoso. Esse tipo de comportamento, por sua vez, está causando preocupação entre muitos, à medida que percebem o mundo caindo no caos.


Tudo isso é sentido tanto por crentes como por incrédulos, mas certamente nossa reação deve ser diferente. Sim, nós realmente sentimos o estado de coisas deste mundo, e de fato somos sensíveis ao estado geral de incivilidade, ódio e impaciência que estão dominando este mundo. O mundo ao nosso redor pode exercer certo grau de paciência, mas com o tempo ela “se esgotará”, pois o horizonte deste mundo é somente a vida aqui embaixo. Se os negócios desta vida são afetados muito severamente, a frustração acaba explodindo em desobediência e, no fim, violência.


Vários versículos no Novo Testamento colocam a paciência diante de nós. Ela é um dos resultados positivos da tribulação (Rm 5:3); é um dos resultados de se ter uma firme esperança futura (Rm 8:25); é uma das qualidades que aprovou o apóstolo Paulo e outros como ministros de Cristo (2 Co 6:4); de fato, foi um dos sinais fundamentais de um apóstolo (2 Co 12:12). Era uma das características dos crentes diante de perseguições (2 Ts 1:4); é como corremos a carreira do caminho Cristão (Hb 12:1); finalmente, e mais importante, é algo característico do nosso bendito Senhor e Mestre (2 Ts 3:5). Em vista de tudo isso, a paciência deve ser parte de nós como Cristãos, pois temos uma esperança além deste mundo, e “as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). É somente por um “poucochinho de tempo”, até que o Senhor venha para nós, e, então, a eternidade transcenderá o tempo.


Indolência ou indiferença

Entretanto, é importante notar que paciência (ou perseverança) não é indolência ou indiferença. Algumas vezes o que se faz passar por paciência é, na realidade, uma atitude de “Não me importo”, em que a preguiça nos domina, e desistimos. E, assim, não fazemos nada de positivo em nossa vida. Não, paciência para o crente não significa passividade ou resignação. Pelo contrário, o crente que está andando com o Senhor estará firmemente desfrutando do Senhor em sua alma e, ao mesmo tempo, desejando fazer a obra do Senhor aqui, seja ela qual for. Seu coração, alma e mente estarão ativos, mesmo que ele possa, temporariamente, estar impossibilitado em relação ao serviço ativo, assim como Paulo, quando estava na prisão. Ele aceita com paciência o que o Senhor permite em sua vida, mas espera em dependência por portas a serem abertas para ele.


O prêmio final

A maioria das falsas religiões neste mundo também enfatiza a paciência, como se fosse uma virtude em si mesma, ainda que não haja nada para se ganhar com ela. Isto é o que Satanás faz; ele defende a paciência, mas não há nada na outra ponta. É como esperar em uma longa fila, apenas para descobrir que, quando finalmente chega a sua vez, não há nada para você. É essa mentalidade que tem levado muitos neste mundo a adotarem a atitude que Paulo expôs em 1 Coríntios 15:32: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Se não há nada além deste mundo, e o futuro parece sombrio, então, vamos, sim, imprudentemente aproveitar o momento. Porém, Cristianismo significa renunciar à satisfação presente para se ter um ganho futuro. O apóstolo João exemplifica essa atitude quando fala, “Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação, no reino e na paciência, em Jesus” (Ap 1:9 – JND). A tribulação, o reino e a espera paciente por ele, estão todos ligados entre si, e no nome do nosso Salvador – Jesus. A paciência do Cristão será bem recompensada! “O Senhor direcione o vosso coração ao amor de Deus e à paciência de Cristo” (2 Ts 3:5 – JND).


W. J. Prost


 

A Paciência de Cristo


A presente constante expectativa da vinda de Cristo imprime seu próprio caráter no Cristão: “E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas” (Lc 12:36). É isso que faz com que o Cristão, em sua mente e pensamentos, se torne associado ao Próprio Cristo. Encontramos isso especialmente na carta à igreja de Filadélfia, pois lá, além de guardar Sua Palavra e não negar Seu nome, lemos, “Como guardaste a palavra da Minha paciência” (Ap 3:10). Paciência de quem? De Cristo. Cristo está esperando; e está esperando muito mais verdadeira e ardentemente do que nós. Estamos esperando por Ele, e Ele está esperando por nós com todo o amor que o Noivo tem pela noiva.


É verdade, Ele está esperando até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés, mas, para Seus amigos, Ele aperfeiçoou Sua obra, e está sentado aguardando essa subjugação de Seus inimigos, quando, então, Se levantará para juízo. Ele não sabe a hora nesse sentido (é claro que, sendo Deus, Ele sabe), pois não é algo revelado ainda.


Ele está esperando, e nós esperamos por Ele; tão completa é essa associação, agora em espírito e depois em glória, que, tirando Sua glória pessoal, Ele não pode receber nenhuma glória até que nos tenha com Ele, pois somos coerdeiros com Ele. Na carta à igreja de Filadelfia, temos, “Conheço as tuas obras”, mas nenhuma palavra é dita a respeito delas; os santos devem se contentar em esperar até que o Senhor venha.


“Como guardaste a palavra da Minha paciência”; esse foi o próprio caminho de Cristo aqui, e devemos andar nele agora, no final de uma dispensação que, enquanto um sistema aparente, se afastou totalmente de Deus.


J. N. Darby


 

Paciência e Sabedoria


Tiago 1:3-5

O Cristão é visto por Tiago em circunstâncias difíceis, o destino comum da fé neste mundo. O efeito desejado a ser produzido com Deus lidando assim com o Cristão é a paciência. Mas deve ser paciência contínua, caso contrário não se pode dizer que ela tenha sua “obra perfeita” nele. Nisso, Jó falhou. Eu aprendo a paciência quando minha vontade própria é quebrada (colocada em sujeição), e, para esse fim, as provações são permitidas. Aprendo que Deus é por mim (nas provações) para que eu me contente com a Sua vontade e a faça.


Mas, embora a paciência deva ser assim aprendida porque está de acordo com Deus, e nós tenhamos que agir na Terra por Ele, e paciência seja simplesmente esperar na vontade d’Ele, ainda assim, ela não pressupõe indiferença ou inércia. Já que é uma questão da vontade d’Ele para mim em todas as coisas, então eu sei que o modo d’Ele é justo. Portanto, eu aprendo a paciência deixando de fazer a minha própria vontade. E, então, entra outra coisa. Preciso de sabedoria no meu andar diário, pois devo evitar a indolência, para que, em tudo que eu faça, eu possa ser sábio, isto é, somente fazer o que Ele quer que eu faça nas circunstâncias da minha vida diária. “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus” (Tg 1:5). Ela pressupõe paciência primeiro, como algo já aprendido, e submissão à vontade d’Ele, ao que Ele está fazendo. Então, precisando de instrução, eu pergunto: “O que devo fazer?” É aí que entra a necessidade de sabedoria, e ela é dada a mim liberalmente, se eu pedir sem qualquer ação da minha vontade. Se a minha vontade está em ação, sou um homem de coração dobre: “Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa”.


Finalmente, quanto à “paciência” e “sabedoria” serem tão desejadas por e para todos nós como Cristãos, eu acrescentaria que acredito que jamais se achará um homem “impaciente” que seja “sábio”, quer em suas próprias coisas ou na Igreja. As duas coisas não devem ser tiradas de sua ordem divina. Mas, por outro lado, há toda esperança e toda perspectiva de que um homem Cristão “paciente”, não importa quão humilde, seja achado algum dia, em algum momento difícil talvez, que tenha se tornado, para a surpresa de alguns, um homem “sábio”. A ordem divina é primeiro “paciência”, depois “sabedoria”.


H. Anstey (adaptado)


 

Poder na Paciência


Gostaria de abordar o tema do poder na paciência, não de forma doutrinária, mas sim de forma prática, já que ele se relaciona com o nosso caminho nos dias de hoje.


Deus nos deu o poder de sermos feitos filhos (Jo 1:12). Foi Seu imenso poder que nos tirou da condição de morte e nos assentou nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 1:3). É esse mesmo poder a capacidade interior que nos permitirá viver uma vida e trilhar um caminho que estejam de acordo com a nossa relação com Deus e a nossa posição em Cristo.


Fortalecidos com todo poder

Passemos para Colossenses 1:11: “fortalecidos com todo poder, segundo a Sua gloriosa força, em toda a paciência e longanimidade, com alegria” (KJV). Quão distante de nossos pensamentos está a preciosa verdade apresentada aqui! “Todo poder” e “Sua gloriosa força” estão acoplados com a graça simples e discreta da paciência – aquele atributo do amor, que é “longânimo” e “benigno” (1 Co 13:4). Essa é a mais rara das flores agora. Deus não vai conceder poder para nos tornar famosos ou ilustres no mundo ou nos círculos religiosos, pois o homem pode ser tudo isso na energia meramente natural. Percorrer o caminho solitário, sem reputação e insignificante, que não é notado nem valorizado, exigirá mais do que a atividade de piedade na carne. O homem inquieto não pode suportar isso; ele exige o turbilhão inebriante de inimigos vencidos e vitórias conquistadas. Eu não desencorajaria nenhuma das duas coisas, como também não encorajaria um espírito de preguiça. Porém, a palavra para hoje é: “Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3:11). Infelizmente, quão poucos estão nesse nível, e quantos, em busca de mais, deixaram escapar aquilo que Deus já fez nosso.


Através da fraqueza e da derrota

Muitos hoje perdem a alegria que poderiam possuir simplesmente porque não veem o privilégio que é manter, não conquistar. Onde há conquista, geralmente, a vitória deve sair da derrota. Portanto, os seguidores do Senhor podiam dizer, “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo 6:60), quando Ele lhes disse que, somente por meio de Sua morte, poderia haver bênção para eles. Sem dúvida, essa é a expressão de muitos corações zelosos. Eu só posso responder, “Olhe para a cruz”:


“Através da fraqueza e da derrota, Ele ganhou o galardão e a coroa”.


Vamos olhar além em nosso caminho, haja vista estarmos no caminho da vitória d’Ele. Eu sei como é instigante pressionar o inimigo, mas poucos têm o poder para “havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13) quando os inimigos nos pressionam. É muito fácil gritar – “Vitória!”, com o inimigo incapacitado e nós mesmos possuidores dos despojos; é algo completamente diferente conseguir dizer, “por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro”, e em seguida conseguir acrescentar, “mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores”. E como é isso? Por Aquele que nos amou (Veja Romanos 8:36-37). Vencedores, ainda que no presente sejamos como ovelhas para o matadouro. Aleluia! O amor e o louvor pertencem a Cristo.


Paciência e longanimidade

Estevão foi alguém “cheio de poder” e é o primeiro que surge diante de nós proeminentemente após a ruína se instalar. Sua força foi demonstrada naquilo que ele suportou. Na presença do conselho, ele apresenta o rosto de um anjo, e, quando a multidão brutal faz do seu corpo um alvo para pedras, existe algum ceder [da parte dele]? O pobre “vaso de barro” se quebra, mas o “tesouro” – “paciência e longanimidade” – estava lá, pois o ouço dizer, “Senhor, não lhes imputes este pecado”. Cristo em glória manteve seu coração tranquilo (veja Atos 7:55-59).


Paulo e Silas são uma ilustração feliz dessa verdade. Ouça-os cantando louvores a Deus perto da meia-noite, não em uma grande reunião; não, eles estão na prisão, os pés presos no tronco, e as costas sangrando. Mas há perfeita tranquilidade, nem mesmo um clamor por libertação. O poder que os capacitava a suportar era mais doce para eles do que escapar (compare com 2 Co 12:7-10). A “paciência” os possuiu de uma forma tão abençoada que, quando as portas se abriram, não houve pressa. Assim, a graça da longanimidade já os tinha feito livres; no coração, eles tinham espaço de sobra mesmo quando o corpo estava preso numa cela. Estavam em comunhão com Aquele que é hábil em converter prisões em palácios e em fazer pedras ásperas brilharem como rubis. Talvez paredes tão reais e terríveis também nos cerquem; estamos no segredo da força?


Em alegre expectativa

Temos procurado por algo grande e estamos prestes a desmoronar porque não o encontramos? Temos aguardado, com expectativa, por dias melhores do que estes para nós e, por não terem chegado, começamos a sentir que estamos fora da corrente de Sua vontade e, portanto, em um lugar onde não podemos requerer o Seu apoio? Não temam, amados; nossa fraqueza é justamente o que nos garante a posse disso. Embora possamos não ter a aparência de um exército com bandeiras, podemos ser vistos saindo do deserto apoiados sobre o nosso Amado. Devemos encarar com suspeita aquilo que agora é de grandes dimensões. Veja, em Filadélfia e Laodiceia, aquilo que, respectivamente, caracteriza o verdadeiro e o falso no final (Ap 3). Deve ser visto por todos que estão familiarizados com o curso do tempo, conforme detalhado na Palavra de Deus, que apenas por um pouco mais de tempo, no máximo, será necessário o exercício da “paciência”. Devemos contemplá-Lo agora como Aquele que Está Próximo. Portanto, em alegre expectativa, cantemos; pode não ser uma canção que cause um terremoto; os ferrolhos e as barras podem não se soltar, nem os prisioneiros nos ouvir, mas podemos salmodiar ao Senhor em nosso coração (Ef 5:19).


Podemos cantar apenas para Ele. Os homens podem não ouvir, mas as canções do céu não impedirão essa sinfonia de chegar aos ouvidos d’Ele. “Sede vós também pacientes; fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5:8).


F. C. Blount (adaptado)


 

Paciência na Pressão


Em todos os Seus caminhos conosco, descobrimos que o bendito Deus está realizando Seus propósitos, e não apenas de modo governamental. Por “modo governamental”, entendo que a mão de Deus vem sobre nós pressionando onde a vontade é insubmissa e rebelde à vontade d’Ele. Não acho que isso seja verdade para muitos. Acho que, com relação à maioria, falando a partir de observação dos filhos de Deus, eles não carregam uma vontade que é intencionalmente rebelde à vontade de Deus ou que propositalmente vai contra o que Ele mostra ser certo.


Inteligência e comunhão com Deus

Onde a fraqueza, o fracasso e o colapso entram, é geralmente o caso em que a motivação é boa, mas tanto a inteligência quanto a comunhão com Deus não estão boas. Mas não se trata da busca deliberada de um caminho que é contrário à mente de Deus. Quando digo: “Vou ter esse objeto a todo custo”, é aí que se impõe a vontade contra Deus e onde entra o trato governamental. Penso que, se você seguir através da Escritura, descobrirá que é assim. Mas, por outro lado, a maioria daqueles que são tirados do nosso meio são os que, em grande medida, aceitam a vontade de Deus. Muitos dos que são tirados do nosso meio são absolutamente os escolhidos do rebanho. Quantas vezes isso foi constatado! Outro dia eu vi uma querida irmã em seus 40 anos afligida com câncer, dor e sofrimento, sabendo que, muito em breve, no máximo em algumas semanas, ela estaria com o Senhor. Todos que podiam reuniam-se ao lado de sua cama. A impressão que se tinha era a de que se devia ir lá, para obter as impressões dela sobre Cristo, pois ela estava nas mãos de Deus.


Novamente, há um caso semelhante de uma querida irmã bem conhecida por mim, que está com o Senhor há muitos anos. Ela recebeu peregrinações em seu leito de todas as partes da Inglaterra. Seria um sacrilégio dizer que ela estava ali por juízo governamental. Mas por que ela foi tirada na metade da vida, quando tanta atividade poderia ser possível? Existe muita atividade. É esse tipo de pressão que tira alguém para meditar, para orar, para sustentar, seja por nome, cada um individualmente no próprio círculo cristão em que você está, para olhar por você em todas as suas circunstâncias, quando você, na agitação de sua vida, mal tem tempo para dobrar os joelhos a Deus de manhã ou à noite. Vocês podem ter entre vocês alguns afastados a quem vocês vão, como um ato de piedade, visitar, mas que estão considerando vocês profundamente. Você pode ser o devedor daquele irmão ou irmã, que pode estar carregando você em oração diante de Deus, para que Ele possa preservá-lo nas tentações, provações e testes que você tiver em sua atividade.


Ricas dádivas de Deus

Portanto, não devemos considerar a pressão, aflição e coisas semelhantes como calamidade ou infortúnio, mas sim como uma rica dádiva que procede de fontes que têm sua origem no coração do próprio Deus. No início do Cristianismo, Ele Se moveu na linha do sacrifício e entrega, e entregou Seu amado Filho na linha do sacrifício e entrega. É Ele quem mantém Sua casa nessas mesmas linhas perante o mundo. Quão belamente isso é expresso nestas palavras: “Nós [também] devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3:16)! Considere o que isso significa! Onde está a perfeição disso? Em Cristo! Em que espírito o bendito Senhor veio? No espírito do Deus que O deu.


Em vista dessas coisas, motivos são esclarecidos, ações são purificadas e a atmosfera saudável da casa de Deus é mantida. As condições respiratórias, por assim dizer, são preservadas em um mundo que está cheio dos gases nocivos do inferno, corrupção e violência, e uma atmosfera pura e doce é mantida ao longo das linhas de que “na pressão, Tu me deste largueza” (Sl 4:1 – JND). Assim, Pedro se dirige aos amados santos com relação ao presente lugar de provação deles: “Para que a prova de vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo: ao Qual, não O havendo visto, amais; no Qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1 Pe 1:7-8).


Glória na tribulação

Então, que possamos levar tudo isso a sério e não falar tanto em infortúnio – não falar tanto em calamidade, não falar tanto em ficar abalado quando isso ou aquilo vier, mas aceitar tudo na tranquila e pacífica serenidade da paz com Deus, pois é ao longo dessas linhas que a alcançamos. Você conhece o seu Salvador, “o Qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação. Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo Qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações” (Rm 4:25; 5:1-3).


Apenas levanto a você a seguinte questão: Você se gloria (ou vangloria) na tribulação? É assim? É assim se você a entende. Se você enxergar o lugar que ela tem como um princípio comum nos caminhos de Deus, você se gloriará “nas tribulações também, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência, e a experiência, a esperança. E a esperança não envergonha, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5:3-5 – KJV). Portanto, esse elo é perfeito. Deus Se moveu em divino amor desde o início para dar, de Si mesmo, em sacrifício, o bendito Senhor Jesus, e Ele nos faz passar pela mesma linha. O elo – o círculo – é perfeito. Ele termina no amor de Deus derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado.


F. W. Lavington (adaptado)


 

Paciência da Esperança


A expressão “paciência da esperança” é tirada de 1 Tessalonicenses 1:3, onde Paulo se dirige a Cristãos relativamente novos em Tessalônica, os quais tinham desfrutado apenas de um breve tempo com Paulo, já que ele foi obrigado a fugir da perseguição depois de passar apenas algumas semanas com eles. No entanto, durante esse tempo, Paulo os instruiu especialmente na bendita esperança da vinda do Senhor para eles.


O assunto sobre esperança também ocupa um lugar de destaque no livro de Romanos, onde aparece 15 vezes na KJV e 17 vezes na tradução de J.N. Darby [e 13 vezes na versão em português (ARC)]. Nesta epístola, somos vistos como tendo sido redimidos e feitos aptos para a presença do Senhor, contudo, ainda como homens na Terra, fazendo nosso caminho em meio às dificuldades, mas com a esperança da bênção eterna no final do caminho. É importante ver que a palavra “esperança” na Escritura não carrega consigo nenhum grau de incerteza quanto ao cumprimento daquilo que se espera; a única incerteza é quanto ao momento da realização da esperança. Isso é diferente do significado geral que a palavra tem na linguagem cotidiana, onde esperança geralmente denota incerteza, em todos os sentidos, sobre um evento futuro.


Salvação eterna

A questão da nossa salvação eterna é abordada nos primeiros capítulos de Romanos, e o assunto é resumido no capítulo 5, onde lemos, “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos [regozijamos – KJV] na esperança da glória de Deus” (Rm 5:1-2).


Nesta verdade, o crente pode descansar, pois ele foi justificado pela fé, tem paz com Deus sobre a questão de seus pecados e pode regozijar-se“na esperança da glória de Deus”. Dificilmente um crente bem instruído duvidaria da força dessas palavras e da certeza delas. A obra de Cristo é completa; estamos diante de Deus em graça e não temos temor algum de juízo por nossos pecados. Como alguém observou: “É relativamente fácil para o crente deixar a questão de sua salvação e destino eternos com Deus, pois entendemos que está inteiramente em Suas mãos”. Realmente nos regozijamos na esperança que temos diante de nós.


Nossa esperança

No entanto, ainda não estamos em casa, mas antes temos diante de nós uma esperança, e como lemos em Romanos 8:25, “se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos”. A espera com paciência está ligada à nossa fé, pois é na proporção da força de nossa fé que nossa esperança é sustentada. (É digno de nota que a palavra “fé” também seja proeminente no livro de Romanos, ocorrendo não menos que 40 vezes na KJV [e igualmente nas versões em português].) Se nossa fé é forte, e estamos totalmente convencidos da verdade do que Deus disse, então nossa esperança também será forte, e, de fato, esperaremos com paciência pela realização dela. No entanto, ainda somos homens e mulheres na Terra, e as provações e tristezas do caminho podem ocasionalmente ameaçar abalar a nossa fé e esperança.


Esperanças relacionadas a esta vida

Para cada crente, pode muito bem haver certas esperanças que estejam relacionadas a esta vida – certos sonhos e ambições muito preciosos que gostaríamos de realizar aqui. Essas esperanças podem assumir muitas formas e, é claro, são sentidas com mais força quando somos jovens. Pode ser uma esperança que até mesmo uma pessoa do mundo pode ter, como sucesso financeiro, posses, fama ou poder. Expectativas assim podem bem ainda estar presentes no coração do crente. Entretanto, pode ser uma esperança relacionada a coisas da vida cotidiana – coisas que não são erradas em si mesmas. Talvez haja uma carreira em particular que gostaríamos de seguir, ou pode ser uma esperança de se ter um cônjuge e talvez uma família que possa, com o tempo, nos cercar. Pode ser uma esperança relacionada a coisas espirituais, talvez por um lar, que gostaríamos de usar para o Senhor. Em outros casos, pode haver o desejo de servir ao Senhor de uma maneira específica, ou de ver um grupo de crentes caminhando bem em um determinado lugar. Todas essas coisas podem, em vários momentos, tomar conta do nosso coração e gerar um desejo ardente por sua concretização.


Quando o tempo passa, e nossa esperança não se concretiza, nossa fé é testada. Embora possamos não ceder ao desespero que frequentemente toma conta do homem do mundo, é fácil o desânimo entrar. Lemos em Provérbios 13:12 que “a esperança que se adia faz adoecer o coração” (ARA), e vemos muitas pessoas no mundo hoje que estão doentes dessa forma. É triste dizer, mas alguns deles são crentes, cujas esperanças nesta vida não se realizaram, e cujas ambições parecem ter sido frustradas completamente. Não apenas o desânimo, mas também a amargura pode surgir, e talvez até mesmo um sentimento (embora talvez não falado) de que “o caminho do Senhor não é justo” (Ez 18:25 – AAIB).


Qual é a solução?

Antes de tudo, devemos entender que, como crentes nesta dispensação da graça de Deus, não nos foi prometido nada neste mundo. As bênçãos de Israel eram terrenais, mas todas as nossas bênçãos são celestiais; e embora Deus, em Sua bondade para conosco, possa nos conceder misericórdias pelo caminho, devemos entender que estas são, de fato, misericórdias, não bênçãos. Nos últimos 150 anos, o Senhor concedeu muito, na forma de misericórdias temporais, a algumas partes do mundo, especialmente à Europa Ocidental e à América do Norte. Como resultado, muitos crentes que vivem nessas áreas hoje tendem a ver essas coisas como normais e legítimas para eles, considerando-as parte das bênçãos de Deus. O Senhor Jesus pôde dizer aos Seus discípulos: “No mundo tereis aflições” (Jo 16:33), e em Sua oração ao Pai, Ele pôde dizer: “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo” (Jo 17:14). Os crentes podem olhar para trás para a cruz do Calvário e firmar Sua fé na obra de Cristo; também podem olhar para a frente para a glória e firmarem sua esperança no que Deus prometeu. Mas nada lhes foi prometido entre a cruz e a glória, exceto o privilégio de seguir um Cristo rejeitado e de ter Sua alegria completa neles.


Quando essa verdade se apodera da alma, ficamos livres das ansiedades e frustrações que tantas vezes tendem a nos dominar. Não devemos desejar coisas como poder, dinheiro e fama, pois “as nações do mundo buscam todas essas coisas” (Lc 12:30 – ACF). Entretanto, não é errado ter determinadas esperanças relacionadas à vida aqui. O crente está morto para o mundo e morto para o pecado, mas nunca é dito que ele morreu para o natural. Esperanças como uma carreira, um cônjuge adequado, uma família ou um lar não estão em desacordo com o Cristianismo. Da mesma forma, no plano espiritual, é completamente legítimo ter a esperança de servir ao Senhor de uma maneira particular, para ser usado como um instrumento de bênção para o povo de Deus e ver os santos de Deus juntos caminhando bem e em harmonia. No entanto, em todas essas coisas, devemos permitir que o Senhor molde nossas circunstâncias, antes de tudo, para a Sua glória, e depois para nossa bênção final. Qualquer objeto, qualquer esperança, que fique aquém do próprio Cristo, mesmo algo bom em si mesmo, não é digno do crente.


Deus Se deleita em nossa felicidade

Ao dizer tudo isso, não queremos dar a impressão de que a intenção do Senhor é que levemos uma vida solitária e ascética. Não, Ele Se deleita com a nossa felicidade e nos disse no Salmo 37:4: “Deleita-te também no Senhor; e Ele te concederá o que deseja o teu coração”. Esses desejos certamente incluem aquelas alegrias naturais que Ele graciosamente providenciou para nós. Mas devemos permitir que Ele faça essa escolha por nós e não insistir em nossos próprios planos.


Nossas próprias esperanças e ambições podem ser muito boas em si mesmas, mas os propósitos do Senhor para nós nos levam a um plano superior, onde vivemos e nos movemos à luz da eternidade, e não apenas para esta vida aqui. Embora Deus deseje nossa felicidade, devemos lembrar que felicidade é um estado de espírito, não uma questão de circunstâncias. É no caminho da Sua vontade que não apenas O honraremos, como também seremos extremamente felizes. Mais do que isso, estaremos edificando para a eternidade, e não para o tempo.


Isso é verdade até mesmo nas coisas espirituais, onde as esperanças não realizadas podem ser algo particularmente difícil de aceitar. Sem dúvida, Paulo sentiu isso intensamente quando teve que dizer, no final de uma vida árdua e fiel: “Na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). No entanto, não há nenhum indício de desânimo em toda a epístola, apesar do declínio geral que estava tomando conta da profissão do Cristianismo. A fé de Paulo permaneceu forte e ele pôde dizer: “Eu sei em Quem tenho crido” (2 Tm 1:12). Em anos mais recentes, quando um irmão mais novo estava ocupado com problemas entre os santos e indagou em voz alta: “O que será de nós?”, um irmão mais velho sabiamente respondeu: “A Escritura não conhece futuro algum para o crente a não ser glória”.


Ter acalentadas esperanças de que podemos mergulhar alegremente na vontade do Senhor para nós é o caminho da alegria e bênção, pois então nossa própria vontade não está operando, mas sim dizemos, como o Senhor Jesus disse: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22:42).


W. J. Prost


 

Dando Fruto com Paciência


A respeito da parábola do semeador, conforme apresentada no Evangelho de Lucas, lemos sobre a incapacidade de se produzir qualquer colheita onde a semente cai “à beira do caminho”, “sobre uma rocha” ou “entre espinhos”. Esses lugares representam para nós, respectivamente, a esfera do diabo, a carne e o mundo. Entretanto, lemos: “E a que caiu em boa terra são os que, de sincero e bom coração, tendo ouvido a palavra, a retém e dão fruto com paciência” (Lc 8:15 – KJV). Pode parecer, ao mundo, que são frutos brilhantes e abençoados, mas se as pessoas não têm a Cristo, elas se cansam. Não será duradouro, a menos que Cristo tenha posse da alma; mas se Ele tiver, haverá um motivo permanente, e as pessoas irão prosseguir e “dar fruto com paciência”. Aquelas que ouvem e retém a palavra seguem firmemente, tendo seu motivo de ação no Senhor. Problemas podem acontecer, mesmo na igreja; decepção pode surgir, mesmo com irmãos; mas elas continuam assim mesmo, porque têm a Cristo diante delas. A Palavra que ouviram e retêm as conecta com Cristo, e Ele é mais do que qualquer outra coisa.


O efeito prático

Esta é uma questão, não de salvação eterna, mas do efeito prático da Palavra visto neste mundo (vs. 16-18) – o crescimento da Palavra na alma; e isso não ficará escondido debaixo de um alqueire. “Vós sois a luz do mundo” e “o sal da terra”, nosso Senhor podia dizer aos Seus. Naqueles que apenas parecem ser Cristãos, não demora a dar em nada. “A qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado” (Lc 8:18). Mas aqueles em quem a Palavra opera eficazmente são como uma “candeia” colocada no velador. Tendo Israel sido colocado de lado por um período, Deus estabelece uma nova luz no mundo – uma luz acesa por Deus, por causa das trevas do mundo. Quando Cristo estava aqui, Ele era a luz do mundo por causa das trevas, e agora devemos ser uma luz no mundo, já que somos “luz no Senhor”. A luz é aqui estabelecida pela Palavra de Cristo, e as pessoas são responsáveis pela Palavra recebida. Suponha que você tenha ouvido a Palavra e não produza nenhum fruto; logo será visto que você ouviu a Palavra e a perdeu, junto com o poder espiritual que a acompanha. Ainda que sejamos santos, tudo o que tivermos ouvido e que não resulte em fruto ou poder irá manifestar-se, pois nada há oculto que não será conhecido ou revelado. “Vede, pois, como ouvis.”


A necessidade de reter a Palavra

Cristo está procurando os resultados de Sua semeadura. Não se deve apenas ouvir, mas tomar posse, e nisso está a responsabilidade, pois se você retém a Palavra que ouviu, mais lhe será dado. Se, ao ouvir, eu tomo posse, como meu, daquilo que ouço, então isso se torna uma parte da substância de minha alma, e eu terei mais. Quando a verdade se torna uma substância na minha alma, há capacidade para receber mais. Suponha, por exemplo, que você ouça a verdade da segunda vinda do Senhor e veja sua porção como a noiva de Cristo, mas não tome posse dessas verdades na prática; você logo perderá a expectativa da vinda d’Ele e esquecerá seu lugar de separação do mundo. A verdade gradualmente se dissipará, porque você não a está mantendo em sua alma diante de Deus. Consequentemente, sua alma se torna morta e sem brilho, e você perde a própria verdade que recebeu.


Meu Senhor tarda em vir

Mas alguém que vive diariamente esperando pelo Senhor vir do céu não fará planejamento para o futuro, nem ajuntará para o dia de amanhã; tal homem aprenderá mais e mais, uma vez que, em torno desta grande verdade central, outras se abrirão, e ele será mantido na verdade. Se, por outro lado, ele abandona essa verdade central, dizendo: “Ele não pode vir ainda; tantas coisas precisam acontecer primeiro”, então o progresso da comunhão dessa pessoa com Deus é prejudicado. De que adianta me ensinar que o Senhor pode voltar amanhã, se vou continuar vivendo como se Ele não viesse por 100 anos? Ou onde estão o conforto e a bem-aventurança da verdade para minha alma, se estou dizendo em meu coração: “Meu Senhor tarda em vir”? Embora não possa perder minha vida eterna, se eu estiver perdendo a verdade e a luz que recebi, estarei meramente flutuando na corrente da vida, metade para o mundo e metade para Cristo, e todo o poder da vida Cristã será diminuído em minha alma. Se a verdade é mantida em comunhão com Deus, ela separa para Ele. A verdade é para dar fruto, e não há verdade que não dê fruto. A verdade deve edificar a alma. “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Cristo se torna precioso na verdade, e pela verdade, que eu aprendo, e, se ela não tiver esse poder, tudo isso dá em nada e é levado embora. Se Cristo é precioso para mim, estarei esperando por Ele com afeição e produzindo fruto com paciência.


J. N. Darby (adaptado)


 

Esperei Pacientemente por Jeová


No Salmo 40, temos Cristo assumindo o lugar da paciência sem falhar e, assim, fornecendo uma base para confiança, até mesmo para aqueles que falharam, ao tomar o Seu lugar junto do remanescente (que afinal eram os santos na Terra, os excelentes) em suas tristezas, e o caminho da integridade na Terra. Ele também não falha nisto ao Se colocar sob o peso do mal e dos pecados sob os quais Israel havia se colocado. Nós sabemos disso de uma maneira ainda mais profunda, a qual não é vista aqui. Mas a maneira como Cristo Se identifica com Israel, ainda que na integridade do remanescente justo, é profundamente instrutiva e nos leva a uma apreensão maravilhosa de uma parte especial de Suas dores. Sua morte, e as dores de Sua morte, não são vistas aqui como expiação ou suportando a ira, mas como tristezas, sofrimento e pesar. Aqui, Deus é visto ajudando a Cristo na dor em que Ele se encontra e na qual Ele espera em Jeová. Ela estava no remanescente, na oposição de Israel por causa de suas culpas e afastamento de Deus. Cristo, que havia sido (como Ele afirma neste salmo) fiel a Deus em tudo, entra nessa dor em graça celestial.


Não se trata do Seu próprio relacionamento com Deus, mas de Ele entrando no [relacionamento] do remanescente em conexão com Israel. O relacionamento d'Ele tinha sido perfeito; o deles, embora fundamentado na fidelidade de Jeová por um lado, era, na realidade, fruto do pecado. É mais no final de Sua vida. Está moralmente encerrado quanto ao serviço. Enquanto servia, Ele estava fazendo a vontade de Deus no corpo preparado para Ele e fielmente declarando a justiça de Deus na grande congregação, isto é, publicamente em Israel. Agora, com relação ao homem (e assim será com o remanescente – suas provações virão sobre eles dos soberbos, por causa de sua fidelidade e testemunho: só que eles terão merecido, por estarem eles mesmos envolvidos nos pecados do povo), por causa deste testemunho fiel, os males vêm sobre Ele. Assim, sabemos que foi historicamente com Cristo. Sua hora havia chegado – a hora de Seus inimigos e do poder das trevas.


É a vida perfeita de Cristo, e as dores no final dela, nas quais Ele se refere à fidelidade e à bondade de Jeová para levar Seu povo a confiar nelas, instruindo-os nisto em que Sua perfeição foi mostrada: “Esperei pacientemente por Jeová”; a paciência teve sua obra perfeita – uma lição imensa para nós.


A carne pode esperar muito, mas não até que o Senhor venha, ela não consegue esperar em perfeita submissão; e confiando apenas na força e fidelidade d’Ele para ser perfeito em obediência e na vontade de Deus. Saul esperou cerca de sete dias, mas a confiança da carne (o seu exército) estava derretendo; os filisteus, os soberbos inimigos, estavam lá. Ele não esperou até que o Senhor aparecesse com Samuel. Se tivesse obedecido e sentido que ele não podia fazer nada, tendo apenas que obedecer e esperar, ele teria dito: “eu não posso fazer nada, e eu não devo fazer nada” até que o Senhor venha por Samuel. A carne confiou em sua própria sabedoria e olhou para sua própria força, embora com formas piedosas. Tudo foi perdido. A carne foi provada e falhou. Cristo sendo provado: Ele esperou pacientemente por Jeová. Ele foi perfeito e completo em toda a vontade de Deus. E esse é o nosso caminho através da graça.


Essa é a grande instrução pessoal deste salmo. Aqui, Ele dá a Si Mesmo como padrão. “Esperei pacientemente por Jeová”, isto é, até o próprio Jeová chegar. Sua própria vontade nunca se moveu, ainda que plenamente posta à prova. Por isso, era perfeição. Ele não teria outra libertação, senão a d’Ele. Seu coração estava totalmente certo: Ele não teria uma libertação que não fosse a de Jeová. Este é um ponto muito importante quanto ao estado do coração (não teria outra senão a de Jeová). Além disso, ele sabe que não há outra, e que Jeová está perfeitamente certo quando Sua vontade moral foi perfeitamente cumprida e Sua justiça vindicada quando necessário. Há a conhecida perfeição de Sua vontade – o Seu único título, e então perfeição de submissão e o desejo somente por Ele.


Esta clara fidelidade da graça – a libertação de Deus manifestada n’Aquele que tinha ido às profundezas das provações – seria um lugar de descanso para a fé de outros, ainda mais por Ele ter entrado nela como consequência do estado do povo aos olhos de Deus. Por isso, ela é aplicada à condição do remanescente, embora igualmente verdade para todo santo que esteja em provação por causa da impiedade de outros e do poder do mal, talvez causado por ele mesmo. “Bem-aventurado o homem que põe em Jeová a sua confiança e que não respeita os soberbos”.


J. N. Darby (adaptado)


 

O Homem de Dores, da Paciência e da Alegria


Temos três exibições de Cristo bem distintas. Em Cristo aqui embaixo, um bebê numa manjedoura – desprezado, rejeitado e que sabia o que é padecer –, vemos o Homem de Dores. No entanto, em nenhum lugar encontro glória tão divina como em Sua cruz. Mas, quando penso do que Ele me tirou, por meio daquela cruz, e onde Ele me colocou, vem o próximo pensamento: “Onde está o Cristo agora, cuja morte fez tudo isso?” E a resposta é: “Ele está à destra de Deus”, onde, como o Homem da Paciência, Ele tem esperado silenciosamente, por 2000 anos, pela glória e pelas pessoas.


Se você e eu servimos, estamos prontos para nossa recompensa. Mas esta Bendita Pessoa, o Homem da Paciência, tem seguido por quase 2.000 anos de paciência, não reivindicando a recompensa. Mas o que Ele tem feito? Ora, voltando-se para nós e dizendo: “Estou ocupado com vocês na glória. Estou ocupado com todas as suas dores. Vire seus olhos para o alto; abra o coração de vocês para Mim; deixe-Me ver tudo. Como Pastor, estou ocupado com cada uma das Minhas ovelhas, curando cada ferida”.


Ele agora é o Homem da Paciência, mas em breve será o Homem da Alegria, [que Deus] “ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros”. Algo muito abençoado pensar em ver Aquele que era enfaticamente o Homem de Dores ungido com o óleo de alegria! Mas sempre é bom pensar n’Ele como o Homem de Dores em conexão com o que estamos passando aqui. Oh, fale de suas dores, se você conseguir, na presença de Sua vida, de tudo o que você teve de dor pelo caminho, que te deixou abatido; e o que você dirá na presença d'Aquele que diz a você: “Alguma vez foi dor igual a Minha dor?” E Ele, o Homem de Dores, está agora à destra de Deus, sentado lá como o Homem da Paciência por cerca de 2.000 anos e dizendo a cada um: “Você e eu temos que tratar um com o outro. Não Me prive do Meu serviço, da Minha glória. Deixe que Eu Me ocupe com você; deixe-Me servi-lo por enquanto?” Em breve, Ele será o Homem da Alegria, assim como foi o Homem de Dores e da Paciência.


O pensamento da alegria de Cristo é doce para o seu coração? Você gosta de pensar que não haverá rosto tão bonito, nenhum rosto tão brilhante como o de Cristo? Nenhum coração tão feliz e tão perfeito em sua alegria como o coração do Senhor Jesus Cristo? Certamente isso deve dar a você um pouco de paciência agora, enquanto você passa pelo deserto! Está com os lombos cansados? Está cansado por causa da aspereza do caminho? Tudo em volta tende a distraí-lo? Cristo diz: “Tende bom ânimo. O que são todos esses problemas? O que são todas as suas tristezas na presença da Minha cruz? Nada! E sua paciência, o que é ela comparada à Minha, esperando pela glória e inclinando-Me para Me interessar por tudo o que interessa a você?


“um poucochinho de tempo”, e logo você estará Comigo, e escreverei em você Meu novo nome – Meu nome de alegria. O coração de Cristo não é alimentado com as coisas externas da glória, mas é alimentado com a alegria de servir a Deus. Quando todos os filhos que Deus deu a Ele forem levados para casa e o novo nome escrito neles, essa será a alegria de Cristo.


Você quer conforto? Tenho certeza que sim. Você quer algo para lhe dar um pouco de coragem? Bem, nada pode fazer isso tanto quanto o pensamento de Sua vinda. Haverá então alegria suficiente pela manhã, embora haja tristeza agora durante a noite. Haverá plenitude de alegria naquela manhã quando O virmos como Ele é, em plenitude de alegria para sempre.


F. G. Patterson (adaptado)


 

Fé e Paciência


Se quiséssemos agradar nosso bendito Senhor – Nossa fé n’Ele iria provar – Iríamos nos apoiar em Suas promessas E em Seu grande amor descansar. Seja qual for a nossa sorte ou circunstâncias Preocupar ou duvidar não caberia Mas só entregar nosso caminho a Ele; Para o bem, Ele tudo resolveria. Tampouco tentar apressá-Lo Para agradar nossa vontade aguerrida, Mas, confiando n’Ele, aguardar para ver A Seu tempo Sua promessa cumprida. Pois a fé está ligada à paciência, E, em Suas mãos, nossos tempos estão: Portanto, podemos esperar e confiar, Mesmo sem a real compreensão. Lemos sobre o fiel Abraão, que pacientemente perseverou; Pois tinha certeza do poder divino, Na incredulidade, não cambaleou. E Jó, sua fé e paciência provadas Sob a vara de correção, ele estando: Mesmo provado e testado, perseverou e permaneceu em Deus confiando. Quanta paz e alegria teria o nosso coração Se repousássemos pacientemente Em Seu grande amor e cuidado por nós, Ele conhece o caminho a nossa frente. As preciosas promessas de Deus são certas, Embora nossa fé Ele possa testar; Vamos, então, manter nossos olhos n’Ele E em Sua sabedoria descansar.


Young Christian, Volume 25 (adaptado)


 

Necessitais de Paciência

(Hebreus 10:36)


Paciência, doce e humilde dom é ela, Muito precisamos, mais se desejaria O cansado coração, de posse dela, Recebe o vigor que tanto gostaria.


Paciência, pra correr a carreira da vida, Paciência, pra frutos pra Ti produzir, Em toda humildade da graça recebida, Teu exemplo, Senhor, de humildade seguir.


Com paciência Tua vontade aprender: Seja sair à luta e batalhar Ou com paciência quieto permanecer; Ambos obediência ao Teu olhar.


Teu caminho trilhar pacientemente, Oh, paciente, imaculado Senhor Ansiando que se cumpra unicamente Não nossa vontade, mas a do Pai de amor.


Pacientemente por Ti aguardar, Oh, nosso tão esperado Salvador Ver, após pacientemente esperar, Tua Palavra se cumprir, Senhor.


O poder do Teu Espírito nos fortalece Na graça, como a de Cristo, paciente Radiantes de glória que resplandece, Quando sofrendo, e ainda contentes


E. G.


 

“Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”

(1 Pe 1:7)


 

[1] N. do T.: O autor se refere ao açafrão “verdadeiro”, tratado como iguaria, que é extraído do pistilo da flor da espécie Crocus sativus. Se a flor for aberta antes do tempo, impede-se seu crescimento normal, e ela morre.

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