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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus: Os Céus Abertos - Parte 2/3


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ÍNDICE


 

Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus

Os Céus Abertos

John Gifford Bellett

 

Hebreus 8


Meditamos até o capítulo 6, versículo 7, e aí paramos, seguindo para Hebreus 7. Agora vamos ler o final de Hebreus 6 e o capítulo 8. Mas antes de prosseguirmos com a doutrina da epístola, olharemos um pouco para o que chamamos de parêntese de exortação em Hebreus 6. No versículo 10 de Hebreus 5, deixamos a doutrina e, a partir daí, até o final de Hebreus 6, há um parêntese. Tendo o apóstolo se detido para exortá-los, estávamos observando que aquilo que ele temia nos hebreus não era algo moral, como nos coríntios, mas corrupção doutrinal. Será que não vemos agora tais variedades morais ao nosso redor? Algumas pessoas têm uma tendência aos coríntios, outras têm aos gálatas. O que ele temia por parte dos hebreus era que eles abrissem mão de Cristo como o Objeto de sua confiança.

 

Início do parêntese 

Com o que Deus está cultivando o seu coração agora? (v. 7). Não é com lei, mas com graça. Moisés seguia o princípio de lei – o Senhor Jesus seguia o princípio da graça, e corações livres, felizes e gratos são as forragens adequadas para tal cultivo. Como está sua alma diante de Deus? Você O contempla em julgamento ou em graça? A comunhão da sua alma com Deus está na liberdade da graça ou no temor do julgamento em um dia vindouro? Se for no último, não está produzindo a forragem proveitosa para Aquele que está cultivando. Espinhos e cardos são os produtos da natureza. Eles são o produto natural de uma cena corrupta, seja a Terra que eu piso ou o coração que carrego dentro de mim. Supondo que eu esteja agindo com uma mente legalista e justiça própria – tendo que tratar com Deus como um Juiz – isso não vem do natural? Mas tudo isso são espinhos e cardos. Porém, se eu ando na confiança filial de alguém que confiou na salvação de Deus, esse é o solo que produz forragem proveitosa Àquele por Quem é cultivado.

 

Agora, qual é o fundamento da persuasão do apóstolo de “coisas melhores” que tocam a eles no versículo 9? Não é a confiança na simplicidade de sua apreensão da graça, mas que os frutos da justiça foram vistos entre eles – coisas belas que acompanham, mas nunca constituem a salvação. Portanto, o apóstolo, vendo essa bela fecundidade, diz: “Embora eu esteja soando um alarme, não o atribuo a vocês”. Tendo chegado a esse ponto, ele prossegue até o final do capítulo e não retorna ao que é doutrinal até chegar a Hebreus 7. Ele ora para que continuem a ministrar aos santos. Será que o seu conhecimento de Cristo leva-o a duas coisas – comunhão secreta de alma com Ele e energia prática de caminhada Cristã e fidelidade? “Mas”, diz ele, “continueis com a bela e prática obra que vocês começaram” e “não [vos] façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas”.

 

Então ele apresenta Abraão como alguém que não afrouxou a mão até o fim. Abraão não apenas recebeu a promessa em Gênesis 15, mas continuou com paciência até que ela foi confirmada por um juramento em Gênesis 22. Somos chamados não apenas à fé, mas à paciência da fé. Será que não podemos ter uma consolação, mas ainda assim não ser uma forte consolação? Vemos isso em Abraão. Ele teve uma consolação em Gênesis 15 e uma forte consolação em Gênesis 22. Certa vez, um santo me disse: “Naquela última doença, o Senhor me trouxe tão perto d'Ele, que me senti como se nunca tivesse crido antes”.

 

O apóstolo nos quer como Abraão em Gênesis 22, para que “tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta”. Essa passagem é comumente citada erroneamente. Não é um pecador correndo para o sangue em busca de refúgio, mas um santo correndo dos destroços de cada perspectiva aqui para a esperança da glória. Isso é o suficiente para nos testar. Você e eu assentamos nos destroços de tudo aqui? Estamos prometendo a nós mesmos esperanças para o amanhã? Abraão era um homem que fugiu de todas as perspectivas aqui para agarrar a esperança da glória. O apóstolo diz: “reter a esperança”, não à cruz. A Palavra de Deus tem uma intensidade que comumente nos escapa. Agora ele volta às figuras levíticas. Será que a sua esperança entra dentro do véu? Você não tem esperança para amanhã? Qual é a expectativa que seu coração se baseia? É a esperança do retorno de Cristo ou as promessas de amanhã?

 

“Onde Jesus, nosso Precursor, entrou por nós”. O Senhor Jesus é aqui apresentado com um novo caráter. Nós O vemos no céu, não apenas por nós como nosso Sumo Sacerdote, mas para garantir um lugar para nós com Ele. Oh! Se pudéssemos adentrar nas glórias da presente dispensação! Ela está cheia de glórias. Jesus está agora no céu, na glória de um Precursor – um Sumo Sacerdote – o Purificador dos nossos pecados. Lá Ele Se assenta revestido de glórias. Ele Se revestirá de outras glórias no céu milenar. Ele também será Rei dos reis e Senhor dos senhores na Terra milenar. Ele não é isso agora, mas há glórias nas quais Ele é manifestado aos olhos da fé. Você vai e medita, com o coração quebrantado, nas glórias dos “últimos dias”, como são chamados nesta epístola?

 

FinaI do parêntese 

Passemos a Hebreus 8. “Ora, a suma do que temos dito é que temos um Sumo Sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade, Ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”. Que palavras notáveis! Que glórias encheram os céus nos dias da criação? O Sol, a Lua e as estrelas foram estabelecidos ali. Os dedos d'Ele os adornaram. E acaso não adornaram os céus atuais? Se houve glórias estabelecidas no céu exterior pelos dedos de Deus, há glórias estabelecidas no céu interior pela graça de Deus. Uma dessas glórias é um tabernáculo que o Senhor formou lá. Cristo desceu do seio eterno para glorificar a Deus na Terra. Havia algo brilhante demais no caminho da glória para revestir tal Ser?

 

Que relacionamento temos aqui entre Deus e Seu Cristo – entre o Pai e o Filho! E entre as glórias que O aguardavam, havia um templo erguido pelo próprio Senhor. O Sol sai de sua câmara para seguir o seu curso. O Criador construiu uma habitação para o Sol nos céus (Sl 19). Na redenção, Deus construiu uma habitação para o Sumo Sacerdote; e Ele está assentado lá no mais alto lugar de honra. Cristo não poderia ser um Sacerdote aqui. O lugar estava divinamente ocupado. Tem sido imprudentemente dito: Ele não poderia entrar no Santo dos Santos. Certamente não podia, pois veio da tribo de Judá. Veio Ele para quebrar as ordenanças de Deus ou para cumprir toda a justiça? Que ocupação Ele tinha no lugar santíssimo? Um sacerdote da tribo de Levi, se O encontrasse lá, teria o direito de expulsá-Lo. Ele tinha direito a tudo, mas Ele veio como Alguém em sujeição, um Servo que a Si mesmo Se esvaziou. Será que Ele Se intrometeu com os dois pobres discípulos de Emaús? Ele muito menos, como um Filho de Judá, como era, Se intrometeria na casa de Deus.

 

Aqui fazemos uma pausa um pouco. Nesta epístola, encontramos uma coisa. Do começo ao fim, o Espírito está tomando uma coisa após a outra e colocando-a de lado para dar lugar a Cristo, e quando Ele abriu espaço para Cristo e O traz para dentro e O estabelece diante de nós para sempre. E todos nós devemos nos submeter a isso. Deus não colocou você de lado e trouxe Cristo em seu lugar? A fé se curva a isso. Isso é o que Ele tem feito em cada alma crente.

 

Assim, em Hebreus 1, Ele coloca os anjos de lado. “E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-Te à Minha destra, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés?” Oh! Como a fé concorda com isso! Oh! Como os anjos concordam com isso! Em seguida, vemos Moisés colocado de lado. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo... mas Cristo, como Filho, sobre a Sua própria casa”. Podemos nos separar de Moisés porque temos Cristo – como o pobre eunuco poderia se separar de Filipe porque ele tinha Jesus. Então, em Hebreus 4 aparece Josué. Mas ele também é colocado de lado. “Se Josué lhes houvesse dado repouso, não falaria, depois disso, de outro dia” – Cristo é colocado diante de mim como o verdadeiro Josué que realmente me dá descanso. Então Arão é colocado de lado para deixar entrar o sacerdócio de Cristo; mas quando eu tenho o sacerdócio de Cristo diante de mim, o terei para sempre. Ele é o Mediador de um melhor concerto. O antigo concerto foi abolido porque o Senhor não tem nada para dizer dele. E no final lemos a bela declaração, que pode ser o texto da epístola: “Jesus Cristo é O mesmo ontem, hoje e para sempre”. Ele, sendo introduzido, é O mesmo para sempre.

 

Que magnífico pensamento é o de Deus trazendo o bendito Jesus para descolocar tudo o mais! Isso é perfeição, porque Deus repousa n'Ele. Esse é exatamente o sábado da antiguidade, quando Deus descansou na criação. Agora Deus descansa em Cristo, e isso é perfeição; e se você e eu entendemos onde estamos, estamos respirando a atmosfera de perfeição – uma obra consumada – um sábado.

 

Não há nada mais frutífero em gloriosos luminares do que a Epístola aos Hebreus. É uma epístola de glórias indizíveis e de valor inestimável para a consciência do pecador despertado. Esse é o título da minha alma para respirar a atmosfera do próprio céu; e se eu não o fizer, devo, por isso, colocar uma nuvem sobre meu título por causa da pobreza de minha experiência?

 

Agora, no final de Hebreus 8, vemos outra coisa colocada de lado – o primeiro concerto. O concerto de que Cristo é ministro não envelhece jamais. “Eu perdoarei vossos pecados, perdoarei vossas iniquidades”. Não há rugas no rosto, não há cabelos grisalhos na fronte.

 

O Senhor toca todas as coisas e as estabelece diante de Deus para sempre; e Deus repousa nelas. Ele aperfeiçoa tudo o que toca. Enquanto todas as coisas dão lugar a Ele, Ele não dá lugar a nada. E você não gostaria que fosse assim? João Batista não teria gostado que isso fosse assim? Quando se aproximaram dele e disseram: “Rabi, Aquele que estava contigo além do Jordão, do Qual tu deste testemunho, ei-Lo batizando, e todos vão ter com Ele”, Ele respondeu: “Aquele que tem a esposa é o Esposo; mas o amigo do Esposo, que Lhe assiste e O ouve, alegra-se muito com a voz do Esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida”. Esta deve ser a expressão instintiva do seu coração e do meu. Se o Espírito tem atuado em sua alma, você deve dizer: “Bendito seja Deus por isso! Ele me colocou de lado para introduzir Jesus”. Há uma unidade maravilhosa entre a descoberta que recebemos aqui e a experiência de nossa própria alma. Nunca chegaremos ao fim dessas glórias até que estejamos submergidos em um oceano delas em breve – um mar sem limites!


 

Hebreus 9 – 10:18


Concluímos Hebreus 8; e seguindo a estrutura da epístola, agora leremos Hebreus 9 até o versículo 18 do capítulo 10. Esta é a última seção da parte doutrinal, e então, até o fim, teremos exortações morais. Do início do capítulo 9 até o versículo 18 do capítulo 10 o argumento é um só.

 

Detenhamo-nos, por um instante, na estrutura da epístola. Você já considerou em sua mente, de forma clara, as glórias que pertencem ao Senhor Jesus? Há três formas de glória que se ligam a Ele – glória moral, glória pessoal e glória oficial. Desde a manjedoura até à cruz houve a manifestação de Suas glórias morais. Nestes “últimos dias”, o Senhor está manifestando algumas de Suas glórias oficiais, e em breve Ele exibirá mais delas, como fará nos tempos milenares. Os profetas da antiguidade falaram de Seus sofrimentos e das glórias – e não da glória – que deveriam se seguir. Mas Sua glória pessoal é o fundamento de cada uma delas.

 

Esse é um grande assunto para nossa constante meditação – as glórias do Senhor Jesus desde o ventre da virgem até o trono de Seu poder milenar. Durante toda a vida, Ele manifestou Suas glórias morais. A cena para elas já passou, e Ele tomou Seu assento no céu, mas isso só Lhe deu a oportunidade de revelar outras. Os quatro evangelhos me dão uma visão de Suas glórias morais aqui. Agora, na Epístola aos Hebreus, O vejo assentado no céu em uma constelação de glórias oficiais. Em outras passagens, Suas glórias vindouras são apresentadas. Sempre que você O vê, não pode deixar de vê-Lo rodeado de um grande número delas.

 

Nestes capítulos 9 e 10 você vê o que Ele estava fazendo na cruz, o fundamento de cada uma das Suas glórias presentes. Nos primeiros oito capítulos, temos uma variada manifestação das condições do Senhor Jesus agora no céu; e agora, como o sustento de tudo isso, em Hebreus 9 e 10, temos um relato da perfeição do Cordeiro sobre o altar.

 

Você já fez dos “últimos dias” um assunto para reflexão? Por que o Espírito nomeia a era pela qual estamos passando de “últimos dias”? Teremos outros dias depois desses. Por que, então, Ele os chama de “últimos dias”? Maravilhosamente assim – porque Deus descansa no que o Senhor Jesus realizou, tão completamente quanto descansou no final da criação na perfeição de Sua própria obra. Não é que, na revelação da dispensação de Deus, não teremos outras eras; contudo, diante disso, o Espírito não hesita em chamá-los de “últimos dias”.

 

Em tudo o que o Senhor fez, Ele satisfez a Deus. Ele aperfeiçoa tudo o que toca e o torna eterno, e Deus não olha para além disso. Tudo é colocado de lado até que Cristo seja introduzido, mas não há qualquer olhar para além d'Ele. “Jesus Cristo é O mesmo ontem, e hoje, e eternamente” Então, no momento em que vejo Deus repousando em qualquer coisa, vejo a perfeição; e no momento em que vejo a perfeição, estou nos últimos dias. Deus alcançou a satisfação, e eu também. Cristo pode ser revelado nos dias do Milênio, mas é o mesmo Cristo que temos agora. Devo atentar para Moisés ou Josué? Todos eles são (tratados à luz de Cristo) como “rudimentos fracos”. Todos dão lugar um após o outro; mas Cristo sendo apresentado aos pensamentos de Deus, Deus descansa n'Ele; e quando você vem para ver onde está, você está no segundo Sábado de Deus – e vê como Um excede o outro! O repouso do Redentor é uma coisa muito mais abençoada do que o repouso do Criador. Em Cristo, você tem a perfeição – o descanso de Deus – e está nos “últimos dias”.

 

Agora, quando chegamos a Hebreus 9 e 10, vemos Cristo, não propriamente ou caracteristicamente no céu, mas no altar. As glórias que O cercam agora nos foram apresentadas uma após a outra – a glória do sacerdócio – a glória do Purificador de nossos pecados – o Herdeiro predestinado do mundo vindouro – o Apóstolo da salvação – o Despenseiro do concerto que nunca envelhece – o Doador da herança eterna – estas são as glórias dos “últimos dias”.

 

Em Hebreus 9 e 10, vemos a cruz que sustenta todas elas. Como é abençoado seguir, de Mateus a João, o caminho de beleza moral. O Senhor Jesus estava na Sua posição oficial aqui? Não, Ele estava aqui em sujeição. Quando olho para Ele, sou convidado a olhar para cima. É Alguém andando em beleza moral que vejo lá? Não, não isso em especial, mas é Aquele que está assentado à direita da Majestade com um juramento em meio de belezas gloriosas – Aquele a Quem o coração de Deus, satisfeito e imutável O assentou lá. Foi o propósito de Deus em testar que assentou Adão no Éden. É o coração imutável de Deus que assentou Cristo no céu.

 

E agora lemos a perfeição de Sua obra como Cordeiro de Deus, como o grande fundamento de todas essas glórias.  Ele não teria aperfeiçoado Suas glórias morais aqui se não tivesse ido até a cruz e morrido lá. Ele não teria tido Suas glórias oficiais no céu se não tivesse ido até a cruz e morrido lá. Quando o Senhor Jesus estava pendurado, como o Cordeiro de Deus, no maldito madeiro e por cima de Sua cabeça sangrando estava a inscrição em várias línguas: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS”, eles procuraram apagá-la – mas Deus não queria que ela fosse apagada. Ele queria que toda a criação soubesse que a cruz era o título ao reino. A inscrição que Pilatos escreveu na cruz é muito excelente, e Deus a manteve lá.

 

Crendo que a cruz sustente a glória, de acordo com a inscrição, agora me diga o que sustenta a própria cruz? A cruz é sem fundamento? O segredo vem à tona nestes capítulos: à medida que a cruz sustenta suas esperanças, é a Pessoa que sustenta a cruz. Sua glória pessoal é o sustento à cruz. Se Ele fosse menos do que Deus manifestado em carne, tudo o que Ele fez não valeria mais do que a água derramada no chão. De todo o poderoso mistério das glórias oficiais, milenares e eternas, a cruz é o sustento e a Pessoa é o sustento da cruz.

 

Ele deve sustentar Sua própria obra, e Sua obra deve sustentar todas as coisas. É precisamente esse o argumento do apóstolo.

 

Havia um véu pendurado entre o lugar onde os sacerdotes ministravam e a morada mística de Deus. Esse véu era a expressão de que o pecador não tinha acesso a Deus naquela época. Não houve sacrifícios? Sim, houve, e o altar de Deus os aceitava. Mas “se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço”. Maravilhosamente, então, neste ponto, Ele vem ao seu coração e exige uma nota de admiração. “Porque, se o sangue dos touros e bodes... santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?”

 

Suponha que inspecionemos o antigo tabernáculo e vejamos a fraqueza de todos os seus elementos – que o sangue de touros não poderia trazer você à presença de Deus; e desde a miséria de tudo isso, olhe agora para a satisfatoriedade do sangue de Jesus, Será que você não exclamará: “Quanto mais o sangue de Cristo... purificará nossas consciências?” É assim que você deve chegar à cruz – deixando de lado as dúvidas e questionamentos e entregando-se à admiração. A coisa que o Espírito faz é levá-lo gentilmente pela mão e levá-lo até o altar no Calvário, e dizer-lhe Quem é a Vítima que está sangrando lá. Ninguém, a não ser Alguém que fosse pessoalmente livre, poderia dizer: “Eu vim para fazer a Tua vontade”. Você tem algum direito a ter uma vontade? Gabriel ou Miguel têm? Executar a vontade de Deus é a ocupação deles; mas aqui estava Aquele que poderia Se oferecer imaculado a Deus. “Quanto mais”, então, tal sacrifício purificará nossa consciência e nos apresentará imediatamente ao Deus vivo? Isso me dá o direito de dizer que, enquanto olhamos para Suas glórias – Suas glórias oficiais – vemos que a cruz é o sustento de todas elas.

 

Mas se a alma não conhece a glória pessoal do Senhor, ela certamente não conhece nada. Esse é o segredo que temos aqui. Ele, para Quem Deus preparou um corpo, por meio do Espírito eterno, satisfez o altar. Sim, satisfez o altar de cobre antes de entrar no santo santuário para desempenhar o ofício de Sacerdote de Deus. E a expiação flui da satisfação. Se percebo que o sacrifício de Cristo respondeu às exigências do altar de cobre, vejo que minha reconciliação está selada e resolvida por toda a eternidade.

 

A Epístola aos Efésios diz a você para que se apoie nisso e olhe ao seu redor, para as glórias de sua condição. A Epístola aos Hebreus mostra as glórias da condição de Cristo em cerca de trezentos versículos. Que mundo de maravilhas está acessível! Você sustentado pelo que Ele fez; e o que Ele fez sustentado pelo que Ele é.

 

Hebreus 10:19 – 39


Estamos chegando agora à outra bela parte da epístola, e como sugerimos, à uma nova divisão dela. Vamos ler do versículo 19 até o final de Hebreus 10. Você pode observar a estrutura geral das epístolas. Veja Efésios, por exemplo: nos três primeiros capítulos, obtemos a verdade doutrinal e, nos três últimos, a aplicação moral dela. Assim, em Colossenses, Gálatas, Romanos e assim por diante. Agora, em Hebreus, é o mesmo, e estamos apenas entrando agora na aplicação prática do que foi visto antes.

 

“Agora, todas as glórias do Cordeiro adornam o trono celestial”, como diz um belo hino do Dr. Watts. Constantemente, por meio desta epístola, temos olhado para cima e visto isso. Mas deixe-me perguntar, você vê glórias em algum lugar “nestes últimos dias” que não estejam ligadas ao Senhor no céu? Vocês me dirão que toda a glória pertence a Ele, e eu concordo, mas eu lhes digo, vocês devem ver glórias ligadas a vocês mesmos. Tal é a maravilhosa obra de Deus, que Ele fez do pobre pecador uma criatura gloriosa. Estes mesmos últimos dias que colocaram Cristo no alto, em meio das glórias, colocaram o pobre pecador crente aqui em meio a glórias.

 

Quero que você e eu estejamos cingidos para apreendê-las. Não esperamos pelo o reino para ver glórias. Não é glória para você ter uma consciência purificada? Não é glória ter pleno direito de estar na presença de Deus sem se envergonhar? Não é glória chamar Deus de Pai? Ter Cristo como seu Precursor nos lugares celestiais? Entrar no santuário sem tremor de consciência? Não é glória ser introduzido nos segredos de Deus? Se pudermos levantar nosso coração e dizer: “Abba, Pai”? Se pudermos levantar nosso coração e dizer: “Quem condenará?” ou “Quem nos separará do amor de Cristo?” Se pudermos acreditar que somos ossos de Seus ossos e carne de Sua carne; que somos parte da plenitude de Cristo, alguém dirá que não há glória em tudo isso? Assim, esta epístola nos introduz aos pensamentos mais preciosos. Ela me diz para olhar para cima e ver Cristo adornando o trono, e olhar para baixo e ver o pobre pecador brilhando no escabelo dos pés.

 

O mundo não vê nenhuma dessas glórias. Nós apenas as apreendemos no espelho da Palavra por fé, mas digo corajosamente que não espero pelo reino para saber o que glória é. Olho para cima e vejo o Cordeiro em glórias adquiridas. Olho para baixo e vejo o santo em glórias concedidas. Agora começa a aplicação moral. “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário [Santos dos Santos – ARA], pelo sangue de Jesus”. Ali vejo a mim mesmo; e alguém dirá que não há glória em tal condição? Esse é o meu título. A exortação aqui é que você desfrute do seu título. Desfrutar é obedecer. O primeiro encargo que você deve a Deus é desfrutar aquilo que Ele fez de você e daquilo que Ele deu a você. “Cheguemo-nos”. Use o seu privilégio, como dizemos. Esse é o primeiro grande dever de fé, e atrevo-me a dizer que é o dever mais aceitável de fé.

 

Quão limitados somos para desfrutar dessas glórias. Você já se olhou no espelho da Palavra? Estamos muito acostumados a olhar para nós mesmos no espelho das circunstâncias – no espelho dos relacionamentos. Se dissermos no segredo do nosso coração, com exultação de espírito: “Eu sou um filho de Deus”; se, com exultação de espírito, pudermos dizer: “Eu sou coerdeiro de Cristo”, essa é a maneira de começar a obediência. Aqui está exatamente isso. “Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé”.

 

Devemos nos ver como o sacerdócio de Deus. Os sacerdotes da antiguidade foram lavados quando foram colocados no cargo. Então, todos os dias, seus pés eram lavados antes de entrarem no tabernáculo para servir ao Senhor. O pavimento da própria presença de Deus não foi manchado pelos pés do sacerdote. Ele entrava num caráter digno do lugar. Você está ocupando a presença de Deus o dia todo na consciência de que você é digno do lugar? Como você será apresentado diante d’Ele em breve? Judas lhe diz – “irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória”. Você deve saber que está em Sua presença agora irrepreensível ou sem mácula. Não conseguimos nos rebaixar o suficiente na carne, e não conseguimos nos elevar o suficiente em Cristo. Se alguém pode falar pelos outros, achamos muito mais fácil nos degradar na carne do que nos magnificar em Cristo. Este último é o que o Espírito está fazendo aqui.

 

Agora, tendo entrado no Santo dos Santos, Ele me diz o que fazer lá. Se eu conheço meu título de estar na presença de Deus, também devo saber que estou lá como o herdeiro de uma glória prometida; estou lá para ser mantido lá até que a glória brilhe. Somos testemunhas de uma classe de glórias, assim como o Senhor Jesus é testemunha de uma classe de glórias. Estamos em um lugar rico, e tendo entrado lá, devemos manter nossa esperança sem vacilar. “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança”. Se entrarmos lá sem vacilar, devemos manter nossa esperança sem vacilar. É para isso que o nosso Deus nos chamou. Estamos lá com ousadia, e estando lá, devemos falar da nossa esperança. E devemos falar também de caridade, “para nos estimularmos à caridade [ao amor – ARA] e às boas obras”. Que serviço excelente! Quem pode expressar as belezas dessas coisas?

 

“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros”. Quando entramos em casa, o que fazemos juntos? Permaneceremos abatidos nas profundezas da ruína consciente? Não, mas exortando uns aos outros ao amor e às boas obras. Essas são as atividades da casa. Habitamos juntos em uma casa feliz, exortando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto apontamos para o céu e dizemos: “Olha! O amanhecer está próximo; o céu está se abrindo.” Devemos muito mais exortar uns aos outros para conhecer nossa dignidade em Cristo do que conhecer nossa degradação em nós mesmos. É muito correto nos conhecermos como pobres criaturas inúteis. E a confissão está muito certa, mas cingir os lombos do nosso entendimento à apreensão de nossa dignidade é um trabalho muito mais aceitável e sacerdotal do que estar sempre nas profundezas. “Das profundezas clamo a ti, ó SENHOR”. Mas aqui nos vemos aceitos, mantendo nossa esperança sem vacilar, exortando uns aos outros e dizendo, enquanto apontamos para o oriente do firmamento: “O amanhecer está chegando”.

 

Então, tendo assim nos conduzido ao versículo 25, o apóstolo traz uma passagem solene sobre o pecado intencional. Lemos o equivalente disso em Números 15, onde temos o pecado à mão levantada. Sob a lei, havia dois tipos de ofensa. Um homem poderia encontrar uma coisa que era do seu próximo e tratar falsamente a respeito dela ou poderia mentir para o seu próximo, e então havia a provisão de uma oferta pela transgressão. Mas quando um homem apanhava lenha no dia de sábado, ele deveria ser apedrejado imediatamente. Não restava nada para ele, exceto “uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo”. Aquele era um pecado cometido à mão levantada (propositalmente) que afrontava o legislador. Esse é o pecado da presunção do Novo Testamento. Ele afronta ao Deus desta dispensação, assim como o que colhia lenha no sábado afrontava ao Deus da lei. Não devemos ser descuidados com o pecado. Se cometermos o menor pecado, devemos ter o coração quebrantado a esse respeito. Mas não é isso que está contemplado aqui. Isso significa o abandono do Cristianismo.

 

Então, tendo chegado ao versículo 32, o apóstolo os exorta: “lembrai-vos... dos dias passados”. Deixe-me perguntar à sua alma: “Todos vocês se lembram do dia em que foram iluminados?” Alguém talvez diga: “A luz foi brilhando mais e mais sobre mim”. Acredito que com Timóteo possa ter sido assim. Sempre imaginei que Timóteo, com a educação de sua mãe piedosa, deve ter passado suavemente para o rebanho de Deus. Mas a maioria das pessoas conhece o momento de sua iluminação; e se há um momento de energia moral na história de alguém, é o dia de sua vivificação. Por que você e eu não carregamos a força daquele momento conosco? Jesus era, então, diferente do que Ele é agora? Quando eu sei que houve um dia em que tudo acabou entre Deus e eu, e que agora chegou o dia em que tudo acabou entre o mundo e eu, isso é Cristianismo prático. Qual foi o dia em que o apóstolo disse para eles se lembrarem? O dia em que, sendo iluminados, aceitaram, “com gozo”, a espoliação de seus bens. Por que isso aconteceu? Como explicar isso? Eles estavam olhando para uma herança melhor. Deixem-me agarrar aquilo que é mais rico, e não me importarei que desapareça aquilo que é mais pobre.

 

Podemos ter como certa a vitória sobre o mundo tão facilmente quanto podemos ter como certo o acesso a Deus. É esse, permitam que eu diga, precisamente o nó que esta epístola amarra. Ele coloca você dentro do véu, fora do arraial. No caráter maravilhoso, divino e moral do Cristianismo, a graça e o sangue de Cristo trabalham exatamente ao contrário da mentira da serpente. A mentira da serpente fez de Adão um estranho para Deus, e “em casa” neste mundo contaminado – dentro do arraial e fora do véu. O Cristianismo simplesmente alterou isso. Ele nos restaura à cidadania na presença de Deus e nos dá o caráter de estrangeiros no mundo; e o versículo 35 deste capítulo é precisamente o versículo desta epístola que une essas coisas.

 

Mantenha firme a sua confiança e este será o segredo da força para você. Onde vemos a vitória sobre o mundo? Naqueles que são mais felizes em Cristo. Por que você e eu estamos tão miseravelmente abatidos na correnteza do mundo? Porque não somos tão felizes em Cristo como deveríamos ser. Dá-me uma pessoa que tenha ousadia e gozo na presença de Deus e eu te mostrarei alguém que tem vitória sobre o mundo.

 

Agora, o apóstolo nos diz que uma vida de paciência se interpõe entre o dia da iluminação e o dia da glorificação. Não devo contar com um caminho de prazer – um caminho de facilidade – um caminho de prosperidade – em ser mais rico ou mais distinto amanhã do que hoje, mas devo contar com um caminho de paciência. E não há glória nisso? Sim, há companheirismo com Cristo. Não pode haver maior glória para você do que ter a companhia do seu Mestre rejeitado. Esse é o seu caminho. “e se ele [o justo] recuar, a”. Ele não tinha vergonha de ser o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Eles eram estrangeiros aqui, mas se nos tornarmos cidadãos aqui, em vez de estrangeiros – fazendo aliança com o mundo – Aquele que poderia dizer: “Eu sou o Deus dos Meus estrangeiros”, pode dizer ao cidadão do mundo: “Minha alma não tem prazer nele”.

 

Que possamos nos exortar uns aos outros ao amor e às boas obras, e apontando para o nascente do Sol dizer: “O dia está nascendo!”. Amém.

 

J. G. Bellett

 

 

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