Meditações sobre o Apocalipse - Parte 2/2
- J. G. Bellett (1795-1864)

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ÍNDICE
Meditações sobre o Apocalipse
A Revelação de Jesus
Parte 2/2
J. G. Bellett
Apocalipse 6-19
Mas o dia da vingança está unido ao ano dos redimidos (veja Isaías 63:4; 34:8; 61:2); e, consequentemente, a redenção da herança é conduzida por meio de juízos de vingança contra os inimigos do Herdeiro dela, seus usurpadores e corruptores, de modo que, daqui em diante neste livro (até que a herança seja redimida, até que o reino seja introduzido), é o juízo que está prosseguindo (Apocalipse 6-19). Podem ser selos que são abertos, trombetas que são tocadas ou taças que são derramadas, mas tudo prepara a herança para o Cordeiro da Igreja. Tudo é ação para a redenção dela e para trazê-la às mãos d’Aquele em cujas mãos o título de propriedade dela, como vimos, já foi transferido. E, de acordo com isso, ao iniciar esta ação, Ele recebe tanto um arco quanto uma coroa; Um significava que Ele estava indo julgar e guerrear, a outra que essa guerra terminaria no reino. Como Lhe foi dito em outra passagem da Escritura: “Cinge a Tua espada à Tua coxa, ó valente”, e então: “O Teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo” (Salmo 45).
Assim, daqui em diante, este livro é um livro de juízos, como tem sido até agora, apenas juízos com outro objetivo: não o dos castiçais, mas o da Terra e de seus corruptores. O juízo havia começado na casa de Deus e agora termina com aqueles que não quiseram obedecer ao evangelho. Um inimigo pode surgir após o outro: a besta, o falso profeta, o dragão, a grande prostituta ou os reis da Terra, mas é apenas para que cada um, em seu tempo, encontre o juízo do Senhor. Portanto, haverá tristeza após tristeza – A mulher talvez tenha que fugir para o deserto – o remanescente de sua semente sentirá a fúria do dragão, e aqueles que se recusarem a receber a marca da besta conhecerão e exercerão a paciência dos santos, e as duas testemunhas jazerão mortas na rua da grande cidade; mas toda essa tristeza está apenas conduzindo ao descanso do reino, ou à descida da Cidade de ouro. A herança é assim redimida das mãos de seus corruptores por juízos, e então as nações justas que guardaram a verdade entrarão. Mas em toda essa ação, eu julgo, a Igreja não tem lugar; os santos foram levados antes para encontrar seu Senhor nos ares antes que tudo comece. Esta cena é de juízo, e eles foram removidos, como Enoque, para outro lugar completamente diferente. E agora gostaria de apresentar algumas razões sobre as quais baseio essa conclusão, como fiz antes para minhas conclusões sobre o caráter do livro selado.
Primeiro. Os santos são vistos ao redor do trono no céu; ou, como já observei, em Apocalipse 4, e ao longo de todo o livro a partir daí, eles nunca são vistos senão ali; e isso me leva a concluir que a Igreja foi removida da Terra em algum momento não declarado, entre o tempo dos capítulos 3 e 4, como já mencionei.
Segundo. No início desta ação, Apocalipse 6, são dados os mesmos sinais que o próprio Senhor havia dado anteriormente ao seu remanescente Judeu (Mateus 24) a respeito do fim do mundo; e, como a Igreja não é contemplada em toda aquela profecia, também julgo que ela não é contemplada aqui, mas que são os fiéis Judeus eleitos que estão envolvidos nesta ação, visto que somente eles são considerados naquela profecia.
Terceiro. Os julgamentos começam com Apocalipse 6, mas assim como Josué, na antiguidade, não iniciou suas guerras até que a redenção e a disciplina do povo fossem concluídas e eles fossem retirados do deserto, assim também, julgo eu, a ação do capítulo 6 não começará até que o arrebatamento dos santos, que encerra a disciplina da Igreja e a retira do deserto, esteja concluído.
Quarto. É uma cena de juízo, como já observei, e a vocação da Igreja é a de Enoque, para ser tirada dela, e não como Noé, preservado nela (veja 1 Tessalonicenses 4 e 2 Tessalonicenses 2).
Com base nessas considerações, concluo que a Igreja não está envolvida na cena que agora se apresenta diante de nós. Ela foi levada para sua herança mais imediata, que está nos céus (1 Pedro 1:4), que para ela é a travessia do Jordão, antes que comecem esses juízos sobre os corruptores da Terra – os amorreus místicos de Canaã. Essas cenas são as guerras do nosso Josué – um remanescente como Raabe é libertado do lugar contaminado depois que as guerras começam; mas os santos já passaram para a sua herança, embora a totalidade dela ainda não tenha sido subjugada; e ao longo destes capítulos (6-19) eles aguardam na casa do Pai por ela. Mas não observo particularmente estes capítulos; na verdade, não creio que sejamos competentes para falar deles com autoridade. Podemos extrair deles muitas advertências e exortações, que devemos guardar profundamente em nosso coração como sendo aquilo que o Senhor continuamente nos diria, para que possamos permanecer firmes em qualquer dia mau que possa surgir, pois ele pode surgir, para nos provar e nos peneirar a qualquer momento. Mas das cenas e si eu não falaria com autoridade. Nelas o Senhor está vestido de zelo como de um manto, estando o dia da vingança em Seu coração, e tendo chegado o ano dos Seus redimidos, e assim Ele prossegue adiante na grandeza da Sua força até Se assentar no Seu reino como o Leão de Judá. O verdadeiro dia de Jericó, e de Ai, do vale de Ajalom e das águas de Merom, são aqui travados até que a Terra descanse da guerra e o povo do Senhor habite novamente em morada segura e tranquila. (Este livro exibe a mesma união que Isaías 63:4, pois apresenta, como julgo, o dia da vingança e também o ano dos redimidos, ou o resgate do verdadeiro Israel.
Apocalipse 20-22
Por mais sombrio que o caminho possa ser, este é o seu fim, o fim ao qual chegamos neste livro.
A ação foi o juízo dos corruptores da Terra, e seu resultado é a santa ocupação dela pelo Senhor e Seus santos. Os caminhos do nosso Josué terminam em vitória e no reino. O arco conduziu à coroa (Apocalipse 20:1-6). “E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar”
Mas antes de me apressar assim para abordar o resultado de toda essa ação, gostaria de observar que, no próprio desenrolar dessa ação, vemos, creio eu, a libertação do remanescente Judeu do meio tanto da corrupção quanto do juízo. Alguns deles sofrem pela justiça até a morte e, então, ascendem ao céu para tomar seu lugar no mar de vidro diante do trono; e outros são escondidos como numa cidade de refúgio em meio à tristeza, selados ou medidos para a derradeira segurança e um lugar na Terra, ou escabelo do real Filho do Homem. Mas, de ambas as maneiras, eles são separados da corrupção e dos juízos ao seu redor e, após o início das guerras de nosso Josué, como Raabe, eles estão seguros no Senhor, a Quem reconhecem em meio à nação apóstata. E vejo também, no desenrolar dessa ação, a alegria ocasional da família no céu (veja capítulos 5, 7, 11, 14, 15, 19). O céu é, certamente, um lugar de alegria contínua. Ali os santos não têm mais fome, nem sede, pois o Cordeiro os apascenta e os refrigera para sempre. Mas ainda assim podem ser sensíveis a tempos e ocasiões de arrebatamento, e isso parece ser sugerido a nós nessas passagens. As alegrias da família celestial e seus cânticos são, de tempos em tempos, despertados novamente quando alguma nova manifestação de graça ou alguma nova perspectiva de glória se abre diante deles. Assim como aconteceu com as hostes celestiais antes, pois quando os fundamentos foram lançados, eles cantaram juntos novamente e, ainda mais alto do que antes, bradaram de alegria.
E aqui posso observar ainda que, no decorrer deste livro, a Igreja parece ter ensinado aos anjos uma alegria ainda mais elevada. Na epístola aos Efésios, aprendemos que a Igreja estava ensinando aos poderes celestiais uma lição da sabedoria de Deus (Ef 3:10); mas aqui vemos os anjos praticando, por assim dizer, as lições que haviam aprendido anteriormente. A Igreja lidera a alegria, e então os anjos a acompanham, seguindo as criaturas viventes e os anciãos coroados em seu louvor (Ap 5). E novamente, quando os redimidos celebram a “salvação”, em Apocalipse 7, eles, por terem aprendido a lição, dizem “Amém”.
Isso é o que eu observaria sobre a ação destes capítulos, mas, quanto aos seus conteúdos, não poderia falar com qualquer certeza de juízo. Mas tudo termina no reino, como tenho observado. A prisão de Satanás no abismo, relacionada com a derrota da besta e do falso profeta, pode ser chamada de o juízo da manhã (o juízo dos vivos), inaugurando, como fará, o dia milenar, ou o reino. Então, ao final desse dia, Satanás sendo solto do abismo para causar a última maldade no mundo, o grande trono branco é erguido, diante do qual procede o juízo da noite (o juízo dos mortos), encerrando, como fará, o dia milenar, ou o reino.
E, quando o dia do Senhor estiver terminado, o reino será entregue, e os novos céus e a nova Terra aparecerão, a Igreja trocando o reino por Deus tudo em todos, ou seu gozo milenar por seu gozo eterno, e Satanás trocando o abismo, pelo lago de fogo, ou sua condenação milenar por sua condenação eterna. Como alguém observou: “O herdeiro e a herança terão então ascendido em caráter. O Segundo Homem, ou o corpo glorificado, excederá o primeiro homem, ou o corpo terrenal, e assim os novos céus e a nova Terra excederão em glória e gozo o paraíso da criação.”
De tudo isso o profeta teve uma visão passageira, e então ele é chamado para outra visão. Ele já havia visto a Noiva preparada no céu (Ap 19), e agora ele é chamado para vê-la descer do céu (Ap 21:2-8), e em breve será chamado para vê-la já tendo descido do céu (Ap 21:9). Mas agora, enquanto descia, e ele a contemplava, uma voz acompanhou a descida, dizendo: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”. E, depois que essa voz se calou, Aquele que estava assentado sobre o trono disse: “Eis que faço novas todas as coisas”.
E, tendo assim falado, Ele dirigiu-Se a João, confirmando tudo o que João ouvira e dando-lhe a saber que, quando isso acontecesse, tudo estaria cumprido, acrescentando, além disso, tais advertências e encorajamentos que poderiam ser ouvidos por todos, desde aquele momento até o fim, sendo proferidos pelo Senhor na consciência da solene autoridade que o fim confere a todas as coisas, como de fato está escrito: “Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32:29). Assim, essa visão da cidade que descia, e essa escuta das vozes do céu e do trono, passam, e o nosso profeta foi levado a um grande e alto monte para que pudesse ver a própria cidade, a Noiva, a esposa do Cordeiro (veja Apocalipse 21:9; 22:6).
Um daqueles anjos que antes carregaram as sete últimas pragas é agora o guia de João, e em sua presença ele mede a cidade, e, sendo isso um sinal de segurança (Ap 11:1-2), ele nos dá, por meio disso, a garantia de que não há qualquer agente de destruição contra ela, mas que a própria mão que pode afligir a Terra protegerá a Igreja. A Igreja, como o castiçal, pode ser despedaçada, mas como a esposa do Cordeiro, ela viverá. Esta cidade dourada é esta Noiva do Cordeiro – a Igreja de Deus agora manifestada em sua perfeição. Ela tem comprimento, largura e altura iguais, com doze fundamentos e doze portas, seu muro grande e alto, e sua rua de ouro puro. Tudo isso é variado, porém brilhante e precioso, expressando-a como aquela que é perfeita em santa beleza. E ela não é apenas perfeita em si mesma, mas possui suas dignidades, bem como suas belezas; ela é a habitação da glória de Deus, o lugar do trono, um santuário também, bem como um palácio, tendo uma presença dentro dela que faz de toda a cena um templo. Assim, ela é a morada adequada para reis e sacerdotes; e sendo assim em si mesma a bela, e trazendo consigo esta honra do sacerdócio real, tudo o que sai dela, ou entra nela, e ali habita, está de acordo com essas coisas. Luz é derramada dela para que as nações possam caminhar nela. Água do rio da vida flui dela, trazendo folhas consigo, para que as nações sejam curadas por meio dela; E tudo o que entra é pureza, e todos os que nela habitam estão em regozijo e dignidade, não precisando de lâmpadas, nem mesmo da luz do Sol, e estando na dignidade consciente de seu reino eterno. Tal é a cidade de nosso Deus. Nada pode tocar tal habitação de santidade, alegria e glória, senão a própria honra dos reis da Terra. Eles podem trazer sua glória e honra para dentro dela, mas nada menos que isso pode se aproximar. Tudo é, portanto, puro e brilhante dentro e ao redor dela, e ela emana torrentes de luz e vida para que todos se alegrem e a abençoem. Esta é a manifestação da Igreja. Nesta dispensação presente, a Igreja está apenas se formando como Eva para Adão; mas quando chegar o tempo do reino, e Adão despertar, então Sua Eva lhe será apresentada, a companheira de Sua alegria e reino; os santos serão mostrados todos perfeitamente reunidos, a Igreja apresentada a Ele mesmo, uma Igreja gloriosa, sem mácula como aqui, no lugar de bênção e governo.
Certamente tudo isso é belo, como tudo o que vem de nosso Deus em seu devido tempo. A encarnação e o ministério do Senhor foram a manifestação do Pai e do Filho; a era presente é a manifestação do Espírito Santo; e a era vindoura, para a qual esta visão da cidade dourada nos introduz, será a manifestação da Igreja. Pois tudo é perfeição no caminho da sabedoria de Deus, assim como nos caminhos do Seu amor. Ele nos revela um segredo após o outro, trazendo cada um de Seus tesouros no tempo certo,. “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!” Mas isso apenas enquanto caminhamos, amados; pois em breve Ele mesmo nos tomará para Si para sempre.
Eu estava analisando as características daquela cidade santa que agora nos foi revelada, e observando que tudo nela nos indica que ela é o símbolo da Igreja em sua perfeição e manifestação de glória, ou dos santos em seu domínio e honra. E, em relação a isto, gostaria de voltar à diferença entre o Evangelho e o Apocalipse de João. O Evangelho termina levando os filhos para a casa do Pai, ou escondendo-os no céu; o Apocalipse, conduzindo-os desde o céu para o lugar de domínio sobre a Terra, ou manifestando-os como a Igreja de Deus na cidade dourada. Não são as moradas na casa do Pai que temos para contemplar no final do Apocalipse, mas o lugar do santuário e do palácio, a residência dos reis e sacerdotes para Deus. Não são os filhos em seu lar, mas os santos em sua glória que vemos. E tudo isso está em plena consonância com o caráter da obra, pois o evangelho de João sempre tem preparado os filhos para o Pai, mas esta Revelação por meio dele tem preparado a herança e a glória para os santos. É mais uma etapa na história da família celestial. Não se trata de terem deixado a alegria das moradas pela casa do Pai, que o Senhor agora foi preparar para eles (João 14:2), mas sim de receberem também a glória da herança, e é isso que nos é apresentado aqui. E este dia da descida da cidade dourada é o dia prometido do poder, o dia do fechamento da influência do inferno sobre a Terra com a prisão de Satanás no abismo, e da abertura da influência do céu sobre a Terra com esta descida da cidade de Deus; o estabelecimento daquela escada mística pela qual os anjos de Deus passarão do céu para a Terra e de volta ao céu.
E o trono de Deus visto nesta cidade tem um novo atributo. No princípio, era o trono de Deus, e o Cordeiro apenas se aproximava para tomar o livro selado da mão d’Aquele que ali estava assentado. Mas agora o Cordeiro ascendeu a ele. Agora é “o trono de Deus e do Cordeiro”. Ele subiu ao monte do Senhor e agora está em Seu lugar santo. Pois toda a ação do livro foi preparar o trono para o Cordeiro, assim como preparou a cidade dourada para os santos.
Tais são os resultados agora revelados, e assim a ação, a meu ver, interpreta o resultado, e o resultado confirma o caráter da ação. Tudo é harmonia neste maravilhoso livro. A ação não foi a do Filho no alto preparando as moradas celestiais para os filhos, nem a do Espírito Santo aqui preparando os filhos para as moradas; mas foi o Senhor (ou Deus no lugar supremo para Ele) vindo no poder de um julgamento após o outro para fazer de Seus inimigos o estrado de Seus pés, e então erguer Seu reino e conduzir Seus santos a ele. Observei em toda a sua santa ordem e justa autoridade, que é a Igreja como uma cidade dourada que temos, o símbolo da justiça e do poder unidos. A Igreja com o Cordeiro entronizado descendo do céu para Se associar à Terra, governando-a e, ainda assim, abençoando-a, presidindo sobre ela em justiça, e ainda dispensando-lhe a água da vida e a luz da glória, das próprias fontes das quais ela agora se tornou o cenário e a morada.
Conclusão
Assim termina a segunda parte deste livro do juízo. Através das terríveis tribulações dos selos, das trombetas e das taças, fomos conduzidos à bênção da Terra, sob a vida e a luz que estavam na cidade dourada, onde está o trono de Deus e do Cordeiro. E assim como tínhamos um prefácio para o livro, agora temos uma conclusão (Ap 22:6-21).
Aqui, primeiro ouvimos o anjo que acompanhou João, atestando a plena veracidade de tudo o que havia acontecido, e depois ouvimos o Senhor prometendo Sua breve vinda e abençoando (como no prefácio) aqueles que usarem o livro retamente. Descobrimos então que ouvir e ver essas coisas excelentes impactou de tal forma a mente de João, que ele se prostra e adora o anjo, como de fato já havia feito antes (Ap 19:10). Mas, em ambas as ocasiões, ele estava recebendo visões arrebatadoras. No capítulo 19, ele acabara de ver as bodas do Cordeiro no céu, e agora a cidade dourada em sua glória e beleza, e seus afetos intensos e dominados, despertados por tais visões, devem explicar essas adorações ao anjo. Mas o anjo o repreende, assim como Pedro repreendeu Cornélio em caso semelhante, e então o instrui em um ponto específico referente a este livro, que é notavelmente diferente das instruções dadas ao profeta Judeu em ocasião similar (Daniel 8:26; 12:4-9). Daniel tinha visto e ouvido maravilhas, mas foi instruído a selá-las até o tempo do fim, porque a visão ainda era para muitos dias; mas aqui, nosso profeta é instruído a publicar essas coisas que havia visto e ouvido, porque o tempo não aguardava mais, mas estava próximo.
Isso demonstra a mente do Espírito de maneira tão diferente no profeta Judeu e no profeta que estava presente em nossa dispensação, dirigindo-se aos santos em João. Pois, embora eventos pudessem ter que ocorrer nos pensamentos de Israel antes que o reino pudesse vir, a Igreja pode aguardar por seu Senhor em todos os momentos, e, portanto, o Senhor imediatamente irrompe aqui com um anúncio de Sua vinda iminente, e isso também, com as recompensas da justiça, e revelando-Se novamente, como fizera no princípio, em Seu lugar supremo como o Alfa e o Ômega.
Depois disso, o anjo assistente retorna ao seu tema próprio, prometendo uma bênção de justiça àqueles que obedecem e afastando todos os que praticam o mal; pois esse é o tema do livro – um livro que não diz: “Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos”, mas pronuncia bênção sobre o justo e condenação sobre todos os malfeitores. Pois não é um livro de graça ministrada, mas de extrema justiça; não encontramos nele empatias ou consolações, mas juízos. É o lugar de Ezequiel que o Senhor ocupa aqui, assim como Ele havia ocupado antes o de Jeremias no evangelho. No evangelho, ou em Seu ministério pelas cidades e aldeias da Terra, Ele era o Profeta que Se entristecia e Se compadecia, de modo que alguns diziam que Ele era “Jeremias”; mas aqui Ele Se apresenta como o Filho do Homem, como Ezequiel no lugar do juízo, dizendo em espírito: “Quem ouvir ouça, e quem deixar de ouvir, deixe” (Ez 3:27) e “continue o imundo ainda sendo imundo... e o santo continue a santificar-se”. Não havia lágrima nos olhos de Ezequiel, embora rios de água corressem pelo rosto de Jeremias.
Tudo é tão perfeito em seu tempo. O Senhor conhecia as empatias de Jeremias enquanto Ele caminhava pela terra e via as ruínas morais de Sião; e agora Ele pode conhecer a justiça de Ezequiel enquanto Se ergue acima de toda aquela ruína contaminada e separado de tudo isso, em juízo.
Mas ainda assim, mesmo depois de tudo isso, o próprio Jesus Se apresenta novamente e, havendo colocado o Seu selo sobre essas revelações e palavras do anjo, Ele Se mostra a Si mesmo aos Seus santos. Ele lança um olhar sobre eles em toda a majestade da Raiz e a Geração de Davi, e na formosura da Estrela da manhã, e no momento em que olha para eles assim, todo o desejo da Igreja é despertado e, dirigida pelo Espírito (cujo encargo é sempre apontar para Jesus), ela é impelida a convidá-Lo a vir; mas, uma vez assim, com seu desejo colocado em movimento, ela sai docemente em graça em direção aos outros, como em desejo por Ele, e depois de convidá-Lo a vir, a resplandecente Estrela da Manhã convida outros que “ouvem” a se unirem a ela nisso, e então aqueles que estavam “sedentos”, tendo alguma afeição recém-despertada por seu Senhor, são convidados a se aproximar da medida plena do desejo dela e, por fim, pela grandeza de seu coração, quem quer que fosse, em qualquer estado ou condição em que se encontrasse, é convidado a vir e beber das águas vivas com ela. Assim, a alma da Igreja foi divinamente movida para cima e ao seu redor. Mas isso foi uma interrupção do progresso mais ordenado do livro (como em Apocalipse 1:5-6) quando Jesus foi revelado. Mas devemos estar preparados para tais interrupções; não deveríamos esperar que o Senhor pudesse ser revelado sem que a Igreja fosse movida, como nesses trechos. O louvor deve enchê-la se a Sua graça for revelada, como ali (Apocalipse 1:6); o desejo deve movê-la, se a Sua Pessoa ou glória forem reveladas, como aqui (Apocalipse 22); e todos nós, amados, deveríamos estar cultivando esse anseio de coração por Ele que nos levará a participar ativamente de tais arrebatamentos do Espírito na Noiva como esses.
Mas isso foi interrupção e, portanto, quando ela termina, o Senhor retoma o tema mais próprio do livro e ameaça com pragas sobre aquele que injustamente acrescenta algo a ele, e com a perda da vida e da glória àquele que injustamente tira algo dele. Contudo, isso não deve encerrar tudo. “Certamente cedo venho” é ouvido novamente, palavras que já haviam irrompido do Senhor três vezes durante essa conclusão, pois Seu coração estava mais cheio disso do que de qualquer outro pensamento, e Ele iria encher o nosso com isso também. Tudo deveria se render a isso ou resultar nisso. O julgamento deve ser executado, mas o julgamento é Sua estranha obra. A aflição do justo deve ser enfrentada, mas Ele nunca aflige de bom grado. Tudo é imperfeito até que Jesus apareça; Seu próprio coração está nisso, e este é o último pensamento que Ele deixaria em nosso coração. E o santo responde: “Vem, Senhor Jesus”, para que o Senhor saiba que este é o desejo e a esperança de Seu povo, assim como é o Seu.
Aqui, Jesus, o Senhor, e Seu anjo ministrador encerram seus testemunhos. O apóstolo, então, por sua vez, despede-se dos santos, dizendo: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós”. No amor do Espírito, ele os recomenda àquilo que é sua única provisão no caminho, até que sua jornada termine.
Até que Ele venha, venha quando vier, trazendo Sua glória Consigo, eles devem permanecer em Sua graça; pois o Senhor dá ambas as coisas, e a graça conduz à glória.
O deserto está agora provando que Ele tem riquezas e reservas de graça para nós, e Canaã, provará em breve que Ele tem riquezas e reservas de glória para todos os que O amam neste mundo ingrato e mau.
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!”
J. G. Bellett



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