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O Mundo, a Carne e o Diabo (Agosto de 2009)

Foto do escritor: Revista O CristãoRevista O Cristão

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Revista mensal publicada originalmente em agosto/2009 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          D. C. Buchanan

          J. N. Darby

          J. N. Darby

         W. Kelly

          J. N. Darby

          J. N. Darby

          E. L. Bevir, Christian Friend

          W. J. Prost

W. Kelly

          The Christian Friend, 1874

 

O Mundo, a Carne e o Diabo

 

Ao longo da história, tem sido comum um conquistador mostrar sua vitória colocando o pé sobre a cabeça de seu inimigo que está derrotado no chão. Que coisa abençoada é conhecer os nossos inimigos e saber que o Senhor os entregou em nossas mãos. Nosso velho homem está “crucificado” (Rm 6:6), o mundo “vencido” (Jo 16:33) e seu príncipe “julgado” (Jo 16:11). Se estamos andando pela fé como ressuscitados com Cristo, então Satanás, o mundo e a carne estão debaixo de nossos pés. Se, porém, não estivermos andando pela fé nos resultados da obra de Cristo, então, em vez de sermos vencedores, seremos vencidos em nossa jornada pela terra do inimigo. Fazemos bem em seguir o exemplo de Josué, quando, estando ele prestes a enfrentar os inimigos da terra prometida, o Senhor Se encontrou com ele e disse-lhe. “E sucedeu que, estando Josué ao pé de Jericó, levantou os seus olhos, e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um Homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a Ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos inimigos? E disse ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do SENHOR. Então, Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-lhe: Que diz meu Senhor ao Seu servo? Então, disse o Príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim” (Js 5:13-15).

 

Tema da edição

 

Vitória sobre Satanás, a Carne e o Mundo

 (Êxodo 4:19)

 

O Senhor deu a Moisés três sinais quando o enviou de volta ao Egito para libertar Seu povo de Faraó. Eles foram uma lição de Jeová para Moisés, para os anciãos de Israel e para Faraó. Moisés aprendeu a confiar no Senhor ao realizá-los, os filhos de Israel creram no testemunho a respeito de Jeová e foram libertados do Egito, mas Faraó foi destruído por causa de seu coração endurecido. Esses três sinais são um exemplo realista, para o crente hoje, do caminho de libertação de nossos três grandes adversários: Satanás, a carne e o mundo.

 

A vara 

“E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do Meu povo, que está no Egito... Vem agora, pois, e Eu te enviarei a Faraó para que tires o Meu povo, os filhos de Israel, do Egito... Então respondeu Moisés, e disse: Mas eis que não me crerão, nem ouvirão a minha voz, porque dirão: O SENHOR não te apareceu. E o SENHOR disse-lhe: Que é isso na tua mão? E ele disse: Uma vara. E ele disse: Lança-a na terra. Ele a lançou na terra, e tornou-se em cobra; e Moisés fugia dela. Então disse o SENHOR a Moisés: Estende a tua mão e pega-lhe pela cauda. (E estendeu a sua mão e pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na sua mão); para que creiam que te apareceu o SENHOR, o Deus de seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Êx 3:7, 10; 4:1-5). Esse sinal de poder foi realizado três vezes: primeiro para Moisés, quando esteve sozinho com Jeová, depois para os anciãos de Israel e, finalmente, diante de Faraó.

 

Moisés não tinha de si mesmo esse poder; ele vinha de Jeová. A primeira vez foi para ensinar Moisés a confiar e obedecer. A segunda, para mostrar aos anciãos de Israel que Jeová estava com Moisés e podia libertá-los do Egito. A terceira vez foi para manifestar o poder de Jeová a Faraó, para que ele reconhecesse Sua autoridade sobre Israel. Caso contrário, Faraó seria destruído.

 

O ato de lançar a vara na terra mostra o que acontece quando os homens deixam Deus de fora e fazem sua própria vontade sem serem guiados por Deus: eles se tornam ferramentas de Satanás, como a vara que se tornou uma serpente. Faraó era alguém que não reconhecia a autoridade de Deus. Jeová mostrou a Moisés, a Israel e a Faraó como se tornar uma vara útil para guiar, se eles se submetessem a Ele. Somente Jeová, o Deus de Israel, pode tomar instrumentos sob o poder de Satanás e libertá-los, fazendo deles uma bênção.

 

A bênção do poder com a vara não era transformá-la em serpente, mas sim torná-la novamente uma ferramenta útil. Até os magos podiam imitar a primeira parte do sinal, embora a vara de Moisés e Arão tenha engolido a vara deles. Isso era um testemunho de que o poder de Deus é maior. Satanás é um destruidor, mas ele é um inimigo derrotado. Somente Deus é Todo-Poderoso. Mas Faraó permaneceu obstinado diante do testemunho de Jeová por meio de Moisés, o que levou à destruição do Egito, à morte de seu primogênito e à sua própria morte. Faraó, ao seguir Satanás, foi destruído.

 

O único meio de libertação do poder de Satanás é pela obediência à Palavra de Deus. Não precisamos temer Satanás, mas apenas obedecer à Palavra de Deus. O desejo de Deus é que sirvamos, que tomemos em nossas mãos qualquer habilidade que temos e O sirvamos. Mas, se continuarmos a fazer nossa própria vontade com nossas habilidades, elas se tornarão como a vara lançada na terra, transformando-se em serpente. Satanás a usará para si. “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7). Que o Senhor nos ajude a andar em obediência, provando que Deus tem o poder de nos libertar de Satanás.

 

A mão leprosa 

O segundo sinal envolvia a mão e o peito de Moisés. “E disse-lhe mais o SENHOR: Mete agora a mão no peito. E, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a meter a mão no peito. E tornou a meter a mão no peito; depois, tirou-a do peito, e eis que se tornara como a sua outra carne” (Êx 4:6-7). Este sinal é uma figura de como lidar com o inimigo interior, a carne. Devemos aprender que o fruto da carne é mau e que a raiz também é má. Quando Moisés colocou sua mão em seu peito pela primeira vez, ele aprendeu que o fruto da carne era leproso e mau. Como diz Romanos 3:10-11, “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus”. Quando ele colocou sua mão leprosa no seu peito pela segunda vez, ele reconheceu a fonte do mal, seu peito. “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18). Mas o Senhor não deixa Moisés com a mão leprosa em seu peito; Ele diz para ele tirá-la e, quando ele tirou, ela estava limpa. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor... Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 7:24-25; 8:2). Esse é o caminho da vitória sobre nosso inimigo interior, chamado carne. Quando a reconhecemos pelo que ela é, o Senhor Jesus nos livra de seu domínio pelo poder da nova vida do Espírito. Enquanto pensarmos que ainda há algum bem na carne, fracassaremos em suprimir o seu mal.

 

O Senhor ensinou a Moisés essa lição antes de ele começar a ajudar os filhos de Israel. O poder sobre a lepra era, na realidade, um testemunho para os outros de que o Senhor estava com ele. Apenas uma vez é registrado que Moisés perdeu a paciência, deixando a carne se manifestar. É necessário aprender essa lição antes de começarmos a servir o Senhor em público. É preciso apenas um pouco da carne para a destruição de muito do que é bom.

 

O milagre da mão leprosa não foi realizado diante de Faraó. Era para Moisés e os filhos de Israel. Aqueles que não são santificados pelo Senhor não têm libertação de sua carne. Nós, que somos crentes, temos muito a aprender com esse milagre, mas devemos tomar cuidado para não falar de nossa carne diante dos incrédulos.

 

A água derramada como sangue 

O terceiro sinal trata do reconhecimento de que o Egito, uma figura do mundo, está debaixo de condenação. O mundo não deve ter nenhum direito sobre o crente, assim como o Egito não devia ter nenhum direito sobre Israel. “E, se acontecer que ainda não creiam a estes dois sinais, nem ouçam a tua voz, tomarás das águas do rio e as derramarás na terra seca; e as águas que tomarás do rio tornar-se-ão em sangue sobre a terra seca” (Êx 4:9). A água do rio era a vida natural no Egito. Quando Moisés a derramou na terra seca, ela tornou-se sangue, isto é, uma figura da morte. Esse foi o ato de reconhecimento de que o Egito estava sob a sentença de condenação. Nenhum dos recursos do Egito deveria ser considerado como o que sustentava a vida de Moisés ou dos filhos de Israel. “Isto, porém, vos digo, irmãos: que o tempo se abrevia... os que usam deste mundo, como se dele não abusassem como se fossem deles, porque a aparência deste mundo passa” (1 Co 7:29, 31).

 

Isso não está falando do mundo como a criação tornada bela por Deus, mas como o sistema que foi desenvolvido pelo homem para fazer para si um lugar sem Deus. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2:15-16).

 

A armadilha do mundanismo é uma grande tentação para nós hoje. O sistema de vida do mundo tem muitos recursos atraentes. Ele é constituído de muitas partes, cada uma atendendo a diferentes interesses dos homens. Se não formos capazes de resistir ao mundo, nos tornaremos improdutivos e impotentes em nosso testemunho. Precisamos ser capazes de dizer “não” a seus clamores e atrações. O segredo é ser capaz de olhar a vida do mundo como uma coisa morta; assim ele não terá poder sobre nós. Quando Moisés fez isso, convenceu Israel a estar pronto para deixar o Egito. Devemos dar esse testemunho àqueles que estão ao nosso redor, de que estamos prontos para sair deste mundo para um melhor.

 

Esses três sinais convenceram Israel de que Jeová estava com Moisés e os libertaria do Egito. Nós, também, temos todas as provisões para seguir o Senhor Jesus, nosso Libertador. “E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus” (Fp 1:28). “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6:10).

 

D. C. Buchanan

 

Vencido ou Vencedor

 

A questão então é: devo ficar sob o poder deste mundo ou devo vencê-lo (em meu coração, quero dizer)? Quando Cristo esteve aqui na Terra, em toda a beleza e atraente graça em que Deus Pai podia Se deleitar, não foi encontrado no mundo nem um só pensamento ou concepção de interesse comum ou sentimento que atraísse o mundo para Ele. O mundo em todas as suas classes – governantes, sacerdotes, fariseus e a multidão – se associaram para pendurar o Filho de Deus em uma cruz. Esse é o coração do mundo. Se eu vi a glória da Pessoa de Cristo e vejo que Ele é o próprio Filho de Deus que desceu e foi rejeitado pelo mundo, será que posso ser feliz no mundo? O elo entre os pensamentos e afeições naturais e o mundo existe em todos os corações, de modo que em todos os tipos de coisas, até mesmo ao andar pelas ruas, eu sempre encontro aquilo que atrai meus olhos, e meus olhos afetam meu coração.

 

Nada vai vencer o mundo em meu coração, a não ser a profunda consciência de como ele tratou Cristo. Tome meus filhos, por exemplo: Quero que eles se deem bem no mundo? Devo conseguir bons lugares para eles nele? Nada, a não ser saber o lugar que Cristo teve nele, vai vencer o mundo em meu coração. Não há possibilidade de se relacionar bem com Deus a menos que se desista do mundo e o coração esteja satisfeito com Cristo. Cristo deve ser tudo. Veja a história de Abraão. Ele peregrinou em um país estranho, onde ele não tinha nem sequer o espaço de um pé. Portanto, não somos do mundo, e esse é o teste de nossas afeições, pois, como não somos imediatamente retirados do mal, devemos ter nosso coração exercitado na piedade. É muito fácil vencer o mundo quando o amor de Cristo o torna desagradável. Satanás é o deus deste mundo. Talvez você diga: Isso é verdade para o mundo pagão. Sim, mas não é verdade apenas para o mundo pagão. Embora tenha sido trazido à tona somente após a rejeição de Cristo, era verdade antes. Deus havia falado por Seus servos e profetas, e o mundo espancou um, e apedrejou outro, e matou outro. Então Ele disse: Eu enviarei o Meu Filho amado; pode ser que O reverenciem quando O virem. Mas a Ele crucificaram, provando assim que Satanás era o senhor do homem. Então o Senhor disse: “Pai justo, o mundo não Te conheceu”. Você não terá discernimento espiritual ou poder em seus motivos a menos que o coração seja mantido perto de Cristo. Não desejarei o mundo se Cristo estiver em meu coração. Se meu deleite está naquilo em que Deus Se deleita, isto é, em Cristo, então posso vencer. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus”.

 

J. N. Darby

 

Um “Homem em Cristo” e a Carne

 

Há um grande contraste entre o início e o fim de 2 Coríntios 12: entre Paulo arrebatado ao terceiro céu e os Cristãos em Corinto; entre o que um Cristão deve ser e a que nível ele é capaz de descer. No versículo 2, Paulo fala de si mesmo como um homem em Cristo, e é isso que caracteriza todo Cristão, toda a Igreja. Não foi como apóstolo que Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, mas como um homem em Cristo, no mesmo nível do resto da Igreja. Aquele que está em Cristo é uma nova criação e tem seu lugar no terceiro céu, embora todo homem em Cristo não seja arrebatado para lá como o apóstolo. Mas somos vivificados juntamente com Cristo, assentados juntos em lugares celestiais em Cristo. Não há lugar onde a fé não possa penetrar.

 

Paulo não recebeu uma revelação no terceiro céu para comunicá-la aos outros; pelo contrário, ele foi lá para ouvir mistérios de que ao homem não é lícito falar; ele foi lá para perceber a presença de Deus e disso tirar sua força. Quando os olhos da fé penetram na presença de Deus, ali eles encontram, juntamente com a comunhão, força para andar diante d’Ele em todas as circunstâncias. Aqui também não é como no monte da transfiguração, a visão da futura glória de Cristo; é comunhão com Deus, da qual o corpo não pode participar, à qual ele se torna até insensível. O princípio desta comunhão se aplica a todos nós; o grau não é o mesmo de Paulo, mas nosso grande e comum privilégio é este: “para que também tenhais comunhão conosco (os apóstolos); e a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1:3).

 

As duas orações de Efésios 

Efésios 1:15-20 e 3:14-21 contêm duas orações muito diferentes. A primeira tem em vista o conhecimento da glória de Cristo e o que está conectado a ela; a segunda expressa o desejo de que nossa alma desfrute da comunhão com Deus. O apóstolo pede que sejamos fortalecidos pelo Espírito Santo no homem interior, para que Cristo habite em nosso coração pela fé e sejamos cheios do conhecimento do amor de Cristo em toda a plenitude de Deus. Não podemos perceber essas bênçãos quando estamos buscando coisas daqui da Terra, pois assim estamos entristecendo o Espírito Santo, e o homem interior é imediatamente enfraquecido.

 

Qual foi o motivo de glória de Paulo? Não o que ele era, nem o que ele tinha feito, mas suas fraquezas (v. 9). Em comunhão com Deus, ele aprendeu que sua força estava em Deus. Se, na fraqueza da carne (Gálatas 4:13), ele tinha sido o meio de conversão de muitos, era porque o poder de Deus estava com ele, de modo que ele sentia prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo; a carne não tinha parte alguma em tudo isso, nem poderia suportar.

 

O espinho na carne 

Esse espinho na carne dado a Paulo para que ele não se exaltasse foi algo que o tornou desprezível em sua pregação (Gl 4:13-14). Era um contrapeso ao arrebatamento com o qual ele havia sido honrado. Podemos não ter necessariamente o espinho idêntico ao de Paulo; Deus sempre nos enviará aquele que precisamos. Deus às vezes emprega Satanás contra a carne, e Satanás age sobre a carne de quatro maneiras diferentes:

 

Quatro ações de Satanás na carne 

  1. Antes da conversão, a carne está sob o domínio de Satanás, estando a consciência endurecida. Esse foi o caso de Judas, que amava o dinheiro e era ladrão. Após ele tomar o bocado, Satanás entrou nele para instigá-lo à iniquidade desenfreada e para depois entregá-lo ao desespero ao contemplar o resultado de seu crime;    

  2. Antes da conversão, a carne é induzida a agir pelas seduções de Satanás;    

  3. Após a conversão, a carne permanece sempre ali e pode ficar sob a ação direta de Satanás, se o Espírito, o selo da redenção, ainda não tiver sido dado, ou então se Ele ainda não tiver realizado a obra de libertação em nós. Tais pessoas se veem, então, como Pedro, opondo-se a Cristo em quase todas as ocasiões. Antes da transfiguração, quando Jesus falou de Seus sofrimentos que se aproximavam e Pedro, por afeição, mas na carne, desejava dissuadi-lo, o Senhor responde: “Para trás de Mim, Satanás” (Mt 16:23).    

  4. Satanás deseja nos ter para poder nos peneirar como trigo por meio da carne. Jesus anuncia isso aos Seus discípulos e ora especialmente por Pedro, em quem a carne era forte.

    

A carne no Cristão 

Pedro se colocou à frente em todas as ocasiões e mostrou a cada vez que a carne é o exato oposto de Cristo. Jesus disse aos discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. Isso ainda não é entrar em pecado. O efeito do Espírito foi incitar Cristo à oração, de modo que, quando a tentação veio, ela não teve poder sobre Ele. Mas os três discípulos, em vez de vigiar e orar, acabam dormindo, dominados pela tristeza, e quando a tentação vem, eles se tornam presas dela. No momento em que tudo o que poderia partir o coração do Senhor se combinava contra Ele e quando Judas O traía com um beijo, Jesus permanece calmo, Se submete, Se entrega, sofre toda humilhação, mas Pedro desembainha sua espada. A carne leva à tentação, mas não sustenta ninguém nela; leva Pedro ao sumo sacerdote. Ali Jesus dá um testemunho glorioso; Pedro, incitado por Satanás, O nega. Em tudo, a carne se opõe a Cristo, e ainda assim Pedro verdadeiramente amava o Senhor. Mesmo depois de ter recebido o Espírito Santo, encontramos Pedro ainda agindo na carne (Gl 2:11-21).

 

Toda vez que um Cristão age segundo a carne, o que há de piedade nele sanciona e autoriza, aos olhos dos outros, sua ação maligna. Quando a carne está agindo em um Cristão, os efeitos são, por essa mesma razão, muito mais fatais do que em uma pessoa não convertida. Pedro, pelo seu exemplo, levou todos os Judeus de Antioquia, até o apóstolo Barnabé, à sua dissimulação.

 

Até mesmo ter estado no terceiro céu não muda em nada a carne. Ela exaltou a si mesma, dizendo a Paulo: “Ninguém além de você esteve lá”. É então que o mensageiro de Satanás tem permissão para esbofeteá-lo, mas se torna o instrumento da bondade de Deus para impedir Paulo de se exaltar. Deus mesmo não faz isso, mas Satanás, que ama ferir os filhos de Deus, é usado por Ele como um meio de tornar a carne desagradável para nós, justamente onde ela desejaria se exaltar e ser estimada.

 

As circunstâncias dolorosas para a carne são as de maior proveito para a alma. Seria inútil para um pai infligir uma punição que não fosse sentida como tal por seu filho. A obra e o poder de Deus em nós, bem como nossa própria fraqueza, se manifestam nessas dificuldades. Quando algo difícil está diante de nós, a resposta de Deus é: “A Minha graça te basta”. Deus quer que nós tenhamos gozo em Sua presença, e tudo o que nos faz sofrer na carne é especialmente proveitoso.

 

J. N. Darby

 

Cristo Morto Para o Mundo

 

No momento em que descubro que Cristo, meu Salvador, está morto para o mundo, eu também me torno morto para o mundo. Não somente encontro n’Ele o meu tesouro, mas também descubro que a própria religião do mundo foi julgada, porque Cristo foi expulso pela religião do mundo. Quando Ele vier com as nuvens, todo olho O verá. Mas esse não será o caso quando Ele vier buscar Sua Igreja. Deus está reunindo os amigos de Cristo em torno do nome de Cristo agora. A Igreja é um corpo que é chamado enquanto Cristo não é visto, e o Cristão, tendo sua parte n’Ele agora, está escondido com Ele, pois “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

 

W. Kelly

 

A Obra e o Caminho de Satanás

 

Satanás é uma criatura caída e não possui onisciência ou onipotência. João 8:44 é um testemunho distinto. Muitos Cristãos acreditam que Satanás está representado sob a figura do rei de Tiro em Ezequiel 28:17, e acho que eles estão certos. Mas Satanás tem toda uma multidão de demônios sob sua autoridade – tanto que no pobre gadareno havia uma legião. Ele é o príncipe dos demônios. No que diz respeito ao conhecimento dos pensamentos, ele não os conhece intuitivamente, como Deus, mas conhece como um espírito cheio de inteligência e sutileza, que discerne com a maior clareza os motivos do coração e que adquiriu experiência pela prática de muitos milhares de anos; mas eu acredito que ele não entende nada do poder do amor. Em sua malícia, ele foi capaz de levantar os caldeus, pelo desejo de saquear, contra Jó, mas, não conhecendo o propósito de Deus de abençoar Jó por meio disso, ele não fez nada além de cumpri-lo. Ele fez tudo o que pôde para levar Cristo à morte, mas apenas cumpriu o maravilhoso propósito de Deus para a nossa salvação.

 

No entanto, quando se trata da relação dele com o coração maligno do homem, o caso é diferente. Ele pode apresentar objetos para despertar desejos. Se considerarmos que estamos mortos, mortos para o pecado e vivos para Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor, ele não consegue nos tentar; pelo menos, a tentação permanece sem efeito. Mas, se a carne não é considerada morta, ele pode apresentar objetos que a carne gosta e sugerir a um homem os meios de satisfazer suas concupiscências. Assim ele colocou, no coração de Judas, trair Jesus por um pouco de dinheiro. Mas o homem é responsável, porque, sem desejo, Satanás não poderia fazer nada: ele não tem nada a oferecer ao novo homem, ou, se oferece algo, apenas produz horror na alma; a alma sofre como Cristo sofreu ao ver o mal neste mundo, ou então vence como Cristo venceu no deserto. Mas, quando a alma não está liberta, Satanás pode de fato insinuar pensamentos ímpios, pensamentos de incredulidade e palavras de blasfêmia, de tal maneira que essas palavras e pensamentos parecem proceder do próprio homem. No entanto, se o homem é verdadeiramente convertido, sempre descobrimos que ele tem um senso de horror às coisas que surgem em sua mente, e vemos que elas não são de fato pensamentos seus. Se ele não é convertido, ele não consegue distinguir entre o demônio e ele próprio, como vemos nos evangelhos. Mas também, quando ele é convertido, é uma prova de que ele abriu a porta para o diabo pelo pecado – pode ser um pecado oculto – ou por negligência. Além disso, Satanás é o príncipe e deus deste mundo, e ele governa o mundo por meio das paixões e concupiscências dos homens, e é capaz de levantar o mundo inteiro contra os Cristãos, como fez contra Cristo, e assim testar a fé deles.

 

Ele pode procurar misturar verdade e erro e, assim, enganar os Cristãos se eles não forem espirituais. Ele pode, como fez o demônio em Filipos, misturar os Cristãos com o mundo, a fim de destruir o testemunho de Deus; ele pode se transformar em anjo de luz, mas o homem espiritual discerne todas as coisas (1 Co 2:15 – JND). Satanás tem pouco poder sobre nós se andamos humildemente, perto do Senhor, seguindo fielmente a Palavra de Deus, tendo Cristo como o único Objeto do coração. Satanás sabe bem que ele foi vencido; portanto, é dito: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Sua influência no mundo é muito grande por meio dos motivos do coração humano, e ele age nos homens por meio uns dos outros; do mesmo modo, pela rapidez de suas operações e ações, ele parece estar em toda parte, e também ele emprega uma grande multidão de servos que são todos iníquos. Mas, na verdade, ele não está presente em todos os lugares. Mas Deus está realmente presente, e, se estamos sob a influência do Espírito de Deus e a consciência está na presença de Deus, Satanás não tem poder. “O que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”. Independentemente de como as coisas possam estar conosco, se somos verdadeiramente os filhos de Deus, Satanás cumprirá os conselhos de Deus com relação a nós; pode ser, se necessário, com disciplina. Mas Deus sabe todas as coisas; Ele, no sentido mais absoluto, penetra em todos os lugares. Ele ordena todas as coisas – até mesmo os esforços de Satanás – para o nosso bem. Se estamos armados com toda a armadura de Deus, os dardos do maligno não alcançam a alma.

 

J. N. Darby

 

Mundanismo e Proximidade com Cristo

 

O mundanismo é um terrível obstáculo para o santo. O mundo se opõe ao Pai, assim como a carne se opõe ao Espírito e o diabo se opõe a Cristo.

 

A dificuldade reside em não manter proximidade com Cristo, algo que o mundo entra e impede. E então eu fico aberto para todo tipo de erro, pois não vou gostar do esforço de estar correto se não estou perto de Cristo. Às vezes, é muito problemático e desagradável ter que lidar com os santos: um não abandona esta coisa, e outro aquela, e se estivermos distantes de Cristo, estaremos prontos para desistir deles e não nos esforçaremos para corrigi-los quando estiverem errados. Então Moisés disse, quando em um espírito errado: “Concebi eu, porventura, todo este povo? Gerei-o eu para que me dissesses que o levasse ao colo?”

 

J. N. Darby

 

Uma Carta sobre o Mundanismo

 

Querido irmão,

 

Gostaria de comentar sobre a tendência nos dias de hoje ao mundanismo, e mais especialmente sobre os meios empregados pelo inimigo para desviar os Cristãos de um caminho de fidelidade.

 

Muitos dirão imediatamente: “Enquanto estamos aqui na Terra, temos ocupações que nos colocam em contato direto com o mundo, e consequentemente é impossível cumprir nossos deveres sem, de alguma forma, participar dos princípios que o governam”. Isso eu nego totalmente, e a Palavra nos mostra claramente que existe em nós um poder grande o suficiente para nos manter limpos das manchas do mundo e capazes de resistir a ele até o fim. A Palavra não admite a possibilidade de vivermos fora do mundo; pelo contrário, ela nos ensina que somos deixados nele, mas que somos guardados do mal (Jo 17:15; 1 Co 5:10), e, para nos encorajar, ela nos diz que Aquele que está em nós é maior do que aquele que está no mundo (1 Jo 4:4). O que falta então? Deus colocou à nossa disposição todas as armas necessárias para enfrentar os ataques do inimigo, e, se nos deixarmos derrotar, é porque ou não empregamos as armas com as quais Deus nos equipou, ou as utilizamos mal. Um verdadeiro Cristão desempenha seu trabalho honestamente para ganhar seu pão, mas seu real objetivo é obter glória eterna com Cristo, e este é um Cristão normal de acordo com a Palavra.

 

Os meios de Satanás 

Chego agora aos meios empregados por Satanás para nos desviar, se o coração não estiver verdadeiramente apegado à Pessoa de Cristo. Embora talvez evitemos quedas sérias e pecados flagrantes, podemos facilmente nos deixar vencer, pouco a pouco, por caminhos mundanos, pelas pressões sociais ou por velhos amigos. Não vemos que a vida divina em nós perde sua energia e que gradualmente “coisas velhas” tomam posse de nosso coração. A princípio sofremos e para nós é quase um sacrifício agradar o mundo em coisas que não são más em si mesmas, mas terminamos gostando do “vinho velho” (Lc 5:39) e esquecemos que o novo é muito melhor.

 

Temos uma imagem de tudo isso na história de Salomão. Ele nunca teve uma queda como seu pai Davi, mas um exame atento de sua conduta nos revelará um retorno gradual ao mundo. Seu reinado começou em meio à glória de um pequeno milênio, e ao seu redor tudo era alegria e paz, mas infelizmente foi de curta duração. Com o passar do tempo, é fácil ver que sua glória passada desaparece, seu coração se volta para o mundo e o mundo se torna seu mestre. O reino que começou com paz e glória e com o conhecimento de Deus termina entre ídolos e mulheres estranhas. E como essa decadência começou? Note que isso não aconteceu tudo de uma vez, mas gradualmente – sem perceber, as coisas do mundo ganharam acesso ao seu coração, e ele foi de mal a pior até se tornar um idólatra.

 

Isso pode ser um aviso saudável para nós e certamente nos mostra por que João disse aos jovens que já eram fortes na vida Cristã: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (1 Jo 2:15). Estamos na verdade, mas não estamos fora de perigo, e somente o Senhor pode nos manter fiéis.

 

Entre os muitos artifícios de Satanás para rebaixar os santos está o de introduzir sutilmente o mundo sem que eles percebam. Por essa razão, é bom não ignorar as armas dele, para poder desviá-las de nós. Tentarei indicar algumas delas, com a esperança de que possamos nos beneficiar da experiência de outros Cristãos que nos precederam neste caminho difícil.

 

Velhos conhecidos 

Na primeira posição, podem ser colocados velhos conhecidos, porque com eles mantivemos íntimas relações e nossas fraquezas são por eles conhecidas. Existem apenas duas maneiras de evitar esse perigo: ou romper qualquer ligação com eles ou pregar a verdade a eles, mostrando-lhes que encontramos um Objeto digno de nossas afeições e que tem ciúmes de qualquer amizade que não seja baseada na obra da redenção. Reconheço a dificuldade de dar as costas a um velho amigo, que talvez tenha nos servido, e o inimigo aproveita tudo isso para nos manter em escravidão e nos atrair para uma atmosfera muito prejudicial para aqueles cujos sentidos são preparados para uma atmosfera celestial. Pode acontecer, por exemplo, de um conhecido mundano de tempos passados aparecer e expressar o desejo de passar uma noite conosco. O que deve ser feito em tais circunstâncias? Se não tomarmos cuidado, isso pode se tornar um meio de nos fazer perder uma reunião ou um estudo da Palavra agendado com outras pessoas, então qual é o caminho correto? Penso que o melhor serviço que podemos prestar a um amigo mundano que persiste em buscar nossa amizade é falar a ele fielmente da obra do Salvador. Geralmente o resultado será um de dois: se ele escutar, muito melhor; o Senhor pode operar e nos ajudar a ganhar uma alma; se ele não escutar, provavelmente se queixará de que mudamos e somos menos amáveis do que antes, mas, ao mesmo tempo, ficaremos livres para seguir o Senhor. Isso pode parecer algo difícil, como verdadeiramente é para a carne, e seria um ato vil se o motivo não fosse o do Senhor, mas não devemos esquecer o que Pedro disse aos seus contemporâneos: “Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento: que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado” (1 Pe 4:1). E também temos a exortação que Paulo escreveu aos coríntios: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso” (2 Co 6:17-18).

 

Velhos hábitos 

Depois dos velhos amigos, nosso maior perigo está nos velhos hábitos, os gostos do primeiro Adão, que são tão facilmente reacendidos em nós. Que coisa triste ser um Cristão e ainda continuar com os caminhos que permitíamos antes de conhecer o Senhor! Os cretenses eram mentirosos por natureza, e permaneceram assim embora convertidos (Tt 1:12-13), mas eles deveriam ser repreendidos severamente, porque não estavam andando segundo o novo homem ou em dependência do Espírito de Deus.

 

Há muitos de nossos irmãos que, sem cair em pecado aberto, permitem que coisas velhas, já julgadas como prejudiciais, tomem posse do coração, e aqui está a principal causa da fraqueza que eles muitas vezes lamentam. Reconheço que cada um de nós tem um caráter diferente e que os gostos diferem de acordo com o temperamento, mas essas são coisas inerentes ao primeiro homem; e, se formos seguir nossos gostos individuais, sairemos da esfera da comunhão Cristã, onde o gosto pelo Senhor Jesus é a única coisa. Se, por exemplo, aquele que lê romances procura alguma antiga história para passar o tempo, e assim, se cada um de nós voltar a uma ocupação que amávamos quando a luz ainda não tinha nos alcançado, quem estará ocupado com Jesus de Nazaré? Quem proclamará Suas virtudes? Quem O exaltará em um hino de louvor? Lembre-se de Eliseu, que, antes de vestir a capa  de Elias, rasgou suas próprias vestes.

 

Possessão atual 

Não posso deixar de mencionar outra arma que Satanás usa com sucesso em seu trabalho de atrair de volta para o mundo aqueles que Deus separou para Si: as coisas presentes, ou seja, o próprio ar que nos rodeia. É bem verdade que a maioria dos Cristãos não gosta do mundo em suas formas mais ostensivas; eles não vão a festas nem jogam, mas isso é suficiente? A Palavra nos diz: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há”, e é evidente que muitos, apesar de não amarem o mundo em sua roupagem mais popular, amam certas coisas que há no mundo. É muito fácil ser levado por um objeto que em si não é mau, mas, se nosso coração é enredado por coisas que são visíveis, perdemos o gosto pelas coisas que não são visíveis e, assim, sem perceber, nos encontramos em uma atmosfera mundana.

 

Outro dia recebi uma carta de um irmão que eu esperava conter alguma palavra de edificação; em vez disso, eu a encontrei repleta de informações sobre uma grande exposição industrial e artística que estava acontecendo em uma cidade europeia. Você pode imaginar, caro irmão, o meu espanto. Mas é a esse ponto que chegamos. Nas reuniões dizemos que somos celestiais, imprimimos e lemos bons livros, publicamos excelentes periódicos e então, pelas práticas de muitos de nós, vemos que os corações estão cheios de coisas mundanas e insensíveis à glória de Jesus, que muito em breve herdaremos. Não digo que a arte e a ciência sejam coisas más, mas gostaria, no entanto, de lembrar a você que Adão fez um uso muito errado das árvores do jardim do Éden, que em si mesmas não eram coisas más, quando ele as usou para se esconder de Deus.

 

E. L. Bevir, Christian Friend

 

 O Declínio do Cristianismo

 

Um artigo recente intitulado “O fim da América Cristã”, da revista americana de grande circulação “Newsweek”, continha uma série de estatísticas preocupantes sobre o declínio do Cristianismo nos EUA. Isso tem tido consequências previsíveis e é algo que está associado a outras tendências preocupantes. Vários estados já aprovaram leis que legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e outros estão prontos para seguir o exemplo. Em alguns casos, as claras declarações da Escritura foram rotuladas de “literatura do ódio”, e tem havido uma tendência crescente a todo tipo de liberalismo. As pessoas estão dizendo: “Não quero que me digam o que fazer da minha vida”, e, como observou um comentarista, “agora estamos vendo uma geração que escuta com os olhos e pensa com os sentimentos”. Falamos sobre como nos sentimos, mas não lidamos com o conhecimento. Conhecimento realmente profundo é conhecimento moral, mas sentimentos morais não são confiáveis. O resultado final de tudo isso não é apenas o que alguns chamariam de liberdade, mas uma sociedade amoral sem quaisquer valores absolutos. Tendências semelhantes estão presentes no Canadá e também vêm corroendo a moralidade na Europa Ocidental há algum tempo.

 

A sociedade amoral 

Ao discutir essas tendências, muitos meios de comunicação estão claramente exultantes e nos lembram que a “religião” não deve ser um fator na política de um país. Nos EUA, são feitas referências aos “pais fundadores” e o desejo deles pela separação entre Igreja e Estado. Mas não nos enganemos; aqueles que se alegram com o declínio do Cristianismo não estão apenas interessados em garantir que grupos minoritários e incrédulos tenham igualdade de voz. Em vez disso, sua missão é remover do país qualquer vestígio de princípios Cristãos e substituí-los por uma espiritualidade diluída, humanística e amoral que engloba tudo, desde o paganismo à filosofia da Nova Era. Uma coisa é não insistir em consenso doutrinário; outra, bem diferente, é tentar remover qualquer base moral para o pensamento e comportamento humanos.

 

Podemos ser gratos pela influência Cristã que continua a existir nos bastiões tradicionais do Cristianismo, como a Europa Ocidental e a América do Norte. Um terço dos americanos ainda diz que são “nascidos de novo”, embora o termo possa significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Ainda existe total liberdade para ler e pregar a Palavra de Deus nas áreas mencionadas, e, de modo geral, os princípios Cristãos ainda sustentam a maioria das leis. No entanto, alguns comentários podem ser feitos sobre as tendências que estamos testemunhando.

 

O que Deus previu 

Primeiro de tudo, os crentes não precisam ficar surpresos ou espantados com essas coisas. Deus nos disse em Sua Palavra que “os homens maus e enganadores irão de mal para pior” (2 Tm 3:13) e que, “no último tempo, haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências” (Jd 18). O final da Cristandade será juízo, não reavivamento e bênção. Alguns queridos crentes estão tentando em vão mudar a maré e, por sua vez, experimentam crescente frustração quando as coisas pioram em vez de melhorar. É somente quando há “os Teus juízos na Terra” que “os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Nossa parte é obedecer às “autoridades superiores”, visto que elas são ordenadas por Deus, mas nosso tempo de governar é no futuro, não no presente.

 

Perseguição por causa da nossa fé 

Segundo, está claro que as liberdades que os crentes nos países ocidentais talvez tenham dado como certas por tanto tempo podem não ser nossas indefinidamente. À medida que o mal continua em ascensão, é bem possível que experimentemos o que nossos irmãos em outras partes do mundo têm dado como certo por muitos anos, a saber, perseguição por causa da nossa fé. Se a perseguição nem sempre assume uma forma exterior séria, ela ainda pode se mostrar de maneiras mais sutis. Pode se tornar cada vez mais difícil para os pais criarem os filhos de acordo com a verdade da Palavra de Deus e educá-los da maneira correta. Por exemplo, em alguns países da Europa Ocidental já é ilegal que os pais batam em seus filhos, e vários pais Cristãos foram presos por isso. Pode se tornar cada vez mais difícil encontrarmos um emprego adequado que nos permita trabalhar com uma boa consciência diante de Deus. Pode se tornar cada vez mais difícil conduzir até mesmo as questões relativas a negócios de compra e venda, sem comprometer nosso testemunho Cristão. Pode se tornar mais difícil adorar em conformidade com a Palavra de Deus, à medida que Satanás assume cada vez mais o controle. Mas lembremos também que, no fim das contas, Deus está no controle e nunca nos dará em Sua Palavra uma verdade que seja impossível de cumprir. O caminho pode ser difícil e estreito, mas estará disponível até que nosso Salvador retorne para nós. Ele prometeu isso! Em meio a todo tipo de fracasso exterior, a palavra de Paulo a Timóteo foi: “Tu, porém, permanece”, e o mesmo vale para nós hoje.

 

Egocentrismo 

Terceiro, veremos no mundo ao nosso redor uma crescente ênfase no “eu”, em todos os sentidos. À medida que o humanismo secular substitui a adoração a Deus e os homens se autodenominam “espirituais” em vez de “religiosos”, o homem se tornará cada vez mais o foco, com sérias consequências. As autoridades já se queixam da “epidemia de narcisismo” e do senso de direito que caracteriza os jovens (e muitas vezes os não tão jovens!) que têm um senso exagerado de autoestima. O resultado disso é a falta de cortesia em todos os níveis da vida cotidiana e desastre em áreas mais sérias, como ambiente de trabalho e casamento. A distorção e o abandono definitivo dos princípios Cristãos têm encorajado isso, em vez de corrigir o problema.

 

Um sinal da vinda do Senhor 

Finalmente, um ponto mais positivo é que podemos nos animar ao ver que “a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5:8). Deus nos disse antecipadamente que todas essas coisas acontecerão, de modo que os Seus não precisam ficar espantados ao verem a condição deste mundo. Nosso coração deve estar preocupado com os perdidos, e tudo isso deve nos fazer redobrar nossos esforços para espalhar o evangelho, mas podemos ter “calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (Ef 6:15). O soldado que veste toda a armadura de Deus será ao mesmo tempo um homem de paz, pois conhece o fim da batalha e não precisa viver em incerteza ou alarmado.

 

Ao vermos todos os propósitos e movimentos do homem causando uma interação de forças econômicas e nacionalistas com as quais ele é incapaz de lidar, podemos ter certeza de que tudo apenas cumprirá os propósitos de Deus no final. Deus em breve vai “congregar em Cristo todas as coisas”, Aquele “em Quem também obtivemos uma herança” (Ef 1:10-11 – JND).

 

W. J. Prost

 

 As Tentações do Inimigo 

 

Na tentação do Senhor Jesus no deserto, Lucas se afasta da ordem dos fatos e nos dá a sequência moral. Ele os coloca em ordem de magnitude, passando da provação natural para a mundana e então para a tentação religiosa.

 

O velho homem deve ser julgado, negado, tratado como vil, mas o corpo agora é feito o templo do Espírito Santo. Adão, antes de cair, tinha corpo, alma e espírito, mas, assim que caiu, ele adquiriu a vontade própria – o amor em seguir seu próprio caminho. Isso é algo que devemos sempre tratar como maligno e julgar a nós mesmos se, de alguma forma, permitirmos que ela aja. O que pode dar a um homem tamanho poder contra ela como Cristo, assim conhecido em plena graça libertadora? Como a espada capturada de Golias, em se tratando de armas “não há outra semelhante”. Se estou morto e ressuscitado com Cristo, onde está o velho homem? Ele não existe aos olhos de Deus; portanto, não devemos permiti-lo aos olhos dos homens.

 

O principal pensamento da religião mundana é corrigir a carne e melhorar o mundo. A mente encontra maior glória em si mesma com esforços ascéticos. Negligenciar o corpo pode ser ao mesmo tempo uma forma de a carne se vangloriar. Era uma ideia pagã, filha adotiva da filosofia. Eles acreditavam prontamente que a alma era santa, embora o corpo não fosse, alguns alegando que a alma vinha de Deus, enquanto o corpo, do diabo. Isso produzia um mal terrível, a ponto de destruir toda a moralidade. Será que não há resposta em Cristo para todas essas divagações da mente humana? Ao receber a verdade n’Ele, você obtém aquilo que derrota o objeto de Satanás, mas somente o Espírito Santo, se assim posso dizer, faz com que seja verdade em nós. Que ela seja recebida com amor, para que assim haja abundante fruto de justiça por Jesus Cristo para a glória e louvor de Deus.

 

W. Kelly

 

Que Quero Eu?


Que quero eu com o mundo

E todos os seus tesouros?

Em Ti somente, Senhor Jesus,

Estão meus verdadeiros prazeres;

Tu és o deleite da minha alma;

Minha alegria encontro em Ti!

Meu descanso e paz és Tu!

A tranquilidade do meu coração!

 

Que quero eu com o mundo?

O mundo é como fumaça

Que desaparece no ar;

E, como sombra passageira,

Que não fica em nenhum lugar;

Meu Jesus, porém, permanece,

Quando todas as outras coisas declinam;

A verdadeira confiança do meu coração,

Só Jesus é meu!

 

Que quero eu com o mundo?

Como a erva, ele definha;

O selo da morte está ali;

Ele se apressa em decair;

A própria saúde se vai;

Todas as criaturas terrenas desaparecem;

Jesus sustém; meu coração

É recompensado por Seu amor.

 

Que quero eu com o mundo?

Meu Jesus é minha vida,

Minha substância e minha alegria;

Nesta pobre cena de contenda

A Ele alegremente me curvo;

A Seus pés eu adoro;

Ele é meu céu, meu tudo;

Portanto, repito,

Que quero eu com o mundo?

Do alemão,

The Christian Friend, 1874

 

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”

1 João 2:15-16

 


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