(Revista bimestral publicada originalmente em Julho/Agosto 1992)
ÍNDICE
O CHAMADO DE DEUS
A Família de Deus, nos dias que antecedem o dilúvio, trilham um caminho de peregrinos. Eles deixam o mundo para Caim. Não há neles nenhum sentimento de disputa, nem tampouco o menor indício de queixa. Eles não dizem, e nem pensam em dizer, "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança" (Lc 12:13). Nos hábitos da vida e princípios de conduta, eles são tão distintos de seu irmão infrator (Caim) que parece pertencer a uma outra raça; é como se vivessem em outro mundo.
A família de Caim é que faz toda a história do mundo. Eles constroem as cidades, eles promovem as artes, eles conduzem os negócios, eles inventam seus prazeres e passatempos. Mas em nada disso é encontrada a família de “Sete” (Gn 5:3). Os daquela geração chamam às suas cidades por seus nomes; os desta se fazem chamar pelo nome do Senhor. Os daquela fazem tudo o que podem para tornar o mundo seu, e não do Senhor; os da outra fazem tudo o que podem para se fazerem do Senhor, e não mais pertencerem a si mesmos. Caim escreve seu próprio nome sobre a terra; “Sete” (Gn 5:3), escreve o nome do Senhor sobre si.
Podemos bendizer ao Senhor por este vigoroso perfil de estrangeiros celestiais vivendo na Terra, e rogar por graça para experimentarmos em nossa alma, e em nossa vida, um pouco do seu poder. Temos uma lição a aprender disso.
Os instintos de nossa mente renovada nos sugerem que sigamos o mesmo caminho celestial com igual certeza e clareza. O chamado de Deus nos indica esse caminho, e todo o Seu ensino exige que o trilhemos. Os passatempos e os propósitos, os interesses e os prazeres, dos filhos de Caim nada significam para esses peregrinos. Como ocorre ainda hoje, eles deixam isso bem claro; rejeitam a idéia de que este mundo seja capaz de lhes trazer satisfação. Eles estão descontentes com o mundo, e não se esforçam nem um pouco para inverter esta situação.
É nisto que está fundamentada a separação moral do caminho de Caim, e de sua casa. Eles não estavam preocupados com o país que os cercava, mas procuravam uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Eles se opõem completamente ao caminho de Caim, e têm um claro discernimento do caminho de Deus.
O Senhor deseja que sigamos esse mesmo padrão, estando no mundo, mas não sendo do mundo; somos do céu, embora ainda não estejamos lá (exceto no que diz respeito à nossa posição em Cristo). Paulo, no Espírito Santo, quer que sejamos assim, seguindo o exemplo daqueles: "a nossa cidade está nos céus" (Fp 3:20). Pedro, no mesmo Espírito, quer que sejamos "peregrinos e forasteiros", abstendo-nos "das concupiscências carnais" (1 Pe 2:11). Tiago nos convoca, no mesmo Espírito, a saber que "a amizade do mundo é inimizade contra Deus" (Tg 4:4). E João nos separa como de um só golpe: "Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno" (1 Jo 5:19).
J. G. Bellett (1795–1864)
SEGURANÇA, CERTEZA E GOZO
Da Salvação Eterna
Qual Classe você está Viajando?
Quando estamos numa estação ferroviária ouvimos, com certa frequência, a seguinte pergunta: "Em que classe você está viajando?" Você, leitor, com toda a certeza está de viagem – de viagem para a eternidade – e pode ser que neste momento esteja muito próximo da estação final: a Morte. Permita-me, então, que lhe pergunte: "Nesta jornada pela vida, qual classe você está viajando?"
Há somente três diferentes classes, e vou explicar quais são; a fim de que você possa responder à minha pergunta, como que diante de Deus; sim, diante “d'Aquele a Quem certamente todos nós temos que prestar contas”.
Primeira classe: viajam aqueles que estão salvos e sabem disso.
Segunda classe: viajam aqueles que não têm certeza da salvação, mas estão ansiosos para ter certeza.
Terceira classe: viajam aqueles que não estão salvos e são totalmente indiferentes pelo assunto.
Novamente, repito a pergunta: "Qual classe você está viajando?" Oh, a loucura da indiferença, como é importante que você possa responder claramente a esta pergunta, quando as questões eternas estão em discussão!
Há pouco tempo atrás, numa viagem que fiz de trem, no momento em que o trem se preparava para partir da estação, vi chegar um homem que se precipitou ofegante para dentro do vagão onde eu me encontrava.
– Você passou perto! – exclamou um dos passageiros.
– É verdade – respondeu o homem respirando com dificuldade – mas ganhei quatro horas e por isso valeu a pena correr por isso.
"Ganhei quatro horas"! Ao ouvir estas palavras não pude deixar de pensar comigo mesmo: "Se para ganhar quatro horas valeu a pena fazer tão grande esforço! E a eternidade?" Contudo, não existem milhares de pessoas, que embora sejam bastante prudentes em tudo o que se refere aos seus interesses mundanos, mas estão cegos quando alguém lhes fala das questões eternas?
Apesar do infinito amor de Deus para com os pecadores, manifestado na morte de Jesus Cristo na cruz; apesar do Seu declarado ódio ao pecado; da evidente brevidade da vida humana; dos terrores do julgamento depois da morte; da solene probabilidade de sofrer insuportáveis remorsos ao achar-se no inferno, separado para sempre de Deus; apesar de tudo isso, muitos correm para o seu triste fim tão descuidados como se não existisse nem Deus, nem morte, nem julgamento, nem céu, nem inferno! Que Deus tenha misericórdia de você, leitor, se você for uma dessas pessoas, e que neste momento Ele abra os seus olhos para que você reconheça o perigo que é continuar despreocupadamente no caminho, à beira escorregadia do abismo, que conduz à perdição eterna.
Caro leitor, acredite ou não, a sua situação é desesperadora. Não deixe, portanto, de enfrentar o quanto antes a questão da Eternidade, e do destino que você terá nela. Lembre-se, a procastinação não é apenas um “ladrão”, mas um “assassino”, e poderá ser fatal. Lembre-se, que o costume de deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, é sempre prejudicial, e neste caso poderá ter consequências desastrosas. Quão verdadeiro é o ditado: "A estrada do mais tarde conduz à cidade do nunca"! Rogo, pois, encarecidamente, querido leitor, que não continue a viajar em um caminho tão enganoso e perigoso, pois está escrito na Bíblia Sagrada: "Eis aqui agora o dia da salvação" (2 Co 6:2).
Incerteza
Talvez você diga: – Não sou indiferente aos interesses da minha alma; longe de mim tal pensamento, mas a minha maior inquietação exprime-se por outra palavra: INCERTEZA. Por esta razão, encontro-me entre os passageiros da segunda classe de que é falado.
Pois bem, amigo leitor, tanto a indiferença como a incerteza são filhas dos mesmos pais: a incredulidade. A indiferença provém da incredulidade no que diz respeito ao pecado e a ruína do homem; às suas consequências presentes e eternas. A incerteza, com sua consequente inquietação, provém da incredulidade acerca do infalível remédio que Deus, soberamente, oferece a você. Estas páginas são escritas, especialmente àqueles que, como você, desejam ter a completa e incontestável certeza da salvação.
Até certo ponto, posso compreender bem a inquietação de sua alma, e estou convencido de que quanto mais sincero interesse você tiver sobre esse assunto importante, maior será a sua sede, para ter a certeza de que está real e eternamente salvo da ira divina, dirigida contra o pecado. "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mt 16:26), disse o Senhor Jesus.
Suponhamos que, o único filho de um amoroso e devotado pai encontra-se viajando de navio. Chega, entretanto, a notícia de haver naufragado, numa costa estrangeira, o navio em que ele se encontrava. Quem poderá descrever a angústia que a incerteza produz no coração daquele pai enquanto não se certificar, por um testemunho fidedigno, de que o seu filho está são e salvo? Ou, ainda, uma outra hipótese; você está longe de casa. A noite é escura e fria, você está seguindo por um caminho desconhecido. Ao chegar a uma bifurcação, você encontra alguém e lhe pergunta qual é o caminho que conduz ao povoado aonde deseja chegar, e ele, indicando um dos caminhos, responde: "Parece-me que é aquele, mas não tenho certeza; espero não estar enganado". Você ficaria satisfeito com uma resposta tão vaga e indecisa? Decerto que não. Você precisaria ter certeza, do contrário cada passo que desse naquela direção só aumentaria a sua inquietação. Por isso, não admira que tenha existido homens que, sentindo-se pecadores expostos à ira divina, não conseguiram mais dormir, e nem mesmo comer, enquanto a questão da salvação de sua alma não estivesse resolvida.
Perder nossos bens é muito,
Perder nossa saúde é mais,
Mas a perda de nossa alma é tal;
Que homem nenhum pode restaurar jamais.
Pois bem, amigo leitor, há três coisas que, com o auxílio do Espírito Santo, desejo mostrar a você, as quais, na própria linguagem das Sagradas Escrituras são as seguintes:
“O caminho da salvação” (Atos 16:17);
“O conhecimento da salvação” (Lucas 1:77);
“A alegria da tua salvação” (Salmo 51:12).
Estas três coisas, embora intimamente ligadas, baseiam-se, todavia, cada uma delas, em verdades diferentes, de modo que é muito possível uma alma conheça qual é o caminho da salvação, sem contudo ter o conhecimento de estar pessoalmente salva; ou mesmo conhecer que está salva, sem possuir contudo a alegria que deve acompanhar esse conhecimento.
O Caminho da Salvação
A primeira parte da Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento, está repleto de figuras ou símbolos de coisas espirituais, como diz o apóstolo Paulo: "Tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito" (Rm 15:4). Vejamos, pois, qual o sentido espiritual de uma dessas figuras contidas no Antigo Testamento, no livro de Êxodo, onde se lêem estas palavras em relação à lei dada por Deus, por intermédio de Moisés, ao seu povo na antiguidade: "Porém tudo o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça: mas todo o primogênito do homem entre teus filhos resgatarás" (Êx 13:13).
Com estas palavras em mente, voltemos, em pensamento, a uns três mil anos atrás, e vamos supor que nos encontramos perto de dois homens (um sacerdote de Deus e um pobre camponês israelita), que conversam seriamente. Nossa atenção é atraída pelos gestos e pela maneira de ambos, que demonstra estarem tratando de um assunto importante; e não é difícil de ver que o assunto da conversa é um jumentinho que está tremendo ao lado deles.
– Vim perguntar – diz o pobre israelita – se não pode ser feita uma exceção a meu favor, só desta vez. Este animal é o primogênito de uma jumenta que tenho e, embora eu saiba o que diz a lei de Deus a seu respeito, espero que haja misericórdia e seja poupada a vida do jumentinho. Sou apenas um pobre em Israel e não posso pensar em perder este animal. O sacerdote, porém, responde com firmeza:
– A lei de Deus é clara e não admite dúvidas: "TUDO o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça". Por que, então, você não traz um cordeiro?
– Ah, senhor, não tenho nenhum cordeiro! – replica o homem.
– Então vá comprar um e traga-o aqui; ou certamente a cabeça do jumento será cortada. O cordeiro deve ser morto ou o jumento deve ser morto.
– Ai de mim! – exclama o pobre homem chorando – neste caso todas as minhas esperanças estão perdidas, pois sou muito pobre e não posso de maneira alguma comprar um cordeiro.
Mas, durante a conversa, aproxima-se uma terceira pessoa que, ouvindo a triste história do homem, volta-se para ele e lhe diz bondosamente:
– Não fique desanimado, pois posso resolver o seu problema. Temos em casa um cordeiro que é muito querido de todos os de minha família, pois não tem nem uma única mancha nem defeito algum, e nunca se extraviou; vou já buscá-lo.
Pouco depois o homem está de volta, trazendo o cordeiro que em seguida é morto e o seu sangue derramado. O sacerdote volta-se então para o pobre israelita e lhe diz:
– Agora você pode levar o seu jumentinho para casa e ficar certo de que não precisará matá-lo. Graças ao seu amigo, o cordeiro morreu no lugar dele e, portanto, o jumentinho fica, com toda a justiça, totalmente livre.
Ora, querido leitor, acaso você não vê nisto um quadro divino da salvação do pecador? Em consequência dos seus pecados a justiça de Deus exige a sua morte, isto é, o seu justo castigo. A única alternativa que resta a você é a morte de um substituto aprovado por Deus.
Você jamais poderia, de si mesmo, providenciar o necessário para sair da desesperada situação em que se encontra. Deus, porém, na Pessoa de Seu amado Filho, supriu, Ele próprio, um Substituto: "Eis o Cordeiro de Deus", disse João aos seus discípulos ao contemplarem o bendito e imaculado Salvador. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29).
E, com efeito, Jesus subiu ao Calvário, "levado como a ovelha para o matadouro" (At 8:32), e ali "padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pe 3:18). "O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" (Rm 4:25). De modo que Deus, ao justificar o ímpio que crê em Jesus; ao absolvê-lo de toda a culpa, em nada sacrifica as justas exigências do Seu trono dirigidas contra o pecado. Ele é absolutamente “Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26). Bendito seja Deus, por nos dar um tal Salvador e uma tal salvação!
Você crê no Filho de Deus?
Se você responder: "Sim! Como um pecador condenado tenho encontrado n'Ele Aquele em Quem posso confiar com toda a segurança. Creio verdadeiramente n'Ele!", neste caso posso lhe assegurar que, perante Deus, o grande valor do sacrifício e morte de Cristo, conforme Deus o aprecia, aproveita tanto à sua alma como se você mesmo tivesse sofrido, em si mesmo, a condenação merecida.
Oh, que admirável salvação é esta! Não é grande, grandioso, divino – digno do próprio Deus? Por ela Deus satisfaz os desejos do Seu bondoso coração, dá glória ao Seu amado Filho, e assegura a salvação do pobre pecador que n'Ele crê. Que maravilha de glória e graça! Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que assim ordenou que o Seu próprio Filho amado faça toda a obra e receba todo o louvor; e que nós, crendo n'Ele, não somente alcançamos todas as bênçãos, mas também gozaremos eternamente a bem-aventurada companhia d'Aquele que assim nos abençoou! "Engrandecei ao Senhor comigo, e juntos exaltemos o Seu nome" (Sl 34:3).
Mas, talvez você pergunte ansiosamente: "Como é que ainda não tenho completa certeza da minha salvação, embora já não confie mais em mim mesmo, nem nas minhas obras, mas só, única e inteiramente em Cristo e na Sua obra? Como é que, se um dia os sentimentos do meu coração me dizem que estou salvo, no dia seguinte me vejo assaltado de dúvidas? Sou como um navio surpreendido pela tempestade, sem poder achar ancoradouro seguro em nenhuma parte". Ah! eis aí o seu engano, e vou explicar o por que. Porventura, você já ouviu falar de algum capitão que procurasse ancorar seu navio lançando a âncora para dentro do próprio navio? Nunca! Ele sempre a lança para fora!
Vejamos, então, o seu caso. Pode ser que você já esteja completamente convencido de que a segurança de sua alma, quanto ao julgamento divino, depende somente da morte de Cristo; porém você imagina, ao mesmo tempo, que são os seus sentimentos que hão de lhe dar a CERTEZA da sua participação nos benefícios dessa morte. Vamos olhar novamente para a Bíblia, pois quero que você veja nela o modo como, pela Sua Palavra, Deus nos dá:
O Conhecimento da Salvação
Antes, porém, de procurarmos o versículo que você deve ler com cuidadosamente, o qual nos ensina COMO UM CRENTE PODE SABER QUE TEM A VIDA ETERNA? Permita-me citá-lo de maneira errada, ou seja, da maneira que muitos parecem entendê-lo: "Estes alegres sentimentos vos dou a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus". Compare agora isto com a bendita e imutável Palavra divina, e permita Deus que você possa se firmar nela, para dizer com Davi: “Odeio os pensamentos vãos, mas amo a Tua lei” (Sl 119:113 – ARF). Ora, o versículo de que falei é 1 João 5:13 (ARA), está escrito assim: "ESTAS COISAS VOS ESCREVI, a fim de SABERDES que TENDES a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus".
A história sagrada do Antigo Testamento, nos relata um acontecimento, que explica exatamente o modo pelo qual nós podemos ter a inabalável certeza da salvação, que o versículo acima nos fala. Esse acontecimento é a saída do povo de Israel da terra do Egito, o que lemos em Êxodo 12. Como podiam os primogênitos do povo de Israel saber, com toda a certeza, que estavam seguros durante aquela noite da Páscoa, quando Deus derramava Seu julgamento sobre o Egito? Vamos supor que nos encontramos no Egito nessa solene ocasião, e que visitamos duas das casas dos israelitas. Na primeira casa encontramos toda a família aterrorizada e cheia de receios, dúvidas e incertezas:
– Qual é o motivo de tanta palidez e medo? – perguntamos.
– Ah! – responde o primogênito, – o anjo da morte vai atravessar a terra do Egito esta noite, e não sei o que será de mim quando chegar a meia-noite. Só depois que o anjo exterminador tiver passado por nossa casa, e a hora do juízo tiver terminado, que saberei que estou salvo, mas antes disso não sei como posso ter a certeza de que nada me há de acontecer. Os nossos vizinhos do lado dizem que têm certeza da sua segurança, mas acho que isso é ter muita presunção. O melhor que eu posso fazer é passar esta longa e sombria noite esperando que tudo me saia bem.
– Porém – perguntamos – o Deus de Israel não providenciou um meio de segurança para o Seu povo?
– Certamente que sim – responde ele – e nós já usamos esse meio. O sangue de um cordeiro de um ano, cordeiro sem defeito algum, já foi devidamente espargido com um molho de hissopo sobre a verga e ombreiras da porta; mas apesar disso, não temos ainda plena certeza de que eu esteja seguro.
Deixemos agora esta pobre gente, atribulada e cheia de dúvidas, e entremos na casa ao lado. Que notável contraste se apresenta logo à nossa vista! A paz e o gozo brilham em todos os rostos. Ali estão todos com “os lombos cingidos,… e o cajado na mão”, comendo “o cordeiro assado no fogo”, e com “os sapatos nos pés” já prontos para caminhar (Êx 12:8-12).
– Qual é o motivo de tão grande tranquilidade em noite tão solene? – perguntamos.
– Ah! – respondem todos – estamos apenas esperando as ordens de marcha de Jeová, nosso Deus, para sairmos de viagem, quando então daremos um último adeus ao açoite do tirano e à cruel escravidão do Egito.
– Mas esperem! Vocês estão se esquecendo de que à meia-noite o anjo de Deus vai percorrer a terra do Egito, ferindo de morte os primogênitos?
– Sabemos disso muito bem, mas o nosso filho primogênito está perfeitamente seguro. O “sangue” (Êx 12:7) foi espargido na porta, segundo a vontade e ordem do nosso Deus.
– Mas também os vizinhos fizeram o mesmo, – respondemos, – e contudo estão todos tristes, porque não têm nenhuma certeza de segurança.
– Ah – diz o primogênito com firmeza – mas nós temos mais do que o “sangue” espargido; temos também uma confiança absoluta na inabalável Palavra do nosso Deus (Êx 12:8-14). Deus disse: "Quando Eu vir o sangue, passarei por vós" (Êx 12:13 – ARA). Deus descansa satisfeito com o sangue lá fora, e descansamos aqui dentro na SUA PALAVRA. O “sangue” espargido nos dá segurança. A Palavra proferida por Deus nos dá a certeza da “salvação”.
Há alguma coisa que possa tornar-nos mais seguros do que o “sangue” espargido, ou mais certeza do que a Palavra escrita por Deus? Nada, absolutamente nada. Eis a razão da nossa paz!
Ora, leitor, qual destas duas famílias você acha que estava mais ao abrigo da espada do anjo da morte?
Talvez você diga que era a segunda, onde todos gozavam daquela tranquila confiança? Não, você está enganado. Ambas estavam igualmente seguras. A segurança de ambas dependia, não dos sentimentos dos que estavam dentro da casa, mas sim da maneira como Deus apreciava o sangue espargido fora da casa, sobre a porta.
Se você quiser ter a certeza da sua própria salvação, não dê atenção aos seus sentimentos, mas sim ao testemunho infalível da Palavra de Deus. "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim TEM a vida eterna" (Jo 6:47).
A fim de esclarecer mais este ponto, vou me valer de um simples exemplo tirado da vida cotidiana. Um certo agricultor no interior, não tendo pastagem suficiente para seu gado, e ouvindo dizer que uma bela pastagem próxima à sua casa está para alugar, comunica ao proprietário seu interesse em arrendá-la. Passa-se algum tempo sem que receba resposta do proprietário. Certo dia, um vizinho visita o agricultor e lhe diz:
– Estou certo de que ele alugará a pastagem a você. Você não se lembra de que no último ano o proprietário enviou-lhe um presente, e não recorda também da maneira como o cumprimentou quando passou por sua casa há alguns dias?" E com essas boas palavras a mente do agricultor, se encheu de esperança!
No dia seguinte encontra-se com outro vizinho, que durante a conversa lhe diz:
– Receio que você não poderá usar aquela pastagem. Ouvi dizer que o sr. Fulano também a quer, e você sabe como ele é amigo do proprietário. Esta notícia faz desvanecer a esperança do pobre agricultor; e assim continua ele; um dia muito esperançoso, outro dia cheio de dúvidas.
Por fim recebe uma carta pelo correio, e ao reconhecer a letra do proprietário da pastagem, abre-a com viva ansiedade; mas à medida que vai lendo, o sobressalto vai se transformando em satisfação que se lhe retrata no rosto.
– Está tudo resolvido, – exclama ele à sua esposa; – acabaram-se as dúvidas e os receios! O proprietário diz que me arrenda a pastagem por todo o tempo que eu quiser, e em condições muito favoráveis. Isto me basta; agora já não me importo mais com a opinião de ninguém, seja lá quem for; a palavra do proprietário assegura-me a posse.
Quantas pobres almas há por aí, às quais acontece o mesmo que aconteceu ao agricultor; andam confusos e perturbados porque escutam as opiniões dos homens, ou se ocupam com os pensamentos e sentimentos de seu próprio coração traiçoeiro, e é somente ao receber a Palavra de Deus, como sendo a Palavra de Deus, as dúvidas que os atribulam cedem imediatamente lugar à CERTEZA. Quando Deus fala, deve haver certeza, seja Ele pronunciando a condenação do incrédulo, ou a salvação do crente.
“Para sempre, ó Senhor, a Tua Palavra permanece no céu” (Sl 119:89). As Escrituras dizem: “Quem crê n'Ele não é julgado; o que não crê já está julgado” (Jo 3:18 – ARA). Não pode haver dúvida, nem em um caso nem em outro, pois é Deus Quem o diz, e para o crente de coração sincero a Palavra de Deus resolve tudo. "Porventura diria Ele, e não o faria? ou falaria, e não o confirmaria?" (Nm 23:19). Deus tem falado, e o crente, satisfeito, pode dizer:
Mais provas não exijo eu
Nem mais demonstração;
Já sei que Cristo padeceu
Para minha salvação.
O crente pode acrescentar: “E que Deus assim o diz”.
Mas, talvez haverá alguém que ainda pergunte: "Como hei de saber com certeza se tenho a verdadeira fé?" A esta pergunta temos que responder com outra pergunta: "Você tem fé no verdadeiro Salvador: isto é, no bendito Filho de Deus?" A questão não é saber se a sua fé é muita ou pouca, forte ou fraca, mas se a Pessoa em quem você confia é digna de confiança. Há alguns que se agarram a Cristo com uma energia semelhante à do homem que se afoga. Há outros, porém, que apenas tocam, por assim dizer, na orla do Seu vestido; mas os primeiros não estão mais seguros do que os últimos. Todos fizeram a mesma descoberta, isto é, que em si mesmos são totalmente indignos de confiança, mas que devem seguramente confiar em Cristo, tranquilamente confiar na Sua Palavra, e descansar com toda a confiança no valor eterno de Sua obra consumada. É isto que significa crer n'Ele, e é Sua a promessa: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida eterna" (Jo 6:47).
Portanto, tenha certeza; de que a sua confiança não esteja depositada em suas obras bem intencionadas, ou em seu arrependimento e penitências, ou em quaisquer outros atos religiosos, nem mesmo em seus sentimentos piedosos, nem na educação moral que possa ter recebido, nem em quaisquer outras coisas semelhantes. É até possível que você confie firmemente em algumas destas coisas, ou em todas elas juntas, e contudo venha a perecer eternamente; não se deixe enganar com nada que venha da carne. A fé em nosso Senhor Jesus Cristo, por mais fraca que seja, salva eternamente, ao passo que a fé em outra coisa ou pessoa qualquer, mesmo que seja muito forte, é apenas fruto de um coração enganoso – é apenas o inimigo disfarçado no abismo da perdição eterna.
Deus, no Evangelho, simplesmente apresenta a você o Senhor Jesus Cristo, e diz: "Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo" (Mt 3:17). É como se Deus dissesse: "Ainda que você não possa confiar em si mesmo, pode contudo confiar sem receio em Jesus". Bendito, três vezes bendito Senhor Jesus! Quem não há de confiar em Ti e exaltar o Teu nome?
– Creio deveras n'Ele, – disse-me um dia uma jovem, com certa tristeza, – todavia não me atrevo a dizer que estou salva, com receio de estar dizendo uma mentira.
Esta jovem era filha de um açougueiro em uma pequena cidade do interior. Era dia de mercado, e seu pai ainda não havia retornado do mercado.
– Suponhamos agora – disse-lhe eu – que quando seu pai voltar, você lhe pergunte quantas ovelhas comprou hoje, e ele responda: "Dez". Suponhamos ainda que logo em seguida entre um freguês e lhe pergunte: "Quantas ovelhas seu pai comprou hoje?" Porventura você responderia: "Não me atrevo a dizer, com receio de mentir"?
Nisto, a mãe da menina, que escutava nossa conversa, disse com certa indignação: – Isso seria o mesmo que dizer que seu pai é mentiroso.
Então, querido leitor, você não percebe que essa menina, embora bem intencionada, estava fazendo, realmente, do Senhor Jesus um mentiroso, quando dizia: "Eu creio no Filho de Deus, porém não me atrevo a dizer que tenho a vida eterna, porque receio estar dizendo uma mentira"? Que incredulidade! Quando o próprio Cristo disse: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida eterna” (Jo 6:47).
– Mas, – alguém poderá dizer, – como posso ter a certeza de que realmente creio? Tenho me esforçado muitas vezes para crer, e olhei em meu íntimo para ver se o tenho conseguido; mas quanto mais olho para minha fé, menos pareço ter.
Meu amigo, você está olhando na direção errada para descobrir isso, e o fato de você dizer que se esforça para crer, demonstra claramente que você está no caminho errado. Deixe-me, portanto, apresentar-lhe outro exemplo para explicar melhor este ponto.
Suponhamos que você se encontre, certa noite, em sua casa, e entre alguém dizendo que o chefe da estação da estrada de ferro acaba de morrer esmagado por um trem. Acontece, porém, que esse homem, que lhe traz a notícia, há muito tempo é tido em toda a vizinhança como muito desonesto e mentiroso. Você acreditaria nele, ou se esforçaria para acreditar nele?
– Decerto que não! – você me responderá prontamente.
– E por que não?
– Porque eu o conheço bem demais para saber que é um mentiroso.
– Mas, – pergunto – como é que você sabe que não crê no que ele disse? Será que para isso você precisou examinar sua fé?
– Não; é porque sei que o homem que me dá a notícia não é digno de confiança.
Pouco depois entra um outro indivíduo e diz:
– O chefe da estação foi, hoje, atropelado por um trem e ficou esmagado. Após ele sair, escuto você dizer prudentemente:
– Agora estou quase crendo que seja verdade, pois conheço este homem desde pequeno e pelo que me lembre, só me enganou uma vez.
– Ora, – pergunto eu de novo, – será que desta vez você sabe que quase crê por ter examinado sua própria fé?
– Não; é porque tenho em conta o caráter de quem me dá a notícia.
Este homem acaba de sair de sua casa e entra um terceiro. Este, que é um amigo que lhe inspira a mais absoluta confiança, não faz mais do que confirmar a notícia. Desta vez então você diz:
– Agora é que creio, João; por ser você quem está me afirmando isto, eu posso crer.
Insisto ainda na minha pergunta, que como você há de recordar, é apenas um eco da sua:
– Como é que você pode saber, agora, que crê tão confiantemente no que disse o seu amigo João?
– É porque conheço bem a João e o seu caráter – você me responde. – Nunca, em toda a sua vida, me enganou, e não a julgo capaz de fazê-lo.
Pois bem, é justamente por esta razão que eu também sei que creio no Evangelho: é por ele me ser mandado pelo próprio Deus. O apóstolo João diz: "Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de Seu Filho testificou… quem a Deus não crê mentiroso O fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu" (1 Jo 5:9-10). E Paulo diz: "Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça" (Rm 4:3).
Em certa ocasião uma alma ansiosa disse a um servo de Deus:
– Ah! senhor, eu não posso crer! – ao que com sabedoria e quietude o pregador respondeu:
– É verdade?… E em QUEM você não pode crer? – Esta simples pergunta foi suficiente para lhe abrir os olhos. Até ali tinha pensado que a fé era alguma coisa misteriosa que deveria sentir dentro de si, e que sem senti-la não poderia ter certeza da sua salvação; a fé do crente faz com que ele olhe, não para si mesmo, mas, ao contrário, para Cristo e para a Sua obra consumada no Calvário, e o leve a ouvir silenciosamente o testemunho de um Deus fiel sobre ambos.
É o olhar exterior que traz a paz interior. Quando um homem se volta para o Sol, a sua sombra fica atrás dele; assim também quando olhamos para Cristo glorificado no céu, não mais podemos olhar para nós mesmos.
Assim, vimos que a bendita PESSOA do Filho de Deus ganha a nossa confiança; a Sua OBRA CONSUMADA nos dá segurança eterna; e a PALAVRA de Deus, acerca de todo o que n'Ele crê, nos dá a certeza inalterável de tal segurança. Encontramos em Cristo e na Sua obra "o caminho da Salvação” (Atos 16:17); e na Palavra de Deus "o conhecimento da Salvação” (Lucas 1:77).
– Mas se salvo – poderá dizer, – se tenho a vida eterna, como é que tenho sentimentos tão inconstantes, perdendo com frequência toda a minha alegria e consolação, achando-me sem paz e quase tão triste como antes de ter sido convertido? – Esta pergunta nos leva a tratar de nosso terceiro ponto que é:
O Gozo da Salvação
A Palavra de Deus nos ensina que, enquanto o crente é salvo da ira futura pela obra de Cristo, e que tem a certeza da salvação pela Palavra de Deus, conserva a consolação e alegria pelo poder do Espírito Santo que habita nele. “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Co 6:19).
Convém lembrar que todo salvo, ainda, tem dentro de si, segundo as Sagradas Escrituras, "a carne",isto é, a natureza pecaminosa com que nascemos, e que começa a se manifestar desde a nossa mais tenra infância, no colo da mãe. O Espírito Santo no crente resiste à "carne", e fica entristecido sempre que ela se manifesta por pensamentos, palavras ou obras. Quando o crente está andando “dignamente diante do Senhor” (Cl 1:10), o Espírito Santo produz em sua alma o Seu bendito fruto – tais como “caridade, gozo, paz” (Gl 5:22). Porém quando o crente anda de maneira carnal, mundana, o Espírito Santo é entristecido (Ef 4:30), e como consequência, falta, na vida do crente, este fruto espiritual.
Permita-me, expor sua situação, como crente, da seguinte forma:
A obra de Cristo e a sua salvação: Ficam em pé ou caem juntamente;
O seu caminhar e o seu gozo: Ficam em pé ou caem juntamente.
Se fosse possível a obra de Cristo cair por terra (e, Bendito seja Deus, nunca, nunca acontecerá), sua salvação cairia juntamente com ela. Porém, quando por qualquer descuido, você não tiver um andar digno de um Cristão, (fique atento, pois pode muito bem acontecer), seu gozo cairá junto.
Em Atos dos Apóstolos, está escrito a respeito dos primeiros discípulos: "andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo" (At 9:31); e também: "os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo" (At 13:52). Depois de sermos convertidos, o nosso gozo espiritual será sempre proporcional ao caráter espiritual do nosso andar.
Você percebe agora, leitor, em que consiste o seu engano? Você tem confundido – duas coisas muito diferentes – que são: a segurança da salvação, e o gozo que resulta dela. Se porventura você entregar-se à sua vontade-própria, ao seu temperamento forte, ou aos prazeres mundanos, etc., o Espírito Santo Se entristecerá e logo você perderá sua alegria espiritual, e talvez pense ter perdido também a sua segurança. Repito, porém, mais uma vez:
Sua SEGURANÇA, depende da obra de Cristo POR você.
Sua CERTEZA, sobre a Palavra que Deus PARA você.
Seu GOZO, ao não entristecer o Espírito Santo EM você.
Quando, sendo filho de Deus, você faz algo que entristece o Espírito Santo de Deus, sua comunhão com Deus Pai e com o Seu bendito Filho, ficará no momento, praticamente suspensa; e enquanto você, arrependido, não reconhecer e confessar o seu pecado a Deus, aquela comunhão e aquele gozo não lhe serão restaurados.
Suponhamos que uma criança qualquer faz uma maldade. Sentindo que praticou o mal e desconfiando que seus pais já saibam do ocorrido, ela mostra logo em seu rosto que algo está errado. Meia hora antes ela estava alegre desfrutando, juntamente com os pais, um passeio no jardim, agradando-se naquilo que agradava a eles também, e admirando aquilo que eles também desfrutavam. Em outras palavras, ela estava em comunhão com eles; tinham todos os mesmos sentimentos.
Mas agora tudo isso mudou, como uma criança travessa, e desobediente, a encontramos agora em um canto, toda triste. Após a confissão penitente de seu erro, os pais lhe garantiram perdão; mas seu orgulho e egoísmo a mantém ali soluçando. Onde está agora a alegria que essa criança tinha há meia hora? Desapareceu completamente. Por que? Porque, foi interrompida a comunhão entre ela e seus pais, devido à sua maldade. Mas o que é feito do parentesco que, há meia hora, existia entre ela e seus pais? Porventura desapareceu isto também? Acaso cessou ou se interrompeu? Certamente que não.
Seu parentesco depende do seu nascimento.
Sua comunhão depende do seu comportamento.
Passado, porém, algum tempo, ela sai do canto, onde tinha permanecido, e já arrependida e com o coração quebrantado, humilha-se e confessa toda a sua falta, do princípio ao fim, de modo que os pais percebem que ela odeia agora, tanto quanto eles, a sua desobediência e travessura. Então, tomando-a nos braços, cobrem-na de beijos. Sua alegria é restaurada, porque sua comunhão é restaurada.
Quando Davi pecou tão gravemente no caso da esposa de Urias, ele não disse: “Torna a dar-me da Tua salvação”, mas, "Torna a dar-me a alegria da Tua salvação" (Sl 51:12). Notemos que não pediu que lhe fosse restituída a salvação, mas a alegria da salvação.
Imaginemos agora o caso de outra maneira. Suponhamos que enquanto seu filho está no canto, soluçando e sem dar provas de querer restaurar a comunhão com seus pais, alguém dá um grito de "fogo!" O que seria dele então? Porventura seus pais o deixariam ali no canto para ser consumido pelo fogo que devora a casa? Impossível! Muito provável que ele fosse a primeira pessoa que os pais tirariam para fora da casa e que pusessem a salvo. Você sabe perfeitamente que o amor do parentesco é uma coisa, e que o gozo da comunhão é outra inteiramente diferente.
Ora, quando o crente peca, sua comunhão com Deus Pai é interrompida, e o gozo é perdido até que, com o coração contrito, se volte para o Pai em auto-julgamento, e Lhe confesse seus pecados. Então, confiando na Palavra de Deus, sabe que está perdoado; porque a Sua Palavra claramente diz que: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e Justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça" (1 Jo 1:9).
Querido filho de Deus, tenha sempre em mente estas duas importantes verdades: que não há nada tão forte como o LAÇO DE PARENTESCO; e não há nada tão frágil como o LAÇO DA COMUNHÃO. Todo o poder e conselho da Terra e do inferno reunidos não podem quebrar o primeiro; ao passo que basta apenas um pensamento impuro, ou uma palavra leviana, para quebrar imediatamente o segundo.
Se você estiver com sua alma atribulada, em algum momento, humilhe-se perante Deus, e examine a sua consciência; e quando detectar a causa que lhe roubou a alegria, traga-a imediatamente à luz, confesse o seu pecado a Deus, seu Pai, e julgue-se a si mesmo, pelo seu descuido, e pela falta de vigilância da sua alma que permitiu entrar às escondidas o inimigo. Mas não confunda nunca, nunca, a sua segurança com o seu gozo.
Não imagine, entretanto, que o julgamento de Deus é menos severo contra o pecado do crente, do que contra o do incrédulo. Ele não tem dois modos diferentes de tratar com o pecado, e Deus não poderia passar pelos pecados do crente sem julgá-lo; assim como, Ele não poderia passar pelos pecados do incrédulo que rejeita o Seu precioso Filho. Há, porém, entre os dois casos esta grande diferença:
Os pecados do crente eram todos conhecidos por Deus, havendo-os lançado sobre Cristo, o Cordeiro divino, quando Este foi crucificado no Calvário. Ali, de uma vez para sempre, a grande “questão criminal” de sua culpa, foi levantada e resolvida – o julgamento do castigo, que o crente merecia, caindo sobre o seu bendito Substituto. "Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24).
No segundo caso, o incrédulo, que rejeita o Senhor Jesus Cristo, há de sofrer, ele próprio, as consequências eternas dos seus pecados no lago de fogo. Agora, quando um crente comete uma falta, a “questão criminal” do pecado não pode ser suscitada novamente contra ele, porque o próprio Jesus, constituído agora o Juiz de todos, é Quem a resolveu de uma vez para sempre sobre a cruz; porém a questão da comunhão é levantada dentro dele pelo Espírito Santo, todas as vezes que o crente O entristece.
Permita-me, em conclusão, servir de outro exemplo: Imaginemos uma noite serena e magnífica, com a Lua brilhando em seu maior esplendor. Um homem está olhando atentamente para um lago profundo, em cuja superfície a Lua se reflete admiravelmente e, dirigindo-se a um amigo que está ao seu lado, lhe diz: – Como a Lua está linda esta noite, tão cheia e brilhante!
De repente, seu companheiro joga uma pedra no lago, e exclama: – Que é isto? a Lua fez-se em pedaços, e os seus fragmentos estão batendo uns contra os outros na maior desordem!
– Que absurdo! – responde seu companheiro. – Olhe para cima e você verá que a Lua não mudou em coisa alguma. A superfície da água do lago, que a reflete, é que sofreu mudança, ficando agitada.
Amigo crente, aplique a você mesmo este simples exemplo. O seu coração é o lago. Quando não há permissão para o mal, o bendito Espírito de Deus toma as glórias e preciosidades de Cristo, e revela a você para sua consolação e gozo, mas no momento em que você acolhe em seu coração um mau pensamento, ou que de seus lábios escapa uma palavra vã, sem logo ser julgada, o Espírito Santo começa a agitar a superfície do lago, e a sua felicidade e gozo se desvanecem fazendo com que você fique inquieto e perturbado, até que, com espírito quebrantado diante de Deus, Lhe confesse seu pecado que tem sido a causa da sua perturbação. Assim será restaurado o sossego de seu espírito, e você desfrutará, mais uma vez, do gozo da comunhão com Deus.
Enquanto o seu coração se sente tão inquieto. Porventura, a obra de Cristo mudou? Não, de maneira nenhuma. Então sua salvação não sofreu alteração. A Palavra de Deus mudou? Certamente que não. Então permanece inabalável a certeza da sua salvação. Então, o que mudou? Ora, a ação do Espírito Santo em você mudou, em vez de tomar as glórias de Cristo, e encher seu coração com o sentimento de Sua dignidade, Ele Se entristece de deixar essa preciosa ocupação para encher a sua consciência com o sentimento do seu próprio pecado e indignidade.
Ele o privará de Sua consolação e de Seu gozo enquanto você mesmo não se julgar, reprovando o mal que Ele julga e reprova. Quando isso acontece, sua comunhão com Deus é restaurada novamente. Que, pela graça do Senhor, tenhamos sempre uma santa vigilância sobre nós mesmos, a fim de não entristecermos "o Espírito Santo de Deus, no Qual estais selados para o dia da redenção" (Ef 4:30).
Querido leitor, por mais fraca que seja a sua fé, fique certo de que o bendito Senhor em Quem você tem depositado sua confiança jamais mudará. "Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente" (Hb 13:8).
A obra consumada de Cristo jamais mudará: "tudo quanto Deus faz durará eternamente: nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar" (Ec 3:14).
A Palavra por Deus pronunciada jamais mudará. "Secou-se a erva, e caiu a sua flor: mas a Palavra do Senhor permanece para sempre" (1 Pe 1:24-25).
Assim, o objeto de nossa confiança, o fundamento de nossa segurança, e a base de nossa certeza, são igualmente inalteráveis. Com confiança então podemos já cantar (Hino 72 – Hinário – “Ó Deus e Pai”):
Ó Deus e Pai, Te agradecemos
A paz, perdão e Teu amor,
Com gratidão reconhecendo
Que temos parte em Teu favor.
Mais uma vez, deixe-me perguntar: "Qual classe você está viajando?"
Eleve a Deus o seu coração e dê-Lhe já, sem demora, a sua resposta.
“Seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso” (Rm 3:4).
"Quem a Deus não crê mentiroso o fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu" (1 Jo 5:10).
"Aquele que aceitou o Seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro" (Jo 3:33).
Querido leitor, meu desejo é que a alegre certeza de possuir esta salvação tão grande encha o seu coração e domine toda a sua vida, agora e até que Jesus venha.
G. Cutting (1843–1934)
PERGUNTAS E RESPOSTAS
P: A que se aplica o termo "reino dos céus" (Mt 13:44)?
R: O termo "reino dos céus", se aplica ao estado de coisas durante a ausência do Rei.
P: Trata-se de uma condição onde predomina o bem sem mistura?
R: Muito pelo contrário. “Um inimigo” (Mt 13:28) tem trabalhado. Ele introduziu “fermento” (Mt 13:33) na “massa” (Gl 5:9). Ele “semeou joio no meio do trigo" (Mt 13:25).
P: O “joio” é bom?
R: Não, o “joio” são os falsos professantes.
P: O “fermento” é bom?
R: Não, é má doutrina, maus princípios e má influência. A “massa” é boa, o “trigo” é bom, a “pérola” (Mt 13:45-46) é boa, o “tesouro” (Mt 13:44) é bom, e alguns dos “peixes” (Mt 13:47) são bons. Mas há coisas boas e más no reino – na igreja professa – na Cristandade. Cristianismo é como a neve que desce em sua pureza das nuvens. Cristandade é a feia e detestável lama produzida pela mistura da poluição da terra com a neve pura.
Não devemos confundir a Igreja, ou assembléia de Deus, com o “reino dos céus”, e nem o corpo de Cristo com a Cristandade. Os resultados mais desastrosos resultam dessa confusão. Ela leva à negação de toda disciplina piedosa na assembléia. Nos é dito que o “joio” e o “trigo” devem crescer juntos.
P: É verdade, mas onde?
R: No campo.
P: Mas o campo é a Igreja?
R: Não, o Senhor nos afirma distintamente: "O campo é o mundo" (Mt 13:38).
P: Devemos arrancar o “joio”?
R: Não, os anjos farão isso no tempo apropriado que ainda virá.
P: Devemos tolerar na assembléia os que são reconhecidamente “joio”?
R: Deus nos livre! "Tirai pois dentre vós a esse iníquo" (1 Co 5:13).
C.H.Mackintosh (1820-1896)
INVALIDEZ
Todos nós temos uma ou outra deficiência. Algumas são visíveis, outras apenas o Senhor conhece; podem ser resultantes de responsabilidades familiares, outras são fardos mentais ou emocionais. Ninguém é perfeito, e ninguém está livre de fardos. A questão não é se tenho alguma deficiência, mas o que ela está me causando?
De certa forma, nós achamos que as pessoas da Bíblia eram pessoas especiais, diferentes de nós hoje, mas não é assim. Quase todos aqueles que você encontra nas páginas das Escrituras tiveram que superar uma deficiência antes de terem sido usados por Deus. Em mais de um caso, Deus deliberadamente deu deficiências a crentes, e foi isso que os capacitou.
Um bom exemplo disso, é “Jacó” (Gn 25:19-34). Ele era sempre cheio de planos; alguém que tinha sempre algum "truque escondido na manga da camisa" – [N.T. – “Veio teu irmão astuciosamente e tomou a tua bênção. Disse Esaú: Não é com razão que se chama ele Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha” (Gn 27:35-36 – ARA)], – e que nunca deixaria que alguém levasse a melhor sobre ele. Se ele tivesse continuado nesse caminho de auto-suficiência, teria se arruinado. Mas certa noite, o Senhor veio e lutou com Jacó e lhe deu uma deficiência, o deixou coxo – [N.T. – “Ficando ele só; e lutava com ele um homem,… Vendo este que não podia com ele, tocou-lhe na articulação da coxa; deslocou-se a junta da coxa de Jacó,… Disse este: Deixa-me ir, pois já rompeu o dia. Respondeu Jacó: Não te deixarei ir se me não abençoares. Perguntou-lhe, pois: Como te chamas? Ele respondeu: Jacó. Então, disse: Já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste. {Israel: significa, Um príncipe de Deus – KJV}… E o abençoou ali .… Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva.… E manquejava de uma coxa”] – (Gn 32:24-32). Aquele foi o momento que mudou sua vida – um lembrete permanente de que era Deus Quem estava no controle de tudo.
A vitória começa no coração. Se nosso coração está cheio de rebeldia, auto-piedade e amargura, então estamos mal. O clamor do coração de Jacó era "Não te deixarei ir, se me não abençoares". Para ele era Deus ou nada! Quando foi que Jacó recebeu a bênção? Quando ele foi feito inválido! Ele não iria deixar ir embora, Aquele que havia tocado bem no ponto em que estava sua força natural. Me apego Àquele que me tornou inválido, a fim de que Ele possa ter o Seu lugar em meu coração!
The Christian Newsletter nº 144
DATAS BÍBLICAS
A vida humana vem sendo encurtada pela metade, muitas vezes. O homem que viveu por mais tempo após o “dilúvio” (Gn 6:17; Gn 7:6), foi “Héber”, que viveu 464 anos, um pouco mais do que a metade da idade de “Metusala” (Gn 5:27 – Matusalém), 969 anos, que foi quem viveu mais tempo, dentre os homens que viveram antes ou depois do“dilúvio” (Gn 6:17; Gn 7:6). O tempo mais longo que alguém já viveu, após a dispersão ocorrida em Babel, foi o de “Reú”, que viveu 239 anos (Gn 11:20-21), um pouco mais que a metade da idade de “Héber”. No deserto, a vida foi novamente encurtada para quase metade da idade de “Abraão” (Sl 90:10). O bendito Senhor foi tirado "no meio" ou na metade de Seus dias como homem (Sl 102:24).
As Escrituras não fornecem um registro do nascimento ou da morte de nenhum dos descendentes de “Caim”, mas apenas registram os seus feitos (Gn 4). “Sete” (Gn 5:3), terceiro filho de Adão, viveu 912 anos, em quem a linhagem da graça teve continuidade, foi contemporâneo de todos os patriarcas antediluvianos, com exceção de “Noé” (Gn 5:29).
“Matusalém” (Gn 5:27), foi contemporâneo de “Adão” (Gn 2:7-20) por mais de 200 anos, e de “Noé” (Gn 5:29), por cerca de 600 anos.
“Enoque” (Gn 5:22), que andou com Deus, foi contemporâneo de Adão por cerca de 300 anos, e de “Noé” (Gn 5:29), por igual período, e assim, a verdade e revelação de Deus que dispunham, foi passada adiante por um período de 1656 anos.
Christian Treasury
Volume 5 – Dez/90
DEU TUDO
Charles T. Studd, foi um dos maiores jogadores de cricket da Inglaterra; seu sucesso e popularidade só cresciam. Ele planejava devotar sua vida àquele esporte. No entanto, ele encontrou o Senhor Jesus Cristo um dia, e curvou-se a Ele como seu Senhor e Salvador. Isso mudou completamente toda sua vida. Ele conheceu o Senhor Jesus Cristo quando estudava no Trinity College em Cambridge, Inglaterra. Após sua conversão, ele leu um artigo escrito por um ateu, e aquele artigo serviu para aguçar ainda mais a realidade de sua fé. O escritor declarava simplesmente que se cresse naquilo que os Cristãos professavam crer, ele daria tudo para colocar em prática a sua fé. "Pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória…" (Fp 3:8), escreveu o escritor ateu. "Eu consideraria que iria valer a pena uma vida de sacrifícios para ganhar uma alma para o céu…" eu sairia por todo o mundo pregando, quer fosse oportuno ou não, e minha mensagem seria: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8:36).
O raciocínio daquele escritor ateu marcou Charles T. Studd de uma maneira tão convincente, que ele decidiu viver uma vida em conformidade com aquilo que professava crer. A fama e as riquezas que lhe pertenciam foram trocadas por uma vida cheia de frutos como missionário na China e na África. O que aconteceria, meu amigo, se nós também nos determinássemos a viver uma vida compatível com aquilo que cremos?
The Christian Newsletter nº 125
PENSAMENTOS
Se Você Quiser
Se você quiser ser miserável, olhe para dentro de si.
Se você quiser ser distraído, olhe ao seu redor.
Se você quiser ser feliz, olhe para cima!
O teste para qualquer ministério é: "Porventura leva o coração a se ocupar com Cristo?"
Caminhamos sobre terreno perigoso todas as vezes que formulamos alguma doutrina baseada no Antigo Testamento, sem que haja suporte no Novo Testamento.
Há quatro passos que levam o crente a escorregar para o “mundo”: Ter “amizade do mundo” (Tg 4:4); ser manchado pelo “mundo” (Tg 1:27); “amar o mundo” (1 Jo 2:15-17) e ser conformado “com este mundo” (Rm 12:2). Tome cuidado! (Hb 2:1).
Há um "índice" onde podem ser lidos todos os assuntos de nosso coração: “(nossa) língua” (Tg 3:6).
Se você não reconhecer o senhorio de Cristo, jamais encontrará o verdadeiro lugar de reunião.
Uma pessoa é sábia se aprende com seus próprios erros, mas será mais feliz se aprender com os erros dos outros.
Uma Bíblia que está caindo aos pedaços geralmente é de alguém que não está caindo aos pedaços.
O diabo tem o maior prazer em arrumar a cama de quem vai dormir irado. A melhor maneira de cumprir o "irai-vos, e não pequeis" de Efésios 4:26; é não irar-se com nada a não ser com o pecado.
Mostre-me um coração que está aguardando por Cristo, e eu lhe mostrarei um par de mãos ocupadas com Ele.
“O fruto do Espírito” (Gl 5:22; Ef 5:9), não é algo que possamos produzir por nossas próprias forças. Somente a vida de Cristo em nós é que pode produzi-lo.
As duas grandes atividades de um santo são a fé e o amor, e ambas são exercidas fora de mim mesmo: fé para confiar n'Aquele que me ama, e amor para servir àqueles que Ele ama.
Dar ao Senhor, e em Seu nome a outros, não se trata de algo que nós fazemos; trata-se do resultado do que nós somos.
Nos caminhos de Deus não há atalhos.
"Eu nunca prego um sermão, sem pensar na possibilidade do Senhor usá-lo para chamar o último dos santos, que completará o número dos eleitos de Deus, e acarretará na volta do Senhor".
D. L. Moody (1837-1899)
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