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ÍNDICE
Os Evangelistas - Meditações Sobre os Quatro Evangelhos
J. G. Bellett
Parte 8
Lucas 8
Entrando neste capítulo, eu observaria que no caso da pobre pecadora, que encerra o anterior, vemos profunda afeição pessoal como fruto do perdão consciente ou cura; aqui, nesse grupo de mulheres, vemos apego e serviço devotados. Na pobre pecadora, todas as fontes ocultas são abertas ao comando da graça de Cristo. Ela sabia que Ele a havia aceitado, pecadora como era, e isso comandava o coração dela. Isso a deixou sem olhos para o banquete do fariseu, ou sem ouvidos para seu desprezo, pois Jesus a havia afastado de tudo; e chegar perto d’Ele, tão perto quanto o amor, a gratidão e a adoração pudessem trazê-la, era todo o seu interesse. E, ao mesmo comando de Seu amor curador, esse grupo de mulheres se apega a Ele. Elas seguem para servi-Lo. O grato amor se manifestou nela silenciosamente; e nelas esse amor estava ativo. Esse grupo estaria com Ele onde quer que Ele estivesse, para que pudesse dar a Ele tudo o que elas pudessem ministrar-Lhe.
Vários frutos, mas cada um abençoado. E Jesus pode entender tanto um como outro, e receber as lágrimas secretas de uma, e os serviços ativos de outras.
A beleza de ambos os casos seria tristemente manchada, se estes não fossem o fruto da cura consciente. Que afeição, que serviço seria tão puro quanto o que vem daí? O publicano pode bater no peito em culpa consciente, e isso em seu lugar é certamente uma afeição correta e piedosa. Mas como a beleza e a atratividade disso são ofuscadas pelas lágrimas e pelos serviços, o amor e a devoção, que brotam e fluem da aceitação consciente! Nada é tão precioso para Deus, nada tão adorável mesmo em nossos próprios pensamentos, quando consideramos isso por um momento. E, por outro lado, quão triste é quando (em vez de lágrimas e serviços) a satisfação própria, a arrogância, o desprezo e a indiferença pelos outros, ou a mera busca não espiritual de conhecimento e a intensa competição de partidos, marcam o coração e os caminhos. Que todos nós, amados, apreciemos esses padrões simples que o Espírito aqui registra, e que assim encontram a presença aprovadora do Senhor.
Este é o primeiro de uma série de capítulos, nos quais vemos sucessivamente o Senhor, os Doze e os Setenta, saindo para ministrar (veja Lucas 8:1; 9:1; 10:1); e esta exposição estendida do ministério é toda de acordo com a graça do Espírito neste Evangelho. E como uma expressão adicional da mesma graça, nosso evangelista nos diz que o Senhor “andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia”; não deixando nenhum lugar sem a visita de Sua luz e bondade. E este divino Ministro da graça é acompanhado por uma comitiva adequada. Uma companhia que havia sido curada de espíritos malignos e enfermidades, e purificada de demônios, segue-O agora para testemunhar Sua graça; como, aos poucos, quando Ele vier em poder, Ele terá atrás de Si uma comitiva igualmente adequada daqueles resplandecentes refletindo Sua glória (Ap 19:14).
Lucas então registra a parábola do Semeador, dada a nós também, sabemos, por Mateus e Marcos. Sem dúvida, ela tem o mesmo caráter geral e propósito em cada Evangelho; mas observo que o Senhor aqui não receia citar diretamente o profeta Isaías, para aplicar o julgamento de Deus a Israel; e isso ainda está de acordo com Sua mente em Lucas.
No decorrer deste capítulo, temos o caso dos gadarenos, da mulher com fluxo de sangue e da filha de Jairo, combinados da mesma forma que em Marcos.
Sobre esses e outros atos semelhantes de poder e bondade, podemos observar de modo geral que o ministério do Senhor sempre traz estas duas características: Ele estava sempre julgando o diabo, mas nunca o pecador. Ele continuou apagando os traços do poder destrutivo do primeiro, mas deixando os traços de Seu próprio poder redentor no segundo. Pelo mesmo golpe, Ele fez essas duas coisas. Todo cego que passou a enxergar, todo coxo que passou a andar, igualmente testemunharam o julgamento do poder do inimigo e a bênção do pecador. Quando Ele purificou o leproso, quando Ele ressuscitou os mortos, esse duplo testemunho foi dado. E assim o diabo O encontra apenas para tremer, e o pecador crente apenas para receber uma bênção e tomá-la sempre com boas-vindas. Fosse o que fosse que o Senhor estivesse fazendo, ou aonde quer que estivesse indo, permitiu Ele alguma vez que o necessitado filho do homem se sentisse um intruso? Mesmo Suas repreensões não podem ser chamadas de repreensões. Pois o que eram elas? Elas eram apenas por causa da falta de confiança n’Ele – porque o pecador não vinha com ousadia suficiente. Ele o repreendeu, não por ser muito confiante, mas por não ser confiante o suficiente. Sua linguagem era desta maneira: “Por que temeis, homens de pequena fé?”
Isso não era repreensão. Isso não era repelir o pecador, mas ressentir-Se de sua lentidão e suspeitas. Nada pode ser mais certo, nos caminhos do Filho de Deus na Terra, do que essas coisas, que Ele estava sempre julgando o diabo, mas nunca o pecador. Era como Moisés, que saía e feria um egípcio; mas se ele próprio fosse recusado e insultado por um israelita, ele iria para o exílio, iria para aonde pudesse, sem amigos e sozinho, em vez de tocar em um fio de cabelo da cabeça dele (Êxodo 2). Ou como Sansão, outra figura distinta e honrada, que buscará ocasião contra os filisteus, e até mesmo se afeiçoará a eles, apenas para atormentá-los e empobrecê-los, mas será tão fraco quanto uma criança se os homens de Judá resistirem a ele (Juízes 15:12). Moisés e Sansão tinham força suficiente contra o inimigo, mas nenhuma contra seu próprio povo; como o Filho de Deus julgará o diabo e todas as suas obras, mas dirá dos pecadores: “Eu vim não para julgar”, não “para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lucas 9:56; João 12:47).
Assim era agora. Gadara era uma porção da terra Judaica ou santificada. Era dentro daquela terra na qual os olhos do Deus do céu e da Terra repousavam desde o princípio até ao fim do ano (Dt 11:12). Mas os imundos há muito haviam entrado naquela terra e a contaminado, e lá os encontramos neste momento em rebanhos, como também a plena demonstração da força desenfreada do inimigo. Legião e porcos estavam em Gadara, para nos dizer o que o lugar da escolha de Jeová havia se tornado agora. Era o próprio palácio do valente, mas o Filho de Deus agora entra como o mais forte, para fazer Sua obra adequada, para mostrar-Se o Redentor do cativo e a destruição do poder da morte.
Mas os criadores dos porcos imundos naquele lugar não estão preparados para isso. Foi uma transgressão para eles, e eles queriam que Jesus partisse de suas terras. Isso é, de fato, terrível. Nada que vemos em toda a história do Evangelho nos dá tal expressão da região entenebrecida e impura de Satanás como esta. Com tal demonstração da graça e poder do Homem Mais Forte no meio deles, ainda assim eles não O desejam, mas venderiam todo o seu interesse no Filho de Deus por um rebanho de porcos. Isso foi muito terrível; e Jesus tem apenas que deixá-los, e retornar atravessando o lago da Galileia, para prosseguir Seu caminho em outras cenas.
Um príncipe Judeu O procura, para que Ele venha à sua casa, em favor de sua pequena filha única, que ali estava morrendo. Ele segue adiante com o propósito de provar a Si mesmo, na casa do Judeu, a ressurreição e a vida; mas Seu caminho para lá é interrompido pela fé de uma desconhecida necessitada, que O toca na multidão. Ela tinha uma enfermidade em seu corpo. Era uma espécie de lepra roedora, uma fonte de impureza em sua própria carne, que nenhuma habilidade humana poderia curar. Em sua extrema necessidade, ela ouve falar sobre Jesus e, com um único toque, recebe tudo o que precisava. Mas ninguém a conhecia, ou se importava em conhecê-la. Tanto ela quanto seu toque no Senhor teriam permanecido em segredo na multidão agitada, somente Aquele que a curou a conhece e a reconhece diante de todos. A multidão estava se aglomerando e pressionando-O; mas não era necessidade ou pecado que os impelia, e, portanto, Ele não os sente. Mas o mais fraco toque dela foi sentido, porque era o toque de alguém conscientemente necessitado e contaminado, que aprendera a crer que havia virtude n’Ele. Sua aflição a apresenta a Ele, e Ele a conhece porque a havia curado. Esse era o fundamento e o caráter de seu conhecimento; e o Filho de Deus e a pecadora curada se encontram assim para ficarem sozinhos na multidão – ela, uma estranha para todos, menos para Ele, e Ele tratando todos como estranhos, menos ela.
Isso está repleto da mais verdadeira e sólida consolação para nossa alma. Mas, além disso, este caminho do Senhor é todo cheio de significado. Ele nos fala daquele que sabemos ser o caminho e a ação do Filho de Deus. Pois Ele tem diante de Si, à distância, o dia de Seu poder em Israel, a casa do Judeu, quando Ele fará os ossos secos viverem, e chamará Seu povo de seu sono sombrio e longo, como prisioneiros vindos da cova; mas em Sua jornada até lá, ou durante o período presente, a propósito, uma estranha envolve Suas empatias, uma pobre, despercebida (exceto por Ele mesmo), a quem a necessidade consciente havia colocado em Seu caminho, como a Igreja de Deus, que sozinha ocupa o Filho de Deus, enquanto segue Seu caminho para manifestar Seu poder em ressurreição e vida em Israel no último dia.
Julgo que esse é o caráter do que temos aqui. E assim, este capítulo (que abre com o Senhor indo para Seu ministério) nos dá estas amostras do fruto variado de Seu árduo trabalho tanto na Igreja quanto em Israel; mostrando-nos também, como em Gadara, que mundo era aquele em que Ele veio trabalhar arduamente, para que todo Seu bendito trabalho pudesse fechar em Seu próprio louvor tanto no céu quanto na Terra, a convicção e o julgamento do mundo, e o conforto de cada pecador que apenas confiar n’Ele.
Lucas 9
No início deste capítulo, temos, em ordem, a missão dos Doze. Mas o Senhor não limita seus labores aqui, como em Mateus, “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, estando esta distinção ainda de acordo com o caráter geral de cada um dos dois Evangelhos.
O exercício da consciência de Herodes é então notado, e talvez um pouco mais amplamente do que em Mateus ou Marcos, e é novamente mencionado no capítulo 23. Isso ainda está de acordo com nosso evangelista. Mas o martírio do Batista, por outro lado, não é tão completamente detalhado; pois isso foi um fato no curso e na história da apostasia Judaica, e estava, portanto, menos dentro do aviso do Espírito em Lucas.
A transfiguração nos é então dada, e mais particularmente, também, do que em Mateus ou Marcos.
A prova completa da incredulidade de Israel agora havia sido feita. (Essa prova é apresentada de forma mais completa e ordenada no Evangelho de Mateus do que em qualquer um dos outros). Israel havia se recusado a receber os seus. Eles não haviam descoberto em Jesus de Nazaré a Luz que deveria iluminar o mundo e ser sua glória. Portanto, a Terra, estava, por enquanto, perdida para Jesus. Pois Sião, por decreto antigo (Sl 2), é a sede do domínio divino na Terra. Todavia, como o Senhor aqui prenuncia uma cruz, e não uma coroa, O aguarda.
Mas se a Terra esta fechada para Ele, os céus devem e se abrirão para Ele, e para Seus santos agora, no dia de Sua recusa aqui, reunindo-se ao redor d’Ele por fé. E o propósito dessa visão no monte santo é dar a Seus santos uma garantia de um pouco daquela glória nos céus que é a herança deles.
Não houve momento como esse. Esta foi a hora da passagem da Terra para o céu. O segredo de Deus, em visão, foi aqui revelado. A Jerusalém celestial ficou, por um momento, com seus portões abertos, diante daqueles discípulos favorecidos, Pedro, Tiago e João. Moisés e Elias aparecem em glória com Jesus; mas Pedro, Tiago e João a contemplam. Havia, desta maneira, tanto companheiros como testemunhas da glória. Como no vindouro reino milenar, a Noiva do Cordeiro descerá, assim como esta glória agora repousa no monte, e as nações daqueles que são salvos andarão na luz dela (Ap 21).
Considero ser esse o grande propósito desta visão, que chamamos de “a transfiguração”. Há uma sugestão no versículo 37, de que ela foi testemunhada à noite. Uma circunstância de muito significado, eu acredito. Pois assim como esse era o lugar da glória celestial, e como aquele lugar não precisará nem de Sol nem de Lua, mas a glória de Deus o iluminará, assim este monte está agora iluminado como pelo corpo do Senhor glorificado. (Assim, o “Santo dos Santos” no templo, outra figura do lugar celestial, não tinha luz senão a da glória).
Novamente, observo que esses estrangeiros celestiais e glorificados falam com Jesus sobre Sua morte. Tema adequado para tal momento! Pois essa morte é para ser tida em eterna lembrança. A glória a celebrará (Ap 5). Toda a ordem do céu, os redimidos, os anjos e toda a criação a reconhecerão, como vemos naquele lugar do Apocalipse. Pois a glória deve sua existência à cruz – como a trombeta que inaugurou o jubileu foi ouvida apenas no dia da expiação; o tempo de restauração e refrigério, dessa maneira, reconhecendo sua dependência no Cordeiro ferido de Deus (Lv 25), ou da “morte” de Jesus.
E mais, eu acho que essa jornada até o monte (percorrida como foi, sob a promessa de que ela levaria ao reino – v. 27), foi um pouco demais para os discípulos. O Senhor está em oração até que a glória apareça, mas eles estão pesados de sono. Isso também tem significado. A natureza estava revelando sua fraqueza – a carne era um peso e não podia percorrer tal caminho. Era uma jornada difícil para o pobre homem. As virgens sábias dormem. Tudo isso é assim. Mas ainda assim, quando Pedro e seus companheiros acordam, sua palavra é “Senhor, bom é estarmos aqui” – isso nos dizendo que seu coração e desejo estavam realmente no lugar certo, embora a carne fosse fraca; como as virgens sábias, embora durmam, têm óleo em seus vasos para reabastecer suas lâmpadas, quando o Noivo vem – esse azeite, como esta palavra do pobre e amoroso Pedro, nos dizendo que, no desejo real de seus corações, eles esperavam por Jesus.
Este é outro ponto de interesse e conforto. E no final, em plena harmonia com o grande propósito principal desta visão, e da qual falei, “a magnífica glória” aparece (2 Pedro 1:17). A nuvem vem para levar a família celestial para casa. O Senhor e Seus companheiros entram nela, enquanto Pedro, Tiago e João ficam do lado de fora.
Tudo isso está em harmonia, mas é tudo maravilhoso. Dentro desta nuvem, como vemos aqui, a glória estava assentada novamente – como nos tempos antigos, quando ela atravessava o deserto. Agora agia como o véu que separava o “lugar Santo” do “Santo dos Santos” (AIBB); e é a honra peculiar dos santos transformados e ressuscitados, igualmente transfigurados ou glorificados, ter seu lugar nela, enquanto Israel e os poupados das nações apenas andam na luz dela. E assim, estando essa parte da visão um pouco além dos pensamentos presentes dos discípulos, eles temem, enquanto Jesus com Moisés e Elias estão envoltos naquela nuvem. Pois os lugares celestiais, ou o topo da escada mística, para o qual esta nuvem estava agora separando esses estrangeiros gloriosos, ainda não haviam sido revelados à fé Judaica. Jacó havia estado ao pé dela, e o povo de Jacó conhecia o Deus de Betel, e vivia na esperança da promessa a respeito da herança da terra. Mas, no topo da escada, nem Jacó nem eles conheciam algo exceto a voz de Jeová que Se dirigia a ele. A transfiguração agora revela os segredos daquele lugar glorioso, e manifesta uma família celestial resplandecente ali com Jeová-Jesus. Esse era um mistério; que Deus teria uma família no lugar de onde a bênção deveria fluir, e a glória resplandecer; bem como um povo restaurado e uma criação sujeita aos pés, para desfrutar da bênção, e habitar na luz da glória.
Assim, esta visão foi um avanço, preenchendo a revelação do propósito de Sua vontade, que Deus encabeçará todas as coisas em Cristo, tanto as que estão no céu como as que estão na Terra (Ef 1:10). De fato, uma visão tão gloriosa como esta nunca havia sido desfrutada. A tocha de fogo que passou pelo sacrifício de Abraão era gloriosa, e a escada de Jacó era gloriosa. A visão da sarça ardente estava cheia de bênçãos. A visão do Deus de Israel por Moisés e os anciãos em Horebe, era gloriosa, e também a do Capitão armado sob os muros de Jericó. Anjos eram visitantes bem-vindos do céu para patriarcas e governantes da antiguidade, e a passagem do próprio Senhor diante do mediador (Êxodo 34), e do profeta (1 Reis 19), no monte de Deus, foram ambas perfeitas em seu tempo. Mas essa visão no topo do monte está além de todas elas. Aquilo que, talvez, mais se aproxima disso, é o arrebatamento de Elias na presença de Eliseu, pois essa foi a condução dos glorificados até o lugar onde eles são vistos agora. Mas isso, portanto, supera tudo, permitindo-nos ver a família celestial, não meramente em seu caminho para a glória, mas pacificamente à vontade nela; nada para aterrorizá-los, nenhuma surpresa como da luz que estava além deles, como com Isaías, Daniel e outros; mas tudo é a consciência de estar à vontade, embora no meio da resplandecência de tudo isso.
Excelente, no entanto, como era, isso estava destinado a dar lugar a algo ainda mais glorioso. Depois disso, Atos 7 nos dá o que é o monte da transfiguração de Estêvão. E então o próprio mártir é estampado com a glória celestial. Ele brilha com a luz dos filhos da ressurreição, que serão como os anjos (Mt 22:30). Não é que, como os discípulos aqui, ele veja essa luz refletida em outros, mas ele próprio a carrega imediatamente. Tampouco é que a glória é trazida para baixo do monte para que ele possa vê-la aqui, mas o próprio céu é aberto, e ele a vê lá, e Alguém esperando para recebê-lo nele. Seus olhos, e não outros O contemplam por si mesmo. E sua palavra diante do conselho é um comentário sobre tudo isso, mostrando uma linhagem de estrangeiros e sofredores (entre os quais ele ali toma seu lugar), conduzidos pelo “Deus da glória” até “a glória de Deus” (Atos 7:2, 55).
Seja, no entanto, ali com Estêvão, ou aqui com Pedro, Tiago e João, segredos celestiais são revelados, e a Igreja é mostrada como estando no topo da escada, na glória do próprio Filho. Há o celestial, assim como o terrenal. Os céus declaram a glória de Deus. O céu e a Terra devem ter em si o testemunho da redenção. A redenção é uma obra excelente demais para permanecer sem ser celebrada aqui ou ali. É uma obra que evocou o fluxo total do amor e poder divinos, e deve ser conhecida, portanto, no céu e na Terra. A Igreja é designada para contar sobre isso lá, e Israel com suas nações acompanhantes para falar sobre isso aqui; e esse testemunho celestial disso está aqui, por um momento passageiro, visto em seu lugar no topo do monte. Mas que graça e chamamento são esses! A própria concepção disso é divina. Ninguém, a não ser Deus, poderia ter concebido tal propósito; nada menos que amor infinito poderia ter formado o pensamento de uma família tirada dentre pecadores, para ser amada com o amor do Filho, e glorificada com a glória do Filho; para habitar em uma casa, e assentar-se em um trono com Ele. Mas, oh, quão pouco nosso coração miserável valoriza tanto a Ele quanto a Sua glória!
Depois que a visão passou, e eles estavam descendo do monte, o Senhor, nos outros Evangelhos, fala a eles sobre o ministério de Elias. Mas isso não é notado aqui; por ser um ministério Judaico, era menos adequado ao propósito do Espírito em Lucas. Além disso, não há nada característico neste capítulo, até chegarmos ao fim.
Lucas 9:51-62
Neste lugar, começa o que foi sugerido como a quarta parte do nosso Evangelho. O Senhor, tendo terminado Seu ministério mais formal na Galileia, começa Sua jornada para Jerusalém (v. 51).
Nosso evangelista é o único que observa as circunstâncias com as quais essa jornada se inicia. E há algo de seu arranjo moral de incidentes a ser notado aqui. Como foi observado por alguém, comentando sobre esta parte de Lucas, “esta passagem da história parece entrar aqui por causa de sua afinidade com o texto anterior (a repreensão do Senhor a João por proibir o homem que não os seguia); pois ali, sob o tom do zelo por Cristo, os discípulos eram a favor de silenciar e restringir os separatistas; aqui, sob o mesmo tom, eles eram a favor de matar os infiéis; mas, assim como por aquilo, quanto por isso, Cristo os repreendeu”.
A ordem moral na narrativa do nosso evangelista é, creio eu, assim exibida neste lugar do seu Evangelho. Mas introduz um caminho muito peculiar do Senhor.
A visão recente no monte pode ter levado a isso; mas, seja isso assim ou não, encontramos nosso Senhor aqui Se referindo à Sua jornada, na consciência de que ela O levaria à glória. O tempo havia chegado, lemos, quando Ele seria “recebido no céu” (TB) – palavras que expressam Sua ascensão à glória. E Ele parece agir de acordo com essa consciência, enviando mensageiros diante de Sua face, como se fosse para preparar para Ele um caminho adequado a essa glória antecipada. O carro de Deus estaria pronto para atendê-Lo de Jerusalém para cima (Lucas 24:51); mas agora cabia aos filhos dos homens preparar Seu caminho anterior do lugar onde Ele estava até aquela cidade. E Ele estava, por assim dizer, provando se o mundo reconheceria Sua reivindicação de ser “recebido”, como depois Ele provou se Israel reconheceria Seu lugar real em Sião (Lucas 19:28). Mas nem o mundo O conheceria, nem Israel O receberia. O mundo não estava pronto para Suas reivindicações, como é aqui expresso pela conduta dos aldeões samaritanos. A Terra não se importava com Sua glória celestial. “Sobe, calvo, sobe, calvo!”, um mundo infiel estava novamente dizendo, no espírito disso.
Os discípulos, que tinham, talvez, captado o tom da mente de seu Senhor nessa ocasião marcante, olham para Ele como outro Elias indo para encontrar os carros de Israel, e eles O movem a fazer o que Elias havia feito, ao se ressentir dessa indignidade dos aldeões samaritanos, como dos capitães e seus cinquenta. Mas o caminho do Filho do Homem, por enquanto, deve ser diferente. Ele passará para a glória antes pela aflição de Sua própria Pessoa do que pelo julgamento do mundo. Ele “sofrerá até aqui”; e, portanto, Ele aqui restringe esse movimento de Seus discípulos, curva Sua cabeça a esse desprezo dos homens ao buscar outra aldeia, e isso, também, não com preparação diante de Sua face, mas como o Cristo rejeitado de Deus.
Em tal caráter, Ele consequentemente retoma Sua jornada. Nenhum senso de glória preenche Sua alma, como havia feito quando Ele partiu. Os samaritanos mudaram seu curso, e Ele continua, conscientemente desprezado e rejeitado pelos homens, que agora em plena deliberação esconderam seus rostos e fecharam suas portas a Ele. E se, amados, é para o louvor da graça em Paulo, que ele aprendeu como ser humilhado e como ter abundância, como ter fartura e como ter fome, não vemos tudo isso com perfeição em nosso bendito Mestre? Ele sabia como agir em um momento no perfeito sentido de Sua plenitude de glória, e no momento seguinte Se tornar o desprezado Filho do Homem. Ele toma o lugar que os desprezadores aldeões de Samaria Lhe dão, sem um esforço ou um murmúrio. Mestre perfeito, bem como Libertador gracioso!
E nesse lugar de rejeição vemos alguns trazidos à relação com Ele, para que por meio deles possamos ter algumas boas lições lidas para nossa alma. Dois deles são introduzidos em Mateus 8, mas não na mesma conexão moral que aqui.
O Senhor fala sobre cada caso no sentido pleno de Seu presente lugar de rejeição na Terra. Todo o peso da instrução procede disso. É a rejeição do Senhor que deu a Seus santos um novo lugar, novos deveres e novos apegos; e estes são aqui trazidos para nossa contemplação, para que possamos calcular o custo de sermos d’Ele. Nada traz os santos a essas coisas novas, a não ser a total rejeição de seu Senhor pelo mundo; mas deixe o Senhor ser apreendido em Sua rejeição, e então a alma imediatamente adentrará a essas coisas. Nenhum olhar “para trás”, nenhum conhecimento do homem “segundo a carne”, por aqueles que foram ao Filho de Deus fora do arraial; e é somente quando nós, em espírito, estamos lá com Ele, que O entendemos corretamente.
Essas santas e solenes lições são lidas para nossa alma por nosso divino Mestre de Seu lugar atual – “desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (ARA). Ele ainda nos ensinaria, mesmo por meio de Suas próprias aflições, para que pudéssemos ser mantidos em companhia d’Ele e de Seus pensamentos, enquanto passamos de uma cena para outra por este mundo maligno. (Ao responder à terceira dessas pessoas, nosso Senhor parece Se referir ao chamado de Eliseu, para o qual a recente menção de Elias por Seus discípulos pode naturalmente ter mudado Sua mente. Sua pequena analogia e instrução tiradas de um lavrador parecem ter sido sugeridas pela história de Eliseu – veja 1 Reis 19:21).
Lucas 10
Este capítulo nos dá em ordem a missão dos Setenta. Mas é somente aqui que obtemos isso; pois o Senhor, como já observei, neste Evangelho olha para o homem além da fronteira Judaica; e assim nos é dado ver um ministério mais extenso em seu caráter do que aquele que se adequava propriamente aos arranjos Judaicos. Isso indicava um afastamento da estrita ordem primitiva em Israel, assim como uma nomeação semelhante de setenta anciãos nos dias de Moisés (Números 11). Mas tudo isso está de acordo com Lucas.
Essa missão é enviada com uma mensagem de paz vinda de Deus para cada cidade e cada casa; mas, além disso, nenhum homem deveria ser saudado pelo caminho. Isso tem grande valor. Jesus propõe, amados, resolver não as meras relações dos homens em sua ordem social, mas a conexão entre Deus e os pecadores. Essa é a grande circunstância, e aquela que o Senhor deve primeiro providenciar. Assim com nosso apóstolo depois. Com Paulo, pouco importava se os santos eram escravos ou livres; pois se escravos, eles ainda eram os homens livres do Senhor, se livres, eles ainda eram servos do Senhor. Sua relação com o Senhor era o que importava (1 Coríntios 7); como aqui, vemos que era assim no julgamento do Filho de Deus. Não deveria haver saudação a nenhum homem, enquanto deveria haver a publicação da paz para cada cidade e cada casa. Não eram as cortesias da vida humana que os mensageiros do Senhor deveriam ter em seus lábios, mas uma mensagem feliz, santa e importante de Deus para os pecadores.
Essa era a mente do bendito Senhor ao enviar Seus mensageiros; e em seu retorno com um relatório de seus labores, Ele antecipa a queda de Satanás. Uma pequena amostra de poder nas mãos dos Setenta sugere este resultado para Ele. Mas, depois de expressá-lo, Ele Se volta para impedir que Seus discípulos olhem principalmente para o poder, dizendo-lhes que havia algo mais rico para eles do que isso, até mesmo um nome no céu, um memorial com um Pai ali; e por mais excelente que a autoridade sobre os demônios pudesse ser, ou poder na Terra, ainda assim aquele memorial era ainda mais feliz. Não é que Ele subestime o poder, ou o retire deles. Não, Ele antes Se alegra com isso, e o confirma em suas mãos, dizendo: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões”. Mas o lar no céu dos filhos deve ser ainda mais precioso do que o poder na Terra dos herdeiros de Deus.
E tem-me interessado muito observar que é justamente aqui (e no lugar correspondente em Mateus 11) que a mente do Senhor naqueles Evangelhos se aproxima mais do que depois é em João. Em João, o Senhor está em conexão com o Pai e a família celestial, e é justamente neste lugar do nosso Evangelho que Ele olha para aqueles objetos além de tudo o que O cercava nas cidades apóstatas de Israel. É como se nosso evangelista tivesse acabado de pegar na orla da veste de João; ou melhor, como se esse manto do nosso profeta, aquela energia do Espírito que o reveste aqui, fosse assumida por aquele outro profeta para fazer por ele maravilhas maiores e trazer revelações ainda mais ricas. O Pai, o Filho, O cabeça de todas as coisas em Si mesmo, e a família que tem seus nomes escritos no céu (Hb 12:23), estes são os objetos que estão aqui presentes nos pensamentos do Senhor, enquanto Ele olha adiante para o que ninguém viu além d’Ele mesmo, através da incredulidade das cidades Judaicas, e esta pequena amostra de poder nas mãos dos Setenta. E, em espírito, Ele Se regozija em tudo isso, e toma novamente Sua complacência na Pessoa e no propósito do Pai, Senhor do céu e da Terra, e também em Seu próprio lugar no mistério bendito; voltando-Se, também, em toda a intimidade pessoal para Seus discípulos, como significando identificá-los com essa bem-aventurança que passa diante de Sua mente, e que os profetas e reis de antigamente não haviam alcançado.
Temos aqui, no entanto, um exemplo doloroso da maneira como o Senhor era suscetível de ser interrompido neste mundo de pensamentos baixos. Ele estava neste momento, como vimos, feliz em pensamentos de coisas celestiais, quando um doutor da lei propõe uma investigação que vem de fontes e origens completamente diferentes. Mas Ele abaixa a cabeça à intrusão e desce ao nível do homem. E em muitos outros lugares, como aqui, podemos notar a facilidade e a paciência com que Ele sempre Se voltou para o homem. Já observei a maneira como Ele ocasionalmente surge em glória divina diante da demanda da fé (Lucas 7); mas Sua facilidade como um Mestre ou um Curador surgindo ao chamado da ignorância ou necessidade do homem, é igualmente adorável em seu lugar. Nada era glorioso demais em Deus para Jesus assumir, quando a fé O revelava; e nada era pequeno demais no homem para Ele atender, quando a necessidade ou a ignorância apelavam a Ele. E em tudo isso Ele nunca estava com pressa, como Se sentisse que estava enfrentando uma dificuldade, mas sempre agia com graciosa facilidade e com a graça do poder consciente, dizendo à ocasião, fosse ela qual fosse, que Ele estava à altura dela.
Mas isso é só de passagem, se talvez o Espírito nos der algum deleite em observar os caminhos de Jesus.
Esta indagação do doutor da lei leva o Senhor à parábola do Bom Samaritano, que é peculiar ao nosso evangelista. O propósito dela era mostrar a este doutor da lei quem era seu próximo: mas na maneira usual do Senhor, esta instrução é transmitida em um corpo de doutrina maior; de modo que obtemos não apenas uma resposta à indagação, mas outros princípios da verdade. Vejo o mesmo no caráter do ensino dos apóstolos depois. E este é sempre o caminho do poder, e o caminho de Deus. Deus, em Suas dispensações, fez isso. Ele não restaura meramente o que havíamos perdido, mas Ele traz outras glórias e bênçãos que também carregam consigo a restauração completa. E Deus, em Suas instruções, fez isso. O Espírito de revelação não apenas responde à ansiedade de um inquiridor, mas transmite essa resposta por meio de verdades e princípios que revelam pensamentos ainda mais amplos. Como aqui; a lei do amor ao próximo é ensinada e ilustrada por uma bela exibição da graça do evangelho do Filho de Deus, trazida à tona apesar da completa inadequação de todo o resto para atender às necessidades dos pecadores.
O caso que o Senhor sugere nesta parábola foi uma contaminação da terra; e tudo o que a lei podia fazer nisso era descobrir o malfeitor e exigir olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. Nem os ministros do altar sob a lei podiam prover para o caso. Eles tinham seu serviço em outro lugar. Mas um estranho, na liberdade de seu próprio amor, pode cuidar dele se assim desejar. E assim é conosco, pecadores. Deus precisa surgir nas atividades de Seu próprio amor para atender nossa triste condição, pois ela está além de qualquer outra ajuda. Os serviços de um templo não servirão para aqueles que não têm pureza adequada para um templo. O homem não está lá por natureza; seu coração não é santuário para Deus; mas jaz em um lugar impuro, contaminado em seu sangue; e o que ele precisa é ser procurado e trazido para casa. O homem foi feito presa de um inimigo forte e cruel, e é esse amor que ele precisa, o qual, a um grande custo, irá e o atará. E tal homem encontrou esse Alguém na Pessoa do Filho de Deus no evangelho. Sob a lei, Deus estava no lugar santo, e o impuro precisa ser removido, e o sacerdote e o levita servem esse santuário. Mas no evangelho, Deus está no lugar impuro, buscando os arruinados; Jesus está andando por aí fazendo o bem, o Estranho do céu veio onde o homem jazia em seu sangue, e olhou para ele e teve compaixão, foi e teve que lidar com toda aquela contaminação, intocado por ela, lavou o pecador ferido de seu sangue, e o ungiu com óleo (Ez 16). Tudo isso Ele fez, e trocou de lugar com o pecador ferido também. Pois, embora rico, Ele Se tornou pobre, para que nós, por meio de Sua pobreza, pudéssemos ser enriquecidos – embora sem pecado, Ele foi feito pecado, para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus n’Ele – como o bom samaritano troca de lugar com o viajante ferido, descendo de sua própria cavalgadura e colocando-o sobre ela. E Ele fez mais do que isso; pois Ele nos disse que tem Seus olhos sobre nós para sempre, que, estejamos presentes ou ausentes, Ele pensa em nós; assim como o estrangeiro encarrega o hospedeiro de cuidar do pobre e desamparado homem, e que quando ele voltasse por ali, como certamente fará, Ele o recompensará.
Todo esse amor, esse amor de grande valor e necessário, temos no Filho de Deus, o Estrangeiro do céu, o Verdadeiro Bom Samaritano. Ele guardou a lei do amor ao próximo, mas somente Ele; e devemos ir aprender o caminho com Ele, fazer “da mesma maneira”, acender nosso coração em Seu coração, se de alguma forma esperamos responder a esse objetivo da lei. Este doutor da lei estava se gabando da lei, mas ele evidentemente a havia reduzido e modificado, como todo aquele que busca, como ele, ser justificado por ela deve fazer. “Quem é meu próximo?”, disse ele; pouco imaginando que estava prestes a ouvir tal história de amor ao próximo como a que estava surgindo. A lei era elevada demais, nobre demais para os pensamentos deste homem. E assim é para todos nós. Não vemos nada digno daquela palavra, “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração... e ao teu próximo como a ti mesmo” até que tracemos a vida bem vivida de Jesus. O doutor da lei teria se apoiado na lei e recusado Jesus; mas ele tem que aprender, se seus ouvidos pudessem ouvir, que somente Jesus cumpriu a lei, ou lhe deu eficácia na mente e consciência dos outros.
É nossa salvação conhecer Jesus como o Estrangeiro que nos encontrou em nossas feridas com Seu óleo e vinho. Apenas Lucas nos dá esta parábola, mas isto é bem de acordo com a grandeza do espírito de graça que preenche seu Evangelho por toda parte.
A pequena cena que então encerra este capítulo também é peculiar a Lucas, servindo ao seu propósito geral de nos instruir em grandes princípios da verdade. As duas irmãs aqui apresentadas tinham mentalidades diferentes e, sendo levadas ao julgamento da mente de Cristo, recebemos o julgamento de Deus em questões de muito valor para nós.
A casa em que entramos agora era de Marta. O Espírito de Deus nos diz isso, como sendo característico de Marta; e em sua casa, com toda prontidão de coração, ela recebe o Senhor, e prepara para Ele a melhor provisão que tinha; Seus labores e fadiga exigiam isso. Marta sabia muito bem que Seus caminhos lá fora eram os caminhos do Bom Samaritano, que iria a pé para que outros pudessem cavalgar, e ela O ama demais para não observar e prover para Seu cansaço. Mas Maria não tinha casa para Ele. Ela era, em espírito, uma estrangeira como Ele mesmo; mas ela abre um santuário para Ele, e O assenta ali como Senhor de seu humilde templo. Ela toma seu lugar a Seus pés, e ouve Suas palavras. Ela sabe, assim como Marta, que Ele estava cansado, mas ela sabe também que havia uma plenitude n’Ele que poderia Se permitir estar ainda mais cansado. Os ouvidos e o coração de Maria, portanto, ainda O usam, em vez de sua mão ou seu pé ministrando a Ele. E nessas coisas estava a diferença entre as irmãs: os olhos de Marta viam o cansaço d’Ele e queria dar a Ele; a fé de Maria apreendia a plenitude d’Ele por trás do cansaço e queria tirar d’Ele.
Isto revela a mente do Filho de Deus. O Senhor aceita o cuidado de Marta, enquanto for um cuidado simples e diligente para Sua necessidade presente; mas, no momento em que ela coloca sua mente em competição com a de Maria, ela aprende Seu julgamento, e é ensinada a saber que Maria, por sua fé, estava O reconfortando com um banquete mais doce do que todo seu cuidado e a provisão de sua casa poderiam ter fornecido. A fé de Maria deu a Jesus um senso de Sua própria glória divina que disse a Ele que, embora estivesse cansado, Ele ainda poderia alimentá-la e reconfortá-la. Ela estava a Seus pés, ouvindo Suas palavras. Não havia templo ali, ou luz do Sol (Ap 21:22-23), mas o Filho de Deus estava ali, e Ele era tudo para ela. Esta era a honra que Ele prezava; e de forma abençoada, de fato, ela estava em Seu segredo. Quando Ele estava com sede e cansado no poço de Jacó, Ele esqueceu tudo ao dar águas que nenhum cântaro poderia conter, nem qualquer poço além do Seu próprio poderia ter suprido; e aqui, Maria traz sua alma ao mesmo poço, sabendo que, apesar de todo o Seu cansaço, ele estava tão cheio como sempre para o uso dela.
E oh, queridos irmãos, que princípios nos são aqui revelados! Nosso Deus está afirmando para Si mesmo o lugar de poder supremo e bondade suprema, e Ele nos terá como devedores a Ele. Nossa percepção de Sua plenitude é mais preciosa para Ele do que todo o serviço que podemos Lhe prestar. Tendo o direito, como Ele tem, a mais do que toda a criação poderia dar a Ele, ainda assim, acima de todas as coisas, Ele deseja que usemos Seu amor e tiremos proveito de Seus tesouros. A honra que nossa confiança coloca sobre Ele é Sua maior honra; pois é a glória divina continuar dando, continuar abençoando, continuar derramando de plenitude inesgotável. Sob a lei, Ele teve que receber de nós, mas no evangelho Ele está nos dando; e as palavras do Senhor Jesus são estas: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. E este lugar Ele preencherá para sempre; pois, “sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior”. É verdade que louvor surgirá para Ele de tudo o que tem fôlego; mas vem d’Ele mesmo, e do assento de Sua glória, fluirá o fluxo constante de bênçãos, a luz para alegrar, as águas para refrescar e as folhas da árvore para curar; e nosso Deus terá Seu próprio gozo e mostrará Sua própria glória, em sendo um Doador para sempre.
J. G. Bellett
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