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ÍNDICE
Breves Meditações Sobre os Salmos
Principalmente em Seu Caráter Profético
J. G. Bellett
Parte 5
Salmo 89
Este Salmo é a linguagem de algum Judeu fiel, seja na antiga Babilônia, ou entre o Remanescente no último dia, que crê na promessa feita a Davi, mas se entristece com sua demora. Nosso Senhor Jesus é o Davi, ou a semente de Davi, aqui mencionada (veja 2 Samuel 7:14 e Hebreus 1:5; Salmo 132:11 e Atos 2:30; Isaías 55:3 e Atos 13:34). A certeza de que tudo ficará bem no final e para sempre é fortemente expressa. As misericórdias do Senhor são “para sempre” – a misericórdia é edificada “para sempre” – a semente de Davi é estabelecida “para sempre” – e coisas semelhantes. Esta é a confiança e o gozo da alma em todas as misericórdias pactuadas e prometidas a Davi, Seu trono e Seu povo. Apesar de todas as aparências, é a garantia do crente de que “os dons e a vocação (chamado) de Deus são sem arrependimento”. E sabemos que a ressurreição de Cristo tornou “fieis” as misericórdias de Davi (At 13).
O que se segue pode servir como uma breve abertura deste Salmo.
1-18: O santo Judeu se alegra com o concerto de Jeová com Davi, recitando-a brevemente nos versículos 3 e 4.
19-37: Ele então o recita de forma muito mais completa. E isso é muito rico e abençoado; e forma o que é chamado em outras palavras, “as firmes misericórdias de Davi” (JND), a base de toda a bênção de Israel.
38-45: Mas com todas essas bênçãos prometidas ou pactuadas, ele contrasta as tristezas presentes da casa e do reino de Davi. E podemos observar que a condição no concerto (vs. 30-32) foi a base dessa tristeza; o Judeu não faz alusão a isso, embora esteja inteiramente de acordo com seus pensamentos atuais.
46–51: Ele então expõe e ora: “difamado as pisadas”, no versículo 51, parece fazer referência aos escarnecedores, porque o Senhor demora (veja Malaquias 2:17; 2 Pedro 3:4).
52: Ele encerra (podemos supor depois de uma pequena pausa), antecipando a graça de Deus, com louvor; ligando assim o fim de sua santa meditação com o começo.
Neste Salmo, podemos observar a combinação de misericórdia e fidelidade. Preciosa segurança para o pobre pecador quando lemos: “Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados”. Pois nossas misericórdias são misericórdias pactuadas – garantidas, prometidas, assumidas, seladas e, em grande sentido, misericórdias compradas. Preciosa segurança! E a partir disso, podemos observar que a disciplina não é o esquecimento, mas sim o sinal de lembrança – o trono de Davi está por um tempo no pó por causa da transgressão, mas não foi esquecido. Por causa disso o inimigo age com desprezo. Eles falam com arrogância das pisadas (v. 51), do atraso ou demora do Ungido. Dizem, “Onde está a promessa da Sua vinda?” Mas os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. O concerto é tão completo e vivo na lembrança de Deus quanto era nos dias do próprio Davi. E o Senhor aparecerá para gozo de Israel, e os seus inimigos serão envergonhados.
Que todo crente provado saiba que disciplina não é esquecimento, mas lembrança. Não, demora não é esquecimento. “Aquele que há de vir virá”. “O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia”.
NOTA: Aqui termina a terceira parte do Livro dos Salmos, de acordo com a divisão Judaica.
Salmo 90
No início deste sublime Salmo, o adorador ou “homem de Deus” expressa seu senso de que tudo falha, exceto o Senhor, e aqueles que n’Ele confiam. Depois, o próprio Senhor tem esse pensamento em Seu ministério – “O céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar”.
O adorador então confessa a fragilidade humana e traça a razão dela; e sobre isso expressa seu desejo de que, no sentido pleno dessa fragilidade, ele possa agir com sabedoria e esperar apenas pelo retorno do Senhor; e ele encerra desejando esse retorno, quando a estabilidade tomará o lugar da fragilidade, e a beleza, o das cinzas e do pó.
O senso de toda a distância entre o julgamento da morte sobre o homem e seu retorno da morte parece estar perdido para a alma aqui, em sua forte apreensão do que Deus é (v. 4). Parece que Pedro, pelo Espírito, tem essa passagem em mente (2 Pe 3:8).
O Espírito de Deus, pelo homem de Deus, toca neste Salmo sobre a nova criação em Cristo Jesus. É claro que Ele não poderia anunciar esse Mistério na mesma plenitude que um escriba agora instruído no reino. Mas já tocamos no assunto. Haverá cenas celestiais e terrenais, mas tudo é nova criação. A esposa do Cordeiro, a cidade celestial, levará nela a glória de Deus (Ap 21:11); mas Israel e a cidade terrenal também conhecerão essa glória. Ela brilhará sobre eles, caso não brilhe neles: “Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti” (Is 60:1). Todos desfrutarão dela, mas em diferentes capacidades. Esse, portanto, é o clamor inteligente de um homem de Deus, embora com esperanças Judaicas ou terrenais, olhando para o reino. “Apareça a Tua obra aos Teus servos, e a Tua glória, sobre seus filhos. E seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus” (vs. 16-17). E essa linguagem nos diz que Israel fala neste Salmo, embora fale do homem como tal. Isso, no entanto, é simples e adequado. Porque o homem foi testado no Judeu. A queda de Israel é o testemunho da fragilidade humana. Setenta anos o salmista menciona como o período que marca a fragilidade ou vaidade do homem, e que também sabemos que foi o tempo da vaidade de Israel, ou seu estado cativo na Babilônia.
No entanto, verdadeiramente abençoada é a verdade geral de tudo isso. A nova criação não teve seu fundamento no pó, mas no próprio Senhor – no Senhor ressuscitado dos mortos, quando Ele estava em vitória sobre toda a força do inimigo, tendo eliminado o pecado e abolido a morte. “Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio (ou nossa morada)” (v. 1). O Construtor é a pedra principal do edifício. Ondas e ventos podem bater em vão – a sutileza da serpente é vã. Isso é para sempre. “dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer”.
Salmo 91
Em contraste com a fragilidade do homem contemplada no Salmo anterior, aqui são celebrados os direitos e prerrogativas daquele perfeito Homem em Quem não havia fragilidade (vs. 1-2). Pois todos os outros carregavam a sentença de morte por causa do pecado, mas Jesus não conhecia o pecado. Sua natureza era pura, e Ele sempre cumpriu o prazer divino com perfeição, e tinha direito a plena segurança e bênção. E tais direitos constituídos são aqui atribuídos a Ele (3-13).
Assim, este Salmo era uma cidade de refúgio para Cristo, se Ele quisesse a qualquer momento correr para ela. Mas Ele estava disposto a que o refúgio falhasse para Ele e, embora sem pecado, fosse feito pecado por nós. Ele Se esvaziou desses Seus direitos humanos, como antes havia se esvaziado de Sua glória divina. Filipenses 2 mostra os dois lados disso.
Como toda a vida de Jesus foi a grande contradição do caminho de Adão! Adão não era nada, mas procurava ser como Deus. Jesus era tudo, conscientemente igual a Deus, mas Se fez nada e Se esvaziou. A Pessoa que Ele assumiu – a forma de um Servo; a posição que Ele ocupou na Terra – o Filho de um carpinteiro; Sua vida, Seus caminhos, Seu testemunho – tudo era a completa contradição daquele cuja separação de Deus, em orgulho, moldou o curso do “presente século [mundo – ARA] mau”. Ele estava sempre Se ocultando, sempre Se esvaziando. Ele poderia ter comandado legiões de anjos (como este mesmo Salmo O mostra em Seu direito, no versículo 11; Mt 26:53), mas Ele era o silente Cativo de Seus perversos perseguidores. Se Ele ensinasse, e o povo perguntasse, Ele diria: “A Minha doutrina não é Minha, mas d’Aquele que me enviou”. Se Ele fizesse milagres Ele diria: “O Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma”.
Que adoração, que fragrante incenso diante de Deus, foi esta vida de Jesus! Esse deleite divino n’Ele é aqui expresso (vs. 14-16). E que descanso e consolo para o coração, sim, que satisfação para a consciência, saber que Deus foi tão honrado, tão revigorado, neste nosso mundo. Que fragrância a vida de Jesus dá à Sua morte ou ao Seu sangue! Seu sangue é a súplica do pecador, seu único título; mas todo o deleite de Deus n’Ele contribui para reforçar a reivindicação desse sangue sobre a confiança do pobre pecador. Que contraste, que honra a Cristo se mostra para nós, quando lemos o Salmo 91 juntamente com o Salmo 90, “o homem de Deus” está confessando a fragilidade humana, traçando a causa dela na iniquidade humana, e reconhecendo que o único alívio com que ela pode contar é a nova criação da qual o próprio Deus será o Fundamento, bem como o Construtor, a principal Pedra de esquina, bem como a Cabeça de esquina.
No Salmo 91, um oráculo divino se dirige ao Messias e diz a Ele que, por causa de Sua perfeição em fé, Suas glórias morais, Deus seria Sua segurança contra toda fragilidade, acidente, hesitação, perigo ou dano de todo tipo; e o próprio Deus é ouvido afirmando isso e reconhecendo a perfeição do Messias em afeição, como o oráculo havia reconhecido Sua perfeição em fé e moral.
Mas há ainda isto, embora não expresso, que em Seus dias, o Messias abriu mão desses Seus direitos e garantias constituídos e divinamente atestados, como Filho do Homem, naquele maravilhoso mistério em que Ele estava disposto a ser feito pecado pelos pecadores, e o reivindicador e revelador de todas as glórias de Deus (veja Mateus 26:53-54).
Assim, a fragilidade do homem tem que buscar seu alívio apenas em Deus. O Messias tem perfeições, não fragilidades, mas entrega a Deus todos os direitos que essas perfeições Lhe garantem.
Os Salmos 92-101 constituem muitas partes ou capítulos de um pequeno livro. Eles celebram a introdução do reino, ou “o mundo vindouro”, e mostram o próprio Messias, Seu Israel e as nações, antecipando o reino. Muitos dos próprios escritores Judeus se referem ao “mundo vindouro”.
Outras passagens da Escritura podem nos preparar para tais Salmos. Isaías nos diz que, no meio do julgamento, o verdadeiro Israel levantará a voz e cantará a majestade do Senhor; e esses Salmos podem ser adequadamente assunto desse cântico (Is 24:13-15). Oséias mostra que, no segundo deserto, ou lugar de disciplina, no último dia, lhes serão faladas palavras de conforto; e estes Salmos podem ser a expressão da consolação do coração deles. O vale de Acor será uma porta de esperança, e eles cantarão ali (Os 2).
Na verdade, o Messias diz ao Seu povo para cantar em antecipação ao Seu reino (Is 42:5-16). Josafá cantou ao entrar no campo; e nestes Salmos o Remanescente se regozija e canta com esperança. Assim, os atalaias no último dia cantam as novas de que a salvação está chegando (Is 52:7-8). Havendo colocado esses Salmos como que formando um pequeno livro, e dito isso de maneira geral, eu os abordaria brevemente da seguinte maneira
Mas quão pequena é a medida aqui dada a elas! E quão feliz e amplamente elas podem, em maior medida, envolver as meditações dos santos! Que todos nós possamos acender cada vez mais nosso coração com tais abençoadas Escrituras na companhia de Jesus (Lc 24:32).
Salmo 92
Essa é a linguagem de Cristo, o Filho e o Herdeiro de Davi, antecipando Seu reino ou Sábado. Mas nesse Sábado vindouro, os pensamentos de Deus serão celebrados assim como Suas obras (v. 5). Isso dará ao gozo e ao louvor do último Sábado um caráter mais elevado do que o primeiro teve, quando somente as obras foram celebradas. Pois os conselhos da graça, que são os pensamentos profundos de Deus, produziram isso. O primeiro Sábado veio simplesmente após a criação, o último Sábado virá após a destruição do inimigo, como Cristo aqui também antecipa, para que não seja exposto ao perigo e perturbação, como foi o primeiro, mas os justos ainda florescerão e serão frutíferos, como é aqui também declarado.
Zacarias falou de Jesus como esse “chifre de salvação”, sob o Qual Israel deveria ser libertado e florescer. Aqui o orador toma esse caráter para si mesmo (veja Lucas 1:67-79 – KJV).
Mas o Messias, Filho e Herdeiro de Davi, recebe o reino vindo de Deus (Dn 7; Lc 19). Reino que é chamado de reino do Pai. Deus Pai é glorificado, embora seja o dia do Senhorio de Jesus (Fp 2).
Jesus foi ungido para o ministério da graça (Is 61; Lc 4); Ele será ungido para o ministério do Reino (Is 11:2-10). Este é o “óleo fresco”. A fé de uma pecadora perdoada pobre mas feliz trouxe o seu óleo para saudar esse Ungido (Lc 7; Jo 12). As nações também O alegrarão e O honrarão dessa maneira (Sl 45:8; Mt 2:11). E aqui, Jesus reconhece a fragrância daquele unguento de muito preço que esteve sobre Ele.
Este é, de fato, “um Salmo, um Cântico para o dia do Sábado”[1]. Para essa exaltação do Ungido haverá o Reino, do qual o Sábado é a figura e o penhor. E então, “como o carvalho e como a azinheira”, que há muito tempo estão secos, florescerão novamente – reviverão mesmo no tempo da velhice. Israel então, depois de tanto tempo, florescerá e brotará e encherá a face da Terra de frutos (v. 14; Is 6:13; 17:6). E tudo isso será para o louvor de Deus. “Toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
[1] N. do T.: Este é o título deste Salmo, conforme tradução de J. N. Darby.
Salmo 93
Esta é a linguagem do povo, antecipando, por sua vez, o mesmo reino milenar. Eles se dirigem ao Messias, o Rei, celebrando Seu poder e glória em algumas de suas grandes características:
Sua vitória sobre Seus inimigos;
A estabilidade de Seu trono, e;
A santidade de Sua casa ou governo.
Este Salmo parece anunciar os grandes assuntos que estão nos Salmos seguintes mais detalhados. É uma introdução, fazendo o conhecido ofício de um Prefácio.
Salmo 94
Este Salmo, portanto, resume o primeiro desses assuntos de forma mais ampla. O povo, esperando por seu Messias ou Rei, clama a Ele para julgar o inimigo, para acalmar os rios (Sl 93:3) que estão levantando sua voz. E toda a Escritura se une para dizer que o reino milenar de Cristo não será introduzido até que esse juízo seja executado sobre os inimigos de Israel.
Mas no decorrer deste Salmo, o Remanescente aflito grandemente se consola em Deus, assegurado de que Ele trabalhará por eles. Eles sabem que no meio desses rios e ondas, o Senhor é a sua Rocha que nada pode mover.
O juízo aqui descrito é o dia da vingança do Senhor – o ano da recompensa pela controvérsia de Sião – o dia da derrubada das confederações – o dia do Senhor que será sobre tudo o que for exaltado – o dia da “vingança contra os Meus adversários” (Dt 32:41-42). Os rios que levantam suas ondas serão então repreendidos pelo Senhor (Is 17:12-13).
Mas o juízo “voltará a ser justiça” (v. 15). O juízo levará à exaltação da justiça na Terra, quando o poder estará ao lado da justiça, como no reino.
O caráter infiel da facção é notavelmente desafiado e repreendido pelo justo Israel (vs. 7-10). O apóstolo Pedro aborda a mesma incredulidade, porém mais no caminho de um mestre da verdade de Deus (2 Pe 3).
Salmo 95
Assim, encorajando a si mesmos, o coração deles está sintonizado com um cântico de gozo e louvor; tão vivas e frescas são suas antecipações. O Senhor, pelo Seu Espírito, parece invadir todo esse gozo antecipado, não para impedi-lo ou alterá-lo, mas apenas para dar uma santa admoestação no meio dele (vs. 7-11). E essa interrupção, ou essa voz do Espírito, age de duas maneiras; diz-lhes que há um descanso (Hb 4); diz-lhes também que devem prestar atenção e evitar tudo o que em seus pais causou a perda desse descanso (veja Hebreus 3). Pois eles ainda estão, em espírito, no deserto ou lugar de disciplina, como antigamente, entre o Egito e Canaã, e, portanto, precisam de tal admoestação. Os comentários do apóstolo sobre esses capítulos dão tal caráter a essa voz. Mas sabemos com certeza que a admoestação é corretamente aplicada a todos nós.
Salmo 96
Eles continuam seu gozo aqui, o que mostra que o Senhor não tinha, por Sua exortação (Sl 95:7-11), planejado impedi-lo; e aqui eles convocam toda a Terra para se juntar a ele. Um “cântico novo” é requerido. E os próprios Judeus interpretam “os novos cânticos” da Escritura como pertencentes aos dias do Messias; isto é, para “o mundo vindouro”, como fala o apóstolo – o poder do Filho do Homem. E, além disso, como havia um cântico na criação (Jó 38:7), outro e mais rico cântico, “um cântico novo”, dará início ao reino ou aos tempos de refrigério e restituição, quando a própria Terra estará na liberdade da glória (Rm 8:21).
Este Salmo é citado em 1 Crônicas 16 e faz parte daquela bela composição, aquele doce conjunto de cânticos e regozijos, que Davi e Israel prepararam para a arca descansar, que era a figura do reino e que, por antecipação, é celebrado aqui.
Todos serão incluídos no gozo de encerramento. Como em Apocalipse 5 os redimidos, as companhias angelicais e todas as criaturas no céu, na Terra, debaixo da Terra e nos mares, se juntam a ele, assim aqui, todos são convocados para o cântico milenar, para que haja um coro completo de louvor.
Salmo 97
Este Salmo é outro exercício do coração do Remanescente antecipando o reino. É como se eles estivessem agora mesmo trazendo o Primogênito ao mundo pela segunda vez, ou em Sua glória; não em Seus sofrimentos como em Sua primeira vinda; e alegremente eles relatam, em espírito, Sua vitória sobre todos os Seus inimigos.
Mas aqui novamente, como no Salmo 95:7-11, o Senhor por Seu profeta irrompe em todo esse gozo com palavras de admoestação (vs. 10-12). Ele diz a eles que toda essa luz e glória estão preparadas para os justos; e adverte-os, portanto, a aborrecer o mal e a cultivar temperamentos dignos do reino vindouro.
O fogo deve ser o instrumento dos juízos divinos neste esperado dia do Senhor. A batalha do Senhor será com queimaduras e pasto ao fogo (Is 9). O trono do Ancião de dias é como as chamas de fogo, e um rio de fogo sai de diante d’Ele no dia deste julgamento (Dn 7). Assim, na visão de João, o Templo estava cheio de fumaça, enquanto o Deus da glória e do poder preparava as salvas ou taças da ira (Ap 15).
Mas Sião se alegra (v. 8). Então, haverá tamboris e harpas para os justos (Is 30:32). Pois, embora a luz e a alegria só então sejam semeadas para eles, e ainda não colhidas por eles, ainda assim eles podem cantar, como já observamos – as antecipações são tão certas; pois “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”.
Salmo 98
O verdadeiro Israel canta novamente sobre isso. Por assim dizer, eles usam o tamborim e a harpa, que sabemos, como observado acima, pertencerão a eles, mesmo no dia dos juízos de Deus. Sua justiça judicial é o tema de sua alegria aqui; e novamente eles convocam todos para se juntarem a eles. Eles também cantam sua própria salvação no dia desse julgamento. Pois sabemos que eles serão tirados de muitas águas: como Noé, eles serão preservados no próprio lugar do juízo – como Ló, tirado em segurança do seu meio (veja Salmo 18:16). Então, eles serão poupados, o mesmo dia os iluminará e consumirá o inimigo (Ml 3, 4). Eles só serão refinados por esses fogos (Zc 13).
Toda a Escritura mostra, como este Salmo, que o regozijo de toda a Terra seguirá a restauração de Sião. E os louvores do Senhor serão então como “brados de alegria”: pois todos se juntarão a eles; e não haverá repreensão ou silenciamento deles pela incredulidade do mundo. Então, não haverá nada para impedir, mas tudo para intensificar a celebração plena de louvor.
Salmo 99
O mesmo Israel de Deus ainda está ocupado aqui, como é muito evidente, com os mesmos pensamentos e gozos. Eles antecipam amplamente o reino, o perdão dos pecados da nação de acordo com o padrão da misericórdia divina para com seus pais, e então o povo prestando no templo os serviços de louvor, no espírito de reverente temor, pela percepção da santidade da casa e do governo de Deus.
Mas não são os juízos anunciados que elevam o gozo, como vimos anteriormente, mas o efetivo reinado em Sião. O Senhor está agora assentado entre os querubins, em casa, no meio de Seu povo. Ele é “grande em Sião”. E Seu povo volta a celebrar Seu louvor, exaltando o Senhor em Seu santo monte, ou lugar do governo justo; toda a retrospectiva do passado, seja nos dias de Moisés e Arão, ou de Samuel, tudo ajuda no louvor. E assim será. Pois tudo aquilo que não ajudar nesse louvor será restringido, como vimos no Salmo 76.
Salmo 100
Este Salmo convida todo o povo gentio a seguir Israel, com louvor, para a santa Casa de Deus. A certeza de Seus testemunhos, Sua verdade e Sua misericórdia são declaradas. E assim o monte da Casa do Senhor é estabelecido, e as nações se dirigem para ele. Muitos povos e nações fortes, de acordo com o profeta, buscam o Senhor dos Exércitos em Jerusalém. A casa do Senhor ali é uma casa de oração para todas as nações; e enquanto os seus muros são salvação, as suas portas serão louvor.
E aqui, no final desses cânticos de Israel, podemos observar novamente que a Escritura nos ensina que Israel, no dia de sua disciplina, conhecerá esses regozijos (veja Salmo 99). É verdade que eles chorarão como pombas; eles confessarão o pecado da nação, como Daniel ou Neemias; eles dirão “definho, definho” (ARA); mas eles também terão suas alegrias e cânticos antecipados. O Apocalipse nos mostra o mesmo em princípio (veja Apocalipse 11:16-18). Pois ali o regozijo no céu é antecipado no dia da ira divina e da destruição na Terra. E posso dizer que, como Isaías 60 parece ser o Espírito da Verdade ensinando ao Remanescente quais serão os resultados da vinda do Redentor a Sião (veja Sl 59:20), certamente quando aprenderem essa lição terão ocasião abundante para entoar cânticos em perspectiva do reino. Pois o mesmo Espírito está guiando cada coração, o mesmo Espírito está tecendo juntamente tristezas e alegrias, o pensamento de sua própria iniquidade com o pensamento da salvação e do reino do Senhor, para que cada alma possa ser levada a várias e proveitosas afeições.
Salmo 101
Os Salmos anteriores foram, como vimos, variados e felizes exercícios do Remanescente sobre os grandes temas relacionados ao reino, e que foram sugeridos no início – como a derrota do inimigo, a estabilidade do trono e a santidade da casa ou governo do Senhor. Aqui o Messias é novamente ouvido pessoalmente, como foi no primeiro Salmo desta série (Sl 92). Ele toma o reino (isto é, por antecipação, desejando-o muito na realidade, v. 2), entrando nele com um cântico quanto “a misericórdia e o juízo”; pois a misericórdia e o juízo tinham acabado de ser vistos na maneira de trazer o reino – juízo sobre o inimigo, misericórdia para com o verdadeiro Israel.
E tendo cantado este cântico, Ele Se compromete a ordenar Seu reino em justiça e a manter a santidade da casa de Deus para sempre, como em Salmo 72; 2 Sm 23:5; Is 9:7, 11:4; Zc 14:21.
E observe que, em princípio, “a misericórdia e o juízo” são o fardo dos pensamentos ou cânticos de todo crente ou adorador ao entrar em qualquer dispensação divina. Adão saiu do Éden para atravessar uma Terra amaldiçoada como um pecador perdoado, com este cântico em seu espírito – assim Noé entrou no novo mundo – e assim Israel entrou em Canaã da mesma forma; pois cada um deles em seus dias, Adão, Noé e Israel, tinham testemunhado o juízo sobre os outros e eram eles mesmos testemunhas da misericórdia. Entramos em nossa era, cantando igualmente “a misericórdia e o juízo”; pois vimos o juízo de nosso pecado ser sustentado por Cristo, e nós mesmos os monumentos da misericórdia. E quando a glória ou reino chegar em breve, como lemos aqui, a misericórdia e o juízo serão novamente cantados. E isso será assim, pois a justiça será mantida, enquanto a graça segue seu curso; a justiça não cederá, embora o amor siga seu caminho.
Que perfeito este pequeno volume parece ser (Sl 92-101). O próprio Messias o inicia e o encerra. No início, Ele próprio antecipa sendo ungido para o reino, ou a exaltação de Seu poder ou chifre – no final, Ele declara como Ele ordenará Seu reino. E Seu Israel, nesse meio tempo, como também vimos, descreveu suas antecipações do reino em sua justiça judicial e bem-aventurança final. Oh, que haja mais harmonia com tudo isso em nosso coração! Oh, que estejamos “afinando nossos instrumentos próximos à porta” – deixando nosso coração mais em harmonia com as alegrias deste reino vindouro! Que possamos orar e vigiar por uma mente assim, e que sejamos habilidosos nos cânticos do Senhor!
Salmo 102
Algo muito diferente é ouvido agora. Este Salmo começa com a queixa do “Homem de dores”. Ele Se vê abandonado por Seus seguidores, reprovado pelo inimigo e sustentando a justa ira de Deus – a indignação e a ira devidas a outros que caem sobre Ele (vs. 1-11). Ouvimos então a resposta de Deus a isso; e essa resposta promete a Ele vida e um reino, e uma manifestação em Sua glória, relatando também o tema do louvor com o qual Israel e as nações O celebrarão (vs. 12-22). Então o Messias é ouvido pela segunda vez meditando solitariamente sobre Suas aflições, (vs. 23-24,); e Deus, da mesma maneira, novamente respondendo-Lhe – lembrando-O, por assim dizer, de Suas antigas glórias na criação, e prometendo-Lhe, como antes, vida, um reino e uma semente (vs. 25-28).
A citação em Hebreus 1 deste Salmo parece dar a ele essa estrutura e caráter; pois nos diz que os versículos 25-27 é a linguagem de Deus para o Filho, e isso nos leva a concluir que os versículos 12-22 também são. E assim a estrutura acima do Salmo é determinada.
Mas, em conexão com isso, podemos notar uma coisa. O Senhor Jesus Cristo é o Construtor. Isso nos dá o direito de ver o Cristo como o Cabeça de cada dispensação – o grande poder ativo em todas elas – seja na Criação, entre os Patriarcas, no monte Sinai ou como o Deus de Israel em toda a sua história. Ele fez os mundos ou ordenou as eras (Hb 1:2). Ele edificou a casa de Moisés e todas as casas de Deus (Hb 3:3). E é o Cristo a Quem Deus Se dirige neste Salmo como tendo lançado os fundamentos da Terra e sobrevivido, em Sua glória, a todas as coisas que são feitas – o Cristo que uma vez foi o Pisado e o Ferido. Mistério maravilhoso!
É um Salmo de beleza e grandeza muito tocantes.
É como Jesus no Getsêmani, extremamente triste até à morte, indo adiante e orando novamente, dizendo as mesmas palavras, e ainda assim, sendo ouvindo repetidas vezes – o anjo do céu O fortalecendo lá, a resposta de Jeová assegurando-O aqui (veja Lucas 22:43).
Eu poderia observar ainda que este Salmo também nos permite ler, nessas expressões de Jesus e nas respostas divinas a elas, o que aprendemos de outras Escrituras doutrinárias simples – que as glórias de Jesus vêm de Seu sofrimento. “Se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Mostra-nos “os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir”. Pois o Cordeiro no trono é o Cordeiro que havia estado antes no altar. É o arco d’Aquele que uma vez foi atingido pelos arqueiros e cuja força permanece. Toda a Escritura nos mostra isso; e temos isso nesses clamores de Jesus, e nas respostas tão abençoadamente dadas a eles.
E quanto à nossa bênção. Tudo depende dos mesmos sofrimentos de Cristo. Nenhum pensamento sobre o amor de Deus deve ser permitido que interfira nas exigências de Sua justiça. O amor é sem medida. Isso é verdade. Mas não é uma simples emoção. É o que, a um custo indescritível, proporcionou redenção para o culpado. E se pensarmos no amor sem crer na provisão que foi feita para as reivindicações e exigências da justiça, estamos lidando com um simples sentimento de nossa própria mente, e não com a revelação de Deus. E pobres são as melhores concepções da religião do homem – algo realmente diferente da grandeza moral e perfeições do Evangelho de Cristo, onde Deus é Justo enquanto justifica o pecador, onde aprendemos que Ele trouxe de volta Seus banidos e recebeu Seus pródigos, sempre sustentando as glórias plenas de Seu trono de justiça e fornecendo em Si mesmo uma resposta a todas as Suas exigências. A Cruz de Cristo é o segredo e o centro de tudo isso.
Salmos 103-107
Esses Salmos formam os diferentes capítulos de outro pequeno livro. O conteúdo prova isso; reforçado pelo fato de somente o primeiro deles ter um título.
É uma boa celebração do poder da ressurreição de Deus, ou graça restauradora do perdão.
O Salmo 103 celebra essa graça ou poder na própria pessoa do salmista, relatando o perdão de todos os seus pecados e o fato de ter sido guiado para o reino pela mão segura e terna de seu Pai celestial.
O Salmo 104 analisa a Criação sob a mesma luz. A providência de Deus governa tudo mesmo agora; mas no final, Sua força de ressurreição será aplicada à criação, que, portanto, novamente, como antigamente, se tornará objeto de deleite divino, e embora agora geme e sofre de dor, será então libertada.
Os Salmos 105, 106 e 107 celebram a mesma coisa em Israel;
Salmo 105 olhando para Israel bendito de Deus até que eles foram levados para Canaã, e ali colocados sob a lei;
Salmo 106 olhando para tudo isso em seu fracasso, e Israel trazendo ruína e morte sobre si mesmos; e então;
Salmo 107 apresentando a graça da ressurreição e a força de Deus, chamando Israel do lugar da morte para conhecer Sua bondade amorosa e declarar Sua bondade como um povo que estava morto e reviveu, que estava perdido, mas agora foi encontrado.
O Salmo 106 termina com a repetição detalhada dos clamores de Israel, tão frequentemente ouvidos nos dias de sua angústia em todo o Livro dos Juízes (vs. 43-46). O salmista então retoma o mesmo clamor em relação à angústia atual de Israel, e antecipando misericórdia e libertação, bendiz o Deus de Israel (vs. 47-48).
O Salmo 107 dá a resposta de Deus, percebendo essas antecipações de fé.
Este pequeno volume de Salmos pode, portanto, vir com alegria após o Salmo 102, onde ouvimos o clamor d’Aquele que buscou a libertação da morte e foi ouvido, e cuja libertação ou ressurreição é a grande promessa disso a todos a quem Ele lidera; pois “em Cristo todos serão vivificados”. Seu próprio corpo místico, a Igreja, ressuscitará à semelhança de Seu corpo glorioso, Israel e as nações reviverão na Terra, e a própria criação será libertada da corrupção.
É verdade que haverá diferentes ordens e glórias, mas tudo será como na ressurreição ou na nova criação. Quando Jesus pregou, Ele curou. Assim como Seus apóstolos e os discípulos que Ele enviou. Aonde Ele veio a doença se foi, a enfermidade desapareceu e a voz de saúde e ação de graças foi ouvida nas aldeias e cidades de Israel. Como antigamente, quando Ele conduziu Seu povo tirando-os do Egito, era como Deus, seu Curador (Êx 15). Ele os liderou. Os pés deles não incharam por quarenta anos – a força de Calebe era tal como quando ele partiu – o testemunho do que teria sido para toda a congregação se tivessem sido obedientes. E assim, quando o reino vier, os coxos saltarão como um cervo, a língua dos mudos cantará. Essas serão novamente as obras do Filho de Davi (Is 35; Mt 12). Pois o povo terrenal estará então em tabernáculos saudáveis e agradáveis (após a longa lepra, a carne se tornará como a carne de uma criança pequena), enquanto nos lugares celestiais mais elevados, os filhos da ressurreição brilharão em corpos espirituais de glória, de acordo com o poderoso poder de Cristo, pelo qual Ele é capaz de subjugar até mesmo todas as coisas para Si mesmo.
Ressurreição ou Redenção (pois elas são uma só coisa em princípio) tem sido o grande propósito de Deus desde o início. Sem fé na ressurreição, “o poder de Deus” não é conhecido (Mt 22:29), nem o “conhecimento de Deus” é alcançado (1 Co 15:34). A Criação é apenas o caminho ou antessala. A Criação foi para a redenção, e não a redenção foi segundo a Criação. Porque, em conselho, antes da fundação do mundo, tudo deveria permanecer em redenção. A lei do jubileu nos mostra isso (Lv 25). E o homem de Deus, o pecador aceito perdoado, celebra tudo isso nesta magnífica série de Salmos, regozijando-se, como dissemos, no poder de redenção ou ressurreição demonstradas em si mesmo, na criação e em Israel – vendo-as em todos os lugares, enquanto sua alma examina a gloriosa perspectiva[2].
[2] N. do A.: O propósito do Espírito nestes Salmos é moral e não histórico – justificar Jeová em Suas relações com Israel e convencer Israel em suas relações com Jeová – o Salmista, nos Salmos 104 e 106, não dá os eventos, aos quais ele se refere, em ordem estrita ou precisa. Ele fala da praga das trevas, por exemplo, antes da das moscas, e da rebelião de Corá, antes do bezerro de ouro ser feito. Isso é natural, e o que nós mesmos faríamos muito provavelmente, se nosso propósito ao narrar as circunstâncias fosse, como o salmista aqui, moral e não histórico.
Tendo assim visto o conjunto desses Salmos, eles são deixados à consideração dos santos; julgando, no entanto, que uma observação minuciosa de cada um confirmaria essa impressão geral. E uma doce meditação que eles proporcionam à mente renovada. Um pobre pecador, no Salmo 103, permanece, em espírito, diante do altar de ouro (isto é, na plena certeza da salvação) com seu incenso de louvor, e daquele lugar feliz antecipa ou examina os tratamentos passados e futuros do mesmo Senhor, que assim o abençoou em todas as Suas obras e caminhos, seja na própria criação ou no meio de Seu povo. E, de fato, o único poder adequado para interpretar o caminho divino é levar em nossa alma uma amostra dele, como é feito aqui. Para o crente é “como que primícias” (Tg 1). Ele já está na reconciliação, como todos estarão em breve (Cl 1). O caminho de Deus é em graça ou em ressurreição, e o pecador conscientemente perdoado é, portanto, o único profeta pleno de Deus – o único que pode desfrutá-Lo ou declará-Lo plenamente. “Familiariza-te com Deus, se quiseres provar Suas obras.”
É bom acrescentar que partes do Salmo 105 e do Salmo 106 foram cantadas na remoção da arca em 1 Crônicas 16, como já observamos; o Salmo 96 fornece outra parte desse mesmo belo hino composto, pois essa ocasião, figurativamente, estabelece a época do gozo vindouro de Israel; e esses Salmos são cânticos de louvor adequados a essa época.
Ressurreição – o glorioso intérprete dos caminhos e propósitos de Deus, e o testemunho pleno e eterno de Seu amor e poder – sendo, portanto, o tema deste livro, podemos dizer, nas palavras finais dele: “Quem é sábio observe estas coisas e considere atentamente as benignidades do SENHOR”.
NOTA: A quarta divisão dos Salmos, de acordo com os Judeus, termina com o Salmo 106.
Salmo 108
No início deste Salmo, o Messias, identificando-Se com o Remanescente nos últimos dias de sua angústia, clama pela manifestação do poder de Jeová a favor deles. Mas Ele faz isso com plenas e gozosas antecipações e, portanto, faz Seu costumeiro voto de louvor (vs. 1-6). Uma resposta a isso vem imediatamente do santuário, da presença de Deus, ou, pode ser, de acordo com a “santidade” de Seus conselhos, para assegurar ao suplicante que o Senhor, no devido tempo, reivindicaria o Seu reino (vs. 7-9). Isso desperta imediatamente o zelo do Messias pelo dia da vingança ou pelo ano dos Seus redimidos (Is 63:1-5); pois sabemos que Ele está agora esperando para, assim, pisar sobre Seus inimigos (Hb 10:13). E então tudo se encerra com Ele novamente olhando para Jeová como a ajuda na tribulação de Jacó, e com Sua confiante antecipação da vitória.
Este Salmo é composto das porções de gozo de dois Salmos anteriores (veja Salmos 57 e 60) que se iniciaram em tristeza e terminaram em regozijo. Pois ali a alma do crente semeou em lágrimas e colheu com alegria; mas aqui a dupla colheita é feita, e o peito do adorador se enche de feixes. E, verdadeiramente, o gozo é o que permanecerá. As tristezas serão deixadas para trás, ou lembradas apenas para aumentar a alegria e dar comprimento e largura ao louvor.
Este Salmo pode seguir alegremente o pequeno volume anterior sobre a Ressurreição (Sl 103-107). Pois a Ressurreição leva ao gozo e ao louvor. Como alguém observou certa vez, o próprio Jesus no túmulo de Lázaro chorou, entregando-Se às lágrimas de todos ao seu redor; mas em Seu próprio túmulo vazio Seu caminho foi mudado, e na liberdade da Ressurreição Ele mesmo, Ele poderia dizer à Sua amada e amorosa discípula: “Mulher, por que choras?”
Salmo 109
Sob o sentido da traição de Judas (e nessa traição Judas era o líder e representante do Israel incrédulo, At 1:16) e sob o pensamento daquela morte para a qual tal traição o estava apressando, Jesus aqui clama Àquele que poderia salvá-Lo da morte e vingá-Lo de Seus adversários.
Já observei que notamos dois caracteres de comunhão que Jesus teve, e dos quais este, assim como o Salmo 69, facilmente nos lembra. Quero dizer, o que é falado em Hebreus 5:7, e o que é notado em 1 Pedro 2:23. O primeiro foi um clamor por libertação, o segundo uma espera por reivindicação (veja Salmo 69).
Neste Salmo também há alusão à “prova do ciúme” de Números 5 (vs. 14, 18). E sabemos por outras passagens que Israel será tratado e até perdoado no caráter de uma esposa infiel (veja Oséias 1-3).
Neste Salmo, Judas e a nação de Israel são um moralmente, assim como em Gálatas 4, Ismael e essa nação são um. Sua terra é apenas um extenso Aceldama[3] (Is 4:4; Jl 3:21; Mt 27). O Advogado os conecta, também, em Suas próprias palavras aqui, falando tanto no singular quanto no plural o número de Seus inimigos.
[3] N. do T.: Conforme Atos 1:19, Aceldama significa “campo de sangue”.
O destino de Judas ou da nação apóstata, e o do Israel eleito ou da Jerusalém do Senhor, são notavelmente distintos. Pois neste Salmo, o grande Advogado deseja que Satanás esteja à direita de Judas; em Zacarias 3, Ele mesmo repreende Satanás, quando Satanás toma essa posição contra Jerusalém ou o verdadeiro Israel. Neste Salmo, o Advogado ora por juízo contra esse para que suas dignidades, família e possessões sejam todas destruídas, e que não haja ninguém para se compadecer dele; Em Zacarias 3, Ele deseja para outro que a glória esteja sobre ele, a mitra e o manto, e que toda iniquidade passe dele, e toda contaminação seja removida. E toda a Escritura, desta maneira, mantém distinto e claro o juízo da nação apóstata, e a redenção e bênção do eleito ou verdadeiro Israel.
O opróbrio do “aflito e necessitado”, a morte d’Aquele que estava “quebrantado de coração”, é a ocasião do julgamento aqui desejado; isto é, a rejeição de Jesus. O mesmo é o fundamento estabelecido para o julgamento do povo Judeu pelo mesmo Advogado no Salmo 69. E o Novo Testamento também ensina isso, pois a destruição miserável e a retirada de sua vinha vieram sobre Israel, porque eles foram os homicidas do Herdeiro da vinha. E onde está a purificação para a terra, onde está a recuperação do nome de Israel, se não na fé que se volta para este Rejeitado, que olha para Aquele a Quem traspassaram, que aprende a dizer: “Ele foi ferido por nossas transgressões”; que reconhece n’Ele uma fonte aberta para o pecado e para a impureza, e que, em maior exultação de espírito, diz: “Bendito Aquele que vem em nome do Senhor”?
Salmo 110
Este Salmo transmite, implícita ou informalmente, a resposta de Jeová ao clamor precedente. A ascensão de Jesus aos céus, Sua vingança contra todos os que se levantaram contra Ele e Sua exaltação em Seu reino na Terra são declaradas.
Este Salmo, nesse sentido, sugere um esboço de todo o propósito de Deus concernente à Terra.
O olho do profeta, por assim dizer, segue Jesus no dia do Monte das Oliveiras ou Betânia (Lc 24:50; At 1:9-11) até o céu e vê Sua posição lá à direita de Jeová (v. 1). Nessa visão, ele se dirige a Jesus como Adon (vs. 2-4) e diz a Ele o que Jeová estava preparando para Ele – uma vara de poder, um povo disposto e as mais altas dignidades pessoais. Então, voltando-se de Adon para Jeová, ele diz a Ele de que maneira Jesus (Adon) possuiria o reino assim preparado para Ele (vs. 5-7).
Esta é, creio eu, a estrutura deste diferenciado Salmo.
É digno de reflexão se a palavra indefinida “até” (v. 1) não é o fundamento de Marcos 13:32. E, além disso, sendo esse reino a recompensa do serviço do Messias, o tempo e todas as outras circunstâncias dele estariam à disposição do Pai (Mt 20:23; At 1:7).
Conectado com o Salmo 16, este Salmo nos dá uma bela visão da gloriosa ascensão de Cristo – Deus O acolheu no alto com as palavras: “Assenta-Te à Minha direita até que Eu ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés”; e Cristo, por assim dizer, respondeu: “na Tua presença há abundância de alegrias; à Tua mão direita há delícias perpetuamente”. E, lido à luz de Hebreus 10:12-13, vemos quão devida e perfeitamente a promessa de Jeová foi recebida por Cristo. Isso O encheu de esperança ou expectativa, que é sempre a resposta adequada à promessa.
Mas deixe-me observar que a entrada do Senhor no céu não foi apenas para que Ele pudesse tomar Seu assento à direita do poder, aguardando o dia em que Ele faria de Seus inimigos o escabelo de Seus pés: foi também uma entrada no céu como santuário, para ocupar-Se lá em riquezas de graça, em serviços sacerdotais atuais em favor de Seus santos ainda peregrinos e militantes aqui (veja Hebreus 8)
Este é de fato um Salmo de grande valor profético e muito usado pelo Espírito Santo nas Escrituras do Novo Testamento. Pois por meio dele Ele interpreta que Jesus é maior do que Davi (Mt 22) – mais excelente do que os anjos (Hb 1) agora no céu como Senhor (At 2:34-36) – como Aquele que espera (Hb 10) – e no gozo de um sacerdócio intransferível (Hb 7) que Ele recebeu, não de Si mesmo, mas de Deus (Hb 5). Tudo isso aprendemos por comentários divinos sobre este Salmo obtido em outras Escrituras do Novo Testamento.
O senhorio de Jesus, posso dizer, é uma coisa principal aqui. No Salmo anterior, nós O vimos como “o varão aflito e o necessitado”, mas aqui, como o “Senhor”. E essas duas coisas formam o grande encargo e tema dos profetas (1 Pe 1:11). Ele Se esvaziou, mas Deus Lhe deu um Nome acima de todo nome (Fp 2). Pedro, em sua pregação inicial aos Judeus após a ressurreição, vê esse senhorio de Jesus em todos os lugares – agora no céu, em breve em Seu retorno à Terra, depois no decorrer das sucessivas eras. Ele vê isso igualmente sobre o Judeu e o grego. Ele traça o nome deste Senhor, o dia deste Senhor, e a presença deste Senhor, em seus diferentes poderes e virtudes (At 2:20-21, 3:19, 10:36).
Mas não é simples senhorio divino mas um senhorio ungido. E, portanto, Seu senhorio é para nós. Israel tinha seu interesse em todos os oficiais ungidos sob Deus; fossem profetas, sacerdotes ou reis, todos eram para uso de Israel. A sabedoria do profeta, os sacrifícios do sacerdote, a força do rei, eram todos para a bênção do povo. Assim é o senhorio de Jesus para nós. Quer seja Ele Senhor da vida, Senhor dos principados e potestades, Senhor de todas as regiões da glória, ou Senhor de todas as chaves, a chave do céu, a chave da casa de Davi, a chave do inferno e da morte, ou do abismo, todo esse senhorio é para nós. Ele está em todos os lugares como Senhor, mas ainda assim por nós. Seus olhos, como os olhos do Senhor, correm de um lado para o outro em nosso favor.
Esse é um senhorio maravilhoso. É, no entanto, sobre, bem como por nós. Como Davi aqui diz: “meu Senhor”. Mas isso tem sido, e ainda será, cada vez mais praticamente esquecido. Pois tanto Pedro quanto Judas profetizam sobre a forma final da apostasia da Cristandade como a negação deste Senhor e Sua autoridade, a transformação de Sua graça em dissolução (2 Pe 2; Jd) E é, portanto, o Senhor que vem vingar os erros de Seu nome negligenciado (Jd 14) “Eis que é vindo o Senhor”.
Este Salmo é verdadeiramente uma grande Escritura. Pode muito bem envolver os pensamentos ampliados de Seus santos que O amam e se deleitam em “aprender em Seu templo”.
J. G. Bellett
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