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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
B. Anstey
Christian Friend, 1896
W. J. Prost
C. D. Maynard (adaptado)
E. Dennett
J. G. Bellett
R. Beacon (adaptado)
W. T, W (adaptado)
J. T. Mawson
W. Kelly
W. Kelly
J. N. Darby
Primogênito
O Senhor Jesus Cristo foi o primeiro a nascer na família de José e Maria (Mt 1:25; Lc 2:7) e Ele também é colocado em primeiro lugar, tanto em posição como em dignidade, tudo em conexão com o propósito de Deus (Rm 8:29; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5). Assim, Ele é “Primogênito” em ambos os sentidos.
Colossenses 1:15 diz que Ele é “o Primogênito de toda a criação”. Sendo o Criador do universo (João 1:3), quando Ele veio ao mundo (Sua encarnação), Ele não poderia ter outro lugar senão o de Cabeça de Sua própria criação. Ser o Primogênito entre Suas criaturas O distingue como tendo um lugar superior a elas. Colossenses 1:18 indica que o Senhor é Primogênito de outra maneira. Quando Ele ressuscitou “de entre os mortos” (ARA), Ele Se tornou o “Primogênito” de toda uma nova raça de homens (Rm 8:29 – “muitos irmãos”). Como eles são da mesma “espécie” que Ele na nova criação (compare Gn 1:24), eles são inteiramente adequados para serem Seus eternos companheiros, e assim Ele “não Se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11). Como “o Primogênito dos mortos”, o Senhor Jesus é o Redentor triunfante que agora tem o direito de receber o louvor e a adoração dos santos (Ap 1:5-6). Apocalipse 1:5 indica que o Senhor como “Primogênito” tem o título e o direito de tomar a herança (toda a criação) e reinar sobre ela, o que Ele fará em Sua Aparição (Ap 1:7).
B. Anstey
O Princípio
O Princípio
Desejamos chamar a atenção para um novo princípio ou começo, que nos introduz à perspectiva de um dia eterno de radiante gozo. Este novo começo é CRISTO – Cristo em ressurreição, Cristo como o Primogênito dentre os mortos. Para entender isso, uma consideração deve feita acerca do termo, “o primogênito dentre os mortos” (Cl 1:18). A morte é, portanto, apontada como o fim do antigo período, e a ressurreição como o início da nova ordem das coisas. A morte foi a consequência do pecado, e a cruz de Cristo foi realmente o término da provação de Deus para com o homem sob responsabilidade. O primeiro homem chegou ao fim ali, sob o justo julgamento de Deus. Até que isso seja visto, não pode haver apreensão adequada do significado da ressurreição de Cristo.
O início da nova criação
Juntamente com o desaparecimento do primeiro homem de diante dos olhos de Deus, o mundo em que ele viveu foi julgado, e seu príncipe foi expulso. Houve, portanto, se assim podemos dizer, uma “limpeza completa”, o término de tudo. O primeiro homem e seu mundo caíram sob uma condenação comum. Mas isso apenas deu ocasião para a revelação dos conselhos eternos de Deus. Antes da fundação do mundo, Deus, na soberania de Sua graça, havia escolhido um povo em Cristo, para que eles fossem santos e irrepreensíveis diante d’Ele em amor. O fundamento para o cumprimento desses conselhos foi estabelecido na morte e ressurreição de Cristo. Sua morte foi o fim da história do homem responsável na carne. Sua ressurreição, embora tenha sido a demonstração de Seu poder vitorioso sobre o pecado, a morte e Satanás, foi também o início da nova criação, da qual Ele é o centro e a glória, e na qual todas as coisas se fazem novas, adequadas à Sua condição tanto quanto o Segundo Homem, que é do céu.
Cristo em encarnação
Não se deve esquecer que Cristo, em encarnação, era o Segundo Homem, e é somente quando nos lembramos disso que podemos entender a linguagem de João, que fala d’Ele como “desde o princípio”. Esse “princípio” datava de Sua introdução neste mundo. Mas, embora Ele fosse o Segundo Homem quando Se tornou carne e habitou entre nós, Ele não estava na condição do Segundo Homem antes de Sua ressurreição. Em Sua vida aqui, Ele estava na forma de Servo, na forma de homem, “em semelhança da carne do pecado”. Na ressurreição, tudo isso foi mudado, e agora, pela primeira vez, o pensamento eterno de Deus para o homem em redenção foi realizado e estabelecido. É por esse motivo que Ele é denominado “o princípio” nessa Escritura (Cl 1:18), e as palavras, “o Primogênito dentre os mortos”, são adicionadas para destacar o fato de que Ele Se tornou o Primogênito na ressurreição. A expressão semelhante em Apocalipse 3:14, “o princípio da criação de Deus”, difere apenas nisso, que aqui nossa atenção é direcionada à natureza e ao caráter da nova criação, vistos em Cristo ressuscitado e glorificado.
Primogênito de toda a criação
Uma palavra deve ser dita quanto ao contexto em Colossenses. Imediatamente após descrever nosso bendito Senhor como o Primogênito dentre os mortos, ele prossegue: “para que em tudo tenha a preeminência”. O apóstolo já havia falado d’Ele como o “Primogênito de toda a criação” (Cl 1:5) e explica que este lugar pertence a Ele em virtude de Ele ser o Criador: “porque n’Ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele” (Cl 1:16-17). Se o próprio Criador entra, por assim dizer, em Sua própria criação, Ele deve, necessariamente, ocupar o primeiro lugar, e esta é uma das glórias de Sua supremacia. Então, ao nos introduzir no novo círculo da Igreja, somos também lembrados de que Ele tem o primeiro lugar nela, pois Aquele que é a Cabeça do Seu corpo, a Igreja, é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, para que em todas as coisas Ele tenha a preeminência. Assim, onde quer que Cristo esteja, seja considerado em conexão com a primeira criação ou com a nova, Ele é o Primeiro, na preeminência absoluta de Suas glórias pessoais e adquiridas.
Cristo nossa vida em ressurreição
Mas o ponto a ser enfatizado neste momento é que, se Deus agora data tudo (falamos com reverência) a partir da ressurreição de Cristo, nós também devemos fazer isso, se desejamos estar em comunhão com Sua mente. Pense por um momento no indizível significado dessa verdade. Todos os homens estão em um estado de morte espiritual, e os Cristãos estão, pela graça de Deus, associados à morte de Cristo, de modo que se pode dizer deles: “porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3). Há apenas um Homem, portanto, diante dos olhos de Deus, apenas Um em vida, a própria Vida, e Esse é Aquele que é o Primogênito dentre os mortos. Que é Ele que é a nossa vida, também é abençoadamente verdade, mas é Ele que é isso, e Ele é a nossa vida em ressurreição. Ele é, consequentemente, o nosso novo começo, e Sua ressurreição será investida de nova luz e poder para nossa alma. Ao adentrarmos nisso, não estaremos ocupados com nosso nascimento neste mundo ou com tempos e estações, mas tudo para nós estará associado a Cristo ressuscitado da morte e glorificado.
Cristo é o nosso começo
Todos admitirão essa verdade como doutrina, mas o que queremos é estar no poder da verdade. Depois que uma nova língua é aprendida, muitos continuam a pensar em sua própria língua e a traduzir seus pensamentos para a nova, conforme necessário. Muitos Cristãos são assim. Eles vivem a velha vida, professam ter morrido com Cristo, mas se esforçam para usar a nova vida, a vida no Cristo ressuscitado, como o veículo para a expressão de seus antigos pensamentos, sentimentos e afeições. Não é de se admirar que o seu caminho seja marcado por constante fracasso e que sua vida Cristã seja caracterizada por tristeza e decepção! O vinho novo deve, como nosso Senhor ensina, ser colocado em odres novos. A velha vida deve ser recusada, e deve se buscar graça para sempre trazermos no corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também possa ser manifestada em nosso corpo. Possuindo Cristo, temos então que aprender que chegamos ao nosso fim diante de Deus em Sua cruz e que nossa verdadeira vida é Ele mesmo, que é o Primogênito dentre os mortos. Então, de fato, apreenderemos que Ele, o Ressuscitado, também é o nosso começo.
Cristo o Padrão
Pode-se ainda observar que Cristo, como assim apresentado a nós, é o Padrão e Modelo de todos os redimidos. Como observado antes, em Cristo ressuscitado e glorificado contemplamos o pensamento eterno de Deus para todos os Seus redimidos, e Seu servo Paulo nos ensinou que Deus nos predestinou para sermos conformados à imagem de Seu Filho, “a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos”. Nada menos que isso corresponderia ao Seu propósito ou satisfaria Seu coração. Nosso próprio Senhor fala da mesma coisa quando diz: “por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17:19). A verdade do que Ele é como o Homem glorificado, embora sempre o Filho Eterno, é o meio, trazido para a alma no poder do Espírito Santo, de nos levar a uma crescente conformidade moral com Ele agora e à Sua semelhança realmente quando nosso corpo também participa da eficácia da redenção. “E, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:48-49). Que perspectiva é assim aberta diante dos olhos da fé! E que revelação da graça do nosso Deus, em que Ele assim tenha proposto ter-nos sempre diante de Si, em eterna associação com Seu Filho amado e em perfeita conformidade com Sua imagem!
Christian Friend, 1896
O Primogênito
No mundo moderno, não damos muita atenção à ordem de nascimento nas famílias, mas na Palavra de Deus o primogênito é mencionado muitas vezes. O termo ocorre várias vezes no Velho Testamento, mas na versão Almeida Corrigida é mencionado apenas oito vezes no Novo Testamento. Em particular, o termo é usado várias vezes para se referir ao Senhor Jesus tanto no Velho quanto no Novo Testamento.
Embora o termo frequentemente se refira àquele que foi o primeiro na ordem de nascimento, em outros casos, e particularmente com referência ao Senhor Jesus, ele se refere ao lugar de proeminência, direitos preeminentes e posição. Encontramos esse significado sendo usado na família de Jacó no Velho Testamento, pois lemos: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (porque ele era o primogênito, mas, porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; para assim não ser contado na genealogia da primogenitura. Porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele provém o Príncipe; porém a primogenitura foi de José)” (1 Cr 5:1-2). Rúben foi o primogênito no tempo, mas ele perdeu isso por causa de seu pecado, e José obteve o primeiro lugar, ou direito de primogenitura.
O termo “primogênito” também foi usado da mesma forma entre as nações, pois o Senhor podia dizer a Faraó por meio de Moisés: “Israel é Meu filho, Meu primogênito” (Êx 4:22). Isso não significa que Israel foi o primeiro no tempo a se tornar uma nação, mas sim sua precedência sobre outras nações.
Com o Senhor Jesus, Ele não precisou remover ninguém para tomar o lugar de Primogênito, mas Ele foi chamado de Primogênito porque Ele era o Filho de Deus. Deus Pai O designou para o lugar mais elevado em todos os sentidos.
O Filho unigênito
Outros termos na Palavra de Deus a respeito do Senhor Jesus às vezes causam confusão, até mesmo na mente de verdadeiros crentes, e infelizmente, esses termos às vezes são interpretados erroneamente para diminuir a dignidade do Filho amado de Deus.
Em particular, o Senhor Jesus é chamado na Escritura de “o Filho Unigênito” (o Único gerado). O termo “gerar” é usado no Velho Testamento profeticamente a respeito do Senhor Jesus, pois Jeová podia dizer: “Tu és Meu Filho; hoje Te gerei” (Sl 2:7). No Novo Testamento, o termo “Unigênito” é usado (em referência ao Senhor) apenas no ministério de João, sendo mencionado cinco vezes. Quase todos os crentes memorizaram João 3:16, onde lemos que Deus “deu o Seu Filho unigênito”. Essa frase é usada em conexão com o Senhor Jesus vindo a este mundo e Se tornando Homem. Também é usada particularmente em conexão com a demonstração do amor de Deus a este mundo. É importante perceber, no entanto, que Ele era o Filho unigênito antes de ser dado. O termo é usado em conexão com Sua vinda a este mundo apenas para distinguir esse fato; ele nada tem a ver com Sua existência eterna como o Filho de Deus.
O Primogênito dos mortos
Da mesma forma, temos o termo (usado em Apocalipse 1:5) “o Primogênito dos mortos”. Aqui, ele se refere ao fato de que o Filho unigênito de Deus, tendo cumprido completamente a obra que o Pai lhe deu para fazer, agora ressuscitou dos mortos. Ele não foi o primeiro no tempo a ser trazido de volta dos mortos, pois isso já havia acontecido várias vezes antes, onde aqueles que estavam mortos neste mundo foram ressuscitados e trazidos de volta à vida aqui embaixo.
No entanto, aqui está Aquele que, no poder da Divindade, nunca viu corrupção, mas foi ressuscitado dos mortos como o Preeminente, acima de todos os outros. Ele deve ter o primeiro lugar: “para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18).
O Primogênito de toda a criação
Há três outras expressões na Palavra de Deus que se referem ao Senhor Jesus como o Primogênito, e todas elas aumentam nosso entendimento da Pessoa d’Aquele Bendito. A primeira é encontrada em Colossenses 1:15, onde o Senhor Jesus é referido como “o Primogênito de toda a criação”.
Ao ser chamado de “Primogênito de toda a criação”, o Senhor Jesus recebe o lugar de dignidade e liderança sobre toda a criação. Ele existia antes da criação, pois lemos também que “todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Quando Ele entrou em Sua própria criação como Homem, Ele veio em toda a dignidade d’Aquele que havia feito tudo.
A preeminência de Cristo
Sua preeminência em toda a criação é ainda mais destacada por duas frases no versículo seguinte (Cl 1:16), pois ali lemos que “n’Ele foram criadas todas as coisas” e “tudo foi criado por Ele e para Ele”. Isso não é mera repetição. A palavra “n’Ele”, primeira frase, tem o pensamento de “em virtude d’Ele”, mostrando-nos que o Senhor Jesus criou todas as coisas em Seu próprio direito inerente como Deus. No entanto, Ele não agiu de maneira independente do Seu lugar na Divindade, de modo que, na segunda frase, a palavra “por” tem o pensamento de “por meio d’Ele”. Deus Filho é sempre Aquele que executa os propósitos e conselhos do Pai, e assim o Senhor Jesus é o Criador de todas as coisas. O ato da criação foi o da Divindade plena, mas o Senhor Jesus foi Aquele por meio do qual tudo foi executado. Todas as coisas foram criadas por meio d’Ele, mas todas as coisas também foram criadas para Sua glória. Que Objeto para nossa admiração e louvor é essa bendita Pessoa!
Primogênito dos mortos
A segunda expressão “Primogênito” aplicada ao Senhor Jesus é encontrada em Colossenses 1:18: “Primogênito dos mortos”. Mais uma vez, isso se refere ao Senhor Jesus em Sua preeminência, como tendo sido ressuscitado dentre os mortos. A verdade da ressurreição era bem conhecida no Velho Testamento, mas uma ressurreição de entre os mortos, enquanto outros eram deixados em seus túmulos, não era conhecida.
Mais do que isso, o Senhor Jesus foi ressuscitado dos mortos com um corpo glorificado, para nunca mais morrer. Havia no Velho Testamento aqueles que foram ressuscitados dos mortos, como o menino que foi trazido de volta à vida por Elias, ou o homem que reviveu quando seu corpo foi colocado na sepultura de Eliseu. No Novo Testamento, nosso próprio Senhor Jesus ressuscitou alguns dos mortos, como o filho da viúva de Naim e Lázaro. No entanto, todos esses foram ressuscitados para a vida neste mundo e, no final, tiveram que morrer novamente. Mas nosso Senhor Jesus foi ressuscitado com um corpo de glória – um corpo adequado a uma esfera celestial, não terrenal. Como tal, Ele é o Primogênito dentre os mortos e o padrão que será seguido por todos os santos celestiais. Na vinda do Senhor para Seus santos, os crentes do Velho e do Novo Testamento serão ressuscitados com corpos de glória, “para ser conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21). Nosso Senhor Jesus Cristo é de fato o Primogênito de entre os mortos e Aquele que já entrou no céu com um corpo de glória.
Primogênito entre muitos irmãos
Finalmente, temos aquela bela expressão, “Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29). Nos conselhos de Deus, Ele nos predestinou para sermos “conformes à imagem de Seu Filho”, para que Ele pudesse ser o Primogênito entre muitos irmãos. Nosso bendito Senhor Jesus Se tornou Homem, e Ele permanecerá Homem por toda a eternidade, a fim de desfrutar da sua companhia e da minha. Mas Deus propôs ter uma família no céu, onde cada um é perfeitamente semelhante a Seu Filho amado. Nesse sentido, quando o Senhor Jesus Se tornou um Homem e então, como vimos, ressuscitou de entre os mortos como um Homem, Ele Se tornou o Primogênito entre muitos irmãos. Isso significa que todos os que pertencem a Cristo serão perfeitamente semelhantes Àquele que é o Primogênito – o principal e distinto que foi adiante, e Aquele a Quem nos assemelharemos perfeitamente em um dia vindouro. Ele não Se envergonha de nos chamar de irmãos (Hb 2:11), pois Ele nos trouxe para esse relacionamento íntimo com Ele mesmo.
W. J. Prost
Primogênito do Limpo e do Imundo
A justiça de Deus foi testemunhada pela lei e pelos profetas, embora somente manifestada pela cruz, ressurreição e glorificação de nosso Senhor. O testemunho era para a manifestação o que a sombra é para a substância – uma semelhança e um contraste. O esboço pode ser mais simples, mas falta a totalidade. Agora, as sombras são, sem dúvida, deixadas pelo Senhor para nos ajudar a entender melhor a realidade. Uma das mais interessantes dessas sombras é encontrada na posição relativa e no destino dos primogênitos dos animais limpos e imundos. Neles, temos uma maravilhosa imagem do Salvador, do pecador e da expiação.
O limpo e o imundo
Se eu pensar no status relativo, na natureza e sob a lei, dos animais limpos e imundos, claramente os limpos têm a vantagem. Noé nos mostra isso quando ele leva sete para a arca. Quando me lembro disso, fico impressionado com o fato de que o primogênito do animal imundo tem grande vantagem sobre o primogênito do limpo, pois ele pode livremente desfrutar da vida, ainda que apenas com base na redenção. Mas o outro está absolutamente condenado à morte. Assim, lemos: “os primogênitos dos animais imundos resgatarás [remirás – TB]” (Nm 18:15). “Mas o primogênito de vaca, ou primogênito de ovelha, ou primogênito de cabra”, isto é, de animais limpos, “não resgatarás; santos são; o seu sangue espargirás sobre o altar” (v. 17).
Essas duas classes de animais representam dois homens: o homem imundo ou pecador, e o homem santo. O homem visto como a raça, incluindo, é claro, cada indivíduo, exceto Um, está lado a lado com o animal imundo, e isso não por algum ato nosso que nos tornou culpados, mas por nosso nascimento, pelo qual, por meio do pecado do primeiro homem, fomos constituídos pecadores e, por natureza, filhos da ira. Então encontramos associado com a redenção do primogênito imundo: “os primogênitos dos homens resgatarás”. Isso ensina a natureza profana do homem. De forma semelhante, encontramos o homem associado ao jumento em Êxodo 13, nos lembrando da palavra de Zofar, “o homem nasce como a cria do jumento montês” (Jó 11:12), dando ao homem o pensamento do caráter naturalmente insubordinado de nosso coração. Ele “não é sujeito à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser”. Então vemos o homem longe de Deus, sob condenação e precisando de um Salvador desde o seu nascimento. Isso corresponde ao final de Romanos 5: “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores”. Mas também vemos uma redenção tão grande quanto a ruína: “os primogênitos dos animais imundos resgatarás”. Ali está a porta aberta da salvação para todos. “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5:18).
O primogênito do limpo
Agora, em meio à misericórdia em redenção, havia Alguém para Quem não existia qualquer misericórdia. Pois para o primogênito do animal limpo não havia escapatória da morte. A razão pode parecer estranha: ele era santo. O imurndo poderia encontrar uma escapatória; o santo, nunca escaparia. Que enigma isso apresenta à mente natural! Parece subversivo de toda justiça e contrário a toda justiça humana e legal. Mas que imagem vívida é da justiça de Deus em salvar o pecador! Aqui estava a vontade de Deus, nossa santificação. Isso deve ser por sacrifício, ou seja, pela oferta do corpo de Jesus Cristo uma vez (Hb 10:10). Nosso Senhor vem para fazer essa vontade. Ele toma o lugar, em infinita graça, do animal limpo, sendo Ele mesmo o Primogênito de toda a criação e “o Santo”, como Lucas declara. Agora, a condenação absoluta do primogênito do animal limpo retrata Sua terrível posição à qual Ele estava destinado, aprisionado sem poder escapar de ser sacrificado. É verdade que Ele olhou além dela, para aquela “mão direita” onde “há delícias perpetuamente”, e Ele podia dizer: “Far-Me-ás ver a vereda da vida” e “As linhas (ou sortes) caem-Me em lugares deliciosos” (Sl 16). Mas era verdade que o peso do juízo pelo o qual Ele tinha que passar estava em Seu espírito. Seus inimigos, ignorantes da verdade, expressaram-no corretamente na provocação amarga e cruel: “Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se”. À medida que o fim se aproxima, nós O encontramos totalmente ciente da situação, mas absolutamente inabalável por ela. Então lemos: “Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre Ele haviam de vir, adiantou-Se e disse-lhes: A quem buscais?” De fato, no jardim, o terror disso estava sobre Seu santo espírito: “Meu Pai, se é possível, passa de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres”. Não havia escapatória possível: “Não resgatarás”. Isso vemos na figura: “o seu sangue espargirás sobre o altar”. Assim também as orações não respondidas por libertação no Salmo 22: “Eu clamo de dia, e Tu não Me ouves”; agora em toda essa profundidade de sofrimento, aprisionado no juízo; “Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas”, vemos a maravilhosa perfeição do Senhor. Ele justifica Deus em meio a tudo: “Tu és Santo, o que habitas entre os louvores de Israel”. A profundidade de Sua provação provou quão verdadeiramente Ele era Santo. Não havia nenhuma resposta má para ser arrancada de Seu coração. Ali estava um Homem em Quem só havia bem, e de Quem só bem podia sair; assim, Ele era um cheiro suave para Deus. Todos os homens que foram muito provados falharam completamente – Jó e outros – e devem se alinhar, assim como nós, lado a lado com o animal imundo. Em Cristo encontramos a única resposta para a figura do animal limpo, e Ele era o Único para Quem não havia escapatória, para que pela graça de Deus pudesse haver uma escapatória para o pecador que n’Ele crê.
Santificai todos os primogênitos
Se continuarmos a história dos primogênitos, ela é cheia de interesse e instrução. Os primogênitos de Israel foram salvos pelo sangue na Páscoa, mas aqueles assim redimidos eram especial e peculiarmente de Deus. “Santifica-Me todo primogênito, o que abrir toda madre... Meu é” (Êx 13:2). Assim, o primogênito não era meramente redimido da morte; ele era comprado para Deus: “fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:20).
Ora, a história dos primogênitos era esta: Deus tinha Seu tabernáculo, com seus variados e multiplicados serviços, e para realizar esses serviços era necessário um imenso número de homens. Ora, esse serviço pertencia aos primogênitos, mas seus lugares foram tomados pela tribo de Levi. Cada levita representava um homem primogênito de Israel. O número de filhos mais velhos que excedesse o número daquela tribo era redimido por cinco siclos de prata cada (Nm 3:46-48). Assim, os levitas eram de uma maneira especial uma companhia redimida. Claramente, eles são, portanto, figuras dos Cristãos, tanto em nossa redenção quanto na reivindicação que Deus tem sobre nós para o serviço como redimidos. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1).
O duplo privilégio e responsabilidade
O primogênito visto dessa forma tem, por assim dizer, uma história dupla a partir de sua redenção, e nós também. Primeiro, ele morre no seu substituto, então ele vive como servo no levita. E isso encontra sua correspondência com a figura no crente agora. Estamos mortos com Cristo (Rm 6:8). Esse é o fim de nossa história como filhos responsáveis de Adão: “Estou crucificado com Cristo”. Então o pai israelita poderia dizer: “Meu filho morreu naquele cordeiro”. Então essa história termina. Mas “e vivo”. Agora temos uma nova vida – “Cristo vive em mim”. Neste ponto, temos o levita diante de nós, salvo da morte, mas devotado a Deus. A individualidade permanece a mesma, é claro. Estou morto como filho de Adão; como filho de Deus, eu vivo – redimido e nascido d’Ele. Assim, temos nosso duplo privilégio e responsabilidade, tanto para nos considerarmos mortos para o pecado quanto para viver para Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor. Cristo não é apenas o Primogênito que morre, mas também o Primogênito que vive. Ele é o primeiro de entre os mortos. Assim, é abençoado pensar n’Ele em triunfo sobre todos os Seus inimigos, e em graça nos associando a Ele. “O que santifica como os que são santificados, são todos de Um” (Hb 2:11). Somos pela graça a Igreja dos primogênitos cujos nomes estão escritos no céu; também “como primícias das Suas criaturas”. Quando vemos nossa associação com Cristo, reconhecemos com gratidão que todas as nossas bênçãos fluem da graça por causa de Ele ter sido aprisionado sem poder escapar da morte. Somente assim os propósitos de Deus para conosco poderiam ser realizados. Agora, se somos primogênitos com Cristo, por assim dizer, ainda assim o conselho de Deus sempre assegura a Ele a preeminência: “os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29).
C. D. Maynard (adaptado)
Igreja dos Primogênitos
Hebreus 12:23 é o único lugar onde o termo “Igreja dos primogênitos” é encontrado. Embora, sem dúvida, decorra da associação da Igreja com Aquele que é o Primogênito dentre os mortos (Cl 1:18; Ap 1:5), ainda assim é interessante notar que Deus em Sua graça sempre teve o primogênito diante de Sua mente. Assim que Ele protegeu Seu povo do juízo na terra do Egito pelo sangue do cordeiro da Páscoa, Ele reivindicou todos os seus primogênitos, bem como os primogênitos de seu gado (Êx 13). “Meu é todo primogênito entre os filhos de Israel, entre os homens e entre os animais; no dia em que, na terra do Egito, feri a todo primogênito, os santifiquei para Mim” (Nm 8:17; também cap. 3:12-13). Os levitas foram posteriormente tomados em lugar dos primogênitos e dados a Arão e a seus filhos para fazerem o serviço dos filhos de Israel no tabernáculo da congregação. Representando assim os primogênitos de Israel, eles foram associados a Arão, que era ele próprio um primogênito, e com isso se tornaram uma sombra, se não uma figura, da Igreja dos primogênitos. Isso ficará mais evidente se for lembrado que até mesmo os filhos de Arão, bem como os levitas, obtinham todos os seus privilégios por estarem unidos a Arão. Por exemplo, Arão, como uma figura de Cristo, foi vestido e ungido (sem a aspersão de sangue, por ser uma figura de Cristo) primeiramente sozinho, e depois com seus filhos, quando é por meio da associação com Arão que eles se tornam uma figura da Igreja como a família sacerdotal.
Ora, visto que por meio de todos esses tipos e figuras Deus sempre teve Cristo em vista, é em Cristo que todas essas coisas encontram seu cumprimento. Quando Cristo, portanto, o Primogênito de entre os mortos, tomou Seu lugar à direita de Deus, o Espírito Santo foi enviado para reunir aqueles que seriam herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo. Todos esses, em virtude de sua associação com Ele, são primogênitos, uma vez que Ele Se digna, em Sua graça e amor, compartilhar com eles tudo o que Ele próprio herda em virtude da redenção. Nós, de acordo com o propósito de Deus, somos os irmãos de Cristo, e Ele sempre terá a preeminência como o Primogênito entre os redimidos. Ao mesmo tempo, eles, juntos em sua associação com Ele diante de Deus, formarão a Igreja dos primogênitos. O que podemos dizer na presença de tais revelações do coração de nosso Deus, senão: “a Esse glória na Igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3:21)?
E. Dennett
Jacó no Egito
Nos conflitos dos santos, não somente Satanás é derrotado, mas o santo que foi provado aprende novos segredos sobre sua própria fraqueza e sobre os recursos e a graça de Deus. Então, posso acrescentar, nas andanças do coração, ao se afastar do poder da fé e da esperança, não somente a alma recebe correção e é exercitada, como também ela aprende, para a glória de Deus, que deve retornar àquela postura na qual o Senhor a colocou primeiro. Esses pensamentos podem nos introduzir ao período de encerramento da história de Jacó.
No começo, Jacó tinha um título para a herança na graça e soberania de Deus. “O mais velho servirá ao mais moço” (TB) foi o decreto que Deus havia pronunciado em seu favor. Não foi permitido que os direitos da natureza na pessoa de Esaú ficasse em seu caminho. O propósito da graça de Deus garantiu tudo a ele; esse é o seu único, porém todo-suficiente título, assim como é o nosso. Ele se afastou dessa confiança simples. Ele procurou obter o selo de seu irmão para esse título (Gn 25:31), e depois, com astúcia, obter o de seu pai também (Gn 27). Isso foi uma fraude, e vinte anos de exílio, suportados em meio a injustiças e opressões, foram a disciplina divina.
Confiança em Deus
Mas isso também era “confiança na carne” (TB). Era Galacianismo – uma busca para obter nosso título de bênção, ou direito de primogenitura, ou herança de Deus, selado por alguma outra mão que não a d’Ele.
No final, porém, sua alma se encontra no exercício da mais simples confiança. Ele está prestes a morrer, e os filhos de José, que ele teve com a egípcia, são trazidos diante dele. Ele imediatamente os adota. Eles não tinham título – pelo menos nenhum aos direitos dos primogênitos, mas Jacó os adota e os coloca no lugar dos primogênitos, dando-lhes uma porção dobrada e tratando-os como se eles fossem Rúben e Simeão.
Em tudo isso, houve a severa recusa de consultar carne e sangue. As suas entranhas podem ter intercedido pelo seu primogênito. Mas, não, Rúben deve ceder lugar a José, que, em seus filhos Efraim e Manassés, terá uma porção acima de seus irmãos. A graça prevalecerá. Fé é o que se lerá em seu título de primogenitura, bênção, herança divina e todas as coisas, em total contradição às reivindicações da carne e do sangue, ou aos direitos da natureza.
O propósito de Deus em graça
Mas, além disso, Manassés, o mais velho, cederá a Efraim, o mais novo, assim como Rúben, o primogênito, foi obrigado a ceder a José, o décimo primeiro, e isso, também, apesar das mais comoventes súplicas e lutas da natureza. Nas entranhas de um pai, José contende pelos direitos de Manassés, e Jacó se compadece dele nesses anseios. Em resposta a eles, ele diz: “Eu o sei, meu filho, eu o sei”. Mas ele deve prosseguir, até deixar de dar ouvidos ao clamor da natureza e publique o propósito de Deus e o título da graça, colocando Efraim acima de Manassés (Gn 48).
Assim, ele é levado a ocupar o próprio terreno onde a mão de Deus o havia colocado no princípio, e do qual, por confiança na carne, ele se afastou. Ele agora aprende que aqueles a quem Deus abençoa serão abençoados, que Sua graça não precisa da ajuda da carne, nem Sua promessa do selo do homem. Não, mas que, em vez disso, apesar da carne, e na independência do homem, Deus a cumprirá. Se havia sido necessário para Jacó, de modo a garantir a herança divina para ele, obter a bênção de seu pai moribundo Isaque, Jacó agora vê, ao colocar Efraim acima de Manassés, apesar de José, que Deus poderia e teria feito isso acontecer. Ele havia desejado o próprio selo de Isaque para o seu título sob Deus, mas agora ele aprende que Deus pode vindicar o título que Ele confere e pode cumprir os compromissos e promessas de Sua graça, apesar, por assim dizer, até mesmo da terra e do inferno, da relutância da natureza, ou de todas as lutas da carne e do sangue.
J. G. Bellett
O Direito de Primogenitura
Rúben era o primogênito de Israel (1 Crônicas 5:1). Como tal, ele tinha um lugar de proeminência, pois o primogênito tem precedência sobre toda a família, e por meio dele a principal linha ancestral é normalmente traçada. Mas Rúben é colocado de lado, e a proeminência natural da primogenitura apenas o rebaixou ainda mais quando ele a perdeu. A ordem da natureza não é a ordem de Deus, e nada pode suprir os desvios da natureza, a não ser a misericórdia soberana de Deus. Sempre foi assim desde que o homem caiu. Essa misericórdia é vista nos caminhos governamentais de Deus, mas, muito mais em Seus caminhos de graça! Sob a graça, como um princípio fundamental, primeiro é “o natural; depois, o espiritual” (1 Co 15:46 – ARA). Deus deu a primogenitura a José. No entanto, mesmo aqui, mostrando a soberania da graça, a genealogia não deve ser considerada segundo a primogenitura.
A genealogia
A genealogia é a do Governante Supremo. Na sabedoria de Deus, o direito de primogenitura e o governo supremo são separados por um breve espaço. O direito de primogenitura era de Cristo quando Ele veio ao mundo, mas se Ele tivesse assumido o governo supremo naquele momento, o que só poderia ter sido em juízo, onde estariam a cruz, a redenção e a glória de Sua graça? Ele veio inicialmente “para ser cortado e não ter nada” (Dn 9:26 – JND), pois havia uma questão mais profunda antes que Ele pudesse aparecer como Governante Supremo de acordo com os conselhos de Deus. Foi necessária uma figura distinta, tal como José, para expor a verdade de que o Governante Supremo, a Quem pertencia o direito de primogenitura, deveria aparecer como Aquele cujo direito de primogenitura foi negado. Ele, o Primogênito, possuindo todos os direitos no céu e na Terra, foi expulso e rejeitado por Seu próprio povo, como José por seus irmãos.
Esses são os propósitos do amor de Deus e são prefigurados desde o princípio. Desde que o pecado entrou, Deus em todos os Seus antigos tratamentos e caminhos declara quão grande é o Seu amor e como ele poderia ser com justiça manifestado aos pecadores. Sacrifício e derramamento de sangue, desde os primórdios, e tudo o que foi ordenado sob a lei, apontam para a cruz, sem a qual nada além de perdição eterna seria possível para o homem.
A cruz é antes da coroa
José como governante do Egito é figura do futuro governo e reinado de Cristo. O poder e a força do Governante e Conquistador Supremo foram preditos na mesma palavra que anunciou Seus sofrimentos, pois no Éden o Senhor Deus disse à serpente: “Ele esmagará a tua cabeça, e tu esmagarás o Seu calcanhar” (Gn 3:15 – JND). O triunfo no Mar Vermelho, as vitórias de Josué, de Davi e a glória de Salomão apresentam uma imagem vívida do futuro reinado do Governante Supremo e como a cabeça da serpente será esmagada. Mas a vitória final deve vir depois do sofrimento. O esmagamento do calcanhar da Semente vem antes do esmagamento da cabeça da serpente. A cruz é antes da coroa; o trono é erguido na sombra da cruz, e as glórias de cada um brilham ainda mais.
O direito de primogenitura
A primeira menção do direito de primogenitura é em conexão com alguém (Esaú) que o desprezou, e Hebreus 12:15-16 faz alusão a ele como um aviso aos crentes. Todos na Igreja de Deus são primogênitos, mas podemos, se tivermos uma mentalidade mundana aqui, perder o gozo e até mesmo o conhecimento de nossos privilégios. Esaú, que vendeu seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, é chamado de profano; para nós é como se um Cristão trocasse sua posição e caráter celestiais por algum desejado bem terrenal, por um presente conforto neste mundo ou para escapar do vitupério de Cristo.
O “direito de primogenitura” era um dos marcos de Deus para o suporte e manutenção da devida autoridade e ordem entre os homens. Esaú o desprezou e o vendeu. Rúben o perdeu. Jacó o obteve tirando vantagem das necessidades de Esaú, mas aquela compra foi uma forma vazia e sem valor. Isaque era o depositário do direito de primogenitura, não para fazer com ela o que quisesse, mas de acordo com a vontade de Deus. Isaque não estava enganado quanto à Palavra de Deus; ele sabia que o mais velho deveria servir ao mais novo, mas sua vontade própria o cegou quanto à vontade de Deus e quanto à personalidade de Jacó. Este é o exemplo mais marcante da mão soberana de Deus: a vontade do homem aparentemente bem-sucedida, mas Deus realizando a Sua.
Para José, o direito de primogenitura é um presente imediato de Deus, sem nenhuma tentativa injusta de obtê-lo. Mas seus irmãos se ressentiram da ideia de José ser o principal entre eles, então o venderam como escravo para o Egito. Foi lá que os privilégios e a autoridade do direito de primogenitura foram vistos nele. Os meios que eles usaram para impedir foram os meios de Deus para realizar o Seu propósito.
Assim será no dia vindouro. José assume posição como primogênito na família, mas não da maneira natural. E o nosso José não é o primeiro homem, mas o Segundo, não o primeiro Adão, mas o Último. No entanto, Ele é o Primogênito, e quando Ele aparecer, Israel, como os feixes de trigo, as primícias da Terra, fará reverência a Ele.
A visão de Jacó a respeito do sonho profético de José parece estar limitada à sua própria família, mas o sonho vai muito além da família de Jacó ou da nação de Israel. Naquele dia resplandecente, Israel como a primeira das nações na Terra será como o Sol, a Lua e as estrelas, as fontes de poder e autoridade para os gentios subjugados. Cristo governará de Sião, e Israel, a nação escolhida, será príncipe na Terra, os canais de suas bênçãos no Milênio.
A realeza de Judá
Que verdades maravilhosas estão envolvidas nos sonhos de José! Era a vontade de Deus, então, dar a primogenitura a José e a realeza a Judá. Portanto, lemos: “Judá prevaleceu sobre seus irmãos, e dele veio o Príncipe” (1 Cr 5:2 – TB). Por um breve espaço, ambas são vistas em José, mas então lemos: “Judá prevaleceu” (TB). Que maneira graciosa de declarar o propósito predeterminado de Deus! Judá prevalecer é simplesmente a vontade de Deus. Portanto, ele prevaleceu, mas não por sua bondade. Rúben era um homem imoral, mas não era violento. Simeão e Levi eram violentos, mas não eram imorais. Mas Judá era as duas coisas, pois foi ele quem sugeriu vender José para o Egito, e os detalhes sujos de sua vida familiar estão registrados na Palavra de Deus. No entanto, parece ter havido total arrependimento, e a graça de Deus lhe deu o lugar de honra.
Entre os sonhos de José e sua realização, houve um período de sofrimento; ele foi expulso, odiado por seus irmãos, vendido como escravo aos gentios, mas acabou governando sobre eles antes que seus irmãos se curvassem a ele. Passa diante de nosso coração Alguém maior que José, que suportou maior ódio dos Seus e foi, por eles, entregue aos gentios para ser crucificado. Ele agora é adorado por aqueles tomados dentre os gentios, e esses se inclinam perante Ele (Atos 15:14), enquanto o Judeu ainda está na terra da fome.
R. Beacon (adaptado)
A Bênção e a Herança
“E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou”. Então segue a herança, Sua dádiva para eles. “e Deus lhes disse:… enchei a Terra, e sujeitai-a; e dominai” (Gn 1:27-29). Mas o curso do brilhante dia de inauguração da Terra não durou muito antes que o homem e sua herança fossem arruinados! Aquele Sol havia nascido sobre uma visão brilhante de bem-aventurança sem fim; então ele se pôs com a carreira do homem interrompida com uma precária e miserável existência encerrada em pó, e sua herança sendo dominada pela corrupção.
Esta foi a dotação do homem natural com suas possessões em responsabilidade. Foi “uma herança” “adquirida às pressas” “no princípio”; mas não foi “abençoada no seu fim” (Pv 20:21 – AIBB). Aqui temos a figura do homem natural, mas há o contraste também do Segundo Homem, o Senhor que é do céu. Ele Se esvaziou, tomando a forma de Servo – na semelhança da carne pecaminosa, e sendo achado como tal, humilhou-Se até a morte. Ele foi cortado e não tinha nada. Jesus veio de uma mulher, veio sob a lei para que pudesse redimir aqueles que estavam sob a lei, para que pudéssemos receber a filiação. Ele parecia trabalhar em vão e gastar Sua força por nada. Ele coloca de lado toda prerrogativa de Divindade, enquanto permanece sempre Deus, a fim de estar em perfeita e absoluta obediência como Homem. Então Ele na morte renunciou a todo direito para fazer a vontade de Seu Pai. Ele adquire um título para a herança no pó da morte, de acordo com a glória e a justiça de Deus. Além disso, os coerdeiros não são segundo a carne, mas segundo o Espírito – os filhos da promessa, não da lei, trazidos pela mesma obra de redenção da graça por meio da fé.
Herdeiros segundo a promessa
Tudo isso é feito, não no princípio da lei, mas da promessa, pois Deus, pela promessa, deu a herança em graça a Abraão. Assim, Paulo nos diz: “Se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa” (Gl 3:29). Todas as coisas são Suas, o dom do amor do Pai a Ele; todo poder também é dado a Ele no céu e na Terra. Mas ainda assim Ele espera. Enquanto Ele ainda estava aqui na Terra, o Pai havia dado todas as coisas em Suas mãos. Mas Ele esperou, tomou a cruz e consumou a vontade de Seu Pai no sangue e fogo de Seu sacrifício. Ele está ressuscitado agora e glorificado, mas ainda assim Ele espera com paciência enquanto os coerdeiros são reunidos, pois a longanimidade de nosso Senhor é para salvação. Mas “O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia” (2 Pe 3:9), e em breve Ele Se assentará no trono do julgamento. Então o Bendito, e aqueles já abençoados n’Ele, serão por poder introduzidos na herança. Então se cumprirá: “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com Ele mil anos” (Ap 20:6).
A Noiva – a Esposa do Cordeiro
Quão doce é notar que quando somente a assembleia está diante dos olhos do Espírito, ela está “adereçada como uma Esposa ataviada para o seu Marido!” Não há nenhum estado público ou glória exterior aqui, mas simplesmente “para o seu marido”. Em termos simples, esta é “a bênção”, a vida e seus frutos em justiça (Ap 19:7-8, 21:2). É “a bênção” em sua esfera apropriada, e a maldição e o amaldiçoado são excluídos por toda a eternidade. As afeições não desejarão nada além de Cristo por toda a eternidade, o Objeto que as envolve. Somos de Cristo, e Seu desejo é direcionado a nós. Mas então devemos desprezar a herança – o direito de primogenitura? Não é assim. O Espírito habita com deleite naquela cena radiante de luz celestial. Naquela cena, ela é a Esposa do Cordeiro, não apenas a Noiva agora, e ela exibe para a Terra a glória d’Aquele que antes era rejeitado em Sua herança possuída. Este é o retrato do próprio Jesus. Esta é agora sua porção, associada a Ele em Seu reino celestial de poder.
Vimos o contraste com o primeiro homem que, em desobediência, se exaltou para ser como Deus. Jesus, sendo em forma de Deus, esvazia-Se para ser obediente, e toma sobre Si a forma de homem. Ele entrega Suas posses. Ele também não toma Seu lugar de exaltação e poder até ter cumprido a obediência na morte; é só então (embora verdadeiro em título antes) que o Pai dá todas as coisas em Suas mãos (Gn 24:36, 25:5; Jo 13:3; Fp 2:10). É depois de ser oferecido sobre o altar que o verdadeiro Isaque toma em poder de ressurreição Sua noiva e Sua herança.
A bênção e a herança
Mas enquanto isso a bênção e a herança estão temporariamente separadas; isto é, a plena realização divina da bênção veio em Cristo, mas a herança espera. Podemos até dizer que isso caracteriza o próprio chamado do Cristão; nós esperamos Ele tomar a herança. Buscar algo aqui que seja do mundo é a armadilha do Cristão. Isso seria desprezar o nosso direito celestial de primogenitura em prol de uma vida mundana. Devemos atentar diligentemente, para que não haja ninguém profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura (Hb 12:16 – ACF).
Nosso bendito Senhor abdica de Suas perspectivas, Sua glória, Seu reino, como Filho do Homem; Ele Se entrega para que possa morrer (João 12:23-28). Ele não desprezou o Seu direito de primogenitura, nem disse: “de que Me aproveitará o direito de primogenitura?” No entanto, Ele não poderia tomá-lo contaminado com pecado, nem o possuiria sozinho, mas teria os coerdeiros associados a Si mesmo para a glória de Seu Pai e para o cumprimento de Seus propósitos de amor. Mas para isso Ele precisa morrer; Ele precisa ser rejeitado pelo mundo, pelo homem e abandonado por Deus. Assim, Ele foi levantado, para que todos os homens pudessem se aproximar de Deus. E agora, pela cruz, somos totalmente trazidos à bênção, de modo que já somos abençoados com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Mas, se é assim, devemos esperar pela glória com Aquele em Quem obtivemos nossa herança. Ele espera; Ele próprio ainda não está na herança.
Não devemos buscá-la aqui. Isso é o que Jacó fez. A bênção era dele. Marcado pelo próprio Deus como a semente eleita da promessa, o que tinha ele a ver com comprar o direito de primogenitura de seu irmão? Não era para ele, assim como a bênção de Deus não era para Esaú, que pensou em herdá-la (Hb 12:17). Com astúcia e ganância, ele tentou unir a bênção e a herança por seus próprios meios. Mas foi isso para bênção? Sua história conta o resultado. Mas Jesus não apenas Se esvaziou de Suas possessões ao subsistir em forma de Deus, mas, tornando-Se Homem, abriu mão de todas as Suas perspectivas para morrer. Uma solene, porém abençoada, lição para aprendermos: “quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me serve, siga-Me” (Jo 12:25-26).
Jacó abençoa seus filhos
“Poucos e maus” foram os dias dos anos da vida de Jacó, mas ele aprendeu sua lição, e com seu último suspiro e bênção de seus filhos ele faz distinção entre a bênção e a herança, unindo-as somente em Siló – Aquele que era o Pastor, a Pedra de Israel (Gn 49:24). A semente eleita da promessa e o poder de governo ele coloca na linhagem de Judá (Gn 49:10). Ele deveria ser o depositário da bênção, mas a José foi dado o direito de primogenitura – a porção do primogênito. Assim, lemos em 1 Crônicas 5:1-2 (TB) que foi o “direito da primogenitura dado aos filhos de José, filho de Israel; e a genealogia não se deve contar segundo o direito da primogenitura. Pois Judá prevaleceu sobre seus irmãos, e dele veio o príncipe; mas o direito da primogenitura foi de José”.
Resta-nos manter em nossa alma, no poder divino, este princípio de Deus de que, enquanto Cristo espera, a linhagem e a primogenitura não andam juntas. Estamos na linha da semente eleita? Então a bênção em toda a sua plenitude e extensão divinas é nossa – a vida eterna, o lugar e o relacionamento de Cristo com Seu Pai e Seu Deus, todas as coisas que pertencem à vida e à piedade. Mas a primogenitura, a porção aqui do primogênito, ainda não é nossa. Ela ainda está na mão do primeiro homem, por mais que ele a tenha desprezado como dada por Deus. Não cabe a nós buscá-la. Não somos do mundo, assim como Cristo não é dele, e Ele ainda não exigiu ter o mundo (João 17:9). Quando “os reinos do mundo” vierem a ser “de nosso Senhor e do Seu Cristo” (Ap 11:15), então entraremos na possessão com Ele, não apenas as coisas da Terra, mas também as dos céus. Pois Deus propôs “encabeçar todas as coisas em o Cristo[1], as coisas nos céus e as coisas na Terra; n’Ele, em Quem também obtivemos uma herança” (Ef 1:10-11 – JND). Até então, Ele espera, e nós também esperamos. Ele tem direito e título sobre tudo; Ele adquiriu aquilo que era o propósito do amor de Seu Pai antes que o mundo existisse – aqueles a quem Ele deu a Ele, Seu corpo e Sua noiva. Eles compartilharão com Ele em tudo: Sua vida, Seus relacionamentos com Seu Pai e Seu Deus, Seu amor, Sua paz, Seu gozo, Sua glória. Podemos muito bem esperar com Ele então, até que venha a glória. Portanto, permaneçamos separados do mundo e da falsa igreja que se autodenomina esposa de Cristo, mas que recebe a glória dela aqui sem Ele.
[1] N. do T.: “O Cristo” é uma expressão nos escritos de Paulo que se refere à união mística de Cristo, a Cabeça, e os membros do Seu corpo, pela habitação do Espírito Santo (1 Co 12:12-13 – JND).
W. T, W (adaptado)
O Primogênito dos Mortos
Ele não está aqui. Onde Ele está? Ele ressuscitou, o Primogênito dos mortos. O testemunho de Pedro aos Judeus, nos primeiros capítulos dos Atos dos Apóstolos, foi duplo. Ele repetidamente insistiu com eles: “o Qual andou fazendo o bem”, mas “vós, O crucificastes”. Essa é a sua culpa. Mas “Deus O ressuscitou dos mortos”. Esse é o selo de Deus sobre Sua vida fiel de testemunho. Naquele mesmo maravilhoso capítulo 50 de Isaías, é dito: “Perto está O que Me justifica”. Quem O justificou? Deus.
Os principais sacerdotes, os escribas e os fariseus pensaram que poderiam mantê-Lo no sepulcro. Eles Se lembraram de que Ele havia falado sobre ressuscitar dos mortos. Era algo muito notável eles terem se lembrado disso quando os discípulos haviam se esquecido. Então eles foram até Pilatos e pediram sua ajuda. Pilatos disse: “Tendes a guarda; ide, guardai-o como entenderdes”. Parece-me que havia uma certa ironia nisso. Então eles enviaram uma guarda e selaram a pedra, e suponho que os soldados estivessem instruídos sobre como lidar com a turba de pescadores galileus se eles viessem roubar o sepulcro. Não lhes havia sido dito como lidar com um terremoto ou um anjo do céu! Os pescadores não vieram, mas o anjo veio, e o terremoto também, e aqueles veteranos romanos, de tanto medo, caíram como mortos. O que aconteceu? Deus interveio; Deus justificou Sua Fiel Testemunha. Deus foi o PRIMEIRO no sepulcro, e a pedra foi removida do túmulo, não para deixar Cristo sair, mas para nos deixar olhar dentro.
Ele é o Primogênito dos mortos; isso significa que outros devem compartilhar Seu triunfo. Todos os que dormem em Jesus sairão de seus sepulcros de acordo com o mesmo padrão abençoado, e nós que ficarmos vivos para a Sua vinda seremos transformados. Estamos aguardando nosso Salvador, “que transformará o nosso corpo abatido [de humilhação – JND], para ser conforme o Seu corpo glorioso, segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a Si todas as coisas” (Fp 3:21). Ele é o Vitorioso; Ele saiu do túmulo. Deus triunfou sobre todo o poder da morte e do diabo na ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Sua ressurreição é a resposta de Deus à Sua fidelidade aqui na Terra, como também é a grande vitória de Deus sobre a morte. Ele é o Primogênito dos mortos, e, quando Ele vier para tomar as coisas para Deus neste mundo, Ele as tomará no poder da ressurreição, e de tal forma que nenhuma voz no universo desafiará Seu direito de fazê-lo. A voz da morte está em silêncio; a morte desafia a obra de todos os outros homens, mas Ele aniquilou o poder da morte. Ele é o Vencedor e nos levantou no poder da ressurreição para compartilhar Sua vitória conosco. Nunca duvide da capacidade de nosso Senhor Jesus Cristo de manter você. Você pode ser um Cristão muito fraco; quanto mais você sentir isso, melhor, pois então você confiará mais na força d’Ele, e Ele é capaz de manter todos aqueles que Ele salva.
J. T. Mawson
Primogênito de Toda a Criação
Aqui, na expressão “Primogênito de toda a criação” (Cl 1:15), como em outros lugares (Sl 89:27), o título de Primogênito é considerado no sentido de dignidade, em vez de mera prioridade de tempo. Adão foi o primeiro homem, mas ele não era nem poderia ser o primogênito. Como poderia Cristo, tão tarde em Seu nascimento aqui embaixo, ser considerado o Primogênito? A verdade é que, se Cristo Se tornou Homem e entrou nas fileiras da criação, Ele não poderia ser outra coisa. Ele é o Filho e Herdeiro. Assim também nós somos agora pela graça considerados a Igreja “dos primogênitos”, embora houvesse santos antes da Igreja. É uma questão de posição, não de data. Cristo é verdadeiramente o Primogênito de toda a criação.
W. Kelly
A Assembleia dos Primogênitos
Além disso, é dito que os Cristãos hebreus haviam chegado à “Igreja [assembleia – JND] dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb 12:23). Não precisa haver hesitação em identificar esta companhia celestial. É a Igreja de Deus, da qual ouvimos tanto e do mais profundo interesse nos Atos dos Apóstolos e nas outras epístolas, como o Senhor quando aqui embaixo falou dela como prestes a ser fundada (Mt 16:18), de modo que as portas do Hades não prevaleceriam contra ela. O dia de Pentecostes (que se seguiu à Sua morte, ressurreição e ascensão) viu pela primeira vez a nova visão. Ela é descrita aqui de acordo com o desígnio divino da epístola. Isso explica a apresentação do ajuntamento daqueles que a compõem, os primogênitos, e não as figuras familiares em outros lugares do corpo de Cristo e do templo de Deus – Sua habitação pelo Espírito. E aqueles que o compõem são aqui caracterizados: (1) em relação Àquele que nos foi cuidadosamente mostrado em Hebreus 1 como o Primogênito, o Herdeiro estabelecido de todas as coisas; (2) em relação, pela graça, à nossa apropriada e destinada esfera de glória, o céu, e não a Terra, onde Israel, como tal, corretamente aguarda sua bem-aventurança e triunfo sob o reinado do Messias. Aqueles que são santos, irmãos, participantes de um chamado celestial, sendo filhos, são herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo. Ele é Primogênito, único em direito pessoal e resultado de Sua obra, mas eles também são verdadeiramente primogênitos, embora da graça divina. E mais, eles são inscritos no céu por conselho divino e pela mesma graça, cidadãos do céu, o que justamente empalidece e se eleva acima de qualquer outra cidadania.
W. Kelly
Sua Preeminência em Todas as Coisas
“Para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18).
Ó SENHOR, Tua glória nós contemplamos,
Ainda que não com olhos mortais;
Essa glória, no trono do Pai,
Nenhuma visão humana pode contemplar.
É dali – agora que Cristo foi para o alto,
A obra da redenção está completa –
Que o Espírito traz Sua glória para perto,
Para aqueles que por Ele esperam.
E nós vemos nosso grande Precursor,
Em Sua própria glória ali;
E Ele não Se envergonha de, com tais como nós,
Como Primogênito, tudo compartilhar.
O amor do Pai, a fonte de tudo,
Mais doce do que tudo o que dá,
Brilha sobre nós agora sem revogação,
E dura enquanto Jesus vive.
O imaculado gozo da nova criação
Brilha através da presente escuridão;
Aquele mundo de pura bem-aventurança,
O lar eterno dos santos.
J. N. Darby
“Ele é a Cabeça do corpo da Igreja; é o Princípio e o Primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”
Colossenses 1:18
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