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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

Breves Meditações Sobre os Salmos - Parte 6/8

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ÍNDICE


 

Breves Meditações Sobre os Salmos

Principalmente em Seu Caráter Profético

J. G. Bellett

Parte 6

 

Salmo 111

 

Este Salmo, e todos aqueles até o Salmo 118, não têm título. Podemos entender isso como uma pequena indicação de que eles dependem, em certo sentido, dos Salmos anteriores. Pois o grande mistério divino do Homem “pobre e necessitado”, exaltado para ser “Senhor” no céu agora, com a promessa de um reino, havia sido revelado; e esses Salmos parecem ser certos exercícios de coração sobre esse mistério. E deixe-me dizer, a alma deve estar sempre pronta para acolher toda a revelação divina dessa maneira. Quando o apóstolo, sob o Espírito Santo, traçou profundos e extensos propósitos de Deus (Rm 9-11), no final, ele irrompe com uma nota de admiração: “Ó profundidade das riquezas”! E pobre e sem proveito será todo o nosso conhecimento, se não levar a isto – “se de nossas meditações não trouxermos para casa algums gravetos para acender nosso próprio fogo”.

 

Os Judeus conectaram vários desses Salmos (Sl 113-118) e os chamaram de “o Grande Hallel”[1], usando-os particularmente nas festas.

[1] N. do T.: “Hallel” Este termo, que significa “louvor”, é usado pelos Judeus em referência a alguns dos Salmos.

 

O próprio Jesus, ou o Espírito de Cristo no adorador, é ouvido neles.

 

O louvor irrompe desde o início. Esse seria o fruto dos lábios, quando a alma estivesse ouvindo (como presumimos) o grande tema dos Salmos precedentes.

 

Aqui no Salmo 111, o adorador está celebrando as obras do concerto de Deus, das quais, em meio à multidão delas, como sabemos, os sofrimentos e a glória de Jesus formam o grande conteúdo. O “bom entendimento” daqueles que temiam o Senhor também é declarado, pois o fim certamente mostrará a sabedoria de ter vivido assim neste presente mundo mau.

 

Salmo 112

 

O tema continua – as bênçãos adicionais daquele que teme ao Senhor. No sentido pleno, Jesus é este Obediente; e tudo o que é aqui falado foi prometido a Ele na ressurreição, e será Sua porção no reino. As atuais virtudes e vantagens daquele que é bom e justo, daquele que teme a Deus, também são mais plenamente exibidas. Mas este é outro aleluia – ainda é para o louvor do mesmo Senhor – outro levantar da voz em louvor.

 

O caráter Judaico deste Salmo (como é o dos Salmos em geral) pode ser deduzido com muita certeza pela maneira que o Espírito no apóstolo Paulo usa o versículo 9 em 2 Coríntios 9:8-10. Pois podemos observar que o que é questão de promessa aqui, é apenas questão de desejo ali, em 2 Coríntios. E isso é facilmente explicado – e é belo. Pois as bênçãos, com as quais os santos devem contar nesta era, não são terrenais, ou nas circunstâncias da vida presente, como a promessa de Deus neste Salmo sugere. Podemos desejar, em amor fraternal, apresentar coisas boas para os santos, como João faz para Gaio (3 João 2); mas essas coisas não são objeto de promessa de Deus para nós.

 

Salmo 113

 

Este ainda é um enunciado de gozo e louvor preparado para o mesmo tempo e povo. É uma nota rica e elevada de ação de graças a Jeová por tudo o que Ele fez em graça por Seu povo, expressa nas figuras impressionantes de levantar o pobre do pó e de fazer a mulher estéril cuidar da casa. Os cânticos de Ana (1Sm 2) e de Maria (Lc 1) são semelhantes a este; e elas eram, em seus dias, a pobre e a esposa estéril e, em um mistério, Jerusalém. As obras foram louvadas no Salmo 111; o tema mais profundo, o Nome de Jeová (TB), é entoado aqui.

 

Salmo 114

 

Novamente, temos o mesmo assunto. O Êxodo é aqui lembrado pelo Israel do último dia. E seus pais, no dia de conflito com seus inimigos, foram ordenados a ter a mesma lembrança, para que não temessem ninguém que se levantasse contra eles (veja Deuteronômio 7:18).

 

E o segredo de toda santa coragem é revelado de forma muito impressionante – o poder da presença divina sentida em toda a criação, assim que ela se colocou em companhia do Israel escolhido e redimido.

 

E de uma forma ainda mais tremenda a natureza sentirá isso novamente, quando o Senhor Se levantar pela segunda vez para Israel e para juízo. Haverá então um grande abalo. Os céus e a Terra serão comovidos, e o Sol e a Lua se escurecerão, e as estrelas retirarão o seu resplendor. Nessa linguagem, os profetas anunciam o poder daquele dia vindouro, quando o juízo cairá sobre as nações, e Israel novamente se tornará o santuário e domínio do Senhor. O segundo advento surpreenderá o mundo, como a presença de Jeová no passado fez com as colinas e os mares, conforme descrito aqui em figura.

 

As concepções aqui estão no mais rico estilo de poesia, como outros já observaram. Quão variadas as belezas dos oráculos de Deus, quão altas e profundas as maravilhas, quão infinitas e indescritíveis as glórias morais!

 

Salmo 115

 

Este Salmo ainda está em bela conexão. A Terra pode tremer, como acabamos de ver, quando o Senhor estiver Se revelando e declarando Sua justiça, mas então Israel terá um cântico. E este é o cântico deles, em espírito; em antecipação, o cântico de ressurreição de Israel (vs. 17-18). Ele irrompe muito gloriosamente, atribuindo todo o louvor de sua atual condição ao Senhor. A ressurreição consciente precisa fazer isso (veja Romanos 4:20); pois um morto, agora em vida novamente, tem nada menos do que o poder divino para se apropriar. O Israel do último dia aqui celebra Jeová como seu “auxílio” e “escudo”. Por meio de toda a sua ordem santa, eles fazem isso. E eles triunfam sobre seus adversários e todas as confianças vãs deles, e confiam n’Ele para as bênçãos que ainda estão por vir (vs. 12-13). E essa confiança é imediatamente honrada por um oráculo de cima (vs. 14-15).

 

Israel se regozija com o pensamento de que o seu Deus está “nos céus” (v. 3; veja Salmo 110:1). Eles podem não entender completamente; mas sabemos que, assim como Jesus no túmulo foi um sinal para eles (Mt 12:40), assim é também Jesus em ressurreição (At 2:30-31, 13:32-33). E eles terão uma resposta para o desafio frequentemente repetido de seus inimigos: “Onde está o seu Deus?” (vs. 2-3; veja Salmos 42, 79; Jl 2; Mq 7).

 

Salmo 116

 

Este é o cântico de ressurreição do Messias. Ele segue de maneira bela o precedente, como se o Messias Se juntasse a esse gozo e louvor, ou melhor, deixasse Sua voz elevar e crescer acima da de Israel, para que Ele pudesse ser o Líder da congregação. Sabemos, por 2 Coríntios 4:13, que é Jesus que é ouvido neste Salmo; mas dali nós também aprendemos que qualquer um com “o mesmo espírito de fé” pode, em sua medida, usá-lo.

 

Ele, a Quem Jesus clamou como capaz de salvá-Lo da morte, O ouviu; e este Salmo é para expressar isso quando Ele diz, “Pai, graças Te dou, por Me haveres ouvido” (Jo 11). O verdadeiro Ezequias, Cabeça e Representante de Israel, é ouvido aqui. “Os vivos, os vivos” Ele louva a Deus (veja Isaías 38). Ele paga aqueles votos que, em Sua angústia, Ele havia feito (Sl 22, 61, 66). Jacó, em certa medida, falhou em fazer isso, ou foi tardio em fazê-lo (Gn 28, 35).

 

A “terra dos viventes”, ou a terra da glória (Is 4:5; Ez 26:20), é Canaã. Os Judeus a interpretaram assim. Mas isso, é claro.

 

Os cálices do Senhor são dois, – o da tristeza e o do louvor; em outras palavras, o do Getsêmani ou Calvário (Lc 22) e o do reino (veja Salmo 75).

 

A “precipitação” do Senhor (v. 11) parece expressar o caráter pascal de Sua alma. Os críticos nos dizem que a palavra original não implica “defeito moral”. Ela é a mesma palavra de Êxodo 12:11. Pois toda a Sua vida era no caráter estrangeiro de Israel na Páscoa do Egito, e era a grande testemunha segura de que todos os homens eram mentirosos – apóstatas de Deus. Mas dentre meros “homens”, Ele separa os eleitos, parecendo dar-lhes uma íntima identificação Consigo mesmo, sendo eles ao Senhor também preciosos em sua morte, assim como Ele havia sido.

 

Seu cântico no reino é novamente sugerido aqui (Sl 22; Hb 2). E se Jesus cantou com Seus discípulos nos dias da Sua carne (como sabemos que Ele fez – Mateus 26:30), quanto muito mais Ele estará preparado para fazê-lo nos dias do reino!

 

Mas além de o Senhor assim cantar em companhia de Seus santos, não podemos sugerir que em alguns momentos Ele será ouvido sozinho? Pois aqui é testemunhado a respeito d’Ele: “Pagarei os Meus votos ao SENHOR, agora, na presença de todo o Seu povo” (vs. 14, 18). É um terno pensamento, e a alma o tocará suavemente. Mas parece que Ele será ouvido sozinho às vezes. Pois se Suas tristezas foram uma vez peculiares, então podemos dizer que Suas alegrias também assim serão. E isso pode nos levar a permitir o pensamento de que Jesus, em certos momentos, terá um cântico solitário ou peculiar, e a congregação então dando-Lhe ouvidos; como em certos momentos sabemos que eles próprios serão ouvidos; e em outros momentos Ele os conduzirá (Sl 34:3).

 

Salmo 117

 

Aqui a Terra é chamada a se unir no gozo e no louvor da ressurreição e a celebrar “benignidade” e “verdade”, como Israel ressuscitado estava fazendo agora. Israel, e o Cabeça vivo de Israel, foram ouvidos entoando suas várias aleluias, e as nações agora, por sua vez, são convocadas a essa harmonia e a participar dessa santa melodia.

 

Este Salmo, a porção mais curta do Livro de Deus, é citado em Romanos, e é dado muito valor a ele (Rm 15:11). E a esse respeito foi observado de forma proveitosa: “É uma pequena porção da Escritura e, como tal, podemos facilmente ignorá-la. Mas não é assim com o Espírito Santo. Ele recolhe este pequeno e precioso testemunho que fala da graça aos gentios e chama a nossa atenção para isso”.

 

E posso dizer, há muito tempo tenho me deleitado no fato de que o Espírito no decorrer do Novo Testamento muitas vezes traz à luz, por assim dizer, alguns cantos obscuros das Antigas Escrituras que podem ser naturalmente ignorados – como Oséias 11:1; Amós 5:26, 9:11; Habacuque 1:5; Provérbios 25:22; Naum 1:15. Mas isso ajuda a afirmar a preciosa verdade de que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (ARA). As estrelas naquele hemisfério de glórias podem diferir em magnitude, mas são todas igualmente obras de uma mão. Não há, talvez possamos dizer, nenhuma parte do Velho Testamento que não seja expressamente citada, ou distintamente referida, ou silenciosamente vislumbrada no Novo.

 

Salmo 118

 

Este Salmo encerra esta série de sublimes cânticos de louvor. O Salmo 110 havia assentado Adon[2] ou Cristo à direita de Jeová no céu, antecipando Seu retorno ao poder e ao descanso do reino. Aqui, a nação de Israel O acolhe de volta e, apropriadamente, no caráter da “cabeça da esquina”, pois Sua anterior exaltação nos céus Lhe havia conferido tal posição (At 4:11). Essa é a linguagem de Israel, pronta para Jesus e Seu reino (Mt 23). É a introdução dessa pedra de esquina com aclamações (Zc 4:7).

[2] N. do T.: A palavra Adon e Adonai, e o plural Adonim, são todas traduzidas como “Senhor”; elas ocorrem com frequência e são encontradas em algumas palavras composta na Bíblia. Veja mais aqui.

 

A Escritura está repleta de referências a Cristo como “a Pedra”.

 

Essa maravilhosa Pedra ou Rocha foi formada no Calvário; pois os arqueiros tiveram que entristecê-Lo, atirar n’Ele e odiá-Lo, antes que Ele, como Pedra (Gn 49), pudesse ser totalmente formado, a “Pedra provada” (TB). Então, no devido tempo, Ele foi estabelecido diante de Israel como seu Fundamento; mas eles tropeçaram n’Ele em vez de construir sobre Ele (Is 28, Rm 9). Ele é agora, com o mesmo caráter, apresentado a um mundo inteiro de pecadores, e alguns O encontram como sua Pedra vivificante, enquanto os homens geralmente O rejeitam (1 Pe 2). Mas Ele está no céu, reconhecido como Cabeça da esquina, e dessa posição elevada Ele descerá no devido momento, e em Sua vinda esmiuçará Seus desprezadores até o pó (Dn 2; Mt 21). Então, Seu verdadeiro Israel O acolherá, como este Salmo nos mostra. E em Seu reino Ele será a Pedra – na Terra, gravada com “sete olhos”, exercendo um governo diligente sobre toda a cena (Zc 3) – no céu, entronizado como a gloriosa Pedra preciosa (Ap 4), com Seus santos ressuscitados resplandecendo como gloriosas pedras preciosas ao Seu redor (Ap 21).

 

Maravilhosa história! Mas isso só quando passamos por este magnífico Salmo; no entanto, como alguém observou, sendo nossa admiração nada menos que adoração.

 

É o reino, ou “dia do Senhor”, que é aqui comemorado com regozijo, como havia sido “a ressurreição” antes, no Salmo 116. E este “dia”, sem dúvida, trará “luz” (v. 27) a Israel; e será também a grande testemunha de que “a Sua benignidade é para sempre”, o grande tema ou ocasião de contínuos sacrifícios de louvor e de ação de graças (vs. 28-29). Pois o gozo de Jesus e Seus santos é duplo: o gozo da ressurreição, e o gozo do reino. Jesus conheceu o primeiro, quando Ele destruiu em Sua própria Pessoa o poder da morte e da sepultura; Ele conhecerá o segundo no dia vindouro de Seu poder em Jerusalém.

 

Este é um encerramento adequado e solene deste grande Hallel, como os próprios Judeus chamam esta coleção de Salmos, como já observei. E este último deles, o Salmo 118 é a celebração dos gloriosos caminhos do Senhor, em um estágio além daquele ao qual (salvo em perspectiva) o Salmo 110 O levou. Lá nós O vimos assentado à direita no céu, e O deixamos lá, como Alguém que espera o Seu dia e reino. Mas aqui Sua expectativa se concretiza. Seus inimigos foram subjugados, e Ele está entrando pelas portas de Sua cidade real. Assim como Ele uma vez subiu o brilhante caminho da Terra até a destra de Deus, agora Ele desceu do céu pelo brilhante caminho, para executar vingança contra Seus inimigos, como então prometido a Ele, para satisfazer os corações desejosos de Seu povo e para Se assentar no reino.

 

Que caminhos para os pés de Jesus são esses! Aqueles pés que conheciam apenas os lugares espinhosos deste mundo desértico, percorrem nestes Salmos esses caminhos gloriosos – o caminho ascendente para Deus e o caminho descendente para o reino. Então o Senhor terá o Seu dia. E será um jubileu, quando os princípios de Deus formarem e preencherem a cena (Lv 25). Seus conselhos de sabedoria e amor serão manifestados e exaltados, e Seu povo levantará o louvor, como fazem aqui – “atai a vítima da festa com cordas, e levai-a até aos ângulos do altar”. Mas quem pode expressar tudo isso? Como nosso poeta canta:

 

“Quem cumprirá o cântico sem limites?

 Quem é o ousado pretendente que se atreve?

 O tema transcende a língua de um anjo,

 E o coração de Gabriel desiste da esperança”

 

Salmo 119

 

Este Salmo relata as várias virtudes da Palavra de Deus e o deleite e o proveito dos santos nela. Qualquer crente, de modo geral, pode usá-lo como os anseios de sua própria alma; mas em seu completo caráter profético, parece que será a linguagem do verdadeiro Israel em seu retorno a Deus e Seus oráculos há muito negligenciados.

 

Quando o Senhor veio, Ele encontrou os Judeus negligentes e ignorantes da Escritura. (Mt 15:6, 22:29; Jo 5:38, 47). Mas o Remanescente é direcionado a ela (Is 8:20; Ml 4:4). E este Salmo mostra a obediência deles nessa direção e o exercício de coração nos escritos divinos. Eles abandonaram suas próprias tradições e estão ouvindo “Moisés e os Profetas” (Lc 16:29-31).

 

Esdras, enquanto estava cativo na Babilônia, ocupou-se diligentemente com a Palavra de Deus, assim como o Remanescente fará (Ed 7:6). Os Judeus da Bereia apresentam uma amostra deles, da mesma forma, nesse caráter (At 17:11). E a história de Josias faz o mesmo. Ele reinou depois que o julgamento foi pronunciado contra Jerusalém. Seu arrependimento não poderia mudar isso. O juízo ainda estava por vir; mas Josias (como o Remanescente de Deus) será poupado. Pois ele havia proposto em seu coração servir ao Senhor quando tudo estava se apressando para a ruína. Mas temos na história mais um fato – que no meio de seus feitos e serviços, o Livro da Lei é encontrado, e que imediatamente opera para dar um novo tom a todos os seus caminhos. Ele começa consigo mesmo. Ele toma o lugar de alguém convencido e humilhado. Nesse espírito, ele se dispõe a trabalhar novamente, e faz dos oráculos de Deus a regra de todo o seu serviço (2 Rs 22-23; 2 Cr 34-35).

 

Josias, dessa forma, com zelo se voltou à Palavra de Deus que havia sido tão inteiramente perdida para a nação por causa de suas vaidades idólatras. E assim, o último dia, o Remanescente arrependido se voltará com um coração atento e obediente para a Palavra de Deus, tratando-a com especial honra e consideração,

 

conscientes como estarão de tê-la negligenciado por tanto tempo e de forma tão grave. Pois esse é o fruto que o arrependimento produziria de forma devida e natural. Será a restauração; restituindo, como Zaqueu, quatro vezes a mais aquilo que eles haviam defraudado.

 

Mas não podemos passar por este Salmo valioso e profundamente devocional sem uma pequena pausa adicional. Desde o início de Seus caminhos, vemos o valor de Deus para Sua Palavra escrita. Ele fez uma cerca em volta dela, para que nenhuma mão irreverente possa tocá-la sem ficar culpado, seja para acrescentar ou tirar algo dela. E Ele a atou ao redor do coração, diante dos olhos e nas mãos de Seu povo. Os portões do campo, as portas da casa, a manhã e a noite da família, a caminhada fora e o descanso dentro de casa, tudo era para testemunhar isso (Dt 6, 11). Isso deveria misturar-se com toda a vida pessoal e social de Seu povo e lançar sua luz em todos os caminhos de sua jornada diária, por mais comuns que fossem. Não é abençoado ver o Senhor assim estimando Sua própria revelação e recomendando-a assim à nossa estima? E agora isso deve ser apagado de nossos portões e portas e das palmas de nossas mãos? “A malícia de Satanás não se enfureceu menos contra o Livro do que contra a verdade nele contida”. A vida divina do santo atende a ela e não pode se privar dela. É o alimento da vida de fé e da esperança. Ela leva a alma a Deus e a mantém perto d’Ele e com Ele, por meio do Espírito. Quanto mais as virtudes e consolações da nova vida forem valorizadas, assim será a Palavra. E o crente invoca a Palavra ou a Escritura como a resposta a essa grande pergunta: “Onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento?” (Jó 28:12 – ARA). Pois somente Ele, que conhece o caminho da sabedoria, fez da Escritura sua morada. E com Ele o santo fala, comparando-a com tudo o mais: “O que é a palha para o trigo?” (Jr 23:28 – JND)

 

Que possamos segurá-la firme, bem como usá-la habilmente à luz do Espírito Santo em nós! Pois se há o erro de tirar essa chave da ciência (Lc 11), também há o erro de usá-la com uma mão indouta e inconstante (2 Pe 3). Vamos usá-la com a mente reverente e adoradora do servo de Deus neste belo e mais precioso Salmo. Saibamos algo sobre os anseios de seu coração sobre os santos oráculos, dizendo: “Abri a boca e suspirei, pois ansiava por Teus mandamentos” (Sl 119:131 – JND).

 

Cânticos dos Degraus

 

Os Salmos 120-134 são intitulados “Cânticos dos Degraus”. Tem sido considerado que eles foram colocados juntos e receberam um título comum porque foram usados em alguma ocasião ou diziam respeito a alguma ação, em seus diferentes estágios, como o retorno dos cativos da Babilônia a Jerusalém. E pelas marcas internas, isso pode muito bem ser assim. Embora escritos pelo Espírito em momentos diferentes, eles foram usados, com toda a probabilidade, na ordem em que aparecem aqui, por aqueles cativos retornando, em diferentes estágios de sua marcha de volta para casa – como as várias partes do Salmo 68 foram cantadas em diferentes pontos daquele cortejo, que estava levando a Arca para a cidade de Davi. Pois nesses Salmos encontraremos uma percepção crescente de nos aproximarmos cada vez mais de casa ou do lugar de descanso até que finalmente esse lugar seja alcançado com louvor.

 

A saída da Babilônia é celebrada antecipadamente pelos profetas, em linguagem muito elevada (Is 48:20, 52:11-12). Mas fala-se da libertação da Babilônia, depois que o cativeiro voltou dali nos dias de Ciro (Zc 2:6-7) Assim, o retorno naquela época foi, como uma figura, a garantia do retorno de Israel de outro cativeiro, isto é, sua atual dispersão; e esses Salmos podem responder às declarações do Remanescente dos últimos dias, ao passar por diferentes estágios de suas provações, até serem trazidos para o repouso do reino. E eles podem apropriadamente, em espírito, sob certas condições e experiências, ser a expressão de qualquer santo peregrinando pelo presente mundo para a glória e presença do Senhor – um homem peregrino com Jesus.

 

Mas posso observar ainda que esses Salmos provavelmente foram cantados pelos cativos que retornaram, pois, com Zorobabel, outros 200 cantores são mencionados, e outros também com Esdras, em seu respectivo êxodo da Babilônia. (veja Esdras 2:64-65, 7:7). E segundo esse padrão feliz, nós, em espírito, devemos cantar, na jornada da Babilônia a Jerusalém – da cidade do homem à cidade de Deus – deste presente mundo mau para o mundo vindouro. Deixando um e alcançando outro que temos por nosso chamado. E a percepção disso deve colocar um cântico em nosso coração. Mas ainda estaríamos apenas “a caminho”, insatisfeitos com tudo aquilo que não é Jerusalém. Poços de água e cânticos de alegria não podem fazer do lugar de nossa jornada o nosso lar. Os 300 escolhidos por Gideão expressam isso. O refrigério não tinha poder para detê-los no caminho. Eles o tomaram somente por causa da viagem, ou como um povo viajante deve fazer. Eles lamberam a água como um cão viajante a lambe, e não se ajoelharam diante dela, como se estivessem ficando dependentes dela.

 

E esta deve ser a nossa mente. Somos salvos em esperança; e até mesmo o Espírito Santo, a devida Fonte de todas as consolações pelo caminho, habita em nós para dar força e não impedimento à esperança (Rm 15:13); pois Sua presença não é nossa Jerusalém, Seus refrigérios não são a ceia do Cordeiro.

 

Esses Salmos, na versão siríaca, são chamados de “Cânticos da subida desde a Babilônia”. Isso está de acordo com a visão que temos deles aqui. E podemos notar que a mesma palavra hebraica é usada em referência à viagem ou subida dos cativos da Babilônia à Jerusalém, como é usada para expressar o título desses Salmos (Ed 7:9), passagem essa que confirma isso ainda mais.

 

Gostaríamos agora de destacar cada um deles um pouco mais particularmente.

 

Salmo 120

 

Este Salmo ainda se adequa devidamente a um Israelita, (embora prestes a deixar de ser) um cativo relutante na Babilônia, ou nas moradas da iniquidade. A língua, como aqui, é frequentemente notada como o ofensor especial contra Deus e Seu povo. Doegue, Simei, as falsas testemunhas (Sl 12, 52) assim ofenderam. E o mesmo acontecerá com o último inimigo (Jd 15-16) de acordo com o seu tipo, o chifre pequeno (Dn 7:25). Mas brasas vivas de zimbro e as flechas agudas do Valente (Cristo – Ap 19) o aguardam; e o cativo, embora ainda em cativeiro, encoraja o pensamento desse juízo sobre seus inimigos. O cidadão de Jerusalém pode muito bem pronunciar a linguagem dos versículos 6-7, enquanto ainda está na Babilônia; pois uma é a cidade de Deus, “a cidade da paz”; a outra, a cidade do homem, “a cidade da confusão”.

 

NOTA: Os próprios Judeus entendem este Salmo como do presente cativeiro, do qual esse, o da Babilônia foi o exemplo ou precursor, como sabemos.

 

Salmo 121

 

Aqui, como se o decreto de libertação tivesse acabado de ser publicado, o Israelita olha para Deus em busca da jornada esperada e recebe uma resposta de paz. E que companhia diferente é essa para o pobre Israel de Deus! Nas tendas de Quedar antes, ele tinha a língua falsa contra si; agora, na jornada para casa, ele espera em seu Senhor vigilante. Essa não seria a antiga glória da Coluna manifestada que o guiava, mas ainda havia igual cuidado e certeza dos olhos do Pastor vigilante sobre Seu povo – vigilante, embora invisível.

 

E as promessas aqui feitas ainda são para o retorno de Israel no último dia (veja Isaías 49:9-10).

 

O versículo 1 me leva a dizer isto – que devemos acostumar nossa alma a olhar mais para nossos recursos do que para nossas necessidades ou dificuldades. Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro?”. O Senhor ordena isso; como, por exemplo, em Deuteronômio 7:17-19. E o que é Romanos 8:31-39, senão o santo que se vangloria de seus recursos diante de todas as necessidades? Devemos familiarizar nosso coração com as promessas e provisões da graça, para que, quando surgir a ocasião, possamos entrar no campo de batalha, como o exército de Josafá, com a doce voz dessas promessas, como instrumentos de música, em nossos ouvidos, e sermos levados adiante nessa alegria para a vitória. Pois “alegria... é... força”, como Neemias disse à congregação (Ne 8:10).

 

Os versículos 3-8 parecem ser a linguagem de um oráculo divino entregue em resposta à fé expressa nos versículos 1-2.

 

Salmo 122

 

Este cântico pode ter sido inspirado para o uso dos adoradores que subiam para as festas; mas era adequado para os cativos que retornavam, os quais, no Salmo anterior, estavam antecipando o cuidado de Deus por eles na jornada, e agora antecipam o fim dessa jornada e a recuperação da casa do Senhor. Portanto, pode ser a aspiração de qualquer alma renovada olhando para Jerusalém nos céus. E certamente servirá ao Remanescente afligido pelos problemas do último dia.

 

O salmista celebra de maneira muito bela a cidade de Deus como a cidade da paz, o lugar onde Deus gravou Seu nome, a cena de gozo e louvor, o centro de adoração e de todas as santas solenidades, e também a sede do governo de Jeová. Ela é saudada como o testemunho tanto do Trono como do Templo, onde a Glória e a Espada habitavam juntas, onde, como falamos, uma Teocracia é manifestada. Ele convida os outros a buscar a paz dela e, finalmente, dirige-se a ela com calorosas garantias de amor, tanto por causa de seus irmãos quanto por causa do Senhor seu Deus; pois o ajuntamento solene deles estava ali, e Sua Casa estava ali.

 

Salmo 123

 

O suplicante (identificando-se com os outros) olha, em meio às reprovações dos adversários, para o Senhor nos céus; tomando para si a mente feliz de um servo, que pode esperar cuidado e proteção da mão d’Aquele a Quem serve. Pois o versículo 2 expressa a atitude de confiança, não de sujeição – embora naturalmente sujeição esteja implícita. E proteção pode ser reivindicada onde sujeição é prestada.

 

Isso se adequa à expressão dos cativos, no momento em que eles estavam partindo em sua longa e árdua jornada; aqueles que estavam “à vontade” na Babilônia naquele momento zombavam deles e os desprezavam. Os “soberbos” de lá só então os teriam visto como um grupo de pobres peregrinos, uma marca adequada para seu escárnio. Eles suportam o mesmo desprezo em sua presente dispersão entre os pagãos ou gentios (Jr 30:17). O dedo ainda é apontado.

 

A alma vivificada, apenas começando a voltar-se para Jesus, deve contar com tal desprezo. Pois, em espírito, este Salmo é a linguagem de todo santo que deve entender o que é o desprezo dos soberbos e sofrê-lo de bom grado. “Estás louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!”.

 

Salmo 124

 

Este Salmo é proferido sob uma calorosa percepção de alguma nova e distinta misericórdia. É adaptado aos cativos que retornam, pois acabaram de superar o desprezo de seus inimigos caldeus, que, como vimos, estavam sentindo no Salmo anterior. Mas ele mostra que eles haviam suportado perseguição, bem como desprezo – tal perseguição que os teria destruído, se não fosse pela ajuda prenunciada do Senhor.

 

No dia da oposição dos homens, esta declaração pode, da mesma maneira, servir a qualquer alma piedosa; e pode, não duvido, ser especialmente usada pelo Israel dos últimos dias, que deve suportar muito dessa oposição vinda dos homens da Terra, que têm sua porção no mundo do homem.

 

Salmo 125

 

Como o Salmo anterior foi proferido sob a percepção de alguma recente libertação, este Salmo é a expressão de estar conscientemente mais distante de tudo o que aflige ou ameaça. O Israel de Deus aqui desfruta de calma após a tempestade. O coração dos cativos que retornam agora está em paz; e o resgate deles da Babilônia os ensinou que, embora o Senhor possa por um tempo usar os ímpios como uma vara de ira sobre Seu povo, Ele não deixará essa vara repousar ou permanecer sobre eles. Ele combaterá com Sua vara, dando-lhe uma medida de duração, bem como uma medida de severidade, lembrando graciosamente que o espírito poderia falhar sob uma opressão muito longa (veja Eclesiastes 7:7). De fato, Ele encerrará Sua indignação contra Israel pela destruição daquela vara (Is 10:5-25).

 

Israel, então, deseja ainda mais o bem do Senhor, e eles se asseguram de que Ele tratará com justiça os hipócritas e os malfeitores. E assim a nação será purificada no último dia de tudo o que não é o Israel refinado de Deus, a parte trazida através do fogo.

 

Mas neste Salmo podemos dizer quão surpreendentemente os pensamentos do Espírito nos profetas expressam a provisão variada do Senhor para o Seu povo! Ele plantará montes à roda de Sião quando ela precisar de segurança; Ele espalhará uma planície ao redor dela quando ela precisar se aquecer à luz da glória (veja o versículo 2 e Zacarias 14:10)

 

Salmo 126

 

Os resgatados do Senhor, que agora estão a caminho, como vimos, lembram-se de seu regozijo quando o decreto de Ciro foi publicado, e também das gentis palavras de alguns de seus vizinhos naquela ocasião. Pois na multidão ao redor da cruz, enquanto havia aqueles que clamavam: “Crucifica-O, crucifica-O”, havia também as filhas de Jerusalém que choravam. Isso também tem sido comumente visto no martírio dos santos. E eles aparecem aqui no retorno de Israel da Babilônia. Alguns os desprezavam (Sl 123:3-4), enquanto outros se congratulavam com eles (v. 2).

 

Os cativos em seu retorno, e isso muito naturalmente, lembram sua oração (v. 4), e são capazes de extrair a moral de toda a história (vs. 5-6) – uma moral, também, que marca a história do próprio Cristo e de todo o Seu povo. Depois, Ele semeou em lágrimas sobre Jerusalém (Lc 19:41), mas, em breve, Ele segará com alegria (Is 65:18-19).

 

Quão pouco os crentes percebem o gozo da libertação expressada neste belo Salmo. Os cativos, por decreto de Ciro, eram como homens que sonhavam. Era como se alguma ousada ficção houvesse enchido o coração deles, tão extasiados estavam com a alegria daquele momento. Oh, que possamos conhecer isso quando pensamos na salvação e em Jesus! O eunuco seguiu seu caminho jubilando-se, e o regozijo parece tê-lo deixado indiferente à estranha partida de seu querido companheiro. Como nosso coração deveria cobiçar esse saciante deleite n’Ele!

 

NOTA: Não podemos deixar de notar que Ciro, o conquistador da Babilônia e o libertador de Israel, é uma figura de Cristo, e assim tratado por Isaias (veja Isaias 44-45). Ele e suas conquistas foram nomeados e descritos por aquele profeta quase 200 anos antes de Seu nascimento.

 

Salmo 127

 

Este Salmo também é adequado aos cativos que retornavam, os quais, durante a jornada, precisavam ter a casa e a cidade em perspectiva, bem como as alegrias de lares e famílias novamente diante deles, quando sua frutificação e prosperidade em sua própria terra dariam uma triunfante resposta a muitas palavras de escárnio de seus arrogantes adversários. E assim será com o Remanescente nos dias vindouros, quando, embora em provações, eles terão expectativas dadas a eles pelo Deus da esperança. E este Salmo é uma confissão devota de que essas bênçãos esperadas, sim, que toda força e bênção vêm somente de Deus, e que sem Ele o trabalho humano é vaidade (veja Zacarias 4:6).

 

Mas muitas vezes (quantas vezes!) há exercício de espírito onde todos devem estar quietos (v. 2) “estai quietos e vede o livramento do SENHOR”. É a incredulidade que levanta tudo isso. Assim como Jacó: ele estava orando quando deveria estar descansando na promessa (Gn 22). Ele teme, calcula e resolve tudo de acordo com o melhor conselho do homem, quando, como herdeiro da bênção e possuidor da primogenitura, deveria ter confiado e descansado. No entanto, o mesmo não aconteceu com Pedro. Na sua prisão, entre dois soldados e amarrado com duas correntes, ele dorme, e dorme tão profundamente na promessa e suficiência de Deus, que seu libertador tem que tocá-lo no lado para despertá-lo (At 12). E como dormia o verdadeiro “Amado Bendito”, quando ventos e ondas estavam ao Seu redor (Mc 4).

 

Salmo 128

 

Pensamentos decorrentes das mesmas expectativas continuam. A felicidade de um cidadão de Sião, em sua prosperidade temporal, em seus prazeres familiares e na paz e honra de seu país, é descrita. Pode ter sido, assim como o Salmo anterior, a linguagem de Salomão; pois em seus dias os cidadãos de Sião se manifestaram assim em sua prosperidade. Mas também, como o anterior, combina bem com os cativos que retornam; pois eles voltam, é claro, cheios de visões de toda essa felicidade. E será a gozosa expectativa do Israel de Deus nos dias futuros.

 

A felicidade da família patriarcal é aqui aguardada; pois isso será revivido no reino da Terra (v. 6 e Gn 1:28). Os prazeres humanos na ordem familiar e nas bênçãos terrenais em geral serão a porção de Israel nos dias do reino. Como antigamente, nos dias que eram figurativos do reino, lemos que “eram, pois, os de Judá e Israel muitos, como a areia que está ao pé do mar em multidão, comendo, e bebendo, e alegrando-se” (1 Rs 4:20).

 

Salmo 129

 

Aqui, o mesmo grupo tem uma lembrança, pois nos dois Salmos anteriores eles tinham uma perspectiva em mente. Eles olham para trás aqui, como lá eles estavam olhando para frente. Lá o que os ocupava era a bênção esperada em Jerusalém, aqui suas aflições lembradas na Babilônia – sim, as aflições de sua nação desde a infância.

 

Tudo isso é um exercício variado e natural do coração de um povo em seu caminho; como nossa alma também o tem ao atravessar este mundo de confusão indo para casa, para nosso Deus e para o repouso que nos espera.

 

Os resgatados do Senhor relatam suas injustiças sofridas pelas mãos de seus inimigos, e a sua libertação pelo Senhor; e esperam um julgamento justo sobre os que odeiam Sião – tudo isso servirá para outra geração de Israel em uma condição semelhante. E novamente eles publicam que o próprio Senhor era tudo para eles. Eles contrastam também o estado desfalecido e murcho dos ímpios com seu próprio estado de florescimento que acabamos de apresentar nos Salmos anteriores (veja também o Salmo 1; Jeremias 17). A rápida destruição do inimigo e dos ímpios no último dia, mesmo no exato momento de seu maior orgulho, também pode estar indicada. Pois esse será o destino, conforme a Palavra de Deus, tanto da Babilônia quanto da besta (Dn 11:45; Ap 18:10).

 

Salmo 130

 

Este Salmo exprime o gozo e a confiança que brotam da simples percepção do amor perdoador de Deus; pois somente isso, sem ajuda, tem o poder de transformar o pecador convicto em um adorador aceito e um que aguarda a glória (Rm 5:1-2). É o evangelho que aqui é aprendido e desfrutado pela alma. A pobre alma havia estado clamando desde suas próprias profundezas, porém, apreendendo o amor perdoador de Deus, foi imediatamente levada a cantar sobre Suas alturas e aguardar por Ele.

 

É um belo resumo de Romanos 7-8 – perfeito, embora tão curto. Pois aqui, como lá, a alma é ouvida pela primeira vez como nas tristezas da convicção; depois, no firme terreno da confiança; e então, nas brilhantes elevações da esperança, os anseios e expectativas de um herdeiro de Deus. E este é um evangelho, adequado para ser a expressão de cativos que retornam, de qualquer alma conscientemente em seu caminho em direção a Deus, e também, do Israel despertado e exercitado do último dia. E como nos três Salmos anteriores ouvimos os cativos que retornavam, lembrando-se da Babilônia agora atrás deles, e antecipando Jerusalém agora diante deles, aqui neste Salmo eles também têm lembranças e antecipações, mas de caráter mais profundo, pessoal e espiritual.

 

O pecador, conscientemente aceito, pode corajosa e alegremente dizer a seus companheiros pecadores que olhem junto com ele para Jesus – como aqui a alma chama Israel a esperar no Senhor por causa de Sua misericórdia e salvação.

 

Salmo 131

 

A feliz confiança do Salmo anterior não deve ser condenada como presunção. Eliabe pode acusar Davi de maldade e de um coração presunçoso, mas não é assim. A esperança “no Senhor” será ousada; e assim era a de Davi então, e assim é a da alma nestes Salmos, e assim é o de todo pobre pecador que recebe a graça e a salvação do evangelho.

 

Este Salmo, portanto, segue o anterior de forma impressionante e bela. Esse foi o sentimento, possivelmente, do realmente manso Davi, ao se desviar da reprovação de Eliabe (1 Sm 17:28-30). Mas este Salmo poderia depois ter sido usado alegremente pelo Israel resgatado, que estava então livre e confiante na salvação de Deus. E essa segura “esperança no Senhor” é sempre, quando real e espiritual, combinada com a quietude e a submissão de uma criança desmamada.

 

Essa alusão a Davi leva-me, por um momento, a olhá-lo em 1 Samuel 16-17. Podemos chamar o tempo desses capítulos de juventude ou primavera da alma de Davi. E quão maravilhosamente simples e quão cheio de verdadeira dignidade moral é!

 

Ele era o negligenciado da família. Mas estava contente em ser assim. Ele cuidava prontamente das ovelhas no campo, enquanto seus irmãos mais estimados permaneciam em casa para receber os convidados e fazer as honras da casa.

 

Com a chegada do profeta Samuel, ele é chamado. Mas como o desprezo não o desanimou, as distinções não o exaltam. Assim que a ocasião termina, ele está de volta entre os rebanhos.

 

Ele é então convocado à corte do rei para fazer um serviço que ninguém além dele poderia fazer. Mas, novamente, quando o serviço termina, ele está no deserto com suas poucas ovelhas, desprezado, mas contente (1 Sm 17:15).

 

Ele foi chamado uma terceira vez. Ele agora tem que ir ao arraial, como antes foi à corte. Mas depois de realizar os maiores feitos, ele está disposto a ser ainda desconhecido e, sem pensar em ressentimento, diz quem ele era para aqueles cuja ignorância sobre ele era em si uma espécie de desprezo ou indignidade (1 Sm 17:55, 58)

 

Que beleza, que verdadeira elevação de alma! E qual era o segredo de tudo isso? Ele encontrou sua satisfação em Cristo. O aprisco era tão importante para ele quanto a corte ou o arraial, porque “o Senhor era com ele”. Ele não vivia de entusiasmo, nem se afundava na indiferença. Ele fez o mundo saber que era independente do que eles poderiam lhe dar ou fazer a ele. Uma conquista abençoada! Pode nos lembrar daquelas palavras afetuosas dos Hinos de Olney:

 

“Contente em contemplar Seu rosto,

 Tudo ao Seu prazer resignei,

 Nenhuma mudança de estação ou lugar

 Poderia mudar minha mente.

  

 Quando abençoado com a sensação do Seu amor,

 Um palácio pareceria um brinquedo;

 E prisões se transformariam em palácios

 Se Jesus estivesse comigo lá”.

 

Salmo 132

 

Este Salmo é a súplica de Salomão ao Senhor para se levantar e tomar posse da Casa que ele havia construído, com base no zelo e aflição de Davi, e no próprio concerto e promessas do Senhor (vs. 1-13). O Senhor parece responder imediatamente a isso com promessas ainda maiores do que fizera antes, e com bênçãos mais ricas do que Seu servo desejara (vs. 14-18).

 

Pois este é o Seu caminho – isso é divino. Até mesmo a promessa de Seus próprios lábios, bem como o desejo do coração de Seu povo, é excedido. E a promessa que era condicional (v. 12) agora é sim e amém em Cristo Jesus (vs. 17-18).

 

Acho que vejo uma mente muito correta, se assim posso dizer, em Salomão aqui. Pois enquanto ele deseja a bênção de Deus sobre si mesmo, o “ungido”, ele a deseja em conexão com a presença de Deus, ou com a entrada da Arca em seu descanso. Isso é exatamente como deveria ser. Podemos buscar a felicidade se a buscarmos no e com o Senhor.

 

A Arca tinha sido uma estrangeira nos dias de Saul (1 Cr 13:3). O primeiro desejo de Davi era restaurá-la; e este Salmo mostra que esse desejo o consumia. Podemos admitir isso, quando entendemos Davi como nos foi apresentado em 1 Crônicas. E isso em Davi é pleiteado aqui por Salomão. Então, Jesus poderia dizer: “O zelo da Tua casa Me devorará”. Restaurar a Deus uma morada entre os homens, e trazer o homem de volta a Deus, foi a fonte de Suas energias, o segredo de Suas muitas aflições. As dores e a cruz de Jesus abriram um caminho para que a glória retornasse, ou para que a presença de Deus, há muito tempo afastada, enchesse novamente a Terra em sua estação; assim como o mesmo sangue já rasgou o véu e está preparando moradas na casa celestial para nós.

 

A “lâmpada” (ou “lâmpada de fogo” Gn 15:17 conforme – KJV), que aqui é prometida para brilhar no reino do Filho de Davi em breve, foi espiada de longe por Abraão que assim viu o “dia” de Cristo e se “exultou”. Esse tem sido o desejo de Cristo e de Seu povo, durante todo o tempo da noite deste mundo presente (Is 62:1). O próprio Senhor, em resposta a esse desejo, a acenderá no devido tempo (Sl 18:28). E então ela brilhará em todo o seu esplendor no reino (Is 60:1).

 

Assim, o “chifre [a força – ARC] (JND) irá então “brotar”, como aqui também prometido. O carvalho de Judá, o tronco de Jessé, há muito tempo é um toco seco. Mas a sua substância tem estado nele, embora esteja desfolhado (Is 6:13); e no último dia, trazido para fora, como a vara de Arão, como vinda da presença de Deus (Nm 17), ele reviverá, brotará e será frutífero. “As misericórdias de Davi” são “firmes” em Jesus ressuscitado (At 13:34 – TB).

 

Temos tudo isso neste magnífico Salmo de Salomão. E sendo de tal caráter, poderia de maneira muito feliz ter sido usado pelos cativos, agora se aproximando desta casa que Salomão havia construído para o Senhor. E assim pode ser novamente retomado pelo coração e pelos lábios do povo nos dias do reavivamento de Israel, quando a expectativa conta com um rápido cumprimento.


J. G. Bellett

 

 




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