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Jó - O Homem e Seu Caráter (Outubro de 2024)

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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


S. Ridout (adaptado)

J. N. Darby

W. J. Prost

W. J. Prost

T. Mather Christian Treasury, Vol. 1

W. J. Prost

C. Stanley (adaptado)

W. Kelly

Mensagens do Amor de Deus, 1960

G. Morrish e Mensagens do Amor de Deus, 1960

W. Kelly

J. T. Mawson

L. Beckwith

 

 Jó – O Homem e Seu Caráter 


O caráter de Jó é descrito por quatro adjetivos. Ele era “perfeito” (JND), completo e de caráter harmonioso; humanamente falando, não havia nele nada desigual ou que faltasse. Muitos homens têm excelentes características, mas são deficientes em outros elementos que compõem um homem completo. Eles são, por exemplo, verdadeiros, mas carentes de bondade; amáveis, mas inclinados a serem fracos. Jó era um homem bem equilibrado. Também, ele era “íntegro” (ARA). O que descreve seu relacionamento com os outros. A justiça marcava seus caminhos, como ele mesmo sabia muito bem. E mais, ele era “temente a Deus”; esse é o “princípio do conhecimento” (TB) e isso deve ser considerado em seu pleno valor. Jó não era, como alguns pensavam, um homem não regenerado; havia vida em sua alma. Ele era um filho de Deus, não um pecador longe d’Ele. A menos que isso seja visto, muitos dos exercícios pelos quais ele passou perderão o significado. Por fim, ele “desviava-se do mal”; seu comportamento exterior correspondia ao estado de seu coração. Tudo isso era moralmente excelente; não era a falsa pretensão do hipócrita, mas o caráter genuíno de alguém de quem Deus diz: “Ninguém há na Terra semelhante a ele”.

  

S. Ridout (adaptado)

 

Deus por Nós 


O Cristão, tendo a redenção de seus pecados e o penhor e conforto do Espírito, passa a aprender que Deus é por ele. Não sabemos o que pedir em oração como deveríamos. Temos desejos espirituais quanto ao bem e a percepção do mal ao nosso redor, embora nossa inteligência não seja clara o suficiente, mas Ele (o Espírito) intercede em nós de acordo com Deus. Não sabemos qual é a melhor coisa a pedir – algumas coisas não podem ser remediadas até que o Senhor venha – mas, embora não saibamos o que pedir, sabemos que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). Sobre isso, podemos contar com uma garantia infalível.

 

Nesse sentido, Jó é um livro maravilhoso. Nele nos é dado ver como essas tratativas divinas são realizadas. O trono de Deus está estabelecido, os filhos de Deus comparecem diante d’Ele, e Satanás também comparece. Então vêm os pensamentos de Deus sobre Seu servo, “quanto ao SENHOR, Seus olhos passam por toda a Terra, para mostrar-Se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele” (2 Cr 16:9). Mas devemos esperar o tempo de Deus, e então veremos “o fim que o Senhor lhe deu”, pois Deus estava observando o tempo todo. Veja que toda a discussão sobre Jó começou com Deus. Ele disse para Satanás, “Observaste tu a Meu servo Jó? Porque ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1:8). Deus o tinha observado. Satanás diz: “Porventura, não o cercaste Tu de bens”, então por que ele não deveria Te temer? Então Deus permite que Satanás o atinja. Deus permite que Satanás tome tudo o que Jó tem: Seus servos são mortos, depois seus filhos também são, sua fortuna se vai. Então Jó diz: “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 1:21). Então Satanás diz: “Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida”! Então Deus diz: “Eis que ele está na tua mão; poupa, porém, a sua vida”. Então Satanás o fere com feridas dolorosas, de modo que ele se torna miserável e o escárnio de seus vizinhos. Sua esposa quer que ele amaldiçoe a Deus e morra, mas em tudo isso Jó não peca; ele recebeu o bem das mãos do Senhor e não receberá o mal? Então eu entendo esse fato: Tudo o que Satanás fez contra Jó falhou inteiramente, exceto que o livrou inteiramente da acusação de Satanás e da acusação de hipocrisia. Tudo o que Satanás podia fazer, ele fez, mas não podia fazer mais do que lhe foi permitido fazer.

 

Mas agora vemos como Deus estava cuidando de Jó. Jó estava cheio de si próprio. Ele estava se comportando de forma abençoada, mas estava pensando nisso também. Supondo que Deus tivesse parado aqui, qual teria sido o efeito disso? Porque Jó teria dito: Bem, eu fui gracioso na prosperidade, e agora tenho sido paciente na adversidade, e ele teria ficado pior do que nunca. Deus o justificou das acusações de Satanás, e seu sofrimento apenas preparou o caminho para um relacionamento mais íntimo com Deus.

 

J. N. Darby 

 

Justo e Bom 


Em Romanos 5:7(ARA), lemos: “Dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer”. Esse versículo pode parecer um pouco intrigante no início, e podemos nos perguntar qual é a diferença entre ser justo e ser bom. As duas palavras não têm um significado semelhante?

 

Quando nos aproximamos da Palavra de Deus, muitas vezes devemos deduzir o significado das palavras da maneira como a Escritura as usa e pelo contexto em que são usadas. Isso não significa que podemos interpretar a Escritura da maneira que desejarmos, ou colocar uma construção estranha nas palavras usadas pelo Espírito de Deus. Mas “as coisas do Espírito de Deus” se “discernem espiritualmente” (1 Co 2:14), e devemos discernir o significado da Palavra de Deus dessa maneira.

 

Em Romanos 5:7, a palavra “justo” tem o pensamento de ser totalmente reto, honesto e exato no trato com os outros, e isso talvez inclua também a perspectiva de alguém em relação a Deus. Isso não significa que o indivíduo necessariamente tenha um relacionamento com Deus: Ele pode estar confiando em sua própria justiça para assegurar-lhe o favor de Deus. No entanto, ainda assim, quanto aos padrões humanos, ele pode ser justo. Contudo, esse tipo de indivíduo tende a manter os outros no mesmo padrão sob o qual ele mesmo opera. Deixe que os outros falhem em algum aspecto da justiça, por menor que seja, e ele é rápido em apontar isso e talvez condená-los por isso. As pessoas podem respeitar e admirar tal indivíduo, mas muitas vezes não sentem nenhum calor ou amor por ele. Elas podem realmente se sentir um pouco desconfortáveis na presença dele, pensando que talvez elas vão dizer ou fazer algo que poderá trazer uma repreensão.

 

Por outro lado, a palavra “bom” neste versículo vai além de simplesmente ser justo. Inclui justiça, mas o indivíduo não é “demasiadamente justo” (Ec 7:16), e não implica com os outros por pequenos deslizes de retidão, cortesia ou boas maneiras. Ele é íntegro e não é negligente em relação ao pecado, mas também trata os outros com graça e amor, talvez ignorando certas coisas, no espírito de que “o amor cobre multidão de pecados” (1 Pe 4:8 – ARA). Esse tipo de indivíduo não será apenas respeitado, mas também amado. Como Romanos 5:7 nos diz, os homens estariam mais dispostos a se sacrificar por alguém que fosse bom do que por alguém que fosse justo.

 

Tanto justo quanto bom 

Onde tudo isso nos deixa com um homem como Jó? Ele era apenas justo ou também era bom? Eu sugeriria que o livro de Jó nos mostra que ele incorporou ambas as características naquilo que ele era diante dos homens e também diante de Deus.

 

Em primeiro lugar, é evidente que Jó era um homem justo, embora, em última análise, seus três amigos o acusassem de ser injusto e hipócrita. O próprio Jó mantém sua justiça aos seus três amigos, e ele poderia lhes dizer: “Agora, pois, por favor, olhai para mim; porque de certo à vossa face não mentirei. Mudai de parecer, peço-vos, não haja injustiça; sim, mudai de parecer, que a minha causa é justa. Há iniquidade na minha língua? Ou não poderia o meu paladar discernir coisas perversas?” (Jó 6:28-30 – AIBB). Embora Jó tenha dito essas palavras, não temos motivos para sugerir que ele estivesse mentindo ou mesmo exagerando sobre si mesmo.

 

Mais do que isso, e muito mais importante, temos o testemunho do Senhor quanto ao caráter de Jó, pois o Senhor poderia dizer a Satanás: “Observaste o Meu servo Jó? Porque ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, desviando-se do mal” (Jó 1:8). Vale ressaltar que Satanás, que hoje é “o acusador de nossos irmãos” (Ap 12:10), não tenta refutar a declaração de Deus sobre Jó. Não há dúvida de que Jó era um homem justo.

 

No entanto, creio que temos evidências de que ele também era um homem bom. Um homem justo, e especialmente aquele que é rico, é muitas vezes detestado, mesmo que apenas por causa do ódio inato do homem natural à superioridade. No entanto, Jó tinha amigos, três dos quais vieram visitá-lo, assentaram-se com ele e conversaram muito com ele. Eles eram verdadeiramente seus amigos, e o Espírito de Deus os chama de seus amigos em todo o livro de Jó.

 

Mais do que isso, o próprio Jó dá testemunho de sua bondade para com os pobres e da maneira como usou sua riqueza para ajudar os outros. Seus amigos o acusaram de oprimir os pobres, mas Jó podia dizer: “porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse... e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva” (Jó 29:12-13). Novamente, não temos motivos para concluir que isso era falso, ou mesmo um exagero. Ele também poderia dizer: “O estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante” (Jó 31:32). Isso certamente ia além da ação de muitos, pois admitir um estranho em casa é de fato ser um homem “bom”.

 

O Senhor não ficou satisfeito 

Acredito que no caráter de Jó podemos ver justiça e bondade, pois a Palavra de Deus usa esses termos em Romanos 5:7. No entanto, ainda havia algo importante em sua vida com o qual o Senhor não estava satisfeito. Os caminhos de Deus conosco estão muitas vezes além do nosso entendimento, e Jó, por mais que fosse bom, tinha uma lição a aprender que só o Senhor poderia ensiná-lo.

 

Eu faria apenas um comentário final. Alguém pode ser justo e bom, mas ainda assim ser odiado por muitos. A fim de obter a perspectiva perfeita sobre qualquer coisa, devemos trazer Cristo à questão, e quando consideramos nosso bendito Mestre e Senhor, descobrimos que Ele demonstrou perfeita justiça e perfeita bondade em Sua vida. No entanto, o Senhor Jesus disse: “O mundo não vos pode odiar, mas ele Me odeia a Mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más” (Jo 7:7). Este mundo gosta de justiça e bondade perfeitas, mas não gosta de ser lembrado de sua condição perdida e de sua necessidade de um Salvador. Tal era o coração do homem, manifestado quando Deus enviou Seu Filho amado a este mundo.

 

W. J. Prost

 

 Satanás e Jó

 

Há algumas ocasiões na Palavra de Deus em que nos é permitido ver, além do mundo visível, aquilo que não é visto pelos olhos humanos. Os dois primeiros capítulos do livro de Jó nos mostram duas dessas ocasiões. Nesses capítulos, vemos Satanás tendo permissão de acesso à presença de Deus, quando ele está procurando fazer sua má obra neste mundo.

 

Podemos nos perguntar como isso pode acontecer, que Satanás, com todas as suas estratégias malignas, teria permissão para conversar diretamente com Deus e tentar fazer mais mal. Mas Satanás ainda é um anjo, embora caído, e tem uma certa quantidade de poder que Deus ainda não tirou dele. A Escritura o chama de “o príncipe das potestades do ar” (Ef 2:2), mostrando-nos a esfera em que ele exerce suas atividades maliciosas. Ele claramente se move acima desta Terra, embora suas atividades sejam com aqueles que estão nesta Terra. Ele é invisível aos olhos humanos, mas seus efeitos sobre aqueles neste mundo certamente são vistos.

 

As esferas do céu 

Talvez façamos a pergunta: Onde está a região das atividades dele? A Palavra de Deus se refere ao “terceiro céu” (2 Co 12:2), e disso podemos deduzir que existem três céus. O terceiro céu é claramente a morada de Deus, à qual o apóstolo Paulo foi arrebatado. Certamente nada pecaminoso pode entrar naquele lugar; é um lugar de glória incriada. Mas em Gênesis 1:1 lemos: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Isso se refere aos dois primeiros céus. Eu sugeriria que o primeiro céu é a atmosfera acima da Terra, pois nos é dito que quando Deus criou as aves, Ele disse: “e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus” (Gn 1:20 – ARA). Isso deixa um segundo céu, ao qual o homem não tem acesso, mas podemos chamá-lo de esfera da atividade espiritual. É o lugar onde o Senhor Se encontrou com vários espíritos malignos no tempo de Acabe, rei de Israel (detalhado para nós em 1 Reis 22:19-23). É o mesmo lugar onde Satanás se encontrou com o Senhor em Jó 1-2. É também o lugar onde Satanás acusa constantemente os crentes a Deus hoje, e onde o Senhor Jesus faz Sua obra por nós como nosso Intercessor (Rm 8:34).

 

Para completar o quadro, sabemos que em um dia vindouro, provavelmente no meio da semana da tribulação, Satanás e seus anjos serão expulsos do céu e terão acesso negado à presença de Deus a partir desse ponto – veja Apocalipse 12:7-12. Satanás, então, sabe que tem apenas um curto período de tempo até que ele seja preso no abismo por 1.000 anos, e por esta razão ele desce à Terra “com grande ira”.

 

Os projetos de Satanás 

No caso de Jó, Satanás tinha planos malignos em mente para ele, pensando que se ele pudesse apenas afligir Jó severamente o suficiente, ele reagiria da maneira errada e amaldiçoaria a Deus. Por outro lado, o Senhor tinha uma lição para ensinar a Jó e, por essa razão, permitiu que Satanás iniciasse sérias provações na vida de Jó. Como sabemos, primeiro sua propriedade e seus filhos foram tirados dele por meios violentos, e depois sua saúde foi tirada da maneira mais miserável. Mas em ambos os casos Jó “passou no teste”, por assim dizer, e Satanás foi derrotado. Ele não tinha mais nada a dizer, e não ouvimos falar dele novamente no livro de Jó. Mas, então, o Senhor assumiu e permitiu que Jó enfrentasse as acusações cruéis de seus três amigos. Foi isso que provocou Jó ainda mais do que todo o mal que Satanás havia infligido a ele, e ele perdeu a paciência com eles. Então o Senhor traz Eliú, um homem mais jovem, que tinha a mente do Senhor e que foi capaz de trazer a verdade diante de Jó e, finalmente, bênção vinda de todos os sofrimentos de Jó.

 

Os propósitos do Senhor 

O que aprendemos com tudo isso? Sem dúvida, Satanás continua com esse tipo de maldade hoje, mas, como Jó, não estamos diretamente conscientes disso. Sem dúvida, ele nos acusa constantemente ao Senhor, e o Senhor pode permitir que ele cause problemas em nossa vida também. É instrutivo notar que isso aconteceu na vida do rei Davi. Lemos que “a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel, e Ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá” (2 Sm 24:1). No entanto, em 1 Crônicas 21:1, descobrimos o que se passava nos bastidores, pois lemos que, “Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel”. Satanás foi o instigador dessa contagem do povo, e a Palavra de Deus usa a palavra “incitou” para descrever o efeito de Satanás sobre Davi. Satanás não se importava com o povo de Deus e queria (se possível) destruí-lo. Ele sabia que contar o povo desagradaria ao Senhor e traria Seu governo sobre eles. Mas o Senhor estava acima de tudo isso, e Satanás não podia provocar Davi sem que o Senhor permitisse que ele fizesse isso. Os propósitos de amor e bondade do Senhor estavam em tudo, pois tanto Davi quanto o povo de Israel evidentemente estavam ensoberbecidos. Mas os propósitos de Deus são sempre bênçãos e nunca destruição. Sim, é verdade que Israel sofreu sob o governo de Deus por seus pecados, e está registrado que “Mandou, pois, o SENHOR a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens” (1 Cr 21:14). No entanto, como resultado de tudo isso, o futuro local para o templo de Salomão foi comprado por Davi e garantido naquela época para esse fim. Naquela época, Davi queria que fosse apenas um lugar para construir um altar ao Senhor, mas o Senhor sabia que este era o lugar onde Seu templo seria construído. Verdadeiramente, podemos dizer, como o apóstolo Paulo em Romanos 11:33: “Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!”. Com todos nós, certamente o Senhor “faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1:11). Satanás pode ter desígnios sinistros contra nós, mas o Senhor acabará por usar tudo para Seus propósitos e para nossa bênção.

 

W. J. Prost

 

Noé – Daniel – Jó 

 

“Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor JEOVÁ” (Ez 14:14).

 

Foi um dia sombrio na história de Israel quando esta palavra do Senhor veio ao profeta Ezequiel. “E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro e estivesse na brecha perante Mim por esta Terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez 22.30). As dez tribos (Efraim, ou reino de Israel) já haviam sido levadas cativas para a Assíria – removidas da terra de Jeová, que Ele lhes dera. Certamente eles “não deram glória a Deus” (At 12:23), mas “mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1:23).

 

Judá não havia tirado proveito da lição a ser aprendida com as tratativas de Jeová com seus irmãos de Efraim; nenhum homem levou isso a sério. Deus havia reservado uma tribo: “E a seu filho darei uma tribo, para que Davi, Meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de Mim em Jerusalém, a cidade que elegi para pôr ali o Meu nome” (1 Rs 11:36). Não houve resposta a essa soberania de misericórdia mostrada a eles, e só se pode chorar com o choro do profeta Jeremias, ao lermos o registro inspirado dos pecados dos reis de Judá, seus falsos profetas, sacerdotes e seu povo. “Porque o Meu povo fez duas maldades: a Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2:13). Por fim, Deus os removeu também, como Estevão disse: “Transportar-vos-ei, pois, para além de Babilônia” (At 7:43).

 

O coração de amor de Deus 

A dor de espírito que tudo isso causou ao Senhor Deus de Israel pode ser observada em Deuteronômio 5:29: “Quem dera que eles tivessem tal coração que Me temessem e guardassem todos os Meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sempre!” Essas palavras revelam verdadeiramente o coração amoroso de nosso Deus em relação ao Seu povo terrenal; também são palavras que foram registradas antes deles estarem na posse da terra prometida, palavras de alguém que anuncia “o fim desde o princípio” (Is 46:10). Deus realmente sentiu o afastamento do coração de Seu povo de Si mesmo. Isso ainda é verdade hoje, como antigamente! Portanto, “não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no Qual estais selados para o Dia da redenção” (Ef 4:30).

 

Com um pano de fundo tão sombrio e em uma época como essa, evidentemente que o Senhor teve algum prazer em pensar em Seus servos justos: Noé, Daniel e Jó. Graça indizível! Que encorajamento para nós também em nosso débil lugar de serviço hoje, na esfera onde Ele Se agradou em colocar cada um de nós. Fazemos bem em prestar atenção às palavras de 1 Pedro 1:17: “E, se invocais por Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um”. E agora, como “tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm 15:4), vamos tirar algum proveito espiritual, advertência e encorajamento da história dos três notáveis de Deus: Noé, Daniel e Jó.

 

Noé 

Ele tinha um caráter corajoso, de fato, para enfrentar um mundo ímpio e hostil com o longânimo testemunho de Deus. Qual era o segredo da sua força? “Noé andava com Deus” (Gn 6:9); também, “conforme tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez” (Gn 6:22). “Divinamente avisado... temeu”, e “preparou a arca” por meio da qual realizou duas coisas: (1) Ele “condenou o mundo” (Hb 11:7) e (2) “oito almas foram salvas pela água” (1 Pe 3:20 – ACF). É triste pensar que o único resultado de sua pregação foi que ela “condenou o mundo”, mas isso não foi culpa dele. “Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma” (Rm 3:3-4). Mas a arca que ele preparou era o meio de “salvação da sua família” (Hb 11:7). Noé era um homem de família e possuía as qualificações necessárias para um bispo na Igreja de Deus nos dias de Paulo, como escreveu a Timóteo: “o bispo [supervisor – JND], seja irrepreensível... que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia” (1 Tm 3:2-4). A família de Noé, pelo menos, acreditou em seu testemunho, apoiada por sua vida piedosa e, como resultado, encontrou-se segura na arca com ele quando o juízo caiu.

 

Daniel 

Em Daniel encontramos um caráter agradável pois “nele houve outro espírito”, como Calebe (Nm 14:24). Ele nos apresenta um bom começo, uma caminhada fiel e consistente durante todo o percurso e um bom final. A palavra de Paulo em Filipenses 1:20 vem imediatamente à mente: “segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte”. O último versículo do livro de Daniel é uma recompensa maravilhosa por uma vida de fidelidade a Deus: “Tu, porém, vai até ao fim; porque descansarás, e te levantarás na tua herança, no fim dos dias” (Dn 12:13). Podemos ter certeza de que a herança dele será boa! A característica de sua vida exemplar que desejamos enfatizar neste artigo é que Daniel continuou – mesmo na cova dos leões e tudo mais, ele continuou. Qual o segredo do sucesso dele? “Três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus” (Dn 6:10). Fazemos bem em seguir seu exemplo e atender à exortação de Romanos 12:12: “perseverai na oração”. Há mais uma lição salutar para nós em 1 João 2:24: “Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai”.

 

Jó 

Aqui temos pelo menos um grande final. “E, assim, abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro” (Jó 42:12). Seu caso é resumido em Provérbios 25:4: “Tira da prata a escória, e sairá vaso para o ourives”. O Senhor sabia como fazer isso no caso de Jó (e no nosso também)! Quão bela é essa palavra em Tiago 5:11: “Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”. Nós também somos exortados a ser “pacientes na tribulação” (Rm 12:12). E novamente: “Está alguém entre vós aflito? Ore” (Tg 5:13). “E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:11). Nenhum de nós tem a mesma história, mas da disciplina “todos” somos “feitos participantes” (Hb 12:8). Nós também, como Jó, somos sustentados nela e descobrimos no final que nosso Deus é o mesmo do início, e nossa alma é melhor por causa de Sua mão sobre nós. Podemos dizer: “Que coisas Deus tem feito!” (Nm 23:23). “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). Na verdade, “todos os Teus santos estão na Tua mão” (Dt 33:3).

 

Conclusão 

Ao lermos a Escritura e revisarmos as histórias de Seus servos do passado, só podemos magnificar a graça de Deus, sem a qual nem eles nem nós poderíamos realizar qualquer serviço em Seu nome. Paulo diz: “pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15:10). A Santa Escritura é abundante no encorajamento para perseverarmos no caminho da fé. “Olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé” (Hb 12:2). Assim, “Aquele que diz que está n’Ele, também deve andar como Ele andou” (1 Jo 2:6). E encontramos no Salmo 16:8 como Cristo andou: “Tenho posto o SENHOR continuamente diante de Mim; por isso que Ele está à Minha mão direita, nunca vacilarei”. E Ele deixou “o exemplo, para que sigais as Suas pisadas” (1 Pe 2:21). “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis” (1 Co 9:24). “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1:13). “Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12:28). E que perspectiva está diante de nós: “E eis que cedo venho, e o Meu galardão está Comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap 22:12). “Os Seus servos O servirão, e verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome” (Ap 22:3-4).

 

T. Mather, Christian Treasury, Vol. 1

 

 A Paciência de Jó

 

Como vimos em outro lugar nesta edição de O Cristão, Jó viveu há muito tempo, provavelmente há mais de 3.000 anos. No entanto, no livro de Tiago, que foi escrito pelo menos 1.500 anos depois que Jó viveu, Tiago se refere à “paciência de Jó” (Tg 5:11). O livro de Tiago foi escrito para as 12 tribos de Israel e leva em conta que, enquanto alguns deles eram claramente salvos, outros não eram. Parece que todos os que foram abordados tinham pelo menos professado fé em Cristo, mas alguns não fizeram mais do que isso; eles eram meros professos, sem nova vida em Cristo.

 

Aparentemente, a nação de Israel nem sempre gostou de ouvir sobre Jó, pois ele era evidentemente um gentio e não parte de Israel. Embora reconhecessem o livro de Jó como parte dos escritos inspirados do Velho Testamento, eles não gostavam de pensar em um gentio como sendo tão bom aos olhos de Deus que o próprio Deus pudesse dizer dele: “Ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero e reto” (Jó 1:8).

 

A série de provações 

Ao olharmos um pouco para a história de Jó, sua paciência é realmente admirável. Mal podemos conceber uma série de provações em nossa vida que mesmo remotamente se assemelhe ao que Jó suportou. Em primeiro lugar, o Senhor permitiu que toda a sua propriedade – toda a sua riqueza – fosse tirada em um dia. Seus bois e suas jumentas foram roubados pelos sabeus; raios destruíram suas ovelhas e os caldeus levaram todos os seus camelos. Mais do que isso, todos os seus dez filhos foram mortos em um dia, provavelmente causado por o que hoje seria chamado de tornado. No entanto, em tudo isso, Jó não perdeu a paciência ou a confiança em Deus. No final de tudo isso, ele continuou a justificar e adorar a Deus, e disse: “Bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).

 

Mas o pior estava por vir, pois o Senhor então permitiu que Satanás tirasse sua saúde e ferisse Jó “de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça” (Jó 2:7). Neste ponto, até mesmo sua esposa se voltou contra Deus, porém, mais uma vez Jó aceitou tudo da parte do Senhor, e “em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10).

 

O teste dos três amigos 

Mas outra coisa fez com que Jó perdesse a paciência. Foi assim que seus três amigos o trataram, essencialmente chamando-o de hipócrita e dizendo-lhe que toda essa calamidade era o julgamento de Deus sobre ele por transgressão. Eles estavam errados, é claro, mas as acusações deles quebrantaram Jó, e ele perdeu a paciência com eles. Mais do que isso, ele até ficou impaciente com Deus e se aventurou a encontrar falhas nos caminhos de Deus com ele. Ele corajosamente manteve sua retidão, de modo que Eliú finalmente teve que repreendê-lo dizendo: “Achas que é justo dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?” (Jó 35:2 – ARA). Como resultado das palavras de Eliú e mais tarde das palavras do próprio Deus, Jó foi capaz de ver com clareza. Mas o homem, cuja paciência era seu ponto forte, finalmente perdeu a paciência. Toda a sua integridade, retidão, abominação do mal e temor a Deus foram o resultado da graça de Deus, mas Jó assumiu o crédito disso para si mesmo. Como resultado, sob pressão suficiente de seus três amigos, ele falhou nessa mesma coisa. De maneira semelhante, embora por razões diferentes, Abraão falhou em sua fé e Moisés falhou em sua mansidão, porque eles estavam ocupados consigo mesmos em vez de confiar e honrar ao Senhor. O que o Senhor nos deu em Sua graça soberana só pode ser vivido na prática com essa mesma graça.

 

A paciência do Senhor Jesus 

Agora vamos nos voltar para Outro cuja paciência foi provada de uma maneira muito pior do que a de Jó. Estamos, é claro, nos referindo ao nosso Senhor Jesus Cristo. No mundo de sua época, Jó era um homem rico, honrado e respeitado antes que todas as suas provações viessem sobre ele, mas o Filho de Deus, que veio a este mundo como Homem, foi rejeitado desde o início. Ele nasceu nas circunstâncias mais pobres e, durante todos os anos de Sua vida na Terra, foi o mais pobre dos homens. Ele era constantemente insultado, desprezado e não recebia honra ou respeito, exceto de alguns. Ele muitas vezes dependia da caridade dos outros, particularmente das mulheres, para Suas necessidades diárias.

 

Oh, sim, muitos iriam a Ele em busca de cura, de comida e para ouvir “as palavras de graça que saíam de Sua boca” (Lc 4:22). Mas eles não O reconheceram por Quem Ele era. Os líderes Judeus o chamaram de samaritano, além de dizer que ele estava possuído por um demônio (Jo 8:41, 48).

 

Mais tarde, quando Ele enfrentou a cruz, aqueles que se beneficiaram de Seu poder que os curou e os alimentou foram persuadidos a exigir que Ele fosse crucificado. Seus próprios seguidores O abandonaram, um O negou com juramentos e maldições, e outro O traiu. Finalmente, Ele suportou o julgamento de Deus pelo pecado sozinho, nunca proferindo uma palavra de resistência ou impaciência. Alguma vez houve Alguém como Ele, para demonstrar paciência que nunca falhou? Nenhuma quantidade de rejeição, falsa acusação ou sofrimento fez com que qualquer coisa saísse d’Ele, exceto a perfeição divina que estava lá. Ele era Aquele em Quem não havia pecado, que não cometeu pecado e que não conheceu pecado. Cada provação a que Ele foi submetido apenas mostrava a excelência absoluta de Sua Pessoa.

 

Podemos admirar o caráter de Jó como homem e o que a graça de Deus operou nele, quanto à sua paciência em todas as suas provações e sofrimentos. No entanto, mesmo um homem como este, quando colocado ao lado de nosso Senhor Jesus Cristo, prova ser um fracasso. A paciência de Jó é mencionada no livro de Tiago como um exemplo para nós, e os profetas também são mencionados, sem dar seus nomes, como aqueles que sofreram com paciência. Mas Aquele, cuja paciência era como nenhum outro homem, deveria estar sempre diante de nós, fazendo com que nosso coração se curvasse diante d’Ele em admiração, louvor e adoração.

 

W. J. Prost

 

 A Última Fala de Jó 

 

“Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher?” (Jó 25:4). Isso não traz conforto, nem ajuda, para Jó.

 

Jó agora faz seu último discurso – seu maior esforço para se justificar. Sim, essa era a razão da necessidade de toda a sua provação e tristeza. Suas palavras são muito comoventes. “Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados como era nos dias da minha mocidade” (Jó 29:2-25). Não é, “Ah! Quem dera que acontecesse comigo”. Não, mas “Ah!... como eu fui”. Como são semelhantes os anseios equivocados da alma que está sendo levada do “eu” para Cristo. Há um prazer ilusório peculiar em estar satisfeito consigo mesmo. Muitas vezes, após a conversão, o pensamento é “o quanto estou melhor agora do que antes” – “como agora ando nos caminhos de Deus”. Alguns poucos são até mesmo enganados a ponto de pensar que a velha natureza está totalmente mudada e que não há uma raiz de pecado deixada neles. Mas, infelizmente, quando chega a hora da tentação, tudo isso é reduzido a pó. Agora, basta ler Jó 29-31 e você dirá: se alguém poderia ter se justificado por boas obras, Jó era esse homem. Não há um homem em toda a sua cidade que possa dizer tanto quanto Jó disse e dizer a verdade. Quanto à sua bondade para com os pobres, ele era exatamente o oposto das falsas acusações feitas contra ele. Assim, ele permite a memória recontar cada bom ato de sua vida, mas tudo isso falha em dar descanso ao seu espírito perturbado. Eu, eu, eu, eu fiz isso, eu não fiz aquilo. Mas não, tudo era inútil. “Que cresçam cardos em vez de trigo, e joio em vez de cevada. As palavras de Jó terminaram” (Jó 31:40 – JND). Não é assim, Jó: Você falará novamente e, embora suas palavras possam ser poucas, elas estarão cheias de significado. Agora, se Jó não pôde ser justo diante de Deus, como você poderá ser? Deixe a memória olhar para trás ao longo da trilha da vida. Quais são os pecados diante de Deus? As suas palavras terminaram? Você está completamente derrotado? Você diz, eu não sei o que fazer com isso? Então deixe o Senhor falar com você.

 

C. Stanley (adaptado)

 

 Quando e Onde Jó Viveu? 

 

Jó é claramente um livro do tempo patriarcal. Todas as circunstâncias apontam para aquele tempo e nenhum outro. E, além disso, é bom afirmar desde já, antes de prosseguirmos, que o livro parece ter sido escrito no tempo de Moisés, e provavelmente por Moisés. Mas algumas pessoas ficam um pouco perplexas com o fato de ele vir depois do livro de Ester na Bíblia. Isso não tem absolutamente nada a ver com a data do livro. Os livros históricos são apresentados de Gênesis a Ester – esse é o fim; então começam os livros poéticos – Jó, os Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Portanto, devemos necessariamente voltar aqui, porque a poesia certamente não foi escrita depois da história, mas simultaneamente a ela. Podemos facilmente entender que o livro de Jó nos leva de volta ao mesmo tempo em que o primeiro livro da história remonta. Tudo concorre para demonstrar isso.

 

Por exemplo, Jó ofereceu holocaustos; era para o caso de seus filhos terem pecado. Mas não era uma oferta pelo pecado, o que teria sido algo natural se tivesse sido depois da lei; isso foi antes da lei, e as ofertas que eram habitualmente oferecidas por Abraão, Isaque e Jacó, sob todas as circunstâncias, eram holocaustos. Então, aqui encontramos uma marca muito simples no primeiro capítulo. E, novamente, descobrimos que há uma idolatria muito peculiar neste momento. O livro de Jó foi escrito depois do dilúvio de Noé; não havia idolatria antes do dilúvio. Claro, alguns teólogos pensam que deve ter havido idolatria, mas não há razão alguma para isso – é apenas a imaginação deles. O fato é que a idolatria mais antiga era a adoração do Sol, da Lua e das estrelas, e no decorrer deste livro veremos que essa é a única idolatria a que Jó se refere. Era o comum naquela época, e depois, eles entrariam em formas muito mais degradadas do que essas.

 

Houve idolatria no tempo de Jó 

Portanto, parece que o escritor do livro é bem posterior a Jó, mas que Jó viveu numa época em que havia idolatria. No entanto, essa é a única coisa que ele repara; era a sua defesa própria – de que ele não era culpado – que era um dos pensamentos que dominam a mente de seus três amigos. Suponho que esses amigos fossem os ortodoxos naquela época, no entanto, assim como muitos ortodoxos em outros momentos, eles tinham um noção humana e limitada de Deus. No geral, a ortodoxia é apenas a opinião popular sobre a religião, e embora existam elementos da verdade, e, certamente, a ortodoxia seja muito melhor do que a heterodoxia, ela ainda não é a fé. Não é o julgamento espiritual, o qual envolve um profundo conhecimento da mente de Deus.

 

Só que devemos lembrar que havia pouca coisa escrita na época em que este livro foi escrito, talvez não mais do que o livro de Gênesis. Julgo assim porque não há referência à lei. Se tivesse sido escrito depois que a lei tivesse sido dada no Sinai, poderíamos esperar encontrar alguma alusão a isso, mas não há nenhuma.

 

Duração da vida de Jó 

Há outra coisa que também contribui para nos ajudar quanto à data do livro, que é a idade de Jó. Ele tinha pelo menos 140 anos. Há algumas pessoas que parecem pensar que ele viveu 140 anos depois de todos os seus problemas, mas não há base para isso. É apenas a maneira de falar no último capítulo, e presumo que isso realmente signifique que esta foi toda a sua idade, o período de sua vida – não o tempo após esses desastres caírem propositalmente sobre ele – por razões que vou explicar em breve. Então, se essa for a idade de Jó, isso mostra que não precisamos imaginar mais do que a Palavra de Deus declara, e, portanto, quando morresse ele seria um homem mais jovem do que foi Jacó. Jacó viveu menos tempo do que Isaque ou Abraão. Então, isso parece apontar para o tempo da era patriarcal, e todas as circunstâncias se encaixam nisso.

 

Mas há outra coisa muito notável e separada no livro. Fica inteiramente fora de Israel. Havia certamente o núcleo de Israel então; Abraão, Isaque e provavelmente Jacó estavam vivos, e é claro que esse gentio piedoso, Jó, aproveitou muito com o conhecimento do que Deus havia revelado em Seus tratamentos, não apenas com aqueles patriarcas, mas com as tradições daqueles que viveram antes. Digo “tradições”, porque a Escritura ainda não tinha sido escrita. Se houvesse algum livro da Escritura escrito naquele momento, só poderia, na minha opinião, ter sido, possivelmente, o livro de Gênesis. Isso era muito pouco. No entanto, o livro de Gênesis é um dos livros mais instrutivos de toda a Bíblia, e é notável por ser uma espécie de sementeira. Todas as sementes que mais tarde germinaram nas várias linhas da verdade ao longo da Escritura – você as tem todas em seu início.

 

W. Kelly

 

 O Tempo dos Patriarcas 

 

O livro de Jó nos dá os tratamentos de Deus com ele como indivíduo, e não se refere às promessas de Deus a Abraão ou Seus tratamentos com a nação de Israel como resultado dessas promessas. Pode ter sido o primeiro livro da Bíblia a ser escrito por Moisés, antes de Ele tirar o povo do Egito. Nas controvérsias de Jó e seus amigos não há menção a Israel ou à lei. Não parece que eles sabiam alguma coisa além de que Deus tratou com indivíduos em Seus caminhos governamentais.

 

É difícil determinar em que período de tempo Jó viveu, mas certas coisas na linguagem do livro parecem indicar que ele viveu nos tempos dos patriarcas, após o dilúvio. Não há menção à idolatria antes do dilúvio, mas a forma mais antiga dela é referida por Jó (cap. 31:26-28), isto é, a adoração de corpos celestes que ele condena como uma negação do Deus que está acima.

 

Outra semelhança que notamos é que, em Gênesis, os patriarcas agiam como sacerdotes sobre a casa deles e, em Jó, lemos sobre ele oferecendo holocaustos por seus filhos. Não temos ofertas pelo pecado mencionadas até que a lei foi dada.

 

Jó e seus amigos, quando falam de Deus, costumam usar o título patriarcal “o Todo-Poderoso”; na verdade, esse título aparece com mais frequência neste livro do que em qualquer outro livro da Escritura.

 

Houve aqueles que negaram a este livro um lugar na Escritura. Diz-se que os judeus não gostaram porque não conseguiam pensar em um homem fora de Israel a quem Deus considerasse tão altamente. Mas Jó é mencionado em outras partes da Palavra de Deus. Ezequiel fala de Jó como um intercessor junto com Noé e Daniel (Ez 14:14, 20). Tiago se refere à paciência de Jó (cap. 5:11), e Paulo cita o livro (1 Co 3:19), usando a mesma expressão: “está escrito”, como ele faz ao citar outras passagens da Escritura (Jó 5:13)

 

Mensagens do Amor de Deus, 1960

 

 A Terra de Uz 

 

Tudo o que se sabe sobre a história de Jó é encontrado no livro que leva seu nome. Ele morava na terra de Uz, que provavelmente recebeu o nome de Uz, ou Huz (o hebraico é o mesmo), filho de Naor, irmão de Abraão. Outro elo com essa família também é encontrado em que Eliú era filho de Baraquel, o buzita, pois Buz era irmão de Huz (Gn 22:21). A terra de Uz supostamente situava-se no sudeste da Palestina, na direção do deserto da Arábia. Jó é considerado o que “era maior do que todos os do Oriente”.

 

G. Morrish

 

 

Jó vivia na terra de Uz, que pode ter derivado seu nome de Uz, neto de Sem, filho de Noé. É dito que Jó, em seus dias, era o maior de todos os homens do Oriente, que seria o oriente da terra de Canaã.

 

Em Lamentações 4:21, Edom é mencionado como estando na terra de Uz, ou a sudeste de Canaã, e vemos como este país teria sido sujeito aos ataques dos sabeus e caldeus.

 

Mensagens do Amor de Deus, 1960

 

 A Inspiração Divina da História de Jó 

 

Aqui, no meio dos escritos sagrados de Israel, está um livro que nenhum Judeu, com sua própria noção, jamais teria escrito ou poderia sequer conceber. Revela com autoridade o mais profundo interesse do verdadeiro Deus em um homem fora dos pais ou dos filhos da raça escolhida, um filho do Oriente na terra de Uz, “sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal”. O orgulho Judaico gostaria de ver em Jó nada mais do que um personagem fictício. No entanto, se até mesmo um romance inspirado fosse realmente possível, a dificuldade permaneceria, pois o caso apresentado é tão avassalador para a estreiteza Judaica quanto deve alegrar qualquer alma na Terra que o conhecesse. A cortina está aberta (capítulo 1) para a ocasião do mundo invisível, para que o leitor crente saiba que Deus inicia a provação incomparável, prestes a se iniciar, para o bem de Jó e desafia o adversário sempre ativo. “Observaste tu a Meu servo Jó? Porque ninguém há na Terra semelhante a ele”. Satanás atribui um motivo egoísta à piedade de Jó, e tudo o que pertence a ele é entregue para o maligno tocar. Isso ele executa de bom grado por meios naturais: uma lição de grande valor, pois em nenhum outro lugar do Velho Testamento isso é ensinado tão claramente. Satanás falha. No meio da alegria da família e de sua própria piedade, os mensageiros, uns após outros, trazem mensagens de ataques dos sabeus e caldeus, de raios e tempestades, que varreram de Jó todos os seus bois, ovelhas, camelos e filhos, mas, em tudo, Jó abençoou o nome de Deus, e ele não pecou.

 

W. Kelly

 

 Fé e Conhecimento de Jó 

 

É interessante e encorajador ver como os anseios dos santos de Deus dos tempos do Velho Testamento são respondidos pela verdade do Novo Testamento. Quem disse a Jó, por exemplo, que, ressuscitado da corrupção da morte, ele veria a Deus? No entanto, essa foi a fé que lançou suas raízes profundamente em sua alma e o fez clamar com esperança em sua aflição: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros” (Jó 19:25-27). Sua grande esperança era que ele fosse libertado de todas as suas aflições quando visse o Último (veja Isaías 48:12), que também é o Primeiro, triunfar em Seu poder sobre toda a corrupção que a morte havia trazido. Ele sabia que veria esse triunfo, e assim verá, pois isso é garantido a todos “os que são de Cristo” (1 Co 15).

 

J. T. Mawson

 

O Tempo Porvir

 

O TEMPO PORVIR é um tempo maravilhoso,

Um tempo de regozijo e ganho;

Um tempo para desfrutar do fruto da provação,

O fruto, que permanecerá para sempre.

 

Olhe adiante, alma preciosa, para o TEMPO PORVIR,

Esquecendo-se das coisas que ficam para trás,

Pois Deus está preparando uma bênção para você;

A provação não durará para sempre.

 

Amados, “o Senhor não faz sofrer de bom grado”,

Nem aflige nenhum dos Seus,

Pois “o Senhor corrige o que ama” dolorosamente;

Ainda assim, Sua piedade e misericórdia são demonstradas.

 

Quando Deus em Sua sabedoria a correção envia,

Ele tem apenas um propósito em vista,

E isso é derramar mais do que nunca

Suas múltiplas misericórdias sobre você.

 

Há um TEMPO PORVIR precioso e brilhante;

Suas misericórdias a cada manhã são novas;

Em sabedoria, misericórdia e amor infinito,

 Ele está acumulando bênçãos para você.

 

O Senhor olha adiante para este TEMPO PORVIR,

O tempo de ricas bênçãos e ganhos;

Quando ele mostrar que “para nosso proveito”, foi a provação enviada;

Que ela nunca seja sofrida em vão!

 

Que possamos olhar adiante, também, em meio à provação,

Para o glorioso TEMPO PORVIR,

 Quando Deus em Sua graça, concede bênçãos duplas,

Com alegria e regozijo sublime.

L. Beckwith

 

“Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”

Tiago 5:11

 

“E, assim, abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro”

Jó 42:12


 



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