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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

Os Patriarcas - Céu e Terra 2 - Parte 18/18

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ÍNDICE


 

Os Patriarcas

John Gifford Bellett

 

Céu e Terra

Parte 2


Cristo é nosso Objeto? 

E esta é a grande questão para nós agora: Cristo é o Objeto do nosso coração – Aquele que ansiamos? Por isso Ele será nosso, e perto de nós e conosco para sempre, será o ponto mais alto de toda a nossa rica felicidade neste céu futuro para o qual estivemos olhando. A provisão para o coração é sempre o pensamento mais querido que podemos nutrir. Tal como aconteceu com Adão no início. Ele foi colocado na possessão de uma boa propriedade, que trazia consigo tudo o que poderia satisfazer os sentidos. Ali estavam as árvores e os frutos daquele jardim, agradáveis aos olhos e ao paladar. O desejo dos olhos e do paladar, e de todos os sentidos e faculdades do homem, poderia ser santamente satisfeito, pois da árvore do conhecimento ainda não se havia comido. O Senhor Deus estava no lugar supremo; a criatura não era então adorada e servida mais do que o Criador, e todos os sentidos poderiam aproveitar seus prazeres de forma correta, e o divino Plantador do Éden havia provido para eles (Gn 2:9). Sim, e mais do que isso. Adão recebeu domínio da mesma mão. O deleite natural – ou melhor, o divino – em poder e dignidade foi proporcionado dessa maneira; pois assim como o Senhor Deus no mundo acima chamou as estrelas pelos seus nomes, possuindo-as assim, Ele concedeu a Adão na Terra que colocasse nomes no gado e nas aves, assumindo, assim, a posição de cabeça deles. E desta forma ele foi colocado no meio destas provisões divinas para os seus olhos, os seus ouvidos, os seus gostos e o seu desejo de dignidade. Mas o coração ainda estava desnutrido. O dia da sua coroação não foi o dia do seu desposório. E o Senhor Deus o conhece. Ele conhece a criatura que em Seu amor e perfeições Ele formou. Não é bom, diz Ele, que ele fique só; farei uma companheira de ajuda para ele. E Adão recebe Eva da mesma mão que lhe deu o Éden com seus frutos e o domínio sobre a Terra. E então é que seus lábios se abrem “do que há em abundância no coração, disso fala a boca”“Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne”, diz Adão, expressando sua profunda satisfação e dizendo que agora não precisava de mais nada. O Éden não poderia, com todos os seus deleites para os sentidos, nem seu vasto e incomparável domínio sobre tudo, como “monarca de tudo o que ele avistava”, fazer o que Eva fez por ele. Ela abriu os lábios dele com uma confissão de que agora ele estava satisfeito. E o mesmo acontece conosco ao possuir Jesus, acima de toda glória, em nosso Éden celestial, para sempre.

 

Atraídos do terrenal para o celestial 

É uma bênção considerar estas e outras descrições semelhantes do céu espalhadas pela Palavra. E, como alguém disse: “O Espírito Santo, que é chamado de penhor de nossa herança, atua de acordo com essas descrições e as torna vivas para nossa alma”. E são essas descrições e atrações que nos tornam, no sentido divino, estrangeiros e peregrinos aqui. Observou-se que Abraão se tornou um estrangeiro na Terra, não por qualquer tristeza ou pressão na Mesopotâmia, pois não lemos sobre nada disso, mas porque “o Deus da glória” havia falado a ele na linguagem da “promessa”. Ele foi atraído para fora de sua parentela, de sua casa e de sua terra por algo que estava adiante dele, e não foi instigado ou expulso por algo que estava atrás dele. Este era o caráter do estrangeiro celestial aqui.

 

É assim que acontece, amados, ou desejamos que fosse assim que acontecesse, com nossa alma? Estamos ponderando sobre a perspectiva e acompanhando seus distantes vislumbres, com corações fixos e interessados? Estas são as questões presentes para despertar e guiar nossa alma. O exame levará à humilhação e à repreensão, mas será um óleo excelente.

 

Necessário para Ele 

E, como querendo nos dar plena tranquilidade no desfrute deste nosso futuro céu, o Senhor nos ensinou a saber que, de certa forma, somos necessários lá, por mais sem importância que possamos nos considerar. Pois cada um deve ser um vaso de glória, como já dissemos; pode ser em maior ou menor quantidade, mas ainda assim cada um é um vaso necessário naquela casa de glória. Geralmente pensamos o quanto o Senhor é necessário para nós. Verdade, de fato. Celebraremos o fato de que devemos tudo a Ele por toda a eternidade. Mas também é uma verdade (falado para louvor das riquezas da graça) que somos necessários para Ele. “A mulher é a glória do Varão”. Não da mesma forma, certamente. Ele é necessário para nós tanto para a vida como para o regozijo, tanto para a salvação como para a glória; mas nós somos importantes, é claro, apenas para Seu gozo e glória; como está escrito: “com o fim de sermos para louvor da Sua glória”; e novamente: “para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 1:12; 2:7).

 

O Senhor Deus considerou o regozijo de Adão quando Ele propôs em Si mesmo formar Eva. Eva, podemos saber muito bem, foi abundantemente feliz em Adão; mas ainda assim a preocupação do Senhor era que Adão fosse feliz em Eva. O mesmo acontece agora na dispensação do evangelho. O verdadeiro Adão ainda é consultado. “O Reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”. E assim será ainda na dispensação ou era da glória. É chamado “as bodas do Cordeiro” – não se trata, como uma vez me foi observado, das bodas (ou casamento) da Igreja ou da esposa do Cordeiro, mas as bodas do Cordeiro, como sendo o Cordeiro o principal interessado nessa alegria.

 

E assim é. A Igreja terá a sua alegria em Cristo, mas Cristo terá a Sua maior alegria na Igreja. O pulso mais forte de alegria que baterá pela eternidade estará no seio do Senhor por Sua Noiva resgatada. Em todas as coisas Ele deve ter a preeminência; e, como em todas as coisas, também nisto – que a alegria d’Ele nela será maior do que a dela n’Ele.

 

O coração preparado para o céu 

E todos os dantes-conhecidos para esse fim, e nada menos que todos, formarão a Eva desse Adão, e serão a Noiva ou a Mulher destinada assim a ser a alegria e a glória do Homem. Todos aqui estão agora “bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte”, e lá então não menos do que todos serão necessários. Oh, o Senhor não apenas prepara o céu, mas desta forma prepara o coração para o céu, para que possamos desfrutá-lo com toda a tranquilidade, vendo-nos como uma porção necessária do mobiliário santo do lugar! Assim como José consolaria seus irmãos, dizendo-lhes que foi Deus Quem o enviou ao Egito adiante deles, para que a vida pudesse ser preservada por uma grande libertação. Suas mãos perversas fizeram isso, é verdade; mas o propósito de Deus também o fez, e é nisso que Ele deseja que eles pensem agora, e não no que eles haviam feito antes. Pois este é o caminho do amor; e “Deus é amor”. O amor não só promoverá a festa, mas fará o que puder para que seja desfrutada com toda a confiança e gozo do coração. O amor fará com que os convidados se assentem à mesa, seja lhes dada uma mesa farta e sintam-se à vontade para saboreá-la.

 

Podemos nós, amados, ler essas descrições do céu que será nosso em breve e para sempre, e, enquanto lemos, desejar que nosso coração se alegre por isso ser assim? Podemos considerar-nos felizes, tendo tais perspectivas como estas? Assim como o avarento pode suportar o desprezo do mundo exterior, pensando em seus tesouros em sua casa, podemos nós, na esperança deste regozijo no céu, viver acima da Terra e de suas promessas?

 

O “ar” do céu 

Tais coisas, no entanto, como estas, por mais excelentes que sejam, têm algo ainda mais com elas. O ar de um lugar é mais importante para nós do que o seu cenário. Se conseguirmos ambos, melhor; mas se pudermos ter apenas um, o bom ar será certamente preferido.

 

Agora, o céu, posso dizer, terá ambos. Será repleto de um elemento ou atmosfera moral, bem como repleto de glórias; e o primeiro (falo como homem) será mais responsável pelo nosso gozo do que o último.

 

Acho bom às vezes refletir sobre isso e aprender algo sobre aquele elemento moral que deve ser o ar do céu. As Escrituras que já observei testam e comprovam a pureza desse ar. A atmosfera milenar, tanto no céu como na Terra, será de fato sempre fresca, carregada de fragrância agradável. Se agora estamos cansados de nosso próprio egoísmo e dos temperamentos da natureza humana “odiosa e odiando”, devemos ansiar por uma mudança de ares, tal como se diz que a terra da glória conhece, a terra da voz da rola. Se o brilho dessas regiões, ou o cenário do lugar, têm a sua atração (e que coração pode concebê-la?), qual deve ser a atmosfera disso para a nossa alma feliz, onde a vida social, por todas as suas relações, como entre o céu e a Terra, e entre Jerusalém, a terra de Israel e as ilhas mais distantes, move-se e acende continuamente as afeições mais generosas e delicadas.

 

Não é que simplesmente haverá triunfo sobre a natureza; – a natureza não estará lá; pelo menos, não nos céus dos quais nos aproximamos. Não teremos que falar de santos que se comportam bem uns para com os outros com bom espírito. Essa segurança está bem em seu devido lugar, e enquanto permanecemos no “nosso corpo de humilhação” (ARA). Mas aí o elemento em si será bom. As correntes fervorosas de mentes puras e felizes, fluindo de cada um para todos, irão formá-lo.

 

A dignidade e a beleza morais, as diversas e ainda assim consistentes perfeições que nos animarão então, serão todas brilhantes e amáveis diante da mente divina. Deus examinará a obra de Suas mãos pelas das diferentes esferas de glória e descansará com deleite nela.

 

É um pensamento muito a ser acalentado, que nossos caminhos eternos serão, assim, o deleite divino, e mais do que recompensarão a Deus (falo novamente à maneira dos homens) pela tristeza que, por nós e em nós, Seu Espírito agora é tão continuamente submetido.

 

Tais serão os deleites morais nas esferas da glória; nenhuma pequena parte daquele banquete no qual o Senhor acomodará Seus convidados, quando Ele sair e Se preparar para servi-los (Lucas 12:37). Podemos ser pouco capazes de compreender a glória em si, mas podemos apreciar essas características morais do céu que estamos alcançando.

 

Enquanto ainda estamos aqui, nos conflitos da carne e do espírito, estamos, em certo sentido, sob a tutela da consciência, aquele princípio que julga o “bem e o mal”. Mas a consciência não manterá o céu em ordem. Nossas paixões e nossa justiça serão lá uma só. Pouco avançamos agora na direção celestial pela graciosa corrente de afeições. Mas que felicidade, quando a própria energia que nos leva rapidamente também nos levará adiante corretamente – quando o próprio vendaval que enche as velas regulará o leme; a paixão que envolve e deleita a alma é a própria regra e medida de tudo o que é digno da presença de Deus!

 

Que possamos guardar em nossa alma essas descrições do céu! Sua impressão é fraca; humildemente, de fato, alguns de nós sabemos disso; mas podemos entretê-las e dar-lhes as boas-vindas, lamentando que nossas boas-vindas não sejam mais calorosas e afetuosas.

 

O futuro da Terra 

Mas a Terra ainda é lembrada e guardada para grandes propósitos ainda a serem realizados. O arco-íris foi, antigamente, como sabemos, a promessa disso. É um símbolo do concerto entre Deus e toda a Terra, e todos os seres vivos que nela habitam. O Senhor diz que quando a nuvem vier, o arco estará com ela – quando o presságio do julgamento diminuir, o sinal da paz brilhará. E, como vemos até hoje, a Terra não foi novamente destruída. Pode não ser a residência da glória, como já foi e como será novamente, mas ainda assim é preservada, de acordo com a promessa do arco-íris. E a Escritura é diligente e exata em nos mostrar que em cada variedade do procedimento divino, esta promessa foi, é e será lembrada.

 

Portanto, certamente foi lembrado durante todo o tempo em que o Senhor esteve assentado em Sião; pois então o Senhor fez da Terra Sua habitação. Mas quando o trono do Senhor deixa Sião, e o Santo dos Santos perde a glória, porque o povo terrenal, pelo seu pecado, perturbou o seu descanso, e tudo retorna ao céu (Ezequiel 1-11), vemos o trono e a glória carregando o arco-íris com eles. Isto é, embora a Terra tenha sido então despojada de glória; embora Jerusalém, o trono do Senhor, tenha sido então por um tempo colocada em montões e colocada sob o pé dos gentios; ainda assim, o Senhor estaria atento à Terra e faria dela o objeto de Seu fiel cuidado, de acordo com Sua promessa. E assim vemos a glória, embora ela deixe a Terra, levando consigo a lembrança da Terra: o arco-íris a acompanha até o céu; isso nos diz que embora o Senhor deixe a Terra como cenário de Seu poder e louvor por um tempo, Ele ainda a tem em lembrança diante de Si. Consequentemente, quando o céu é aberto à nossa visão em Apocalipse 4, vemos o arco fiel circundando o trono ali. Quão abençoado é isso! O Senhor nos céus ainda está atento à Terra. Ele lançou a própria garantia de sua segurança em torno de Seu trono nas alturas, de modo que, embora a Terra não veja esse trono, e ela não seja mais o lugar dele, esse trono vê a Terra e se lembra dela, e anseia, como ela era, por seu escabelo natural.

 

Segurança da Terra 

Isto nos mostra a segurança da Terra durante esta dispensação celestial pela qual estamos passando agora. O Senhor está agora reunindo um povo para o céu. É verdade que Ele ainda não está enchendo a Terra de glória, mas dela está reunindo uma família eleita, para ter comunhão Consigo mesmo no céu; mas ainda assim Ele está atento à Sua promessa. Ele olha para o arco e preserva a Terra, guarda a época da sementeira e da colheita, o frio e o calor, o dia e a noite, o verão e o inverno, nos seus ciclos e estações determinados (Gn 9).

 

Como tudo isso é simples. Quando o trono foi primeiro da Terra para o céu, vimos que ele levava consigo a lembrança da Terra; e agora em seu lugar nos céus vemos que ele ainda segura  em seu peito e envolve em sua testa este símbolo afetuoso e amado da bênção da Terra (Ezequiel 1; Apocalipse 4).

 

Mas ainda há mais. Pois deixe o Senhor descer nos julgamentos que visitarão a Terra em breve, e O encontraremos tão plenamente consciente de Sua promessa de não destruí-la, como Ele está agora, ou esteve antes disso. Isto vemos em Apocalipse 10. O anjo poderoso, o anjo do julgamento, desce; e ele está vestido com uma nuvem, o terrível vaso da ira e símbolo do julgamento; como foi dito no início: “Quando eu trouxer nuvens sobre a Terra”. Mas mesmo assim o arco-íris está com Ele; como foi acrescentado: “aparecerá o arco nas nuvens”. Não é simplesmente com uma nuvem que Ele desce, mas com a nuvem e o arco que a acompanha (veja Gênesis 9:14; Apocalipse 10:1). Tanto quanto para nos dizer que no final Ele Se lembra da Sua palavra e debaterá com julgamento. Ele lhe dirá: “Até aqui virás, e não mais adiante”. A nuvem vai descer, é verdade; o julgamento deve vir, as salvas (taças) da ira devem ser derramadas; mas é apenas para julgar aqueles que corrompem ou destroem a Terra, e não para destruir a própria Terra; pois o anjo poderoso, como vemos nesta Escritura, que desce “vestido de uma nuvem”, também tem “o arco-íris por cima de sua cabeça” (ARA). E a nuvem, ao executar sua comissão e derramar novamente sua água ou seus julgamentos, deve permanecer em obediência ao arco que a medirá e controlará. O atual curso das coisas pode cessar, como nos dias de Noé, mas o arco brilha aos olhos do Senhor. Sua promessa vive em Seu coração, e a Terra será o cenário feliz e o testemunho de seu rico cumprimento.

 

Assim, então, vemos que mesmo o julgamento em si não afetará a antiga promessa à Terra. Ela ainda é amada por causa de Noé, de quem foi dito: “Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra (solo – JND) que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5:29). Isto é, por causa do Seu Bendito, de Quem Noé era uma figura; e não precisamos dizer, amados, Quem Ele é. Portanto, ela sobrevive ao julgamento, suporta o choque da descida deste anjo poderoso, embora vestido com uma nuvem, plantando o pé direito no mar e o pé esquerdo na terra, e clamando com grande voz como quando brama o leão.

 

Preservada para ser glorificada 

E para que é reservada? Por ainda mais do que o arco-íris havia prometido. Pois este é o caminho de Deus. Ele cumpre Suas promessas e é Fiel abundantemente, fazendo mais do que havia falado. E o mesmo acontece neste caso da Terra. Não é apenas preservada, com a sua sementeira e a sua colheita, o seu dia e a sua noite, mas é levada à “liberdade da glória dos filhos de Deus”. Isto é mais do que foi prometido a ela. A cidade santa desce do céu, para se conectar com a Terra; e, brilhando na devida esfera acima dela, desde seu seio ela envia as folhas de sua árvore viva, os riachos de sua água viva e os raios de sua glória interior, para embelezar e refrescar a Terra e suas criaturas abaixo (Ap 21-22). O arco-íris não precisa aparecer agora, pois a nuvem se foi. O arco funcionaria bem enquanto houvesse nuvem, a promessa e o penhor poderiam confortar, enquanto houvesse lugar para julgamento ou para medo do mal; mas agora o julgamento acabou. A nuvem se dissipou e, portanto, o arco não tem lugar. Mas a cidade santa desce do céu, da parte de Deus, para fazer mais, muito mais, do que meramente resgatar o penhor divino. Pois ela está glorificando, e não apenas preservando, a criação. Então ela se regozijará na presença do Senhor, quando Ele vier para governar a Terra.

 

Criação libertada 

Será que o tempo permitiria contar todas as figuras e profecias das bênçãos da Terra nos dias do reino? As árvores, os campos e os rios, em sua ordem, então se regozijarão diante do Senhor. A própria criação será libertada para a liberdade da glória dos filhos de Deus. O Salmo 8, com muitas vozes semelhantes, proclama isso. A voz de cada criatura na Terra, debaixo da Terra e no mar, ouvida em visão pelo profeta, antecipa isso (Ap 5). E o dia prometido perceberá que “o ermo exultará e florescerá como a rosa”, que “o leopardo com o cabrito se deitará” e que “os céus responderão à Terra, e a Terra responderá ao trigo e ao vinho e ao azeite” (Is 35; Os 2 – AIBB).

 

O louvor dos gentios 

E os gentios, sabemos, ocuparão o seu lugar neste sistema de glória que se aproxima. Eles transformarão suas espadas em relhas de arado; e em vez de aprenderem a guerra, aprenderão os caminhos do Senhor e andarão em Suas veredas. No tempo determinado eles esperarão, cada um com sua oferta, no Rei em Sião, celebrando ali seu elevado e alegre banquete na presença da Sua grandeza. Então, dos confins da Terra serão ouvidos cânticos ao Justo. E então o chamado do profeta será atendido pelos corações dispostos de todo o povo: “Cantai ao SENHOR um cântico novo e o Seu louvor, desde o fim da Terra, vós que navegais pelo mar e tudo quanto há nele; vós, ilhas e seus habitantes. Alcem a voz o deserto e as suas cidades, com as aldeias que Quedar habita; exultem os que habitam nas rochas e clamem do cume dos montes. Deem glória ao SENHOR e anunciem o Seu louvor nas ilhas”.

 

Alegrando Israel 

Israel então habitará em segurança – “cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira”. Eles “todos... serão justos”; eles estarão todos unidos; chamarão cada homem de seu próximo. “Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim”. Os dois bastões místicos se tornarão um na mão do profeta. Eles serão “uma nação na terra, nos montes de Israel”. E, como nos dias sombrios de Salomão, então será dito: “Eram, pois, os de Judá e Israel muitos, como a areia que está ao pé do mar em multidão, comendo, e bebendo, e alegrando-se”. A alegria deles também será santa. Será a alegria de um santuário. “Publicarão abundantemente a memória da Tua grande bondade e cantarão a Tua justiça... Falarão da glória do Teu reino e relatarão o Teu poder”. Dentro de si mesmos, em direção às nações ao redor, e sob o Deus de seus pais, o Deus de seu concerto, todos estarão abençoados com Israel. Pois assim diz o Senhor Deus: “Eles habitarão na terra que dei a Jacó, Meu servo... farei com eles um concerto de paz; e será um concerto perpétuo; e os estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o Meu santuário no meio deles para sempre. E o Meu tabernáculo estará com eles, e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. E as nações saberão que Eu Sou o SENHOR que santifico a Israel, quando estiver o Meu santuário no meio deles, para sempre”. (Ezequiel 37).

 

Lugar especial de Jerusalém 

Tudo isso conta a história das alegrias milenares na Terra. Mas neste sistema de glória terrenal, além da própria criação, das nações e de Israel, há um lugar ainda mais ilustre, um objeto distinto no meio de alegrias e dignidades como essas. Quero dizer Jerusalém.

 

E eu já me perguntei: por que Jerusalém é tão citada na Escritura? Por que “O SENHOR ama as portas de Sião mais do que todas as habitações de Jacó”?

 

Era a Sua corte – o lugar da Sua presença tanto como Deus quanto como Rei de Israel. Seu palácio e Seu santuário estavam lá. As administrações de Suas leis e as ordenanças de Sua adoração estavam lá. Os tronos de julgamento, o testemunho de Israel e as ações de graças ao Seu nome eram todos conhecidos ali (Sl 122). Era o lugar onde Jeová havia gravado Seu nome e onde habitava a glória, o símbolo de Sua presença.

 

Era a Seu lar. Toda a terra era domínio do Senhor; mas Jerusalém era a mansão, a habitação da família. Os filhos foram colocados aqui e ali por todas as tribos e divisões da terra, que eram a propriedade da família, mas Jerusalém era a mansão da família. Era a casa do pai, o lar comum, onde, nos dias declarados santos, os filhos se reuniam, segundo o modo comum de afeição dos parentes.

 

Esta, creio eu, foi a primeira atração de Jerusalém aos olhos e ao coração do Senhor de Israel. Ele procurou e encontrou um lar em Jerusalém, dizendo: “Este é o lugar do Meu repouso para sempre: Aqui habitarei, porque o tenho desejado” (AIBB). E Ele a deixou, quando o pecado a contaminou, com toda a hesitação e demora que a afeição desapontada tão bem entende (Ezequiel 8-11).

 

A bênção futura de Jerusalém 

Jerusalém era tudo isso – a casa do Pai, o palácio do Rei e o templo do Deus de Israel. Pois Israel eram Seus filhos, Seu povo e Seus adoradores, e as afeições do coração de um Pai, e as alegrias e honras do Senhor e Rei, encontraram seu objetivo e sua esfera em Jerusalém. E isto é mais que suficiente para nos dar conta da sua elevada distinção. E tudo isso ela será novamente. Será novamente o palácio, o templo e a mansão da família. Será o lugar de oração para todas as nações. Será a sede da legislação, da adoração, do juízo e do governo. Será também a fonte das virtudes do novo concerto, de onde fluirão as águas vivas, para torná-la, naqueles dias, a mãe mística da família (Sl 87). E a glória dos céus brilhará sobre ela do alto, fazendo para ela o serviço do Sol e da Lua, enquanto ela é elevada e exposta, para que ela possa se deleitar em plena luz e habitar sob ela como seu ar nativo. (Isaías 4:5; 60:1; Zacarias 14:10).

 

E ela será a noiva do Senhor da Terra e a rainha no dia do Seu poder. Ele a vestirá com ornamentos como tais, Se regozijará com ela, transmitirá Seu nome a ela, e a fará tão honrada e estimada pelo mundo inteiro, a ponto de tratar o desprezo contra ela como sendo uma indignidade cometida contra Ele próprio (Salmo 45; Isaías 60; Jeremias 33)

 

O Senhor e Jerusalém 

Tudo isso pode muito bem explicar o lugar que Jerusalém ocupa nos pensamentos do Espírito. Seus profetas, aqueles que falaram movidos por Ele, dirigem-se a ela repetidas vezes como a noiva, a rainha e a mãe, nos dias da glória que se aproxima. Mas o que diremos d’Ele, que assim a adornou com toda beleza e dignidade, e deu-lhe tal relacionamento Consigo mesmo? Não é maravilhoso e feliz ver o círculo de empatias humanas assentando-se na mente divina? A amizade é apenas humana? Como posso dizer isso, quando vejo Jesus e o discípulo que Ele amava caminhando em companhia? As afeições dos parentes são meramente humanas? Como posso dizer isso, quando penso em Cristo e na Igreja, e em mil testemunhas da Escritura? O deleite do coração em casa é um gozo divino e também humano? Como posso duvidar disso, quando vejo o Senhor e Jerusalém? Certamente a mente divina é a sede de todas as sensibilidades puras e justas do coração, e “Cristo Jesus, Homem” me diz isso. O Senhor Deus de Israel conheceu, e conhecerá novamente, a afeição que permanece em torno do lar de muitas lembranças e alegrias familiares.

 

Assim será Jerusalém, e assim será a própria Terra, as nações e Israel, nos dias prometidos da presença e do poder do Senhor. Fracamente traçado pela mão, mais fracamente respondido pelo coração. “Porém verdade” ainda que “superando fábula”.

 

A Terra purificada 

Toda a Escritura, entretanto, nos mostra que tal alegria não pode ser obtida na Terra, ou nas circunstâncias e na história do mundo, em seu estado atual, nem até que a Terra se torne um cenário de justiça; e assim não será, até que o Senhor a tenha livrado de tudo o que ofende e de tudo o que comete iniquidade. A espada do julgamento deve ir adiante do trono da glória. A Terra deve ser limpa de suas corrupções, antes que possa voltar a ser um jardim de delícias santas e divinas.

 

O evangelho não está produzindo um mundo feliz ou espalhando um jardim do Éden. Ele não propõe tal coisa, mas tirar do mundo um povo, um povo celestial, para Cristo. Mas a presença do Senhor tornará o mundo feliz em breve, quando essa presença puder retornar a ele com justiça.

 

O encerramento dos Salmos nos mostra isso. Belo fechamento! Todo louvor – incansável fruto de lábios satisfeitos expressando o gozo de um coração cheio e reconhecendo a glória indivisa d’Aquele Bendito! Mas isso foi precedido pelas tristezas dos justos em um mundo mau e depois pelo julgamento desse mundo. Pois esse livro apresenta os clamores dos justos em um mundo mau, as alegrias do Espírito em meio a esse mal, os variados exercícios da alma pelo caminho, e o fim dos justos na alegria do louvor. Tudo, porém, proíbe o coração de nutrir o pensamento de gozo na Terra até que o julgamento a purifique; o descanso será preparado para Salomão pela espada de Davi.

 

Não descanse agora 

O próprio pensamento sobre isso evitará que o coração seja abalado por decepções e o afastará da expectativa de qualquer progresso para descanso e estabilidade para o mundo, ou nele, até que o Senhor execute o julgamento. Nosso gozo agora é estar n’Ele mesmo, em espírito, no pensamento de Seu amor e no sentimento de Sua paz, ajudado a seguir em frente, dia após dia, na esperança do gozo pleno e justo com Ele, quando os ímpios tiverem deixado a cena para sempre.

 

Quão sensivelmente a mente do Senhor se afasta do pensamento de gozo na Terra, quando as pessoas estavam maravilhadas com todas as coisas que Ele fez! Voltando-se para Seus discípulos, Ele disse: “Ponde vós [Permiti que – JND] estas palavras [se aprofundem – JND] em vossos ouvidos, porque o Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens”. Mas isto, posso dizer, foi apenas uma amostra de toda a Sua mente, enquanto Ele olhava para a Terra em sua condição atual. Isso sempre esteve em Seus pensamentos relacionado à provação.

 

O Salmo 75 expressa isso de forma impressionante. Ali, o Messias olha para a Terra como toda dissolvida e desordenada, prestes a beber o cálice do julgamento da justa mão de Deus. No momento, Ele não esperava nada dela. Mas então, depois de esgotar aquele cálice, Ele a vê como um cenário de gozo, louvor e exaltação da justiça, Ele mesmo sustentando suas colunas e conduzindo seus cânticos.

 

Amadurecimento para o Julgamento 

Sinto, no entanto, ser uma verdade muito solene que Deus está permitindo ao homem, dando-lhe espaço e tempo, que amadureça a sua iniquidade, para que o julgamento possa cair sobre ele no auge do seu orgulho, e esmagar o sistema que ele está se elevando em seu ponto de maior pretensão e avanço. Certamente é uma verdade solene. Mas mesmo nesse propósito, como em todos os outros, “a sabedoria é justificada por todos os seus filhos”. O crente pode ficar impressionado com tal fato no trato divino com o homem, mas ele o aprova, entende que é uma coisa apropriada, que o homem seja autorizado a produzir o fruto plenamente amadurecido de seu próprio afastamento de Deus, a apresentá-lo e examiná-lo no orgulho de seu coração, e então receba sua resposta justa a toda a sua vangloriada e desfrutada apostasia, desde o aviso de julgamento de Deus. A medida da injustiça dos amorreus deveria estar cheia antes que a justiça os alcançasse. O Senhor suportou Babel até que o clamor dela subiu até Ele. Nabucodonosor construiu a “grande Babilônia”, como ele se gloriava, pela força de seu poder e para a glória da sua magnificência, quando foi expulso de sua posição elevada; Hamã estava cheio quando Deus o esvaziou até a última gota. E o grande homem da Terra, no final, chegará ao seu fim, justamente quando houver plantado os tabernáculos de seus palácios no glorioso monte santo.

 

É solene; mas é como a sabedoria deseja e como a fé aprova tudo profundamente. Deus é justificado em Suas palavras e vence quando é julgado.

 

Todas as coisas reunidas em Cristo 

Feliz, eu desejo encontrar esta meditação. Onde há muito conflito de pensamento e julgamento entre os santos, é grato à alma voltar-se para assuntos de interesse e deleite comum; e quando o cenário ao redor está ficando cheio de invenções e importância do homem, é bom olhar para aquelas regiões de luz e pureza, onde Deus, Supremo e Todo-Suficiente, reunirá todas as coisas, em Cristo, tanto as que estão no céu como as que estão na Terra. Regiões de luz e pureza, de fato, onde tudo indicará intimidade ou proximidade, e ainda assim o pleno sentido da posição do Criador e da criatura, do Santificador e do santificado. Isso se reflete claramente em muitas deleitáveis páginas da Palavra de Deus. O Senhor habitou no meio do arraial de Israel enquanto ele descansava e, enquanto ele peregrinava, Deus ia junto com ele, seja de noite ou de dia, quer a jornada seguisse em frente, quer voltasse para o monte ou para o mar. Mas ainda assim Ele era Deus, o Senhor do arraial.

 

Como tudo isso se recomenda à nossa alma! Nós nos curvamos a isso. Regozijamo-nos em saber que Ele habita numa luz da qual nenhum homem pode aproximar-se e, ainda assim, que Ele caminhou pelas cidades e aldeias da Terra; que Ele é Aquele que nenhum homem jamais viu, nem pode ver, e ainda assim, ninguém menos do que Aquele que está em Seu seio O declarou para nós, esteve no meio de nós, nosso Parente na carne, bem como o Amigo de Jeová.

 

Sua autoridade suprema, como Senhor, é infinita; Sua distância e santidade, como Deus, são infinitas. E ainda assim Ele é “Cabeça sobre todas as coisas para a Igreja”, e o próprio Deus é “por nós”. No exato momento em que Ele ordenou a Moisés e Josué que tirassem os sapatos dos pés, por causa de Sua presença, Ele estava Se manifestando a eles em símbolos ou caracteres significativos da mais profunda empatia e do serviço mais devotado (Êxodo 3; Josué 5).

 

Mas chega. Não prosseguirei mais com esses pensamentos. No entanto, nos dias de crescente escuridão e perplexidade, como o presente, a alma é direcionada para o esconderijo seguro de refúgio, ou para os picos ensolarados de Pisga, de esperança e observação. Ela se acostuma ainda mais a meditar sobre a força daqueles fundamentos que Deus colocou sob nossos pés – a intimidade daquela comunhão na qual Ele mesmo agora introduziu nosso coração – e o brilho daquelas perspectivas que Ele colocou diante de nossos olhos.

 

Coração na glória 

Eu apenas pergunto, amado, estamos prosseguindo em busca dessa porção e desejando-a? Estamos insatisfeitos com tudo em comparação com ela? Estamos nos recusando a formar qualquer propósito ou a considerar qualquer perspectiva que não seja essa? No Salmo 84, o coração do adorador ainda está a caminho, insatisfeito, embora tenha “tanques”, e “chuva”, e “força” do Senhor, até chegar a Sião. No Salmo 90 tudo o que o homem de Deus vê é a vaidade da vida humana e a “volta” do Senhor. Ele não antecipa mudanças e melhorias nas condições das coisas, mas espera ficar “alegre” e “saciado” com a “volta” de Cristo.

 

Novamente pergunto: esta é a nossa mente? Ainda somos prisioneiros da esperança, recusando-nos a deixar qualquer coisa alterar a atitude de expectativa da alma? O Espírito Santo nos é dado, não para mudá-la, mas para fortalecê-la. Sua Própria presença apenas alimenta a presente insatisfação do coração e os anseios de esperança e desejo. Ele faz com que o santo “abunde em esperança” e dá amplitude e alcance ao clamor: “Vem, Senhor Jesus”. O Espírito da verdade, o Outro Consolador, como Ele é, não Se apresenta como sendo o Noivo, nem Se propõe a fazer dos Seus refrigérios “a ceia das bodas do Cordeiro”. A energia da esperança, os desejos da alma por nosso Senhor ainda não manifestado, apenas falam da presença do Espírito em nós de forma mais clara e abençoada. É Seu próprio desígnio e obra. Ele nos atrai à esperança até o fim para a graça que nos será trazida na revelação de Jesus Cristo.

 

E Ele, amado, é nosso Objeto? O coração conhece bem o poder daquilo que é seu objeto. Fazemos de Jesus esse Objeto? Encontramos, em nós mesmos, algo daquela ‘doença da esperança’ sobre a qual lemos na Escritura? E somos capazes de dizer: “Quando Ele dá quietude, quem então poderá perturbar?” (Jó 34:29 – JND)

 

Que o Espírito espalhe cada vez mais, no coração de cada um de nós, estas e outras afeições semelhantes. E Àquele que nos amou e nos lavou dos nossos pecados em Seu próprio sangue, seja a glória e o domínio para sempre! Amém.


 Noiva do Cordeiro! Acorda, acorda!

Por que dormir de tristeza agora?

A esperança da glória – Cristo – é tua,

Filha da glória tu és.

 

Teu espírito durante a noite solitária,

À parte do gozo terrenal,

Suspirou por Aquele que está longe,

O Noivo do teu coração.

 

Mas vê, a noite se desvanece rapidamente,

A manhã está próxima,

E Jesus vem com voz de amor,

Para alegrar teu coração abatido.

 

Ele vem; pois, oh, Seu coração ansioso

Não pode mais suportar detença,

Para cenas de gozo pleno e puro

Para chamar Sua Noiva embora.

 

Esta Terra, cenário de toda a Sua aflição,

Um deserto sem lar para ti,

Em breve sobre Seu trono celestial,

Seu legítimo Rei verá.

 

Tu também reinarás, Ele não usará

Sua coroa de gozo Sozinho,

E a Terra verá Sua Noiva real

Ao Seu lado no trono.

 

Então não chore mais, é tudo teu,

Sua coroa, Seu gozo divino,

E mais doce do que tudo ao redor,

Ele, Ele próprio é teu.

 


J. G. Bellett

 

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