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ÍNDICE
Breves Meditações Sobre os Salmos
Principalmente em Seu Caráter Profético
J. G. Bellett
Parte 2
Salmo 23
Este Salmo pode ser lido como uma meditação do Senhor Jesus enquanto Ele andava pela fé por este mundo. Ele aperfeiçoou a vida de fé, o Autor e Consumador dela, permanecendo como o Principal entre aqueles que obtiveram um bom testemunho por meio dela (veja Hebreus 11-12), para que possamos lê-Lo neste Salmo.
Ele Se encaminha à Sua jornada com total confiança, embora esta possa ser longa e difícil. Cada caráter de provação é sucessivamente antecipado – falta de provisão – necessidade de restauração – o vale sombrio da morte – a presença de inimigos. Mas os recursos da mão que O conduz são considerados suficientes a tudo, até que a jornada abençoadamente termine na casa do Senhor.
O Senhor conheceu a restauração da angústia de alma em João 12:27; e então Ele estava pronto para o vale pelo qual Ele passou; até que, na ressurreição, Seu cálice transbordou, Sua mesa foi estendida na presença de Seus inimigos, e Sua cabeça foi ungida, ou Sua consagração ao ofício foi aperfeiçoada. E o reino aos poucos exibirá esse cálice, essa mesa e essa unção, aqui antecipados em fé por Jesus.
Isso pode, no entanto, ser usado como a linguagem ou experiência de qualquer crente. Nós, que somos fracos na fé, podemos ansiar por perceber essa preciosa alegria e liberdade cada vez mais ricamente.
Salmo 24
Como o Salmo anterior nos deu o caminho do Senhor Jesus (e de qualquer santo em companhia, em espírito, com Ele) até a casa do Senhor, este agora nos dá o Seu caminho até o trono de glória. Pois havia em Sua perspectiva, como há na nossa, os dois objetos – a casa do Pai e o trono do reino. E esses Salmos traçam separadamente os dois caminhos até aquelas cenas felizes e brilhantes.
No início deste Salmo, o título do Senhor sobre a Terra é reconhecido: é d'Ele por criação. Assim, no jubileu, a figura desse mesmo reino vindouro, o Senhor afirmou Seu direito à terra (Lv 25:23). E depois que Seu título à Terra é anunciado, surge a pergunta: quem retomará o perdido de Adão sobre ela? Em outros termos, “Quem subirá ao monte do SENHOR?” pois “monte” é o símbolo do domínio (Is 2) e o domínio futuro ou milenar do Senhor será de Sião, aquele monte santo onde o Rei de Deus empunhará Seu cetro de governo universal (veja Salmo 2).
A pergunta é então respondida em termos que imediatamente apontam para Jesus; e Seus santos ou geração são unidos a Ele; e Seu título para tomar Seu trono de glória e domínio em Sião sendo assim estabelecido, Ele vem como no segundo advento para tomar posse.
Ele Se ofereceu para assumir esse trono quando estava aqui (Mt 21). E deve-se observar que, antes de nosso Senhor entrar pelos portões de Sião naquela ocasião, Ele exerceu Seus direitos como Senhor da Terra e sua plenitude (de acordo com o curso deste Salmo), ao reivindicar o jumento de seu dono sobre este fundamento: “O Senhor precisa dele” (Mc 11:3).
Mas, como sabemos, os cidadãos não queriam que Ele reinasse sobre eles; e agora, em Seu segundo advento, Ele fará valer o Seu direito no julgamento daqueles que uma vez O recusaram (veja Lucas 19:27).
Salmo 25
Esta é uma declaração como a que a alma de Davi poderia ter tido do outro lado do Jordão; pois lá ele estava sofrendo sob a mão de Deus pelo pecado, mas, em relação aos seus perseguidores, ele era irrepreensível. Um exercício variado de coração surgiria de tal condição. Ele às vezes se lembrava de seus pecados e desejava conhecer cada vez mais o próprio caminho da graça de Deus; às vezes, por outro lado, Davi invocava com a confiança da integridade. E essa é a sua maneira variada neste comovente Salmo – onde, embora o suplicante esteja consciente da integridade, como diante dos homens em seus sofrimentos, ainda assim sua condição e culpa, como pecador diante de Deus, são inevitavelmente trazidas à mente; e como uma alma assim vivificada para o senso do pecado, ele deseja conhecer o próprio caminho de Deus em graça ou misericórdia. E é apenas o pecador que totalmente aprende o caminho de Deus. É um mistério para todos os outros estudiosos. E como Israel agora, por causa da transgressão, O conhece como um “fogo consumidor”, assim nos últimos dias, com seu coração quebrantado e em arrependimento, eles O conhecerão como um “Deus misericordioso” (veja Deuteronômio 4:24-31).
Podemos presumir que será o suspiro dos santos judeus em breve. No Salmo, o versículo 22 realmente mostra que Israel é o que suplica aqui.
Os versículos 8-10 e 12-14 podem ser lidos como duas interrupções ao clamor do suplicante pela voz ou oráculo de Deus confortando-o. E não posso passar sem perceber que “o segredo” e “o concerto” do Senhor (v. 14) são o mesmo e significam o evangelho ou a graça de Deus em Cristo Jesus. Pois tal é o concerto de Deus e o segredo de Deus. Um dos nomes de Cristo é “Maravilhoso [ou Secreto – KJV]”, como sabemos (Jz 13:18; Is 9:6; veja também Deuteronômio 29:29).
Salmo 26
Esse parece ser do mesmo caráter que o anterior – uma declaração de Davi do outro lado do Jordão. Há, no entanto, mais expressão de retidão consciente para com os homens, e algo de seu anseio pela casa e congregação do Senhor, que, sabemos pela história, foi o desejo fervoroso de Davi (veja 2 Samuel 15:25-26), e aquilo que ele aqui antecipa será realizado.
O fato dele se lançar sobre a misericórdia e a redenção de Deus, em meio a essas suas afirmações de integridade, evidencia um estado de alma muito correto.
Ao ler isso como uma continuação do Salmo anterior, considero abençoado notar o avanço na experiência do pobre pecador crente; pois aqui, embora tenhamos a integridade pleiteada e, ao mesmo tempo, a misericórdia buscada, a confissão dos pecados é abandonada e as antecipações da casa de Deus assumidas.
Salmo 27
Ainda outra afirmação do mesmo suplicante na mesma condição. Mas há mais desejo pela casa de Deus, anseio pela arca e habitação do Senhor; e assim um avanço ainda maior na experiência e na liberdade da alma pode ser observado neste Salmo, como no anterior.
Este Salmo pode ter sido o respirar de nosso bendito Senhor enquanto Ele estava em silêncio diante de Caifás (Mt 26:63). Falsas testemunhas estavam então se levantando contra Ele, mas aqueles que vieram para devorar Sua carne já haviam caído por terra. (veja Mateus 26:59; João 18:6). Naquele momento, Ele também antecipou Sua glória (veja Salmo 27:6; Mateus 26:64) . E sabemos que, naqueles difíceis sofrimentos, Ele foi sustentado pela esperança (veja v. 13; Hebreus 12:2).
A mudança forte e abrupta na corrente da alma no versículo 7 é facilmente entendida pela história do Senhor. É exatamente o que se poderia esperar, ao deixar de testemunhar o favor divino expresso no jardim, para Se tornar cativo dos ímpios (Jo 18:6, 12).
Mas estou bastante preparado para recusar a sugestão que há muito foi feita por alguns que exercitaram seus pensamentos (e isso também em espírito de reverência) sobre os Salmos, de que se o Senhor for visto ou ouvido em um versículo de um Salmo, todo ele deve ser recebido como pertencente a Ele. A Palavra do Senhor a Davi por Natã em 1 Crônicas 17 seria testemunha contra isso, pois ali as palavras: “Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho” são aplicadas ao Senhor Jesus (Hb 1:5), enquanto ao mesmo tempo podemos nos assegurar mais plenamente de que todo aquele oráculo divino não poderia ser aplicado a Davi.
No último versículo, Jesus, por assim dizer, entrega uma palavra de exortação aos Seus santos, como fruto de Sua própria experiência, como posso dizer que Ele faz no final de Isaías 50, e ainda mais certamente no final de Mateus 11; e posso acrescentar que vemos um de Seus santos muito próximo a Ele no espírito que O anima aqui; pois aqui encontramos confiança, embora em meio ao alvoroço da guerra e dos problemas, apenas porque o coração estava voltado para uma coisa – o desejo de habitar na casa do Senhor. E “o mesmo espírito de fé” é encontrado em Paulo quando ele diz: “Pelo que estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor... Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Co 5).
E o próprio apóstolo, sob o Espírito Santo, mostra outra ideia semelhante entre ele e seu Senhor no capítulo que precede este (veja 2 Coríntios 4:13 e Salmo 116:10).
Salmo 28
O clamor de uma alma que começava a provar a amargura do abandono – de Deus estar “em silêncio” para com ele. Havia algo do toque do medo da morte sentido aqui, e o clamor saiu (vs. 1-5 – TB).
A resposta de Deus a tudo isso é então antecipada com louvor e intercessão adequada, abrangendo todo o povo de Deus, bem como o próprio suplicante (6-9).
Observo que os ímpios são vistos aqui muito semelhantemente como o Senhor olha para as cidades incrédulas, isto é, como não movidos pelas obras do Senhor (Mateus 11:20; veja v. 5).
É interessante notar aqui que o Remanescente, os piedosos eleitos em Israel, é tratado pelo Senhor de maneira muito diferentemente da que é tratada a nação incrédula. Jesus “guardou silêncio” para com eles (Mc 14:60-61 – ARA). Lá significou juízo. Aqui o Senhor responde aos piedosos.
Salmo 29
Esta é uma celebração do poder da “voz do Senhor”, que também é “o Deus da glória” (v. 3) E os últimos versículos nos permitem ver o repouso e ouvir os regozijos dos fiéis, enquanto esse poder está passando para a destruição dos ímpios. Como Noé na Arca enquanto as águas se espalhavam, ou Ló em Zoar enquanto o fogo era derramado sobre Sodoma, ou Israel dentro de suas portas pascais, enquanto o anjo passava pelo Egito com a espada, assim em seus aposentos onde, em breve, o Remanescente descansará (Is 26:20), e terá uma canção também, enquanto a vingança decretada segue seu curso (Is 30:32), nem um fio de cabelo perecerá.
O verdadeiro Israel aparece aqui, embora no meio do tumulto, em toda a calma de um povo que fez do Senhor seu santuário, despreocupados diante dos inimigos confederados, porque eles podem dizer: “Deus é conosco” (Is 8), e força e paz lhes são prometidas.
No início deste brilhante Salmo, os próprios poderosos são desafiados a reconhecer Jeová – como é dito aos reis da Terra: “Beijai o Filho” – antes que seja tarde demais. Depois disso, no Salmo 82, esses poderosos, agora declarados culpados em completa apostasia, são convocados a ouvir sua condenação e ouvir a sentença de justiça contra eles.
Salmo 30
Este Salmo pode ser lido como o louvor de Jesus ressuscitado celebrando Aquele que agora O redimiu da morte. Ele convoca os santos, por assim dizer, que O ajudem nesse louvor, e Ele repete algo de Sua experiência e de Seu clamor, quando estava sob o temor da morte (Hb 5:7), e então retoma Seu louvor, mostrando que a ressurreição havia aberto Seus lábios ou despertado Sua glória (veja também Salmo 116).
Mas a ressurreição do Senhor é, em um caráter, uma promessa da libertação vindoura de Seu Israel e, portanto, da ressurreição da nação. Isso deve ser lembrado ao ler este Salmo.
NOTA: – Uma conexão pode ser descoberta entre os Salmos 28, 29 e 30. Salmo 28 – O piedoso clama para ser libertado da morte, ou do poder da cova. Salmo 29 – O Senhor responde, como um terremoto, libertando o Prisioneiro (Mt 28:2; Ap 6, 11, 16; veja também Salmo 18:7). Salmo 30 – O libertado reconhece isso com louvor – que, assim como Deus agora havia quebrado Seu silêncio com tal voz de poder, também os resgatados quebrariam o silêncio deles com uma voz de louvor (compare Salmo 28:1 com Salmo 30:12.).
Salmo 31
Este Salmo ainda é a declaração do Senhor na ressurreição. Ele relata Seu clamor no dia em que foi designado ao matadouro, quando estava diante de Pilatos e dali foi levado para o madeiro amaldiçoado – quando entregou Seu Espírito ao Pai (v. 5; Lc 23:46). No versículo 10, devemos ler “angústia” em vez de “iniquidade”.
Ele foi então abandonado por todos: calúnia, medo e reprovação estavam por todos os lados; Seus olhos, Sua alma e Seu corpo foram consumidos, e Ele foi tratado como já morto, deixado de lado como um vaso quebrado. Como alguém expressa: “Duvido que Cristo fale pessoalmente” nos versículos 17-18. Pois Ele não estava tratando com os Seus inimigos em julgamento, mas em graça, quando Ele estava aqui. Ele, no entanto, Se entregava Àquele que julgava com justiça (1 Pe 2:23).
Mas na hora mais mortal daquela noite horrível, Ele lembra como confiou em Deus e Se lembrou de Suas misericórdias anteriores. E do v. 19 até o fim, não é mais o relato de Seu clamor nas horas de Pilatos e do Calvário, mas a expressão de gozo e louvor pela ressurreição presente. Ele agora havia trocado a sepultura e o pó da morte pelo poder de Deus em ressurreição. E agora também Ele Se lembra da benevolência do Senhor mostrada a Ele na “cidade segura [fortificada – TB]”, o lugar dos confederados, do qual Ele havia sido libertado, mas para o qual Ele irá em breve, não como um cativo, mas como um vingador (veja Salmo 60, Salmo 108).
Quão repentina e vigorosamente uma nova corrente de afeições se estabelece no v. 19 e continua até o fim! Não é essa, muitas vezes, a mesma experiência dos santos provados?
E com base em Sua ressurreição, Ele convoca a todos os santos que amem o Senhor e tenham bom ânimo, extraindo uma palavra de exortação para eles (como é comum com Ele) de Sua própria experiência (veja Salmo 27, Salmo 34). Mas eu ainda falaria da ressurreição do Senhor como o penhor de Israel, como acabei de fazer no Salmo anterior, e isso deve ser lembrado aqui.
Salmo 32
Este Salmo é de grande valor para a alma. Um pecador perdoado revisita sua experiência, e desta forma a verdade mais preciosa é transmitida. Pode ser chamado de expressão de um pecador em ressurreição espiritual presente, assim como a anterior tinha sido de Jesus em ressurreição. O pecador celebra a bem-aventurança de sua libertação das profundezas, da culpa do pecado e do poder de um coração não humilhado e enganoso. Até mesmo a tentação de ser enganoso se foi – o motivo do segredo foi removido. “Orgulho”, como disse alguém, “até então era o guardião dos segredos malignos da alma, é expulso de sua confiança e obrigado a deixar todas as coisas abertas ao escrutínio. O momento é de investigação e julgamento, e o resultado é aquela paz e confiança, aquela quietude do espírito, que nunca é desfrutada até que o coração do homem tenha tratado retamente consigo mesmo”. É isso que temos aqui – o fruto do espírito de confissão e a aplicação à consciência pela fé do valor e do sangue de Jesus. O gozo e a confiança de tal alma ressuscitada são estabelecidos. A voz do Senhor é então ouvida por um momento, interrompendo com uma rica promessa, e no final, este pecador ressuscitado dirige palavras de advertência aos outros, como no Salmo anterior, o Jesus ressuscitado termina fazendo o mesmo.
Esta é a experiência ou expressão adequada de toda alma perdoada, e foi, sem dúvida, eminentemente a de Davi. Grande valor é dado a ele em Romanos 4:7. Todo aquele que é “santo” (v. 6), cuja religião é segundo Deus, encontra sua confiança brotando da verdade ou doutrina transmitida por esta experiência de Davi.
E a “ausência de dolo” de Natanael foi a mesma deste Salmo, creio eu, e não de mera disposição natural (Jo 1:47). Ele esteve sob a figueira no espírito deste Salmo, como um convicto, derramando seu coração, e isso libertou seu espírito do dolo ou engano, pois aqui aprendemos que um espírito que confessa é um espírito sem dolo. O Senhor, ao vê-lo, o reconhece nesse caráter, e Natanael não recusa a saudação. Jesus esteve no segredo de sua alma enquanto estava debaixo da árvore (como Ele estava no segredo da alma de Zaqueu na figueira brava – ou sicômoro), e eles se encontram, como o Senhor e o suplicante se encontram neste Salmo muito abençoado.
Ele ainda será encontrado assim. Ele conhecia esse israelita sem dolo sem a apresentação de Filipe; e Jesus ainda, em espírito, conversa com a alma sobrecarregada que derramaria suas convicções no lugar solitário, ou sob a sombra distante (como da figueira) para a qual a consciência o afastou.
Salmo 33
As palavras finais do Salmo anterior são aqui retomadas logo no início. Isso, em certa medida, os conecta e nos convida a ler este como uma continuação.
Tendo os justos sido ordenados a se regozijarem no Senhor, o grande propósito moral deste Salmo é dar tais visões do Senhor que possam constranger ao regozijo – para mostrá-Lo como Tal, que se possa dizer: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus” é Ele. Pois não basta somente receber a ordem de amar ou de se regozijar, mas o Objeto adequado a essas afeições deve ser apresentado – como aqui. Oh, que nosso coração possa aplicar-se a isso de bom grado!
Podemos ler as livres e eloquentes reflexões da alma neste Salmo, como uma doce amostra daquela habilidade moral que um pecador conscientemente aceito tem para refletir sobre as palavras, as obras e conselhos, a graça e a glória de Deus, e todas as coisas semelhantes.
Profeticamente, esse parece ser o gozo da nação judaica ter Jeová como seu Deus novamente, depois de terem testemunhado a derrota dos pagãos e o segundo estabelecimento do mundo. Isso, portanto, nos levaria a ver que o Remanescente são “os justos”.
Mas todo esse gozo é apenas antecipado; pois do versículo 12 até o fim, parece que a nação ainda estava apenas esperando por tudo isso, e que o curso do presente mundo mau ainda estava acontecendo. Mas eles fecham com uma expressão de grande confiança, que este estado de ressurreição da nação seria de fato cumprido no bom tempo de Deus.
Salmo 34
Esta é outra declaração em espírito do Senhor Jesus Cristo após Sua ressurreição.
Ele louva a Deus por essa libertação (vs. 1-2). Ele pede aos Seus santos que se juntem a Ele nisso (vs. 3-7). Ele os exorta a confiar em Deus por causa disso; e a se assegurar, com base em Sua ressurreição, de que o Senhor realmente é Bom. (vs. 8-10; ver v. 8 e 1 Pedro 2:3).
Sabemos que o versículo 20 foi cumprido na Pessoa do Senhor Jesus (veja João 19:36).
Então, Ele reúne a família ao Seu redor para ler para ela, por assim dizer, as lições que, como na ressurreição, por experiência, Ele era abundantemente competente para lhes ensinar. Ele lhes diz como caminhar pela vida para escapar de muitas de suas aflições, mas que, se os problemas vierem (como virão), mesmo por causa de sua retidão, eles podem, como por Seu exemplo, sendo agora ressuscitado dentre os mortos, assegurar-se do livramento final, e que nenhum dano real jamais será sofrido por eles, mas que, em vez disso, seu Redentor também será seu Vingador, destruindo aqueles que os aborrecem.
Assim, Jesus, por Sua ressurreição, conforta e instrui Seus santos ou discípulos. Ele compartilha com eles (como em tudo o mais) o proveito de Sua própria experiência (veja os vs. 12-15 e 1 Pedro 3).
E esta é a Sua mente em Mateus 11:29-30 – “aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve”. Dizendo a eles o que Ele mesmo já havia provado, que o caminho de um coração manso e humilde levava a alma a muito descanso, tornando o jugo suave e o fardo leve. E quem de nós, amados, não prova isso?
Posso acrescentar, sugerido pelo versículo 6, quão eminentemente o Senhor Jesus, embora Rico “em glória” (veja Filipenses 4:19), era “o Pobre”, como é chamado novamente no Salmo 35:10 e no Salmo 41:1. Nós O conhecemos assim nos Evangelistas, bendito seja Seu nome!
Salmo 35
Este Salmo pode ser lido como uma reflexão silenciosa da alma aflita de Jesus enquanto Ele estava diante de Pilatos. Ele roga a Deus tanto por Seu próprio resgate quanto pelo julgamento e confusão de Seus perseguidores. As “falsas testemunhas” do versículo 11 são ouvidas em Mateus 26:59, os “abjetos [caluniadores – JND]” do versículo 15 são vistos em Lucas 23:1-2; a palavra do Senhor: “e Eu não o sabia”, no versículo 15, é verificada por Sua atitude em Lucas 22:64; Sua “quietude” (“os quietos da terra”), do versículo 20, é vista em Mateus 12:19; 22:21, e isso mostra que a acusação contra Ele em Lucas 23:2 foram as “palavras enganosas” (JND) aqui referidas por este bendito Sofredor e Testemunha no versículo 20.
Uma coisa especialmente pode ser observada aqui — que o Senhor Jesus roga por julgamento sobre o perseguidor e o inimigo. Mas devemos estar preparados para isso; pois nos Evangelhos temos o mesmo; apenas ouça de Seus lábios por um momento – “Pai justo, o mundo não Te conheceu”. Nessas palavras, Ele não pronuncia o pedido completo que encontramos ocasionalmente nos Salmos, mas tão distintamente Ele deixa o mundo em sua incredulidade e rejeição da graça diante do justo julgamento. De modo que essas palavras em João 17 são do espírito daqueles Salmos em que o Messias roga por julgamento. E se nos Salmos Ele for ouvido até mesmo pronunciando julgamento, isso não estaria além de Sua linguagem nos Evangelhos – “Eis que a vossa casa vos ficará deserta”; ou, como Ele novamente diz: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!” ou ainda mais plenamente nas solenidades de um tribunal em Mateus 23. Suas palavras a Caifás em Mateus 26:64 têm o mesmo sentido. Além disso, somos informados de que o Senhor Se entregou ao Justo Juiz (1 Pe 2:23), sem injúria ou ameaça. Este Salmo parece ser uma amostra de tal comunhão. No Salmo 69, com o comentário que fazemos sobre ele em Romanos 11, encontramos o mesmo (veja também o Salmo 40:14-15).
Mas o Espírito de Cristo no Remanescente será ouvido mais distintamente clamando por julgamento, à medida que a iniquidade do mundo encher sua medida em seus dias. Encontramos isso não apenas nos Salmos, como aqui, mas em Lucas 18:1-8; Apocalipse 6:10, e outras Escrituras.
Podemos notar que todos os “ossos” foram guardados no Salmo anterior (veja Salmo 34:20); aqui eles são apresentados como louvando e dando graças (v. 10).
Salmo 36
Os elementos deste Salmo são muito simples. Ele não depende de alguma circunstância especial, mas é a linguagem de qualquer alma forçada pela violência dos ímpios a se refugiar na grandeza e nas excelências de Deus. Mas, especialmente, é a experiência do Remanescente que terá de enfrentar a violência do maligno nos últimos dias.
Essa experiência dos santos é muito abençoada. Isso prova que do comedor saiu comida, e doçura saiu do forte; que quando eles são fracos, como o apóstolo descobre, então eles são fortes: pois a violência dos ímpios só nos faz conhecer ainda mais a bem-aventurança do Deus vivo, e assim obtemos despojo do forte.
E que ainda que a força do inimigo seja tão grande quanto possível, ainda assim os santos em espírito, olhando para Deus, dizem: “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.
Essa é uma meditação bonita e reconfortante. O salmista olha primeiro para a grandeza da maldade dos ímpios e depois para a magnificência da bondade e glória de Deus. Tudo é grande aos olhos desse adorador, e ele sente que pode deixar sua causa com Deus, antecipando a derrubada total de todos os poderosos em sua maldade.
Aqui, o adorador reconhece que a causa de toda essa iniquidade humana, que ele estava contemplando, está no fato da rejeição ao temor de Deus; e talvez ele admita que a fonte, até mesmo o coração, esteja nele mesmo como em qualquer outro homem (Rm 7:17-18; Mt 15:18-20). De fato, este Salmo ajuda o apóstolo com seu inspirado veredicto divino contra o homem, como uma criatura totalmente corrompida (veja v. 1; Romanos 3:18).
Salmo 37
Esta é a meditação de um crente, ou adorador, ao observar a cena moral ao seu redor, chamada pelo apóstolo de “o curso deste mundo”, à luz que a fé e a esperança lhe proporcionam; e na calma e certeza dessa luz, ele profere uma palavra de rico consolo. Ele fala do futuro e do ajuste final das coisas entre os justos e os ímpios, embora tudo possa parecer muito diferente por um tempo.
O peso deste Salmo é a remoção dos ímpios da Terra e a concessão dela como herança aos mansos. Poderia ter como lema as palavras de Isaías – “Dizei aos justos que bem lhes irá... Ai do ímpio! Mal lhe irá”.
E ele nos fala de sua experiência como uma espécie de selo dessa verdade; pois em sua observação de pessoas e circunstâncias, ele pôde dizer que nunca tinha visto os justos desamparados no final nem os ímpios prósperos no final, embora por um tempo eles se espalhem como a árvore verde (vs. 25, 35). Portanto, ele deseja que os justos tenham o coração encorajado, embora as tristezas atuais possam ser muitas e variadas. O fim deles será a paz, quando os ímpios forem exterminados; a herança deles virá e durará para sempre, quando o dia (ou seja, o julgamento) dos ímpios vier (vs. 13, 18).
A mansidão, que assim culmina na herança (veja Mateus 5:5), parece ser aquele temperamento de alma que nos torna dispostos a não ser nada até que a herança prometida venha. O Senhor Jesus (em Quem estava toda a perfeição) expressou isso plenamente. Embora Senhor de todos, Ele Se contentou em não ter nada; e o reino é a recompensa de Sua mansidão (Mt 21:5). Os santos, em sua medida, são os mansos agora. O Remanescente será assim em seus dias (Sf 2:3). Este Salmo pode, portanto, ser lido por todos nós; pois a experiência de todos os escolhidos de Deus é, em essência, a mesma; mas o Remanescente, numa medida mais completa, precisará do consolo desse Salmo quando vier a ser pressionado pelas bem-sucedidas confederações dos ímpios nos últimos dias. O versículo 11 e Mateus 5:5 mostram que os discípulos do Senhor Jesus e o Remanescente dos últimos dias têm muita identificação moral.
Assim, este Salmo nos ensina a não viver para nenhuma esperança que não seja a ressurreição e o reino – e somente são divinamente sábios, aqueles que atentam “para o seu fim”. Uma lição simples, séria e santa – uma lição feliz para os estrangeiros e peregrinos de Deus. “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”.
Salmo 38
O arrependido neste Salmo sente tanto o peso da justa ira de Deus quanto a amargura da inimizade imerecida por parte do homem (vs. 4, 19-20). Combina com o sofrimento de Davi em relação a Absalão por causa de seu pecado contra Deus no caso de Urias. Ele fala como um leproso fora do arraial. E tal é a figura de um pecador convicto, ou de um santo sob disciplina. Ele está separado como alguém contaminado e contaminador; mas Jesus pode nos encontrar naquele lugar, embora ninguém mais possa. Como uma pobre mulher convencida de seus pecados disse uma vez: “Eu sou má demais para qualquer um, exceto Jesus”, e Aquele bendito Salvador, como sabemos, ao mesmo tempo “Imaculado” e ainda assim “feito pecado”, foi levado ao matadouro sem abrir a boca (v. 13, Mt 26:63, 27:12, 14). Ele não respondeu à acusação dos ímpios, mas silenciosamente, ou na inexpressada reflexão de Seu espírito, Se entregou Àquele que julga com justiça. Isso foi expresso em Davi em relação a Simei (2 Sm 16). Davi não se identificou com o conselho dos filhos de Zeruia – sua alma não tinha empatia nisso.
E este Salmo pode ser lido como uma expressão do Remanescente; pois eles se lembrarão e tomarão sobre si o pecado de sua nação ao derramar o sangue justo de Jesus, embora pessoalmente não tenham participado dele (Zc 12:10). Pois o pecado de Davi em relação a Bate-Seba e Urias pode representar o pecado de Israel em relação a Jesus; sangue inocente foi derramado e alianças impuras foram formadas. O povo judeu gritou: “Crucifica-O, crucifica-O”, e ao mesmo tempo disse: “Não temos rei, senão o César”. E então, podemos dizer em certo sentido e medida, que as tristezas subsequentes de Davi nas mãos de Absalão representam as tristezas do Remanescente nas mãos de seu inimigo, o rei voluntarioso; e isso faz com que os mesmos Salmos penitenciais sejam proferidos tanto por Davi quanto pelo Remanescente .
É digno de consideração se as palavras “escorrega o meu pé” no versículo 16 não sejam mais uma calamidade do que uma transgressão (veja Deuteronômio 32:35; Salmo 94:18).
Salmo 39
A conduta de Davi em relação a Simei também pode explicar este Salmo. Ele estava mudo enquanto os ímpios estavam diante dele. Ele estava aceitando o castigo de seu pecado, curvando-se sob a poderosa mão de Deus em silêncio. Seu arrependimento, como em 2 Samuel 15-19, é realmente uma visão muito comovente.
O caminho da alma neste Salmo é muito abençoado e está dentro do alcance da experiência dos santos em todos os momentos. Deve ser traçado assim: Sob provocação, o crente está decidido, na força de Deus, a ficar em silêncio, embora isso a princípio tenha despertado e criado a tristeza interior (vs. 1-2). Mas o Espírito, no tempo oportuno, trouxe alívio e deu, à lista das afeições espirituais na alma, uma energia aumentada e viva. Pois este é o Seu caminho – se a natureza for contida, o novo reino se levantará em poder. Assim foi aqui. Durante o silêncio imposto sobre a natureza, esse calor do coração renovado é aquecido e produz frutos abençoados para esse silêncio e mortificação; pois os lábios são abertos, não para insultar novamente, nem para ameaçar aqueles que o faziam sofrer, mas para se entregar a Deus, reconhecendo sua própria indignidade e tomando todo esse sofrimento como vindo da mão de seu gracioso Deus para o bem (vs. 3-11). Sua alma, por meio de todo esse exercício santo, aprende a se ver em companhia celestial com o próprio Deus nesta Terra, e ele só procura força para percorrer o resto de sua jornada de peregrinação com maior entusiasmo e vigor (vs. 12-13).
Isso se aplica a todos nós; e bem-aventurada é a alma de qualquer santo assim saudavelmente exercitada. Deveríamos conhecer esses caminhos do Espírito melhor do que conhecemos. Assim, o Israel arrependido do último dia aceitará a punição de seu pecado (Lv 26:40). Então, em silêncio, Jesus recebeu nosso castigo (Is 53:7; Mt 26:63; Sl 38).
Simei fez a parte daquela multidão injuriosa que cercou o abençoado Sofredor diante do governador e no Calvário, insultando-O com os lábios e rangendo os dentes contra Ele. Aitofel foi o Judas dessas cenas em 2 Samuel (veja Salmo 109).
Salmo 40
Provavelmente este Salmo foi proferido por Davi na mesma ocasião. Mas o Espírito que falou por meio dele, em suas circunstâncias logo deixa Davi para proferir apenas o coração de Jesus (vs. 6-8; Hb 10:5-7).
Os versículos de abertura nos dão a antecipação do Senhor de Sua ressurreição ou libertação; Ele depois relembra Sua dedicação própria, Seu ministério, Suas tristezas e Seu clamor. Ele nos diz que esperou pacientemente pela ressurreição. Ele poderia, sabemos, ter afirmado Seu poder divino; mas esperou até ser ressuscitado “pelo sangue do concerto eterno” (Hb 13). Assim era Ele, como diz neste Salmo, o Pobre e Necessitado – Aquele que dependia de Deus para tudo – Aquele que esperava pacientemente no exercício de fé.
Como em outros Salmos, Ele confessa os pecados que tomou sobre Si. Pois tal confissão justifica a Deus e é uma aceitação graciosa do que havia sido colocado sobre Ele, para que possamos ter forte consolo em conhecer a realidade da imputação de nossos pecados à Sua conta; como o sumo sacerdote, sob a lei, confessou os pecados de Israel na cabeça do bode expiatório.
A multidão inumerável dos pensamentos de Deus (veja também Salmo 139) expressa de uma forma admirável a diligência e o deleite de Deus sobre Cristo e Seus redimidos, como se esse Objeto fosse toda a Sua preocupação e o Centro de todos os Seus conselhos. Quem dera soubéssemos apreciar esta verdade como deveríamos! (veja o Salmo 70 em conexão com os versículos finais deste.)
Salmo 41
Este Salmo também se ajusta a Davi na mesma aflição. O seu início parece falar a respeito de Barzilai, que nos dias de Absalão, Aitofel e Simei, levou em consideração o aflito Davi (2 Sm 17:27, 29). Ele então pleiteia contra seus inimigos e termina com a antecipação de sua própria libertação e a confusão deles para o louvor de seu Deus, o Deus de Israel.
Mas Jesus certamente está aqui, como nos outros. Não poderíamos, não ousaríamos, não o veríamos, no entanto, no versículo 4; e isso me lembra o que já observei no Salmo 27. As filhas de Jerusalém (Lc 23) podem ser consideradas como ocupando, em certa medida, o lugar de Barzilai, como Judas ocupa o de Aitofel, ou a multidão de Simei. E elas moveram a empatia do Senhor, como Barzilai fez com Davi. Deram-Lhe como se fosse um copo de água fria, e isso recebeu sua recompensa. Mas Barzilai é um padrão de todos os que agora, no dia de Sua rejeição, reconhecem o justo Jesus; a quem Ele diz: “vós sois os que tendes permanecido Comigo nas Minhas tentações”.
E bem-aventurado é aquele que assim olha para o mistério do Salmo anterior, e considera o pobre e necessitado Jesus, e que pela fé lança sua sorte com Ele. “Bem-aventurado é aquele”, como Ele mesmo diz, “que não se escandalizar em Mim”. E, no entanto, o orgulho da vida e o curso deste mundo apóstata fazem com que seguir “este Aflito” (ARA) não seja uma coisa fácil ou agradável.
NOTA: – Aqui termina o primeiro dos cinco livros em que os Judeus organizaram os Salmos.
Os Salmos 42-49 constituem uma pequena série ou volume. Diz-se que todos eles são “para os filhos de Corá” – uma indicação de que estão conectados uns aos outros. Eles podem ter sido compostos em momentos diferentes, mas isso não importa; o Espírito de Deus os apresentou a nós juntos, e eles assim seguem numa sequência de modo que um assunto seja devidamente desdobrado neles.
Pode-se dizer que o assunto é este: “As tristezas do Remanescente Judeu no último dia, seus triunfos e, em seguida, seu gozo e glória em Sião como cabeça das nações sob seu grande Rei.”
Salmo 42
Este Salmo nos dá a lamentação de um suplicante que está em tristeza por causa da separação da casa de Deus, por causa do opróbrio de seus inimigos e por causa da lembrança do gozo que é agora passado. Ele é, no entanto, capaz de se encorajar em Deus e esperar pelo futuro.
A tristeza de Davi nas mãos de Absalão era semelhante a esta; pois nos lembramos de como ele foi então expulso para além do Jordão, e como ele enviou de volta Zadoque e a Arca de Deus para Jerusalém. Todo o seu gozo estava na habitação de Deus; mas ele pecou, e sua alma reconheceu que o gozo não era sua porção apropriada então (2 Sm 15).
Mas em tudo isso, podemos dizer: tal como o rei, assim o povo. O povo, o verdadeiro Israel de Deus, no último dia chegará a tal tristeza e desejo por Deus. Eles lamentarão profundamente como pombas – como pombas dos vales, todas elas gemendo, cada uma por sua iniquidade (Ez 7:16).
O Espírito de Cristo, em plena empatia por eles (pois em todas as suas aflições Ele é afligido), conduzirá a alma do Remanescente nesses exercícios, tornando-os Seus próprios. O desafio do inimigo ao indivíduo suplicante: “Onde está o teu Deus?” (v. 3) nos é dado em Joel 2:17, como dito pelos pagãos ao Israel de Deus: “Onde está o seu Deus?”.
Mas o espírito deste Salmo pode ser o fardo de qualquer justo e aflito. E toda essa tristeza dá exercício de alma diante de Deus e promove a disciplina do deserto. Dá conhecimento dos recursos de Deus, que nunca tinham sido trazidos de outra forma por Ele, ou conhecidos por nós.
Salmo 43
Este Salmo é muito semelhante ao anterior. O caráter do inimigo talvez seja mais definido, e o rei voluntarioso ou o iníquo, e a nação apóstata. As angústias do Remanescente justo, sem dúvida, são vistas pelo Espírito.
No quebrantamento de seu coração nestes Salmos, o suplicante derrama palavras interrompidas; às vezes dirigindo-se a Deus, depois à sua própria alma e depois ao inimigo que o estava afligindo. A provação de qualquer crente se expressa muito naturalmente de maneira semelhante; e todos nós, devidamente esperando por Jesus e sentindo o que o mundo é sem Ele, devemos encontrar nossa empatia nesses Salmos. Todos nós deveríamos estar conscientes de que temos lágrimas para beber se as correntes das águas de Deus não estiverem conosco.
Salmo 44
Aqui a lamentação passa a ser a lamentação de muitos. Eles estão na consciência da integridade, embora em grande tristeza; mas eles se lembram das misericórdias de Deus para com seus pais, e sobre isso eles apelam para Ele.
É surpreendentemente o clamor de pessoas martirizadas, ou daqueles que estavam sofrendo nas mãos do homem por causa da justiça, e não por qualquer iniquidade ou mal que tivessem cometido. Tal era Davi quando afligido por Saul; tal será o Israel piedoso quando afligido pelo ousado poder incrédulo do último dia; e tal, não precisamos dizer, era Jesus, a Testemunha perfeita da justiça contra as obras do mundo (Jo 7:7). Mas assim, em nossa medida, todos nós devemos ser, ao recusar o curso deste presente mundo mau e tomar o lugar separado de Jesus.
Há um avanço na experiência da alma aqui. Nos dois Salmos anteriores (42 e 43), tinha sido antes o clamor de um arrependido, justamente separado da casa de Deus, como Davi nos dias de Absalão; mas aqui está o clamor dos mártires.
Este Salmo mostra surpreendentemente que a Escritura, principalmente ou profeticamente pertencente a um povo em particular, pode ter aplicação moral ou geral; pois o versículo 1 mostra claramente que esta é uma declaração Judaica, mas Paulo a aplica a todos os santos (Rm 8:36 e v. 22). E ele sugere que, como é o bendito ofício do Espírito Santo manter a alma na percepção do amor de Deus (Rm 5:5), nada será tão forte contra nós, como é o Espírito Santo por nós, mantendo esse amor (Rm 8:39).
Uma diferença, no entanto, entre o suplicante no Salmo e o apóstolo na Epístola é esta: o salmista obtém confiança presente na tristeza do que os pais haviam contado sobre as misericórdias de Deus nos tempos antigos; o apóstolo obtém a sua de ser capaz, por meio do Espírito Santo, de traçar os conselhos de amor e glória de Deus para consigo mesmo e para com todos os que amam a Deus – o chamado de acordo com Seu propósito. Então, posso observar, há uma diferença na afeição dos dois: em um é o temor, que vem do conhecimento de que Deus sonda o coração; no outro é o amor, que vem do conhecimento de Seu amor imutável.
Salmo 45
O Messias em Sua segunda vinda é celebrado aqui; e isso forma adequadamente a resposta graciosa do Senhor às lamentações do Remanescente proferidas no Salmo anterior, e ao seu clamor lá (Sl 44:26) para que o Messias venha como libertador a Sião.
O coração e a língua encontram uma obra pronta e alegre quando o Rei, em Sua formosura, se torna seu assunto. Pois em tal tema, “o habilidoso Escritor” (ARA), o Espírito Santo, está em Sua devida obra. Ele está tomando as coisas de Cristo para nos mostrar. E a mente do santo também está tranquila. Como disse um dos nossos próprios poetas, falando das coisas de Jesus,
“Meu coração, minha mão, meu ouvido, minha língua,
Aqui está um alegre trabalho para vocês”.
Mas, ao passar para o Senhor como Rei, o coração e a língua do profeta param por um momento sobre Sua Pessoa e ministério nos dias de Sua carne. E pode ser que Sua glória presente, como Sacerdote nos céus, esteja implícita nas palavras: “Por isso, Deus Te abençoou para sempre”. Mas rapidamente tudo é deixado de lado para vê-Lo, como o rei Davi, lutando a batalha do Senhor pela causa da verdade, da mansidão e da justiça, e limpando a terra de todos os obreiros da iniquidade; e então como o rei Salomão, assentado no trono da glória. Deus O consagra ao ofício, reconhecendo a justiça como Seu título, e todos O saúdam com amor, como o daquela que uma vez quebrou seu vaso de alabastro de unguento sobre Sua cabeça (vs. 8-9). Jerusalém, a rainha mística, também é abordada; e as nações, suas companheiras, destacam o gozo e a glória do rei.
Mas há algo impressionante em relação a esta rainha. Ela é vista como vindo, como qualquer pecador dos gentios, de algum lugar de contaminação que ela é exortada a deixar para trás (Dt 21:13). Isso nos fala do caráter no qual Jerusalém será finalmente recebida, como um pródigo retornado; e assim o rei desejará muito sua beleza. Pois neles está todo o Seu prazer. É Sua própria beleza que Ele vê nos tais – a beleza que Ele mesmo colocou sobre eles – as sandálias, o anel e a melhor roupa.
Neste Salmo, o título do Senhor é adequadamente reconhecido como subsistindo em Sua justiça (v. 7); mas o título de Jerusalém, o título da rainha, como o de cada pecador, é apenas por graça. Isso é justo e belo. E talvez o livro de Cantares nos deem os exercícios dessa filha ao considerar, como ela é aqui exortada, passando pela disciplina de coração em preparação para essa união com o Rei.
Observe que a rainha é a Jerusalém terrenal, não a celestial; porque, primeiro, seu casamento é com o Rei, não com o Cordeiro; segundo, seu casamento segue, não precede, a vitória. Os Judeus, em seus escritos antigos, falam de uma Jerusalém acima e uma Jerusalém abaixo, e de uma ser como a outra – de Jerusalém sendo construída no firmamento assim como Jerusalém na Terra.
Podemos ler os versículos 16-17 como endereçados ao Rei – “Teu” no versículo 16, bem como no versículo 17, estando no gênero masculino.
Salmo 46
Aqui, como consequência necessária da segunda vinda que, como vimos, acabara de ser celebrada ou antecipada, a lamentação do Remanescente torna-se em louvor e alegria. Então, Deus Se tornou seu refúgio. Por Seu braço, o inimigo foi aquietado. A paz flui como um rio, e a lança é transformada em uma foice. O monte, de acordo com Mateus 21:21, foi lançado ao mar, enquanto os eleitos estavam em seus aposentos, e agora relatam tudo isso. Nada que cause terror os toca. Eles podem falar sobre as águas que os alegraram ao invés de águas que os afogassem. Eles triunfam na desolação, ao invés de perecer por ela; pois, ninguém menos que o próprio Deus tem sido o refúgio deles. “Onde está teu Deus?” tem sido a reprovação do inimigo, e a resposta é devolvida a ele no triunfo deste Salmo.
Os julgamentos sobre os ímpios precedem o reino, como este Salmo e toda a Escritura nos ensinam; pois em breve, a justiça se ligará ao poder, e então o mal será julgado; e depois toda a Terra será governada em paz. A justiça empunhará primeiro a espada, e depois o cetro.
J. G. Bellett
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