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Alimento Espiritual (Julho de 2008)

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Revista mensal publicada originalmente em julho/2008 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          Christian Truth, 3:327

          J. N. Darby (adaptado)

          J. A. Trench

          Diversas fontes

          E. Dennett (adaptado)

          J. N. Darby (adaptado)

         G. V. Wigram, The Seven Churches

          W. J. Prost

          J. N. Darby

 

Alimento Espiritual

 

“O homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt 8:3).

 

Por que Deus permitiu que os filhos de Israel sofressem fome e depois os alimentou com maná? Ele nos diz o porquê em Deuteronômio 8. Eles precisavam aprender que não podiam viver somente de comida, eles deveriam receber toda palavra que veio da boca de Deus e obedecê-la.

 

O maná era a comida que eles não podiam se prover dela por seus próprios esforços, pois somente Deus poderia fornecer o alimento necessário no deserto. Deus sabia disso e o providenciou quando eles entraram na Terra. Ele os abençoou com riquezas. Eles costumavam esquecer a necessidade de obedecer à palavra de Deus e receber o crédito por serem ricos, dizendo: “A minha força e a fortaleza de meu braço me adquiriram este poder” (Dt 8:17).

 

Não estamos no mesmo perigo? Quando Deus abençoa, é tão fácil tomar para si o crédito disso e esquecer a verdadeira fonte de bênção. Quando isso acontece, a necessidade de viver em dependência e obediência a toda Palavra que a nós vem da parte de Deus é esquecida. O Senhor Jesus não esqueceu. Ele disse: “A Minha comida é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou”. Como resultado, Ele também pôde dizer aos discípulos: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Agora nós também podemos conhecer e nos alimentar dessa comida.

 

Tema da edição

 

Nosso Pão Diário

 

É bom começar todos os dias com Deus e Sua Palavra. Que seus primeiros momentos conscientes sejam ocupados com Sua santa presença e seus primeiros desejos sejam expressados a Ele. Comece no seu percurso diário a partir do trono da graça; à noite, termine-o ali também, no entanto, nunca deixe esse santuário o dia inteiro.

 

Como uma criança, preste atenção ao que vais dizer;

Vá em frente e faça isso enquanto é dia,

 No entanto, nunca abandone Meu doce retiro.  

 

Só estamos seguros quando confiamos n'Ele e andamos à luz de Seu rosto. Procure, pela graça de Deus, ser mantido no lugar de simples dependência d'Ele.

 

Existe uma realidade profunda em comunhão com Deus, por meio de Sua Palavra, pelo poder do Espírito Santo. “Quão doce”, diz o salmista, “são as Tuas Palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca”.

 

Quando nosso apetite espiritual é bom, certamente cresceremos. Precisamos de alimento espiritual assim como do natural todas as manhãs, mas corremos mais risco de esquecer o primeiro do que do segundo. Daí a importância da exortação: “desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado [puro e não misturado], para que, por ele, vades crescendo”. Mostre que você o deseja com vontade, que ele é doce e agradável ao seu paladar, que você é nutrido por ele, que está satisfeito com ele e que você se volta a ele com crescente prazer.

 

Oh! Que TODOS na família de Deus apreciem o seu alimento divino! Oh, se apeguem à Palavra de Deus para tudo o que é passado, presente e futuro. “Os Teus testemunhos tenho eu tomado por herança para sempre”.

 

Que o próprio Senhor esteja ricamente em você, enchendo seu coração com alimento celestial e alegria espiritual, e fazendo você cantar de alegria.

 

 Christian Truth, 3:327

 

Cristo Nosso Alimento 

 

Arão e seus filhos deviam comer o que não era queimado a fogo da oferta de manjares. Cristo é o verdadeiro pão, desceu do céu para dar luz ao mundo, para que pela fé, como sacerdotes e reis, possamos comer dele e não morrermos. Era um alimento santo para Arão e seus filhos, pois quem realmente se alimentou de Cristo senão aqueles que são santificados pelo Espírito Santo, vivem a vida de fé e se alimentam do alimento da fé? E não é Cristo o alimento de nossa alma, santificando-nos também sempre a Deus? Nossa alma não reconhece no manso e humilde Santo, Aquele que nos alimenta, nutre e santifica? Ele brilha como a luz da perfeição humana e da graça divina entre os homens pecadores. Será que nossa alma não pode sentir, pela empatia do espírito de Jesus em nós, o que deve ser oferecido a Deus ao traçar a vida de Jesus em direção a Deus e diante dos homens no mundo? Ele, o Exemplo para nós, apresenta a impressão de um homem que vive para Deus e nos atrai a Ele. E pela atração, nossas afeições não são ocupadas e assimiladas em habitar com deleite no que Jesus foi aqui embaixo? Nós admiramos, somos humilhados e nos conformamos com Ele por meio da graça. Aquele que é a Cabeça e a Fonte desta vida em nós, extrai e desenvolve suas energias e humildade em nós, pois quem poderia ser encontrado em comunhão com Jesus? Humilde, como alguém disse, Ele nos ensinaria a tomar o lugar mais baixo, como Ele mesmo está nele. Bendito Mestre, que pelo menos possamos estar perto e escondidos em Ti.

 

J. N. Darby (adaptado)

 

O Pão de Deus: João 6:43-69

 

Existem três posições nas quais o bendito Senhor é apresentado na parte doutrinal deste capítulo: primeiro, como Aquele que desceu do céu para cumprir a vontade do Pai que O enviou; depois, como dando Sua carne para a vida do mundo; e por último, como ascendendo para onde Ele estava antes. No primeiro, Ele é o pão de Deus – não apenas o pão que Deus dá, mas aquele do qual Ele Se alimenta a Si mesmo. Agora, pela primeira vez, o caminho do homem foi encontrado se abrindo em Cristo em toda a sua perfeição diante do Pai, cujos olhos e coração somente podiam penetrá-lo. Que perfeita dependência, obediência e amor dedicado ao Pai havia ali – uma vida governada apenas pela vontade de Seu Pai em todos os detalhes de palavras e ações, com a recusa absoluta de qualquer outro objeto, exceto a glória de Seu Pai. Não é de se admirar que os céus se abrissem para Ele e a voz do Pai declarasse Seu perfeito deleite n'Ele. Assim, Ele era o pão, ou alimento, do próprio regozijo de Deus. Mas que maravilha saber que esse pão não era para si só: “Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu”. Em Sua infinita graça, o Pai gostaria que outros entrassem em Sua estima pelo Filho a Quem amava. Ele era o pão da vida, e aquele que vem a Ele pela fé nunca terá fome ou sede. Isso nos leva à segunda posição que o Senhor assumiu – que Aquele que era o pão de Deus pode ser o pão da vida para nós.

 

Vida para nós  

Quanto mais perfeição brilhava n’Ele entre os homens, mais o estado de todos os outros homens se revelava em Sua presença. “A luz resplandece nas trevas”, “n’Ele nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos”, e “Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos?” foi a resposta dos Judeus (v. 42) à revelação graciosa de que foi a vontade d'Aquele que O enviou que Ele não perdesse nenhum daqueles que Lhe foram dados, e que todo aquele que visse o Filho e cresse n'Ele tivesse vida eterna e fosse elevado à esfera apropriada daquela vida quando o fim da era atual houver chegado. Essa incompetência moral para entrar em tudo aquilo que O tornava o Selado (v. 27) do deleite do Pai foi a última e conclusiva prova de que não havia nada em nós para Deus e a necessidade absoluta da anterior sentença de Deus sobre o homem, “O fim de toda carne é vindo perante a Minha face”, para que qualquer um possa comer do pão que desceu do céu e não morra, mas viva para sempre, lemos: “o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo” (v. 51), e a condição essencial para termos vida n’Ele é que comamos Sua carne e bebamos Seu sangue (v. 53).

 

Até esse ponto no evangelho, havia a apresentação objetiva da vida n'Ele, mas agora é a questão de nossa entrada subjetiva nela. Isso depende de termos sido levados a se curvar ao julgamento de Deus, não apenas de nossos pecados, mas de tudo o que somos segundo a carne, em Sua morte. Certamente é pela fé, mas ter comido Sua carne e bebido Seu sangue expressa mais do que isso (os verbos no versículo 53 indicam um ato definitivo – algo feito de uma vez por todas). É que nos identificamos solenemente com Ele na morte que Ele sofreu por nós, e que colocou um fim, diante de Deus e pela fé, em tudo aquilo que éramos como filhos de Adão. Nós, como na figura da oferta pelo pecado, impusemos as mãos sobre a cabeça da vítima e reconhecemos a Sua morte como sendo a nossa. É um ponto definitivo para o qual devemos ser trazidos para a história da alma, para nunca mais voltar: A libertação do domínio do pecado é encontrada nisso.

 

Mas comer a Sua carne e beber o Seu sangue não é simplesmente uma coisa do passado – como se já não precisássemos mais disso – pois agora começa a necessidade da alimentação habitual da morte do Filho do Homem, para que possamos possuir a vida eterna em toda a sua realidade como uma vida de comunhão com o Pai e o Filho. À medida que Sua morte está assim diante de nossa alma, somos soltos e de forma prática libertados de tudo aquilo que é da carne em nós do homem e de seu mundo, que o Senhor Jesus teve que levar à morte sob o julgamento de Deus. Como poderíamos, na presença dos infinitos sofrimentos do Getsêmani e da cruz, tolerar qualquer coisa em nós mesmos do que envolvia aqueles sofrimentos por Ele que, em um tal amor tão insondável, Se entregou por nós? Com Sua morte assim aplicada continuamente a nossa alma, nada impedirá o desfrute daquela vida de relacionamento divino e celestial que é “eterna” (v. 54). Mas habitar ou permanecer n'Ele, como a percepção contínua de nosso ser n'Ele, depende também de comermos Sua carne e bebermos Seu sangue, que é verdadeira carne e bebida.

 

E agora o versículo 57 nos leva ao que o versículo 33 nos apresentou: “Quem come a Minha carne”. Já não é mais simplesmente Sua morte, mas Ele mesmo conhecido pessoalmente como alimento e gozo de nossa alma, que é o Pão de Deus. Só poderíamos participar desse maravilhoso pão nos identificando com Ele em Sua morte, mas é Ele mesmo, sobre Quem agora podemos nos alimentar. “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo [ou por causa do] Pai, assim quem de Mim se alimenta, também por [ou por causa de] Mim viverá” (Jo 6:57). Ele viveu somente pelo Pai e por nada mais: O Pai era toda a razão de Sua existência aqui, o Objeto que absorveu toda Sua vida. E assim, quando Ele Se eleva diante de nossa alma em toda a Sua perfeição, cada vez mais entrando em contato com Ele, Ele Se tornará o Objeto que absorve toda a nossa vida: Iremos viver apenas para Ele.

 

Cristo elevado 

No final, o Senhor indica que Ele subiria para o lugar onde estava antes. Que imensa importância para nós tem isso, pois é assim que toda a verdade preciosa se tornou disponível para nós. A luz da glória em que Ele está foi derramada sobre tudo o que Ele foi no caminho humilde e perfeito de Sua humilhação e sobre a cruz em que Deus foi infinitamente glorificado e a história do homem fechada em julgamento, para que nada além de Cristo permaneça diante de nossa alma nesta comunhão bendita de gozo e satisfação divinos.

 

Que cada um de nós saiba cada vez mais o que é comer Sua carne e beber Seu sangue, e se alimentar d'Ele pessoalmente, que é o Pão de Deus.

 

J. A. Trench

 

A Comida do Egito e de Canaã

 

Depois que eles foram redimidos do Egito, os filhos de Israel tiveram que passar pelo deserto em seu caminho à Canaã. Deus providenciou para eles comida do céu que caía sobre o orvalho todas as manhãs – comida que eles chamavam de “maná”. No entanto, eles se cansaram do maná e desejaram o que haviam comido no Egito. Em Números 11, somos informados que os filhos de Israel no deserto cobiçavam seis coisas com as quais haviam se alimentado no Egito – “peixe, pepino, melão, porros, cebola e alho”. Todos esses alimentos foram encontrados na ou sobre a Terra, e tinham duas características – eram relativamente fáceis de obter e eram facilmente contaminados e tornados impróprios para comer.

 

O Cristão hoje pode cair na mesma armadilha, procurando alimentar sua alma com as coisas deste mundo. A comida deste mundo é encontrada em sua mídia e em muitas formas de entretenimento, e é usada por Satanás para atrair os não salvos à sua destruição. Se nos alimentarmos dessas coisas, elas nos roubarão nosso apetite pelo verdadeiro alimento para o crente – Cristo como o pão que desceu do céu (o maná) e Cristo como o Homem que subiu ao céu (o fruto da terra).

 

Alguns anos atrás, um ex-editor deste periódico escreveu essas advertências fiéis sobre a literatura permitida em nossos lares:

 

“Há muito na literatura atual que pode não ser chamada de infidelidade, mas que certamente não tem lugar em nossos lares. Talvez faríamos bem em nos perguntar o que o profeta perguntou ao rei Ezequias: “Que foi que viram em tua casa?” Nosso lar está sobrecarregado com tais literaturas que teríamos pressa para esconder se recebêssemos uma visita, digamos, do apóstolo Paulo ou de algum outro Cristão devotado? Será que nosso apetite pela imperecível Palavra tem sido diminuído ao nos alimentar do porro, da cebola e alho do Egito? Para nós, o Egito é uma figura do mundo. Tinha seu próprio alimento característico, enquanto o Israel redimido se alimentava do maná celestial no deserto e de alimentos naturais da terra de Canaã quando chegaram a essa terra. O maná é uma figura de Cristo que desceu do céu para ser o alimento do Seu povo; o “fruto da terra” de Canaã é uma figura de Cristo em glória celestial. Mesmo a mais inofensiva e inocente literatura mundana pode se tornar uma armadilha real para os Cristãos e causar danos não mensuráveis, nos roubando o pouco tempo que temos para ler a Palavra com meditação silenciosa ou ler um proveitoso ministério escrito.” 

 

“Precisamos tomar cuidado com o que lemos e com o que ouvimos. Os olhos e os ouvidos são avenidas para nossa alma, e o que entra por elas dará o tom a toda a nossa vida e testemunho Cristão. O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: ‘Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá... Medita estas coisas’ (1 Tm 4:13, 15)”.

 

O rádio, a televisão, os vídeos e a Internet são formas mais avançadas de nos servir dos alimentos do Egito à nossa alma e mente. Essas formas de mídia permitem absorver muito em pouco tempo e podem ter uma influência traiçoeira em nossa vida. Elas entorpecem nosso apetite espiritual, pois “a alma farta pisa o favo de mel”. Elas tendem a desenvolver um apetite em nós pela comida do Egito – “mas à alma faminta todo amargo é doce”. Vamos colocar nossa mente “nas coisas que são de cima e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:2-3).

 

A comida de Canaã 

A terra de Canaã bebia água da chuva do céu e produzia sete coisas que eram recolhidas sem necessidade de se inclinar – o trigo, a cevada, a vide, a figueira, a romã, o azeite de oliva e o mel (Dt 8:8). Além disso, este alimento exigia mais esforço para obter. Crescia acima do solo, mas também precisava de mais energia para colher, processar e desfrutar.

 

Depois que os filhos de Israel atravessaram o rio Jordão, eles não precisavam mais do maná. É-nos dito que eles se alimentaram do fruto da terra – uma figura de Cristo ressuscitado (Js 5:11-12). Do mesmo modo, o verdadeiro alimento para o Cristão está nas regiões celestiais. Ao atravessar o deserto, precisamos de Cristo como o maná, mas como povo celestial, nos alimentamos de Cristo como “trigo [fruto – ARA] da terra, do ano antecedente”. Precisamos nos alimentar de todas as glórias e perfeições de Cristo no lugar onde Ele está, pois somos formados daquilo que nos alimentamos. Alimentar-se de Cristo em Seu caminho terrenal de humilhação ganhará nossas afeições, mas alimentar-se de Cristo em Suas glórias mudará nosso caráter. “Mas todos nós, com cara descoberta [sem véu]... contemplando a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18 – JND).

 

Trigo e cevada  

O trigo na Escritura é visto como um grão muito precioso. Já a cevada, tipicamente, ocupa um lugar mais baixo. Lemos: “Ele [o Senhor] o fez [Jacó, Seu povo] chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira... com a gordura [parte interna] da flor do trigo” (Dt 32:13-14). “A gordura” significa a parte mais rica de um animal (e também do óleo ou do vinho). No Salmo 81:16, lemos que Ele “o sustentaria com o trigo mais fino [ou a gordura do trigo – margem da KJV]. Também descobrimos que a colheita do trigo era um momento especial de alegria e relacionado à bênção. “Ornã estava trilhando o trigo” quando Davi veio a ele para construir um altar ao Senhor. “A flor de farinha de trigo” era usada para a oferta de manjares (Êx 29:2), embora a cevada fosse usada em um caso peculiar (Nm 5:15), onde uma classe inferior de oferta de alimentos era trazida.

 

Parece que a cevada na Escritura tem a ver com a responsabilidade do homem estando na família do velho Adão, convertido ou não, enquanto o trigo é em figura usado com relação a Cristo e a responsabilidade como estando n'Ele. Na alimentação dos cinco mil, temos “pães de cevada”; a cena é figura da graça agindo em relação ao homem, que ainda está sob responsabilidade Adâmica. Na alimentação dos quatro mil, temos a figura d’Aquele celestial e divino nos alimentando de acordo com os pensamentos de Deus em nosso novo lugar – em contraste com a fome que vem à Terra. A colheita do trigo seguia a colheita da cevada – existe graça e, em seguida, a abundância da graça.

 

A vinha  

A videira é aquilo que alegra a Deus e ao homem (Jz 9:13). Fala de frutificação. A terra de Canaã era conhecida por possuir uvas grandes e abundantes. Um cacho de uvas foi carregado pelos espias como testemunho da boa terra. Lemos também que Deus tinha uma videira que Ele trouxe do Egito – essa videira era Israel (Sl 80:8-11). Uma videira infrutífera é inútil. O Senhor, então, em João 15 ensina a Seus discípulos que Ele é a Videira verdadeira, portanto, a frutificação só pode ocorrer se estiverem n'Ele.

 

A figueira 

Os figos são conhecidos por sua doçura. As figueiras são abundantes na Palestina e produzem muitos frutos. Os figos eram transformados em bolos, sendo prensados juntos. As árvores dão figos em épocas diferentes, daí a expressão “figos verdes” e “figos temporãos”. A árvore é única no aspecto que produz primeiro os frutos e depois as folhas. Quando o Senhor buscou por frutos e somente achou folhas, Ele amaldiçoou a árvore, pois ela deveria ter tido frutos antes das folhas. A árvore representa Israel como nação (Lc 21:29; 13:6-7; Os 9:10) e fala da profissão. Israel professava ser o povo de Deus mas não davam frutos.

 

A oliveira  

A oliveira representa gordura, com a qual os homens honram a Deus e ao homem (Jz 9:9). Esta era a principal fonte de óleo no Oriente. Israel ocupou o lugar especial de privilégio e testemunho diante de Deus, mas de acordo com Romanos 11, eles foram cortados. Outros ramos foram enxertados, de modo que hoje os gentios ocupam aquele lugar de privilégio e testemunho. Esses ramos participam da raiz e da gordura da oliveira (Rm 11; Jz 9:8-9; Jr 11:16).

 

Romãs  

As romãs são um fruto de caráter celestial (Êx 28:33-34; Ct 6:11; 8:2). Essa fruta não era encontrada no Egito. Podemos considerá-la um símbolo daqueles que são salvos – fruto do céu. Alguns disseram que tem nove seções correspondentes às nove partes do fruto do Espírito (Gl 5:22-23). Sinos e romãs foram colocados alternadamente no manto do sumo sacerdote e pendurados perto do chão. Enquanto o sacerdote caminhava, os sinos tocavam melodia ao tocar as romãs – melodia conectada com frutas ricas. Que contraste isso era com o murmúrio e a queixa frequentemente ouvidos no acampamento de Israel!

 

Mel  

O mel era abundante na Palestina, pois era chamada da “terra que mana leite e mel” (Êx 3:8, 17). O mel é simbólico do que é doce na natureza e deve ser tomado com moderação, para que não cause vômito (Pv 25:16, 27). Era estritamente proibido acrescentar mel às ofertas queimadas ao Senhor (Lv 2:11). As coisas da natureza, embora possam ser doces para nós, não podem ter lugar no que é oferecido a Deus. O Senhor não comeu mel durante Sua vida na Terra, mas participou de um favo de mel quando ressuscitou, para provar Sua ressurreição corporal.

 

Esses sete alimentos de Canaã nos apresentam a imagem do que o Cristão deve se alimentar para o crescimento espiritual.

 

Diversas fontes

 

Este Pão Tão Vil

 

Tem sido notado com frequência que os cânticos de louvores que irromperam do Israel redimido nas margens do Mar Vermelho mal haviam cessado, e eles já haviam começado a murmurar contra Moisés, dizendo: “Que havemos de beber?” Embora tivessem sido escravos sob o jugo de ferro do faraó, não estavam preparados para as dificuldades do deserto e, como consequência, o coração deles se encheu de rebelião e os lábios com murmúrios.

 

Havia três coisas que compunham a amargura da vida diária deles, todas elas são muito instrutivas para nós. Primeiro, não havia “nem pão nem água” (Nm 21:5); segundo, se enfastiaram – se cansaram – do pão que Deus lhes havia providenciado, dizendo: “Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos” (Nm 11:6); terceiro, eles ansiavam pela comida do Egito, “dos peixes... e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos” (Nm 11:5; Êx 16:3).

 

Essas coisas juntas se tornaram tão insuportáveis que, repetidas vezes, eles disseram que prefeririam permanecer no Egito. “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras [exemplos], e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10:11).

 

Uma terra seca e sedenta  

A primeira coisa que os incomodou foi que não encontraram pão nem água no deserto. Como o salmista o expressa, eles descobriram que era “uma terra seca e cansada, onde não há água” (Sl 63:1). Tirados no Egito – figura do mundo natural, do homem em sua condição natural – eles haviam perdido seu alimento habitual. Do mesmo modo, o deserto estava destituído de todas as fontes de onde até então se haviam suprido, bem como daquelas das quais precisavam agora para tirar sua vida e sustento. Eles haviam perdido a vida antiga para sempre (em figura) no Mar Vermelho, a vida que o Egito os alimentava e nutria. Eles agora possuíam uma nova vida, cujas fontes não foram encontradas na cena pela qual estavam passando.

 

É assim com o crente agora. Para a nova vida que ele possui em um Cristo ressuscitado, não há pão nem água no deserto. Antes que ele fosse recebido pela graça de Deus, todas as fontes de sua vida estavam no mundo. Agora o mundo se tornou um deserto para ele, e olhando-o, ele precisa aprender que não pode oferecer nada para estimulá-lo ou revigorar a sua senda de peregrino. Ele não é do mundo, assim como Cristo não era do mundo. Como morto com Cristo e ressuscitado com Ele, como poderia encontrar no mundo a sua comida adequada ou matar sua sede pelas correntes poluídas?

 

Essas verdades são tão familiares quanto as palavras do cotidiano, mas precisamos desafiar nosso coração continuamente quanto à sua aceitação prática. Será que lembramos que, além das necessidades simples de nosso corpo, a cena na qual somos estrangeiros não contém nada para nós – nada para ajudar ou revigorar – mas, por outro lado, tudo calculado para arruinar e amortecer a vida que temos em Cristo Jesus?

 

Nutrição de cima  

É da maior importância, especialmente para os jovens crentes cujos pés acabaram de entrar nas areias do deserto, ter isso continuamente diante da mente, que não há pão ou água para nossa alma no deserto, pois nós pertencemos a outra cena. O próprio Cristo, à direita de Deus, é a nossa vida (Cl 3:3), e é somente a partir daí que podemos obter nosso alimento e força. Todas as nossas fontes estão em Cristo ressuscitado e glorificado. Somente com Ele está a fonte da vida. O crente que anda pelo mundo no poder dessa verdade, esperando nada além de armadilhas e perigos, será mantido em independência dele. Ele terá consciência de uma vida que não tem afinidades com nada a seu redor, e exibirá uma vida alimentada do alto, que, brilhando como uma luz nas trevas morais desta cena, será um testemunho por Cristo, um testemunho de graça e também, infelizmente, do julgamento vindouro.

 

Enfadados do maná  

A segunda coisa que afligiu esses peregrinos foi que eles se cansaram da comida que Deus lhes havia providenciado. Foi em resposta a seus murmúrios (pois ainda estavam sob graça, Sinai não havia sido alcançado) que Ele, em Sua ternura e misericórdia, lhes deu o maná. “E toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Quem dera que nós morrêssemos por mão do SENHOR na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Êx 16:2-3). Tal conduta merecia julgamento, mas o Senhor agiu em graça, e, portanto, disse a Moisés: “Eis que vos farei chover pão dos céus”. Ele fez isso por quarenta anos, até que eles passaram pelo Jordão (Js 5). O maná era o alimento de Israel, alimento adequado para o deserto, e foi disso que eles se cansaram, até que ousaram dizer: “a nossa alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21:5). Ora, o maná é uma figura de Cristo, de um Cristo humilhado, de tudo o que Cristo era em Sua ternura, graça e compaixão ao passar por essa cena. Por isso, fala de tudo que Ele é, sendo adequado para nós nas circunstâncias do deserto enquanto somos estrangeiros e peregrinos. Cristo, nesse caráter, é nosso único alimento (veja João 6), o único alimento que pode nos sustentar e fortalecer – Cristo em todos os aspectos nos quais Ele nos é apresentado como o Maná. Precisamos de tudo o que Ele é tal como é dado, mas não precisamos de nada fora d'Ele – nada além d'Ele. Como Ele mesmo é a nossa vida, somente Ele pode sustentá-la.

 

Como então é possível que o crente se canse de Cristo? Temos duas naturezas, a velha e a nova, e estas se opõem uma à outra. Se não estamos andando no Espírito (veja Gl 5), a carne fará valer os seus desejos, e a carne nunca ama a Cristo; a inclinação da carne, de fato, é inimizade contra Deus (Rm 8). É a carne, portanto, que se cansa de Cristo, que, desejando seu próprio alimento que lhe é adequado, gera em nós uma aversão ao maná celestial. Mas a carne é sutil e, ao agir assim no crente, geralmente gosta de esconder seu verdadeiro caráter. Mas carne é carne, quaisquer que sejam as formas em que é expressa, e assim como Satanás sabe como se transformar em anjo de luz, a carne sabe como assumir as formas mais piedosas. É necessário, portanto, estar em guarda, para que também não caiamos neste pecado grave de desprezar “este pão tão vil”. 

 

Indicadores de estarmos enfadados

 

Sinais dessa tendência geralmente aparecem onde menos esperamos. Por exemplo:  

 

  • Se for preferido um ministério que apela ao intelecto em vez de ao coração e à consciência;  

  • Se for bem-vinda a exposição de princípios interessantes, nos quais até o homem natural pode se deleitar, em vez de uma simples apresentação do próprio Cristo;

  • Se ficarmos inquietos sob a sã doutrina, e segundo nossos próprios desejos, amontoarmos para nós, mestres que têm comichões nos ouvidos;  

  • Se nos voltarmos para livros que tratam de problemas espirituais ou proféticos (embora estes possam ter seu lugar), e não para aqueles que revelam as excelências e as graças de Cristo;  

  • Se buscarmos comunhão com aqueles que podem nos divertir naturalmente ou socialmente, em vez daqueles com quem poderíamos ter comunhão espiritual, aqueles com quem somente Cristo seria o vínculo;    

  • Se estivermos perdendo nosso apetite pela Escritura e, pode-se acrescentar, se estamos perdendo o senso de nosso caráter de peregrino e gradualmente nos estabelecendo no prazer das coisas ao redor.


Então há motivos para temer que estamos ficando enfadados deste “pão tão vil”.

 

Vamos então nos perguntar com ousadia se estamos satisfeitos com Cristo, satisfeitos ao máximo n'Ele como sendo nossa comida diária. Façamos a nós mesmos essa pergunta em nossos lares, em nossa vida cotidiana e social, em nossos momentos de lazer, quando ouvimos o ministério, quando reunidos na assembleia dos santos. Uma coisa é cantar: “Jesus, de Ti, nunca nos cansaremos”, e outra é conhecer esta verdade de maneira prática. Que o Senhor nos guarde do grave pecado de perder nosso apetite por Ele.

 

As panelas de carne do Egito  

Combinado com isso, no caso dos israelitas, havia um intenso desejo pelas coisas do Egito. Quantas vezes eles se lembraram com saudade das panelas de carne, dos peixes, dos alho-porros, dos melões e dos pepinos do Egito? As duas coisas sempre andam juntas. Perder o apetite por Cristo às vezes é a consequência da indulgência e, às vezes, a causa do desejo das gratificações egípcias. Mas vamos perguntar claramente o que isso significa. Desejar a comida do Egito, então, é a mesma coisa para o crente do que buscar as mesmas gratificações, diversões e fontes de gozo que o homem do mundo busca. O homem natural tem aquele alimento no qual se esforça para encontrar sua vida, assim como o Cristão tem o seu. Se o crente dá as costas para Cristo em direção daquilo em que o mundo se alimenta, ele está exatamente no mesmo caso que os israelitas. Assim, se o Cristão olha com desejo de coração para as diversões e gozos sociais do mundo; se ele se deleita com os assuntos que orgulham o mundo – pintura, escultura, arquitetura, grandeza nacional; em seus líderes, na ciência, filosofia, literatura e arte; se ele está se interessando por política e conflitos partidários; se ele alimenta sua mente com os livros do mundo; se ele corteja a sociedade mundana, as modas, distinções, luxos e maneiras do mundo; se ele cultiva os hábitos e maneiras do mundo; se, em resumo, ele está se voltando para qualquer uma das fontes da Terra, qualquer uma de suas fontes de prazer, orgulho ou exaltação, ele está, de fato, desejando as panelas de carne do Egito.

 

O que temos, então, a dizer sobre essas coisas? Será que estamos nessa situação? Não há espetáculo mais triste do que o apresentado por alguns que sabiam o que era se alimentar de Cristo e encontrar tudo n'Ele, mas que agora estão voltando às mesmas coisas que alegremente recusaram por Sua causa. Eles correram bem, mas foram impedidos pela concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Tudo o que não é Cristo e de Cristo é o Egito e do Egito. Precisamos, portanto, ser tão atraídos, possuídos e absorvidos por Cristo, a ponto de ter todo desejo satisfeito somente n'Ele. Este é o antídoto eficaz para todo fascínio e ilusão que o Egito possa apresentar.

 

E. Dennett (adaptado)

 

O Pote de Ouro do Maná

 

O maná significa que o Filho de Deus Se encarnou para dar vida à nossa alma. Ele, entrando em humilhação em todas as nossas circunstâncias, é a provisão para a caminhada diária pelo deserto. Encontramos o maná mencionado em relação a Jesus como o pão vivo enviado do céu. Este é o verdadeiro pão que desce do céu (João 6). Mas o que é então o maná oculto? O maná para Israel estava espalhado pelo arraial, e eles deveriam recolhê-lo diariamente para ser seu alimento. E assim também Cristo deve ser a provisão diária para a alma enquanto estiver neste mundo de deserto, porém este não é o maná oculto. Deveria haver um pote de ouro de maná diante de Deus, e quando os israelitas entrassem na terra, eles teriam o memorial do que haviam desfrutado no deserto. Este maná oculto é a lembrança de um Cristo sofredor aqui embaixo – a memória do que Cristo tem sido no deserto, como Homem, Homem humilhado e sofredor, e Alguém que é o eterno deleite de Deus no céu. Em nosso estado eterno, aqueles que venceram, aqueles que foram fiéis em separação do mundo com Cristo, terão o eterno regozijo de ter comunhão com Deus em Seu deleite em um Cristo que uma vez foi humilhado – o mesmo tipo de deleite, embora em uma medida diferente.

 

J. N. Darby (adaptado)

 

O Maná Oculto

 

Em Gênesis, vemos um paraíso para o homem; em Apocalipse 2:7, temos um paraíso para Deus. No paraíso do homem, havia certas coisas – plantas, árvores, frutas – coisas nas quais o coração do homem podia encontrar refrigério e uma árvore em particular no meio do jardim, a árvore da vida. No meio do jardim de prazeres de Deus haverá também uma árvore da vida, e essa será a Árvore da Vida. Não podemos duvidar Quem é: o bendito Senhor Jesus. Deus poderá dizer daquele jardim: Aqui Eu tenho tudo o que desejo; aqui Eu posso me mover livremente. O Éden não era um lugar para Me satisfazer, mas aqui tenho tudo para Me deleitar. Eu enchi a Terra e não há nada que não Me fale a Mim do que é o Meu próprio regozijo. Tudo ao redor é uma resposta perfeita para o Meu coração – pobres pecadores, salvos pela graça, enchendo o céu! É o paraíso de Deus; nenhuma mão exceto a d'Ele interferiu ali.

 

Agora, entende-se bem que, quando se chega ao jardim do deleite de Deus, embora seja muito abençoado olhar em volta para os santos que refletem a glória, ainda haverá Alguém que Se destacará visivelmente entre todos – o bendito Senhor Jesus, a Árvore da Vida no meio.

 

É algo além de ser participante da vida eterna. Israel comeu do maná, mas não do “maná oculto”. Deus Se deleitava em alimentar Seu povo, peregrinos no deserto, mas essa demonstração de Seu amor era passageira – uma que não era necessária na Terra. Mas havia uma porção que não era passageira, uma parte estimada, não para Israel nem para os sacerdotes; foi uma lembrança para Deus! Se Israel se regozijava no maná, Deus Se deleita n'Aquele que era o maná. Seu prazer em Cristo cessou quando Israel não precisava mais do maná? Não; Ele Se regozijava em ter o memorial disso preparado para Si mesmo. Aqui o maná é necessário dia após dia; Eu o colho e me alimento dele. Mas quão pouco meu coração entra na preciosidade dele, no que fará lá! Para aqueles que vencerem, haverá o poder de provar o deleite de Deus em Cristo como a Árvore da Vida no meio do paraíso de Deus. Cristo, Aquele que pode dar novamente vida aos pobres pecadores, é o Ornamento no meio daquele jardim das delícias de Deus; Ele o adorna.

  

G. V. Wigram, The Seven Churches

 

A Escassez Mundial de Alimentos

 

A produção de alimentos e, mais importante, a distribuição de alimentos têm sido motivo de preocupação neste mundo há milhares de anos. Quando a queda do homem trouxe o pecado a este mundo, Deus lhe disse: “maldita é a terra (solo) por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida” (Gn 3:17). Além disso, Deus disse a Adão: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão” (v. 19). Mais tarde, quando Caim matou seu irmão Abel, Deus pronunciou uma maldição adicional, dizendo-lhe que “quando lavrares a terra (o solo), não te dará mais a sua força” (Gn 4:12). Por essas razões, o homem tem tido que trabalhar duro para comer. Acrescente a essa maldição sobre a terra, as flutuações do clima, e temos uma combinação que causou escassez e, às vezes, fome em várias partes do mundo.

 

Conhecemos bem a verdade das palavras: “até o rei se serve do campo” (Ec 5:9), e que todos os homens são dependentes de Deus, que nos dá “chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração” (At 14:17). Embora possamos viver em um mundo industrial e tecnológico, em última análise, dependemos da terra para nossa necessidade básica de comida. Sabemos também que, de tempos em tempos, Deus usou a escassez de alimentos e a fome para falar com este mundo e recordar ao homem sua responsabilidade em relação a Ele. Ao longo dos séculos, este mundo viu muitas carências alimentares, intercaladas com tempos de abundância.

 

Alterações nos anos recentes  

Nos últimos cem anos, a agricultura mudou tremendamente neste mundo, especialmente nos países ocidentais onde a mecanização foi, talvez, a mais aparente. Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, a produção mundial de alimentos ultrapassou em muito o crescimento da população. Esses excedentes continuaram até os anos 80, com os agricultores tendo de suportar preços muito baixos porque a produção era muito alta. Como resultado, os alimentos eram muito baratos em muitos países, e especialmente na América do Norte, onde os excedentes da maioria dos produtos alimentares eram dados como garantidos. Na última década, tudo isso mudou. O suprimento global de grãos de cereais está em uma baixa de 40 anos e, com o consumo cada vez mais alto, o suprimento mundial de alimentos está sob pressões desconhecidas desde a Segunda Guerra Mundial. No momento da redação deste artigo, os estoques de cereais no mundo permanecem em menos de 60 dias, o que significa que se toda a produção de grãos parasse agora e o mundo continuasse seu consumo atual, todos os cereais estariam esgotados em menos de dois meses (Em 1987, esse número era de 128 dias). Alguns argumentam que essa é uma situação temporária que se resolverá por si só pelas forças do mercado dentro de um prazo razoável, mas a maioria dos especialistas concorda que o problema estará conosco pelo menos por vários anos, e provavelmente está aqui para ficar. Ele já está conosco há alguns anos e não mostra sinais de melhora.

 

As nações da África foram talvez as mais atingidas; porém, recentemente outras nações como o México e o Brasil também sofreram escassez. Os países do Oriente Médio e até a Europa Ocidental tiveram um aumento drástico nos preços dos alimentos. O tsunami que atingiu o sudoeste da Ásia há vários anos cobrou seu preço e afetou a produção de alimentos naquela parte do mundo. A China, um país que agora vive em prosperidade e começa a querer mais carne em sua dieta, sofreu severas secas, causando queda na produção de alimentos. Até a Índia, tradicionalmente um país exportador de alimentos, tornou-se um importador. Em países como os EUA e o Canadá, onde não há escassez imediata, os custos com alimentos aumentaram, exigindo que os consumidores gastassem consideravelmente mais para comer da mesma maneira que antes.

 

Quais são as causas?  

Podemos perguntar o que causou tudo isso, mas não há uma resposta simples. Pelo contrário, uma combinação de forças, algumas delas fora do controle do homem, se uniram para realizá-lo. Provavelmente, os fatores mais significativos foram as mudanças climáticas e o preço do petróleo. Em muitas áreas, secas ou inundações diminuíram drasticamente a produção, principalmente em locais onde a irrigação não é acessível. Junto com isso, em alguns países, principalmente nos EUA, 2025% da safra de cereais foi desviada para a produção de etanol, resultando em menor quantidade para alimentos e, é claro, em um preço mais alto.

 

Outros fatores também afetaram a produção de alimentos. O uso mundial de água aumentou seis vezes entre 1990 e 2005, uma vez que a maior parte foi para uso agrícola. Por esse motivo e outros, houve escassez de água em muitas partes do mundo e os lençóis freáticos estão caindo drasticamente em alguns países. Além disso, a população mundial está aumentando em 80 milhões a cada ano, e ainda mais importante, os pobres do mundo estão aumentando mais rapidamente. Segundo Josette Sheeran, chefe do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, existem 854 milhões de pessoas com fome no mundo e mais 4 milhões se juntam a eles todos os anos. Ela continuou dizendo que estamos enfrentando os suprimentos mais apertados de alimentos da história recente e que, para muitos dos pobres do mundo, os alimentos estão simplesmente sendo precificados fora de seu alcance.

 

Os tristes resultados de tudo isso já estão sendo sentidos. Em alguns países, as pessoas começaram a boicotar alimentos que consideram muito caros, enquanto em outras nações essa agitação social se transformou em violência. Houve distúrbios alimentares em vários países da África Ocidental, principalmente na Mauritânia, Senegal e Níger. Várias pessoas foram mortas e outras presas durante os recentes protestos e distúrbios alimentares no Oriente Médio, na Jordânia e no Iêmen. Um autor afirmou: “Precisamos aumentar a produção de alimentos em cerca de 1520% ao ano nos próximos três anos, ou podemos enfrentar violência nas sociedades mais pobres do mundo. Esta é uma questão crucial para os líderes mundiais”.

 

O lugar do Cristão  

Qual devem ser a visão e reação do Cristão a tudo isso? Por um lado, podemos descansar na promessa de Deus, dada a Noé e sua família e, finalmente, também a nós, que “Enquanto a Terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão” (Gn 8:22). Embora essa promessa, por si só, não garanta um suprimento abundante de alimentos, ela nos diz que Deus cuidará da necessidade de um suprimento de alimentos neste mundo, pois Ele sabe quanto tempo esse mundo tem que durar, a fim de cumprir Seus propósitos. Ele criou este mundo, e não apenas colocou o homem nele, mas também colocou nele os recursos necessários para o homem viver. Ele dará o necessário para o homem, embora possa muito bem usar a escassez de alimentos para falar com ele. Isso nos leva a outra consideração na Escritura.

 

Profecias de escassez  

Embora não desejemos fazer previsões imprudentes, podemos considerar se tudo isso é o precursor do que lemos em Apocalipse 6:5-6: “E olhei, e eis um cavalo preto; e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança na mão. E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um dinheiro; e três medidas de cevada por um dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho”. Aqui é evidente que, em um momento futuro, haverá uma grave escassez de alimentos e os preços cobrados pelo trigo e cevada refletirão essa escassez. Se lembrarmos que um denário era o salário diário de um homem quando o Novo Testamento foi escrito, vemos que os alimentos básicos se tornarão muito caros. Sem dúvida, os eventos mencionados nesses versículos ocorrem depois que a Igreja for chamada para casa, quando Deus tiver começado a trabalhar por julgamentos providenciais. Naquele momento, Ele derrubará gradualmente toda a prosperidade e tecnologia do homem, acabando por reduzi-lo na grande tribulação a métodos primitivos de agricultura e sobrevivência. Contudo, podemos muito bem ver o início de tudo isso antes de sermos chamados para casa, pois Deus “prepara o palco” para os eventos que ocorrerão depois.

 

Também é perceptível que, pelo menos inicialmente, os pobres sentirão o aperto de preços muito mais altos, enquanto os ricos deste mundo serão capazes de manter seu padrão de vida. Isso é confirmado pela frase: “não danifiques o azeite e o vinho”. Azeite e vinho sugerem uma dieta mais refinada e luxuosa, em oposição aos alimentos básicos de trigo e cevada. Vemos esse padrão hoje, enquanto os pobres do mundo tentam lidar com aumentos de preços de até 50%, enquanto nações mais ricas conseguem manter seu estilo de vida, pelo menos por enquanto. Contudo, sabemos que, à medida que o tempo passa, durante o período da tribulação, todos sentirão a mão de Deus, pois “há de vir sobre todo o mundo” (Ap 3:10).

 

A vinda do Senhor  

Para aqueles que conhecem o Senhor, podemos nos regozijar, sabendo que “a vinda do Senhor se aproxima” (Tg 5:8). Além disso, podemos buscar a graça do Senhor para usar todas as oportunidades que nos possam ser dadas para aliviar o sofrimento neste mundo e ajudar os necessitados. Não podemos endireitar a confusão em que este mundo está, mas podemos usar os recursos que Deus nos deu para ajudar, enquanto, ao mesmo tempo, alertamos os pecadores do iminente julgamento de Deus. Também podemos ter coragem, sabendo que Deus está usando tudo isso para promover Seus propósitos. Como resultado de Seus julgamentos sobre o homem, nosso bendito Salvador terá Seu lugar de direito neste mundo. “Havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Quando Ele reinar em justiça, a maldição da terra será retirada, e as colheitas serão tão abundantes que “o que lavra alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas, ao que lança a semente” (Am 9:13). Como parte da Igreja, desfrutaremos das bênçãos celestiais, mas será maravilhoso ver o nosso bendito Salvador sendo justificado onde Ele foi rejeitado, enquanto, por sua vez, Ele traz bênçãos sem paralelo para este mundo.

 

W. J. Prost

 

A Árvore da Vida

 

Em breve provaremos a doçura sem fim

Da Árvore da Vida acima;

Saborear a sua eterna adequação

Para a terra celestial que amamos.

 

Em conselhos eternos fundado,

Perfeitos agora em fruto divino;

Quando a última e abençoada trombeta soar,

Fruto de Deus para sempre meu!

 

Mas, alma minha, não provaste

Dessa Árvore da Vida acima?

Enquanto por terras desertas te apressaste,

Nunca estiveste perto das uvas de Escol?

 

Como uma tenra muda, crescendo

De uma terra seca e pedregosa,

Objeto do desprezo orgulhoso do homem,

Cresceu a Planta da mão direita de Deus.

 

Sim! Essa Árvore da Vida está plantada;

O fruto mais doce mesmo aqui já deu;

Transplantada para o seu próprio rico solo,

Espera sozinha a manhã eterna.

 

Frutos que nossa própria alma provou

Pelo Espírito vindo do alto,

Enquanto apressados atravessávamos terras desertas,

Frutos do amor perfeito e sem fim!

 

J. N. Darby

 

 “O homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem”

Deuteronômio 8:3

 

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