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Palavras de Edificação 44

(Revista bimestral publicada originalmente em Janeiro/Fevereiro 1994)

 

Índice

Editorial – M.Persona (1955)

A Igreja do Deus Vivo – G.H.Hayahoe (1911-2003)

Sacrifícios Cristãos – P.Wilson (1899-1966)

Adoração Cristã – J.N.Darby (1800-1882)

O Espírito de Graça – C.Buchanan (1917-2012)

Perguntas e Respostas – Christian Treasury, Volume 7

 

EDITORIAL


O dicionário define a palavra inglesa “gentleman” como “cavalheiro, homem gentil e bem-educado”. Mas, segundo um artigo que li, nem sempre foi assim. Na idade média, “gentleman” era o termo usado para os senhores feudais – ricos proprietários de terras que, em sua grande maioria, nada tinham de gentis ou bem-educados. Com o passar do tempo, porém, seu significado foi mudando até chegar ao que hoje conhecemos.


O mesmo aconteceu com a palavra “igreja”, que, na Bíblia, significa uma assembleia ou reunião de pessoas – nunca um edifício de tijolos, ou uma denominação religiosa. Embora os homens chamem estas coisas de “igreja”, não existe base bíblica para isso, pois Deus não ordenou que os Cristãos construíssem templos e nem tampouco aprova que estejam separados em diferentes denominações. Em 1 Coríntios 3:4 – [N.do.R.: “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo: porventura não sois carnais”] – as divisões e a identificação dos crentes por diferentes nomes são consideradas carnalidade. Também não há fundamento na Bíblia o uso de frases do tipo “a minha igreja” ou “a igreja do pastor fulano”. O que vemos é “a Igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue” (At 20:28).


Os Cristãos devem se reunir, mas somente ao nome do Senhor Jesus (Mt 18:20), para orar, celebrar a Ceia do Senhor, aprender da doutrina dos apóstolos e ter comunhão uns com os outros (At 2:42). Isto pode ser feito numa casa, salão ou edifício, destinado ou não exclusivamente para este fim. O edifício onde tal reunião ocorre nada é. Não tem o mesmo caráter do tabernáculo ou do templo no Velho Testamento, pois estamos numa nova dispensação e nada temos a ver com a forma de adoração dos judeus. No Velho Testamento a adoração era exterior, pois Cristo ainda não havia sido morto e glorificado, e os adoradores não eram habitação do Espírito Santo. Tudo mudou desde então (Jo 4).


Qualquer Cristão que considerar, como lugar de adoração, um edifício de tijolos ou uma denominação, que são coisas construídas e criadas pelos homens, estará desprezando o que diz a Palavra de Deus: “Temos um Sumo Sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade, Ministro do santuário,o qual o Senhor fundou, e não o homem (Hb 8:1-2) – [N.do R.: “Tendoousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne”] (Hb 10:19-20). Não existe mais um templo como na antiga dispensação. Não existe mais nenhum sumo pontífice, ou sumo sacerdote, humano, pecador e sujeito a falhas. Hoje, todos os que crêem são “pedras vivas” de uma “casa espiritual”; são todos igualmente sacerdotes (1 Pe 2:5), sendo o próprio Senhor Jesus o “Sumo Sacerdote”. Qualquer coisa menos do que isto é voltar ao judaísmo.


Porém o Cristianismo que vemos ao nosso redor está mesclado de judaísmo, com seus templos, sacerdotes, altares, rituais, coros, roupas especiais e todo o aparato para uma adoração exterior, como era no Velho Testamento. Cristo sofreu fora do arraial – o sistema religioso judaico – e por esta razão a Palavra nos exorta a sairmos a Cristo fora do arraial – [N.do R.: “Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando Seu vitupério”] (Hb 13:10-15). As palavras dirigidas aos crentes de Laodicéia, em Apocalipse 3:20, servem para cada um de nós hoje: o Senhor encontra-Se fora de todo o sistema religioso da Cristandade, a qual caminha a passos largos para a apostasia, e Ele bate à porta, dirigindo-se àqueles que querem antes escutar a voz do Senhor nas Escrituras, do que ser levados pelos costumes dos homens. “Se alguém ouvir a Minha voz (Ap 3:20).

M.Persona (1955)

 

A IGREJA DO DEUS VIVO

(Palestra a Cristãos – La Mirada, Dezembro de 1985)


Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor” (Is 43:21).

E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a Terra; serão renovos por Mim plantados, obra das Minhas mãos, para que Eu seja glorificado. O mais pequeno virá a ser mil, e o mínimo um povo grandíssimo: Eu, o Senhor, a seu tempo o farei prontamente” (Is 60:21-22).

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10:31).

Quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós). Pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da Sua vocação, e cumpra todo o desejo da Sua bondade, e a obra da fé com poder; para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós n'Ele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 1:10-12).

Mas, se tardar, para que saibais como convém andar na casa de Deus, que é a igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade. E sem dúvida alguma grande é o mistério da piedade: Aquele que Se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (1 Tm 3:15-16).


Quão maravilhoso é olharmos adiante para um dia glorioso quando o Nome do Senhor será glorificado nos céus e na Terra. Nas passagens que lemos no Velho Testamento, pudemos ver que virá um dia quando Deus será glorificado na nação de Israel. Ele os escolheu em Sua graça, e Seus propósitos para com eles, eram propósitos de bênção. Mas sabemos que eles não corresponderam aos Seus clamores. Mesmo assim, Ele foi fiel, e em Malaquias, o último livro do Velho Testamento, Ele lhes diz: “Fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (Ml 3:10). Ainda assim, Ele Se deleitava em lhes apontar para aquele tempo quando Ele seria glorificado neles, o dia em que eles não iriam mais se vangloriar em si mesmos, mas toda a glória estaria n'Ele.


Sabemos que é este o futuro para a nação de Israel, mas tanto vocês como eu, irmãos, ocupamos um lugar muito mais maravilhoso e glorioso. Quão maravilhoso é que Deus escolheu deste mundo um povo que será apresentado em um dia vindouro como a noiva de Cristo! Poderia haver algo mais glorioso ou mais maravilhoso? O escritor deste hino expressou o pensamento nessas palavras:


“Um pensamento tão maravilhoso e sem par,

Quem o iria sugerir, ou o que o faria brotar;

Que nós, a Igreja, à glória levados,

Fôssemos, com o Filho, tão abençoados?

Oh Deus! De Ti veio um pensamento tal!

E só Teu poderia ter sido;

Pois ninguém mais faria igual”


Somente Deus poderia ter tido propósitos tão maravilhosos para conosco!


Sinto que devemos ser lembrados do quanto Ele fez por nós, para que nosso coração seja estimulado aqui e agora – para que possa haver mais resposta em nós no sentido de viver para Ele. Precisamos olhar para trás e ver o que o precioso Salvador fez por nós, tomando nosso lugar e levando, sobre a cruz do Calvário, o juízo que nós merecíamos. E então, olhemos adiante, para o tempo que lemos em 2 Tessalonicenses, “quando (Ele) vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem”.


Porém, quando chegamos em 1 Timóteo, capítulo 3, creio que o Espírito de Deus coloca diante de nós, por intermédio do apóstolo, aquilo que deve caracterizar a assembleia aqui sobre a Terra. Talvez devesse ser trazido diante de nós apenas a imensidão da responsabilidade que temos e o tamanho privilégio que nos pertence. Não que devamos ser alguma coisa em nós mesmos – longe de mim tal pensamento! Mas que o Senhor seja glorificado; para que possa haver um testemunho, dado aqui neste mundo, que seja para Sua glória e louvor. Cada um de nós pode ocupar seu coração individualmente com isso. Cada um de nós pode desejar que seja conosco assim como foi com o apóstolo Paulo; quando olharam para ele, nos é dito que “glorificavam a Deus a respeito de mim” (Gl 1:24). Eles viram nele a manifestação da vida de Jesus.

O Temor do Senhor é o princípio da Sabedoria

Isso pode ser também coletivamente, e creio que o que é colocado diante de nós neste terceiro capítulo de 1 Timóteo é o lado coletivo das coisas. O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, um jovem rapaz, expõe aquilo que deveria caracterizar a casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo. Sabemos que, até ali, as divisões ainda não tinham se disseminado entre o povo de Deus, e assim o apóstolo coloca diante de nós o plano de Deus de como deveria ser a casa de Deus aqui na Terra. Vemos às vezes algum novo empreendimento habitacional, e é colocado uma maquete (modelo) da moradia que será construída para que as pessoas possam ver qual é a idéia do construtor para aquela obra. Tudo é colocado naquela maquete (modelo) para que as pessoas possam descobrir o que o projetista tinha em mente. Não é adorável que Deus tenha feito exatamente o mesmo aqui neste mundo? Ele estabeleceu aquilo que tinha por objetivo mostrar ao mundo, não a sabedoria do homem (da qual costumamos escutar muito em nossos dias), mas a sabedoria de Deus. Essa é a sabedoria que realmente importa. A sabedoria deste mundo, nas coisas morais e espirituais, é loucura para Deus1. Mas você e eu, irmãos, encontraremos felicidade, paz e gozo em andar no caminho da sabedoria de Deus. Lemos diversas vezes nas Escrituras, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111:10; Pv 1:7; Pv 9:10). Outro versículo que fala de sabedoria é: “Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz” (Pv 3:17).


Para que saibas como convém andar

O apóstolo diz aqui a Timóteo: “Para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo” (1 Tm 3:15). Sabemos que a Igreja é vista de duas maneiras diferentes nas Escrituras: É falado dela como sendo o corpo de Cristo; e, como tal, todo crente é um membro. Está escrito: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres” (1 Co 12:13). Há o “um corpo”, e Cristo é o Cabeça em glória. Mas há também o aspecto da casa, onde aprendemos que somos todos pedras vivas, “edificados casa espiritualpara morada de Deus em Espírito” (1 Pe 2:5; Ef 2:22). Como tal, descobrimos que o pensamento da “casa” é sempre o pensamento da responsabilidade. Com frequência falamos dessa maneira, dizendo: “Tais coisas não convém a uma casa como aquela. É uma casa de Cristãos e deve ser estabelecida para piedade; não é possível que coisas assim estejam acontecendo ali”. Ou, numa maneira positiva, podemos dizer: “Se visitasse aquela casa, gostaria de encontrar ali uma ordem estabelecida em piedade”. Deus usa a “casa” dessa maneira em Sua Palavra. Portanto, quando é trazido o pensamento da “casa”, é colocado diante de nós o pensamento de um certo comportamento – e, um comportamento, conforme lemos nas Escrituras, para a glória de Deus.


Precisamos ter um objetivo diante de nosso coração para formar nosso comportamento. Podemos fazer as coisas visando nossa reputação, mas isso será tudo em vão. Lemos do bendito Salvador aqui neste mundo, que Ele “aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo” (Fp 2:7). De Quem era a reputação que Ele buscava? Oh, Ele buscava a glória de Deus, Seu Pai. O céu podia se abrir sobre Aquele Bendito, e dizer, “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). Portanto, a motivação para nosso comportamento não é que pensem bem a nosso respeito, mas antes que o Senhor Jesus seja glorificado – que possa haver aquilo que responda ao Seu desejo, e ao Seu coração. Assim como aquela maquete (modelo) de casa no novo empreendimento é para a honra do homem que a desenvolveu. Deus nos colocou neste mundo para o Seu louvor, do mesmo modo como fez com Israel no passado; “Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor” (Is 43:21).


Lâmpada para os meus pés

Estamos realmente preocupados com isso? Consideramos isso em todos os aspectos de nossa vida? A epístola a Timóteo abrange cada aspecto da vida. Se você ler cuidadosamente, verá que dificilmente haverá um aspecto da vida que não seja mencionado. Coloca diante de nós como deveríamos agir com nossos parentes, como maridos e esposas devem agir, e traz, diante de nós, até mesmo assuntos como exercício físico e tudo o que se relaciona em como lidamos com nossas ocupações materiais. Tudo isso é trazido diante de nós porque o mundo está olhando para nós e nos observando, e o mundo deveria ver em nós pessoas que estão procurando andar, neste mundo, na sabedoria de Deus – um povo que, em meio a um mundo cheio de tudo aquilo que apela ao coração natural, encontrou um segredo na vida; encontrou a direção para o seu caminho, e tudo isso na Palavra de Deus. “Lâmpada para os meus pés é Tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105). E, assim, diz: “A casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo” (1 Tm 3:15) – a assembleia, os “chamados para fora”. Deus chamou a vocês e a mim para fora de um mundo que se encontra sob o juízo. Seu propósito para conosco foi o de nos destinar à glória. Porém Ele nos deixou aqui neste mundo a fim de anunciarmos as Suas virtudes – “para que anuncieis as virtudes d'Aquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).


A Igreja do Deus Vivo (ARA)

Porém, antes de tudo, lemos: “A igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15). Esta é uma enorme responsabilidade para a assembleia de Deus*2 nesta Terra. Quero dizer, creio que a assembleia é responsável perante Deus em ser o suporte da verdade. Sabemos que a Igreja não ensina; a Igreja é ensinada. Isto é, significa que tudo o que você e eu conhecemos não é porque um determinado grupo ensina isso ou aquilo, mas porque a Palavra de Deus ensina. Somos responsáveis em guardar este depósito de verdade que nos foi comissionado (confiado). Nós realmente valorizamos à verdade de Deus? Creio que nesta passagem o que está mais particularmente colocado diante de nós é aquilo que as Escrituras chamam de “a minha doutrina (doutrina de Paulo) (2 Tm 3:10). A Igreja de Deus é responsável em manter a verdade da Palavra de Deus de Gênesis a Apocalipse. É triste termos que dizer que hoje encontramos um questionamento da Palavra de Deus. Há pessoas que dizem: “Este livro contém a Palavra de Deus”. Mas vamos dizer o que ele é realmente: “Este livro é a Palavra de Deus!”. Se digo que ele contém a Palavra de Deus, então faço de mim mesmo o juiz; eu digo “ele contém a Palavra de Deus, e sou capaz de extrair dele aquilo que é verdadeiramente a Palavra de Deus”. Isso dá às pessoas o direito de deixarem de lado determinados versículos que não lhes agradam. Porém, irmãos, este livro é a Palavra de Deus! É a completa revelação do pensamento de Deus. “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3:16-17).

Perfeitamente Instruído para toda a Boa Obra

Acredito que muitos de nós podem dizer que em todas as decisões da vida temos experimentado que a sabedoria de Deus nos é dada tanto no Velho como no Novo Testamento para nosso caminho aqui. Um querido servo de Deus certa vez disse; que não achava ter alguma vez se deparado com um único assunto em sua vida para o qual não tivesse encontrado em algum lugar da Palavra de Deus a sabedoria de que necessitava para aquela decisão. Acredito que tudo está aqui, no bendito livro de Deus – mesmo naquelas histórias do Velho Testamento. Leiam o Velho Testamento, pois vocês descobrirão que as histórias ali são dadas para nos ajudar nas situações com que nos deparamos nesta vida. Se estivermos bem familiarizados com essas histórias, saberemos onde achar alguém que esteve numa situação similar àquela que estamos tendo que enfrentar, e como ele, ou ela, agiu – seja com sabedoria ou não. E veremos o resultado, bom ou ruim, nos caminhos governamentais de Deus, ao agir ou não conforme a sabedoria da Palavra de Deus. Portanto, eu gostaria de encorajar a cada um de nós, velho ou jovem: leia a Bíblia inteira, o Velho e o Novo Testamento. Você encontrará tudo o que precisa para a vida e a piedade – “Toda a Escritura é divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3:16-17).


Houve revelações especiais que foram dadas ao apóstolo Paulo – que as Escrituras chamam de doutrina de Paulo. Acredito que há, na Cristandade hoje, uma tendência de se afastar disso. Por todo lado, há um espírito de comprometimento; cedendo um pouco aqui, um pouco ali. Talvez para conseguir influência ou aumentar números. Porém, lembremos que “é a igrejaa coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15), responsável em guardar, na sua totalidade, a verdade de Deus que nos foi dada. Como Paulo disse a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado” (1 Tm 6:20). Lembro-me de uma história que um irmão contou acerca de um homem que recebeu uma responsabilidade especial pelo Governo da Bolívia. Quando cruzava um riacho procurando cumprir sua responsabilidade, ele se afogou. Porém os papéis que levava estavam tão apertados em suas mãos que, quando encontraram seu corpo, ali estavam também os documentos que ele carregava. Os documentos ficaram a salvo, mesmo estando o seu corpo já sem vida. Oh, irmãos, que possamos nos agarrar a essas coisas – e que elas possam ficar agarradas em nós! Certa vez um irmão perguntou a outro: “Você agarrou a verdade?” A resposta foi: “Espero que a verdade tenha me agarrado”. Precisamos de ambos: precisamos nos apoderar da verdade em nossa alma, e também precisamos que ela se apodere de nós, e nos afete.


Querendo o Aperfeiçoamento dos Santos

No versículo 15, de 1 Timóteo 3, temos, então, a igreja como a guardiã, se posso usar tal expressão, ou o corpo responsável em guardar a preciosa verdade de Deus e ministrá-la. Porque, é dito que Cristo, subindo ao céu, deu dons, conforme lemos em Efésios capítulo 4: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). Os dons que Deus deu são para proclamar essas preciosas verdades, e a igreja é responsável por manter a verdade que nos foi dada. Os apóstolos e profetas colocaram o fundamento3; o evangelista sai com as boas novas, falando da salvação; e então aqueles que são trazidos para a assembleia encontram que há alguns para cuidar deles – os pastores e mestres, apresentando-lhes a verdade. Há um belo exemplo disso em Atos 11: ali vemos que o evangelista saiu e pregou a Palavra. Então Barnabé, que era um pastor, encorajou-os, “a que permanecessem no Senhor com propósito do coração” (At 11:23). Então Saulo (Paulo) desceu para se juntar a ele, e se reúnem com a igreja por um ano inteiro, ensinando a muitos. Assim temos o evangelista, o pastor e o mestre. Quão belo é vermos a ordem que Deus estabeleceu – tudo o que necessitamos para o nosso caminho.


Assim, primeiro temos diante de nós a responsabilidade da assembleia em manter a verdade que nos foi confiada, e andarmos no gozo dela. Porém, no versículo 16, de 1 Timóteo 3, diz: “Grande é o mistério da piedade”. Estou certo de que notaram que não está dizendo que “grande é o mistério" de Deus, mas “da piedade”. Isto é, não devemos somente manter a verdade, mas nossa vida deve ser tão semelhante a Cristo que isso possa ser manifestado àqueles com quem encontramos em nosso dia-a-dia. Assim como foi o precioso Salvador neste mundo – Aquele em Quem Deus foi manifestado; Aquele que fez tudo para agradar a Seu Pai, a ponto de poder dizer: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Agora o Senhor coloca em nós essa mesma vida. “Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo” (2 Co 4:10). As pessoas devem ver neste vaso de barro, não aquela velha natureza com que nasci (algo horrível, e miserável; como diz a Palavra: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”Rm 7:18), mas a nova natureza, a vida de Jesus. Com que frequência, mesmo sendo Cristãos, as pessoas não vêem a vida de Jesus em nós; eles nos vêem agindo apenas como homens naturais, tendo desejos naturais. Mas temos um padrão, o Senhor Jesus. Temos Sua vida, e temos um novo poder pelo Espírito de Deus.

O Mistério da Piedade

Então, lemos aqui: “Grande é o mistério (ou segredo) da piedade” (1 Tm 3:16). Qual é o segredo da piedade na vida do Cristão? Podemos tentar atrair a atenção para nós mesmos pelas coisas que fazemos. Mas o segredo da piedade é que as pessoas possam ver em nós a vida de Jesus. Talvez tenhamos um exemplo disso em 2 Reis, capítulo 2, onde “Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti”. A resposta foi: “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim”. Então Elias disse: “Se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará” (2 Rs 2:9-10). Isto é, se ele não visse Elias subir, então Eliseu não seria seu representante quando esse fosse embora. Assim também, precisamos ter nossos olhos no Senhor Jesus nas alturas, para podermos ser Seus representantes aqui neste mundo. Nos é dito que quando Elias subiu, seu manto caiu. Então, o que fez Eliseu? Ele tomou os seus próprios vestidos, rasgou-os, colocou-os de lado e vestiu o manto do homem que havia subido. Acredito ser este o pensamento aqui. Que a vida de Jesus possa ser vista em nós – este é o segredo da piedade.


Não é procurando ser importante – isso é o que o mundo nos diria para fazer. Eles dizem: “Faça algo por si mesmo. Seja alguém importante”. Certa vez um irmão foi pregar e um incrédulo lhe disse: “Por que razão você quer estar identificado com um grupo tão pequeno? Por que você não se une a um grupo grande onde poderá ser alguém importante?” O mundo não conhece nada além da exaltação própria, inclusive nas coisas de Deus. Um irmão muito querido costumava dizer: “A Cristandade tornou-se uma vasta arena onde os homens lutam em busca de honra para si mesmos”. Oh, irmãos, que possamos estar no segredo do Senhor, que Deus possa ser glorificado em nós individualmente e coletivamente, e que a vida de Jesus possa ser vista em nós.


Aquele Que Se Manifestou Em Carne

Temos aqui o segredo da piedade: Primeiro de tudo, o Senhor Jesus Cristo – “Aquele que Se manifestou em carne” (1 Tm 3:16). Que exemplo! Pedro disse que, Cristo deixou-nos o exemplo, “para que sigais as Suas pisadas” (1 Pe 2:21). Pense no caminho em que o Senhor Jesus andou – passando por todo tipo de situação que também podemos passar, e sempre agindo para a glória de Deus Pai. Sempre dizendo a coisa certa: Lemos no evangelho de João que Ele nunca disse algo de Si mesmo4. Tanto eu como você, com frequência, ficamos a perguntar: “O que devo dizer?” O Senhor nunca disse nem mesmo uma palavra de Si mesmo; Ele jamais fez algo que não tivesse sido mandado por Seu Pai. Irmãos, é este o segredo para nós. Estamos nós falando nossas próprias palavras, ou estamos buscando o Senhor? Façamos como fez Neemias quando se encontrou numa situação difícil, pedindo ajuda ao Senhor; e o Senhor o ajudou a dizer a palavra certa naquela situação (Ne 2:4-5)5.


Justificado no Espírito

Vamos dar uma rápida olhada nos pontos que nos são apresentados, em 1 Timóteo 3:16, em conexão com o Senhor Jesus. Primeiramente, “justificado no Espírito” (versão Bíblia de Jerusalém). Com muita frequência ficamos buscando a aprovação do homem. Paulo disse: “Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas sim aquele a quem o Senhor louva” (2 Co 10:18). É isso o que você e eu estamos buscando? Às vezes as pessoas podem rir de nós; podem dizer que somos tolos nas coisas que fazemos. Mas, de quem estamos buscando aprovação? É natural, correto e bom que queiramos ser bem aceitos. Mas, por quem é que queremos ser aceitos? Desejamos ser aceitos pelo mundo, ou pelo Senhor Jesus? Em Seu caminho aqui Ele foi “justificado no Espírito”. No que concerne ao mundo, é dito que Ele foi “desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos” (Is 53:3). Mas o que é que o Pai pensava d'Ele? Em Seu batismo, o Espírito de Deus desceu sobre Ele na forma de uma pomba (o sinal da paz), e pousou sobre Aquele Ser Bendito; e a voz do Pai vinda do céu disse: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). Isso aconteceu no início de Sua jornada de serviço. Então, no final de Sua senda, encontramos mais uma vez o Espírito de Deus descendo sobre Ele – no Monte da Transfiguração. Ele foi justificado no Espírito. Não acredito que teremos paz em nossa alma, e em nosso caminho, se buscarmos estar sempre de bem com os homens. Mas, quão bom é tão somente termos o segredo do Senhor, saber que estamos fazendo o que fazemos para agradá-Lo em obediência à Sua Palavra. Então, simplesmente deixando tudo em Suas mãos, que paz isto traz à alma. Este é o segredo da piedade. Estamos realmente buscando isso? Ou, dizemos: “Ninguém gosta do que faço?” Lembre-se, se você estiver fazendo o que faz em obediência à Palavra e para agradar ao Senhor, fique tranquilo – “justificado no Espírito" (1 Tm 3:16).


“Visto dos anjos” (1 Tm 3:16)

Isto é também algo notável, pois lemos: “Somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens” (1 Co 4:9). Porque as irmãs usam um véu? A Escritura diz: “Por causa dos anjos” (1 Co 11:10). E, lemos: “que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:10). Os anjos olharam para baixo e viram seu Criador em uma forma mais humilde do que eles próprios; porque Ele foi “feito um pouco menor do que os anjos” (Hb 2:7). Eles viram Alguém, um Homem aqui, que estava vivendo somente para a glória de Deus. Eles haviam visto a ruína que se introduzira pelo pecado de Adão, e agora havia Alguém aqui que buscava honrar a Seu Pai. Os anjos estão olhando para cá. Irmãos, somos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Portanto, este é o segredo da piedade: Estamos agindo de maneira tal, que seja um espetáculo para a glória de Deus? O precioso Salvador agiu assim. O Espírito repousaria sobre Ele em paz.


“Pregado aos Gentios” (1 Tm 3:16)

Quando o Senhor Jesus foi rejeitado pelo Seu povo Israel, lemos que Ele Se estendeu em bênção a uma pobre mulher sirofenícia (uma gentia). Qual é a lição para nós? Suponho que todos nós às vezes nos sentimos rejeitados e deprimidos; talvez algo que tenha sido falado ou feito a nós nos tenha machucado. Devemos desistir? Erguemos nossas mãos e dizemos: “Bem, eu tentei; mas não consegui”. O Senhor Jesus, quando foi rejeitado pela nação, era o ramo que corre “sobre o muro” (Gn 49:22), e alcança os gentios. Não devemos desistir. O Senhor Jesus não desistiu – Ele seguiu em frente naquele caminho de amor, e no final, “quem contará o tempo da Sua vida? porquanto foi cortado da terra dos viventes” (Is 53:8). Mas qual foi o resultado? O resultado está todo manifestado em ressurreição – a bênção abrangeu uma área muito maior. Se você represar um córrego em que há muita água, a água acaba subindo e flui para uma área muito maior que o seu curso natural. Então, como é que você e eu reagimos quando alguém, talvez, nos critique ou diga algo que nos machuca? Como é que reagimos? Quando isto aconteceu com o precioso Salvador, só fez com que Sua graça se espalhasse por uma área ainda maior. Ele veio para glorificar a Seu Pai, e nada poderia impedir o fluxo de amor que saía do Seu bendito coração.


“Crido no Mundo” (1 Tm 3:16)

Você e eu podemos não ver o resultado. No final do caminho do Senhor Jesus os Seus discípulos O abandonaram – a nação clamou: “Fora daqui com Este” (Lc 23:18). Onde estavam os resultados aparentes? Quando Paulo falou a Timóteo, disse que a única maneira de se trabalhar e seguir no caminho é olhando para mais além desta vida, olhando para a ressurreição (1 Tm 6:14-16). Irmãos, é isso que precisamos fazer. É por essa razão que Paulo se referia com tanta frequência “naquele dia”. Ele deixava os resultados para outro dia. Estejamos contentes em tão somente seguir adiante. Temos um padrão – o nosso precioso Salvador que andou neste caminho. E, Paulo disse a Timóteo, “considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (2 Tm 2:7). Você e eu nunca teremos entendimento para o nosso caminho, a menos que tenhamos em mente que existe Um que já passou por ele, e o que realmente importa é termos a Sua aprovação.


“Recebido acima na glória” (1 Tm 3:16)

Ou “Recebido acima em glória” (JND). Quão belo é vermos em Lucas, o precioso Salvador com aqueles discípulos: “Levantando as Suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os Ele, Se apartou deles e foi elevado ao céu” (Lc 24:50-51). Que final glorioso! Seu derradeiro ato foi a bênção dos mesmos discípulos que O abandonaram e fugiram d'Ele. Que haja mais deste espírito de Cristo em nós!


Acredito que nestes dois últimos versículos trouxemos diante de nós a responsabilidade que temos neste mundo. Somos como a casa modelo, se podemos nos expressar assim: O mundo está nos observando; os anjos estão olhando para nós – e o que é que eles vêem? Eles vêem que estamos mantendo, defendendo, guardando, e falando a verdade em amor? E, enquanto observam nossas vidas, eles vêem a manifestação da vida de Jesus – vida como de Cristo – em nós? Certamente temos que nos humilhar, por não ser sempre assim. Mas, irmãos, o Senhor continua o mesmo. Com muita frequência pensamos naquele lindo versículo no Salmo 23: “Refrigera a minha alma” (Sl 23:3). Se essas reuniões nos levam de volta à Sua presença com renovados desejos para vivermos para Ele, e para agradá-Lo, e se essas poucas passagens, de alguma forma, podem ter seu cumprimento em nós individual e coletivamente, quanto isso glorificará Aquele Bendito que fez tudo por nós. Ele foi ao Calvário por amor de nós! Sempre que ficarmos desanimados, olhando ao redor para a fraqueza e fracasso que nos cercam, pense naquele versículo em 2 Tessalonicenses: “Quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem” (2 Ts 1:10). Isso nos encorajará a seguirmos adiante, pois aquele dia está chegando! Que gozo será o nosso. E como isso regozijará Seu coração! Creio que, naquele dia, a alegria do Senhor excederá a nossa. Veremos Sua face, e ficaremos satisfeitos. E, “o trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito” (Is 53:11).

G.H.Hayhoe (1911-2003)

 

SACRIFÍCIOS CRISTÃOS


Portanto ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15).


Quando o apóstolo Paulo escreveu aos crentes hebreus, diversos sacrifícios já haviam sido oferecidos a Deus por mais de 4.000 anos – desde o tempo de Abel até os dias de Paulo. Havia então ocorrido uma mudança e Paulo os instruía que o tempo para os tipos e sombras havia terminado, e que agora eles tinham sido trazidos para as “coisas que são melhores” (Hb 6:9 – ARA). Eles deveriam agora adorar a Deus pelo Espírito e na presença de Deus “além do véu” (Hb 6:19 – ARA). A gordura de carneiros e o sangue de bodes, ou qualquer uma das variadas oferendas ordenadas sob a dispensação mosaica, não eram oferendas adequadas a Cristãos.


A pergunta que poderia muito bem ocorrer a eles era: “Então não temos nada para oferecer? Não há nada para nós apresentarmos a Deus?” O apóstolo responde dizendo que eles haviam sido introduzidos àquele lugar melhor, onde tinham “um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo” (Hb 13:10). Aqueles que ainda ofereciam o sacrifício que apenas apontava para Cristo não tinham o direito de participar naquilo que era próprio e característico do Cristianismo. Aqui tudo o que é oferecido a Deus é fruto de Sua própria graça, e nada mais é do que o resultado de uma viva ligação com Cristo. “Pela fé” (Hb 11), as coisas velhas haviam verdadeiramente passado.


Assim, o apóstolo segue mencionando algumas coisas que são adequadas ao sacrifício Cristão. Sim, era-lhes permitido oferecer algo, mesmo que tivessem que abandonar o templo e todo o seu ritual. Era privilégio deles oferecer “a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15). Nenhum templo era necessário para oferecer esse sacrifício, e tampouco isso era limitado a certos dias de festa, era para ser oferecido “a Deus”, e era para ser “sempre” [N.do R.: “continuamente” – KJV/JND; “constantemente” – TB]. Obviamente, apenas aqueles que fossem filhos de Deus e habitados pelo Espírito seriam capazes de apresentar tais sacrifícios. Isso é de acordo com um versículo em Efésios 5: “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais: cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5:19) (Veja também Cl 3:16).


Vemos algo do caráter do presente sacrifício de louvor, no leproso curado em Lucas 17; ele foi enviado ao templo e aos seus sacerdotes onde deveria oferecer suas dádivas, mas ao ser curado ele teve um vislumbre das glórias da Pessoa que o curou, e, prontamente voltou suas costas a todo o sistema terreno de adoração para voltar-se ao Senhor Jesus, onde “caiu aos Seus pés, com o rosto em terra, dando-Lhe graças” (Lc 17:16). Ele encontrou no Senhor Jesus alguém que era “maior do que o templo” (Mt 12:6), mas isso foi somente discernido pela fé. O homem natural volta-se instintivamente para as formas exteriores e para as cerimônias em busca de seu padrão de adoração.


Portanto, em meio às bênçãos que vêm de Deus, ao dar Ele a um homem e à sua esposa um lar aqui neste mundo, onde nosso Senhor não tinha nenhum, é importante que exista o espírito de louvor nesse lar. A epístola de Tiago nos lembra que se estivermos aflitos devemos orar, mas se estivermos alegres, devemos cantar salmos [N.do R.: “Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores (salmos – JND) (Tg 5:13)]. Em outras palavras, temos que receber tudo o que vêm de Deus e dar tudo a Deus. Desta forma, as bênçãos não removem o Abençoador do lugar que Lhe é devido em nossos pensamentos, pois, O reconhecemos e rendemos graças a Ele. Um lar Cristão onde o Senhor e as coisas que são d'Ele são desfrutados, frequentemente ressoará com cânticos de louvor.


Que isso seja algo mais característico de nossos lares, pois esses “sacrifícios espirituais” são “agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). O louvor e a gratidão do leproso curado, não foram coisas preciosas e agradáveis ao Senhor Jesus? Certamente que foram! E somos assegurados pela Palavra de Deus que nossas palavras e cânticos de louvor são agradáveis a Ele. Que privilégio o nosso! e quão vastamente superior àquele dos judeus da antiguidade.


O apóstolo continua: “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus Se agrada” (Hb 13:16). Aqui estão mais duas formas de sacrifício que um Cristão pode, e deve, oferecer a Deus. O Cristão deve fazer o bem. Isto cobre uma variada gama de coisas, pois ele pode fazer o bem de diversos modos. Ele deve fazer o “bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6:10). Poderá ser ajudando a um doente que necessite de assistência – tanto um que pertença ao Senhor, como, talvez, um incrédulo a quem podemos ter oportunidade de testemunhar por Cristo. Não vamos nos estender nas grandes possibilidades que esta agradável forma de sacrifício oferece. Que possamos ter os ouvidos atentos para ouvi-Lo nos dirigir nos caminhos e lugares onde possamos servi-Lo. Talvez ninguém mais fique sabendo, além daquele que foi ajudado e o Senhor. Mas isto é muito melhor, pois então nosso traiçoeiro coração não terá oportunidade de se gloriar nisso.


Por sua ordem, vem então a palavra “não vos esqueçais dacomunicação”, isto é, distribuir nosso dinheiro e bens a outros, pois isso também é agradável ao Senhor. Sabemos que o dízimo era exigido de Israel na antiguidade, isto é, dar a décima parte daquilo que ganhavam para o Senhor. Já não existe tal ordem dada aos Cristãos. Por que? Simplesmente porque não estamos agora sob a lei e sob os mandamentos para fazermos algo; estamos sob a graça e o Senhorio de Cristo. Tudo o que oferecemos a Deus de nossas coisas temporais devemos fazê-lo como sendo o extravasar de um coração transbordante, um coração que está desfrutando de tudo aquilo que a graça nos proveu. Quanto ao Senhorio de Cristo, devemos nos lembrar de que não somos mais de nós mesmos; nós – todos nós – pertencemos uns aos outros. O Senhor nos comprou e somos Seus. Um poeta expressou isto da seguinte maneira:


De tudo o que tenho ou terei, nada é meu,

Pois considero tudo como sendo de Quem me deu;

Meu coração, minha vida, futura e presente,

Pertencem a Ele e são d'Ele eternamente.


Davi disse a Deus: [N.do R.: “Porque quem sou eu?]“Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damo”, quando ofereciam generosamente aquilo que seria para a construção do templo (1 Cr 29:14).

P.Wilson (1899-1966)

 

ADORAÇÃO CRISTÃ


Os dois grandes elementos da adoração Cristã são a presença do Espírito Santo e a lembrança do sacrifício de Cristo, a qual é comemorada na ceia do Senhor.


Porém, nesta adoração, as afeições estão conectadas com todo o nosso relacionamento com Deus e aí são desenvolvidas. Deus, em Sua majestade, é adorado. Os dons de Sua própria providência são reconhecidos. Ele, que é Espírito, é adorado em espírito e em verdade. Apresentamos a Deus, como nosso Pai – o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo – a expressão das santas afeições que Ele produziu em nós; pois Ele nos buscou quando estávamos bem longe, e nos trouxe para junto de Si como Seus filhos amados, dando-nos o Espírito de adoção e associando-nos (maravilhosa graça!) com Seu bem amado Filho. Adoramos a nosso Deus-Salvador, que nos purificou de nossos pecados e nos colocou em Sua presença imaculada, Sua santidade e a Sua justiça, que foram tão maravilhosamente manifestadas em nossa redenção, tem sido para nós uma fonte de gozo que não finda; pois por meio da perfeita obra de Cristo estamos na luz assim como Ele mesmo está na luz.


É o próprio Espírito Santo que nos revela essas coisas celestiais, e a glória que há de vir, e que opera em nós a fim de produzir afeições adequadas a tal bem-aventurado parentesco com Deus. É Ele o vínculo de união entre essas coisas e o coração. Mas, atraindo a nossa alma, Ele nos faz sentir que somos filhos da mesma família e membros do mesmo corpo; unindo-nos, por meio das mútuas afeições e sentimentos que nos são comuns, nesta adoração elevada a Ele que é o objeto de nossa adoração. O próprio Senhor Jesus encontra-Se presente em nosso meio, em conformidade com Sua promessa.


Em poucas palavras, a adoração é exercitada em conexão com a mais doce lembrança de Seu amor, quer consideremos Sua obra na cruz, ou tenhamos em mente Sua sempre atual e terna afeição para conosco. Ele deseja que nos lembremos d'Ele. Doce e precioso pensamento!


Oh! que gozo traz para nossa alma, e ainda, ao mesmo tempo, quão solene deve ser tal adoração! Que tipo de vida deveríamos ter o cuidado de levar a fim de rendermos tal adoração! Quão vigilantes deveríamos ser de nosso próprio espírito! Quão sensível quanto ao mal! Com que fervor6 devemos buscar a presença e direção do Espírito Santo, a fim de render tal adoração adequadamente! Ainda assim, deveria ser muito simples e sincera; pois a verdadeira afeição é sempre simples, e ao mesmo tempo devota, já que o senso de tais interesses comunica devoção. A majestade d'Aquele a Quem adoramos e a grandeza do Seu amor nos dão solenidade em cada atitude nossa ao nos aproximarmos d'Ele. Com que profunda afeição e gratidão devemos, em ocasiões assim, pensar no Salvador, quando fazemos lembrança de todo o Seu amor por nós – permanecendo por meio d'Ele na presença de Deus, longe de todo mal, num antegozo de nossa bênção eterna!


O amor do Pai e do Filho

Estes dois grandes assuntos com os quais a adoração Cristã se ocupa, – a saber, o amor de Deus nosso Pai, e o amor do Senhor Jesus, em Sua obra e como Cabeça do Seu corpo que é a Igreja, – permitem ligeiras mudanças no caráter da adoração, dependendo do estado daqueles que adoram. Haverá ocasiões em que o Senhor Jesus estará de forma mais especial diante de nossos pensamentos; outras vezes, o pensamento do Pai é que estará mais presente. Somente o Espírito Santo pode nos guiar nisso; mas a sinceridade e espiritualidade da adoração dependerá do estado daqueles que compõem a assembleia. Em coisas assim não há lugar para o esforço próprio. Deve-se lembrar que o crente, que é o canal da adoração, não deve apresentar aquilo que é próprio e peculiar a si mesmo, mas o que é verdadeiramente o exercício gerado pelo Espírito do coração daqueles que compõem a assembleia. Isso nos fará sentir nossa completa dependência no Consolador – o Espírito de verdade – para uma verdadeira adoração a Deus em comunhão. Nada, no entanto, é mais simples ou mais evidente do que a verdade de que a adoração que é feita deve ser a adoração conjunta de todos.

J.N.Darby (1800-1882)

 

O ESPÍRITO DE GRAÇA


Que Espírito Nós Manifestamos?

O Senhor prometeu estar perto de nós em certas condições de coração, pois Ele é compassivo. Ele diz, “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado” (Sl 34:18). Você já experimentou isto? Um coração quebrantado… quanto ele dói! Acaso isto produz um espírito contrito? Se assim for, a promessa é que o Senhor “salva os contritos de espírito. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (Sl 34:18-19).


Há um espírito no homem” (Jó 32:8), diz Jó. Isso é verdadeiro a respeito de cada um de nós. A questão que desejamos considerar é: 'Que espírito nós manifestamos, e que espírito deveria ser visto no Cristão?' No mesmo versículo Jó acrescenta, “e a inspiração do Todo-Poderoso os faz entendidos” (Jó 32:8). Quão importante é que nos dirijamos à Palavra inspirada de Deus para o entendimento que todos nós precisamos!


Salomão pediu, “A teu servo pois dá um coração entendidoeis que Te dei um coração tão sábio e entendido” (1 Rs 3:7-12), e a ele foi dado por Deus, um coração sábio e entendido. Muito daquela sabedoria e entendimento está registrado na Palavra de Deus. Ele escreve: “Melhor é o longânimo do que o altivo de coração. Não te apresses no teu espírito a irar-te” (Ec 7:8-9). Muitas vezes o Cristão é provado nesses pontos. Que espírito manifestamos?


Outro versículo em Provérbios diz: “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Vemos também o oposto, triste figura, em outro versículo em Provérbios: “Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito” (Pv 25:28). Portanto, quão imensamente importante é, para cada um de nós, termos esse controle sobre nosso próprio espírito. Em 1 Coríntios a Palavra é: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Co 14:32). Um profeta tem controle sobre seu próprio espírito.


Aos Seus próprios discípulos o Senhor diz em Lucas: “Vós não sabeis de que espírito sois” (Lc 9:55). Eles ainda não tinham aprendido o espírito de graça que o Senhor Jesus tinha vindo mostrar a todos: preciosa e maravilhosa; “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Bem no começo de Seu ministério, em Sua própria cidade de Nazaré, a graça brilha intensamente. Ele fica em pé e lê uma porção de Isaías 61, anuncia o evangelho, e então fecha o livro, ficando sem ler os versículos concernentes ao juízo. “E todos Lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da Sua boca” (Lc 4:22). Portanto, assim foi com Jesus ao longo de todo o Seu ministério nos evangelhos. N'Ele temos um perfeito exemplo de um espírito de graça.


Todos os escritores do Novo Testamento (os apóstolos e profetas) aprenderam algo desse espírito de graça, e do livro de Lucas em diante eles escreveram acerca disso para nós.


Ainda aprendemos, sobre o espírito de graça, que: “Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (2 Tm 1:7). Neste miserável mundo, é de suma importância para nós conhecermos e repousarmos neste completo suprimento que temos em Deus, “por Jesus Cristo” (Jo 1:17).


É também algo lindo vermos quando Pedro escreve de um “incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (1 Pe 3:4). Como encorajamento para aqueles em furiosa tribulação Pedro escreve: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (1 Pe 4:14).


O último versículo de Gálatas nos exorta, “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito” (Gl 6:18). Esta mesma exortação é repetida no último versículo de Filemom (Fm 1:25). Quão importante é isto para nós lembrarmos e praticarmos.

C.Buchanan (1917-2012)

 

PERGUNTAS E RESPOSTAS


P.: O que é ensinado, pelas “sete igrejas” (Ap 1:4, 11, 20)?

O que é “a sinagoga de Satanás” (Ap 2:9; Ap 3:9)?


R.: Sete é o número de plenitude espiritual. Os capítulos 2 e 3 de Apocalipse nos dão uma cena completa do estado espiritual, ou condição, da igreja como testemunho do Senhor aqui neste mundo, desde a época em que João escreveu, até o seu final, quando Cristo vier para buscar os que Lhe pertencem. Podemos dizer que as características principais de cada uma delas é:“Éfeso”, declínio; “Esmirna”, perseguição ou sofrimento por Cristo; “Pérgamo”, mundanismo; “Tiatira”, busca do poder secular; “Sardes”, religião formal; “Filadélfia”, reavivamento da verdade acerca da Pessoa de Cristo e Sua vinda; “Laodicéia”, indiferença a reivindicação de Cristo. As quatro últimas seguem juntas até o final. Que o Senhor possa manter nosso coração fiel a Ele.


A sinagoga de Satanás” (Ap 2:9; Ap 3:9), é mencionada nas duas fases da assembleia, nas quais não é encontrada nenhuma falta. É aí que a religião tradicional se opõe à verdade; eles “se dizem judeus” (Ap 3:9) – o povo de Deus – mas “não são” (Ap 3:9). Estes são os que tentam aperfeiçoar a carne e guardar a lei, e reconhecem haver algo de bom no homem, quando a verdade é que “na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:17-18). É interessante compararmos a palavra “judeu” (Rm 2:17), que vem de “Judá” e significa “louvor” (Gn 29:35), com aqueles que “se dizem judeus”, e louvam a si próprios; que são bons aos seus próprios olhos.

Christian Treasury, Volume 7

 

ATÉ EU VIR BUSCÁ-LO OUTRA VEZ


Emprestarei a vocês este filho querido

Por um tempo, – nós O ouvimos dizer –

Para que o amem enquanto tiver vivido,

E o chorem se vier a morrer.


Talvez por dois anos, quatro, ou cinco até,

Ou quem sabe, chegue a vinte e três,

Seja o que for, Meu pedido agora é:

Podem cuidar dele até Eu vir buscá-lo outra vez?”


O seu jeito de ser lhes trarão horas gostosas,

E se sua estadia acaso mui breve for,

Vocês ficarão com lembranças preciosas,

Como um consolo para a vossa intensa dor.


Que ele ficará com vocês, não posso prometer,

Já que tudo, da terra, precisa voltar,

Porém há lições para ele aí aprender,

Que de outro modo nunca iria assimilar.


Eu procurei por todo o mundo, a buscar,

Pessoas aptas que pudessem ensiná-lo,

E das multidões que estão na vida a caminhar,

Achei que só vocês poderiam ajudá-lo.


Será que poderiam dar a ele todo o amor,

Sem pensarem ser trabalho em vão,

E nem se ressentirem contra Mim quando Eu for

Aí buscá-lo, para tê-lo Comigo então?

Creio haver ouvido de vocês a oração:

Amado Senhor, seja feito o Teu querer;

Pelo gozo que este filho possa trazer então,

Correremos o risco de tal dor sofrer.


O cobriremos de amor, terno e permanente;

A ele vestiremos de carinho e bondade;

E a Ti ficaremos gratos agora e eternamente,

pois nos fizeste conhecer felicidade.


E se chegar a hora que o quiseres chamar,

antes até do que havíamos planejado,

A dor que virá, procuraremos enfrentar,

e compreender que isto foi o Teu cuidado.

 

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face: agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13:12)

 

1 N.R.: “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos” (1 Co 3:19-20).

2 N.T.: Não confundir as expressões "Igreja de Deus" e "Assembleia de Deus", que são encontradas na Bíblia, com algumas denominações que adotaram para si mesmas estes nomes. A "Igreja" ou "Assembleia de Deus" que é encontrada na Bíblia inclui todos os salvos, e não apenas alguns membros de um sistema humano. O autor não pertence a nenhuma denominação, e usa estas expressões em seu sentido bíblico.

3 N.R.: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2:20).

4 Jo 12:49 “Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar”. Jo 14:10 “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras”.

5 Ne 2:4 “E o rei me disse: Que me pedes agora? Então orei ao Deus dos céus”, Ne 2:5 “E disse ao rei:Se é do agrado do rei, e se o teu servo é aceito em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a edifique”.

6 N.R.: No sentido de ser “diligente” em suas ações e em seu andar. Ver 2 Tm 4:9, 21 – JND

 

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