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Gideão (Outubro de 2018)


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Revista mensal publicada originalmente em Outubro/2018 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


C. H. Brown

W. J. Prost

Christian Truth (adaptado)

E. Dennett

H. L. Rossier (adaptado)

W. J. Prost

W. J. Prost

G. C. Willis

W. T. Turpin (adaptado)

J. N. Darby

J. Newton (1725-1807)

 

Gideão


Hoje a professante igreja de Deus é comparável aos dias dos Juízes, cada homem está fazendo aquilo que parece reto aos seus próprios olhos. Mas, se você encontrar em seu coração uma disposição para seguir esse caminho, estará declarando claramente que está seguindo o que é errado.


Os filhos de Israel estavam em “servidão”, “escravidão”, “dificuldade” e não tinham o suficiente para comer. Eles eram miseráveis e “clamavam a Deus”.


No meio daquela condição havia um jovem, e Juízes 6 abre com este jovem malhando o trigo no lagar de seu pai. Eu acredito que há algo expressivo nisso. Gideão estava determinado que ele obteria trigo. Ele estava fazendo isso com o risco de sua vida, isso é verdade, mas Gideão, pela graça de Deus, resolveu que ele conseguiria o trigo. Ele tinha um direito e título para isso, e ele o teria. Lá estava ele malhando o trigo no lagar de seu pai “para o salvar dos midianitas”.


Esse trigo fala de Cristo, o Pão que desceu do céu, a comida para a sua alma e para a minha. Então, aqui neste jovem Gideão podemos ver um jovem de fé e coragem, determinado que ele terá sua porção de Cristo, falando em figura. Ele está determinado a ter sua porção de Cristo! Será que quero o meu caminho, o que é reto aos meus próprios olhos, ou eu quero a Cristo? Podemos tentar ter os dois, mas na verdade só podemos ter um ou outro. Qual você tem e qual eu tenho?


C. H. Brown

 

A Espada


É muito claro a partir da história de Gideão que Deus usou um homem que era pequeno aos seus próprios olhos. Então o Senhor o humilhou ainda mais, até o ponto em que ele teve que ouvir sendo comparado a “um pão de cevada torrado” (Jz 7:13). As lições que ele aprendeu na escola de Deus o prepararam para o serviço e, ao mesmo tempo, não exaltaram a Gideão, pois tudo era sobre o Senhor. Mas então a força e a glória do Senhor eram primordiais, a vitória foi ganha e o Senhor obteve a glória.


Nós vemos os resultados do trabalho de Deus com Gideão da maneira que ele abordou a batalha. Com apenas trezentos homens, ele não podia esperar, pela força humana, obter a vitória sobre os midianitas e os amalequitas, que estavam no vale “como gafanhotos, em multidão”. Assim, Gideão não armou seus homens da maneira normal, com armas como lanças e espadas. Não, ele reconheceu o poder do Senhor e os equipou “nas suas mãos esquerdas as tochas acesas e nas suas mãos direitas as buzinas [trombetas – ARA] (Jz 7:20). Ambas as mãos estavam ocupadas, e assim não havia mão para segurar uma arma. Então tocaram as trombetas e quebraram os jarros que cobriam suas tochas, enquanto clamavam: “Pelo SENHOR e Gideão!” (Jz 7:18). Nenhuma menção é feita à espada, pois Gideão havia aprendido que seria o Senhor Quem alcançaria a vitória. Assim foi, porque o próprio inimigo se destruiu a si mesmo. Os homens de Gideão não precisaram levantar uma arma.


Os trezentos

Mas então, quando os trezentos homens seguiram as instruções de Gideão, nós os encontramos dizendo: “A espada do Senhor e de Gideão!” (Jz 7:20). Eu creio que há dois pensamentos aqui. Primeiro de tudo, Gideão é agora uma figura de Cristo, o Único que sempre age em perfeição. Mesmo o mais fiel dos Seus servos não age com a perfeição do seu Mestre. Os homens de Gideão, fiéis como eram e corajosos soldados, não tinham passado pelo mesmo treinamento que Gideão. Eles mencionaram a espada, embora não tivessem ordens para fazê-lo. Eles não haviam aprendido sobre o Senhor da mesma forma que Gideão aprendeu.


Mas não havia utilidade para a espada? Sim, havia de fato, pois quando a vitória foi conquistada, ainda havia inimigos com quem deveriam lidar. Ainda havia quinze mil remanescentes do exército de Midiã e outros, aos quais Gideão precisava perseguir. Os príncipes e reis de Midiã ainda estavam soltos e precisavam ser capturados e executados. Também, triste dizer, havia os de Sucote e Penuel, em Israel, que haviam recusado ajudar a Gideão quando ele estava perseguindo os reis de Midiã. Era justo que o juízo fosse executado contra eles, e assim as espadas certamente foram bem usadas em todas essas situações.


Tesouro em vasos de barro

Tudo isso traz uma lição para nós também. A contraparte Cristã da história de Gideão é encontrada em 2 Coríntios 4:6-7: “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é Quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. O tesouro é Cristo, como as luzes carregadas pelo exército de Gideão, mas é uma luz em um vaso de barro – que somos nós mesmos. Muitas vezes o Senhor precisa quebrar o vaso de barro para que a luz possa resplandecer. Não é agradável ter nosso vaso de barro quebrado, mas vale a pena, pois então Cristo brilha de forma mais vivida. Então o poder de Deus é manifestado e Ele recebe a glória.


Nossa força não é nossa, mas do Senhor, para que não consigamos a vitória por meios humanos. A luz e a trombeta (que anuncia que Deus está agindo) era tudo o que era necessário. Mas então, quando a vitória foi conquistada, temos o que a Escritura chama de “a espada do Espírito” (Ef 6:17), que é a Palavra de Deus. Mais precisamente, é a Palavra de Deus que temos lido, meditado sobre ela e andado nela. Nós a utilizamos na guerra espiritual, mas reconhecendo que a vitória já foi conquistada para nós pelo nosso Senhor e Mestre. Então, usamos a espada para manter nosso lugar de regozijo nas coisas celestiais e em conflito com as “hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12).


W. J. Prost

 

Lições Tiradas da Vida de Gideão


A história de Gideão é de grande importância prática, pois a história de seu reavivamento é aplicável às atuais circunstâncias da Igreja.


“Os filhos de Israel”, lemos, “fizeram o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e o SENHOR os deu na mão dos midianitas por sete anos” (Jz 6:1). Na realidade, os midianitas eram apenas a vara que Jeová estava usando para punir Seu povo. Mas Jeová ouviu o seu clamor. O Senhor primeiro enviou um profeta que testificou do pecado deles e depois levantou o instrumento para a sua libertação.


“Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas” (v. 11). Nada poderia ter sido mais degradante do que a condição de Gideão – malhando o trigo escondido (por medo dos midianitas) para alimentar sua família! Mas as vitórias mais poderosas de Deus sempre foram conquistadas por tais, e não por aqueles que tinham recursos em si mesmos.


“O SENHOR é contigo”

“Então, o Anjo do SENHOR lhe apareceu e lhe disse: O SENHOR é contigo, varão valoroso” (v. 12). Malhar o trigo escondido não parecia ser algo de valor. Mas os homens “poderosos” de Deus nunca confiaram em sua própria força e sabedoria de como lidar com o inimigo, pois eram homens que “da fraqueza tiraram forças”. “Nenhuma carne” se gloriará em Sua presença. Ele toma “as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes”. Gideão tinha um profundo senso da condição de Israel sobre sua alma, e o Senhor diz: “Vai nesta tua força e livrarás a Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei Eu?”


Mas agora Gideão diz: “Com que livrarei a Israel?” Seu instrumento usado para malhar o trigo era uma coisa fraca para ir contra os exércitos de Midiã. Deus deve ser a força, não Gideão. Quase sempre podemos encontrar nossos fracassos na confiança própria. Quando um crente pensa que ele vai realizar um feito, seu fracasso muitas vezes se torna óbvio. Deus irá abater aquilo que é orgulhoso e elevado.


Um sinal

Gideão então pede um sinal: “E ele Lhe disse: Se agora tenho achado graça aos Teus olhos, dá-me um sinal de que és o que comigo falas”. Vemos a fraqueza aqui, ele não deveria ter precisado de um sinal, ainda assim, tudo o que ele realmente se importa é em ter o Senhor com ele. Quando o coração de Gideão é tranquilizado, ele constrói um altar para o Senhor e o chama de “Jeová-shalom [SENHOR É Paz] (v. 24). Agora ele está preparado para o serviço.


Mas devemos “cessar de fazer o mal” antes de “aprender a fazer o bem” (Is 1:16-17). Obediência a Deus é o domínio e a liberdade do santo. Gideão deve primeiro derrubar o altar de Baal, e o Senhor lhe dá forças para fazê-lo. “Então, Gideão tomou dez homens dentre os seus servos e fez como o SENHOR lhe dissera; e sucedeu que, temendo ele a casa de seu pai e os homens daquela cidade, não o fez de dia, mas fê-lo de noite” (v. 27). Qual a consequência? Oposição imediata.


A ação de fé sempre atiça a carne. Israel não sabia onde estava sua força; Eles pensaram que estava em Baal. Gideão tinha aprendido que ela estava em Deus.


O inimigo

Mas agora o inimigo está alarmado, e logo vêm os midianitas e os amalequitas. “E todos os midianitas, e amalequitas, e os filhos do Oriente se ajuntaram num corpo, e passaram, e puseram o seu campo no vale de Jezreel” (v. 33). Aqui está Gideão com o seu próprio povo contra ele e os inimigos de Israel reunido e acampado em Jezreel. Mas ele tem paz com Deus, e assim, como ele age? “Então, o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão, o qual tocou a buzina, e os abiezritas se ajuntaram após ele” (v. 34). Se Gideão estivesse servindo a Baal, ele não poderia ter tocado aquela trombeta. Mas Baal está derrubado e o altar de Deus está erigido no lugar onde havia sido ordenado. Ele envia mensageiros por todo o Manassés, que também estão reunidos a ele, e a Aser, Zebulom e Naftali.


O temeroso

Mas Gideão ainda tem mais uma lição para aprender. “E disse o SENHOR a Gideão: Muito é o povo que está contigo, para Eu dar os midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou” (Jz 7:2). Imediatamente ele tem que se livrar de um grande número deles. Aparentemente, Gideão estava enfraquecendo suas próprias mãos. Na primeira proclamação, 22 mil o deixaram, mas, na realidade, em vez de perder força, ele estava ganhando com a renúncia desses. Estes medrosos e covardes teriam desencorajado o resto se tivessem permanecido entre eles.


O teste da água

“E disse o SENHOR a Gideão: Ainda muito povo há; faze-os descer às águas, e ali tos provarei; e será que aquele de que Eu te disser: Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de que Eu te disser: Este não irá contigo, esse não irá” (v. 4).


Existe tal coisa como a prova da nossa fé, e enquanto nós seriamos incapazes de testar um ao outro, Deus sabe a melhor maneira de testar cada um. “E fez descer o povo às águas. Então, o SENHOR disse a Gideão: Qualquer que lamber as águas com a sua língua, como as lambe o cão, esse porás à parte; como também a todo aquele que se abaixar de joelhos a beber. E foi o número dos que lamberam, levando a mão à boca, trezentos homens; e todo o resto do povo se abaixou de joelhos a beber as águas. E disse o SENHOR a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam as águas vos livrarei e darei os midianitas na tua mão; pelo que toda a outra gente se vá cada um ao seu lugar” (vs. 5-7).


Aqueles que foram mandados para casa não estavam realmente com medo. O teste foi este: se eles iriam beber água colocando a mão na boca ou se curvariam para beber à vontade. Os 300 escolhidos não tiveram tempo para parar; seus corações estavam em sua obra, e eles simplesmente tomaram um gole enquanto seguiam seu caminho. Paulo fala de estar embaraçado “com negócio desta vida” (2 Tm 2:4); Tudo o que podemos seguramente fazer, se for para “agradarmos a Quem nos alistou” para sermos soldados, é apenas um gole no caminho. Há uma diferença muito grande entre estar nas circunstâncias desta vida e estar embaraçado com elas. Quando testados pelo Senhor, aqueles que se inclinaram não eram mais aptos para o Seu uso do que os medrosos; eles deveriam ir para suas casas.


Um pão de cevada torrado

É mostrado em seguida para Gideão os seus inimigos. “E sucedeu que, naquela mesma noite, o SENHOR lhe disse: Levanta-te e desce ao arraial, porque o tenho dado na tua mão” (v. 9). Note ainda como o Senhor, graciosamente, antecipou a necessidade de Seu servo ao acrescentar: “E, se ainda temes descer, desce tu e teu moço Pura ao arraial” (v. 10). O resultado desta visita foi que qualquer traço de orgulho e importância própria deve ter sido gravemente ferido. Quando Deus mostrar ao Seu favorecido servo que ele ferirá os midianitas como se fossem um só homem, Ele o fará sentir que (em si mesmo) ele é apenas um “pão de cevada torrado”. Certamente, se os Cristãos fossem destituídos de seu mundanismo e se tornassem mais como o “pão de cevada torrado”, o mundo teria mais temor deles.


Buzinas, Cântaros e Tochas

E agora vem o conflito: “Então, repartiu os trezentos homens em três esquadrões; e deu-lhes a cada um nas suas mãos buzinas e cântaros vazios, com tochas neles acesas. E disse-lhes:... Tocando eu e todos os que comigo estiverem a buzina, então, também vós tocareis a buzina ao redor de todo o arraial e direis: Pelo SENHOR e Gideão” (Jz 7:16-18). As armas de sua guerra eram as coisas mais tolas que se possa imaginar – buzinas, cântaros e tochas. Nosso poder é dar testemunho a Jesus e nunca sair do lugar onde somos nada além de “vasos de barro”. Devemos lembrar que o vaso contém apenas a luz, a excelência do poder deve ser de Deus, não de nós mesmos.


“E, como Gideão veio ao Jordão, passou com os trezentos homens que com ele estavam, já cansados, mas ainda perseguindo” (Jz 8:4). Quais três pequenas palavras poderiam ser mais descritivas do Cristão, de uma forma bendita, do que estas? Não “cansados” e sentando-se, não “cansados” e desistindo, mas “já cansados, mas ainda perseguindo”. Temos a ver com Aquele que “dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Is 40:29). É um uso bendito que podemos fazer de nossa fraqueza e cansaço – o de extrair a plenitude do suprimento de graça e força em Cristo.


É muito doloroso sentir dia após dia nossa própria fraqueza. O que precisamos é viver dia a dia confiando em Deus. Ele é Fiel e fornecerá força de acordo com a ocasião e necessidade. A Igreja não estará em repouso até que o Senhor venha. Mas a fraqueza não deveria ser um obstáculo para o nosso avanço – “cansados, mas ainda perseguindo”.


Christian Truth (adaptado)

 

Qualificação para o Serviço


O Livro dos Juízes é o registro do fracasso de Israel na terra. Deus os havia tirado do Egito, os fez passar pelo Mar Vermelho, depois os conduziu pelo deserto e os colocou na posse da herança prometida. Enquanto andassem em obediência e dependência, nenhum inimigo poderia permanecer diante deles. Mas o homem invariavelmente falha quando recebe a bênção sob responsabilidade, mesmo sob as circunstâncias mais favoráveis, e Israel não foi exceção.


“E serviu o povo ao SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que prolongaram os seus dias depois de Josué” (Jz 2:7), mas então “outra geração após eles se levantou, que não conhecia o SENHOR, nem tampouco a obra que fizera a Israel. Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e serviram aos baalins” (Jz 2:10-11). Mas, com o fracasso de Israel, também vemos a fidelidade do Senhor, e da fidelidade de Deus surgiu Sua graça para intervir, dando ao Seu povo um pouco de restauração no meio de seu distanciamento. A semelhança entre esse estado de coisas e o estado atual da Igreja será evidente para todos. Proponho chamar a atenção para um dos sinais mais importantes da intervenção de Deus com Israel – em Deus levantar a Gideão para ser um juiz e libertador para eles. Aqui podemos aprender as qualificações que Deus procura naqueles que Ele pode usar para serviço e testemunho entre o Seu povo.


Os midianitas

“Os filhos de Israel”, lemos, “fizeram o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e o SENHOR os deu na mão dos midianitas por sete anos” (Jz 6:1). Midiã descendia de Abraão por meio de Quetura, sua segunda esposa, e vez após vez eles são colocados em contato com Israel. No deserto, o Senhor disse a Moisés: “Afligireis os midianitas e os ferireis, porque eles vos afligiram a vós outros com os seus enganos” (Nm 25:17-18). Mas agora eles estão na própria terra, “assim, Israel empobreceu muito pela presença dos midianitas”. Mas quando Israel clamou ao Senhor, Ele primeiro enviou um profeta para trazer a tona seu pecado para sua consciência, e então Ele enviou um anjo para levantar um libertador. O Anjo encontra Gideão malhando o trigo no lagar para salvá-lo dos midianitas (v. 11).


Alimentando-se de Cristo

Podemos nomear essa primeira qualificação, alimentando-se de Cristo em segredo. O trigo é certamente uma figura de Cristo (veja João 12:24; 6:35). Foi um tempo de grande dificuldade, os ídolos usurparam o lugar de Jeová, de modo que aqueles que permaneceram fiéis no meio da ruína geral só podiam adorar ao Senhor sozinhos e em privado. Assim foi com Gideão. Baal tinha um altar na casa de seu pai, mas esse “homem valente” malhava o trigo sozinho para encontrar sustento, apesar do olhar vigilante dos midianitas. Sozinho em sua família e sozinho ao malhar o trigo, reuniu força da comunhão com o Senhor.


Certamente, alimentar-se de Cristo em segredo é a fonte de toda qualificação para o serviço do Senhor. Foi assim que José foi enviado para o exílio e para uma prisão, que Moisés foi enviado por quarenta anos para o deserto e Paulo para a Arábia, pois é quando estamos a sós com Cristo que aprendemos o que nós somos e, bendito seja Seu nome, o que Ele é, na plenitude infinita de Sua graça e suficiência. O Senhor nunca pode nos usar como porta-estandarte até que ambas as lições tenham sido aprendidas.


Um coração exercitado

A próxima qualificação é evidentemente um coração exercitado. Gideão identificou-se com a condição de seu povo, pois ele diz: “por que tudo isto nos sobreveio?” (v. 13). Entrando em seu estado, ele levou isto em seu coração diante do Senhor. E sem isso ele não teria sido qualificado para ser o ajudador deles. Nosso poder de socorrer os outros será proporcional à medida que formos capazes de tornar seus próprios sofrimentos ou dificuldades como se fossem nossos. O Senhor nos usará se formos qualificados para isso, mas, para sermos qualificados para isso, devemos ter sentido profundamente o caráter do mal em que nós, o povo de Deus, estamos embaraçados, e devemos ter lamentado isso diante do Senhor.


Nossa nulidade

Agora recebemos outra qualificação muito importante: um sentimento de nossa própria nulidade, e assim Gideão responde: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai” (v. 15). Seus exercícios não foram, portanto, sem bênção, pois ele estava agora no lugar onde o poder de Deus poderia vir e usá-lo. Todos os servos do Senhor devem aprender esta lição mais cedo ou mais tarde, que não há nada em si que possa ser usado para Deus; todos os seus recursos e força estão fora deles mesmos. Não é mais uma questão do que os midianitas são, mas do que Deus é. Assim, o Senhor disse agora a Gideão: “Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem” (v. 16).


Liberdade

Gideão se torna mais ousado, prepara um cabrito e bolos asmos de farinha, e coloca sua oferta, na direção do Anjo, sobre a rocha. “E o Anjo do SENHOR estendeu a ponta do cajado que estava na sua mão e tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos asmos; e o Anjo do SENHOR desapareceu de seus olhos” (v. 21). Por este fato Gideão fica sabendo que tinha visto o Anjo do Senhor face a face, e ele está cheio de medo. “Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo; não temas, não morrerás”. E assim ele obtém do Senhor mais uma qualificação para o serviço: uma alma em liberdade – em paz – diante de Deus. Deus revelou-Se a Seu servo e agora ele se sente em casa, na presença de Deus. Aqui temos uma conexão direta entre paz e serviço.


Um adorador

A consequência imediata no caso de Gideão foi que ele se tornou um adorador. “Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou SENHOR é Paz (Jeová-shalom) (v. 24). Ele adora a Deus como Aquele que comunicou a paz para sua alma. O verdadeiro servo deve primeiro ser um adorador, pois sair em serviço antes de sermos adoradores é mal representar nosso Senhor e nos expor à derrota. Vamos então ter cuidado para manter a ordem divina.


Obediência

Agora o Senhor chama Gideão para agir, mas ele deve primeiro começar em casa. Ele deveria derrubar “o altar de Baal” e cortar “o bosque que está ao pé dele”. Então ele deveria tomar “o segundo boi e o oferecerás em holocausto com a lenha que cortares do bosque” (vs. 25-27). Aqui temos a obediência. Gideão foi associado com o mal na casa de seu pai e, como alguém disse: “A fidelidade interior precede a força exterior; esta é a ordem de Deus”. Até destronar o ídolo na casa de seu pai, ele não poderia ser enviado para ferir os midianitas.


O Senhor Jesus derrotou Satanás no deserto pela obediência; a resposta: “Está escrito”, frustrou-o em todos os ataques. E aqui também estava a força de Gideão, pois tão logo ele recebeu a ordem, ele “fez como o SENHOR lhe dissera” (v. 27). O diabo resistido por meio da obediência é o diabo derrotado.


Poder

Gideão é agora um vaso “santificado e idôneo para uso do Senhor”, e temos, consequentemente, a qualificação máxima de poder. O vaso está agora preparado para o serviço, mas imediatamente nos é dito: “E todos os midianitas, e amalequitas, e os filhos do Oriente se ajuntaram num corpo, e passaram, e puseram o seu campo no vale de Jezreel. Então, o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão, o qual tocou a buzina, e os abiezritas se ajuntaram após ele. E enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que também se convocou após ele; também enviou mensageiros a Aser, e a Zebulom, e a Naftali, e saíram-lhe ao encontro” (vs. 33-35). Enquanto Gideão está sendo preparado, os midianitas ainda estão parados, quando Gideão está pronto, Deus os reúne para destruição.


Gideão está agora equipado, pronto para o conflito. Haverá fraquezas e fracassos, sem dúvida, mas ainda assim ele é alguém a quem o Senhor pode utilizar agora. Que Deus conceda que as sete qualificações de Gideão possam ser encontradas em todos os que estão engajados em Seu serviço e testemunho nestes dias finais!


E. Dennett

 

Gideão: Dificuldades e Armadilhas no Serviço


No momento em que nos propomos a andar com Deus e prestar testemunho para Ele, podemos ter certeza que encontraremos todo tipo de dificuldades em nosso caminho. Ao obter sua vitória sobre os midianitas, Gideão e seus 300 companheiros encontraram algumas. Após a vitória, eles encontraram outras maneiras pelas quais tiveram que sofrer.


Contenção

Os homens de Efraim lutaram com Gideão. No tempo de Débora eles estavam no posto de honra (Jz 5:14), mas desde então houve declínio, e Gideão, ensinado por Deus, não os havia convocado. Essa distinção fez com que eles tivessem inveja da energia da fé e de seus resultados para com os outros. “Que é isto que nos fizeste?” (Jz 8:1). Efraim, preocupado com sua própria importância, pensa em si mesmo em vez de pensar em Deus. Esta é uma fonte frequente de conflitos entre irmãos, e tais contendas são muito mais dolorosas e difíceis do que o conflito com o mundo. É precioso ver o homem de Deus passar por essa dificuldade no poder do Espírito.


Quando surgem polêmicas entre os Cristãos, a profunda humildade é seu único recurso. Gideão tinha aprendido isso na escola de Deus, de modo que não foi difícil para ele perceber como agir nesta ocasião. Deus o fizera entender que a coragem e a força que ele tinha não emanavam dele mesmo e que, em si mesmo, Gideão valia apenas um pão de cevada torrado. E assim, na presença de Efraim, ele tomou cuidado para não falar de si mesmo. Ele dedicou sua atenção ao que Deus havia feito pelas mãos de seus irmãos. “Que mais fiz eu”, disse ele, “agora, do que vós? Não são, porventura, os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer?” Ele tomou o lugar mais baixo e reconheceu zelo deles por Deus, assim, a humildade desse servo de Deus é o meio de remover uma grande dificuldade. Agiremos de maneira semelhante e, quando falamos de nossos irmãos, enumeremos não seus fracassos, mas o que Deus operou neles. Nada apazígua mais a contenda como o ver a Cristo nos outros, é o resultado de uma condição Cristã normal nos filhos de Deus.


Cansados, mas ainda perseguindo

Gideão e seus companheiros encontraram uma segunda dificuldade muito mais difícil do que a anterior. Eles estavam “cansados, mas ainda perseguindo” e chegaram a Sucote, uma cidade de Israel que pertencia à tribo de Gade. Sucote os rejeitou, recusando-se até mesmo em dar-lhes pão. Havia no meio do povo de Deus uma cidade inteira, levando o nome de Israel, que havia renunciado a toda responsabilidade corporativa com aqueles que prestavam testemunho de Jeová. Eles tinham confiança no inimigo e não se comprometiam tomando parte com Israel. Há muitos nos dias de hoje que levam o nome de Cristo, e ainda buscam a amizade e aliança com o mundo. Por causa do medo de se comprometerem, eles levantam uma causa comum com os nossos inimigos, aumentando as dificuldades do caminho para os crentes e impedindo-os de serem vencedores. Não nos surpreende que Gideão não pare no caminho para castigar este espírito. Nosso coração, como o de Gideão, deveria estar totalmente no conflito. O homem de Deus seguiu seu caminho, a infame conduta de Penuel não o prende mais do que a de Sucote. Tudo está em seu tempo para o testemunho de Deus. Satanás procura trazer confusão sobre isso, de modo a criar obstáculos para nós. Não deve ser permitido que Zeba e Salmuna escapem; o julgamento das cidades rebeldes será executado mais tarde. Em seu retorno, o homem de Deus exerceu disciplina na assembleia de Israel e “matou os iníquos”, pois Deus seria desonrado se o mal fosse tolerado na assembleia.


Humildade e fé

Em toda essa história, duas características – humildade e a energia da fé – estavam unidas em Gideão: energia, para reunir e purificar o povo para a batalha e para perseguir o inimigo; humildade, que resultou do abandono de toda confiança própria e levou à absoluta dependência em Jeová. E, no entanto, foi exatamente nisso que o inimigo estava prestes a lançar uma armadilha para ele.


Os reis derrotados não pouparam elogios a Gideão (Jz 8:18-21). Ele perguntou-lhes: “Que homens eram os que matastes em Tabor? E disseram: Qual tu, tais eram eles; cada um, na aparência, como filhos de um rei (v. 18). Devemos desconfiar das bajulações do mundo, pois as bajulações do mundo nos enfraquece e nos priva das armas com as quais lutamos contra ele.


Temor

Não parece que Gideão tenha se desviado do caminho de Deus por esse discurso, mas parece ter perdido um verdadeiro senso do poder do inimigo e ter menosprezado ao invés de ter temido a isso. Este não foi o caso de Josué quando ele aprisionou os cinco reis (Js 10:22-27). Longe de subestimar a força do inimigo, ele lhes disse: “Chegai e ponde os vossos pés sobre os pescoços destes reis”. Depois acrescentou: “Não temais, nem vos espanteis; esforçai-vos e animai-vos” – ele percebeu ao mesmo tempo o poder do mundo e a força de Jeová. Duas coisas nos convêm quando estamos lutando contra o inimigo – medo e tremor quanto a nós mesmos e plena segurança quanto a Deus. Gideão percebeu essas coisas de maneira imperfeita. Ele confiou a seu filho Jéter a tarefa de matar esses dois reis. “Porém o jovem não arrancou da sua espada, porque temia (v. 20). Anteriormente, Jeová havia separado os que estavam com medo e os retirou do conflito. Aqui Gideão, ao atribuir a uma criança a destruição de um inimigo, não agiu de acordo com os caminhos de Deus. Deus não chama crianças na fé para realizar ações publicamente brilhantes, uma criança vai para a escola e não para a guerra.


Bajulação

Então aqueles reis disseram: “Levanta-te tu e acomete-nos; porque, qual o homem, tal a sua valentia (v. 21). Esta é uma bajulação nova, contra a qual Gideão deveria ter protestado, pois ele havia aprendido uma lição totalmente diferente na escola de Deus. Na realidade, sua força era exatamente o oposto do que era a do homem. Não tinha ele percebido isso naquela solene noite em que Deus lhe revelou que um pão de cevada tostado estava prestes a derrubar todas as tendas de Midiã? Em seus melhores dias, Gideão não teria aceitado essa bajulação, nem teria permitido ao adversário plantar um germe de confiança própria em seu coração.


Mas então o vemos exposto a uma armadilha nova (v. 22-23). Não é mais a bajulação do mundo, mas a do povo de Deus. Os homens de Israel disseram a Gideão: “Domina sobre nós, tanto tu como teu filho e o filho de teu filho; porquanto (tu) nos livraste da mão dos midianitas”. Colocam seu líder no lugar de Jeová e oferecem-lhe o cetro. Ninguém é mais propenso ao clericalismo do que o povo de Deus. É a ruína da Cristandade, a tendência inerente do coração natural. O fato de o ministério ser abençoado está apto a nos levar a fazer do servo um “ministro” no sentido humano, perdendo assim a visão de Deus. Pela graça de Deus, a fé de Gideão escapou desse perigo. Ele disse resolutamente: “Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o SENHOR sobre vós dominará”. O objetivo de seu serviço era que Deus tivesse a preeminência e não perdesse nada da Sua autoridade sobre o Seu povo.


H. L. Rossier (adaptado)

 

Colocando o Velo de Lã


Não é raro que, quando os crentes não têm certeza se devem seguir um determinado curso de suas vidas, ouvimos a expressão: “Eu pus um velo de lã”. Isso geralmente significa colocar perante o Senhor uma certa possibilidade em sua vida num futuro imediato, que ela ocorra de uma maneira particular como um sinal de que é a vontade do Senhor que ele vá em frente. Por outro lado, se não ocorrer dessa maneira, então se supõe ser uma indicação de que tudo o que foi proposto não é a vontade do Senhor. Às vezes surge a pergunta: esse é um modo apropriado de um Cristão determinar a vontade do Senhor?


A expressão vem de Juízes 6:36-40, quando Gideão hesitou em sair contra os midianitas. Já havia sido dito claramente a Gideão: “O SENHOR é contigo, varão valoroso” (Jz 6:12). Foi-lhe dito também: “Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem” (Jz 6:16). Mais do que isso, ele teve o privilégio de oferecer um sacrifício que fora aceito e depois construir um altar. Finalmente, em obediência à palavra do Senhor, Ele havia destruído o altar de Baal e oferecido um novilho sobre o altar. O Espírito do Senhor veio sobre ele e muitos em Israel foram reunidos a ele.


A mente do Senhor

Tendo em vista tudo isso, podemos certamente concluir que foram dados a Gideão mais do que o amplo testemunho da mente do Senhor, e também a promessa de Sua força. Teria ele duvidado de tudo isso, ou foi uma falta de confiança que o Senhor pudesse usá-lo – um homem de uma família pobre e o menor na casa de seu pai? Eu creio que a última opção é a correta. Gideão era um homem exercitado, que realmente sentia a condição de Israel. Além disso, ele não duvidava que o Senhor pudesse salvar Israel. Mas a pergunta dele era: “hás de livrar Israel por minha mão?” (Jz 6:37). Por esta razão, o Senhor teve misericórdia dele e lhe respondeu pelo velo de lã, não uma vez, mas duas vezes.


Os dois incidentes são instrutivos para nós. Na primeira vez, o velo estava encharcado de orvalho, enquanto a terra ao redor estava seca. Certamente isso fala da vida de nosso bendito Senhor Jesus, que em Seu caminho terrenal era “como raiz de uma terra seca” (Is 53:2). Nada ao redor d’Ele Lhe deu qualquer encorajamento, tudo veio de cima.


Na segunda vez, o velo de lã estava seco, enquanto havia orvalho em todo o chão ao redor. Certamente esta é uma imagem dos resultados da morte de Cristo, quando Ele pôde dizer: “A Minha força se secou como um caco, e a língua se Me pega ao paladar; e Me puseste no pó da morte” (Sl 22:15). Mas o fruto de tudo isso foi bênção para todos os que creem, pois Ele pôde dizer: “A água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). O Senhor usou o sinal que Gideão pediu que fosse feito diante de si, que em figura, representa a vida e a morte do nosso bendito Senhor Jesus.


Por que colocar o velo de lã?

Voltando à questão de saber se devemos “colocar um velo de lã”, não podemos dar uma resposta que se adeque a todos os casos. Por um lado, uma vez que somos habitados pelo Espírito de Deus, podemos ir ao Senhor buscando orientação clara, não precisamos ser guiados pelas circunstâncias. Às vezes lançamos um velo de lã porque não estamos andando com o Senhor e, portanto, não podemos discernir Sua mente. Além disso, devemos admitir que às vezes o nosso “velo de lã” está lá porque conhecemos a mente do Senhor, mas queremos uma desculpa para evitá-la.


No entanto, em outras situações, há uma sincera falta de confiança em nós, juntamente com um desejo real de fazer a vontade do Senhor. Em tais casos, o Senhor é gracioso e pode permitir que a situação se desenvolva como pedimos. Nesse caso, nossa fé é fortalecida e, sem dúvida, isso era verdade quanto a Gideão. Deste ponto em diante, ele avança com confiança, e o Senhor ainda lhe dá mais uma confirmação da vitória, no relato do sonho que ele tem o privilégio de ouvir quando desce ao exército de Midiã. Quão gracioso é nosso Senhor para conosco! Ele reprova incredulidade, mas suporta e encoraja fraquezas e debilidades.


W. J. Prost

 

O Éfode de Gideão


Em outros artigos desta edição, vimos como até mesmo um homem fiel e humilde como Gideão sucumbiu ao orgulho e finalmente ao fracasso mais tarde em sua vida. Sua fabricação de um éfode caro merece nossa atenção especial, por duas razões. Em primeiro lugar, a falha dizia respeito à confecção de algo que foi ordenado por Deus e conectado ao sacerdócio. Segundo, não parece que Gideão previu o uso errado no qual este éfode foi empregado. Todo o incidente é uma advertência solene para nós hoje.


Depois da notável vitória sobre os midianitas, os israelitas obviamente haviam ajuntado uma grande quantidade de despojos. Entre os despojos estavam os brincos de ouro usados pelos midianitas, assim como os ornamentos de ouro de seus reis e correntes usados por seus camelos. Gideão pediu isso e, com eles, fez um éfode. Sem dúvida era muito bonito, pois o éfode devia ser feito “de ouro, e de pano azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada” (Êx 28:6). Com “mil e setecentos siclos de ouro” (Jz 8:26) com o qual trabalhar (mais de 19 Kg de ouro), Gideão muito provavelmente aumentou a beleza de seu éfode usando muitos fios e/ou fitas de ouro, e ele fez algo muito agradável aos olhos. Embora não nos seja dito especificamente, é muito provável que Gideão pretendesse glorificar o Senhor, que havia dado a Israel essa grande vitória.


No entanto, é digno de nota que Gideão não deu o éfode aos sacerdotes (que foram os únicos que poderiam usá-lo corretamente), mas sim “pô-lo na sua cidade, em Ofra” (Jz 8:27). Se Gideão pretendia fazer o éfode para a glória do Senhor, certamente parece que havia motivos mistos em seu coração. O resultado foi previsível, pois “todo o Israel se prostituiu ali após ele” (v. 27). Em vez do centro de Deus em Silo, Ofra tornou-se um centro, e a casa de Gideão foi preferida à casa do Senhor. Assim, tornou-se uma armadilha para Gideão e para sua casa. O éfode não significava nada a não ser que fosse usado pelo sacerdote, e desta maneira a forma exterior tornou-se mais importante que a realidade.


Esta não é a única ocasião em que um objeto religioso se torna em si um objeto de adoração. A mesma coisa aconteceu com a serpente de bronze feita por Moisés, que era uma figura de Cristo feito pecado por nós. Uma olhada na serpente de bronze era suficiente para curar um israelita que havia sido picado pelas serpentes ardentes que o Senhor havia enviado entre o povo (Nm 21:4-9). Centenas de anos depois, no tempo de Ezequias, os filhos de Israel ainda queimavam incenso para essa serpente como sendo um ídolo. Ezequias sabiamente a destruiu, juntamente com outras armadilhas da idolatria, e chamou simplesmente de “Neustã” – uma peça de cobre (2 Rs 18:4).


Em nossos dias, com a luz do Cristianismo, talvez possamos sorrir daqueles que fariam um objeto de adoração a partir de coisas materiais, mas certamente estamos em perigo de fazer o mesmo com coisas espirituais. Um ídolo é qualquer coisa que desloque Cristo em meu coração, e isso pode ocorrer de maneira muito sutil, especialmente em coisas espirituais. Mesmo coisas boas em si mesmas e dadas por Deus podem tirar meus olhos de Cristo. A assembleia local, a pregação do evangelho, meu serviço para o Senhor, minha família e até mesmo os princípios divinos – tudo pode ser um objeto do meu coração e ainda assim ficarem longe de Cristo. Comentando sobre essa mesma tendência, alguém escreveu: “Princípios não são suficientes: Nós precisamos de Deus. Sem Ele, princípios poderosos são apenas uma espada nas mãos de uma criança ou de um homem bêbado; é melhor tirar isso dele, ou pelo menos, que ele não o usasse até estar sóbrio”. Grande parte da Cristandade foi mais longe, introduzindo nos serviços Cristãos prédios bonitos, incenso, clero revestido de roupas, rituais religiosos e música instrumental, para citar alguns. Estes em si mesmos se tornam ídolos e são usados por Satanás como uma distração com a qual ocupar as almas. Essas coisas também foram dadas por Deus, mas foram para uma dispensação anterior, sob a lei; eles não têm lugar entre aqueles que procuram adorar a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4:24).


Estamos sempre mais vulneráveis depois que o Senhor nos usou para ganhar uma grande vitória, e foram os despojos da vitória que Gideão usou para fazer seu éfode. É nosso dever estar especialmente em guarda nesses momentos, pois os resultados de ceder às artimanhas de Satanás podem ser sérios. No caso de Gideão, não podemos deixar de nos perguntar se o seu éfode preparou o caminho para a reintrodução da idolatria em Israel. Lemos em Juízes 8:33: “E sucedeu que, quando Gideão faleceu, os filhos de Israel se tornaram, e se prostituíram após os baalins, e puseram a Baal-Berite por deus”. Nosso coração precisa desse aviso.


W. J. Prost

 

Os Filhos de Gideão


É doloroso ver o trágico fim dos filhos de Gideão – setenta pessoas mortas sobre uma pedra. Parece estranho, quando nos lembramos do início brilhante da história de Gideão. Infelizmente, descobrimos que certamente havia uma razão para essa tragédia. Foi Abimeleque, “filho da sua serva” (Jz 9:18), que matou seus setenta irmãos. Nós lemos em Juízes 8:30 que Gideão “tinha muitas mulheres”. Isso em si não era de Deus, mas tornava ainda mais indesculpável que ele tomasse sua “serva” como concubina. Foi a satisfação dessa concupiscência que causou a morte de todos esses filhos de Gideão.


Mas isso não é tudo. Lembramo-nos que depois da famosa vitória de Gideão sob os príncipes de Midiã os homens de Israel disseram a ele: “Domina sobre nós, tanto tu como teu filho e o filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão dos midianitas. Porém Gideão lhes disse: Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o SENHOR sobre vós dominará” (Jz 8:22-23). Esta foi uma resposta nobre, de acordo com a fé que havia conquistado uma vitória tão notável.


Mas à medida que Gideão envelheceu, parece que sua fé enfraqueceu e seu orgulho aumentou. Quando sua concubina, a criada, deu a ele um filho, ele o chamou, “Abimeleque” (Jz 8:31). E o que Abimeleque quer dizer? Significa “meu pai é rei”. A exata posição que ele havia recusado em seus primeiros dias, ele agora procura tomar, e o nome de seu filho revela sua triste queda. Uma vez ele disse: “Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará”. Agora ele procura o lugar do rei, e o filho de sua criada apodera-se deste lugar, à custa de todos os seus irmãos, exceto o mais novo. Que resultado terrível da indulgência própria e orgulho de seu pai, “porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).


G. C. Willis

 

O Vaso de Barro


Em 2 Coríntios 4:7, temos três coisas maravilhosas diante de nós. Temos “esse tesouro”, em “vasos de barro”, e o que é chamado de “a excelência do poder”, ou talvez mais precisamente, “a superação do poder” (JND).


Os tesouros

O que é esse tesouro? Eu não acho que o tesouro é tanto a estimativa que meu coração tem de Cristo, quanto o valor que Deus encontrou n’Ele. Certamente o Senhor Jesus Cristo é para ser um tesouro para o Seu povo, pois lemos: “Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). Aqui, no entanto, o tesouro (que é, certamente, Cristo), é apresentado mais como é visto da perspectiva de Deus. Cristo é Seu tesouro.


Como esse tesouro foi colocado no vaso? “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é Quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4:6). É uma coisa maravilhosa pensar nessa graça soberana em suas ações, bem como em seus propósitos. Como a luz entrou neste mundo escuro? Deus disse: “Haja luz! E houve luz” (Gn 1:3-4). E assim foi espiritualmente em nosso coração: Deus brilhou em nosso coração. É o próprio Deus brilhando, para que possamos ver a glória de Deus na face de Seu amado Filho.


Saulo de Tarso, a caminho de Damasco, viu “uma luz do céu, que excedia o esplendor do Sol”, e o Salvador em glória foi revelado em sua alma. Ele é, portanto, o exemplo vivo da maneira como esse tesouro abençoado é depositado na alma de um homem. Toda a glória de Deus é assim expressa. Nós não podemos entender uma única coisa sobre a glória de Deus, exceto como é vista na face de Jesus Cristo, e é na presença daquela glória que minha consciência é tratada. Se realmente vemos toda a glória de Deus resplandecente na face de Jesus Cristo, não podemos deixar de ser desafiados nas profundezas de nossa consciência, e essa é a bem-aventurança dela. No momento em que temos a ver com Deus e com Cristo, somos convencidos, e a expressão inicial de nosso coração na presença daquela glória deve ser: “Eu me abomino”.


O vaso de barro

Em seguida, observamos onde esse tesouro é colocado: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro”. Quando o homem tem alguma coisa valiosa, ele geralmente o envolve em algo que também é valioso. Não é assim com Deus. Ele toma o Seu tesouro, o mais caro, o mais valioso e precioso para Ele, e o coloca no mais desprezível vaso que você poderia conceber – um pobre e frágil vaso de barro. Isto é o que é chamado de vaso de barro; um pobre, perecível e frágil vaso de barro.


Mas ele tem um propósito nisso, pois dá a Ele a oportunidade de fazer duas coisas. Em primeiro lugar, o prazer d’Ele é fazer com que o tesouro seja tudo, e em segundo lugar, Ele revela a supremacia do poder. Não existe apenas a glória suprema do tesouro, mas o poder supremo com o qual Ele opera no vaso. De fato, o vaso não vale nada, mas por trás desse pobre vaso há um poder supremo. Todo o poder de Deus vai junto com o pobre vaso, no qual Ele coloca este tesouro.


A luz brilhando

A imagem aludida aqui é, sem dúvida, o exército de Gideão. Eles colocaram a luz no cântaro, mas a luz não brilhou até que o cântaro foi quebrado. Eles tiveram que quebrar os cântaros, e então a luz brilhou. E sem dúvida o Espírito de Deus alude a esse fato aqui. Você tem o brilho da glória, e você tem o poder supremo agindo para que possa brilhar. Essas duas coisas andam juntas, a saber, a glória de Deus na face de Jesus Cristo brilhando em nossos pobres vasos de barro, ou cântaros, e o poder supremo de Deus que opera por estes vasos para a exibição do resplendor de Cristo.


Nosso coração deseja isso? Esse é o nosso propósito e objeto? Deus nos ajudará se tivermos esse propósito de coração. Podemos dizer-Lhe: “eu tenho apenas um desejo, que eu pudesse ser sobre a Terra um vaso em quem a exibição da glória do Teu Filho, o Senhor Jesus Cristo, pudesse ser encontrada em todas as circunstâncias aqui?” É a mais maravilhosa graça de Sua parte nos levar a tal lugar que possamos ter uma mente semelhante a Ele, e capacitar-nos com tal poder supremo.


Poder supremo

Eu posso ver alguém virando as costas para tudo neste mundo, que não tem interesses aqui. Que poder supremo é exibido nesse homem! Eu posso ver uma pobre criatura deitada em uma cama por causa de uma doença, o pobre corpo pressionado pela doença, mas em vez de reclamar, vejo a bendita manifestação de Cristo em mansidão e perseverança. Que poder supremo existe ali!


Isso é o que este ministério é capaz de fazer, e esse é o pensamento de Deus sobre nós em relação a ele. E mais do que isso, é nessas mesmas circunstâncias que Cristo Se torna mais querido a nós, pois somente Ele é nossa suficiência para tudo.


Este é o testemunho que realmente falta neste momento. Podemos falar de doutrinas, e devemos ser claros sobre elas, mas as pessoas ficam espantadas ao ver tão pouco da prática dessas doutrinas, porque elas não conseguem ver nada em nós. Por essa razão, lemos: “e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4:2). Se os crentes o fizessem, os homens seriam forçados a dizer: Embora eu não goste dessas pessoas, ainda assim, ao mesmo tempo, minha consciência deve dar este testemunho, que eles procuram agradar a Deus. Quão bom seria, se disséssemos continuamente, que “Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Fp 1:20).


W. T. Turpin (adaptado)

 

O Senhor é Paz


O coração de Gideão é reafirmado e ele constrói um altar para Jeová, e o chama de Jeová-Shalom [SENHOR É Paz] (Jz 6:24).


Agora ele está preparado para o serviço. Ele esteve sob a tutela de Deus. Ele aprendeu onde está sua força (ele não diz mais: “com que livrarei a Israel?”) E Jeová lhe deu confiança para ficar diante d’Ele. Mas onde Ele o colocou para trabalhar – com os midianitas? Não, nem um pouco. Ele precisa começar o trabalho de Jeová em casa, com aquilo que está mais próximo de si mesmo.


J. N. Darby

 

O Velo de Gideão


Os sinais que Deus deu a Gideão,

Sua santa soberania tornada conhecida;

Que apenas Ele tem poder para salvar,

E reivindica a glória como Sua.


O orvalho que primeiro encheu o velo,

Quando toda a terra estava seca ao redor;

Foi dele posteriormente retido,

E só caiu no chão.


Para Israel assim o orvalho celestial

A verdade salvadora foi por muito tempo contida;

Do qual os gentios nada sabiam,

Mas seco e desolado permaneceu.


Mas agora os gentios receberam

O bálsamo do orvalho da paz do evangelho,

E, Israel, cujo espírito se entristeceu,

É deixado como um velo seco e vazio.


Este orvalho ainda cai ao Seu comando,

Para manter Suas plantas escolhidas vivas;

E elas, embora em uma terra sedenta,

Como salgueiros à beira da água prosperam.


Mas principalmente quando Seu povo se ajunta,

Para ouvir Sua Palavra e buscar Sua face;

O orvalho suave com influência doce

Desce e nutre sua graça.


Mas ah! Que números ainda estão mortos,

Embora estejam sob os meios da graça!

O orvalho continua caindo em redor da cabeça –

E ainda assim seu coração, intocado e seco.


Querido Salvador, ouça-nos quando clamamos;

À oração fervorosa, uma resposta seja dada;

Derrama Teu orvalho sobre todos nós,

Que todos possam sentir e todos possam viver.


J. Newton (1725-1807)

 

“Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”


2 Coríntios 4:7


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