(Revista bimestral publicada originalmente em Novembro/Dezembro 1993)
Índice
Editorial – M.Persona (1955)
Mefibosete - a Bondade de Deus – C.Stanley (1821-1890)
A Glória de Deus visitou este Mundo – N.Berry (1911-2001)
As Duas Naturezas – The Young Christian
O Objeto da Fé – Christian Treasury
Ministério – W.Kelly (1821-1906)
John Wesley – J.J.Ellis (1930)
EDITORIAL
Será que é presunção alguém afirmar que já está salvo? Se a salvação dependesse de nossas obras e de nosso andar, certamente seria falta de humildade ou muita pretensão reconhecer-se salvo. Mas a salvação é pela fé somente, sem obras, e, por esta razão, não é presunção um crente afirmar que já tem a vida eterna. Deus me diz que se eu crer em Cristo eu tenho a vida eterna; não entrarei em condenação1. Eu creio em Cristo. Devo duvidar da promessa de Deus para todo aquele que crê? De maneira nenhuma. Não é presunção nem hipocrisia afirmar que se possui a salvação, se a única prerrogativa para sermos salvos é sermos pecadores2 (1 Tm 1:15), e, como tais, aceitarmos a salvação que Deus oferece gratuitamente ao que crê. Cristo não veio salvar justos, mas pecadores. Se eu me reconheço pecador, arruinado pelo pecado e inimigo de Deus (Rm 5:10) – consciente de que nunca poderei melhorar minha velha natureza, caída e corrompida pelo pecado (Jr 13:23) – e venho a Cristo, crendo n'Ele e esperando apenas na misericórdia e graça de Deus (e não em meus méritos), não estarei sendo presunçoso.
Porém, aquele que crê que a salvação é pelo seu reto proceder e pela sua obediência, este sim está sendo pretensioso, presunçoso e soberbo, pois mesmo que afirme que não pode ter certeza de já estar salvo, tem a esperança de que um dia "chegará lá" pelos seus próprios esforços. Por outro lado, o reconhecimento de que se possui a salvação, mediante a fé em Cristo, não é presunção, mas simplesmente o reconhecimento de que Deus é fiel e cumprirá o que prometeu. "Quem ouve a Minha Palavra, e crê n'Aquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida" (Jo 5:24). Poderia alguém que crê em Deus e na Sua Palavra duvidar da realidade de tal promessa?
Mas é triste vermos que há alguns que, embora tenham crido que Cristo foi suficiente para salvá-los, acham que Ele é incapaz de mantê-los salvos. E chegam à conclusão errada de que a manutenção da salvação depende de seus débeis esforços. Se você pensa assim, devo dizer que se você for verdadeiramente nascido de Deus, Ele cuidará de você até o fim. Apesar de, infelizmente, sermos capazes de cair, pois "sete vezes cairá o justo, e se levantará" (Pv 24:16), podemos descansar na certeza de que:
"o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá" (1 Pe 5:10);
"O Senhor Jesus Cristo, o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 1:7-8);
"Tendo por certo isto mesmo, que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1:6);
"Para que sejais irrepreensíveis em ,santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos" (1 Ts 3:13);
"Assim, pois, não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que Se compadece" (Rm 9:16).
Quando entendemos que não apenas nossa salvação depende de Deus, mas também a manutenção dela, podemos descansar sabendo que Ele nos fará completar nossa jornada aqui. Ao contrário do que muitos pensam, isto não nos leva a tratar o pecado com leviandade, mas faz aumentar o sentimento de responsabilidade. Quando ficamos sabendo que a graça de Deus é tão imensa, nosso coração enche-se de temor, não de perdermos a salvação, mas do reconhecimento da magnitude da obra de Cristo por nós. Um verdadeiro crente nunca perderá a salvação; o próprio Senhor prometeu que nada, e nem ninguém, poderia tirá-lo das mãos do Pai. E um verdadeiro crente, ao saber disso, nunca dirá: "Se é assim, vou pecar à vontade". O que pensa assim nunca foi salvo; nunca conheceu a graça de Deus.
M.Persona (1955)
MEFIBOSETE
A bondade de Deus
Certa manhã, há muitos anos atrás, estava lendo Segunda Samuel, capítulo 9. Após lê-lo uma vez, pensei, “Que capítulo estranho, acerca de um jovem aleijado de ambos os pés”. Eu li novamente, e ainda não conseguia ver nada nele. Após lê-lo pela terceira vez, meus olhos pararam nestas palavras: “Decerto usarei contigo de beneficência por amor de Jônatas, teu pai” (2 Sm 9:7). De repente, um pensamento brilhou em minha mente: “Ah! esta é uma figura da bondade de Deus, por meio de Jesus Cristo”. Que figura estava então perante mim – como uma bela paisagem ao romper da manhã. À medida que os anos passaram, a beleza dessa figura tem aumentado cada vez mais em minha mente. Por muitas vezes fui guiado a pregar a Cristo a partir desta figura, e raramente sem que almas fossem convertidas a Deus. Isso me encoraja a discorrer, em fé, sobre esta interessante porção da Palavra de Deus juntamente com meus leitores, confiando que Deus irá usá-la para bênção de muitas almas.
Nesta figura da bondade de Deus, há dois personagens – Mefibosete, no caráter de filho da graça; e Ziba, como o homem de justiça-própria. A condição de Mefibosete ilustra de forma notável o estado em que se encontra o pecador quando é colocado diante de Deus.
O homem conclui que Deus é seu inimigo
Se você abrir no quarto versículo do quarto capítulo do mesmo livro (2 Sm 4:4), encontrará que ele era o filho de Jônatas, o filho de Saul, ambos já mortos nessa ocasião. Você verá que Mefibosete “caiu e ficou coxo”, e que desde sua queda esteve escondido, “aleijado de ambos os pés” (2 Sm 4:4), “em Lo-Debar” (2 Sm 9:4); em hebraico, significa um lugar “sem pasto”. Sendo da casa de Saul, que era inimigo de Davi, Mefibosete concluiu que Davi, sem dúvida, seria seu inimigo escondendo-se, por isso, de sua presença.
Com que perfeição isto ilustra a condição do homem caído. Tão logo o pecado cegou a mente de Adão, nós já o encontramos escondendo-se “da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gn 3:8). E, porventura, não é exatamente esta a condição do homem, até hoje? Porque o homem atual está correndo para as coisas do mundo, ou para aquilo que agradável aos seus olhos? Ah! ele não conhece a Deus. Estando em inimizade com Deus, o homem conclui que Deus é seu inimigo, e teme Sua presença. O pensamento de estar hoje na presença de Deus seria por demais aterrorizante. Acaso este pensamento o amedronta, meu leitor? Ah! é porque você não conhece a Deus. Talvez você possa dizer: "Eu pequei, e isto me faz ter medo de Deus". É verdade, você pecou; e eu também pequei; e todos pecaram. Mas se você soubesse o preço que Ele já pagou – se soubesse que Ele não poupou nem mesmo a Seu Filho querido – então você entenderia que Deus é o único a Quem você pode ir como um pecador – e ter a certeza de que “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:7).
Não há nada neste mundo que possa fazer você feliz
Mas vamos seguir com nosso capítulo. “E disse Davi: Há ainda alguém que ficasse da casa de Saul, para que lhe faça bem por amor de Jônatas?” (2 Sm 9:1). Não é esta, também, a presente obra do Espírito de Deus? Não há, ainda, nenhum dos filhos e filhas caídos de Adão, a quem possa ser mostrada a bondade de Deus? Não importa quão profundamente tenham caído; completamente coxo, coxo de ambos os pés, e verdadeiramente num lugar sem pasto? Ah! pobre pecador caído, onde quer que você esteja tentando se esconder de Deus, não há nada neste mundo de miséria e pecado, que possa fazer você feliz. Ou você pensa que há? Por acaso você já não tomou posse das ilusões de Satanás, ou depositou sua confiança nas vãs promessas deste mundo, até que seu pobre coração ficasse despedaçado em amargo desapontamento, e tudo tenha se transformado em triste vaidade? Escute, então, pois vou falar-lhe d'Aquele que não irá desapontá-lo.
Ziba, o homem de justiça-própria, “disse Ziba ao rei: ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés. …Eis que está em casa de Maquir, filho de Amiel, em Lo-Debar. Então mandou o rei Davi, e o tomou” (2 Sm 9:3-5). Este “tomou” é algo maravilhoso. Isso nos fala da graça que é inteiramente de Deus. O homem mostra bondade àqueles que, conforme pensa, merecem. Ou então espera receber, algo em troca, digno de sua bondade. Não é assim com Deus. Mefibosete não fez coisa alguma para merecer bondade. Ele não teve que fazer sua parte primeiro, como dizem alguns. Não! A graça foi tomá-lo de Lo-Debar – [N.do R.: “e o tomou da casa de Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar” (2 Sm 9:5)], no próprio lugar onde estava. E, por acaso, não veio o Filho de Deus encontrar os pecadores, bem onde estes estavam? Ele veio para buscá-los, e os encontrou “mortos em nossos (seus) delitos” e pecados (Ef 2:5). E porventura Ele não ocupou o próprio lugar de juízo, e “morreu, uma única vez, pelos pecados, o Justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pe 3:18 – ARA)? Que caia vergonha eterna sobre cada fariseu orgulhoso que, depois de tudo isso, ainda venha a dizer: “O homem precisa fazer sua parte primeiro”.
Uma figura do trêmulo pecador
Mefibosete era aleijado demais para fazer sua parte primeiro. Ele tinha que ser tomado (de Lo-Debar). E Aquele que conhece a total fraqueza do homem, tanto quanto esta atraente graça, disse: “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai que Me enviou o não trouxer: e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44). E novamente: “Tudo o que o Pai Me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6:37). Ah! Se não fosse por esta atraente graça, todos nós teríamos perecido, em nossos miseráveis esforços para nos esconder de Deus. E então, “vindo Mefibosete… a Davi, se prostrou com o rosto por terra” (2 Sm 9:6). Que figura de temor e assombro. Sendo descendente de Saul, que caçava a vida de Davi, o que poderia Mefibosete esperar? No momento seguinte, a voz de austera justiça exigisse sua vida. Ali ele se prostra – uma figura do trêmulo pecador, colocado na presença de Deus, com o terrível fardo de culpa e pecado; ele não conhece a Deus – ele não sabe o que esperar.
Antes de ouvirmos as palavras de Davi, vamos voltar à aliança de amor, conforme revelada em 1 Samuel 20; Jônatas, o pai daquele jovem, caído aos pés de Davi, fala assim no versículo quatorze: “E, se eu então ainda viver, porventura não usarás comigo da beneficência do Senhor, para que não morra? Nem tão pouco cortarás da minha casa a tua beneficência eternamente… E Jônatas fez jurar a Davi de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma” (1 Sm 20:14-17).
Você já voltou a visitar o lugar onde passou sua infância, e aí viu pela primeira vez o filho de algum amigo já falecido? Então você poderá ter uma vaga idéia do que Davi sentiu quando olhou para Mefibosete, filho de Jônatas, caído aos seus pés. Quem poderá descrever a terna doçura daquela voz que falou do mais profundo do seu coração: “Mefibosete! …Eis aqui teu servo” (2 Sm 9:6), é a trêmula resposta. Quão pouco ele esperava a graça incondicional que estava a ponto de ser mostrada a ele. “Eis aqui teu servo”, é o pensamento mais elevado que pode ter o homem caído. Ele atreve-se a se oferecer como um servo de Deus, e espera ser salvo ao menos por seu serviço. Esta é a religião de cada coração humano que não conhece a Deus.
Não temas, porque decerto usarei contigo de beneficência
Mas agora ouça as palavras de Davi. Como o pai, na parábola do filho pródigo, ele interrompe Mefibosete. “Não temas, porque decerto usarei contigo de beneficência por amor de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu de contínuo comerás pão à minha mesa” (2 Sm 9:7). Ah! Deus é assim – sem condições, sem barganha. Não há condição, do tipo “se você fizer isto”, ou “se você não fizer aquilo”. Oh, não; é tudo pura graça! A bondade de Deus! “Usarei de bondade para contigo” (2 Sm 9:7 – ARA), e isso inteiramente para o bem de outra pessoa (Mefibosete). “E tu de contínuo comerás pão à minha mesa”. Acaso não foi assim na parábola em que Jesus revelou a desconhecida e ilimitada graça do coração do Pai? Houve alguma repreensão? Houve alguma condição? Não, “lançou-se-lhe ao pescoço (do filho) e o beijou” (Lc 15:20). Não é assim também a bondade de Deus? Estou deturpando a verdade ou, como Cristo fez, estarei revelando o verdadeiro caráter de Deus? É assim que Ele recebe o pecador perdido? Pergunto: serão também estas as Palavras que Ele tem para o trêmulo e miserável pecador, que só merece a perdição do inferno? Poderá Deus, apontando para a cruz de Cristo, dizer: “Não temas, porque decerto usarei contigo de beneficência por amor de…” Jesus? Tudo isso, também, sem uma única condição. É tudo pura graça, fluindo de Seu próprio coração transbordante de amor.
Os homens teriam enviado um livro de instruções
Oh, meu leitor, você conhece a Deus assim? “Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2:4-7). Você pode dizer que esta é a sua porção? O homen teria enviado um livro de instruções ao jovem aleijado, para dizer-lhe como se arrepender, e como curar seus pés, e como se apresentar melhor e como fazer nem sei mais o quê. Mas não há nem uma só palavra assim aqui. Não, Mefibosete vem como está; nada mais foi exigido. Como poderia, se Davi estava tratando em conformidade com aquilo que havia em seu coração? Seu coração estava cheio de amor por Mefibosete. Acima de todas as coisas, Satanás irá empenhar-se em esconder do pobre pecador esta bondade de Deus. É quando Deus é verdadeiramente conhecido, que se entende que não há necessidade de homem algum sobre a terra, ou santo no céu, para abrandar Seu coração para comigo. Ele já está cheio de indizível amor.
Estará você, querido leitor, sentindo o fardo do pecado? E você tem se encontrado perplexo com os longos livros de instruções escritos pelos homens dizendo como você deve se arrepender, e como você deve se sentir, e como você deve agradar a Deus e fazer com que Ele o salve? Talvez alguém lhe diga para ser o oposto de Colossenses 2:20,3 tanto quanto possível; e que, guardando as ordenanças e os sacramentos dos homens, você poderá ter a esperança de ser salvo. Outro, com um efeito igualmente mortífero, é provável que diga que você deve passar por esta ou aquela experiência antes que Deus o receba. Isto é, eles de bom grado irão querer persuadi-lo de que você não está tão completamente caído; que você é apenas aleijado um pouco de um pé, e que você tem que tão somente fazer de Cristo uma muleta e, com Sua ajuda, você vai poder seguir em frente até que razoavelmente bem. Na verdade, o ponto onde querem chegar é que você pode, de alguma forma, merecer o céu.
Ponha sua confiança em Deus
Portanto se você estiver de certo modo desnorteado e perplexo, deixe-me rogar-lhe que se cale e dê ouvidos a Deus, e abandone todos os meios de salvação indicados por homens. Deposite sua confiança em Deus; conforme revelado na cruz de Cristo. – Talvez você esteja prestes a dizer com espanto: Você, então, pretende negar o arrependimento completamente? Longe, muito longe disso está o meu desejo. E talvez poucas passagens da Palavra de Deus mostrem mais claramente do que isso, o que é o arrependimento e o verdadeiro lugar do arrependimento, ou que mostrem de maneira mais impressionante o que o produz.
Tão logo aquela torrente de graça incondicional foi derramada dentro do temeroso coração de Mefibosete, ele “se inclinou, e disse: Quem é teu servo, para tu teres olhado para um cão morto tal como eu?” (2 Sm 9:8). É assim que a bondade de Deus conduz ao arrependimento. O pecador é introduzido na presença de infinita graça, e também de infinita santidade. O verdadeiro caráter de Deus é revelado ao pecador em Cristo Jesus. Então ele escuta as mais doces palavras de divino amor: “Não temas, porque decerto usarei contigo de beneficência” (2 Sm 9:7). E o efeito disso é inclinar-se ao pó, sensibilizado por essa irresistível graça. É este o “arrependimento para a vida” (At 11:18). Mas devo lhe dizer, meu leitor, que você deve se arrepender antes de vir a Cristo? Não, eu deveria pensar em pedir-lhe para se aquecer primeiro, antes de vir para próximo do fogo, se eu te visse morrendo no frio e na tempestade.
Mas, se não estou enganado, há muitos que entendem como arrependimento um tipo de reerguimento de si mesmo; uma melhoria de si mesmo por meio da qual você consegue fazer com que Deus mude de idéia a seu respeito, como se Ele fosse nosso inimigo, um Ser irado e necessitasse de nossas boas obras para voltar Seu coração para nós. Acaso houve necessidade de alguma mudança no pensamento de Davi? Não; seu coração estava cheio de amor. E para que haveria necessidade de alguma mudança no pensamento de Deus? O que é a cruz de Cristo, além da expressão do amor de Deus para com os pecadores perdidos? Agora, meu leitor, se você conhecesse a bondade de Deus para com você, como foi demonstrada em Seu Filho Jesus Cristo e em Sua morte expiatória, isto produziria instantaneamente uma completa mudança de pensamento em você. E quanto mais você conhecesse a gratuidade desse precioso amor, mais você se humilharia, se inclinaria ao pó, diante d'Ele. Aquilo que você talvez esteja tentando em vão produzir em si próprio, como algo preliminar à salvação, ou como algo para merecê-la, seria produzido no momento em que cresse no maravilhoso amor de Deus.
A religião do servo
Agora, note, o contraste entre estes dois homens – Ziba, o servo, e Mefibosete, o filho – Davi chama a Ziba, e lhe dá mandamentos, os quais ele concorda guardar. “Conforme a tudo quanto meu senhor, o rei, manda a seu servo, assim fará teu servo” (2 Sm 9:11). A mesma coisa que Israel tolamente se comprometeu a fazer no Sinai – e a mesma coisa que milhares estão se comprometendo a fazer em nossos dias, os quais abandonaram o Cristianismo, voltando a uma forma de judaísmo – sim, e temo que nove em cada dez que lêem esta página, pertençam à religião do servo, e não do filho.
Que contraste pode ser visto nas palavras de Davi dirigidas ao filho em pura graça. “Tudo… tenho dado” (2 Sm 9:9). “Mefibosete… de contínuo comerá pão à minha mesa” (2 Sm 9:10). “Mefibosete comerá à minha mesa como um dos filhos do rei” (2 Sm 9:11); “Morava pois Mefibosete em Jerusalém, porquanto de contínuo comia à mesa do rei, e era coxo de ambos os pés” (2 Sm 9:13).
Nenhuma palavra de graça dirigida ao servo, e nenhum mandamento dirigido ao filho. Um mostra o serviço de uma servidão pela lei; o outro, a adoração da mais profunda afeição do coração.
Feliz é a sua porção, filho da graça! Deus deu a você vida eterna. Não mais um servo, mas um filho nobre, real, à mesa de seu Senhor. Nem sequer um sacramento para ajudar a salvá-lo, mas o sentar-se de contínuo à mesa de seu Senhor, partindo e comendo daquele pão, e bebendo daquele cálice, que o faz recordar do corpo ferido e do sangue derramado de Cristo, pelo que você é salvo. Sim, Deus lhe deu o Pão da Vida, do qual você deverá sempre se nutrir.Porque você se alimenta continuamente de Jesus? Deus quis assim. Ele disse isso, e será feito. Se você é um crente, você é um filho, sua condição e posição não pode ser de um servo. “Mas, a todos quantos O receberam [receberam a Cristo], deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no Seu nome” (Jo 1:12). “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8:17).
O filho será sempre filho
Quão imensamente importante, é ter entendimento deste maravilhoso relacionamento. Certamente você deve ver que há uma grande diferença entre o relacionamento de um servo e o de um filho. O servo não permanece para sempre, mas o filho será para sempre filho. Dessa forma, a graça trouxe Mefibosete de seu lugar de temor e inimizade, dando-lhe, de uma só vez, todos os privilégios de filiação, sem uma única condição. Vimos o efeito disso nele, demonstrado numa total reverência de si mesmo; sim, descobriremos seu coração apegando-se a Davi para sempre.
A fria incredulidade diria: “Sim, é verdade, ele era um pobre e coitado aleijado antes de ser levado a Davi, e tornado filho de um Rei. Mas certamente ele nunca poderia desfrutar do privilégio de sentar-se à mesa real, e continuar a ser um pobre e coitado aleijado”. Este argumento existe, porque não são poucos os que admitem que, é tão somente a graça que traz um pobre pecador, perdido e aleijado, a Cristo, mas que no entanto imaginam que, depois de trazidos a Cristo, a continuidade desta condição e a salvação final dependem, de alguma forma, de seu próprio andar e de sua obediência. Este é um engano muito desconcertante e torturante. Se fosse verdade, ai de nós! Quem poderia ser salvo? Todo crente que conhece seu próprio coração responderá: “Eu não!” Se minha salvação final dependesse de mim por apenas uma hora, eu não ousaria ter sequer esperança de ser salvo. Você ousaria? Porém, o que vemos nesta figura divinamente inspirada da bondade de Deus? “De contínuo comia à mesa do rei, e era coxo de ambos os pés” (2 Sm 9:13). Preciosa graça!
“A graça que me buscou e me encontrou,
Sozinha pode me manter lá”.
O crente, com frequência, fica extremamente espantado, quando descobre que, apesar de toda a força própria que pensa possuir para manter-se firme na hora da tribulação, é tão fraco agora quanto antes. E se ele, por um momento, esquecendo sua posição que em graça tem como filho, e comece a tentar andar como servo, ele acabaria ocupado com seus pobres pés aleijados. Ao descobrir que, como um servo sob a lei, não pode agradar a Deus, ele estaria pronto a desistir de tudo em desespero. Querido leitor, talvez você tenha sido golpeado dessa maneira. Você pode ter olhado para o seu pobre andar coxo, até ter dito em seu coração: “Certamente eu não posso mesmo ser um filho de Deus!” Ah! você nunca poderá ter paz olhando para seus pés aleijados. Coloque-os debaixo da mesa, e olhe para aquilo com que Deus, em Sua infinita graça, tem colocado sobre a mesa. Ele coloca diante de nós a lembrança (memória) de Cristo. Tudo o que somos em nosso pobre, desventurado e aleijado ser, foi julgado e posto de lado pela cruz. E Deus considera nosso velho ser morto e sepultado fora de Sua vista. Ele nos vê agora ressuscitados com Cristo; sim, n'Ele próprio, sentados nos lugares celestiais.
Oh! sim, é bem verdade, o crente é, em si mesmo, tão aleijado depois de sua conversão quanto ele era antes. No entanto, ele tem uma nova vida – tem agora uma nova natureza, a qual não tinha antes; e tem o Espírito Santo habitando nele. Mas ainda sua velha natureza, chamada carne, continua sendo o que sempre foi. O que deve fazer então? Não ter absolutamente nenhuma confiança na carne; mas reconhecer a graça que o fez ser de Cristo, e que o manterá sendo d'Ele para sempre. Coloquemos, portanto, nossos pés debaixo da mesa, e alegremo-nos com as riquezas da divina graça que estão dispostas diante de nós. É quando chegamos ao final de toda a esperança em nós mesmos, o fim de todos votos feitos, de todas nossas resoluções – quando realmente reconhecemos a completa ruína do velho homem – quando a seguir desfrutamos aquela calma e tranquila dependência em Cristo, na qual começamos a perceber o poder de Sua ressurreição em uma vida santa. [tradução da versão atual: em comunhão de Quem encontramos o poder para uma vida santa.] Porém a carne, em sua justiça-própria, vai dar um bocado de trabalho antes de se deixar considerar morta (Rm 7).
A bondade de Deus para com um mundo culpado
O assunto do capítulo seguinte (2 Sm 10), é a bondade sendo demonstrada e rejeitada; com o consequente juízo que se segue. Trata-se do grande pecado que é digno de condenação. A bondade de Deus para com um mundo culpado tem sido demonstrada. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Que bondade! Mas ouça estas solenes palavras: “Quem não crê já está condenado”. (Jo 3:18). Se você que lê estas linhas for alguém que rejeita a bondade de Deus demonstrada na dádiva de Seu filho, pense bem; oh! pense bem em sua condenação eterna!
Gostaria de prosseguir, rapidamente, com a história desses dois homens – tipos, como foram, de todos neste dia que encontraram a graça e a salvação em Deus, ou que estão tentando ser salvos pela guarda de Seus mandamentos.
Em 2 Samuel 15, temos registrada a rebelião de Absalão. Davi, o verdadeiro rei, é rejeitado; e quando abandona Jerusalém, é notável observarmos que ele atravessa o mesmo riacho que o Jesus rejeitado cruzou anos depois. “E toda a terra chorava a grandes vozes, passando todo o povo: também o rei passou o ribeiro de Cedrom” (2 Sm 15:23). Quando Jesus atravessou, por aquele ribeiro, na noite de Sua rejeição, os poucos que passaram com Ele não puderam vigiar nem uma hora. E, “subiu Davi pela subida das Oliveiras, subindo e chorando” (2 Sm 15:30). Foi a esse monte que Jesus levou Seus discípulos, quando, havendo sido rejeitado por aqueles por quem viera e tendo morrido, havendo Deus O ressuscitado dentre os mortos, subiu ao céu – rejeitado pelo mundo, mas recebido em glória nas alturas.
Que pretendes com isso?
É aqui, quando Davi é assim rejeitado, e após haver passado pelo Monte das Oliveiras, que encontramos exposto o caráter de Ziba, o servo (Leia 2 Sm 16:1-4). A primeira coisa que vemos é uma grande exibição de serviço ao seu rei – jumentos carregados de pão, frutas e vinho. “Que pretendes com isto?” (2 Sm 16:2), pergunta o rei. “Onde está, pois, o filho do teu senhor (Mefibosete)?” (2 Sm 16:3). Ziba diz ao rei que Mefibosete “ficou em Jerusalém” para tentar tomar posse do reino. Realmente, aquilo tudo dava uma aparência de que Ziba, o homem de justiça-própria, tinha a melhor religião. Sim, e à vista, é isto o que sempre tem parecido ser. Mas Deus conhece os segredos de todo coração. Para toda aparência exterior, parecia existir um grande zelo e devoção em Ziba; e ele tinha uma boa oratória. Mas, por dentro, tudo não passava de hipocrisia.
Por fim chega o dia da volta de Davi, o rejeitado (2 Sm 19:24-30), e Mefibosete sai para encontrá-lo. Sim, e o dia da volta do Senhor Jesus4, o rejeitado logo chegará; e todo aquele que é filho da graça, esteja ele dormindo no pó, ou vivo quando Ele vier, sairá para encontrá-Lo nos ares – [“…Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”] (1 Ts 4:15-18).
Mas a vossa tristeza se converterá em alegria
E agora, o verdadeiro caráter de ambos é revelado. Mefibosete, “não tinha lavado os pés, nem tinha feito a barba, nem tinha lavado os seus vestidos desde o dia em que o rei tinha saído até ao dia em que voltou em paz” (2 Sm 19:24). A bondade de Davi havia conquistado seu coração. Aquele coração pulsava de afeição para o rei rejeitado; e sua afeição era muito profunda para permitir que ele ocupasse na terra, qualquer outro lugar que não fosse o de um triste enlutado, esperando pela volta daquele a quem amava. E, porventura, não foi com isto que Jesus contava na noite de Sua rejeição? “Um pouco, e não Me vereis, e outra vez um pouco, e ver-Me-eis? Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria” (Jo 16:19-20). Oh! quão pouco temos correspondido ao coração de nosso rejeitado Senhor! Nada posso fazer, senão culpar meu próprio esquecimento de Cristo, se me coloco em qualquer outro lugar que não seja aquele em que Mefibosete se colocou – o lugar de um triste enlutado, esperando pela volta d'Aquele a Quem amo.
Quão doce é a confiança que a graça dá
Mas e as frutas, o pão e o vinho? “Por que não foste comigo, Mefibosete?” (2 Sm 19:25) E agora a verdade é tornada manifesta. Foi ele quem havia providenciado os jumentos carregados de frutas. Porém, por Mefibosete ser aleijado, Ziba adiantou-se a montar o jumento, tomando, assim, com hipocrisia, o lugar de Mefibosete. E note agora o profundo efeito da graça. Mefibosete diz: “Faze pois o que parecer bem aos teus olhos. Porque toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor; e contudo puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa” (2 Sm 19:27-28). Quão doce é a confiança que a graça dá! Acaso você, leitor, tem a firme confiança de que Deus lhe deu, em pura graça, um lugar em Sua própria mesa? Se assim for, como você poderia deixar de almejar, com puro gozo, pela vinda do Senhor Jesus?
“E disse-lhe o rei: Por que ainda falas mais de teus negócios? já disse eu: Tu e Ziba reparti as terras” (2 Sm 19:29). É maravilhosa a resposta de Mefibosete: “Tome ele também tudo: pois já veio o rei meu senhor em paz à sua casa” (2 Sm 19:30). Não era a terra que ele queria; não, seu maior desejo havia sido realizado. Era a pessoa daquele que lhe havia demonstrado tamanha bondade.
Eles esperavam por Jesus vindo do céu
E não é assim, onde a graça conquistou o coração para Cristo? Não são as coisas da Terra. “E, na verdade”, diz o apóstolo, “tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:8). Oh, que possamos ser mais como Mefibosete – mais como os santos em Tessalônica – esperando pelo Filho de Deus vindo do céu – “E esperar dos céus a Seu Filho, a Quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Ts 1:10). – Mefibosete havia recebido a bondade de Davi com a mais completa confiança; a despeito de sua condição de aleijado, ele nunca duvidara da realidade do amor de Davi, mas havia aguardado pacientemente pelo retorno de Davi, suportando toda afronta, até que chegasse o tempo. Os tessalonicenses também receberam as boas novas da graça de Deus em poder e no Espírito Santo, e em muita confiança – e por isso suportavam com paciência, e mesmo com gozo, todo insulto e aflição proveniente das mãos de seus inimigos. E qual era o poder secreto disso? Eles esperavam por Jesus vindo do céu. Os verdadeiros filhos de Deus sempre foram odiados e caluniados. – Sim, muitas vezes queimados na fogueira. – Por esses orgulhosos guardadores da lei para a salvação.
Mas que dia está para chegar! Quem pode dizer quão cedo chegará Aquele a Quem esperamos? Suas derradeiras palavras foram: “Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 22:20). Davi voltou; e o Senhor de Davi não voltará? Sim, nossos olhos logo irão vê-Lo. Oh, bendita e brilhante esperança! Não esperamos pelo Milênio. Não esperamos pelo cumprimento das profecias. Todas estas coisas são benditas em seu próprio lugar – mas é o próprio Jesus que o crente, que foi lavado em Seu salgue, anseia ver.
Dia do Julgamento
Esta belíssima ilustração se estende ainda mais adiante, – o dia do julgamento da casa de Saul. “Porém o rei poupou a Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, por causa do juramento do Senhor, que entre eles houvera, entre Davi e Jônatas, filho de Saul” (2 Sm 21:7). Isso encerra a história deste filho da graça. E muito depois de Jesus ter retornado, e Seu reino tiver sido estabelecido; quando a Igreja de Deus já estiver há muito desfrutando da glória celestial de Cristo, e Israel estiver desfrutado da glória do Reino sobre a Terra; sim, mesmo depois que o grande trono branco tiver sido estabelecido, e quando os filhos caídos de Adão estiverem diante do trono; então, nenhum que foi contado na família da graça, nos conselhos da eternidade, nenhum, nem mesmo um único, será perdido.
Mas onde estarão os pecadores negligentes, e aqueles que tentam fazer algo pela sua própria salvação, aparecerão naquele dia? Ache-me um homem que professe ser um guardador da lei, e que não seja um transgressor da lei. Prezado leitor, poderia algum de nós permanecer diante daquele trono apoiado em nossas próprias obras? Impossível. Com certeza, o homem que pretende parecer melhor que seu vizinho, deve ser um hipócrita, pois Deus diz: “Não há diferença. … todos pecaram” (Rm 3:22-23). Não, não! não é pelas obras que qualquer pecador pode ser salvo. Se você puder encontrar um homem que não seja pecador, bem, deixe que ele tente. Mas um pecador necessita de perdão. “E sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22).
Bendito Jesus, Tu suportaste a ira, a maldição, o juízo, pelos pecados do Teu povo; e agora Sua bondade desimpedida, e a paz eterna, formam a feliz porção de cada alma que repousa em Ti. Olhe para a cruz, querido leitor, e ouça. Deus não está lhe dizendo algo ali? “Decerto usarei contigo de beneficência” (2 Sm 9:7).
O fruto de uma fé salvadora
Mas será que não haverá obras, em troca disso? Oh, sim, haverá um serviço verdadeiro, profundo, de coração – que é o fruto da fé salvadora. Quantas são as obras que parecem boas diante dos homens e são, na realidade, nada aos olhos de Deus! Os homens se sobrecarregam com pesados fardos de obras de justiça-própria; e, no entanto, o que são todas essas obras, além da mera rejeição da imerecida bondade de Deus?
Quanto mais profunda for sua certeza da imutável bondade de Deus demonstrada a você, um indigno pecador, mais profunda será sua aversão ao pecado, e mais completo o seu gozo em um serviço devotado de todo o coração a Cristo; e mais seriamente, embora pacientemente, você irá aguardar por Sua volta vindo do céu.
C.Stanley (1821-1890)
A GLÓRIA DE DEUS VISITOU ESTE MUNDO
A primeira visita da glória de Deus a este mundo foi quando Deus escolheu uma família para tornar-se um povo, para tornar-se uma nação – a nação de Israel. Deus tratou pessoalmente com aquela nação. A este povo Ele Se exibiu em poder (Dt 4:37) – [N do R: “Porquanto (Ele – JND) amava teus pais, e escolhera a Sua semente depois deles, (Ele – JND) te tirou do Egito diante de Si, com a Sua grande força”].
Ele os tirou “do Egito… com Sua grande força” e poder.
Ele os guiou e alimentou por quarenta anos através de um grande deserto, e os introduziu na terra prometida com Seu poder (Sl 105:39-45).
“A glória do SENHOR encheu a casa” (2 Cr 7.1), apareceu no mais magnífico templo com que esta Terra já foi agraciada, nos dias do grande rei Salomão.
Mas pela indiferença à presença de Deus em poder e glória em seu meio; pela desobediência às Suas leis escritas pessoalmente por Ele; pelo desprezo “à terra aprazível” (Sl 106:24); e por virarem as costas a Deus e se voltarem a ídolos pagãos (Os 1:6), “a glória do SENHOR” voltou ao céu (Ez 1:1-25,28). Essa volta não foi forçada, mas por não poder encontrar repouso nesta terra corrompida, a glória voltou ao céu.
Seguiu-se um intervalo de 500 anos.
Então, a glória voltou a esta Terra na Pessoa de Jesus Cristo, o próprio Deus. Esta foi uma visita da graça! A glória e a graça encontravam-se em humilde bondade e amor. A única esperança do mundo está no Filho de Deus fazer-Se Homem (Is 4:5-6; Is 7:14). E Ele assim o fez!
Mas, oh! aquela glória em Cristo foi também rejeitada. E mais: desta vez expulsa à força deste mundo, na vergonha, rejeição e violência da cruz. Mais uma vez Deus foi-Se embora e voltou ao céu.
O céu tem estado misteriosamente silencioso por mais de 1900 anos.
Então haverá um terceiro retorno da glória, formalmente na Pessoa do Senhor Jesus. Desta vez retornará para reinar sobre esta Terra em poder judicial, prosperidade e paz – os 1000 anos, ou milênio. Céus e Terra estarão ligados como que por uma escada, e a justiça reinará (Os 2:19-23).
Todavia, maravilha das maravilhas, há um grande mistério entre a segunda e a terceira visita a esta Terra; uma vinda invisível, secreta e pessoal daquela glória, a Pessoa do Espírito Santo vinda ao coração e corpo, hoje, de cada Crente no Senhor Jesus Cristo.
Por meio da morte, do sangue derramado, da ressurreição e ascensão do Filho de Deus, foi aberto o caminho para que o conjunto dos Crentes redimidos desfrutem hoje, em sua plenitude, a habitação do Espírito Santo, individualmente e coletivamente.
E há mais! A qualquer momento, nós, Crentes em Cristo, juntamente com o Espírito Santo, seremos arrebatados, trasladados para aquela mesma glória, juntamente e semelhantemente ao amado Filho de Deus, para sermos banhados para sempre pelo fulgor daquela imaculada e eterna glória (1 Cr 29:10-13).
N.Berry (1911-2001)
PERGUNTAS E RESPOSTAS
P. Com quem casou-se Caim?
R. Caim foi o primeiro filho de Adão. Em Gênesis 4:2 encontramos Caim como lavrador – “Caim foi lavrador da terra”, ou seja, já como homem adulto. Então vemos que matou seu irmão e “saiu… da face do Senhor” – [N. do R.: “E saiu Caim de diante da face do Senhor”] (Gn 4:16), indo habitar “na terra de Node” (evidentemente este era o nome que ela tinha quando Moisés escreveu o livro de Gênesis, e significa "nômade" ou "errante" – Dicionário Bíblico Conciso). Não nos é dito quanto tempo se passou do versículo 16 até o versículo 17, quando Caim encontra uma esposa – [N. do R.: “E conheceu Caim a sua mulher” (Gn 4:17)]. A Bíblia não nos diz, e só podemos nos basear em conjecturas; mas são conjecturas perfeitamente possíveis e nada têm de estranho, como pensam alguns que não crêem, e que procuram usar esta passagem para lançar dúvidas sobre o escrito divino.
Nos é dito que Adão estava com 130 anos quando gerou Sete, em Gênesis 5:3 – [N. do R.: “Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme à sua imagem, e chamou o seu nome Sete”], e esta idade deveria ser um pouco mais do que a idade de Caim. Para entender esta afirmação, você deve lembrar que Adão foi criado adulto e deve ter caído em pecado logo após a criação de Eva, pois, embora Deus já tivesse ordenado que se multiplicassem (Gn 1:28) – [N. do R.: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra”], Adão só conheceu sua mulher após ter sido expulso do Éden (Gn 4:1) – [“E Conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e teve a Caim, e disse: alcancei do Senhor um varão”].
Embora a primeira impressão que se tem é de que Sete tenha sido o terceiro filho de Adão e Eva, não podemos afirmar isto com certeza, pois a Palavra de Deus geralmente assinala apenas o nome daqueles que têm alguma importância no contexto, ou de quem viria uma genealogia – “E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela teve um filho e chamou o seu nome Sete… a Sete mesmo também nasceu um filho; … Enos, então, se começou a invocar o nome do SENHOR” (Gn 4:25-26). O fato de, por exemplo, não encontrarmos os nomes dos descendentes dos bisnetos de Caim não significa que não tenham existido. Simplesmente não são citados pois nada tinham a ver com o relato divino.
Porém, mesmo que Adão não tivesse tido outros filhos além de Caim e Abel até haver gerado Sete, depois disso ele viveu mais “oitocentos anos: e gerou filhos e filhas" (Gn 5:4). Quantos? Não nos é mostrado, mas você pode imaginar. Se um homem atual, que vive uns 60 anos ou mais, pode gerar em média 4 filhos, o que não faria vivendo 800 anos, em condições de saúde muito menos danificadas pelo pecado em relação as que encontramos em nossos dias? Junte-se a isso os filhos de sua descendência, e você chegará a números enormes.
Portanto, se Caim viveu uns oitocentos anos (que era a média da época), quando tinha uns trezentos anos já podia escolher, entre, talvez, uma dezena de irmãs, ou algumas centenas de primas, sobrinhas e parentes distantes, uma esposa para si. E não somente isto, mas também já podia até mesmo construir uma cidade para abrigar tanta gente, como realmente o fez, como vemos – “E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve Enoque; e ele edificou uma cidade” (Gn 4:17). Calcula-se que a população da Terra já era bem grande na época do dilúvio, que aconteceu cerca de 1700 anos após a criação, e não há nada de anormal nisso se multiplicarmos a geração de um homem de nossos dias por dez, que seria o equivalente aos oitocentos anos em média que se vivia então. Pela extensão dos anos de vida do homem naquela época, é possível até que netos de Caim, ou mesmo filhos de sua velhice, tenham perecido no dilúvio.
O problema maior para entendermos tudo isso, está em esquecermos o tempo de vida de um homem antes do dilúvio. Portanto, aqueles que tinham esta dúvida podem ficar tranquilos, pois Caim teve tempo suficiente para ter diversas opções de escolha até tomar uma esposa para si.
AS DUAS NATUREZAS
O homem é uma criatura caída, nascido em pecado, com uma natureza má que não faz nada além de pecar contra Deus. Esta natureza má é completamente incorrigível, e aqueles que a têm “não podem agradar a Deus” (Rm 8:8). Mas Deus “condenou o pecado na carne” sobre a cruz (Rm 8:3).
Quando um pecador crê no Senhor Jesus Cristo, ele é nascido de Deus, recebe uma nova natureza que “não pode pecar” (1 Jo 3:9). Porém, a velha natureza ainda permanece nele, e nem um “átomo” da velha natureza é melhorado pela presença da nova natureza. Assim, um homem não convertido tem uma natureza, que é pecaminosa; mas um Cristão tem duas naturezas: a velha, pecaminosa, e a nova que “não pode pecar”.
Muitos, quando são salvos, ficam surpresos e desanimados por voltarem a pecar, e algumas vezes até mesmo temem estar perdidos apesar de tudo. Tal pensamento resulta da idéia errada de que sua velha e pecaminosa natureza pudesse ser melhorada, e assim Satanás se aproveita disso.
Em Romanos 6, lemos: “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito (e não aperfeiçoado), para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm 6:6-7). Deus desistiu do velho homem; foi crucificado de uma vez por todas sobre a cruz. Creia em Deus e você estará livre do pecado. O pecado não será mais o seu senhor.
Então, do lado prático, somos ensinados a: “considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6:11). Não diz para compreender, nem sentir, nem experimentar, mas diz: “considerai-vos como mortos…”. Não haveria necessidade para tal exortação se o pecado ainda não estivesse em nós, ou se a velha natureza fosse melhorada.
“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3:6).
The Young Christian
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20).
O OBJETO DA FÉ
Jesus – Aquele que revelou o coração de Deus
Sobre tábuas de pedra, foi escrito o mandamento pelo dedo de Deus: “Não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20:4). Nada que a mente ou o coração do homem pudesse conceber poderia ser uma representação do eterno, Deus triuno, “O Bem-aventurado, e Único Poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a Quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Tm 6:15-16). A lei não podia proclamar Deus, mas apontava adiante, para Um que viria, o Único que poderia tornar Deus conhecido e por meio de Quem o coração de Deus seria manifestado, e Sua criatura pecaminosa, o homem, poderia ser conquistado e seguro firmemente nos laços do amor eterno.
“O Verbo se fez carne” (Jo 1:14). Jesus em perfeita humanidade, Filho de Deus e Filho do homem em humilhação, sofrimento, vergonha e morte, revelou o coração de Deus. Por Seu sacrifício expiatório Ele glorificou a Deus e alcançou a redenção eterna. Ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, os frutos de Seu trabalho estão agora seguros na glória de Sua Pessoa. Na Terra Ele foi o prazer de Deus Pai; agora, elevado acima de todos os céus, Ele é o gozo do Pai e o objeto da fé e amor de Seus redimidos.
Ele confortou Seus discípulos dizendo: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim” (Jo 14:1). Da Sua glória Ele enviou o Consolador para habitar com os Seus para sempre, para ocupar o coração do crente Consigo mesmo e Suas glórias. Selado com o Espírito Santo, o crente é levado a um conhecimento consciente das perfeições da Pessoa e da obra d'Aquele em Quem é selado. Mesmo enquanto aqui na Terra o crente é transformado à Sua imagem, à qual, no propósito de Deus, ele será totalmente conformado em glória.
Christian Treasury
MINISTÉRIO
O que pode ser mais valioso em seu lugar, e para cumprir os propósitos de Deus através dele, do que o ministério Cristão? Abrange tanto o governo como o ensino, tanto o pastoreio quanto a pregação. Há aqueles que podem ensinar e não têm poder de governar; há outros que governam bem, e têm um grande peso moral, que não podem ensinar. Há ainda alguns que têm o dom de pregar, e ainda precisam ser ensinados, além de não serem adequados a governar, esclarecer e estabelecer a Igreja de Deus. Nem mesmo um dom de ministério traz, em si só, o peso moral necessário para governar. Assim ensinam as Escrituras, e assim presenciamos nos fatos do dia a dia.
O ministério Cristão foi estabelecido pelo Senhor que morreu por nós, mas a fonte jorrou quando Ele subiu ao céu. Se Ele deu dons aos homens, foi só após haver subido às alturas - “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens…” (Ef 4:8-11).
W.Kelly (1821-1906)
JOHN WESLEY
Lembro-me certa vez, um homem em grande aflição. Enquanto caminhava com John Wesley, queixando-se de suas tribulações; declarando não saber o que fazer com elas. O Sr. Wesley nada respondeu, deteve-se no pensamento, e ao aproximarem-se de um muro de pedras, por sobre o qual uma vaca olhava, Wesley perguntou:
Está vendo aquela vaca?
Vaca? – respondeu o homem, olhando por cima do muro – Sim, eu a vejo.
Agora, meu amigo, sabe por que aquela vaca está olhando por cima do muro?
Não sei – respondeu o homem.
Porque ela não pode olhar através do muro. E você devia fazer o mesmo com os seus problemas; olhar por cima deles!
O homem aprendeu a olhar por cima de seus problemas, após esta maravilhosa lição; e viveu uma vida feliz depois disso.
Em Cristo nós podemos olhar por cima de nossos problemas. Não podemos enxergar através de muitas das coisas que temos que carregar nessa vida, mas confiando no Senhor podemos olhar por cima delas, olhar para nosso Senhor Jesus Cristo.
O ouro é derretido para ser moldado; o barro, amolecido, para ser trabalhado; só a cera liquefeita pode receber o corante; e somente o coração quebrantado pode receber e manter a impressão do céu. Se você encontra-se assim, aguarde pacientemente debaixo da pressão do Espírito Santo. Ele deixará a imagem de Cristo gravada em você.
O homem de fé pode andar tanto sobre águas agitadas, como sobre águas mansas. O homem natural não pode andar em nenhuma delas. A questão não está na condição das águas, mas na condição do coração.
Não é quando o navio está na água, mas quando a água está no navio que ocorre o naufrágio. Do mesmo modo, o perigo não é o Cristão estar no mundo, mas o mundo estar no Cristão.
Há pessoas que perdem seu tempo considerando o quanto vão perder se seguirem a Cristo, quando deveriam estar considerando o quanto perderão por não segui-Lo.
J.J.Ellis (1930)
Texto Extraído e Adaptado do Livro:
“John Wesley: man who revolutionised Britain in the 17th Century”
NOTAS:
1 – N. do R.: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha Palavra, e crê n'Aquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida” (Jo 5:24)
3 – N. do R.: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo” (Cl 2:20)
4 – N. do T.: Mefibosete falando da volta de Davi à Jerusalem, uma figura da volta do Senhor Jesus para os Seus. “Já veio o rei meu senhor em paz à sua casa” (2 Sm 19:30)
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