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Sangue e Água (Janeiro de 2017)

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ÍNDICE

J. N. Darby

F. B. Hole

The Young Christian

J. A. Trench

W. T. P. Wolston

J. N. Darby

W. J. Prost

P. Wilson

J. N. Darby


 

Sangue e Água


Eles O levaram para fora do arraial, O colocaram para morrer numa cruz e, então, para se assegurarem, o soldado Lhe deu um golpe com sua lança. A salvação foi a resposta de Deus ao insulto do homem, ao pecado em sua rejeição a Ele. O sangue e a água eram os sinais disso.


Na epístola de João lemos: “não só por água, mas por água e por sangue” (1 Jo 5:6). O ponto é que a vida eterna não é encontrada no primeiro Adão, mas no Segundo Homem. As testemunhas disso são a água, o sangue e o Espírito. Você quer se purificar para ter a vida eterna, mas não a encontrará em lugar algum a não ser na morte, e na morte de Cristo em graça; você necessita de expiação e o sangue de Cristo faz isso; você necessita do Espírito Santo.

Cristo não foi apenas morto, mas glorificado, e o Espírito foi dado, o testemunho de que não há vida no primeiro Adão, mas no Filho. Somente pela soberana misericórdia que Seu poder é encontrado naquilo que marca a total ruptura do primeiro homem com Deus e de Deus com ele.


Na epístola, João está mostrando que a limpeza moral não será suficiente. O Espírito é mencionado antes quando Deus aplica a limpeza. A Palavra é o instrumento, mas é pela própria morte. Você precisa ter a limpeza, mas a limpeza vem pela morte. A água que sai do lado é pureza, e você somente pode ter pureza pela morte e somente pela Sua morte.

J. N. Darby (adaptado)

 

Sangue e Água – O Que Eles Significam?


É um fato histórico registrado pelo apóstolo João (Jo 19:34) que um soldado com uma lança perfurou o lado do Cristo morto, “e logo saiu sangue e água”. Por causa da maneira solene que o apóstolo faz uma pausa para atestar esse fato como testemunha ocular (Jo 19:35), podemos naturalmente concluir que ele atribuiu alguma importância muito especial a isto, mesmo que nenhuma outra referência a isso tenha sido feita. No entanto não nos resta suposições, já que em sua primeira epístola ele retorna ao assunto e complementa o registro histórico de seu evangelho com instruções sobre o fato, “Este é Aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue” (1 Jo 5:6). E ainda, em 1 João 5:8 ele fala do Espírito, da água e do sangue como sendo as três testemunhas do Filho de Deus. Assim, vemos que o sangue e a água estão conectados com a morte de Cristo e que, embora estejam conectados, são distintos.


A Culpa e Profanação Moral

Falando em um sentido mais amplo, podemos dizer que eles se conectam com os dois grandes efeitos do pecado, a saber, sua culpa e seu poder contaminador. O sangue coloca diante de nós a morte de Cristo como expiação pelos nossos pecados, cancelando assim a nossa culpa e trazendo a nós o perdão judicial (1 Jo 1:7). “A água indica a mesma morte”, mas aquela “pela qual nosso estado pecaminoso foi tratado em julgamento e chegou a seu fim”, de modo a nos libertar da velha condição e associações de vida em que anteriormente vivíamos. Assim, somos purificados moralmente e o poder do pecado sobre nós é rompido.


A virtude e o poder do sangue de Cristo são colocados diante de nós em Hebreus 9 e 10. Nós encontramos lá que:

  1. O sangue de Cristo expurga, ou purifica, a consciência do pecador das obras mortas para que ele sirva ao Deus vivo (Hb 9:14);

  2. As transgressões são removidas dos santos da antiguidade, que tinham sido acumuladas durante séculos sob a primeira aliança, isto é, a lei (Hb 9:15);

  3. Ele ratificou uma nova aliança, a aliança da graça (Hb 9:15-18);

  4. Removeu os pecados do crente e estabeleceu a base para o aniquilamento do pecado em sua totalidade (Hb 9:22, 26);

  5. Fez isso de maneira tão completa pela fé que, uma vez purificada, a consciência do crente é esclarecida para sempre no que diz respeito à questão judicial de seus pecados (Hb 10:2);

  6. Por isso, dá ousadia para o crente entrar na própria presença de Deus (Hb 10:19);

  7. Santificou (separou) de uma vez por todas o crente para Deus (Hb 10:10, 29).


Acesso a Deus

O grande assunto aqui é o acesso do crente a Deus em virtude do sangue de Cristo. Sua autorização judicial é perfeita por essa única oferta que nunca precisa ser repetida. Por isso, as expressões que caracterizam esses capítulos são “um” e “uma vez”, repetidas sete vezes


Limpeza Judicial e Moral

Mas, embora a purificação judicial pelo sangue seja o grande tema desses capítulos, a necessidade de limpeza moral não é esquecida. Aproximamo-nos de Deus, não apenas “tendo o coração purificado da má consciência” mas também “o corpo lavado com água limpa” (Hb 10:22). Esta é, sem dúvida, uma alusão à consagração de Arão e de seus filhos ao ofício sacerdotal registrado em Êxodo 29. Eles foram lavados com água (Êx 29:4), bem como espargidos com sangue (Êx 29:20). Eles tinham a sombra, nós temos a substância, a morte de Cristo. Na própria natureza das coisas, essa limpeza moral feita pela água precisa ser mantida; a ideia de repetição é, portanto, apropriada aqui. Nós a encontramos se nos referirmos a figura. Arão e seus filhos foram banhados com água da cabeça aos pés em sua consagração, como vimos. Isto não se repetiu, mas uma pia foi providenciada (Êx 30:17-21), e ali os sacerdotes lavavam as mãos e os pés. As instruções eram mais explícitas: “Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram”.


Lavado e Banhado

Quando nos voltamos da figura para o que ela representava na realidade, o mesmo pensamento aparece. No cenáculo em Jerusalém, provavelmente pouco antes de instituir Sua ceia, o Senhor Jesus Se cingiu e, derramando água em uma bacia, começou a lavar os pés de Seus discípulos (Jo 13). A relutância de Pedro nos revela a verdade de que tal lavagem é necessária para que a comunhão com o Senhor em Sua posição celestial seja desfrutada. “Se Eu te não lavar, não tens parte Comigo” (Jo 13: 8). Sua rápida mudança para uma pressa entusiasmada leva o Senhor a dizer: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo” (Jo 13:10).


Aqui, as duas formas de limpeza feitas pela água são apresentadas na Escritura e cuidadosamente distinguidas. De uma vez por todas, fomos “lavados”. A morte de Cristo nos purificou da vida antiga, mas apesar disso precisamos da constante aplicação dessa morte em nossas almas, dia após dia, momento a momento. Não podemos nos aproximar do santuário nem desfrutar da nossa “parte com” Cristo sem essa limpeza. Com esses pensamentos diante de nós, talvez possamos retornar às palavras citadas no começo de 1 João 5 e ver uma maior profundidade de significado nelas.


Por Água e Sangue

Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio por água e sangue. Sua vinda foi caracterizada por estas duas coisas. O Espírito de Deus guarda este ponto de forma especial, dizendo: “não só por água, mas por água e por sangue”. Por que? Talvez uma das razões seja a de que sempre houve uma tendência a ensinar que Cristo veio apenas pela água – para purificar o homem moralmente, apresentando diante dele os mais elevados ideais e vivendo Ele mesmo aqueles ideais como um incentivo para os outros. Prevendo esse erro, o Espírito diz: “não só por água, mas por água e por sangue”. Não apenas pela purificação moral, mas também pela expiação pelo pecado. E é o Espírito que dá testemunho e “o Espírito é a verdade”.


As Três Testemunhas

E assim as três testemunhas, o Espírito, a água e o sangue, permanecem: o Espírito, a Testemunha viva, atuante e que nos fala; a água e o sangue duas testemunhas silenciosas, e todos os três concordam em um. Eles testificam que Aquele que veio assim é o Filho de Deus, a Fonte da vida eterna, e que n’Ele a vida eterna é nossa, os que creem no nome do Filho de Deus.


Mas se o sangue nos purifica de todo pecado, que necessidade há de água? É necessário porque os homens precisam ser limpos do amor ao pecado tanto quanto da condenação do pecado. Há uma grande necessidade da água, pois devemos odiar o pecado como Deus o odeia. Sermos totalmente lavados (assim como os sacerdotes no início) significa que, sendo feitos possuidores de uma nova vida, nós abominamos e abandonamos a vida antiga, visto que a morte de Cristo foi necessária para afastar tudo o que éramos. Sua morte foi a nossa morte. Além disso, neste mundo contaminador, precisamos da limpeza diária da qual a pia nos fala. Será que não há muito em nós pessoalmente que precise ser removido, para não falar das sutis influências deste mundo que frequentemente nos afetam insensivelmente? Todo Cristão com uma consciência sensível certamente concordará que existe.


Lavagem pela Água

Esta lavagem diária feita com água é obtida pela Palavra. A água e a Palavra são claramente conectadas em passagens como “para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5:26). A Palavra de Deus traz para nossa alma a morte de Cristo em seu poder e riqueza de significado espiritual. O pecado em seu verdadeiro horror é revelado, e nossas afeições são limpas dessa forma. Podemos ignorar esse efeito purificador da Palavra de Deus, enquanto desejamos, talvez, um melhor conhecimento textual dela. Que possamos nos aprofundar muito na Palavra de Deus, pois nossas vidas e caminhos serão purificados por meio dela.


É somente quando pecamos que precisamos da água? Nós precisamos dela quando pecamos, mas mesmo longe dos pecados, por estarmos em um mundo de impureza, nós precisamos dela se adoramos, mantemos comunhão, ou servimos a Deus. Em Números 19 encontramos, em figura, a água como purificação do pecado, então, em Êxodo 30:17-21, em figura, temos a água removendo todas as impurezas terrenas para nos aproximarmos de Deus no santuário sem referência aos pecados. No Novo Testamento, João 13 está mais ligado ao último aspecto do que ao primeiro. Como somos dependentes não apenas do sangue, mas da água!


F. B. Hole (adaptado)

 

Limpeza por Sangue e Água


Muitas mentes estão confusas em relação à purificação feita pelo precioso sangue de Cristo, que muitas vezes surge por não ver nem entender o lugar que a água tem na Palavra de Deus.


A Aplicação do Sangue de Cristo Nunca Precisa Ser Repetida

Somos purificados, crendo que de uma vez por todas e para sempre. “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1:7).


O sangue de animais trazido a Deus pelo sumo sacerdote no grande dia da expiação resolvia a questão dos pecados de Israel por um ano. Isto é, eles eram mantidos assim em seu lugar de privilégio como povo de Deus na Terra. O sangue de Cristo purifica a consciência do crente para sempre (Hb 10:1-14).


Dizer, como muitos dizem, que todo novo pecado que o crente comete precisa de uma nova aplicação do sangue de Cristo é perder de vista seu infinito valor e eficácia aos olhos de Deus.


Mas nós lemos que do lado de Jesus fluiu: Sangue e Água.


Por isso, encontramos a Escritura falando tanto de sermos purificados pelo sangue quanto do nosso nascimento da água e do Espírito. Novamente, em Hebreus 10:22: “o corpo lavado com água limpa”.


A Água é uma Figura da Palavra de Deus

E não somente assim há a aplicação da água (ou da Palavra) como também do sangue quando cremos, mas lemos em Efésios 5:26 que Cristo está santificando a Igreja, purificando-a pela lavagem da água, pela Palavra. Por isso, embora estejamos sempre diante de Deus sem acusação, por causa do permanente valor e eficácia do precioso sangue, precisamos, porém, da aplicação repetida da Palavra de Deus às nossas consciências para julgar e afastar tudo o que é mau em nossa caminhada andar diário e procedimento.


The Young Christian

 

Água na Palavra


A água é o símbolo da Palavra de Deus aplicada à alma, em poder, pelo Espírito de Deus. Compare a expressão de João 3:5: “Nascer da água”, com Tiago 1:18: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade”, e com 1 Pedro 1:23: “sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre”. Em Efésios 5:26 encontramos a água definitivamente identificada com a Palavra na expressão: “A lavagem da água, pela Palavra”.


A água purifica; portanto, pelo uso do símbolo, mais nos é transmitido do que se fosse dito simplesmente: “Nascido da Palavra”. Isso inclui o efeito produzido, bem como o instrumento usado por Deus, o começo de todos os Seus caminhos conosco em graça.

Nas figuras, a água tem um lugar tão grande quanto o sangue. Ambos fluíram do lado traspassado do Senhor Jesus na morte (Jo 19:34). Esta é a ordem histórica e nela o sangue vem primeiro, como a base de tudo para a glória de Deus e de nossa bênção. Na ordem de aplicação para nós, como João em sua epístola dá a ela, a água vem primeiro. “Este é Aquele que veio por água e sangue [...] E o Espírito é o que testifica” (1 Jo 5:6). O Espírito aplica a Palavra à consciência, e por essa poderosa operação da graça soberana nascemos de novo. O efeito em nós é a convicção dos pecados e quando a fé repousa sobre o testemunho do Espírito quanto ao valor do sangue de Cristo, que purifica de todo pecado, Ele (o Espírito) pode fazer Sua morada em nós para ser o poder para desfrutar de tudo aquilo a que fomos trazidos pela água e pelo sangue, e assim a posição Cristã é completa.


A Água

Mas fixando nossa atenção na água, é importante ver que há uma dupla aplicação do que ela representa, como em João 13:10: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. Há primeiro, como vimos, o “nascer da água e do Espírito” (Jo 3:5); isso responde à primeira lavagem mencionada aqui e, como é a comunicação de uma nova vida e natureza, não pode ser repetida; pois “no mais tudo está limpo”. Isso não é por qualquer mudança no caráter da carne em nós, pois “O que é nascido da carne é carne”, e não pode haver purificação dela. A Palavra aplicada pelo Espírito à nossa alma traz consigo a sentença de morte sobre tudo o que é da carne. Deus nada poderia fazer com ela, além de aniquilá-la em juízo (Gn 6:13), um julgamento que Ele realizou para a fé na morte de Seu Filho (Rm 8:3). Assim, em Sua morte, a água foi encontrada onde o sangue estava. Por um lado é o fim da carne em total condenação e, por outro, a introdução de uma vida na qual podemos viver para Deus e desfrutá-Lo para sempre.


A Segunda Aplicação

Mas temos que passar com esta vida (natureza) através de um mundo profanador, onde tudo o que encontra os sentidos tende a impedir a comunhão com Aquele que é a nossa vida. Daí a necessidade da segunda aplicação da Palavra, simbolizada pelo serviço comovente do Senhor aos Seus discípulos em João 13. Cingiu-se com a toalha e, derramando água numa bacia, começou a lavar os pés e a enxugá-los com a toalha com a qual estava cingido. Como Jesus disse a Pedro, é assim que podemos ter “parte com Ele” quando Ele se foi, isto é, como tendo partido do mundo para o Pai (v. 1). Nós temos que atravessar o mundo do qual Ele teve que partir e aí reside toda a nossa necessidade. Estamos sujeitos a contrair impurezas a cada passo, ou pelo menos aquilo que traria a distância moral entre nossas almas e Ele. Ele sabe como aplicar a Sua Palavra para trazer de volta a alma ao desfrute de Sua presença, em Seu amor sempre fiel e infalível, para que não haja nem mesmo uma sombra de reserva entre nós e Ele. Aquela primeira ação de Sua Palavra, pela qual estávamos limpos em toda a natureza divina, nunca poderia ser repetida, mas isso é necessário continuamente. Ele também não nos deixa aplicá-la em nós mesmos (“Se Eu te não lavar”), embora Ele possa usar qualquer um de nós que tenha aprendido na escola de Sua graça, neste serviço privilegiado para com os outros (v. 14).


Lavado e Banhado

É importante para ajudar a fazer esta distinção de forma mais clara o fato que o Senhor utiliza duas palavras diferentes no versículo dez de acordo com a utilização correta delas na versão grega do Velho Testamento. “Aquele que está lavado” (ou “banhado”), conforme aplicado na pessoa por completo, é a palavra “louo” usada para falar da lavagem que os sacerdotes faziam no dia da sua consagração (Êx 29:4). “Não necessita de lavar [nipto] senão os pés” é aquela usada para lavar as mãos e os pés na pia da porta do tabernáculo toda vez que entravam no santuário (Êx 30:18, 21). E as palavras nunca são intercambiáveis. Mas, observando isso, devemos lembrar da diferença entre a preparação para a entrada sacerdotal nos lugares santos, como no Velho Testamento, e este maravilhoso serviço do Senhor para conosco, para que possamos ter o constante gozo de Sua presença como tendo partido para o Pai.


Que nosso coração seja mais profundamente afetado pelo amor que não deixaria sequer um ponto de sujeira em nossos pés, e que possamos permitir a ação perscrutadora de Sua Palavra sobre nós, quando for necessário que Ele assim o faça, ao invés de ficar contentes em andar a uma certa distância d’Ele, nos apegando a algo que mantenha essa distância, para Sua desonra e nossa própria perda que é incalculável.


J. A. Trench (adaptado)

 

Nascido da Água e do Espírito


Limpeza Moral

Nosso Senhor toma água em João 13 e lava os pés dos discípulos, dizendo depois disso: “vós estais limpos, mas não todos”. Então em João 15, quando Judas saiu, Ele disse: “Vós já estais limpos” – por meio da água com que Eu lavei vossos pés? Não! “Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado”. A água, na Escritura é usada como uma figura da Palavra de Deus aplicada pelo Espírito. Ela traz os pensamentos de Deus para o homem e julga moralmente tudo o que está nele, com isso purifica seu coração. Mais uma vez, em João 19, do lado do Salvador morto saiu “sangue e água” – o sangue para expiação da culpa e a água para a purificação. A água carrega o sentido de limpeza moral, porque a natureza do homem é vil, enquanto a verdade é que o que é necessário para o homem é uma natureza adequada para com Deus. Portanto, Jesus diz: “Nascer da água e do Espírito”, isto é, deve haver uma nova natureza que é assim caracterizada moralmente – a água – e em sua Fonte – o Espírito. A água purifica aquilo que já existe, enquanto que o que é nascido do Espírito” em sua natureza participa d’Aquele de Quem nasceu. É uma nova natureza transmitida pelo Espírito – uma nova vida que é realmente de Cristo em nós. Moralmente, a alma torna-se “participante da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo” (2 Pe 1:4). Não tenho dúvida, então, que a água, como figura, é a Palavra de Deus, aplicada pelo Espírito Santo à alma. A Palavra traz consigo o sentido e a convicção da minha contaminação e a necessidade de purificação, que, impossível de ser aplicada à carne, só é encontrada no fim, sob o julgamento de Deus, de tudo o que é, na cruz de Cristo (daí a água fluiu, como o sangue, do Seu lado na morte) e pela comunicação de uma nova vida e natureza.


A Lavagem da Água pela Palavra

Voltando agora para Efésios 5:25, lemos distintamente o que a água significa: “Como também Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra”. Novamente, Tiago 1:18 inegavelmente atribui o novo nascimento à Palavra: “Segundo a Sua vontade, ele nos gerou pela Palavra da verdade”. Assim também o apóstolo Pedro: “Purificando a vossa alma na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida, amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração puro; Purificando a vossa alma na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida, amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração puro” (1 Pe 1:22-23). Nada poderia ser mais conclusivo para qualquer mente sujeita à Sagrada Escritura.


O Espírito Santo

Temos, portanto, a Palavra de Deus, como o instrumento do novo nascimento, mas não somente a Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus deve estar junta com o poder vivo e energia do Espírito Santo. Se eu sou nascido de novo, assim sou pela Palavra, mas também pelo Espírito. É a graça soberana de Deus alcançando a alma por Sua própria bendita Palavra e produzindo fé nela, o Espírito Santo para este fim, usando a Palavra do Senhor. O resultado é uma nova vida – uma nova natureza caracterizada pela sua fonte. “O que é nascido do Espírito é espírito”. Eu nasci de novo? Essa é uma questão que toda alma deveria se perguntar. Graças a Deus, sei que nasci de novo, e é por isso que estou tão desejoso de que você seja também, porque é fundamental para que a alma entre em relacionamento com Deus. Sem isso, não existe tal relacionamento, nem a alma é capaz de desfrutar de Deus e do que é d’Ele. Ponha um homem no céu, se fosse possível, sem a natureza assim recebida, e ele desejaria sair de lá o mais rápido que pudesse, porque se sentiria moral e completamente inadequado ao lugar.


A Nova Natureza

O Espírito Santo, então, é o poderoso Agente, e a Palavra de Deus é o instrumento, que sendo recebida como resultado desta ação divina pela fé na alma, há a transmissão desta nova natureza. Para citar novamente as palavras de Pedro, somos “feitos participantes da natureza divina”. A posse dessa nova natureza não traz consigo poder. O poder vem em seu devido lugar pela habitação do Espírito Santo dentro do crente. Mas o ponto aqui é que é transmitida, pela Palavra e pelo Espírito, uma nova vida, uma nova natureza, uma nova existência diante de Deus. “Nascer de Deus” está em outro contexto que João fala sobre isso. Assim, no capítulo 1 do seu evangelho, lemos: “Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no Seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1:12). Então, em sua primeira epístola, lemos: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1 Jo 5:1). Novamente, “todo aquele que é nascido de Deus não peca” (v. 18), e “todo o que é nascido de Deus vence o mundo” (v. 4). Isso eu chamo de a expressão do Novo Testamento, em seu desenvolvimento mais elevado, para essa verdade abençoada – da qual os elementos primários têm estado diante de nós – “nascer de Deus”, que traz consigo o pensamento de relacionamento.

E agora, para encerrar, deixe-me perguntar: Como você está? Você já nasceu da água e do Espírito? Você já recebeu a vida eterna pela fé no Filho de Deus? Se assim for, você seguirá com alegria o ensinamento do Espírito no evangelho de João.


W. T. P. Wolston

 

Rios de Água Viva


“Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que n’Ele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7:38-39).


De forma prática, embora o Espírito Santo seja apresentado aqui como o poder agindo em bênção fora daquele em quem Ele habita, Sua presença no crente é o fruto de uma sede pessoal, da necessidade sentida na alma – necessidade pela qual a alma buscou uma resposta em Cristo. Aquele que tem sede, tem sede em si mesmo. O Espírito Santo em nós, revelando a Cristo, Se torna, por habitar em nós quando cremos, um rio em nós e, assim, para outros.


J. N. Darby, Synopsis, João 7

 

Lavar os Pés


Em outra parte desta edição, falamos sobre o lavar dos pés e como nosso Senhor lavou os pés de Seus discípulos pouco antes de ir para a cruz. Também vimos o significado do Seu ato, que nos foi apresentado como figura, extraído da frase “lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5:26). Nosso próprio Senhor os lavou naquela ocasião, mas então Ele deu aos Seus discípulos a exortação: “Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:15). Temos o privilégio de lavar os pés uns dos outros, seguindo o exemplo do nosso bendito Mestre. No entanto, quantas vezes falhamos nesse importante serviço de lavar os pés uns dos outros, seja fazendo da maneira errada ou, talvez por medo do fracasso, não fazendo de maneira alguma. Eu gostaria de analisar algumas das razões pelas quais fracassamos e apontar na Escritura a maneira correta de lavarmos os pés uns dos outros.


O Lugar Baixo

Primeiro de tudo, descobrimos que o Senhor Jesus “tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-Se” (Jo 13: 4). Há uma profundidade de significado nesta frase. Como alguém observou, o Senhor Jesus, enquanto estava neste mundo, era sempre “O cingido, não O arrumado”. Ele estava aqui para servir, não para ser servido. Assim também nós, se formos lavar os pés de outra pessoa, devemos ser servos, não aqueles que ocupam um lugar alto, esperando honra uns dos outros. Nos dias em que nosso Senhor viveu na Terra, era função do servo lavar os pés dos convidados da casa, e nós também deveríamos estar dispostos a tomar este lugar baixo, se quisermos ser de alguma ajuda uns para os outros.


Ele colocou de lado Suas vestes. As vestimentas na Escritura às vezes falam de nossos direitos neste mundo e de nossas circunstâncias externas que, talvez, nos distinguem. Isso também deve ser deixado de lado, se quisermos nos abaixar para lavar os pés de outra pessoa. Não podemos insistir em um lugar que possa ser nosso em virtude de nossa posição nesta vida; antes, devemos seguir nosso bendito Senhor, que Se humilhou até a morte da cruz. Todo o nosso desejo deve ter em vista a bênção e a restauração à comunhão com aquele cujos pés lavamos; não deve, de forma alguma, estar conectado com o reconhecimento de nós mesmos.


Amor

Em segundo lugar, lemos que o Senhor Jesus, “como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13:1). O amor do Senhor não envolveu apenas a Sua obra na cruz para tirar os nossos pecados, mas também envolve o Seu cuidado por todos nós durante toda a nossa senda. Da mesma forma “Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós” (Jo 13:34). Tendo uma nova vida em Cristo, temos a capacidade de mostrar o amor divino uns aos outros, e esta deve ser a motivação para lavar os pés. Na Igreja de Deus, somos chamados dentre muitas nações, origens raciais, modos de vida, culturas e línguas. Às vezes o amor natural pode não estar presente, mas o amor divino flui em direção ao seu objeto sem pedir nada em retorno. Este é o amor que deve estar operando em nossa alma, se vamos lavar os pés dos outros. E se o amor divino está ali, ele se mostrará de uma forma que será sentido e desfrutado por seu objeto, e isso preparará o caminho para lavar os pés.


Um Relacionamento

Em terceiro lugar, temos que cultivar um relacionamento entre nós, para que possamos ter confiança uns para com os outros. Se nosso principal contato com nossos irmãos é somente quando nos aproximamos deles para lavar os seus pés, poderemos descobrir que eles não apreciam nossos esforços. Eu sugeriria que obtivéssemos um bom padrão e uma ordem apropriada em Romanos 15:14: “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros”. Devemos estar cheios de bondade, e isso deve ser evidente pelo nosso amor prático e bondade para com todos. Não devemos estar apenas com aqueles a quem somos naturalmente atraídos; nosso coração deve ir em direção a todos os santos de Deus. Se nós mesmos estamos caminhando com o Senhor, somos atraídos a outros que também estão buscando agradá-Lo, e não há nada de errado nisso. No entanto, isso pode levar a uma tendência de desconsiderar e ignorar aqueles que, na nossa opinião, não se ajustam ao nosso padrão. Devemos lembrar que nem todos alcançamos a mesma maturidade espiritual ao mesmo tempo e que somos chamados “a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados” (Hb 12:12). Da mesma forma, devemos “auxiliar os enfermos” (At 20:35). Devemos estar prontos para suportar o fardo dos outros e compartilhar o sofrimento de outros. Isso significa que devemos encorajar e promover um relacionamento caloroso com todos os crentes, mesmo que estejamos preocupados com alguns de seus comportamentos. A maioria das pessoas pode perceber rapidamente quem gosta delas e elas respondem a esses. Nós nos apressamos em dizer que isso não significa tolerar o que é desonroso para o Senhor, mas significa que nosso amor vai em direção a todos, embora não possamos amar todos os seus caminhos. Lembremo-nos de que isso foi o que Deus fez por nós, ao nos mostrar Seu amor quando estávamos distantes d’Ele e em pecado.


Conhecimento

Além de sermos cheios de bondade, devemos ser preenchidos com todo o conhecimento. Isso significa, em primeiro lugar, ter um bom entendimento da Palavra de Deus, não apenas procurar lavar os pés de outras pessoas só porque meus próprios pensamentos não coincidem com os dele. Mas eu sugiro que se vá além disso. Precisamos ter um conhecimento da pessoa cujos pés desejamos lavar. Ajuda muito quando conhecemos seu passado, suas dificuldades e toda a sua situação de vida, pois isso temperará e modificará o que dizemos. Quantas vezes o dano foi causado por palavras fortes, talvez justas, mas sem qualquer consideração pela mágoa e talvez pela fragilidade emocional daquele a quem foram ditas! Nosso conhecimento deve incluir alguma compreensão do indivíduo com quem falamos, e isso só acontece quando temos um relacionamento com eles.


Admoestação

Se estamos cheios de bondade e conhecimento, somos capazes de “admoestar uns aos outros” – procurar ajudá-los com algo que está estragando sua comunhão com o Senhor e talvez prejudicando sua utilidade. É claro que, mesmo que mostremos amor e bondade e talvez tenhamos um verdadeiro conhecimento, o indivíduo pode rejeitar nossa lavagem dos seus pés. Mas certamente esta é a abordagem correta e fará uma tremenda diferença.


Finalmente, nós mesmos devemos estar andando em comunhão com o Senhor, para que possamos agir em Seu tempo e em Seu caminho. Este é o ingrediente mais importante de todos e talvez o mais difícil de se ter. Alguns têm o dom de pastor, e isso é de grande ajuda. Mas mesmo se alguém tiver o dom de pastor, o uso apropriado dele é outra coisa. Um irmão uma vez comentou sobre isso desta maneira:


“Eu acredito que um pastor é um dom raro […] Um pastor deve ser como um médico: Ele deve saber a comida certa, o remédio certo, o diagnóstico certo e toda a farmacêutica, e ele deve saber como aplicá-los também. Em certo sentido, é um dom raro e muito precioso”.


Ainda outro comentou de maneira semelhante:


“Parece-nos que um pastor é para a alma o que um médico é para o corpo. Ele deve ser capaz de sentir o pulso espiritual. Ele deve entender a doença e o medicamento. Ele deve ser capaz de dizer qual é o problema e quais remédios aplicar. Ai de mim! Quão poucos mestres adequados existem! Talvez eles sejam tão raros quanto pastores adequados. Uma coisa é tomar o título e outra coisa fazer o trabalho”.


Os Melhores Dons

A Escritura nos diz “procurai com zelo os melhores dons” (1 Co 12:31), e talvez isso possa ser aplicado à lavagem dos pés. Devemos desejar ter o dom de pastorear almas, o que geralmente envolve a lavagem dos pés da maneira correta. Podemos não ter o dom naturalmente, mas podemos cultivar o amor pelas almas e pelo seu bem-estar. Então, a comunhão com o Senhor pode nos dar o tempo e o lugar certos para lavar os pés, mesmo se não formos naturalmente dotados dessa maneira.


Nosso Senhor e Mestre

Em conclusão, devemos reconhecer que nosso bendito Senhor e Mestre lava os pés de Seus santos da melhor maneira possível. Podemos procurar fazê-lo da maneira correta e buscar a mente do Senhor quanto ao tempo certo, mas ainda assim descobrir que os que nos trazem preocupação não nos ouvirão. Ou talvez eles escutem, mas não mudem seus modos. Em tais situações, nosso recurso é a oração, pois Aquele que primeiro lavou os pés de Seus discípulos ainda é Aquele que sempre faz isso da maneira correta. A esse respeito, é digno de nota como o Senhor introduz Seus discípulos no pensamento de lavar os pés uns dos outros. Em João 13:13, Ele lhes disse: “Vós Me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque Eu o sou.” Ele era seu Mestre (ou Professor), pois eles haviam aprendido sobre Ele nesse caráter, e então também aprenderam a chamá-Lo de Senhor. Mas então, quando Ele fala de lavar os pés uns dos outros, Ele gentilmente inverte a ordem: “Ora, se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13:14). Seu amor estaria com eles até o fim, mas logo Ele deveria ser glorificado e tomaria Seu lugar no trono de Seu Pai. Nesta capacidade, Ele deve ser reconhecido como Senhor de todos, e Seu Senhorio deve ditar tudo em suas vidas. Ele não deixaria de ser o Mestre, mas Ele agora era O exaltado. “Deus O fez Senhor e Cristo” (At 2:36). Nesta capacidade, Ele ainda Se comprometeria a lavar os pés de Seus santos, mesmo que os discípulos falhassem nisso.


Era a Sua glória que Ele queria que eles compartilhassem, e sem que seus pés fossem lavados, Ele teve que dizer [a Pedro]: “não tens parte comigo” (Jo 13:8). Se eles quisessem ter parte com Ele como um Cristo ressuscitado e glorificado, seus pés deveriam ser lavados, e eles deveriam reconhecê-Lo antes de tudo como Senhor. Quão bom é antecipar o dia em que nossos pés não serão mais contaminados e onde, por toda a eternidade, desfrutaremos da presença d’Aquele com Quem compartilharemos a glória!


W. J. Prost

 

O que é Regeneração?


A palavra “regeneração” é frequentemente usada quando “nascer de novo” é mencionado, mas um exame cuidadoso do assunto mostrará que este é um uso incorreto da palavra. Elas não são a mesma palavra no grego, da mesma forma que não são a mesma palavra no português.


Novo Nascimento

O novo nascimento é aquele ato soberano do Espírito de Deus produzindo uma nova vida em uma alma que está morta – morta em pecados. É obviamente impossível para uma pessoa morta fazer qualquer coisa; se alguma coisa for feita, deve ser feita por outro. Portanto, lemos em Tiago: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade” (Tg 1:18). Em João 3, é mencionado o nascer da água (a Palavra) e do Espírito; assim também em 1 Pedro 1:23, nos é dito que nascemos de novo pela Palavra de Deus. Então, o novo nascimento é o ato do Espírito de Deus usando a Palavra de Deus para produzir uma vida inteiramente nova.


Regeneração

A regeneração, no entanto, é mencionada apenas duas vezes na Escritura: em Mateus 19:28 e em Tito 3:5. Em nenhum dos casos o novo nascimento é o que está sendo tratado, mas sim uma completa mudança de condição.


Em Mateus, diz: “quando, na regeneração, o Filho do Homem Se assentar no trono da Sua glória”. Podemos perguntar: “Quando isso acontecerá?” Mateus 25:31-32 esclarece: “E, quando o Filho do Homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos, com Ele, então, Se assentará no trono da Sua glória, e todas as nações serão reunidas diante d’Ele”. Esta é claramente uma cena terrenal, pois não haverá nações no céu; é o tempo em que o Filho do Homem estabelecerá Seu trono na Terra – o Milênio.

Assim, vemos que “a regeneração” é o dia glorioso do Filho do Homem na Terra – aqueles dias preditos em todas as profecias do Velho Testamento. Satanás terá sido preso, as forças do mal serão destruídas e “a Terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9). Nossa pobre mente, que está tão acostumada com a condição das coisas neste mundo contaminado pelo pecado e sofrimento, não pode compreender a grande mudança que será introduzida pelo Filho do Homem em Seu dia; essa nova cena é chamada de “regeneração”. Será verdadeiramente uma nova condição para toda a criação.


A Lavagem da Regeneração

Agora vamos examinar o outro lugar onde a palavra “regeneração”é encontrada: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3:5-6).


Primeiro nos é dito que Ele nos salvou, não por causa de nossas obras, mas de acordo com Sua misericórdia, e por meio da lavagem da regeneração. Aquele que é salvo nasceu um pecador e longe de Deus; então aquela natureza má deu seu próprio fruto, mas Deus entrou em cena e trouxe uma mudança completa. Aquele que estava no reino das trevas foi transportado para o reino do Filho do Seu amor. Deus não está satisfeito apenas por ter alguém salvo do inferno; Ele o traz para uma esfera totalmente nova. Ele não nos deixou onde estávamos, nem como éramos. Isso é mais do que “nascer de novo”, que é a comunicação da vida; é toda a nova ordem de coisas para a qual fomos trazidos, mas, é claro, uma nova vida foi necessária para isso.


Batismo

O batismo é o sinal externo desta grande mudança, ou símbolo. Nós fomos batizados na morte de Cristo (Romanos 6), e agora devemos andar em novidade de vida. O batismo é na morte, mas depois há a manifestação da vida – uma nova vida. Devemos temer de que a verdadeira importância do batismo seja frequentemente perdida de vista, pois não é um símbolo sem sentido. Para sermos tirados daquilo em que éramos mantidos, a morte era necessária – a morte de Cristo, também a ressurreição – a ressurreição de Cristo. O batismo Cristão foi instituído para manifestar esta grande verdade; não que o batismo salvou ou salvará alguém, mas ele tem um significado especial para nós que não deve ser menosprezado.

Uma Nova Posição

Em 1 Pedro 3 somos lembrados de que o mundo nos dias de Noé pereceu, mas “oito pessoas, foram salvos, através [não pela] da água” (vs. 20 – ARA). A arca era uma figura daquilo que salva a alma, até mesmo da morte do Senhor Jesus Cristo. Ele suportou toda a tempestade e julgamento, de modo que todos os que se refugiam n’Ele são salvos pela Sua morte e, claro, Sua ressurreição. Então o Espírito de Deus por Pedro continua dizendo que “a qual, figurando o batismo, agora também vos salva”. O batismo é uma figura daquilo que agora salva; é a figura da morte de Cristo. O batismo não salva, mas é o símbolo daquilo que salva, “por meio da ressurreição de Jesus Cristo; O qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus” (v. 21-22).

E onde a arca que salvou aquelas “oito almas” as deixou? Não na velha cena de corrupção e violência, mas em uma Terra limpa. Tudo isso era apenas uma figura, pois a Terra limpa foi logo estragada, mas agora, se alguém está “em Cristo”, ele é uma nova criação onde que todas as coisas são de Deus. Que lugar abençoado para o qual fomos trazidos! Nós somos trazidos não por meio de nossas obras, mas pela morte e ressurreição d’Aquele que está agora no céu. Aqueles que são trazidos a Deus devem ter conformidade moral Consigo mesmo.


Pureza Prática

Em Tito 2:13-14, diz: “Nosso Salvador Cristo Jesus, O qual a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras”. Não diz que Ele Se entregou por nós para nos libertar da sepultura, mas para que pudesse ter um povo que fosse adequado a Si mesmo. Alguém uma vez disse: “Deus nos salvou, purificando-nos; Ele não podia fazer de outra forma. Para ter um relacionamento Consigo mesmo, deve haver pureza prática”.


Isto é a “lavagem da regeneração”. É a limpeza que nos leva a um estado em que tudo é novo, tudo de Deus. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura (criação – TB) é as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17).


Se “a regeneração” é aquele novo estado de bem-aventurança que será introduzido pelo Filho do Homem, o Cristão de hoje já está nesse estado moralmente. Ele não precisa esperar que “a regeneração” seja trazida a uma condição e esfera de conformidade com a mente de Deus.

O Milênio

Há um pensamento um pouco semelhante no que é dito sobre o dia que está chegando. Lemos que o Milênio será o tempo do esplendor do “Sol da justiça” (Ml 4:2); será o dia glorioso da Terra. Agora a Terra está envolta em trevas morais; é noite aqui (embora A noite é passada, e o dia é chegado”), mas o Cristão tem que esperar que o dia chegue? Não, ele já está lá; “nós não somos da noite nem das trevas” (1 Ts 5:5), pois já somos do dia que virá (v. 8). Enquanto vivemos sobre a Terra que é velada pela noite, somos da luz (Ef 5:8) e pertencemos ao dia que logo amanhecerá.


Assim fomos salvos, lavados e já somos da regeneração, até mesmo de uma maneira melhor. Deus nos fez limpos e novos, antes que o dia da regeneração amanheça sobre a Terra. Quão abençoado é o nosso lugar agora! Que possamos entrar mais nisso pela fé, e assim vamos manifestá-lo mais diante do mundo que ainda está deitado nas trevas (Rm 13:12-13).


Renovação do Espírito Santo

Outra coisa que é adicionada em Tito 3:5 é a “renovação do Espírito Santo”. Isto é diferente do que é encontrado no versículo 6: “que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador” – o bendito fato do selo do Espírito Santo. Sim, todo aquele que é salvo também tem o Espírito de Deus habitando nele, mas ainda há mais. Este bendito Hóspede celestial não é apenas o selo do que nós temos e o penhor do que ainda teremos, mas Ele também é a energia e poder de tudo na nova criação. Ele nos mantém pelo Seu poder em tudo aquilo a que fomos trazidos. Não há, e nunca pode haver, nenhuma falta, pois somos mantidos pela força total de Deus – o Espírito Santo – a “renovação do Espírito Santo”. Sua obra é contínua, e lemos: “há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar”, “Ele vos guiará em toda a verdade”, “vos anunciará o que há de vir”, “mesmo Espírito intercede por nós” (Jo 16:13-15; Rm 8:26).

P. Wilson (adaptado)

 

O Testemunho Duplo


Quanto ao testemunho de que a vida eterna está no Filho (não em Adão), em 1 João 5 parece haver um duplo testemunho: a água e o sangue. Esta testemunha fala da morte, a ruptura com tudo o que é do primeiro homem. Não foi até que Cristo morreu que houve purificação, enquanto o Espírito é o testemunho da vida de acordo com a glória do Segundo Adão. A vida está no Filho, mas o Filho, como o Homem na cruz, como vindo no meio da coisa antiga, foi rejeitado e morreu. Ele morreu para expiação e limpeza. Mas o Filho também é um Homem glorificado e, como tal, Cabeça da nova criação em poder.


J. N. Darby (adaptado)


 

A Ti que Derramaste Teu Sangue

10.8.9.8.10.8. - Melbourne; Dismissal (Unto Him Who Loved Us)

(canta-se duas vezes)


A Ti que derramaste Teu sangue - Preciosa mostra de amor - E nos limpaste dos pecados, Nos deste vida, ó Salvador, Seja o domínio, o reino e a glória Sempre e sem cessar, louvor.


 

“Um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”

(Jo 19:34).


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