Breves Meditações - Parte 7/14
- J. G. Bellett (1795-1864)
- 12 de ago.
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ÍNDICE
Breve Meditações
Parte 7
J. G. Bellett
Fé
Falamos tanto de “fé” em conexão com a verdade Cristã, que é bom indagar com um pouco mais de cuidado o que a Escritura nos diz sobre isso, para que possamos estar um pouco mais familiarizados com aquilo sobre o qual falamos tão frequentemente e tão familiarmente.
A parte inicial da Epístola aos Romanos é a principal Escritura sobre este grande assunto – ou, pelo menos, sobre o tema da “fé” como primeiramente despertada no pecador. A vida de fé de um santo, como é bem conhecida entre nós, é ilustrada em Hebreus 11.
Logo no início de Romanos, aprendemos que é “a obediência da fé” que Deus agora busca no Evangelho. E se refletirmos um pouco sobre isso, seremos capazes de ver que a obediência que a fé presta é a mais elevada e deve ser a forma mais aceitável que a obediência pode assumir (veja cap. 1:5).
Se rendêssemos obediência a Deus como o Legislador, honraríamos a Sua autoridade; mas quando rendemos obediência a Ele, revelando-Se na graça e salvação do evangelho, honramos a Ele próprio.
Assim, embora seja a graça que está lidando conosco, a resposta que ela recebe produz, Àquele Bendito, uma glória mais rica do que Ele poderia ter recebido sob qualquer outro princípio. Ele é honrado como Salvador pela nossa fé; Ele teria sido honrado como Legislador pela nossa conformidade com cada jota e til dos Estatutos.
“Para a obediência da fé entre todas as gentes” (Rm 1:5); e então é acrescentado: “pelo Seu nome” – sugerindo como a Sua glória está envolvida nisso; como eu disse, a honra mais brilhante, mais querida e mais bem-vinda que o Seu nome poderia receber, ele recebe da fé de um pecador.
Em seguida, quanto à fé, aprendemos do que ela se apropria para si. E aqui aprendemos que, se Deus, pela fé, recebe de nós a Sua mais resplandecente glória, nós, pela fé, obtemos a mais alta dignidade de que uma criatura é capaz; isto é, “a justiça de Deus”. Nenhuma dignidade mais maravilhosa do que esta pode haver para uma criatura. E, no entanto, assim é com aqueles que têm a fé do Evangelho.
E em conexão com isso, aprendemos ainda mais qual é o Objeto que a fé apreende e ao Qual se apega, para assim obter a justiça divina. É “Jesus” e “Seu sangue” – como lemos no capítulo 3, versículo 22, “a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (veja também os versículos 25 e 26).
Sob o olhar da fé, Deus estabeleceu uma “propiciação”, um propiciatório. A fé no sangue de Cristo apreende isso. Ela vê Deus Justo e, ainda assim, um Justificador. É estar no Santo dos Santos e ver o propiciatório ali. Esse trono místico assentou-se sobre a lei. A lei, ou o testemunho, estava na arca, e o trono onde a glória habitava repousava sobre a arca. Assim, a lei a sustentava. E certamente assim era. Não seria o trono de Deus se o julgamento e a justiça não fossem mantidos ali. Mas o sangue está ali, assim como a lei. O sangue que rasgou o véu, que satisfez tudo o que o trono poderia ter exigido de um pecador, também está ali. A morte do Senhor Jesus consumou a reconciliação, no sentido de manter a justiça enquanto se responde pelo pecado; e assim, a fé que olha para cima vê “um propiciatório” (Rm 3:25 – JND) e, assim, possui a justiça divina.
A fé, portanto, se apodera de seu Objeto e se apropria dessa dignidade pessoal.
Quais são suas propriedades, suas virtudes, os fins e resultados para os quais opera, e é então que nos é dito: “A jactância? É excluída”.
Ela se dirige igualmente a todos, tanto ao mundo gentio em geral quanto ao Judeu. Deus em graça, Deus apreendido pela fé, obedecido pela fé, é o Deus de um como do outro.
A fé estabelece a lei, porque não recebe nada, exceto com base no que Cristo fez para magnificar a lei e torná-la honrosa.
Ela trata com graça.
Ela coloca o Deus bendito em ação e mantém a criatura como receptora.
Ela dá toda a glória a Deus.
Estes são os excelentes resultados e propriedades da fé, como nos são mostrados nos capítulos 3 e 4.
E depois disso, esta Epístola continua detalhando para nós as várias características dessa condição abençoada na qual nos encontramos pela fé.
E aqui eu poderia notar que a fé nos é mostrada como algo individual e pessoal. “É o poder de Deus para salvação”, diz o apóstolo do evangelho, “de todo aquele que crê” – “o justo (singular) viverá da fé” (cap. 1:16-17). E cada um, em sua própria personalidade individual, permanece pela fé nesta abençoada circunstância.
Ela nos dá paz plena e presente com Deus, embora sejamos pecadores;
Dá acesso a um estado de graça ou favor;
Ela nos coloca na esperança certa e segura da glória;
Ela apresenta uma razão pela qual devemos nos gloriar na tribulação;
Ela nos apresenta o amor perfeito em Deus;
Ela nos dá interesse na vida presente de Cristo, como em Sua morte consumada;
Ela revela o próprio Deus como uma fonte de alegria para nós.
Não é de admirar que a Escritura dê tanta importância à fé, visto que esses acima são seus modos de agir, suas virtudes, suas propriedades, o fim que alcança e as coisas que assegura. Tal religião deve ser divina. É o segredo e o princípio da confiança imediata e pessoal em Cristo, rejeitando os suportes da religiosidade humana ou carnal.
O Filho do Homem no Céu
A segunda carta de Lucas ao seu amigo Teófilo não retoma de maneira rígida e formal a narrativa inspirada exatamente de onde a primeira havia parado; há, ao contrário, um entrelaçamento ou envolvimento fácil e gracioso das duas: a segunda remonta um pouco às cenas e aos períodos que encerraram a primeira, conferindo-lhes o mesmo caráter geral com algumas tênues características distintivas. Mas cada uma dessas cartas, “o Evangelho segundo Lucas” e “os Atos dos Apóstolos”, tem, é claro, como não preciso dizer, seu próprio tema.
Nos primeiros capítulos dos “Atos dos Apóstolos”, e aos quais agora me dirijo por um instante, temos um relato de Jesus como o Homem glorificado nos céus; assim como nos primeiros capítulos do Evangelho de Lucas temos um relato do Deus manifestado em carne na Terra. Quer dizer, isso é característico, separadamente, de cada um deles. A Pessoa é, certamente, uma e a mesma em ambos: o Deus-Homem.
Aprendemos muitas coisas relacionadas ao Filho do Homem no céu com os evangelistas, onde esse mistério é antecipado de tempos em tempos. O próprio Senhor nos diz que Ele será visto lá pela fé durante toda esta era presente, assentado à direita do Poder; e que no devido tempo Ele surgirá de lá sobre as nuvens do céu (Mt 26:64). Ele também nos diz que, quando Ele surgir, Ele Se assentará no trono da Sua glória (Mt 25:31). Estas são apenas meras amostras da maneira como este grande mistério foi assim antecipado. Mas a Pessoa vista nos evangelistas é Deus manifestado em carne e, como tal, em ação na Terra. Nestes capítulos dos Atos, que sucede aos evangelistas, trata-se, por outro lado, do Homem glorificado no céu e agindo ali.
No capítulo 1, Jesus Nazareno, que era Deus manifestado em carne aqui, é visto ascendendo aos céus.
No capítulo 2, o Espírito prometido é concedido, e Pedro inicia sua pregação tomando esse dom, segundo a profecia de Joel, como seu texto. E, após citá-la, diz: “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, Homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; A Este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. E ele então mostra, a partir dos Salmos 16 e 110, que este Homem, assim aprovado por Deus na Terra, havia agora ressuscitado dentre os mortos e glorificado à destra de Deus no céu.
Assim se estabelece o mistério, o mistério do Filho do Homem, Jesus Nazareno, exaltado nos céus. Assim como os evangelistas já haviam contemplado Jesus enquanto Ele andava, ministrava, labutava e sofria aqui na Terra, agora, em sua pregação neste e nos capítulos seguintes, Pedro nos apresenta alguns dos caminhos e virtudes deste mesmo Jesus agora ascendido ao céu.
Assim, neste mesmo capítulo 2, com Joel ainda como texto, ele nos diz que Ele é o Deus mencionado naquela profecia, que agora enviou o Espírito. Segundo Joel, portanto, é o Deus de Israel Quem realiza esta grande maravilha pentecostal; segundo Pedro, é o Homem agora no céu que a realiza.
Esta é certamente uma maneira magnífica de começar a história das virtudes e glórias de Jesus Nazareno, agora glorificado nas alturas à destra de Deus; onde Pedro também O declara assentado, até que chegue o dia em que fará dos Seus inimigos o escabelo dos Seus pés, como o “Meu Senhor” do Salmo 110. E então, com a autoridade destas coisas, ele convoca toda a casa de Israel a reconhecer o Homem outrora crucificado como Senhor e Cristo. E quando vários dos seus ouvintes são despertados por esta pregação, ele lhes proclama a virtude do “nome” d’Este glorificado, que pode assegurar a vida eterna e o dom do Espírito a todos os pecadores que O recebem.
Então, no capítulo 3, o mesmo apóstolo nos conta várias outras grandes coisas sobre Jesus nos céus: que foi o Seu nome, pela fé nele, que tinha acabado de curar o mendigo coxo no porta do templo; que Ele era o Profeta prometido por Moisés em Deuteronômio 18; que os céus agora O estão retendo, mas que Ele os deixará novamente no devido tempo, e trará tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas, com Ele de volta à Terra.
Então, no capítulo 4, ele prega, por meio deste mesmo Jesus, “a ressurreição dentre os mortos” e proclama ainda que Ele era “a Cabeça da esquina”, segundo o Salmo 118, e o Único escolhido por Deus para a salvação neste mundo culpado. E, próximo ao final deste capítulo, ele e seus companheiros santos em Jerusalém apresentam o nome deste mesmo Jesus diante do Senhor Deus, o Criador do céu e da Terra, como toda a sua confiança e direito à bênção.
Então, no capítulo 5, Pedro e os outros apóstolos testificam diante do conselho Judaico que este mesmo Bendito a Quem eles mataram e penduraram num madeiro, Deus O exaltou com Sua destra para ser tanto Príncipe quanto Salvador, tudo de fato para Israel, seja para bênção ou governo.
Seguindo essas maneiras, no decorrer desta pregação, obtemos um amplo e variado testemunho do Homem no céu. Bem pode suceder o testemunho inefavelmente solene e bendito dos evangelistas sobre o Filho do Pai, Deus manifestado em carne, na Terra. Mas aqui, com este quinto capítulo, termina o testemunho apostólico sob o Espírito dado. Passamos dele para uma visão. Pois, depois de ouvir sobre o Homem glorificado, nos é dada, por um breve momento, uma visão d’Ele. Pedro O estava pregando, Estêvão agora O verá. Eles são igualmente testemunhas, embora de maneiras diferentes, do mesmo grande mistério: que o Filho do Homem estava no céu à destra de Deus. Estêvão é levado por homens ímpios para fora da cidade para ser apedrejado, enquanto seu rosto brilha como o de um anjo; e seus olhos se abrem, e ele olha para cima e para dentro de um céu aberto, e ali vê a glória de Deus, e Jesus, “o Filho do Homem”, em pé à destra de Deus.
Assim, o Homem no céu é testemunhado pelos olhos de Estêvão, assim como o fora pelos lábios de Pedro. O Espírito preenche um com uma história inspirada sobre Ele, e Deus abre os olhos do outro com uma visão gloriosa d’Ele. Mas o Objeto é o mesmo – o Homem glorificado, o Filho do Homem no céu, Jesus Nazareno à destra da Majestade nas alturas; Aquele que, tendo sido “Deus manifestado em carne” aqui, humilhado, servindo, crucificado, sepultado e ressuscitado, estava agora, em Sua Humanidade, exaltado ao mais elevado lugar de honra ali.
Uma coisa, porém, ainda permanece na revelação deste grande mistério. No capítulo 9, este Homem glorificado desce do céu e Se mostra, por um breve momento, aqui na Terra. Em glória santa e pacífica, e na atitude de alguém que estava recebendo-o para Si mesmo com um acolhimento bem-aventurado e perfeita, Ele acabara de ser visto por Seu santo sofredor, como em Seu devido lugar no céu. Mas agora, em extraordinária Majestade, no ardente resplendor da glória judicial, Ele é visto pelo perseguidor de Seu santo, aqui na Terra; Ele assim aparece como Aquele pronto e Todo-Poderoso para vingar o sangue de Seu rebanho abatido. A misericórdia, de fato, triunfa sobre o julgamento no caso presente, e o perseguidor se tornará uma testemunha e um apóstolo; mas a visão nos diz que o Homem no céu aguarda ali, como em outros caracteres, assim também neste, o Vingador, no devido tempo, das injustiças cometidas na Terra. Assim é, e isso é aqui prometido e prenunciado. Pois sabemos que Jesus ascendeu em vários caracteres. Ele ascendeu como ao Seu lugar de origem, à glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse; ascendeu para preparar moradas na casa do Pai para os eleitos; ascendeu como o Precursor deles; ascendeu para assentar-Se no tabernáculo construído por Deus como nosso Sumo Sacerdote; ascendeu como Autor e Consumador da fé e como o Purificador dos pecados; mas ascendeu também para tomar Seu lugar como Adonai à destra de Jeová, até que faça dos Seus inimigos o escabelo dos Seus pés. E este último caráter Ele deve retornar à Terra para cumprir, como agora Ele desce à estrada que ficava entre Jerusalém e Damasco para dar, por assim dizer, uma amostra disso, e para sentenciar à morte este perseguidor Saulo de Tarso.
Fragmento
Podemos caminhar de maneira a termos a nós mesmos na presença ou na companhia do Senhor.
Podemos agir de maneira a trazer nossos companheiros santos ou pecadores à Sua presença ou à Sua companhia.
Podemos estar vivendo de maneira a nos mantermos diante de nossos semelhantes ou companheiros.
O primeiro é o caminho de um adorador.
O segundo é a atividade de um verdadeiro servo.
O terceiro é fruto da vaidade e da falta de sinceridade, e certamente nos manterá inseguros, sem gozo e força, e se mostrará uma armadilha e também uma amargura no final.
Fragmento
Que possamos ter a Ele próprio, não apenas a Sua verdade. Pois há uma diferença, e pode haver uma distância entre ambos, como nos diz a experiência. Que possamos alcançá-Lo por meio da leitura, ou do ministério, ou da oração ou da comunhão! Precisamos de mais afeição e atenção para que possamos tê-Lo pessoalmente.
Gênesis 3-4
Estes são capítulos muito importantes. Eles nos mostram a produção das duas grandes energias que, até hoje, impulsionam todo o cenário moral ao nosso redor; e também nos mostram essas duas energias realizando suas diversas atividades naquela época, como ainda o fazem.
São capítulos notáveis. Maravilhosos, ao exibir tanta variedade de ações morais de forma tão distinta e, ao mesmo tempo, tão concisa – sem deixar nada despercebido, se eu puder dizer assim– e, ainda assim, em tão pouco espaço.
Eu notaria a produção dessas grandes energias e seus trabalhos: a energia da carne e a energia da fé, ou da velha natureza e da mente renovada.
A mentira da Serpente prevalece para produzir o primeiro deles.
A serpente atrai a atenção da mulher para palavras que continham alguma sugestão prejudicial ao seu Senhor e Criador. Era uma mentira, embora sutilmente transmitida; o único instrumento pelo qual ele poderia alcançá-la e tentá-la. Ela ouve e responde – e suas faculdades assim mobilizadas logo entram em ação em favor de seu sedutor, e ela sucumbe.
O princípio chamado de “a carne”, ou “o velho homem”, é produzido imediatamente – e imediatamente começa a agir. A confiança mútua é imediatamente perdida. A inocência não precisava de nada – mas a culpa tráz necessariamente a vergonha e precisa de algum tipo de cobertura. Todo homem, até o momento, carrega consigo o que não consegue revelar com conforto e confiança, nem mesmo para seus semelhantes. A inibição tomou o lugar da liberdade, e os artifícios vêm aliviar a culpa e a vergonha. Assim é agora, e assim era nesta hora em que a carne foi gerada.
Mais profundamente ainda, ela se afasta de Deus. Podemos suportar a presença uns dos outros de uma maneira formal e cerimonial, e a compreensão comum da natureza culpada; mas não podemos suportar a presença de Deus. Embora tivesse o avental de folhas de figueira, quando Sua voz é ouvida, Adão se refugia sob as árvores do jardim. Esta é a carne, ou a velha natureza culpada, até hoje. Deus é intolerável. A ideia de estar a sós ou imediatamente com Ele é mais do que a consciência pode suportar. Todos os seus artifícios são vãos. Deus é demais para a carne. Ela secretamente sussurra e lança todo o mal sobre o próprio Deus, mas não pode se manifestar e Lhe dizer isso. Por sua própria boca, ela é julgada.
Estas são as suas energias mais simples e primitivas. Somos odiosos e odiamos, e estamos em inimizade contra Deus.
Mas a ação deste mesmo princípio (assim produzido em Adão pela mentira da serpente) manifesta-se de outras maneiras posteriormente em Caim. Caim “era do maligno”. Ele se torna um lavrador da terra. Mas ele ara não como sujeito à punição, mas como alguém que deseja obter algo desejável do solo, embora o Senhor o tenha amaldiçoado, algo para si mesmo, independente de Deus.
Esta é uma grande diferença. Nada é mais piedoso, mais de acordo com a mente divina a nosso respeito, do que comer o pão com o suor do rosto, obter alimento e vestimenta com trabalho árduo e honesto. É uma bela aceitação da punição do nosso pecado e uma reverência aos pensamentos justos de Deus. Mas extrair dos materiais do solo amaldiçoado aquilo que há de servir ao nosso deleite, à nossa honra e à nossa riqueza, esquecendo-nos do pecado e do juízo de Deus, é apenas perpetuar a nossa apostasia e rebelião.
Tal foi a lavoura de Caim. E, consequentemente, culminou na construção de uma cidade, dotando-a de tudo o que lhe prometia prazer ou o fazia progredir no mundo. Ele busca isso – e busca com avidez, embora precise encontrar tudo isso na terra de Node, nas regiões de alguém que havia deixado a presença de Deus.
Ele também tem sua religião. Ele traz a Deus o fruto do solo que estava cultivando.
Ou seja, ele queria, de boa vontade, que o seu gozo no mundo fosse sancionado por Deus. Se pudesse ordenar isso, manteria Deus em acordo com ele, embora estivesse transformando o próprio solo que Ele amaldiçoou a ocasião de seus deleites. Isso é algo muito natural – praticado por nosso coração até hoje. Caim desejava ligar o Senhor a si mesmo em seu mundanismo e amor às coisas presentes, para que pudesse manter a consciência tranquila. Mas o Senhor Se recusa – como recusa até hoje; embora, como dissemos, o coração até hoje de bom grado deseje ardentemente empreender os mesmos esforços e obter que seu mundanismo e amor às coisas presentes sejam sancionados e compartilhados por Jesus, para que a consciência não interfira na busca da concupiscência.
Que caminhos da carne ou do “velho homem” existem aqui! Tudo isso é exatamente o que está acontecendo no mundo até hoje. É a ação daquele princípio apóstata que foi gerado pela mentira da serpente na alma de Adão. E sendo do maligno, Caim “matou a seu irmão”. Ele tinha religião, como vimos; mas odiava e perseguia a verdade. Exatamente como acontece até hoje. Observe a mesma coisa em Saulo de Tarso, como ele mesmo relata de si mesmo em Atos 26. Observe-a na pessoa dos fariseus que se opunham ao Senhor. Observe-a na história da Cristandade, de todas as suas gerações até os dias atuais.
Esta é a inimizade da semente da serpente para com a Semente da mulher. “Como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas”. Esta foi a causa. Foi a inimizade do pecado para com a piedade, a inimizade da mente carnal contra Deus, a concupiscência do velho homem, a concupiscência da carne contra o Espírito – foi o ódio do mundo para com Cristo, porque Ele testificou que “as suas obras eram más”. Essa inimizade nem sempre usa tais vestes manchadas de sangue, mas está sempre no coração: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus”.
Assim é a carne, a velha natureza, na história de sua produção e no curso e caráter de suas obras. Ela é exatamente agora aquilo que era então. Ela governa “o curso deste mundo” sob Satanás, mas também é encontrada em cada um de nós e realiza sua obra em cada um de nós, se for alimentada. Mas devemos conhecê–la – saber de onde veio e como opera, e mortificá-la em seus princípios e em seus atos, em todas as suas energias nativas que tão continuamente assediam a alma.
Mas agora nos voltamos para outras atividades que encontramos produzidas e em ação nestes capítulos maravilhosos: a atividade ou energia da fé produzida pela Palavra de Deus, por meio do poder oculto, mas eficaz, do Espírito.
Enquanto Adão estava na condição à qual o pecado o havia reduzido, enquanto ele ainda era o homem culpado e réu sob as árvores do jardim, a palavra do evangelho, as novas do Conquistador morto, d’Aquele que suportou a pena e ainda assim alcançou o ponto de vitória gloriosa, a Semente da mulher, chegou aos seus ouvidos, e ele nasceu de novo pela semente incorruptível, a palavra da verdade do evangelho.
Ele surge exatamente como era. Mas surge no pleno sentido da salvação e da vitória que a graça de Deus havia aconselhado e operado em favor dele. Consequentemente, ele fala da vida. Há algo muito belo nisso. Ele chama sua esposa de “mãe de todos os viventes”. Há algo verdadeiramente maravilhoso, bem como excelente, nisso. Morto como ele próprio estava em ofensas e pecados, ele fala da vida, mas fala dela em conexão com Cristo, e somente com Ele. Ele não se dá nenhum memorial vivo. Ele não se vincula ao pensamento ou à menção da vida, mas apenas à Semente da mulher, de acordo com a palavra que acabara de ouvir. Não, ele antes insinua que sabia muito bem que havia perdido todo o título e poder da vida, e que estava inteiramente em outro – mas que ela estava naquele outro para ele. Que a vida encontrada em outro era para seu uso, ele não tem a mínima dúvida; a prova disso é que ele imediatamente sai do lugar de vergonha e culpa para o lugar de liberdade e confiança, e da presença de Deus.
Ele recupera Deus. Ele O havia perdido e se afastado d’Ele. Ele O havia perdido como seu Criador, mas agora O havia recuperado como seu Salvador, no evangelho, na Semente da mulher, em Cristo, sua justiça.
Mas podemos acrescentar, para nosso grande conforto como pecadores, que essa simplicidade e ousadia de fé estão exatamente de acordo com a mente de Deus. Nada poderia ter sido tão grato a Ele quanto isso; e, consequentemente, como garantia disso, Ele primeiro faz uma túnica de peles para Adão e, então, com Suas próprias mãos, cobre seu corpo nu.
Isso é muito abençoado. Esta é a fé que, no dia do poço de Sicar, e até hoje, dá ao Senhor um banquete para comer, algo que nem mesmo as amorosas e cuidadosas empatias de Seus santos mais queridos conhecem.
Cristo é agora tudo para este pecador perdoado. Da mesma forma, pela fé, Eva exulta na promessa. É o júbilo e a expectativa de seu coração; e a religião de Abel é inteiramente moldada por ela. As punições do suor do rosto e da tristeza do coração parecem ter sido esquecidas. E algo que deve ser profundamente considerado: a terra é levemente segurada, quando Jesus foi firmemente agarrado. Adão recuperou o próprio Senhor, e parece nunca mais contar em ser um cidadão do mundo, mas um mero lavrador da terra, de acordo com a designação divina, por um período, e então deixá-la para compartilhar o pleno fruto da graça e da redenção, em que agora confiava, em outros mundos. Ele morre – isso é tudo. Ele não busca nenhum memorial aqui. Ele não constrói nenhuma cidade. Ele não almeja melhorar um mundo amaldiçoado. Ele trabalha arduamente nele e come seu pão dele. Mas ele nunca se esquece de que o juízo está sobre ele. A família de Sete invoca o nome do Senhor e espera, no tempo e na maneira de Deus, por conforto e bênçãos em lugar do presente trabalho árduo e maldição. Mas isso é o que importa na esperança e na profecia, enquanto a atitude de um estrangeiro no mundo julgado é o caminho atual da fé e da piedade.
Esta é realmente uma Escritura maravilhosa; e ela nos fala exatamente desta hora pela qual estamos passando.
A energia da carne, ou da velha natureza, é produzida e colocada em prática em toda a sua devida atividade; a energia da fé também é gerada na alma dos eleitos e demonstra seu poder de forma muito abençoada. Aprendemos nossas próprias lições aqui. Carregamos as duas energias em nós. Por natureza, somos cidadãos da cidade de Enoque, e pela graça nossa alma se conectou com Cristo, como Adão, Abel ou Sete. E aguardamos a trasladação de Enoque (Gênesis 5:24).
Estas coisas são contrárias uma à outra: “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (ARA).
Glórias
Haverá uma cena de glórias quando o reino vier. Geralmente falamos de “glória” como se ela se referisse apenas a esse contexto. Mas isso está errado. A glória então será manifestada, é verdade; a glória estará então nas circunstâncias da cena. Mas uma forma muito mais maravilhosa de glória já é conhecida – e esta está no evangelho. Ali, o próprio Deus é manifestado; um Objeto mais admirável do que todas as circunstâncias. A glória do evangelho é moral, eu admito, não material ou circunstancial. Mas é uma glória do caráter mais profundo. Ali, repito, o próprio Deus é manifestado. O Deus justo e, ainda assim, o Deus Salvador é visto ali. Justiça e paz resplandecem ali juntas – um resultado que ninguém, exceto o próprio Deus, e no caminho da cruz, poderia ter alcançado.
O evangelho convoca os pecadores a respirar, por assim dizer, a atmosfera da salvação, a ter comunhão com Deus em amor e a manterem em liberdade e segurança – e há uma glória nessas verdades e pensamentos que, de fato, se sobressai a todas as outras.
Satanás interferiu ou se intrometeu na obra de Deus e a arruinou em sua condição de criatura. Deus imediatamente interferiu ou Se intrometeu na obra de Satanás e a destruiu eternamente, tirando comida do comedor e doçura do forte.
Os três primeiros receptores do evangelho de Deus, Adão, Eva e Abel, ilustram, de forma marcante, almas que apreenderam a glória do evangelho em diferentes aspectos dele.
Adão foi encorajado por ele de maneira abençoada e maravilhosa, de modo que, ao seu chamado, saiu imediatamente de seu esconderijo de culpa e entrou na presença de Deus novamente, nu como estava. E sua ousadia foi justificada, pois foi acolhido ali. Eva exultou com isso. Ela cantou sobre isso. “Alcancei do SENHOR um homem”, disse ela – na alegria da promessa que lhe fora feita a respeito de sua Semente.
Abel ofereceu a “gordura” junto com a vítima. Ele adentrou a promessa com a mais feliz e brilhante inteligência e viu que o Doador dela encontraria o Seu próprio e bendito deleite nela; que o evangelho, embora salvasse o pecador, era a alegria e a glória de Deus. A gordura sobre o altar expressava isso.
E tais apreensões de Cristo como essas – a fé que dá ousadia, a fé que inspira alegria, a fé que penetra a cruz – são cheias de poder na alma.
J. G. Bellett
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