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Breves Meditações - Parte 10/14

Atualizado: 2 de out.

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ÍNDICE



Breve Meditações

Parte 10

J. G. Bellett

Jornadas a Jerusalém 

 

A jornada dos magos (ou sábios – JND) do Oriente, como lemos em Mateus 2, e a jornada da rainha do Sul, como a temos em 2 Crônicas 9, brilham com algo de beleza e significado semelhantes diante de nós. Todos eles vão para Jerusalém – mas os sábios do Oriente começaram sua jornada sob o sinal ou a pregação da estrela; a rainha do Sul começou a sua simplesmente com base em um relato que havia chegado a ela em sua terra distante. Pois, às vezes, o Senhor visitou e guiou Seus eleitos por meio de sinais, indícios visíveis, sonhos, vozes, visitas angelicais e coisas semelhantes – às vezes, Ele simplesmente os fez ouvir um relato, como no caso desta ilustre senhora. Mas, por mais que Ele Se dirija a nós, a fé reconhece Sua voz, como nestes casos. “Minhas ovelhas ouvem a Minha voz... e elas Me seguem”.

 

Os sábios foram adorar e levaram oferendas consigo: a rainha do Sul foi consultar à porta da sabedoria e aprender lições de Deus; e comerciando por aquilo que era mais precioso do que ouro ou rubis, ela levou consigo alguns dos tesouros mais escolhidos de seu reino.

 

A jornada dos sábios é rica em ilustrações da vida de fé. Mas Jerusalém não os satisfez. Eles tiveram que seguir para Belém para alcançar o Objeto de sua fé. Na jornada anterior da rainha do Sul, Jerusalém atendeu a todas as expectativas dela. Nela podemos encontrar algumas características morais marcantes, que trazem consigo diversas advertências saudáveis e significativas para nossa alma.

 

Em primeiro lugar, observo que o relato que lhe havia chegado a respeito do rei em Jerusalém a deixou imediatamente insatisfeita com sua condição presente, por mais rica e honrada que ela fosse. Pois ela parte imediatamente, deixando para trás seu próprio domínio real, com todas as suas vantagens na carne e no mundo. O fato de sua jornada revelar a inquietação e a insatisfação que as notícias sobre Salomão e Jerusalém haviam despertado.

 

Isto fala aos nossos ouvidos. Fala-nos da operação em nosso coração que a notícia que se espalhou sobre Alguém maior que Salomão deveria produzir. Em espírito semelhante, até hoje, a alma vivificada, sob o relato que recebeu sobre Jesus, é convencida e inquieta naquela condição em que a natureza nos deixou, e este relato nos encontrou. Ficamos perturbados por ele – tirados de todo o conforto e satisfação que antes podíamos ter em nós mesmos, em nossas circunstâncias ou em nosso caráter.

 

Mas digo novamente. Assim que esta senhora eleita chegou a Jerusalém, pôs-se a inspecionar todos os bens do rei ali. Ela veio para esse propósito, e o faz. Ela não é ociosa. Ela se familiariza com tudo. Ela fez perguntas difíceis ao rei, ouviu sua sabedoria e contemplou suas glórias. O próprio modo de sentar e as vestes de seus servos não lhe escaparam – e certamente nem a sua subida pela qual subia à casa do Senhor.

 

Isso fala novamente aos nossos ouvidos. Quando chegamos a Jesus, nossa alma faz d’Ele o nosso Objeto. Aprendemos sobre Ele, falamos d’Ele, investigamos os segredos de Sua graça e glória. Carregamos a sensação desse algo único; que nossa ocupação é com Ele. Ele é o nosso Objeto.

 

Mas, em terceiro lugar. Depois que esta rainha estrangeira se familiarizou com tudo o que pertencia ao rei em Sião, ela ficou satisfeita. Sua alma estava saciada como tutano e gordura. Ela não sabia o que fazer consigo mesma. Ela não entendia sua nova condição. A alegria era avassaladora. “Eis que não me contaram a metade” (ARA), disse ela; e Salomão sobrepujou a sabedoria e bens que lhe chegaram a respeito dele. Não havia mais espírito nela. Ela retorna à sua terra e ao seu povo, preenchida. Ela o deixou, como a mulher de Sicar deixou Jesus; esvaziada de tudo o mais, mas preenchida e satisfeita com a descoberta de seu novo tesouro.

 

Tal tinha sido o seu caminho maravilhoso. Sua jornada havia começado na inquieta e incômoda sensação de necessidade; todo o seu antigo e belo serviço às circunstâncias lisonjeiras fora rompido. Ela se familiarizou com os vastos e misteriosos tesouros do lugar para onde sua jornada a havia conduzido; Ela fizera isso cuidadosamente, com um coração cada vez mais engajado e interessado à medida que prosseguia em sua busca. Ela terminou sua jornada, ou retornou à sua terra natal, como alguém repleta, até a borda, de todas as suas expectativas e desejos.

 

A jornada do sul até Jerusalém, registrada no Novo Testamento, tem características muito semelhantes. Refiro-me à do eunuco da Etiópia, em Atos 8.

 

Ele inicia sua jornada com a consciência inquieta. Ele havia ido a Jerusalém para adorar, mas deixou aquela cidade de solenidades, aquela cidade do templo e do serviço a Deus, com seu sacerdócio e ordenanças, ainda inquieto; e o vemos como um inquiridor ansioso em seu caminho de Jerusalém para o sul de Gaza. Nada naquele centro de provisões e observâncias religiosas havia dado descanso à alma. Ele estava insatisfeito com a adoração que ali tinha rendido. Sua consciência não estava purificada. Ele ainda não tinha resposta para Deus. Não havia descanso em seu espírito. Jerusalém, posso dizer, o havia decepcionado, assim como decepcionou os sábios.

 

Mas se, como a rainha de Sabá, ele estava a princípio, ao iniciar sua jornada, inquieto e insatisfeito, como ela, ele estava profundamente envolvido com o que Deus lhe estava provendo, por meio de Suas testemunhas e representantes. A Palavra de Deus se dirigia à sua alma. O profeta Isaías estava tirando-o para fora de si mesmo. Ele não se surpreendeu com a voz do estranho naquele lugar deserto. Tudo o que lhe importava, tudo o que ele pensava, era o segredo do Livro. Ele estava inspecionando o testemunho da graça de Deus, como a rainha outrora inspecionara o domínio de Salomão, o testemunho da glória. E Filipe revelou ao eunuco o segredo que ele buscava.

 

E então, ele é satisfeito. Seu coração, como o dela, está preenchido pelo que agora lhe foi revelado. Ele prossegue a segunda etapa de sua jornada, de Gaza à Etiópia, “jubiloso”. Filipe pode deixá-lo, e ele pode passar sem ele. A mulher de Sicar pode novamente deixar seu cântaro e encontrar em Jesus tudo para ela. Com a alma saciada, como tutano e gordura, ele pode seguir seu caminho. Outra pessoa retorna ao Sul, a Sabá ou à Etiópia, com o coração rico pelas descobertas que fizera em sua visita a Jerusalém.

 

Essas características semelhantes são facilmente identificadas nessas narrativas. Mas foi, antes, a consciência que impulsionou o eunuco em sua jornada; foi o desejo que moveu a rainha. E a rainha entrou em contato com a glória, na corte e domínio de Salomão; o eunuco com a graça, nas palavras do profeta Isaías. Mas, quer Deus nos dirija com uma revelação de Sua graça ou de Sua glória; quer Ele Se dirija à consciência ou ao coração, é Sua alta e divina prerrogativa nos satisfazer – como Ele faz com esses dois distintos indivíduos. Ele sacia a alma com uma manifestação de Si mesmo, seja qual for a forma dessa manifestação, ou adaptação a qualquer exigência ou necessidade da alma que aprouver a ela. E tal satisfação obtemos de forma diferente, mas muito abençoada, exemplificada nestes dois casos.

 

E permitam-me acrescentar mais uma característica comum a ambos. O espírito deles era livre de qualquer ressentimento. A rainha contemplava as glórias de Salomão e podia contemplar seu estado mais elevado, eminente e excelente, sem o menor sinal de ciúme ou inveja. Ela estava feliz demais para isso. Podia felicitar o rei em Sião, e seus servos que o serviam, e seu povo que ouvira sua sabedoria, e voltar para casa como alguém que teve o privilégio apenas de visitá-lo; mas não lhes invejava a porção mais rica que eles desfrutavam. Sua própria parte na bênção a saciava, embora seu vaso fosse comparativamente pequeno. E o mesmo acontecia com o eunuco, tenho plena certeza. Ele estava disposto a ser um devedor a Filipe – a saber que é o menor que é abençoado pelo maior: Que assim seja, diria seu espírito. Ele estava feliz, estava cheio; e, se não havia vazio em seu espírito, podemos ter certeza de que não havia ressentimento ali.

 

Que alegria deveria haver ao contemplarmos tais exemplos da obra divina! A alma perturbada por causa de sua própria condição, focada na busca fervorosa por Cristo, satisfeita pela descoberta d’Ele, e então, feliz demais para habitar em meio aos tumultos e conflitos daquela natureza que deseja invejar! E quão silenciosamente o processo é conduzido! Ele prossegue no espírito de um homem pelo poder que opera segundo o padrão do vento que sopra onde quer, mas de onde vem e para onde vai, não sabemos.

 

Tenho, no entanto, outro pensamento sobre o assunto das jornadas a Jerusalém.

 

Às vezes, descobrimos, como no caso da rainha de Sabá, que aquela grande cidade atendeu a todas as expectativas que o coração havia formado a seu respeito. O que havia ali a satisfez profunda e plenamente, como vimos. Mas Jerusalém, às vezes, decepcionou gravemente o coração. Isso aconteceu, como posso repetir, com os sábios do Oriente, que foram para lá em busca do Rei dos Judeus. Eles tiveram que passar por ali e iniciar outra jornada, até Belém, no sul. Ela também decepcionou o eunuco, como também observei. Ele havia ido lá para adorar, mas saiu dela insatisfeito em espírito e buscando aquele descanso que, como vimos, todas as provisões religiosas daquela cidade, do templo e do sacerdócio, não lhe deram, nem podiam lhe dar. E posso acrescentar que ela decepcionou o Senhor Jesus da mesma forma. Em vez de encontrar ali Sua acolhida e Seu lugar, Ele teve que chorar sobre ela e pronunciar sua condenação, e encontrar ali em Sua própria Pessoa o que aqui podemos mais lembrar do que mencionar.

 

No entanto, nos últimos dias, por assim dizer, ela reviverá e retomará o caráter que desempenhou nos primeiros dias. Responderá a todas as mais ricas expectativas daquelas multidões que então, como a rainha do Sul, subirão até lá para ver o Rei em Sua beleza. As estradas estarão então repletas de alegres visitantes, e os corações de milhares de nações repetirão novamente o que encontraram na cidade santa. Ali “afluirão todos os povos” (ARA), como lemos; “E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os Seus caminhos, e andemos nas Suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a Palavra do SENHOR”. E novamente lemos: “E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, e para celebrarem a festa dos tabernáculos”. E novamente: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do SENHOR. Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém. Jerusalém está edificada como uma cidade que é compacta. Onde sobem as tribos, as tribos do SENHOR, até ao testemunho de Israel, para darem graças ao nome do SENHOR”. Estas estão entre as testemunhas divinas e inspiradas da virtude saciadora dessas jornadas à cidade do grande Rei no dia do reino, quando a promessa que a jornada da rainha de Sabá nos deu será abençoadamente resgatada na alegria do coração dos milhares de nações que, no vindouro dia da restauração de Sião, esperarão lá para prestar serviço voluntário ao Senhor da Terra.

 

O desfecho, então, é simplesmente avaliado. As jornadas a Jerusalém satisfazem ou decepcionam; e é o próprio Senhor Quem deve determinar qual será o caso. Sua glória foi, naquele momento, exibida ou refletida ali, e, portanto, a visita satisfez a rainha de Sabá; Sua graça não era então ministrada ou testemunhada ali, e, portanto, a visita decepcionou o eunuco da Etiópia. E assim, o valor daquela cidade de solenidades devia ser medido pela presença de Cristo ali.

 

E assim, permitam-me dizer, de todas as ordenanças e serviços. Se Jesus não for a vida e a glória dela, Jerusalém é apenas uma “cidade dos jebuseus”: se Ele o for, ela é o “gozo de toda a Terra”. Como o Monte Sinai ou o Horebe. Ele é apenas “o monte Sinai na Arábia”, ou ele assume a dignidade de “o monte de Deus”, conforme o Senhor o adote ou não. As ordenanças da lei eram “sombras das” boas “coisas futuras”, o mobiliário da “bela casa” de Deus, ou meros “rudimentos fracos e pobres”, conforme Cristo os usasse ou os rejeitasse.

Justificação pela Fé

 

Na dispensação de Sua graça, Deus provê ao pecador uma resposta às Suas próprias exigências que tem sobre ele. Ele lhe dá segurança no dia do julgamento da justiça. Pois Ele julga o pecado. Certamente, Ele não pode ignorá-lo. A justiça exige o seu julgamento. Mas Ele, em graça, provê ao pecador uma resposta e um refúgio: e torna-se dever e obediência do pecador usar esse refúgio – e esse uso da provisão de Deus é fé.

 

O Senhor, dessa forma, deu a Noé uma resposta, antes do dilúvio, ao Seu próprio juízo justo e determinado que viria sobre o mundo. “Faze para ti uma arca de madeira de gofer”, disse-lhe Deus. Noé assim o fez, crendo na palavra tanto de juízo quanto de libertação, e estava seguro.

 

Ele providenciou a salvação de Israel no Egito, para outro dia de juízo. Israel usou essa provisão, colocando o sangue na verga da porta, e foi protegido da espada do anjo.

 

Da mesma forma, Ele fez provisão para Raabe no dia do juízo de Canaã, assim como fez provisão para Israel no dia do juízo do Egito; e ela escapou, simplesmente porque recebeu a palavra pela fé e usou as provisões de Deus, pendurando o cordão escarlate na janela.

 

E assim continua sendo até hoje.

 

Há duas coisas agora sob juízo, assim como outrora o mundo antediluviano esteve sob juízo, depois o Egito e, por fim, Canaã. O homem e o mundo estão ambos marcados para o juízo. Mas Deus providenciou um refúgio para o homem pecador. O evangelho é o que o revela. O sacrifício do Seu próprio Cordeiro é uma resposta a todas as Suas exigências em justiça contra o pecador, e o próprio Deus deu esse Cordeiro e aceitou esse sacrifício. A fé aceita essa dádiva. Pela fé, o pecador recorre a essa resposta e é salvo.

 

Que método simples e maravilhoso! Que riquezas de graça! Nada, como vemos, entra no caminho de Deus pela graça, exceto a fé. É, portanto, a obediência da fé que agora é exigida (Romanos 1:5 – ARA). E quando alguns perguntaram ao Senhor: “Que faremos para executarmos as obras de Deus?”, Ele respondeu: “A obra de Deus é esta: Que creiais n’Aquele que Ele enviou” (João 6).

 

A excelência deste princípio de fé, sua operação maravilhosa e sua elevada estima diante de Deus podem ser demonstradas pelo testemunho da Escritura do princípio ao fim. Tudo cede diante dela. Até mesmo um estado de inocência no princípio, teve que ceder lugar a um estado de fé (Gn 3). O juízo é enfrentado e evitado por ele, como vimos. A lei é colocada de lado para deixá-lo entrar. E o próprio amor não será aceito por Deus em seu lugar. A fé é estabelecida como o elo entre Deus e nós.

 

Mas sendo assim, estando isso firme e estabelecido, é uma bênção sermos ensinados, como somos em Romanos 1 e 5, sobre as glórias morais que devem ser descobertas nesta preciosa doutrina de fé. De maneira agradecida, de fato, devemos ponderar tal instrução divina.

 

Esta doutrina, como ali vemos e conhecemos, expõe e humilha o homem completamente. Ela pressupõe que estamos mortos em pecados, deixados incuravelmente, irremediavelmente arruinados por nós mesmos e sob a lei. Mas, por outro lado, ela também nos assegura e nos dignifica. Dá ao pecador crente o direito claro e seguro de retornar a Deus; e, quando retorna, fala-lhe das dignidades e regozijos, das honras e dos privilégios que o aguardam naquele lugar rico e bendito.

 

E, além disso, é perfeita tanto naquilo que nos nega, como naquilo que nos confere. Exclui de nós a “vangloria”, enquanto nos torna “justiça de Deus” e “filhos”, e nos dá paz, graça e gozo, interesse eterno na morte de Cristo passada, na Sua vida presente e na Sua glória vindoura, da qual agora nos dá a esperança segura, com a posse do amor de Deus em sua plenitude incomensurável.

 

Essas coisas são o que esta doutrina de fé faz por nós – como aprendemos nestes capítulos maravilhosos, Romanos 1 a 5. E o que pode ser mais bendito do que este princípio de fé, e a justificação por ele, quando assegura ao pecador tais condições e resultados como estes?

 

Quanto a Deus, é isso que O manifesta e, assim, O glorifica além de tudo. Esse maravilhoso mistério, que é chamado evangelho, as boas novas de Deus, apresenta Deus a toda a Sua criação nas mais elevadas formas de glória moral. Manifesta-O na plenitude da graça e da justiça combinadas, como Justo e, ainda assim, um Justificador. Apresenta-O como o Fazedor de toda a obra e o Herdeiro de toda a glória. Também O coloca igualmente diante de todos os homens, Judeus e gentios. “É porventura Deus somente dos Judeus?”, o evangelho pergunta; e ele responde: “não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente”.

 

Estas são consequências benditas desta doutrina ou princípio de fé, no que diz respeito a Deus.

 

E, além disso, como estes capítulos também nos permitem aprender, ela estabelece a lei. Este é outro belo fruto e consequência da doutrina de fé. Pois o evangelho (e é com o evangelho que a fé tem a ver) manifesta a lei como magnificada e honrosa, havendo a pena máxima da sua transgressão sido suportada por Aquele a Quem o evangelho prega a nós.

 

Certamente podemos então dizer: Bem pode aquela grande e divina Epístola começar dizendo que é a obediência da fé que agora é exigida de todos os homens por Deus, para a glória de Seu próprio nome.

 

Na Epístola do mesmo apóstolo aos Gálatas, ele nos faz perceber, como se estivesse em sua própria pessoa, que a “justificação pela fé”, que ele ali defende, não é um mero dogma ou proposição que pode exercitar o intelecto ou fornecer um tema para a mente discorrer, como nas escolas. Ele nos deixa saber que ele mesmo provou que se trata de uma verdade cheia de vida e poder.

 

E há esta diferença, entre outras, entre estas duas Epístolas. Em Romanos, temos esta doutrina proposta em sua glória moral, insistida, ensinada e provada, com suas implicações para a glória de Deus e para a condição do pecador crente – como vimos. Em Gálatas, o apóstolo se mostra a nós em conexão com esta doutrina. Ele a vive, em vez de ensiná-la ou prová-la – embora também o faça. Ele a defende contra os contradizentes, e não simplesmente a propõe aos pecadores – e, em fervor de espírito, ele é guiado por Deus para nos dizer como esta doutrina, este princípio de fé, ilustrou sua virtude em sua própria pessoa, e também em relacionamentos variados, como para com as criaturas ao seu redor, como para com os contradizentes, como na própria presença de Deus e como em conexão com este presente século (mundo) mau.

 

Quanto à criatura, aquela possessão bendita, pessoal e imediata de Deus, que esta doutrina ou princípio de fé lhe havia concedido, ela tornou Paulo independente. Ele podia ir para a Arábia. Podia virar as costas para Jerusalém e tudo o que ali havia para acolhê-lo e revigorá-lo, e contemplar a solitude do deserto (cap. 1).

 

Quanto aos opositores, isso o tornou tão ousado quanto um leão, não se intimidando nem mesmo pela presença de um Pedro, que, naquele momento, mais do que qualquer outro homem, tinha todos os títulos na carne (cap. 2).

 

Como na presença de Deus, isso o tornou livre e feliz, respirando ali o espírito de adoção e conhecendo a liberdade de alguém aceito como no Amado (cap. 4).

 

Como em conexão com este presente século mau, isso lhe deu vitória sobre ele. Ele foi crucificado para ele, e este para ele (cap. 6).

 

Estas são algumas das reflexões da doutrina da justiça divina, ou justificação pela fé, na alma deste querido apóstolo. Não era a mera possessão intelectual de um dogma que poderia fazer essas coisas pela alma. Esta doutrina implica a restauração a Deus, a restauração pessoal e imediata. Adão, pelo pecado, O perdeu; o pecador, através de fé, O recupera. É a fonte da esperança e do amor – como ele nos diz nesta mesma Epístola (cap. 5:5-6). Não é uma mera proposição escolástica[1]. A justificação pela fé é a religião de um pecador em confiança pessoal e imediata em Deus.

[1] N. do T:. Escolástica ou filosofia escolástica é um método que se atreve a conciliar a fé Cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. 

 

Nesta mesma Epístola, o apóstolo, sob o Espírito Santo, protege esta verdade contra todos os transgressores, sejam eles tão augustos e cheios de autoridade quanto você desejar; sejam, por assim dizer, os principais na criação, como os anjos, os principais no ofício, como os apóstolos, ou os principais nos caminhos de Deus, como a lei (cap. 1:8; 2:11-21; 4:19-31). Os anjos devem ser anátemas se contestarem esta verdade. Pedro será confrontado na cara, sem poupá-lo, se ele a obscurecer. A lei, que foi a própria voz de Deus em seu tempo e lugar, deve se silenciar quando esta verdade se proclama a si mesma.

 

Esta verdade, o evangelho de Deus, traz-me uma mensagem sobre mim mesmo, eu acrescentaria aqui, bem como sobre Deus. Fala-me tanto do pecado quanto da salvação. Diz-me que o mundo inteiro está em estado de revolta e rebelião, e que eu mesmo sou um pecador que se destruíra a si mesmo. Se eu receber uma mensagem como essa, a convicção e as afeições que acompanham essa convicção serão despertadas em mim. Tão naturalmente a alma se ocupará com elas, quanto com a paz, a segurança e o gozo que a mensagem da salvação inspirará. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”, foi dito a um pecador assustado. A samaritana foi convencida pelo Senhor como pecadora, antes que Ele Se revelasse a ela como Salvador. O evangelho fala de juízo e de paz – mas coloca o juízo à porta de todos, a paz na consciência daqueles que são despertados.

 

A justificação pela fé nunca é tratada como uma mera proposição escolástica. De fato, não é. É a religião da confiança pessoal e imediata de um pecador convicto em Deus, e isso também desfrutado sob um título que o próprio Deus, por assim dizer, escreveu para ele. Podemos ver a riqueza daquele lugar, para o qual (de acordo com esta mesma Epístola aos Gálatas) ela traz o pecador. Ela o traz para a família de Deus, tornando-o um filho. Ela o traz para a esperança ou perspectiva de glória como sua herança. E ali, nesses lugares ricos, ela o ensina a respirar o ar da liberdade e do amor (Gálatas 3:26; 5:1, 5-6).

 

A grandeza moral deste dogma (pois podemos chamá-lo assim) é, em todos os sentidos, maravilhosa. A justificação pela fé está infinitamente distante de simplesmente nos deixar liberados do julgamento ou escapados da maldição. Tampouco é o ser trazido de volta a Deus em meio à dúvida e ao medo. É um retorno pleno a Ele, um retorno completo, uma restauração a algo mais do que o belo estado que Adão perdeu pela transgressão, um estado de tranquilidade e segurança insuspeita. Não seria redenção se não nos desse o estado, em todas as suas ricas qualidades, que perdemos pelo pecado. Ela nos dá mais do que isso, eu sei. Mas deve nos dar isso, pelo menos, para ser o que é: redenção. Isso já foi observado por outros há muito tempo; e deve ser assim.

 

A fé coloca a alma perto de Deus e com Ele. Ela faz do próprio Deus a grande circunstância em nossa condição. Abandonar a religião de fé é afastar-se de Deus. As coisas intermediárias desaparecem, tudo o que interveio foi descartado, quando a fé entra. A mesma Epístola ensina essas coisas (Gálatas 1:6; 3:25; 4:9).

 

E mais. Ao tratar deste grande dogma, o apóstolo nos mostra como ele assegura as reivindicações de santidade.

 

Ele ensina que a redenção de debaixo da lei se dá somente pela morte de Cristo; e que não temos direito algum de nos libertar daquele velho marido, exceto pela união com Aquele que ressuscitou dentre os mortos, o novo Marido; e por essa união, o fruto é produzido para Deus. Esta é a religião de fé e, dessa maneira, é a fonte e a segurança da santidade (Rm 7).

 

Assim também, em Gálatas. O mesmo apóstolo ensina que a pregação da fé é o recebimento do Espírito; e andar no Espírito é não satisfazer as concupiscências da carne (caps. 3:1-5; 5:16-18).

As Manhãs das Escrituras

 

No curso da Escritura, temos várias estações inaugurais, como posso me expressar, ou manhãs.

 

A Criação foi uma – mas isso é claro. Aquele foi o dia do nascimento das obras de Deus – a manhã do tempo. E quando, naquela época, foram lançados os fundamentos, “estrelas da alva [manhã – TB] juntas alegremente cantavam”, como lemos no Livro de Jó.

 

O Êxodo foi mais uma dessas manhãs. Israel, como nação, havia nascido, ou estava em sua primeira infância. “Quando Israel era menino [criança – JND], Eu o amei; e do Egito chamei a Meu filho”, diz o Senhor por meio do profeta Oseias. O ano começou de novo então, como se tivesse nascido de novo. O mês do Êxodo tornou-se o princípio dos meses. Vida dentre os mortos, uma manhã de ressurreição, foi celebrada no cântico de Moisés e da congregação às margens do Mar Vermelho.

 

O nascimento do Senhor Jesus foi outra. Esse evento surgiu sobre o mundo como a luz da manhã. Uma noite muito longa e sombria a precedeu. Israel era um cativo e estava no pó. Não havia sinais. A voz do último dos profetas havia permanecido em silêncio por séculos. Nenhum Urim ou Tumim, nenhum éfode do sacerdote, estava transmitindo oráculos ou respostas vindas de Deus. Nenhuma glória enchia o templo. Nada distinguia a cidade da paz, o assento favorecido de Deus na Terra, exceto de vez em quando o anjo agitando as águas de Betesda, quando pouco esperado e quase que não acolhido. Mas o nascimento do Senhor Jesus, como a manhã, despertou a criação; e as luzes de muitos outros dias irromperam juntas, para dizer que a longa e escura noite finalmente dera lugar a uma manhã muito brilhante e alegre. Os céus se regozijaram, como os filhos de Deus na criação. Anjos, outrora tão conhecidos em Israel, reapareceram. A graça que agira nos dias inaugurais e patriarcais, novamente se manifestou. Promessas a Abraão e a Davi, que antecipavam o novo nascimento do povo e do reino, são citadas e repetidas. Tudo isso é visto nesta grande ocasião, nesta fresca hora matinal no progresso dos caminhos de Deus. E o Menino nascido em Belém é acolhido pelo vidente de Deus como “a aurora lá do alto” (TB), o nascer do sol ou a manhã. (veja Lucas 1-2).

 

A ressurreição do Senhor foi mais uma dessas manhãs. Ela surgiu depois da noite mais sombria que já pairou sobre a face da criação.

 

Mas era luz, e luz de fato. Era a promessa, o prenúncio de um dia eterno. Era a transformação da sombra da morte em manhã. “Quando já despontava o primeiro dia da semana”, quando este grande mistério se revelou – como lemos em Mateus 28.

 

O reino será mais uma dessas manhãs. Será o dia depois da noite, o dia de Cristo depois da noite do pecado e da morte, o mundo de Cristo depois do mundo dos homens. “Haverá um Justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus. E será como a luz da manhã, quando sai o Sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra”. Isto está escrito sobre este reino vindouro (2 Samuel 23).

 

O novo céu e a nova Terra será outra. Será a criação em seu segundo nascimento. “E vi um novo céu, e uma nova terra”, diz o profeta, “Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram”. É chamado de a morada da justiça, o cenário onde “Deus será tudo em todos”.

 

É doce ver manhã após manhã surgindo assim, à medida que passamos pelas eras que a Escritura assinala.

 

Mas temos outra visão a contemplar. O homem tem repetidamente transformado a manhã de Deus em sombra da morte. A criação, que surgiu de Deus tão bela e cheia de gozo, rapidamente se transformou num deserto de espinhos e cardos. O solo foi amaldiçoado, pois, em sua hora matinal, havia testemunhado o gozo do Senhor e a bênção do Senhor sobre ela. Israel, que cantou seu cântico de ressurreição às margens do Mar Vermelho, tornou-se cativo nas masmorras da Babilônia, e a terra da glória foi deixada devastada e desolada sob os pés de opressores incircuncisos. O Sol que na manhã de Belém nasceu como a Luz do mundo, e sobre Israel como a promessa de um dia renovado, teve seu poente na noite do Calvário – pois o homem era pecador e O rejeitou. O mesmo bendito Jesus que ressuscitou sobre o mundo e sobre Israel como Vida dentre os mortos, trazendo-nos luz e vida para a eternidade com Ele, agora tem que ver as sombras minguantes e evanescentes do entardecer da Cristandade, que em breve se encerrarão na meia-noite dos juízos apocalípticos. O reino que há de irromper como a luz de “uma manhã sem nuvens” encerrar-se-á na grande apostasia de Gogue e Magogue, no julgamento da morte e do inferno, e de todos os que não estão escritos no livro da vida, e na fuga dos céus e da Terra da face d’Aquele que Se assenta no grande trono branco. A manhã, porém, do novo céu e da nova Terra, Deus manterá para sempre em sua beleza e frescor originais. Não haverá sombras do entardecer da corrupção e revolta do homem, nem noite de julgamento em sua história. Será mantido como o único dia eterno, cujo Sol jamais se porá.

 

Que visões são estas que se passam diante de nós em visão! O bendito Deus começa repetidamente a lançar Seus fundamentos, como no frescor da manhã, e o homem repetidamente transforma Sua manhã em sombra da morte. Mas Deus não pode habitar nas trevas. Ele não é o Deus dos mortos, mas dos vivos; e, portanto, embora o homem não possa se juntar a Ele na manutenção da luz, mas mergulhar toda a cena nas trevas repetidamente, Ele mesmo realizará Sua própria glória e assegurará Seu próprio gozo, e tendo, no princípio, evocado a luz das trevas na hora da manhã da primeira criação, manterá em eterna beleza a manhã da segunda criação.

 

J. G. Bellett

 

1 comentário


Locna Broa
Locna Broa
09 de set.

Experimentei vários sites de caça-níqueis, mas no Brasil o brazil 777 casino foi o que me deixou mais à vontade. A interface é simples, as máquinas funcionam bem e os bônus são bons. Não gasto muito, mas gosto de ter essa opção quando quero me divertir um pouco depois de um longo dia. Então, boa sorte, amigos!

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