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Todo o Conselho de Deus (Dezembro de 2008)

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Revista mensal publicada originalmente em dezembro/2008 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          J. N. Darby, trechos adaptados de Synopsis on Ephesians 

          T. B. Baines (adaptado)

          G. H. Hayhoe

          J. G. Bellett (adaptado)

          D. C. Buchanan

          J. W. H. Nichols, abreviado

         F. G. Patterson (adaptado)

          J. N. Darby, Synopsis on Ephesians (adaptado)

          G. V. Wigram, Hinário Little Flock – Hino 10

 

Os Conselhos Ocultos de Deus

 

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu primeiro a Ele, para que Lhe seja recompensado? Porque d’Ele, e por Ele, e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém” (Rm 11:33-36).

 

Toda inteligência criada tem motivos para se admirar com seu Criador, que, segundo Seus conselhos soberanos, escolheu exibir Sua glória em Seu Filho, o Homem Cristo Jesus.

 

Que criatura poderia dar um bom conselho a Deus sobre qualquer coisa? Deus é ilimitado em Sua sabedoria e conhecimento. A criatura sabe uma pequena quantidade. O que uma criatura pode dar a Deus que tornaria Deus obrigado a satisfazer à criatura? Nada!

 

Deus é supremo e soberano em todos os Seus planos e propósitos. Ele não precisa de ajuda, e ninguém é capaz de dar nenhuma. Tudo o que Ele propõe fazer acontecerá. Em nada Ele pode falhar. Tudo deve fluir d’Ele mesmo, de acordo com Sua própria natureza, de luz e amor, e tudo deve ser “d'Ele” e “por Ele” e “para Ele”.

 

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 1:3).

 

Tema da edição

 

Os Conselhos de Deus

 

A Epístola aos Efésios nos dá a mais rica exposição das bênçãos dos santos individualmente e da Igreja, mostrando ao mesmo tempo os conselhos de Deus com relação à glória de Cristo. O próprio Cristo é visto como Aquele que deve manter todas as coisas unidas em Sua mão, como Cabeça da Igreja. A Igreja é colocada no relacionamento mais íntimo com Ele, uma vez que aqueles que a compõem estão com o próprio Pai. A posição celestial é concedida à Igreja pela graça soberana de Deus. Ora, esses caminhos de graça para a Igreja revelam o próprio Deus, e em dois caracteres distintos: Ele é o Deus de Cristo, quando Cristo é visto como Homem; Ele é o Pai de Cristo, quando Cristo é visto como o Filho de Seu amor. No primeiro caráter, a natureza de Deus é revelada; no segundo, vemos o íntimo relacionamento que desfrutamos com Aquele que carrega esse caráter de Pai. É esse relacionamento com o Pai, bem como aquele em que estamos perante Cristo como Seu corpo e Sua noiva, que é a fonte de bênção para a Igreja de Deus.

 

O segredo do lugar da Igreja nos conselhos 

O segredo de todas as bênçãos da Igreja é que ela é abençoada com o próprio Jesus e, portanto assim como Ele, visto como Homem, ela é aceita diante de Deus, pois a Igreja é Seu corpo e desfruta n'Ele e por Ele tudo o que Seu pai concedeu a Ele. Cristo mantém dois relacionamentos com Deus, Seu Pai. Ele é um Homem perfeito diante de Seu Deus, e é um Filho com Seu Pai. Devemos compartilhar esses dois relacionamentos.

 

Os dois relacionamentos entre o homem e Deus são os relacionamentos nos quais o próprio Cristo Se mantém. Ele subiu aos céus, para o Seu Deus e nosso Deus, para o Seu Pai e nosso Pai. Compartilhamos todas as bênçãos que fluem desses dois relacionamentos. Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais; não falta nenhuma. Mas isso flui do coração do próprio Deus, de um pensamento fora das circunstâncias em que Ele nos encontra no tempo. Antes de o mundo existir, esse era o nosso lugar em Seu coração. Ele propôs nos dar um lugar em Cristo. Ele nos escolheu n'Ele. Paulo começa em Efésios inteiramente com Deus, Seus pensamentos e Seus conselhos, não com o que o homem é.

 

Um objeto suficiente para os conselhos de Deus 

Que bênção, que fonte de gozo, que graça, é ser os objetos do favor de Deus, segundo o Seu soberano amor! Tome nota especial aqui da maneira como o Espírito Santo mantém continuamente diante de nossos olhos que tudo está em Cristo; nos lugares celestiais em Cristo; Ele nos elegeu n'Ele; para a adoção por Jesus Cristo; fazendo-nos agradáveis no Amado. Ele é o deleite completo e adequado de Deus. O coração de Deus encontra n'Ele um Objeto suficiente sobre O qual pode se derramar completamente, para com o qual todo o Seu amor infinito pode ser exercido. É para com Ele mesmo e diante d'Ele para gratificar a Si mesmo, para satisfazer o Seu amor.

 

No que Deus pode Se deleitar 

Deus poderia encontrar Seu deleite moral somente em Si mesmo e naquilo que se assemelha moralmente a Ele. Esse é um princípio universal. Deus não pode suportar aquilo que se opõe à Sua santidade, pois, na atividade de Sua natureza, Ele deve cercar-se daquilo que Ele ama e no qual tem Seu deleite. Cristo é isso em Si mesmo. Ele é pessoalmente a imagem do Deus invisível. Amor, santidade e perfeição irrepreensível em todos os Seus caminhos estão unidos n'Ele. E Deus nos escolheu n'Ele. Ele nos traz à Sua presença. O amor de Deus deve fazer isso para se satisfazer. O amor que está em nós também deve ser encontrado nessa posição para ter seu objeto perfeito. É somente ali que a felicidade perfeita pode ser encontrada. Sendo assim, é necessário que sejamos como Deus. Ele não poderia nos trazer, da forma como éramos, para a Sua presença, a fim de Se deleitar em nós. Ele, portanto, nos escolheu em Cristo, para que sejamos santos, irrepreensíveis diante d'Ele em amor. Assim, Deus Se deleita em nós, e nós, possuindo uma natureza como a Sua no que diz respeito às Suas qualidades morais, somos capazes de apreciar Sua natureza de forma plena e sem impedimentos, e de desfrutá-la em sua perfeição n'Ele.

 

Os conselhos de amor 

Deus nosso Pai, em Sua bondade soberana, segundo Seus conselhos de amor, escolhe nos ter perto de Si mesmo. O Pai escolhe nos manter em um íntimo relacionamento Consigo mesmo como filhos. Somos filhos para Ele mesmo por Jesus Cristo, segundo o bom prazer de Sua vontade. Se Cristo é a imagem do Deus invisível, nós carregamos essa imagem, sendo escolhidos n'Ele. Se Cristo é Filho, entramos nesse relacionamento. Esses são nossos relacionamentos, tão preciosos, tão maravilhosos, com Deus nosso Pai em Cristo. Estes são os conselhos de Deus. Toda a plenitude dessa graça se revela em Seus caminhos para conosco – os pensamentos originais, por assim dizer, de Deus. Esses conselhos não têm outra fonte além d'Ele mesmo, nos quais e pelos quais Ele Se revela e pelo cumprimento dos quais Ele glorifica a Si mesmo.

 

Se é em Cristo que vemos nossa posição de acordo com os conselhos de Deus, é n'Ele também que encontramos a redenção que nos coloca ali. Nós temos redenção por meio do Seu sangue, a remissão dos nossos pecados. Aqueles a quem Ele abençoaria eram pobres e miseráveis pelo pecado. Ele agiu para com eles segundo as riquezas de Sua graça. O Espírito traz nessa passagem os conselhos eternos de Deus com relação aos santos em Cristo, antes de entrar no assunto do estado do qual Ele os tirou quando os encontrou na condição de pecadores aqui embaixo. Em Seus conselhos, Ele Se revelou a Si mesmo; Ele é glorioso em graça. Em Sua obra, Ele pensa em nossa miséria, em nossos desejos, segundo as riquezas de Sua graça; temos parte nos conselhos, como sendo seu objeto em nossa pobreza, em nossa necessidade. Ele é rico em graça.

 

Deus revela Seus conselhos a respeito de Seu Filho 

Deus, tendo nos colocado nessa intimidade, nos revela Seus pensamentos a respeito da glória do próprio Cristo. Por essa mesma graça nos tornou depositários do propósito estabelecido de Seus conselhos, com respeito à glória universal de Cristo, para a administração da plenitude dos tempos. Esse é um imenso favor concedido a nós. Somos interessados na glória de Cristo como também somos abençoados n'Ele. Nossa proximidade com Deus e nossa perfeição diante d'Ele nos permitem estar interessados nos conselhos de Deus quanto à glória estabelecida de Seu Filho. E isso leva à herança. Deus, nosso Pai, nos concedeu desfrutar de todas as bênçãos nos lugares celestiais, mas Ele uniria todas as coisas no céu e na Terra sob Cristo como Cabeça, e nosso relacionamento com tudo o que é colocado sob Ele, assim como nosso relacionamento com Deus Seu Pai dependem da nossa posição em Cristo; é n'Ele que temos nossa herança.

 

Conselhos para o tempo e conselhos para a eternidade 

O bom prazer de Deus era unir sob a mão de Cristo tudo o que está criado. Esse é o Seu propósito para a administração dos tempos em que o resultado de todos os Seus caminhos será manifestado. Em Cristo herdamos nossa parte, herdeiros de Deus, coerdeiros de Cristo. Aqui o Espírito coloca diante de nós a posição, em virtude da qual a herança nos foi concedida, e não a herança em si mesma. Será um grande espetáculo, como resultado dos caminhos de Deus, ver todas as coisas unidas em perfeita paz e união sob a autoridade do Homem, do Segundo Adão, o Filho de Deus, e estamos nós mesmos associados a Ele na mesma glória com Ele próprio, Seus companheiros na glória celestial, como objetos dos conselhos eternos de Deus. O estado eterno, em que Deus é tudo em todos, é outra coisa. A administração da plenitude dos tempos é o resultado dos caminhos de Deus em governo; o estado eterno é o resultado da perfeição de Sua natureza. Nós, mesmo no governo, somos introduzidos como filhos, de acordo com Sua natureza. Privilégio maravilhoso!

 

A herança? Ainda não 

Em relação à herança, o Espírito Santo é apenas o Penhor. Ainda não possuímos nada da herança. Então seremos para o louvor de Sua glória. A glória de Sua graça já está revelada. Assim, temos aqui a graça que ordenou a posição dos filhos de Deus; os conselhos de Deus no que diz respeito à glória de Cristo como Cabeça sobre tudo; a parte que temos n'Ele como Herdeiro; e o dom do Espírito Santo aos crentes, como o penhor e selo (até que sejam colocados em possessão com Cristo) da herança que Ele conquistou.

 

A herança do universo inteiro 

A herança de todo o universo, quando for preenchida com glória, pertence a Ele, mas Ele a herda nos santos. São as riquezas da glória de Sua herança nos santos. Ele encherá todas as coisas com Sua glória, e é nos santos que Ele as herdará. Pelo chamado de Deus, somos chamados a desfrutar da bem-aventurança de Sua presença, junto a Ele, para desfrutar o que está acima de nós. A herança de Deus se aplica àquilo que está abaixo de nós, às coisas criadas, as quais são todas sujeitadas a Cristo, com Quem e em Quem desfrutamos a luz da presença de Deus junto a Ele.

 

Cristo e os membros ressuscitados dentre os mortos 

Cristo ressuscitado dentre os mortos está assentado à direita de Deus, muito acima de todo poder e autoridade, e acima de todo nome que é nomeado entre as hierarquias pelas quais Deus administra o governo do mundo que agora é ou entre aquelas do mundo que está por vir. Deus O estabeleceu como Cabeça sobre todas as coisas, unindo a Igreja a Ele como Seu corpo, e ressuscitando os membros de sua morte em pecados pelo mesmo poder que O ressuscitou e exaltou a Cabeça. Assim, a Igreja, Seu corpo, é Sua plenitude. Ele enche o universo com Sua glória, mas a Cabeça não está isolada, deixada, por assim dizer, incompleta dessa forma, sem seu corpo. É o corpo que a completa nessa glória. Cristo é a Cabeça do corpo sobre todas as coisas. Ele enche tudo em todos, e a Igreja é a Sua plenitude. Podemos observar que é quando Cristo, havendo realizado a redenção, foi exaltado à destra de Deus, que Ele toma o lugar em que pode ser a Cabeça do corpo.

 

Riquezas insondáveis 

As riquezas de Cristo eram insondáveis. Ninguém poderia rastrear até o fim o cumprimento dos conselhos de Deus e a revelação de sua natureza. Ambos são as riquezas incompreensíveis de um Cristo em Quem Deus Se revela e em Quem todos os pensamentos de Deus são realizados e manifestados. Esses propósitos de Deus em relação a Cristo, a Cabeça de Seu corpo, a Igreja, são agora dados a conhecer e estão sendo cumpridos. Deus, que criou todas as coisas, teve esse pensamento, esse propósito antes da criação, a fim de que, quando Ele submetesse toda a criação a Seu Filho, que o Filho tivesse companheiros em Sua glória, que fossem como Ele mesmo, membros de Seu corpo espiritual, vivendo de Sua vida.

 

Aquele que criou todas as coisas, como a esfera do desenvolvimento de Sua glória, manteve esse segredo em Sua própria posse, a fim de que a administração do Mistério, agora revelado pelo estabelecimento da Igreja na Terra, fosse, em seu tempo, o meio de dar a conhecer aos mais elevados dos seres criados, a multiforme e variada sabedoria de Deus. Eles viram a criação surgir e expandir diante de seus olhos; eles haviam visto o governo de Deus, Sua providência, Seu julgamento, Sua intervenção em benevolência na Terra em Cristo. Aqui estava um tipo de sabedoria totalmente nova, algo fora do mundo, até então guardada na mente de Deus, escondida n’Ele próprio. Era uma nova criação, uma manifestação distinta da sabedoria de Deus, uma parte de Seus pensamentos que até então estava reservada no segredo de Seus conselhos, cuja real administração foi dada a conhecer na Terra no tempo pela obra do apóstolo, na sabedoria de Deus, de acordo com Seu propósito estabelecido, conforme o Seu propósito eterno em Cristo Jesus.

 

O efeito prático e apropriado dos conselhos 

O efeito apropriado e imediato é o aperfeiçoamento dos indivíduos de acordo com a graça que habita na Cabeça. Cristo foi revelado em toda a Sua plenitude. É de acordo com essa revelação que os membros do corpo devem ser formados à semelhança de Cristo. Ele é conhecido como Aquele que enche todas as coisas e como a Cabeça de Seu corpo, a revelação do perfeito amor de Deus, da excelência do homem diante d'Ele segundo Seus conselhos, do homem como o vaso de toda a Sua graça, todo o Seu poder, e todos os seus dons.

 

Com esse precioso objetivo de ministrar a graça para o crescimento de cada membro individualmente até a medida da estatura da própria Cabeça, estando cada membro em seu lugar para sua edificação em amor, termina esse desenvolvimento dos conselhos de Deus na união de Cristo com a Igreja. A Igreja tem o duplo caráter de o corpo de Cristo no céu e a habitação do Espírito Santo na Terra. Essas verdades não podem ser separadas, mas cada uma tem sua importância distinta, e elas reconciliam as certas e imutáveis operações da graça na Cabeça com as falhas da Igreja responsável na Terra.

 

J. N. Darby, trechos adaptados de Synopsis on Ephesians

 

Os Conselhos Secretos de Deus 


A Igreja é o Corpo e a Noiva de Cristo. Ela ocupa um lugar excepcional nos tratamentos de Deus, sendo celestial em seu chamado e difere de tudo relacionado ao Velho Testamento ou predito nele. Não somente a Igreja não existia nos tempos do Velho Testamento, como também não foi predita. Embora os propósitos de Deus sobre o assunto tenham sido formados “antes da fundação do mundo”, eles estiveram ocultos “desde todos os séculos e em todas as gerações” até chegar o Seu próprio tempo para revelá-los.

 

Na Escritura, esses conselhos secretos de Deus são chamados de “mistérios”. Na linguagem do Novo Testamento, um mistério é simplesmente um segredo revelado apenas a pessoas específicas. Deus reservou um segredo para ser comunicado a nós – um segredo que Ele não havia divulgado nem mesmo aos homens mais favorecidos de épocas passadas. Como é bom ver isso! Deus nos adotou como Seus filhos, Cristo nos comprou como Sua Noiva, e os segredos, escondidos até mesmo dos mais honrados de Seus servos e amigos, agora são soprados no ouvido e no coração da Igreja.

 

Este Mistério 

Esses mistérios dizem respeito em parte ao reino e em parte à Igreja. Era um segredo desconhecido dos profetas que haveria um reino dos céus, no qual o mal seria permitido durante a sua formação. Esse é o Mistério revelado na parábola do trigo e do joio. Mas há também um segredo relacionado à Assembleia ou Igreja. Lemos que Deus “visitou os gentios, para tomar deles um povo para o Seu nome” (At 15:14), pois havia anunciado pelos profetas que Seu nome seria invocado pelos gentios. Mas as Escrituras são citadas aqui apenas para provar que Deus nunca pretendeu limitar Suas bênçãos a Israel. Ao escrever aos romanos, o apóstolo diz: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo [mistério – ARA] (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25). Havia sido revelado que Deus seria misericordioso com os gentios, mas era um “Mistério”, sobre o qual as Escrituras do Velho Testamento estavam totalmente em silêncio, que Deus estava colocando de lado os Judeus, com o propósito justamente de reunir um povo dentre os gentios, e que, até que isso fosse completamente cumprido, a bênção de Israel devia ser adiada,

 

A bênção de Israel 

O Velho Testamento, que revela os planos de Deus em relação ao mundo, mostra o inverso disso. Lá, Deus está tratando com Seu povo terrenal, Israel, e os gentios são usados para provocá-los ao ciúme. Mas o Novo Testamento revela os propósitos celestiais de Deus. A reunião da Igreja, em vez de ocupar uma mera lacuna nos desígnios terrenais de Deus, é o grande objetivo de todos os Seus conselhos. No Velho Testamento, a bênção dos gentios é mencionada, mas como algo que aguarda os pensamentos de Deus sobre Israel. No Novo Testamento, a bênção de Israel é mencionada, porém aguardando os pensamentos de Deus sobre a Igreja. O Velho Testamento mostra um povo que foi objeto dos conselhos de Deus “desde a fundação do mundo”, mas o Novo Testamento mostra um povo que foi objeto dos conselhos de Deus “antes da fundação do mundo” (Mt 25:34; Ef 1:4). Nos planos terrenais de Deus, tudo dá lugar a Israel; em Seus planos celestiais tudo dá lugar à Igreja. Mas, como o povo celestial ocupou o primeiro e mais alto lugar nos pensamentos de Deus, o povo terrenal precisa ficar de lado até que Seus propósitos a respeito do povo celestial sejam plenamente cumpridos.

 

A dispensação de Deus 

Ao escrever aos colossenses, Paulo fala da “dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus: o Mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste Mistério entre os gentios, que é Cristo em [entre – KJV] vós, esperança da glória” (Cl 1:25-27). Portanto, o Mistério era necessário “para completar a Palavra de Deus”. Era a presença de Cristo nos crentes ou entre eles como a esperança da glória. A Palavra não diz que o Mistério era a presença de Cristo entre os gentios, mas “entre vós” – isto é, a Igreja. A presença de Cristo entre os Judeus era predita, mas agora Sua presença é revelada na assembleia fora do Judaísmo, onde Judeu e gentio são desconhecidos.

 

Mais do que isso, a presença de Cristo, predita pelos profetas, não era a esperança da glória, mas a própria glória. Quando Cristo reinar entre os Judeus, Ele será sua glória – “luz para alumiar as nações e para glória de Teu povo Israel” (Lc 2:32). Agora, entretanto, ao invés de glorificar aqueles entre os quais Ele tomou Sua habitação, Ele apenas dá a eles “a esperança da glória”. No presente eles são membros de Seu corpo. Mas os sofrimentos desse corpo ainda não foram completados, e os crentes agora são chamados à comunhão com Seus sofrimentos, embora com a esperança bendita e garantida de compartilhar Sua glória em breve. Essa é outra característica do Mistério agora revelado aos santos.

 

Coerdeiros – Um corpo 

Em Efésios, o Mistério é assim descrito: “Os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef 3:6). Isso é chamado “o Mistério de Cristo”. O que, então, isto ensina? Aprendemos no contexto imediato o que é esse corpo, no qual Judeus e gentios são incorporados, e descobrimos que ele não é outro senão o corpo do próprio Cristo. “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na Sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em Si mesmo dos dois um novo homem” (Ef 2:14-15). Tanto Judeus como gentios são tirados de suas antigas condições e trazidos para uma condição totalmente nova. Essas duas classes – Judeus e gentios – ainda existem no mundo, mas Deus tirou um número de cada uma e formou uma nova classe, o corpo de Cristo, no qual todas as distinções são eliminadas. As três divisões que Deus vê agora são os Judeus, os gentios e a Igreja de Deus (1 Co 10:32).

 

Depois, na mesma epístola, Paulo escreve: “porque somos membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este Mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja” (Ef 5:30-32 – ACF). Aqui, então, o Mistério é expressamente declarado como sendo a união de Cristo e da Igreja, de modo que eles são “uma só carne” e que os crentes são “membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos”.

 

Características distintivas do Mistério 

Sob qualquer luz, portanto, a Igreja é considerada, é mencionada como um Mistério. Seja como aquilo que Deus está realizando agora entre os gentios durante o tempo da rejeição de Israel, ou como o lugar no qual Cristo agora faz Sua morada espiritual, ou como o corpo no qual Judeus e gentios são igualmente incorporados em um terreno inteiramente novo, ou como a Noiva, unida em uma só carne ao próprio Cristo, trata-se de uma coisa nova, um segredo “oculto desde todos os séculos e em todas as gerações”. Esse Mistério está fora da esfera dos tratamentos terrenais de Deus e é reservado aos ouvidos daqueles a quem Deus colocou em relacionamento com Seu Filho em glória celestial.

 

Tal era então o Mistério agora revelado à Igreja. Sem dúvida, existem outros mistérios revelados no Novo Testamento também. Há “o Mistério da iniquidade”, “o Mistério da piedade” e o Mistério do retorno especial e particular de Cristo para Seus santos. Nesses, assim como em outros casos em que a palavra é usada, trata-se de uma nova revelação adequada ao caráter celestial da Igreja ou à natureza atual do tratamento de Deus, visto como uma interrupção do curso dos eventos terrenais preditos pelos antigos profetas.

 

Celestial e terrenal 

Mas por que esse Mistério especial, confiado ao apóstolo Paulo, foi mantido em segredo? Porque é uma coisa celestial – o assunto dos conselhos celestiais de Deus –, enquanto o propósito das profecias do Velho Testamento é tornar conhecidos Seus conselhos terrenais. Isso é de grande importância, pois mostra quão completamente a Igreja está fora do mundo. Ela tem uma origem diferente, é revelada em um momento diferente, se alimenta de uma esperança diferente, pertence a uma esfera diferente. Em vez de herdar as promessas do Velho Testamento e cumprir as profecias do Velho Testamento, a Igreja forma com elas o mais absoluto contraste que a mente possa conceber. São tão diferentes que as duas coisas não podem existir juntas. Enquanto os propósitos de Deus sobre a Terra estavam sendo revelados, o Mistério da Igreja estava oculto. Quando o Mistério da Igreja foi revelado, os propósitos sobre a Terra foram suspensos. A Igreja está associada a Cristo no céu; Israel está associado a Ele na Terra. A Igreja O conhece em Seus sofrimentos e paciência; Israel O conhecerá em Sua exaltação e poder. A Igreja se alegra n'Ele como a noiva se regozija em seu noivo; Israel se regozijará n'Ele como uma nação em seu soberano. A Igreja aguarda por Ele para levá-la ao céu; a nação de Israel aguarda por Ele para estabelecê-la na Terra. Tal é a nossa porção celestial, em contraste com até mesmo o mais favorecido dos povos terrenais.

 

O ministério de Paulo 

Por mais diligente que Paulo fosse em buscar almas, esse magnífico assunto do “Mistério de Cristo” nunca esteve ausente de seu coração. Se ele orava pelo estabelecimento de santos, era de acordo com o Mistério. Se ele desejava que estivessem “unidos em caridade (ou amor) e enriquecidos da plenitude da inteligência”, é “para conhecimento do Mistério”. Se ele pede que eles orem, é “para que Deus nos abra a porta da Palavra, a fim de falarmos do Mistério”. Se ele queria que fosse entendido o verdadeiro caráter da verdade confiada a ele, era porque Deus, por revelação, lhe havia dado a conhecer o Mistério. Certamente, se nosso coração estivesse mais sintonizado com a mente de Deus e com as afeições de Cristo, esse maravilhoso tema nos encheria de incessante adoração e deleite.

 

T. B. Baines (adaptado)

 

A Glória Vindoura

 

A visão da glória vindoura, como revelada na Palavra, sustenta o crente no caminho de fé. Ele vive numa nova atmosfera, com novos pensamentos, novas esperanças, novos prazeres. Sabemos que Cristo é “Cabeça sobre todas as coisas para a assembleia, que é o Seu corpo” (Ef 1:22-23 – JND). O conhecimento da glória da ressurreição com Cristo fortalece o homem interior, para que não desfaleçamos, sabendo que “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4:16-17)

 

A Igreja, unida a Cristo em glória, é absolutamente celestial em vocação e esperança. Agora somos reunidos a um Cristo rejeitado (Jo 12:32). Na Sua vinda seremos reunidos a um Cristo glorificado (Ef 1:10). A vida que recebemos é celestial em sua fonte (1 Jo 1:13). O objetivo dessa vida é Cristo em glória (Filipenses 3). A esperança dessa vida é sermos glorificados juntamente com Ele (Rm 8:17). A Igreja será a Eva em Seu paraíso, a Rainha em Seu trono, a glória mais rica e brilhante da herança que Ele conquistou. Ao chamar alguém para fora do mundo, Ele confia este a Seu Filho, para ser um com Ele em pensamento, desejo e esperança agora e para no final ser glorificado juntamente com Ele em Sua glória! Oh, não vamos perder em nossa alma a preciosidade do que a Igreja é para Ele! Regozijemo-nos em ser reunidos como membros de Seu corpo, levando Seu vitupério (reprovação – JND), por causa de nossa vocação celestial, ao nos lembrarmos d'Ele em Sua morte, enquanto vivemos na expectativa diária de Sua vinda para Sua Noiva. Enquanto nos regozijamos em nossa bênção individual, que possamos reter e nos regozijar na rica revelação da verdade de que “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela” (Ef 5:25).

 

G. H. Hayhoe

 

 A Operação do Mistério

 

Agora, qual é a operação do Mistério? É “para que, agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:10). Isso nos lembra Colossenses 1:25, pois o ministério de Paulo era “cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus”. Isso significa que ele está acima do ministério de Cristo? Sim, dispensacionalmente, está. Os caminhos de Deus brilham cada vez mais até o dia perfeito. Em que luz estamos! Nós estamos na luz como Deus está na luz. A multiforme e variada sabedoria de Deus é agora revelada em todas as suas formas de beleza. O que eu recebo agora é a soberana convocação para ser coerdeiro; eu sou um corpo com o Senhor da glória. Cheguei à própria Cabeça e me assento à vista da coroação de Cristo e de Seus eleitos. Assim, eu a completei; eu alcancei a multiforme sabedoria de Deus. Então o apóstolo desce um pouco: “no Qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé n’Ele [pela fé d’Ele – JND]. Ele aprecia colocar esse fundamento sob nossos pés! Se estamos na luz onde Deus habita, estamos na cidadela fortificada que Deus levantou. De nada adiantaria estarmos na luz se não estivéssemos cercados pela cidadela[1].

[1] N. do T.: Fortaleza que protege uma cidade.

 

J. G. Bellett (adaptado)

 

O Plano do Homem que Escolheu Paulo

 

“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome” (At 9:15-16).

 

O Senhor Jesus Cristo, o Homem ressuscitado em glória, enviou Ananias a Saulo de Tarso como o homem do momento para revelar todo o conselho de Deus para nós. Naquela época, ele era a pessoa mais contrária ao evangelho, mas Deus faria dele o vaso para magnificar Sua graça nele e nos revelar por meio dele o Seu plano secreto. Fazemos bem em considerar tanto o plano revelado como a maneira que o Senhor escolheu para revelá-lo a nós.

 

Deus, nos tempos do Velho Testamento, sucessivamente revelou muitas coisas concernentes a Si mesmo, mas a manifestação completa veio quando Jesus Cristo, o Filho de Deus, Se tornou Homem. Os quatro evangelhos nos preservam um registro disso. Contudo, o último capítulo do plano de Deus só poderia ser comunicado após o Senhor Jesus consumar a redenção e retornar ao céu como Homem, enviando o Espírito Santo para habitar em Seu povo. Paulo, que era Saulo de Tarso, foi escolhido pelo Senhor Jesus para revelar esse último capítulo a nós. Ananias disse sucintamente a Paulo: “O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a Sua vontade, e vejas Aquele Justo, e ouças a voz da Sua boca. Porque hás de ser Sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido” (At 22:14-15). Paulo tinha a percepção disso quando disse: “me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho! ... uma dispensação me é confiada” (1 Co 9:16-17).

 

Toda a verdade 

Pouco antes de o Senhor ter sido rejeitado pelo Seu povo terrenal, Ele disse a Seus discípulos no cenáculo: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier Aquele Espírito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16:12-14). Os discípulos precisavam do Espírito Santo antes de poderem receber e apreciar essas comunicações. O homem natural não entende as coisas espirituais. Depois do Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu para habitar nos discípulos, eles pregaram a ressurreição de Jesus Cristo e o perdão dos pecados aos Judeus, mas o apedrejamento de Estêvão fechou as portas da bênção para Israel. Essa foi a rejeição final do testemunho do Espírito Santo, conforme pronunciado por Estevão. Isso prepara o terreno para o Senhor abrir Seu conselho de bênção para o mundo inteiro, incluindo os gentios. O apóstolo Paulo é o escolhido para fazer isso, como ele diz em Gálatas 1: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (vs. 11-12). Paulo nos dá o que o Senhor não pôde revelar enquanto estava na Terra. Mais tarde ele complementa nesses versos: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela Sua graça, revelar Seu Filho em mim, para que O pregasse entre os gentios” (Gl 1:15-16).

 

Paulo - um padrão 

Não apenas todos os conselhos de Deus são revelados por meio de Paulo, mas como principal dos pecadores, ele também é um padrão de bênção Cristã, como ele diz: “conforme o evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado. E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus, Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério, a mim, que, dantes, fui blasfemo, e perseguidor, e opressor; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade. E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e o amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por isso, alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a Sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer n’Ele para a vida eterna” (1 Tm 1:11- 16). Deus é sempre consistente Consigo mesmo no que faz e em como faz.

 

Cinco Revelações 

As cinco porções da Escritura mencionadas a seguir mostram claramente as revelações que Paulo recebeu do Senhor, no céu:

 

  1. O evangelho da graça de Deus (Gl 1:12);

  2. O arrebatamento (1 Ts 4:15);

  3. O Mistério (Ef 3:3);

  4. A ceia do Senhor (1 Co 11:23);

  5. A ressurreição dentre os mortos (1 Co 15:51).

 

Que o Senhor nos faça entender as bênçãos que Ele planejou para o homem. Que não fiquemos satisfeitos com um entendimento superficial dos conselhos de Deus revelados a nós. “As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29).

 

D. C. Buchanan

 

O Evangelho de Paulo

 

Existem duas expressões em Romanos que indicam o caráter especial do ministério de Paulo. “O evangelho de Deus” (Rm 1:1-17) aponta claramente para a fonte do evangelho, enquanto “meu evangelho” (Rm 16:25), introduzido em uma espécie de doxologia[2], fala de uma abençoada revelação que distingue os ensinamentos do apóstolo Paulo dos ensinamentos dos outros apóstolos. Seria difícil estimar nossa perda se falharmos em apreendermos essas duas importantes verdades. Hoje, muitos estão perplexos com a condição das coisas, tanto no mundo político quanto no religioso. Na mente de muitos, existe uma ideia de que Deus enviou o evangelho para melhorar o mundo, para torná-lo um lugar mais agradável para os homens viverem. Encontrar o mundo mais irremediavelmente mal do que nunca, após pregar vigorosamente sua melhoria, desanimou muitos pregadores e lançou seus ouvintes em confusão e desespero quanto ao resultado do que eles pensavam que fosse o evangelho. A Escritura foi mal aplicada para apoiar o ensino de que gradualmente o evangelho pregado deve permear o mundo e resultar no estabelecimento do Milênio.

[2] N. do T.: Provém do grego doxologia, (doxa “glória” + logia “palavra”) se referindo à expressão oral ou escrita. Portanto, “doxologia” é uma expressão oral ou escrita de louvor e glorificação.

 

Justificação 

Em nenhum lugar encontramos o apostolado de Paulo colocado em terreno mais firme do que em Romanos. Ele ainda não estava em Roma, mas, como apóstolo dos gentios, cumpriria sua missão que recebera do próprio Senhor para com os gentios (Atos 26:17-18). De acordo com a ordem administrativa de Deus, Pedro foi especialmente comissionado para os Judeus; Paulo às nações ou gentios (Gálatas 2:7-8). Conforme registrado em Atos, Pedro pregou o perdão dos pecados pela fé em Cristo, mas não associou a isso a verdade da justificação, enquanto Paulo, em seu primeiro sermão registrado, acrescentou essa verdade bendita (Atos 13:38-39). O evangelho não era sobre o homem, embora tenha sido enviado para o homem; não havia nada de alegre a dizer sobre ele; no paganismo, o homem era intencionalmente corrupto; na filosofia, era hipócrita; sob a lei, era um transgressor – toda boca foi calada e todo o mundo se mostrou “culpado diante de Deus” (Rm 3:1). O Filho de Deus é o tema abençoado do evangelho, e as boas novas são relativas a Ele. Ele é apresentado de uma maneira dupla: (1) em conexão com as promessas feitas à semente de Davi segundo a carne e (2) “Filho de Deus com poder” pela ressurreição dentre os mortos. O evangelho de Deus havia sido anunciado pelos profetas no Velho Testamento, e assim toda possível objeção que poderia ser levantada deveria ser silenciada antes da revelação do que é o evangelho de Deus. Na Pessoa do Filho, Deus encontrou Um capaz de realizar todos os Seus propósitos e dar a conhecer todos os Seus pensamentos de amor pelos homens. Somente Ele poderia solucionar o problema que o homem criou pelo pecado no Jardim do Éden e resolvê-lo para a glória eterna de Deus. Que graça maravilhosa de Ele entrar no domínio sombrio da morte, onde o homem jazia em ruína e exposto à ira eterna, tomar sobre Si toda a fraqueza do homem, saquear de uma vez e para sempre os despojos de Seu inimigo, e triunfar completamente na ressurreição sobre todo o poder do inimigo.

 

Nova vida 

A nova vida recebida pelo crente é uma vida dada e fundamentada no valor eterno do que foi realizado pelo Filho de Deus. Neste abençoado evangelho, Deus revela uma justiça para o homem, que não tem nenhuma – a justiça de Deus, segundo o princípio da fé. Esse é o grande tema da epístola. Em Romanos, o crente é visto como justificado, sendo-lhe reconhecida a justiça pela morte e ressurreição do Senhor Jesus, para que ele possa andar aqui neste mundo no poder da vida ressuscitada de Cristo, tendo a glória em vista. Essa epístola, e a destinada aos efésios, são as duas únicas escritas pelo apóstolo aos santos que não são corretivas; as outras tinham em vista certas condições existentes a serem corrigidas. Nessas duas epístolas, temos a revelação da verdade inegável: a primeira estabelece a fundação segura, e a segunda, a abençoada estrutura construída sobre ela.

 

J. W. H. Nichols, abreviado

 

A Doutrina de Paulo

 

A revelação de Deus até o ponto do ministério de Paulo incluiu a criação, a lei, a redenção, a Pessoa de Cristo, os caminhos de Deus e o Seu governo. Faltava apenas uma coisa agora, e essa era a revelação do Mistério da Igreja, que, quando entregue, completava a Palavra de Deus.

 

Algumas das características da doutrina de Paulo são: Cristo – o Filho de Davi e Herdeiro de seu trono – rejeitado pelos Judeus e pelo mundo; crucificado e morto; ressuscitado pelo poder de Deus e pela glória do Pai, assentado nos céus na justiça de Deus, tendo satisfeito o justo julgamento de Deus contra o pecado, a morte, o juízo, a ira, a maldição de uma lei quebrada, tudo suportado e passado para a glória de Deus; pecado aniquilado, pecados carregados; o “velho homem” judicialmente tratado e colocado de lado para sempre; um homem – o Segundo Homem – o Último Adão – no céu em justiça divina. O Espírito Santo está pessoalmente na Terra testemunhando a justiça de Deus e a justificação do crente de acordo com sua plena exibição. A vida eterna pelo e no Espírito e sua possessão consciente são comunicadas ao crente pelo Espírito Santo.

 

O Espírito Santo age como o poder desta vida na caminhada do crente, guiando-o, dirigindo-o, controlando-o e repreendendo-o. O crente em Jesus é selado com o Espírito, seu corpo é um templo para Sua habitação, unindo-o a Cristo – um Homem em glória – e, portanto, o vínculo de união uns com os outros e com Cristo. Sua presença e batismo constituem “um corpo”, composto por tais pessoas aqui neste mundo. Deus habita entre os Seus santos aqui, como uma habitação, em Espírito, não em carne. O Espírito Santo é o poder para o exercício dos dons que Cristo, quando ressuscitou e subiu ao alto, recebeu como Homem e concedeu aos homens – membros de Seu corpo. Ele está “repartindo particularmente a cada um como quer”, reproduzindo também “Cristo”, a “vida de Jesus”, nos corpos mortais dos santos. O Espírito Santo é o poder também de adoração, comunhão, gozo, amor e oração, ensinando os santos a aguardarem a esperança da justiça pela fé, isto é, a própria glória. Ele os está levando a esperar por Cristo e produzindo o anseio do “Ora, vem” na Noiva, enquanto o Senhor dela estende Sua vinda, pois Ele é Aquele que é o Objeto de sua esperança como a resplandecente Estrela da Manhã. Enquanto isso, o Espírito Santo está transformando os santos à imagem de Cristo, ao revelar, na liberdade da graça, as glórias dAquele em cuja face resplandece toda a glória de Deus!

 

Depois que Epafras viu Paulo e aprendeu a profunda e suprema importância desse conhecimento para o qual Paulo era ministro, ele ficou tão convencido do valor e da importância do significado deles que ele próprio também trabalhou fervorosamente em oração por eles para que estivessem “firmes, perfeitos e consumados [completos – JND] em toda a vontade de Deus”.

 

Que o Senhor abra o entendimento de Seu amado povo que, em meio à confusão e corrupção de um dia tão mau, quando os homens estão dizendo: “O que é a verdade?” sem, contudo, se importarem com a resposta, eles possam descobrir que existem princípios na Palavra de Deus que nenhuma quantidade de fracasso do homem jamais pode tocar e que sempre podem ser praticados por aqueles que desejam andar com Deus e guardar a Palavra da paciência de Jesus até que Ele venha. Que todos aprendamos a andar juntos em unidade, paz e amor na verdade, por amor de Seu nome.

 

F. G. Patterson (adaptado)

 

Cristo, o Centro dos Conselhos de Deus

 

A revelação dos caminhos de Deus em Efésios 1 nos apresenta Cristo como um Homem ressuscitado por Deus dentre os mortos, a fim de que também sejamos ressuscitados para ter parte com Ele. O capítulo 3 O apresenta como o centro de todos os caminhos de Deus, o Filho do Pai, e o centro dos conselhos de Deus. O apóstolo agora se dirige ao Pai de nosso Senhor Jesus. “Toda [cada – JND] família” (ARA) traz todas sob esse nome do “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Sob o nome de “Jeová”, apenas os Judeus tinham um relacionamento com Ele. “De todas as famílias da Terra a vós somente conheci”. Mas, sob o nome de “Pai de Jesus Cristo”, todas as famílias estão incluídas, a Igreja, os anjos, os Judeus e os gentios. Todos os caminhos de Deus naquilo que Ele havia arranjado para Sua glória são coordenados sob esse nome e estão relacionados com Seus conselhos. O apóstolo ora para que eles sejam capacitados a apreender toda a importância daqueles conselhos e o amor de Cristo que formava o centro seguro de seus corações.

 

Fortalecido pelo Espírito 

Para esse propósito, ele deseja que os santos sejam fortalecidos com todo poder pelo Espírito do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e que o Cristo, que é o centro de todas essas coisas nos conselhos do Pai, também habite no coração deles e, portanto, seja o centro inteligente de afeição para todo conhecimento. Esse centro não encontra nenhum círculo que limite a visão que se estende numa infinidade que somente Deus pode preencher – comprimento, largura, altura, profundidade. Cristo é o centro de toda a manifestação da glória divina, e Ele habita em nosso coração para colocá-los, por assim dizer, nesse ponto de observação, e fazê-los olhar dali toda a glória exibida. Ao mesmo tempo, os santos têm um lugar seguro, um suporte inabalável em bem conhecido, em um amor tão infinito quanto a extensão da glória de Deus exibida ao seu redor. “Para que Cristo habite... no vosso coração”. Assim, Ele, que enche todas as coisas com Sua glória, enche o próprio coração, com um amor mais poderoso do que toda a glória da qual Ele é o centro. Ele é para nós a força que nos permite em paz e amor contemplar tudo o que Ele tem feito, a sabedoria de Seus caminhos, e a glória universal da qual Ele é o centro.

 

Cristo enchendo nosso coração 

Aquele que enche todas as coisas enche todo o nosso coração. Deus nos fortalece de acordo com as riquezas daquela glória que Ele exibe diante de nossos olhos maravilhados como legitimamente pertencendo a Cristo. Ele faz isso com terna afeição e é a força do nosso coração. Abraçando assim Suas afeições e pensamentos, estamos arraigados e fundados em amor – todos os santos sendo objetos de Seu amor. É estando cheios d'Ele, e nós mesmos como o centro de todas as Suas afeições, e pensando Seus pensamentos que mergulhamos em toda a extensão da glória de Deus, pois é a glória d'Aquele que amamos. E qual é o limite dela? Ela não tem nenhum; é a plenitude de Deus. Nós a encontramos nessa revelação de Si mesmo. Em Cristo, Ele Se revela em toda a Sua glória. Ele é Deus sobre todas as coisas, bendito eternamente.

 

J. N. Darby, Synopsis on Ephesians (adaptado)

 

Que Maravilhoso Pensamento

 

O que suscitou o maravilhoso pensamento;

Ou quem o sugeriu?

Que nós, a Igreja, à glória trazidos,

Seríamos abençoados com o Filho.

 

Ó Deus! O pensamento era Teu

(Teu somente poderia ser),

Fruto da sabedoria, amor divino,

Peculiar a Ti:

 

Pois, com certeza, nenhuma outra mente,

Para ter pensamentos tão ousados, tão livres,

Grandeza ou força, jamais poderia encontrar:

Somente poderia ser a Tua.

 

Os motivos também, os Teus,

O plano, o conselho, Teus!

Feitos para Teu Filho, osso de Seus ossos,

Em brilhante glória resplandecer.

 

Ó Deus! Com grande deleite,

Teu maravilhoso pensamento que vemos,

Sobre o seu trono, em glória brilhante,

A noiva de Cristo estará.

 

Selados com o Espírito Santo

Triunfamos nesse amor,

Teu maravilhoso pensamento nos fez gloriar,

“Glória com Cristo acima.”

 

G. V. Wigram, Hinário Little Flock – Hino 10

 

Grande é este Mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja”

Efésios 5:32

 

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