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ÍNDICE
Tema da Edição
C. M. Mackintosh
J. N. Darby
F. B. Hole
W. J. Prost
N. Simon
N. Simon
W. Kelly
F. M. Beckwith
Tem Deus Falado?
Deus tem falado para nos dar as Santas Escrituras, a perfeita revelação escrita, palavra por palavra, de tudo o que diz respeito à vida e piedade. Por exemplo: “Palavra que, da parte do SENHOR, veio a Jeremias, dizendo: Assim fala o SENHOR, Deus de Israel, dizendo: Escreve num livro todas as palavras que te tenho dito” (Jr 30:1-2). Esta edição tem o foco neste assunto. Deus também tem falado pela criação: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos [...] Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes” (Sl 19:1-3). O mais maravilhoso de tudo é que Deus “a nós falou-nos, nestes últimos dias, na Pessoa do Filho” (Hb 1:1 – JND).
Deus tem falado! Ao considerarmos este assunto, uma questão séria para nós é: Nós temos ouvido? Considere a resposta do rei Josias quando ouviu pela primeira vez a Palavra do Senhor: “Também Safã, o escrivão, fez saber ao rei dizendo: O sacerdote Hilquias me deu um livro. E Safã o leu diante do rei. Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei as palavras do livro da Lei, rasgou as suas vestes. E o rei mandou a Hilquias, o sacerdote [...] Ide e consultai ao SENHOR por mim, e pelo povo, e por todo o Judá, acerca das palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do SENHOR que se acendeu contra nós, porquanto nossos pais não deram ouvidos às palavras deste livro, para fazerem conforme tudo quanto de nós está escrito” (2 Rs 22:10-13). Temos feito tudo o que está escrito no Livro?
A Bíblia: de onde ela veio? Do céu ou dos homens?
“Toda a Escritura é Divinamente Inspirada”
É da maior importância possível que o povo do Senhor seja enraizado, fundamentado e estabelecido na grande verdade da inspiração plena das Santas Escrituras, pois em muitos lugares tornou-se moda derramar o desprezo sobre a ideia da completa [absoluta] inspiração. Os homens presumem julgar a Bíblia como se fosse uma mera composição humana, e eles virtualmente sentam-se como juízes para julgarem o próprio Deus. O resultado presente é, como é de se esperar, total confusão e trevas.
O Livro de Deus
Não há nada como a Escritura. Qualquer escrita humana da mesma data que a Bíblia seria meramente uma curiosa relíquia da antiguidade, algo a ser colocado em um museu. A Bíblia, pelo contrário, é o próprio livro de Deus, Sua perfeita revelação. É um livro para todas as épocas, para todas as classes, para todas as condições, altas e baixas, ricas e pobres, eruditas e ignorantes, velhas e jovens. Em uma palavra, é, como o inspirado apóstolo nos diz, “eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12). Ela lida com precisão e força com os hábitos e costumes de hoje, bem como com os das primeiras eras da existência humana.
Mas então este livro julga o homem – seus caminhos, seu coração. Ela diz a verdade sobre ele. Por isso, o homem não gosta do livro de Deus e, portanto, esta também é a razão do esforço constante para encontrar falhas no bendito livro de Deus. Outros livros são deixados de lado, mas a Bíblia eles não podem suportar, porque os expõe e lhes diz a verdade sobre eles mesmos e sobre o mundo ao qual eles pertencem. E não aconteceu exatamente o mesmo com a Palavra viva – Ele, o Filho de Deus? Os homens O odiavam porque Ele lhes dizia a verdade.
Absolutamente perfeita
O apóstolo inspirado nos diz em 1 Coríntios 2:14 que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Isso é conclusivo. O homem natural não pode conhecer as coisas do Espírito de Deus. Como então ele pode julgar a Palavra de Deus? Certamente ninguém tem qualquer opinião digna de ser considerada sobre um assunto do qual ele é totalmente ignorante. Se Deus nos tem dado uma revelação de Si mesmo, deve ser absolutamente perfeita em todos seus aspectos, e sendo assim, ela está inteiramente além do alcance do julgamento humano. O homem não é mais competente para julgar as Escrituras do que para julgar o próprio Deus. As Escrituras julgam o homem, não o homem às Escrituras. Este fato faz toda diferença.
O Espírito Santo
Mas talvez possamos, aqui, ser surpreendidos pela pergunta que tantas vezes é levantada: “Como podemos saber que o livro que chamamos de Bíblia é a Palavra de Deus?” Nossa resposta a esta pergunta é muito simples: Aquele que nos deu graciosamente o bendito livro pode nos dar também a certeza de que o livro é d’Ele. O mesmo Espírito que inspirou os vários escritores das Santas Escrituras pode nos fazer saber que essas Escrituras são a própria voz de Deus falando conosco. É somente pelo Espírito que qualquer um de nós pode discernir isso. Como já vimos, “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Se o Espírito Santo não nos faz saber e nos dá a certeza de que a Bíblia é a Palavra de Deus, nenhum homem, ou grupo de homens, pode fazer isso, e por outro lado, se Ele nos dá esta bendita certeza, não precisamos do testemunho de homens. Apenas Deus pode dar a certeza de que Ele tem falado em Sua Palavra. O verdadeiro crente descansa na santa tranquilidade daquela revelação sem par que nosso Deus tem graciosamente nos dado.
Infidelidade
A infidelidade se ocupa em nos dizer que Deus não nos deu um livro – e não poderia dar. A superstição se ocupa em nos dizer que, embora Deus nos tenha dado uma revelação, ainda assim não podemos estar seguros dela sem a autoridade de um homem, nem compreendê-la sem a interpretação do homem. E é precisamente isso que o diabo almeja; ele quer roubar a Palavra de Deus de nós. Devemos sustentar que a Escritura, tendo sido dada por Deus é completa, ela fala por si mesma e leva suas credenciais com ela. “Deus tem falado” é nossa para ouvir e prestar uma obediência irrestrita e reverente. O que nós insistimos especialmente a todos os Cristãos é aquela condição de alma, aquela atitude de coração expressa naquelas preciosas palavras do salmista: “Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti” (Sl 119:11). Isso, podemos ter certeza, é precioso ao coração de Deus, “Eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da Minha Palavra” (Is 66:2).
Segurança moral
Aqui está o verdadeiro segredo da segurança moral. Nosso conhecimento da Escritura pode ser muito limitado, mas se nossa reverência por Ela for profunda, seremos preservados de milhares de erros. E então haverá um crescimento constante. Cresceremos no conhecimento de Deus, de Cristo e da Palavra escrita. A Palavra de Deus se tornará cada vez mais preciosa para nossa alma, e seremos guiados pelo ministério poderoso do Espírito Santo até a profundeza, plenitude, majestade e glória moral das Santas Escrituras. Seremos libertos completamente das influências devastadoras de todos os meros sistemas teológicos, porque temos a perfeição divina na Palavra de Deus, no amplo círculo da revelação divina que tem seu centro eterno na bendita Pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
C. H. Mackintosh (adaptado)
Temos uma Revelação Vinda de Deus?
É evidentemente uma questão muito importante: Temos uma revelação vinda de Deus? Eu tenho de Deus uma revelação de Sua mente que é autêntica e autorizada, de tal forma que eu possa saber, vindo d’Ele mesmo, o que Deus é?
Eu não posso confiar no homem, pois sem uma revelação de Deus, o homem está perdido no que degrada a natureza humana. Para ter algo em que eu possa descansar, preciso de duas coisas: Eu devo ter uma revelação de Deus, e também devo tê-la comunicada a mim autenticamente para poder considerá-la. O homem quer um deus, mas o paganismo universal é a testemunha de que os homens não conheceram a Deus, nem o Seu caráter, sem uma revelação. Não consigo encontrar um homem entre eles que não seja degradado, pois ele deifica suas paixões e acrescenta degradação a elas. Mais do que isso, eles não gostaram de retê-Lo em seu conhecimento quando Ele foi revelado a eles.
A Palavra de Deus
E onde está a Palavra de Deus? Onde sempre esteve, como a luz está no Sol. Aqueles que têm olhos caminham, como sempre fizeram, em sua luz plena, clara e dada divinamente. Ela brilha como sempre brilhou, e a entrada da Palavra dá luz e entendimento ao simples. Eles têm uma natureza que pode estimar isso no verdadeiro caráter que Deus lhe deu, o qual os homens instruídos não têm, pois Ele esconde estas coisas dos sábios e prudentes e as revela aos pequeninos. “E serão todos ensinados por Deus” é a declaração do Senhor e do profeta para aqueles que podem ouvir.
Ninguém contesta que as Escrituras do Velho Testamento foram reunidas em sua forma atual um bom tempo antes que o Senhor estivesse na Terra; na verdade, longe disso, porque Cristo reconhece as divisões que agora existem. Josefo nos diz expressamente que não há uma infinidade de livros, mas apenas vinte e dois; eles tinham histórias e escritos feitos depois de Artaxerxes, mas estes não tinham a mesma autoridade, eles não foram atestados pelos profetas. Podemos agradecer a Deus que os livros foram reunidos. Se a história de Rute é conectada com a dos Juízes, ou as Lamentações com Jeremias, isso não tem consequências. Seu lugar na história está claramente acima deles. Para o Cristão, a questão não é de quem escreveu Rute. Ele os recebe como a Palavra de Deus, Deus é o seu Autor. Também é verdade que, ao juntar os livros, alguns comentários curtos provavelmente foram acrescentados, como: “e ficaram ali até ao dia de hoje”, ou outros comentários curtos desse tipo. Isto não afeta de modo algum a revelação. O livro mostra claramente que, como um todo, é inspirado e ordenado em sua estrutura por Deus, e quando tudo isso foi feito para torná-lo um todo, essa ordenação divina da mão e da sabedoria de Deus pode estar nessas notas bem como em outros lugares. A pergunta é: este livro nos é dado por Deus como uma revelação, dada a nós como ela é? O que está nele é revelado por Deus ou são os pensamentos do homem?
Uma consideração sobre os caminhos de Deus
O livro professa ser um relato de todos os caminhos de Deus desde a criação (e até mesmo antes dela, em propósito) até que o Senhor venha, e até o fim dos tempos, até que Deus possa dizer: “Está consumado, Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro”. Além disso, professa nos dar uma revelação do Pai no Filho. Será que este imenso empreendimento é uma revelação de Deus, ou apenas o desenvolvimento de uma vida nacional em uma pequena nação? “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer” (Jo 1:18). Esta é uma revelação de Deus ou não? Isto é, esta é a descrição que tenho de Deus, como Deus tem dado para nós? Se não, não é revelação dada a mim nem a qualquer um outro.
Estas são questões sérias, e o próprio empreendimento prova sua fonte. Se o homem tivesse feito isso, o que deveríamos ter tido? O que temos fora deste livro maravilhoso? A teoria do homem é que é uma impostura, mas se é assim, é a produção mais santa que já apareceu no mundo, levando a todos que têm alguma sensibilidade moral um selo divino sobre ela, que nada mais tem no mundo! Até mesmo Rousseau foi forçado a dizer: “Teria sido um milagre maior para o homem inventar uma vida como a de Cristo, do que a ser”.
J. N. Darby (adaptado)
A Inspiração e a Autoridade da Bíblia
De todos esses grandes itens de verdade escriturística que são fundamentais em seu caráter, o que forma nosso tema atual está em primeiro lugar. Agora que nosso Senhor e Seus apóstolos se foram deste mundo, temos aquelas revelações que nos são transmitidas em escritos, divinamente inspirados e, portanto, de plena autoridade, e formando a base da fé hoje. Portanto, até que a inspiração e a autoridade da Bíblia estejam total e firmemente assentadas em nossa alma, dificilmente vale a pena estabelecer de suas páginas aquelas verdades adicionais que, à primeira vista, podem parecer de caráter ainda mais fundamental.
Antes da criação do homem
No Velho Testamento, três coisas nos impressiona . Primeiro, nos capítulos iniciais, somos informados de coisas completamente fora do alcance da observação de qualquer escritor humano – coisas que não poderiam ser conhecidas à parte de uma revelação divina, uma vez que acontecimentos anteriores à criação do homem são relatados ali. Além disso, essas coisas são declaradas não em termos condizentes com a especulação humana, mas com a silenciosa ressonância e certeza de absoluto conhecimento e, portanto, de verdade.
A história humana
Segundo, em todos os livros históricos encontramos características totalmente desconhecidas de todas as histórias humanas. Podemos especificar tal característica como a ausência completa de todo culto ao herói. Há homens, de fato, aprovados por Deus, mas mesmo assim suas falhas são relatadas, e todas com um elevado desprendimento das paixões e preconceitos humanos, com um julgamento imparcial e sereno que é encontrado apenas no próprio Deus. Ou, mais uma vez, notamos que assuntos que nunca teríamos sequer mencionado são discorridos longamente, como as passagens de Juízes 17, 18:14-26 e 1 Samuel 1:4 a 2:11, enquanto coisas que deveríamos ter pensado que mereceriam muita atenção são ignoradas. Por exemplo, o grande terremoto no reinado de Uzias nunca é mencionado historicamente, e não teríamos o conhecimento de que esta grande catástrofe aconteceu, não fosse por duas alusões passageiras em Amós e Zacarias. Os livros históricos, em suma, são apenas “história”, na medida em que seu relato serve ao propósito de iluminar os propósitos ou os caminhos de Deus.
“Assim diz o Senhor”
Terceiro, nos profetas, não podemos deixar de sentir a retidão de seus apelos. Sem hesitação, sem desculpas, mas o mais direto e enfático “Assim diz o Senhor” repetido várias vezes. A Palavra de Deus veio através de seus lábios e penas, e seu poderoso apelo ao coração e à consciência é perceptível hoje na hostilidade que suas palavras ainda despertam em homens pecadores, assim como no modo de subjugar o coração dos homens tendo em vista a sua bênção final.
Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos endossos claros da inspiração e autoridade do Velho, primeiramente vindos dos lábios do nosso Senhor mesmo, e depois dos evangelistas em suas frequentes referências ao cumprimento da Escritura do Velho Testamento na vida, na morte e ressurreição do Senhor Jesus. “Para que se cumprisse” e “para que a Escritura se cumprisse” são palavras que lemos repetidas vezes. Nas epístolas, também, temos inspiração claramente reivindicada para os escritores do Velho Testamento.
No Novo Testamento, temos o apóstolo Paulo reivindicando inspiração para declarações verbais dele mesmo e dos outros apóstolos ao transmitir as verdades da revelação divina. Além disso, nos versículos introdutórios ao seu evangelho, temos Lucas reivindicando uma “acurada investigação de tudo desde sua origem” (Lc 1:3 – ARA), e também que ele escreveu “em ordem” ou “com método”, de modo que, em resultado, Teófilo poderia ter “plena certeza” das verdades que tinha sido previamente instruído. No Apocalipse, temos o apóstolo João recebendo a revelação, registrando-a e, em resultado, produzindo “as palavras desta profecia” (Ap 1:1-3), e finalmente pronunciando uma maldição solene a quem ousasse adulterar essas “palavras” (Ap 22:18-19). Aqui, novamente, a inspiração verbal é assumida.
Revelação
1 Coríntios 2 é talvez o capítulo mais marcante sobre este assunto, pois aqui nos é permitido ver o processo que Deus Se agradou em ordenar pela comunicação de Seus pensamentos a Seu povo. Aqui estão três etapas distintas e uma ação distinta do Espírito Santo de Deus em conexão com cada uma.
O primeiro passo é o da revelação. As coisas preparadas por Deus para aqueles que O amam, coisas invisíveis, que não foram ouvidas e inimagináveis pelo homem, foram tornadas conhecidas pelo Espírito de Deus, que é completamente competente para tal obra, como mostra o final do versículo 10. O versículo 11 vai além e declara que o Espírito de Deus é a única Fonte possível de tais revelações. Ora, estas revelações dadas pelo Espírito alcançaram, não o mundo, nem mesmo todos os santos, mas os apóstolos e profetas (veja Ef 3:5), que são os “nós” do versículo 10, e tendo as recebido, eles procederam em transmiti-las aos outros. Portanto, o “nós” do verso 13 indica o “nós” do versículo 10.
Inspiração e apropriação
O segundo passo, então, é o da inspiração. Deus cuidou para que os apóstolos e profetas transmitissem essas revelações a outros sob a supervisão de uma forma direta e divina. Eles não foram deixados livres para exercer sua própria sabedoria sobre qual seria a melhor maneira de confirmar a verdade, mas foram guiados pelo Espírito Santo nas palavras exatas que deveriam ser usadas, como ensina o versículo 13.
Em terceiro lugar, vem o passo da apropriação. A verdade tendo sido revelada aos homens escolhidos por Deus, e por eles comunicada por palavras inspiradas, deve agora ser recebida ou apropriada para ter um efeito de iluminar e controlar os homens. Disto fala o verso 14. Nenhum homem natural – isto é, o homem em sua condição natural ou não-convertida – pode receber essas coisas. Ele carece totalmente da capacidade que lhe permitiria recebê-las. As coisas espirituais são discernidas espiritualmente. Os crentes têm “a mente de Cristo” e receberam o Espírito de Deus para que possam “conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”.
A revelação está relacionada com a transferência da verdade da mente de Deus para a mente dos apóstolos e profetas, de modo que eles possam ter a concepção e o entendimento dela.
A inspiração está relacionada com a transferência da mesma verdade das mentes dos apóstolos e profetas para todos os santos, e para isso palavras eram necessárias, não meramente pensamentos. Mas se as palavras humanas são a expressão adequada para a verdade divina, elas devem ser escolhidas e usadas com perfeita adequação e precisão, e isso foi assegurado pela ação do Espírito Santo. “Homens santos de Deus falaram inspirados [movidos – ARA] pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:21).
O Espírito Santo
Às vezes, de fato, essa ação do Espírito Santo tomava uma forma tão poderosa a ponto de superar as limitações necessárias que existiam na mente do profeta em questão, e fez com que ele escrevesse coisas, cujo significado real e completo ele mesmo não conhecia; e então aconteceu que alguns, se não todos os escritores da Escritura do Velho Testamento, tiveram que inquirir e pesquisar diligentemente sobre o significado daquilo que eles próprios haviam escrito. Em resposta à sua busca, foi-lhes revelado ainda que estavam escrevendo para o benefício dos santos do futuro – os santos da presente dispensação. Sendo assim, a importância total de seus escritos inspirados permaneceu vaga e indistinta na própria mente deles. Houve inspiração completa, mas nenhuma revelação completa, exceto para as futuras gerações. 1 Pedro 1:10-12 nos fala sobre isso e prova quão poderosa e real a inspiração é.
O tipo de inspiração mencionado em 1 Pedro 1:10-12 caracterizou, em grande parte, os escritores do Velho Testamento; e como os profetas, que nesses casos eram os veículos das mensagens, não foram instruídos quanto ao pleno significado de suas palavras, pode ser descrito, por falta de um termo melhor, como inspiração ininteligente.
Inspiração inteligente
O tipo de inspiração mencionado em 1 Coríntios 2 é o que caracteriza quase todos os escritos do Novo Testamento, e pode, em contraste, ser denominado por inspiração inteligente. A possível exceção à regra, que nos leva a inserir a palavra “quase” na declaração acima e em itálico, é o caso de algumas partes de Apocalipse. É bem provável que algumas das visões e afirmações dessa notável revelação do futuro fossem obscuras para João assim como são para nós, e que elas somente surgirão claramente, em seu sentido pleno e distinto, para os santos do período da tribulação vindoura. O famoso número seiscentos e sessenta e seis (Ap 13:18) é o exemplo mais nítido do que queremos dizer.
A distinção acima pode ser útil para aqueles que querem estudar esta questão um pouco mais de perto. Nunca deve ser negligenciado, no entanto, que, seja inteligente ou não inteligente, o fato e o grau de inspiração são exatamente os mesmos em ambos os casos. Está escrito não para os preguiçosos, mas para os diligentes na busca da verdade e da direção, como os judeus bereanos (At 17), que liam com fé e dependência de Deus. Só assim iremos “manejar” corretamente (2 Tm 2:15) o seu conteúdo e obteremos luz e sabedoria de Deus.
F. B. Hole (adaptado)
Bíblias de Estudo
Sabemos que a Bíblia, a Palavra de Deus, é dirigida ao homem da parte de Deus com toda autoridade. Como tal, o homem é responsável por reverenciá-la, lê-la, aprendê-la e obedecê-la. Mas porque é a Palavra de Deus, vindo de um Deus infinito, e transmitindo a verdade relacionada a Ele, necessariamente há muito na Palavra de Deus que está além da razão. Paulo nos diz que “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus [...] porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Mas o Espírito de Deus é capaz de aplicar a Palavra de Deus ao nosso coração e consciência, em primeiro lugar para nos fazer sentir a necessidade de um Salvador e, depois de sermos salvos, usá-la para ministrar Cristo à nossa alma.
Entendendo a Palavra
No Velho Testamento, muito do que foi dado não foi claramente entendido, mesmo por aqueles que verdadeiramente tinham nova vida. Isso também era verdade para aqueles que foram inspirados a escrever a Palavra. Quando pediram mais luz, foi dito a eles que o que haviam escrito era para um dia futuro – o dia em que estamos vivendo agora (veja 1 Pe 1:11-12). À luz do Novo Testamento, o Velho Testamento tornou-se mais claro, pois todos os conselhos de Deus estão revelados agora. No entanto, existem profundezas da verdade na Palavra de Deus que não podem ser totalmente sondadas, mesmo no tempo de uma vida inteira. No entanto, neste dia da Sua graça, Deus quer que cresçamos no “conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4:13) e “em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1:9). Para este fim, Ele não somente deu o Espírito de Deus para habitar todo verdadeiro crente, mas também deu à Igreja aqueles com dons verdadeiros, “querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). Fazemos bem em não negligenciar esses dons dados a Igreja, enquanto ao mesmo tempo sentimos nossa responsabilidade de ler e meditar sobre a Palavra de Deus.
Comentários
Uma das maneiras pelas quais podemos fazer uso desses dons é lermos comentários escritos sobre a Palavra de Deus. Enquanto muitos livros foram escritos com esta linha, os crentes também apreciaram as chamadas “Bíblias de estudo”. Estritamente falando, o termo “Bíblia de estudo” pode se referir meramente a uma tradução que facilita o estudo da Bíblia. Mais comumente, no entanto, refere-se a uma Bíblia repleta de anotações e outros recursos que permitem ao leitor estudar o texto. Isto pode ser de ajuda no entendimento das Escrituras, embora, naturalmente, não sejam um substituto para a meditação pessoal. Como já mencionamos, todo verdadeiro crente é habitado pelo Espírito Santo, que está presente para “em toda a verdade” (Jo 16:13).
Bíblias de Estudo
Embora tenha havido uma tremenda proliferação de Bíblias de estudo nos últimos 20 a 25 anos, o conceito não é novo. Desde a reforma, e até mesmo antes, traduções da Bíblia, como as de William Tyndale, desafiaram os ensinamentos da igreja católica romana em suas notas. A Bíblia de Genebra (por volta de 1560) enfatizava os ensinamentos de João Calvino, buscando novamente, na maioria das vezes, refutar a doutrina católica romana. A Bíblia King James (1611) não tinha notas, e foi a tradução aceita por mais de trezentos anos, mas começando cerca de cem anos atrás, mais uma vez as Bíblias de estudo começaram a aparecer. A mais conhecida delas é, provavelmente, a Bíblia de Scofield, com abundantes notas, apoiando uma visão dispensacionalista das Escrituras. Mais ou menos na mesma época, a Bíblia de referência de F. C. Thompson apareceu, que era mais doutrinariamente objetiva. Mas a partir dos anos 1990, ocorreu uma explosão virtual de Bíblias de estudo. Algumas delas estavam ligadas a nomes proeminentes, como John F. MacArthur e Charles Ryrie, enquanto outras estavam ligadas a editoras como Zondervan e Thomas Nelson. Outras ainda foram produzidas tendo certos grupos em mente e para abordar problemas específicos, como a “Bíblia Devocional Feminina da NVI” de Zondervan e a “Bíblia da Recuperação da Vida” de Tyndale. Não precisamos dizer que o número de escolhas pode ser desconcertante.
Questões doutrinárias
Duas coisas são necessárias para uma boa Bíblia de estudo: (1) uma boa tradução literal e (2) notas que enfatizam toda a verdade de Deus. É aqui que a dificuldade começa, pois a maioria das Bíblias de estudo, que remontam à Bíblia de Genebra de Calvino, incorporam o linha espiritual do autor, tanto na tradução quanto nas anotações. As notas da Bíblia de Genebra ensinam a doutrina calvinista e elas têm formulações e interpretações de Apocalipse bastante imperfeitas. Outras Bíblias de estudo apoiam sistemas errôneos como a teologia da aliança ou do pacto (reconstrucionismo) ou práticas carismáticas, e as mais liberais até lançam dúvidas sobre a inspiração plena das Escrituras.
Onde isto nos leva? Deve ficar evidente que é necessário grande cuidado antes de usar uma Bíblia de estudo, pois os erros, uma vez aprendidos, costumam ser difíceis de serem desaprendidos. Por outro lado, algumas dessas Bíblias de estudo ensinam muitas verdades, como, por exemplo, a Bíblia de Genebra, já mencionada. Foi provavelmente a primeira Bíblia em língua inglesa a ser amplamente usada, e foi de valor incalculável, até que a versão King James apareceu mais de cinquenta anos depois. O perigo é que quando uma grande parte da verdade é misturada com uma pequena quantidade de erro, o peso da verdade tende a suportar o erro, e porque o leitor é pego de surpresa, o erro é aceito como verdade. Em um mundo que agora é caracterizado por “todo vento de doutrina” (Ef 4:14), precisamos estar constantemente em guarda e acatar a admoestação de nosso Senhor: “Vede, pois, como ouvis” (Lc 8:18).
Boas traduções
As melhores traduções são aquelas feitas por homens que andaram no temor de Deus e em toda a verdade de Deus. A mera erudição, embora altamente desejável, não é suficiente para garantir uma tradução exata das Escrituras. Da mesma forma, devemos lembrar “que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1:20). Isto é, nenhuma parte da Palavra de Deus pode ser interpretada à parte de sua relação com o todo da Escritura, pois “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3:16 – ARA). A Palavra de Deus está unida como um todo completo; quando interpretada corretamente, tudo está em completa harmonia. Da mesma forma, as melhores notas são aquelas escritas por homens que absorveram e andaram em toda a verdade de Deus, em oposição àqueles que foram associados a erros eclesiásticos. Nunca podemos aprender “todo o conselho de Deus” (At 20:27) daqueles que não andam nele.
Alguns podem argumentar que os tradutores da King James certamente não conheciam nem andavam em toda a verdade de Deus. Isso é verdade, mas muitos deles, especialmente os puritanos, estavam caminhando de acordo com a luz que tinham, e procuravam sinceramente traduzir a Palavra de Deus com precisão. Eles não estavam voluntariamente se afastando da luz que havia sido colocada diante deles, nem estavam tentando introduzir um erro sistematizado.
A abordagem correta
Isso levanta um ponto final. Precisamos de uma Bíblia de estudo? Eu sugeriria que, embora elas possam ser úteis, pode haver uma tendência a confiar em tais notas, em vez de permitir que a Palavra de Deus fale diretamente conosco. Um velho irmão certa vez me deu bons conselhos, o que eu passo adiante. Ele disse: “Leia a pura Palavra de Deus por si só; então medite e forme seus próprios pensamentos sobre o que leu. Depois, recorra a um bom e confiável ministério escrito e leia a passagem relevante. Se ela concorda com seus próprios pensamentos, ou os expande, isso é bom. Se não, ajoelhe-se e peça ao Senhor que lhe mostre o que é certo”. Tendo adotado essa abordagem por muitos anos, posso atestar que ela funciona.
Para o estudante sério da Palavra de Deus, a tradução de J. N. Darby, com suas notas, é incomparável para se obter luz clara quanto ao significado da Escritura. As notas não ensinam doutrina, mas procuram esclarecer o significado do texto. Então, para um comentário, a Sinopse de J. N. Darby dos Livros da Bíblia é novamente inigualável por sua exposição clara e confiável da Palavra. Às vezes, as sentenças podem ser difíceis de entender, mas o tempo gasto na leitura é bem compensador. Além disso, não pode ser lido sem ler e conhecer a Palavra de Deus, pois suas constantes citações da Escritura e referências a ela são feitas como se o leitor já reconhecesse a passagem. Aqueles que não as reconhecem são compelidos a procurá-las, e assim o leitor é constantemente enviado de volta à pura Palavra de Deus, que é “viva e que permanece para sempre” (1 Pe 1:23).
Nós nos apressamos em dizer que este comentário final não pretende desencorajar qualquer uso de Bíblias de estudo, mas meramente salientar que elas não são inteiramente necessárias para entender as Escrituras. Se nos sentimos levados a usar uma Bíblia de estudo, vamos, por um lado, lembrar das possíveis armadilhas e, por outro lado, lembrar que nenhum comentário é um substituto para a pura Palavra de Deus.
W. J. Prost
Traduções para o Inglês Moderno
Ninguém sugeriria que a tradução é uma tarefa fácil. As línguas diferem consideravelmente na estrutura gramatical, vocabulário e expressões idiomáticas. A expressão “perdido na tradução” é frequentemente verdadeira! Já com a Bíblia existem complexidades adicionais. As línguas originais a serem traduzidas são antigas e diferem de suas versões modernas. Além disso, existem essas variações encontradas nos manuscritos originais. Embora na maioria dos casos a escolha de uma tradução deva ser objetiva, há momentos claros em que ela será subjetiva – e de fato deve ser. A crença de alguém (ou a falta dela) afetará a tradução, e quando se trata das Santas Escrituras isso é de grande importância. De fato, tornar a tradução da Bíblia um esforço humano e não espiritual é um erro grave.
Embora um pouco à nossa frente, vamos considerar um exemplo do que temos discutido a partir da Nova Versão Internacional (a NVI). A tradução para Hebreus 1:5 parece ser uma combinação de um desejo excessivamente zeloso de livrar o texto de palavras arcaicas e, na melhor das hipóteses, uma falta de entendimento da eterna filiação de Cristo. O texto em questão é uma citação do Salmo 2 e é traduzido: “Você é meu Filho; hoje eu me tornei seu Pai” (Hb 1:5 – NIV em Inglês). Nem o texto grego nem o hebraico do Salmo 2:7 contém qualquer pensamento de Deus Se tornando um Pai para o Filho. É simplesmente falso e sugere que o Filho não Se tornou Filho, de fato, até o Seu nascimento. Devemos notar, para que não haja confusão, que a segunda parte desse mesmo verso diz: “Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho” (Hb 1:5). À primeira vista, isso pode parecer contradizer o que acaba de ser dito; Mas não contradiz. Aqui fala do cuidado do Pai pelo Filho em Sua Humanidade – Ele seria para Ele um Pai; mais uma vez, não quer dizer que Ele Se tornaria um Pai para Ele. Incidentalmente, a nota de rodapé da NIV que diz gerada que é correta.
Novos manuscritos
Conforme o tempo passou, novos manuscritos foram descobertos e ajustes foram feitos no texto grego. Desejo, por um momento, que voltemos nossa atenção para o trabalho de Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort. A partir de 1853, eles trabalharam durante vinte e oito anos para produzir um Novo Testamento em grego que consistia no chamado Texto Crítico – e foi publicado em 1881. Eles não foram nem os primeiros nem os únicos homens que trabalharam nesse sentido. Enquanto o trabalho de Erasmo [1], e como resultado o Textus Receptus [2], pode ter sido indevidamente influenciado pelos textos bizantinos, o trabalho de Westcott e Hort era fortemente tendencioso em relação aos textos Alexandrinos [3] - especialmente o Codex Vaticanus (comumente identificado pela letra B) e o Codex Sinaiticus (identificado pela letra hebraica aleph, א). Enquanto o primeiro foi realizado pelo Vaticano desde o século XV, o último foi descoberto em 1844, e cativou a muitos, incluindo Westcott e Hort. Embora o Codex Sinaiticus seja a Bíblia completa mais antiga (data de 325 d.C.), a idade por si só não determina a superioridade de um texto. De fato, o Codex Sinaiticus contém inúmeras correções marginais.
Westcott e Hort
Quanto aos próprios Westcott e Hort, há muito a nos preocupar quanto à sua fé Cristã. Em uma carta ao Arcebispo da Cantuária, Westcott escreveu, “ninguém agora, eu suponho, considera como válido que os três primeiros capítulos de Gênesis, por exemplo, nos dá uma história literal — nunca consegui entender como alguém pode lê-los com os olhos abertos e pudesse pensar que eles dariam [...] — ainda assim eles revelam para nós um evangelho” [i].. Westcott via a história da criação como uma poesia e não como sendo literal. Já quanto a aparição do Senhor, Hort vê como sendo uma figura. Ele escreveu a respeito de 1 Pedro 1:7: “Não há nada nem nessa passagem ou em outras sobre o mesmo assunto, além da linguagem figurativa dos Tessalonicenses, que mostra que a revelação que aqui é dita deve ser limitada apenas a uma mera teofania [4] sobrenatural. Pode ser um processo longo e variante, mesmo que terminando em um clímax. Essencialmente, é simplesmente a remoção dos véus que escondem o Senhor invisível, por qualquer meio que eles sejam retirados”. Uma grande quantidade de material está disponível sobre esses homens; no entanto, ao pesquisar algumas das acusações mais comuns contra eles, é preciso reconhecer que, infelizmente, muitas citações são tiradas do contexto. Isso não significa que eu concordo com eles; suas declarações são geralmente envoltas em um intelectualismo que as torna abertas à interpretação e difíceis de serem representadas com precisão em poucas frases. Darby e Kelly, contemporâneos de Westcott e Hort, usaram uma linguagem muito mais moderada em comparação com os ataques violentos que são feitos agora contra eles. Infelizmente, nada é terrivelmente surpreendente quanto às opiniões expressas nas citações acima. É a expressão triste e sem vida do racionalismo e do liberalismo (eles parecem andar de mãos dadas), da qual o apóstolo Paulo advertiu Timóteo: “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 3:5). É com uma nota de cautela, portanto, que observamos que a influência desses dois homens sobre a tradução da Bíblia desde seu tempo tem sido considerável. O texto crítico que eles prepararam formou a base de muitas versões modernas do Novo Testamento. [ii]
De maneira nenhuma eu desejo pintar Westcott e Hort como sendo os únicos responsáveis pelas questionáveis interpretações em nossas traduções modernas. Muitas traduções, incluindo a King James, foram realizadas por um comitê. A Nova Versão Internacional orgulha-se da ampla gama de denominações e nacionalidades envolvidas na tradução: “Anglicana, Assembleias de Deus, Batista, Irmãos, Cristã Reformada, Igreja de Cristo, Evangélica livre, Luterana, Menonita, Metodista, Nazareno, Igreja Presbiteriana, Wesleyana entre outras — contribuiram para salvaguardar a tradução de um viés sectário” [iii]. Em vez de salvaguardar a verdade, essa diversidade tem todo o potencial para comprometer a verdade.
Métodos de tradução
Antes de deixarmos este assunto sobre as traduções modernas, devemos abordar dois métodos alternativos de tradução. Estes são conhecidos pelos nomes eminentes de equivalência dinâmica e equivalência formal. Elas podem ser entendidas de maneira mais simples como traduções sentido-a-sentido e palavra-por-palavra. Claramente, nenhuma tradução legível é literalmente palavra-por-palavra; no entanto, como acreditamos na inspiração das próprias palavras, uma tradução fiel deve ser a mais próxima possível do literal. A King James, Darby, American Standard, Revised Standard e a English Standard são exemplos daquelas que usam diferentes graus da abordagem palavra-por-palavra. No outro extremo do espectro, no entanto, temos aquelas traduções que apenas tentam transmitir o sentido do texto original, isto é, uma tradução sentido-por-sentido. A Nova Versão Internacional e várias outras traduções modernas usam essa metodologia. Depois, há aquelas traduções que vão ainda mais longe; Estas são as versões parafraseadas. À medida que nos movemos da palavra-por-palavra para sentido-a-sentido e depois para parafraseando, a tradução torna-se cada vez mais subjetiva. Em algum momento, deixa de ser Escritura. Na melhor das hipóteses, pode ser visto como um comentário; no pior, uma corrupção da Palavra de Deus. O leitor é encorajado nos termos mais fortes a ficar longe delas.
Legibilidade versus Exatidão
Em uma linha relacionada, melhorar a legibilidade através da modernização do inglês é um objetivo declarado de todas as traduções modernas. É verdade que o inglês da King James pode ser difícil para alguns. O uso de tu, ti, teu [thou, thee, thy and thine, em Inglês] com as suas formas verbais relacionadas, e até mesmo o uso do vós [you, ye, em Inglês] é estranho para muitos leitores modernos. Aliás, essas palavras não foram usadas na versão King James para torná-la mais reverente. Elas foram usadas porque o original hebraico e grego usavam esses pronomes e formas verbais. Thou [Tu] é o pronome de segunda pessoa singular na fala familiar, enquanto You [Vós] é a segunda pessoa do plural. Thou [Tu] corresponde aos franceses tu e os espanhóis tú. As outras formas de thou - thee, thy e thine - seguem o mesmo padrão me, my e mine [meu/minha]. Quando o Senhor Se dirige a Pedro e diz: “When thou art converted, strengthen thy brethren” (Lc 22:32) [“quando te converteres, confirma teus irmãos”] é no singular que Ele está falando. Imediatamente antes disso, porém, o Senhor disse: “eis que Satanás vos pediu” (v. 31) [“Satan hath desired to have you” – KJV); isto é plural; o Senhor estava falando com todos os Seus discípulos e não apenas com Pedro. F. F. Bruce observa que a Versão Padrão Revisada “obscureceu algumas das distinções mais sutis no texto do Novo Testamento que, embora sejam de pouca importância para o leitor geral, têm algum significado para aqueles que estão preocupados com a interpretação mais precisa do texto” [iv]. Sem dúvida, essa não foi uma referência específica ao abandono das formas arcaicas de segunda pessoa do singular; no entanto, a observação permanece verdadeira. Apesar da referência ao leitor geral, não importa quem somos (e talvez mais ainda, quando não temos conhecimento da língua original), temos todos os motivos para nos preocupar com a exatidão do texto.
Embora os pronomes não fossem termos de reverência nos dias do Rei James, eles acabaram se tornando isso. Ao modernizar a linguagem das Escrituras, tornou-se mais familiar em estilo, e pode-se acrescentar que isso nada fez para conter a onda de irreverência tão característica dos dias atuais. “Também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação e vituperam as autoridades” (Jd 8).
A tradução de Darby
É bastante notável que, enquanto a Igreja estabelecida estava trabalhando em uma revisão da King James, encontramos, em silencioso anonimato, John Nelson Darby trabalhando em uma tradução do Novo Testamento. Ela foi publicada pela primeira vez em 1867, com edições revisadas em 1872 e 1884. A Bíblia completa foi publicada postumamente em 1890. Nunca foi a intenção de Darby substituir a King James. Seu desejo era fornecer um recurso ao estudante da Escritura. Em seu prefácio, ele dá sua justificativa para sua tradução. “Eu usei toda a ajuda que pude, mas a tradução, de nenhuma maneira, é emprestada de alguém; é minha própria tradução, mas usei todos os testes para garantir sua exatidão. Creio que a Escritura é a inspirada Palavra de Deus, recebida por meio do Espírito Santo e comunicada em Seu poder, graças a Deus, por meio de homens mortais: o que é divina feito inteiramente humana, como o bendito Senhor a Quem ela revela, embora nunca deixe de ser divina. E este é o seu valor indescritível: completamente e inteiramente divina, “palavras que o Espírito Santo ensina”, mas perfeitamente e divinamente adaptadas ao homem como sendo pelo homem. Meu esforço foi apresentar ao leitor inglês o original o mais próximo possível. Aqueles que fazem uma versão para uso público devem, naturalmente, adaptar seu curso ao público. Tal não foi meu objeto ou pensamento, mas dar ao estudante da Escritura, que não pode ler o original, uma tradução tão próxima quanto possível”[v]. Quanto à Tradução de Darby, F. F. Bruce faz esta observação: “No Novo Testamento, especialmente, ela é baseado em uma sólida avaliação crítica das evidências, e foi consultado pelo grupo que preparou o Novo Testamento Revisto de 1881”[vi].
Testes de fidelidade
Se, como o prefácio da Versão Padrão Revisada [Revised Standard Version] declara, a versão King James do Novo Testamento foi baseada em um texto grego que foi marcado por erros, contendo os erros acumulados de catorze séculos de cópia manuscrita, como poderíamos nós confiar nela? Em primeiro lugar, uma tradução que permaneceu praticamente a única por 300 anos, para a grande bênção do mundo de fala inglesa, fala por si. Em segundo lugar, a tradução King James não coloca em dúvida nenhuma posição doutrinal – nem o nascimento virginal, a divindade de Cristo, Sua morte, a ressurreição – não, nada! Isso não pode ser dito de algumas revisões modernas. O perigo maior, parece-me, é o uso de uma tradução moderna com suas interpretações duvidosas. Parece como se cada comitê dos tempos modernos tivesse tropeçado num caminho ou noutro na tentativa de se chegar ao grego original ou apresentá-lo no inglês moderno. Isso não quer dizer que toda tradução moderna seja por natureza má ou que não ofereçam benefícios ao estudante da Bíblia. No entanto, elas devem ser usadas com sabedoria e com um entendimento quanto à sua origem e caráter. Eu preferiria confiar na tradução de Darby, pois sei onde o tradutor estava sobre questões de doutrina, do que confiar em um comitê formado por evangélicos, anglicanos, católicos, ortodoxos, unitaristas, judeus – crentes e não crentes.
N. Simon – The Holy Scriptures (adaptado)
Livros Apócrifos
A palavra Apócrifo significa literalmente obscuro. É um título usado para descrever livros de origem duvidosa e autoria questionável, os quais, no entanto, foram encontrados em associação com as Escrituras. Encontramos certos livros apócrifos incluídos na Septuaginta; também encontramos vários pergaminhos religiosos de caráter apócrifo entre os Manuscritos do Mar Morto. Essa mistura de textos levou à confusão e abriu a porta para alguns questionarem o cânon das Escrituras. Para a igreja católica romana, a canonicidade de certos livros apócrifos foi explicitamente afirmada pelo Concílio de Trento em 1546 d.C. (um concílio ecumênico católico romano). Há, no entanto, fortes razões pelas quais esses livros foram rejeitados como não sendo a Palavra inspirada de Deus, tanto por Cristãos protestantes quanto por judeus.
Por que eles são rejeitados?
A razão mais negligenciada pela qual esses livros tem sido rejeitados como a Palavra de Deus, é simplesmente porque eles obviamente não são inspirados! Algumas pessoas têm a impressão de que a canonicidade foi decidida por um comitê muitos anos à parte da autoria original. De fato, Heinrich Graetz postulou a hipótese de que o cânon do Velho Testamento foi decidido pelo conselho de Jâmnia por volta de 90 d.C. Essa visão foi desacreditada desde então como uma conjectura sem basamento. Parece que os estudiosos nunca se deram conta de que Deus deu ao homem uma revelação, e que foi recebida como tal pelos fiéis a quem foi dirigida. Francamente, muitos dos chamados livros apócrifos foram rejeitados, porque eram claramente intrusos – eles fingiam ser algo que não eram. No entanto, não quero ser acusado de arrogância; Se os livros apócrifos não foram inspirados, haverá evidências disso.
Os próprios judeus não trataram os livros apócrifos como Escritura. Nem Josefo (um historiador judeu, por volta de 37-100 d.C.) nem Philo (um filósofo judeu alexandrino, por volta de 20 a.C. – 40 d.C.) citaram os apócrifos como inspirados. Mais importante ainda, nenhum dos escritores do Novo Testamento, Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Pedro, Tiago ou Judas citaram esses livros. Judas pode ser usado por alguns como uma exceção, mas vou abordar isso em breve. Os chamados pais da igreja falaram contra os apócrifos – por exemplo, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio. Jerônimo (340 – 420 d.C.), o tradutor da Bíblia Vulgata Latina, rejeitou os Apócrifos como não sendo Escritura. Escrevendo em seu prólogo aos livros de Salomão (Provérbios, Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos), Jerônimo diz: “A igreja lê Judite, Tobias e os livros de Macabeus, mas não os admite entre as Escrituras canônicas, por isso, leia esses dois volumes para a edificação do povo, e não para dar autoridade às doutrinas da igreja”. Martinho Lutero e os outros reformadores rejeitaram os apócrifos, não os considerando canônicos.
O restante das Escrituras
Além de seu silêncio, como o restante das Escrituras julga os apócrifos? O caráter desses livros e as doutrinas que eles defendem divergem da Palavra inspirada de Deus. Como exemplo, a prática católica romana de orar em favor dos mortos é retirada do livro apócrifo de Segundo Macabeus (2 Macabeus 12:44-46) (Lembre-se, a igreja católica romana, no concílio de contra-reforma de Trento, conferiu status canônico completo aos Apócrifos). Verdadeiramente, essas orações são vãs e inúteis. De fato, como escaparemos se nesta vida rejeitarmos a salvação (Hb 2:3)? Não há nenhuma maneira. O Senhor confirma o estado fixo dos mortos no relato do homem rico e Lázaro - “E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá” (Lc 16:26).
A profecia de Enoque
Quanto ao livro de Judas, Judas nos dá uma profecia de Enoque - “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra Ele” (Jd 1:14-15). Entre os Manuscritos do Mar Morto, há vários manuscritos de um texto conhecido como o livro de Enoque; A profecia de Judas é encontrada neles. Curiosamente, este livro não foi incluído pelos tradutores judeus da Septuaginta, e nunca ganhou força entre judeus e Cristãos. Nenhuma cópia foi encontrada na língua hebraica; Todos os pergaminhos de Enoque encontrados em Qumran estão em aramaico. O livro tem cinco seções, a primeira das quais é ocupada com anjos caídos e uma interpretação fantasiosa de Gênesis 6:4. É tido como mitologia grega e não Escritura; a ocupação do homem com temas tão lascivos continua tendo lugar na mídia popular dos dias atuais. O livro de Enoque foi provavelmente escrito depois da epístola de Judas, com o autor usando a profecia dada por Judas para dar legitimidade ao texto. Dada a natureza incomum da vida de Enoque (Gn 5:21-24), naturalmente desperta muito interesse. Que alguém tome a citação de Judas e construa um texto em torno dela não é surpreendente. Tais textos pseudepigráficos (O falso crédito de autoria para dar grande legitimidade aos escritos) não eram incomuns. Independentemente disso, é incongruente acreditar que Judas originou sua citação de tal livro e, como fizeram os primeiros Cristãos, recebemos sua epístola curta como a inspirada Palavra de Deus e rejeitamos o livro de Enoque.
O mérito dos livros apócrifos
Quanto ao mérito dos livros dos apócrifos, Macabeus I e II nos fornecem um relato histórico daquele período de silêncio entre o Velho e o Novo Testamento. No entanto, nós os recebemos como se fossem os escritos de Josefo, Júlio César, Heródoto ou qualquer outro historiador secular. Quanto aos livros restantes, eles são de interesse para quem estuda o período, mas, ao contrário de Jerônimo, não posso recomendá-los, mesmo para edificação, se as próprias Escrituras não fizerem tal recomendação.
Achei interessante que um amigo, que era estudante do ensino médio, um autoproclamado ateu, tinha achado os livros apócrifos os mais agradáveis, quando ele leu a Bíblia. Deveria nos surpreender que estes tivessem a maior ressonância com o homem natural? “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Para completar a história, muitos anos depois eu soube que esse jovem havia sido salvo! Na verdade, nos maravilhamos com a graça de Deus. Isso me lembra do verso: “Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca” (Ap 3:16). Verdadeiramente, a indiferença é muitas vezes um inimigo maior para a alma do que a hostilidade declarada.
N. Simon – The Holy Scriptures (adaptado)
Tradução da Bíblia
A verdade é que não há segurança, mesmo no aprendizado mais preciso e abrangente, sem o ensinamento do Espírito, se o assunto for as Escrituras. Os tradutores Cristãos podem falhar por não conhecerem o idioma, mas o estudioso mundano não deve ter nossa confiança de forma alguma, mesmo tendo perfeitas habilidades linguísticas, por causa da sua falta de qualificações ainda mais profundas. Ele não conhece Deus e Seu Filho, por isso ele não conta com a direção do Espírito Santo no entendimento da Verdade.
W. Kelly
O Livro dos Livros
(Escrito por uma mãe para sua filha)
Neste Livro, minha filha, eu te dou
Comida e bebida e depósito de ouro,
E uma espada que te protegerá,
Prazeres também, para sempre.
Enquanto você viaja no caminho da vida,
Não se apresse, mas pare e beba;
E quando as coisas terrenais te atraírem,
Pense nos tesouros eternos.
Pense n’Ele, que deixou a – glória –
Deixou o lado amoroso de Seu Pai;
Tudo para contar ao seu coração a história
Do Noivo e da Noiva.
E para escancarar o palácio,
Onde Ele espera para te receber;
E o amargo no cálice da vida
Será tomado com gozo por você.
Nele você encontrará a moda
Da túnica imaculada que Ele dá,
Isso cobrirá toda a paixão,
E o pecado que Ele perdoa.
Assim, doce criança, avança com fé,
Confiante, amorosa, satisfeita,
Até que em nome de Jesus você conquiste,
E no amor de Jesus permaneça.
F. M. Beckwith
Quão Bom Escutar Tua Voz!
8.9.10.7. c/ estrib. - Garden
Quão bom escutar Tua voz,
Nosso Salvador carinhoso!
Pois a comunhão com Teu coração,
A nós dá sempre gozo.
Cristo, tens prazer em nos conceder,
Imensa graça sem par,
Pelo Teu amor, ó Salvador,
A nós queres, sim, falar.
Queremos Contigo seguir,
Pois em Ti seremos guardados;
Para Te agradar, e aqui andar
Bem longe do pecado.
Ó Cristo, queremos servir E fazer a Tua vontade, Leva-nos na luz, ó Senhor Jesus, Em paz e santidade.
“Porque a Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes”
(Hb 12:22).
NOTAS DE RODAPÉ
[1] Teólogo do século XV; preparou uma versão grega do Novo Testamento - a base do Textus Receptus.
[2] O texto grego sobre o qual deriva grande parte da tradução King James.
[3] Alexandria, uma cidade egípcia no Mar Mediterrâneo.
[4]A manifestação de Deus para um homem.
[i] F. J. A. Hort, Vida e Cartas de Hort, vol. II, pg. 69
[ii] F. J. A. Hort, A Primeira Epístola de São Pedro
[iii] Nova Versão Internacional, Prefácio
[iv] F. F. Bruce, A Bíblia em Inglês: Uma História das Traduções, p. 193
[v] J. N. Darby, Prefácio revisado para a segunda edição do Novo Testamento
[vi] F. F. Bruce, A Bíblia em Inglês: Uma História das Traduções, p. 132
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