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O Cuidado Pastoral - João 21 (Setembro de 2008)

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Revista mensal publicada originalmente em setembro/2008 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          J. N. Darby, trechos selecionados

          W. J. Prost

          C. H. Mackintosh

          The Bible Student, 2:20

          C. W., de Words of Faith, 1:5

          D. C. Buchanan

          C. H. Mackintosh, Miscellaneous Writings, 4:34-38

         G. V. Wigram, The Seven Churches

          D. Lamb

          H. Smith, Scripture Truth, 10:9

E. C. Clephane

 

Pastoreio

 

Não há nada que eu ore mais do que para que mais pastores sejam levantados. O que quero dizer com pastor é alguém que pode suportar toda a tristeza, cuidado, miséria e pecado de outra pessoa em sua própria alma, recorrer a Deus quanto a essas coisas e trazer de Deus aquilo que suprirá essa necessidade, antes que ele vá até a outra pessoa.

 

Eu creio que um pastor é um dom raro. O trabalho do evangelista é mais simples. Ele se coloca diante do mundo em favor de Cristo. Um pastor deve ser como um médico; ele deve saber qual é a comida certa, o medicamento certo, o diagnóstico certo, toda a farmacêutica, e também como aplicá-los. Em certo sentido, é um dom raro e muito precioso.

 

O pastor e o mestre são coisas distintas. O pastor não apenas dá comida como o mestre; o pastor pastoreia as ovelhas, as guia aqui e ali e cuida delas. Eu acho que é algo muito desejável, mas acredito que é um dom raro e sempre foi. Pastores devem ter um coração para as ovelhas. Existem graus de completude nisso, mas é isso que o pastor deve fazer. O evangelista leva o evangelho ao pobre pecador, enquanto o pastor tem santos em seu coração e cuida deles.

 

J. N. Darby, trechos selecionados

 

O Bom, Grande e Sumo Pastor

 

“Apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:16). O Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos e agora está instruindo Pedro. Essas palavras vieram daquele que é o nosso Exemplo supremo e foram ditas àquele que tinha acabado de falhar de maneira significativa em não seguir seu Senhor. Mas o Senhor poderia usar Pedro, e em várias porções da Escritura encontramos orientação para o papel de pastor, enquanto também somos incentivados a cuidar de Suas ovelhas.

 

No Novo Testamento, o Senhor Jesus é mencionado como o Pastor de três maneiras diferentes – como o Bom Pastor, o Grande Pastor e o Sumo Pastor. Cada um desses traz diante de nós um pensamento distinto, enquanto cada um deles traz um exemplo para nós de maneiras diferentes. Eu gostaria de analisar essas três características do Senhor Jesus como um Pastor, para que possamos ver Sua perfeição em cada papel, mas então também ver como cada uma delas é um exemplo para nós, para buscarmos cuidar uns dos outros.

 

O Bom Pastor 

Em João 10:11, o Senhor Jesus diz: “Eu sou o Bom Pastor; o Bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas”. Neste momento, quando Ele diz essas palavras, o Senhor Jesus tinha sido rejeitado. Podemos dizer que em João 7, Suas palavras haviam sido rejeitadas, em João 8 Sua Pessoa foi rejeitada, enquanto em João 9 Suas obras tinham sido rejeitadas. Mas então, vemos que Deus terá Suas ovelhas apesar de qualquer coisa. Isto só pode acontecer se o Bom Pastor der Sua vida pelas ovelhas, para que elas possam ser Suas. Não havia outra maneira. Davi arriscou sua vida salvando suas ovelhas do leão e do urso, mas o Senhor Jesus deveria entregar Sua vida para que Suas ovelhas fossem salvas. Que preço Ele pagou por elas!

 

No Velho Testamento, vemos esse caráter do Senhor Jesus no Salmo 22. Lá, Seus sofrimentos são mais retratados da mão de Deus, pois são esses sofrimentos que tiraram nossos pecados. Seu clamor no versículo 1 ficou sem resposta, pois o pecado estava em questão, e Deus não podia olhar para o pecado. E qual é o resultado? Nada além de bênção, passando por toda a parte final do salmo, do versículo 22 até o fim. O mesmo acontece com o Bom Pastor. Se Ele dá a vida pelas ovelhas, não há nada além de bênçãos para elas.

 

É evidente que nós, como seres criados, nunca podemos tomar sobre nós o sofrimento por outro com o pensamento de expiar o pecado. Não, nosso Senhor Jesus estava sozinho nisso. No entanto, lemos que “Conhecemos a caridade [amor] nisto: que Ele deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3:16). Se seguirmos os passos de nosso Senhor e Salvador, responderemos ao Seu supremo sacrifício estando dispostos a dar a nossa vida por aqueles que são tão preciosos para Ele – Suas ovelhas. Pode não significar realmente morrer, mas, desistindo de nossas próprias ambições e desejos para que possamos ser de ajuda para o povo de Deus, podemos, nesse sentido, dar a vida. “Quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12:25). Para ganhar uma recompensa para a eternidade, Deus nos chama a abrir mão de nossa vida aqui em baixo, a fim de vivermos para Ele.

 

O Grande Pastor 

Então, em Hebreus 13:20-21, lemos: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus”. O Senhor Jesus é o grande Pastor em ressurreição, pois triunfou sobre a morte, sobre Satanás e sobre o pecado. Como tal, Ele trouxe o “concerto eterno” pelo qual Deus pode abençoar o homem em graça, em oposição ao velho concerto, que era baseado no que o homem deveria ter feito. Agora Deus pode sair em graça, em uma base totalmente nova, pois Cristo morreu e ressuscitou.

 

Esse é o caráter que o Senhor Jesus traz em nossa caminhada, pois Deus agora pode trabalhar em nosso coração para “fazer Sua vontade” e fazer aquilo que “é agradável aos Seus olhos”. Não havia poder para o homem fazer a vontade de Deus sob o antigo concerto, mas agora Deus lhe deu uma nova vida em Cristo. Agora o crente é habitado pelo Espírito Santo e tem como Objeto um Cristo ressuscitado em glória. Com um Objeto em glória e o Espírito aqui em baixo, o crente tem poder de andar de forma a agradar ao Senhor. Todo o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos é nosso, para nos permitir andar diante do Senhor neste mundo.

 

Vemos esse caráter do Senhor Jesus ilustrado no Salmo 23 – provavelmente o mais conhecido de todos os salmos. Seu cuidado para conosco nos leva por todo o mundo, suprindo nossas necessidades, nos alimentando, nos restaurando, nos mantendo no vale da sombra da morte e terminando em glória. É como o grande Pastor que Ele pode ser chamado de “o Pastor de todo o caminho até o lar”, pois Ele nunca descansará até que estejamos em segurança com Ele em glória. Ele não simplesmente nos salva e depois nos deixa encontrar nosso próprio caminho neste mundo. Antes, Ele cuida de nós de todas as maneiras, nos permitindo percorrer um caminho que é agradável aos Seus olhos.

 

Que exemplo para nós, como pastores! Pode haver apenas um “grande Pastor”, mas todos nós podemos estar envolvidos na alimentação das ovelhas, guiando-as às águas tranquilas, procurando restaurá-las se necessário e confortá-las em circunstâncias difíceis; todas essas coisas também podemos fazer, no espírito do grande Pastor.

 

O Sumo Pastor 

Finalmente em 1 Pedro 5:4 lemos: “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória”. Se o Senhor Jesus é o principal Pastor, segue-se que existem “sub-pastores”. Este capítulo de 1 Pedro nos mostra o caráter que o Senhor procura nesses pastores. Eles devem servir o rebanho de Deus de bom grado, não por dinheiro ou como senhores sobre ele, mas antes liderando pelo exemplo. Bispos e presbíteros são necessários para o rebanho de Deus, mas há um caminho certo para eles realizarem seu serviço. Pedro nos dá isso e também nos diz que uma recompensa será oferecida “quando aparecer o Sumo Pastor”.

 

O pastoreio é frequentemente um trabalho ingrato neste mundo, feito em grande parte nos bastidores e, em muitos casos, não apreciado nem pelas ovelhas. Evangelizar e ensinar envolve um trabalho também, mas esses dons estão muito mais aos olhos do público. Por esse motivo, creio, é mencionada uma recompensa especial para incentivar o pastor. A coroa da glória mais do que compensará todo o esforço despendido em favor das ovelhas de Deus. Temos o mesmo espírito no bom samaritano, que disse ao hospedeiro da estalagem: “Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar” (Lc 10:35). Que recompensa maravilhosa será receber essa coroa de glória!

 

O Sumo Pastor é retratado para nós no Salmo 24. Lá vemos o Senhor Jesus profeticamente retratado em glória. Não mais desprezado e rejeitado, Ele é aclamado como o Dono do “mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24:1). Naquele dia, ninguém será capaz de se aproximar d'Ele sem estar “limpo de mãos e puro de coração” (v. 4). O Senhor será “forte e poderoso, o SENHOR poderoso na guerra” (v. 8), e todo o mundo verá Sua glória. Aqueles que foram fiéis como pastores no dia de Sua rejeição verão essa glória e a compartilharão com Ele.

 

O pastoreio é um serviço muito necessário, mas multifacetado. Devemos estar dispostos a deixar de lado nossas próprias vontades e considerar nosso Exemplo perfeito nesses três caráteres como Pastor. Então Ele pode nos usar para cuidar das ovelhas pelas quais Ele morreu.

 

W. J. Prost

 

Três Títulos

 

É interessante observar os três títulos aplicados ao nosso bendito Senhor Jesus Cristo como Pastor. Em João 10, ele é chamado de “o Bom Pastor” na morte. Em Hebreus 13, Ele é chamado de o “Grande Pastor” na ressurreição e em 1 Pedro 5 Ele é chamado de “Sumo Pastor” em glória. Cada título tem seu próprio significado específico e seu próprio local apropriado.

 

C. H. Mackintosh

 

 Amor, Fé e Esperança

 

O Bom Pastor é Objeto de amor; o Grande Pastor, o Objeto da fé; e o Sumo Pastor, o Objeto de esperança.

 

 The Bible Student, 2:20

 

 “E Teve Compaixão Deles”

 

“E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6:34).

 

Em um mundo de miséria e carência, quão abençoado é conhecer Aquele cujo coração sente tudo, Quem o faz próprio e cujas emoções de compaixão são tão expressas que podemos conhecê-las e vê-las: “E teve compaixão deles”. Aquele bendito rosto claramente descreveu a pulsação da misericórdia divina que agia por dentro. O coração se expressou antes que as mãos se movessem para aliviar o que os olhos viam. Tampouco era um sentimento transitório, uma emoção passageira. A miséria humana encontrou um lar no coração de Jesus, e Ele, que é “O mesmo ontem, e hoje, e eternamente”, embora agora sobre o trono de Deus em glória, Ele ainda tem “compaixão deles” ao olhar e acolher toda a miséria e necessidade que clamam incessantemente, em uma intensidade cada vez mais profunda, no trono da misericórdia.

 

O Pastor de Israel 

Se o Pastor de Israel teve grande compaixão ao ver os filhos de Abraão, “como ovelhas que não têm pastor”, quão profunda deve ser a emoção com que o Senhor Jesus agora vê os filhos de Deus novamente espalhados pelo mundo! Que destruição os “lobos cruéis” fizeram ao “rebanho de Deus”! Como os faladores de coisas pervertidas levaram “discípulos após” eles! Que divisão e ofensa generalizada têm praticado “os tais” que “não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre”! Certamente tudo isso apela com força tocante àquele que “amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela”.

 

Mas foi apenas porque o povo de Jeová era “como ovelhas sem Pastor”? Será que eles mesmos não tinham pecado? O coração deles “não era reto para com Ele”. Eles haviam sido firmes em Seu concerto? Ele conhecia muito bem a longa, e triste história, daquele povo perverso e de dura cerviz; tudo estava diante d'Ele, “mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniquidade e não os destruiu” (Sl 78:38).

 

A Igreja do Deus vivo 

E a Igreja do Deus vivo sofreu apenas com falsos mestres e maus guias? Os filhos de Deus têm uma história melhor do que a dos filhos de Israel? Eles foram menos perversos e não foram de dura servis? Eles guardaram completamente a Sua Palavra? E o coração deles foi correto diante d'Aquele que os redimiu com Seu próprio sangue? Quão bem Ele sabe que privilégios mais altos e melhores promessas trouxeram apenas um pecado mais profundo e uma resposta relativamente menor ao Seu amor! Certamente todo coração sabe disso. Quão doce, então, em nossos dias, voltar-se para Ele cujas “misericórdias não tem fim” e que, “como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”!

 

Fazemos bem em nos familiarizar com esse coração profundamente comovido de amor compassivo e perdoador, pois “ensinava-lhes muitas coisas”. É verdade que agora ele fala desde o céu, mas esse céu está aberto para nós, e não há distância para a fé.

 

Fracasso e ignorância estão por todos os lados. Somente poderemos corretamente sentir o fracasso e ministrar à ignorância, à medida que estivermos realmente com Ele, que, acima de todo o mal, vê tudo, apenas para encontrar nele a ocasião para o ministério do amor.

 

Servindo as ovelhas de Cristo 

Aqueles que, em uma pequena medida, servirem às ovelhas de Cristo precisam refletir muito sobre essas palavras, ditas a alguém do passado: “Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um a seu irmão”. Ao fazer isso, eles precisam estar em espírito com aquele “Sumo Sacerdote misericordioso e fiel”, que não está rodeado de fraqueza, mas que é tocado pelo nosso sentimento e “possa compadecer-Se ternamente dos ignorantes e errados”.

 

Sumo sacerdote misericordioso,

 Nosso Salvador, Pastor, Amigo;

 Só em Teu amor confiamos até o fim.

 

C. W., de Words of Faith, 1:5

 

Pastoreio – a Prova de Amor

 

A alta prioridade que nosso Senhor tem quanto ao pastoreio do rebanho de Deus é revelada na maneira como Ele encomendou Seus cordeiros e ovelhas aos cuidados do apóstolo Pedro, como prova do amor de Pedro ao Senhor. O Senhor lhe disse: “Amas-Me mais do que estes?” Quando Pedro respondeu: “Sim, Senhor; Tu sabes que Te amo”, respondeu o Senhor Jesus, “Apascenta os Meus cordeiros” (Jo 21:15).

 

Três vezes Pedro negou ao Senhor antes de perceber o que havia feito, e levou três vezes para perceber o significado das palavras: “Amas-Me?” Enquanto isso, o Senhor graciosamente repetia essas palavras: “Apascenta as Minhas ovelhas”. O Senhor estava dizendo a Pedro que era assim que Ele queria que Pedro mostrasse que O amava ou estava ligado a Ele.

 

Pedro, o mais proeminente dos discípulos, se orgulhou de seu amor pelo Senhor, mas falhou miseravelmente em demonstrar seu amor. Ele negou com força o conhecimento do Senhor. Não bastava Pedro amar apenas com palavras – o Senhor queria que as ações provassem isso. Sim, o Senhor sabia que Pedro O amava, mas onde estava a demonstração disso em sua vida? Chegar ao fundo desse problema prepararia Pedro para ser alguém que pudesse fortalecer seus irmãos (veja Lucas 22:32). A força para fazer isso não poderia vir de dentro. Ele precisava aprender a confiar no Senhor.

 

O próprio Senhor sabia tudo o que aconteceria e havia dito aos discípulos isso de antemão. No entanto, Ele estava disposto a passar pela experiência de ser negado por Seu discípulo, a fim de prepará-lo para ser pastor de Suas preciosas ovelhas. Que bom e grande Pastor Ele é!

 

O Senhor logo estava indo embora, deixando os discípulos para cuidar de Suas ovelhas. Ele não confiaria Suas ovelhas a qualquer um. Vemos a importância que Ele dá aos cuidados de Suas ovelhas pela maneira como prepara os discípulos. Era isso que Ele queria que Pedro aprendesse, e mais do que isso, servisse pelo resto de sua vida (até a morte), deixando-se guiar pelos outros. Acreditamos que ele fez.

 

O apóstolo Pedro, mais tarde em sua primeira epístola, fala de ser testemunha dos sofrimentos de Cristo (pois não ousa dizer que foi participante desses sofrimentos) como base para nos exortar a apascentar “o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2). Ele entendeu o ponto que o Senhor havia lhe ensinado. Ele apascentou o rebanho porque viu como o Senhor os amava e mostrou aos santos que esse era o motivo para fazê-lo. Em suas epístolas, ele não fala de seu amor ao Senhor ou ao Seu povo, embora os exorta a se amarem uns aos outros. Ele, no entanto, fala da “coroa de glória” que o Senhor daria àqueles que eram bons pastores do rebanho de Deus.

 

Que o Senhor nos ajude a segui-Lo dessa maneira, para ver o amor que Ele tem pelas ovelhas e cuidar delas como Ele faz. “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”. “Conhecemos a caridade [amor] nisto: que Ele deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3:14-16).

 

D. C. Buchanan

 

O Rei com Coração de Pastor

 

“Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui. Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é” (1 Sm 16:11-12).

 

Quando Jessé disse: “Ainda falta o menor”, certamente ele pensou que não poderia ser o eleito. O homem não pode entender os caminhos de Deus. Aquele próprio que Deus está prestes a usar é negligenciado ou desprezado pelo homem. “Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é”. Palavras gloriosas! Resposta perfeita aos pensamentos de Jessé e Samuel!

 

Quão feliz é observar a ocupação de Davi. “Eis que apascenta as ovelhas”. Isso foi posteriormente referido pelo Senhor, quando Ele disse a Davi: “Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o chefe sobre o Meu povo, sobre Israel”. Nada pode ilustrar mais docemente o ofício real do que o trabalho de um pastor. De fato, quando não é executado no espírito de um pastor, falha em seu fim. O rei Davi entendeu totalmente isso, como pode ser visto nessas palavras tocantes: “mas estas ovelhas que fizeram?” O povo era as ovelhas do Senhor, e ele, como pastor do Senhor, o guardava nos montes de Israel, assim como ele tinha guardado as ovelhas do pai nos retiros de Belém. Ele não alterou seu caráter quando saiu do curral para o trono e trocou o cajado pelo cetro. Não; ele ainda era o pastor, e sentia-se responsável por proteger o rebanho do Senhor dos leões e ursos que rondavam o aprisco.

 

A alusão profética 

A alusão profética ao verdadeiro Davi é tocante e bela. “Eu livrarei as Minhas ovelhas, para que não sirvam mais de rapina, e julgarei entre gado miúdo e gado miúdo. E levantarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o Meu servo Davi é que as há de apascentar; Ele lhes servirá de pastor. E Eu, o SENHOR, lhes serei por Deus, e o Meu servo Davi será príncipe no meio delas; Eu, o SENHOR, o disse” (Ez 34:22-24). E, sem dúvida, as palavras de nosso Senhor em João 6 tinham mais ou menos referência ao caráter de Seu pastoreio. “E a vontade do Pai, que Me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que Me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. Este é um grande princípio de verdade. Independente do Seu amor pessoal pelas ovelhas – tão maravilhosamente atestado em Sua vida e morte – o Senhor Jesus, na passagem memorável acima, Se apresenta como o Responsável perante o Pai para manter todos os membros do amado e precioso rebanho por todas as contrariedades que sofreu em Sua senda. Mesmo na questão da própria morte, Ele os apresentará em glória de ressurreição, no último dia. Tal é o Pastor a Quem a mão do Pai nos encomendou e, oh! Como Ele nos proporcionou durante o tempo e para a eternidade, colocando-nos em tais mãos – as mãos de um Pastor sempre vivo, sempre amoroso e Todo-Poderoso, cujo amor as muitas águas não podem apagar, cujo poder nenhum inimigo pode agir contra. Ele é Aquele que tem na mão as chaves da morte e do Hades e que estabeleceu Sua reivindicação para a guarda do rebanho, ao dar a vida por ele. Verdadeiramente, podemos dizer: “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará”. Como podemos ter falta de algo, enquanto Jesus nos alimenta? Impossível. Nosso tolo coração muitas vezes deseja se alimentar de pastagens nocivas, e nosso Pastor pode ter que provar Seu cuidado gracioso, nos negando o uso de tais, mas uma coisa é certa, que aqueles a quem Jesus alimenta não terão falta de nada.

 

O caráter do pastor 

Há algo no caráter do pastor que parece estar muito em harmonia com a mente divina, na medida em que encontramos o Pai, o Filho e o Espírito, todos agindo nesse caráter. O Salmo 23 pode ser visto principalmente como a experiência de Cristo, deliciando-Se com a certeza do cuidado pastoral de Seu Pai. Então, em João 10, encontramos o Filho apresentado como o Bom Pastor. Por fim, em Atos 20 e 1 Pedro 5, encontramos o Espírito Santo agindo nessa capacidade abençoada, levantando e capacitando para obra os pastores subordinados. É edificante perceber isso. É como nosso Deus Se apresentar a Si mesmo no relacionamento mais agradável, e assim calculado para ganhar nossa confiança e atrair nossas afeições. Bendito seja o Seu nome para sempre! Seus caminhos são todos perfeitos; não há ninguém como Ele.

 

Só se pode dizer: bendita seja a graça que tomou um para ser o que lidera entre o Seu povo, que manifestou aqueles traços de caráter que foram abençoadamente adaptados à sua obra.

 

C. H. Mackintosh, de Miscellaneous Writings, 4:34-38

 

 Tornemos a Visitar

 

“Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a Palavra do Senhor, para ver como estão” (At 15:36). Um lema para o evangelista é a expressão: “para anunciar o evangelho nos lugares que estão além” (2 Co 10:16). Este é o grande objetivo do evangelista, independentemente de quais sejam seus talentos ou esfera de atuação. Mas o pastor tem seu trabalho, assim como o evangelista, e seu lema pode ser encontrado nas palavras: “Tornemos a visitar”. Este é um modelo do que deve ser feito, enquanto houver irmãos a serem visitados. O evangelista forma a ligação vital; o pastor mantém e fortalece essa ligação. Um é o instrumento para criar a bela ligação, o outro é para perpetuá-la. É bem possível que os dois dons possam existir na mesma pessoa, como no caso de Paulo, mas, sendo assim ou não, cada dom tem sua própria esfera e objetivos específicos. A ocupação do evangelista é chamar irmãos; a ocupação do pastor é cuidar deles.

 

A ordem dessas coisas é divinamente bela. O Senhor não reunirá Suas ovelhas e as deixará vaguear despreocupadas e não alimentadas. Portanto, Ele não apenas dá o dom pelo qual Suas ovelhas serão chamadas à existência, mas também o dom pelo qual elas serão alimentadas e mantidas. Ele tem Seu próprio interesse nelas e em todas as etapas de suas histórias. Ele as observa com intenso cuidado desde o momento em que ouvem as primeiras palavras vivificadoras até estarem em segurança nas mansões acima.

 

Se Seu desejo de reunir as ovelhas é expresso nas palavras: “As regiões além”, Seu desejo pelo bem-estar delas é visto nas palavras: “Tornemos a visitar”. As duas coisas estão intimamente ligadas. Onde quer que a Palavra do Senhor tenha sido pregada e recebida, há a formação de elos misteriosos, mas reais e muito preciosos entre o céu e a Terra. Pode haver muitas coisas para atrapalhar nossa percepção espiritual desse elo, mas ele está lá. Deus o vê e a fé o vê da mesma forma. Cristo está com Seus olhos sobre todas as cidades, todos povoados, todas as aldeias, todas as ruas e todas as casas em que Sua Palavra tem sido recebida.

 

Cuidados sinceros 

Agora, nosso gracioso Pastor encherá o coração de cada um agindo sob Ele com Seu próprio cuidado com as ovelhas. Foi Ele Quem animou o coração de Paulo para expressar e executar o desígnio incorporado nas palavras: “Tornemos a visitar”. Foi a graça de Cristo fluindo para o coração de Paulo e dando caráter e direção ao serviço zeloso do apóstolo mais dedicado e trabalhador.

 

Observe a força das palavras: “Tornemos a visitar”. Não importa quantas vezes você já esteve lá antes; pode ter sido uma ou duas vezes ou mais - a questão não é essa. “Tornemos a visitar” é o lema do coração pastoral, pois sempre há uma demanda pelo dom pastoral. As questões estão sempre surgindo nos vários lugares em que “a Palavra do Senhor” foi pregada e recebida, exigindo o trabalho do pastor divinamente qualificado. Isto é especialmente verdade neste dia de pobreza espiritual. Há uma imensa demanda do pastor para tornar “a visitar nossos irmãos por todas as cidades” onde “já anunciamos a Palavra do Senhor” para “ver como estão”.

 

Usando seu dom 

Você possui algo do coração de um pastor? Nesse caso, pense nessas palavras abrangentes: “Tornemos a visitar”. Você tem atuado nelas? Você tem pensado em seus “irmãos” – naqueles “que obtiveram fé preciosa” – aqueles que, ao receberem “a Palavra do Senhor”, se tornaram irmãos espirituais? Seus interesses e compaixões estão envolvidos em favor de “todas as cidades” nas quais um vínculo espiritual foi formado com a Cabeça acima? Oh! Como o coração anseia por uma maior exibição de zelo e energia santos, de devoção individual e independente – independente, quero dizer, não da comunhão santa dos verdadeiramente espirituais, mas de toda influência que tenderia a obstruir e impedir esse serviço elevado ao qual cada um deles é claramente chamado em responsabilidade somente para com o Mestre.

 

Que tomemos cuidado com uma economia falsa que nos levaria a atribuir uma importância indevida à questão das despesas. A prata e o ouro são do Senhor e Suas ovelhas são muito mais preciosas para Ele do que prata e ouro. Suas próprias palavras são: “Amas-Me?... Apascenta Minhas ovelhas” (Jo 21:16). E se houver apenas o coração para fazer isso, os meios nunca faltarão para nos levar para “as regiões além” para pregar o evangelho ou para “tornar a visitar nossos irmãos” em “todas as cidades”.

 

C. H. Mackintosh

 

 Pastoreio

 

Quando jovem, aprendi uma lição valiosa de pastores de ovelhas nas montanhas no oeste dos EUA. Eles observavam tão atentamente seus rebanhos que nada os distraía – nem mesmo conversas. Seu comportamento dedicado e focado ilustra os princípios bíblicos do pastoreio: amar o rebanho, estar preparado para servir e estar disponível.

 

Uma atividade motivada pelo coração 

O Bom Pastor (o Senhor Jesus) ama Seu Pai e ama as ovelhas que Lhe foram confiadas. “Tenho guardado aqueles que Tu Me deste, e nenhum deles se perdeu” (Jo 17:12). “Dos que Me deste nenhum deles perdi” (Jo 18:9). Ele valoriza o rebanho mais do que a própria vida. Por outro lado, o mercenário (João 10) não ama as ovelhas porque elas não são dele. Seu cuidado carece de dedicação e disciplina. Quando o perigo chega, o mercenário decide que proteger o rebanho não vale o risco pessoal, então ele foge.

 

Paulo pastoreava o rebanho com lágrimas enquanto os advertia dos “lobos” que viriam. “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós” (At 20:31). Jeremias também cuidou fervorosamente do povo de Deus: “E amargamente chorarão os meus olhos e se desfarão em lágrimas, porquanto o rebanho do SENHOR foi levado cativo” (Jr 13:17).

 

Nos tempos bíblicos, depois de reunir as ovelhas em seu abrigo noturno, o pastor ficava na porta ou na abertura, colocando-se entre o mundo exterior e suas ovelhas. Ele se tornou o caminho para a segurança, nutrição e bênção, além de ser uma barreira entre as ovelhas e o mundo exterior. Jesus Cristo, nosso Bom Pastor, Se coloca entre nós e uma eternidade perdida. “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que Eu Sou a Porta das ovelhas” (Jo 10:7). “Eu Sou a Porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á” (v. 9). O Senhor morreu para salvar Suas ovelhas. “O Bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11). “Dou a Minha vida pelas ovelhas” (v. 15). As ovelhas respondem ao amor do pastor: “As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu conheço-as, e elas Me seguem” (v. 27).

 

O risco 

Uma razão pela qual há tão poucos pastores hoje em dia é que o pastoreio envolve riscos. O pastor em Lucas 15 deixou o rebanho e foi ao deserto para salvar sua ovelha perdida. Andarilhos no deserto estão em perigo; aqueles que os procuram arriscam sua própria segurança. O pastor faz isso de bom grado, porque valoriza mais as ovelhas do que seu próprio conforto. Para salvar ovelhas perdidas, nosso Senhor e Pastor deixou o lado de Seu Pai e entrou em um lugar onde seria abusado, amaldiçoado, cuspido e pendurado em um madeiro no Calvário.

 

Disponível, envolvido e vigilante 

Outra razão pela qual hoje existem poucos pastores é que o pastoreio requer muito tempo, uma conveniência que os Cristãos modernos reservam para si mesmos. O uso de nosso tempo nas atividades deste mundo, mesmo legítimas, é uma das ferramentas mais bem-sucedidas de Satanás.

 

Um bom pastor passa tempo suficiente com suas ovelhas para aprender suas características individuais. Enquanto observa o rebanho, ele reconhece uma com tendência a se desviar e outra que gosta de comer ervas daninhas e espinhos que fazem com que ela adoeça. “Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; põe o teu coração sobre o gado” (Pv 27:23). “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18). O pastor que conhece suas ovelhas pode redirecionar o andarilho e levar o rebanho ao alimento nutritivo. Em troca, as ovelhas aprendem a confiar nele.

 

Hoje, muitas tentativas de pastoreio falham porque não havia vínculo de confiança antes. Para ser eficaz, o pastor deve estar envolvido na vida das ovelhas e dos cordeiros. As ovelhas devem ser alimentadas, acomodadas, abeberadas, impedidas de se desviarem, ensinadas e guardadas. Simplesmente não há substituto para esse gasto no esforço e tempo com as ovelhas. O inimigo da sua alma odeia o pastor, bem como o trabalho do pastor. Afinal, guiados e capacitados pelo Espírito Santo, os pastores podem desfazer a obra de Satanás e reduzir as oportunidades para que ele intervenha. Satanás sabe disso, então ele tenta impedir aspirantes a pastores.

 

Grande parte do trabalho de pastoreio é preventivo. Áquila e Priscila reconheceram o erro no ministério de Apolo e o corrigiram com amor. “Ele [Apolo] começou a falar ousadamente na sinagoga. Quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais pontualmente o caminho de Deus” (At 18:26).

 

Devolver uma ovelha perdida ao rebanho pode ser simples quando ela vagar pela primeira vez. Se parar cedo, a ovelha pode não precisar ser arrancada de espinhos dolorosos ou das mandíbulas do lobo. Obviamente, esse trabalho preventivo só pode acontecer se o pastor estiver perto o suficiente para ver o passo em falso e alcançar a ovelha com seu cajado. É imperativo que reservemos o tempo necessário para esta tarefa. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Ef 5:14-16).

 

Os Cristãos do século XXI têm vidas muito cheias e pouco tempo não alocado. Podemos querer ajudar jovens crentes, mas não temos tempo para servi-los. Nossa programação nos coloca em outro lugar quando eles se desviam. Muitas atividades que valem a pena enchem nossa vida, mas devemos pesar essas coisas contra o custo de perder ovelhas e cordeiros. Jesus considerou uma mulher vivendo uma vida pecaminosa (e, sem dúvida, evitada por seus colegas) e decidiu que Ele precisava passar por Samaria (Jo 4:4).

 

Davi viveu com seu rebanho, e isso o colocou em uma posição de serviço. Por duas vezes ele salvou seu rebanho de predadores (1 Sm 17:34). Quando Samuel visitou a casa de Jessé para ungir um rei e quando Saul chamou alguém para acalmá-lo com música, Davi estava com as ovelhas de seu pai (1 Sm 16:11; 16:19). Quando ele veio verificar seus irmãos e acabou salvando Israel de Golias e seus exércitos, seu irmão Eliabe reconheceu que o lugar normal de Davi era com as ovelhas da família (1 Sm 17:28). Um verdadeiro pastor fica perto de suas ovelhas porque as ama, não porque elas o amam. Seu amor o leva ao lugar onde ele pode treinar, cuidar, corrigir e alimentá-las.

 

Estar pronto para servir 

Os Cristãos podem querer pastorear os outros, mas podem ser incapazes de fazê-lo porque não estão preparados. Além de amar as ovelhas e estar disponível, existem pelo menos dois pré-requisitos pessoais para um serviço eficaz ao Senhor. Primeiro, o pastor deve manter-se limpo e pronto para servir. “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21). Um não pode abrigar o mal em seu próprio coração e aconselhar outro que está em risco do mal. Enquanto ninguém na Terra está sem pecado (ovelha ou pastor), a limpeza diária, a lavagem dos pés e a confissão são eficazes e essenciais enquanto nos preparamos para servir a Deus e Seu povo.

 

Segundo, um pastor deve procurar diligentemente a Palavra de Deus. Um antigo servo do Senhor uma vez encorajou um irmão mais novo a estudar a Palavra de Deus, dizendo-lhe: “Se você quer ajudar alguém a seguir uma vida segundo as Escrituras, precisa conhecer o caminho a seguir nas Escrituras”. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). Esse princípio parece tão simples, mas é um ponto comum de falha entre Cristãos bem-intencionados. Não há maneira mais poderosa de aconselhar ovelhas do que ilustrar a vontade de Deus com a Palavra de Deus.

 

Conclusão 

Pastorear é uma boa obra, um bom trabalho. É um trabalho humilde, geralmente sem reconhecimento ou sinal visível de proveito. Lembrar o que nosso Grande Pastor fez e faz por nós nos dará energia para entrar no deserto e recuperar um cordeiro perdido. Isso nos ajudará a passar o tempo conhecendo intimamente Suas ovelhas. Aprender o quanto nosso Salvador e Pastor ama todas as Suas ovelhas aumentará nosso amor pelo rebanho de Deus. Um olhar sobre o Apocalipse ilustra que “mesmo em Sardes” existe a necessidade de pastores e pastoreio. “Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer... Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e Comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso” (Ap 3:24).

 

D. Lamb

 

O Rebanho de Deus

 

No Salmo 80, Asafe se dirige a Deus como pastor de Israel e compara Seu povo a um rebanho. No Salmo 100, Israel toma a posição de ser o povo de Jeová e as “ovelhas do Seu pasto”. Jeremias também, na mesma linha, fala do antigo povo de Deus como um “lindo rebanho” (Jr 13:20 – ARA). Mas enquanto Deus sempre permaneceu o Grande Pastor de Israel, Ele também delegou autoridade aos sub-pastores responsáveis por cuidar do rebanho. No exercício dessa responsabilidade, os pastores falharam lamentavelmente e, como resultado, o rebanho foi arruinado e disperso. Em Ezequiel 34, temos uma denúncia solene desses sub-pastores pela violação de sua confiança. Nos quatro primeiros versículos, três acusações distintas são apresentadas contra eles. Eles são acusados de usar sua posição para se exaltar à custa do rebanho, por terem negligenciado totalmente o rebanho e por terem governado o rebanho de Deus com força e crueldade.

 

Os sub-pastores 

Mas o fracasso dos pastores de Israel foi repetido, infelizmente, pelos pastores do povo de Deus hoje, pois neste dia Deus também tem o Seu rebanho. O Senhor Jesus reuniu uma companhia de crentes Judeus em torno de Si, e depois os crentes gentios também foram adicionados, para que houvesse “um rebanho e um Pastor” (João 10:16). O próprio Senhor é o Bom Pastor que deu Sua vida pelas ovelhas e o Grande Pastor que ressuscitou dos mortos – Aquele que triunfou sobre o poder da morte. Mas o Senhor também é o Sumo Pastor e, como tal, delegou novamente a supervisão de Seu rebanho a sub-pastores. Paulo, em seu discurso de despedida aos anciãos da Igreja de Éfeso, dá aos sub-pastores uma acusação solene em Atos 20:28-35. Ele os adverte a prestar atenção em si mesmos e em todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os havia feito bispos. Ele lhes dá uma tríplice exortação em referência ao rebanho, que responde à tríplice denúncia dos pastores de Israel.

 

Primeiro, em vez de se exaltarem a si mesmos, são exortados a “apascentar a Igreja de Deus” (v. 28). Segundo, em vez de negligenciar as ovelhas, eles devem “vigiar” e “auxiliar os enfermos” (vs. 31, 35). Terceiro, em vez de governar com “rigor e dureza”, eles devem se lembrar que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (v. 35).

 

As três recomendações de Pedro 

Além disso, Pedro, antes de sua partida, dá uma carga tríplice aos sub-pastores (1 Pedro 5:14). Primeiro, são exortados a “apascentar o rebanho de Deus”. Segundo, eles devem cuidar do rebanho, “tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto”. Terceiro, eles são advertidos a não dominar a herança de Deus. Eles não devem dirigir o rebanho, mas liderar como “exemplo ao rebanho”.

 

Mas, como vimos, essas são exatamente as coisas nas quais os pastores de antigamente falharam de maneira tão significativa. Em vez de apascentar o rebanho, eles se apascentavam a si mesmos; em vez de supervisionar, negligenciaram o rebanho; em vez de serem exemplos, eles governavam o rebanho com rigor e dureza. E, infelizmente, assim como os pastores de Israel falharam, também os pastores do rebanho Cristão falharam, e com um resultado semelhante. Voltando a Ezequiel 34, encontramos o profeta, nos versículos 5-6, que descreve a condição lamentável do rebanho de Deus como resultado do fracasso dos pastores. As ovelhas estão espalhadas pela falta de um pastor para liderar e se tornaram uma presa para os animais do campo. Assediados pelos animais de rapina, perambulam por todas as montanhas áridas e por todas as colinas altas. Em vez de um rebanho – um belo rebanho – temos ovelhas dispersas, assediadas e errantes, sem ninguém para procurá-las ou buscá-las. E que quadro solene e impressionante da condição do povo de Deus hoje! Como resultado do fracasso dos líderes, o povo de Deus foi disperso e, sendo disperso, eles foram presas do inimigo. Unidos, eles poderiam ter resistido às invasões do inimigo, mas dispersos, eles são presas fáceis de todo mal e, sob o poder do mal, estão com fome e vagando de maneira solitária neste mundo árido. Tendo retratado a triste condição das ovelhas, o Senhor passa a condenar os pastores responsáveis: “Assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que Eu estou contra os pastores e demandarei as Minhas ovelhas da sua mão” (vs. 7-10). Mas se Deus é contra os pastores, Ele é pelas ovelhas, e nos versículos a seguir temos uma descrição magnífica de como Deus pastoreia Seu rebanho. E como o Sumo Pastor age, os sub-pastores também devem agir. Assim, nesses versículos (vs. 11-16), temos o exemplo perfeito para o verdadeiro pastor, seja em Israel ou entre o povo de Deus hoje. Fazemos bem em levar a sério as sete ações do Sumo Pastor, estabelecidas nesses versículos tocantes.

 

Sete ações do Pastor 

Primeiro, Deus diz: “Eis que Eu, Eu mesmo, procurarei as Minhas ovelhas”. Elas foram dispersas e vagaram, mas são “Minhas”, diz Deus, e “Eu mesmo, procurarei” a elas. Que nunca esqueçamos, seja qual for a condição da ovelha, ela pertence a Cristo.

 

Segundo, tendo-as procurado, Ele “cuida” delas, pois assim se deve ler a passagem: “Eu irei procurar por Minhas ovelhas, e cuidarei delas. Como pastor cuida de seu rebanho no dia em que Ele está entre Suas ovelhas dispersas” (Ez 34:11-12 – JND). Suas ovelhas são os objetos de Seu terno cuidado. Depois que o bom samaritano encontrou aquele pobre homem ferido e atou suas feridas, ele o levou a uma estalagem e “cuidou dele”. Antes de partir, colocou o homem sob o comando do hospedeiro, dizendo: “Cuida dele”. Ele parece dizer ao hospedeiro: “Faça o que tenho feito”. Falhamos em representar a parte do hospedeiro. Falhamos em cuidar das ovelhas. Mas o Senhor não apenas cuida de Suas ovelhas, mas Ele o faz de uma maneira muito abençoada. Não é como alguém que está longe, em uma posição elevada, dando instruções para o cuidado das ovelhas, mas é como um pastor entre suas ovelhas que estão dispersas.

 

Terceiro, além disso, o Senhor diz: “as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão”. Enquanto os líderes estão ocupados escurecendo o céu com suas controvérsias, o inimigo está ocupado espalhando as ovelhas. Mas o Senhor as livrará. Nenhuma de Suas ovelhas será deixada para trás quando Ele agir em poder de libertação.

 

Quarto, o Senhor não livra Seu povo dos poderes do inimigo e depois os deixa. Ele também “reúne” e, portanto, lemos: “E as tirarei dos povos, e as farei vir dos diversos países”. “Separação” e “Reunião” devem andar juntos. A separação sem se reunir somente incha e faz com que tenhamos um espirito de fariseu e mais dispersão. Quando o Senhor separa Seu povo do mal, Ele os reúne ao Seu redor, pois Cristo é o grande centro de reunião de Deus.

 

Quinto, o que Deus faz com Seus santos libertos e que foram reunidos? É dito: “as trarei à sua terra” (v. 13). Existe uma companhia que podemos chamar de nossa (Atos 4:23), e há um país que podemos chamar de nosso. É um país celestial, mas, infelizmente, como resultado da dispersão das ovelhas, o chamado celestial do povo de Deus é quase desconhecido, e o povo de Deus se estabeleceu neste mundo. Israel foi disperso e perdeu suas terras. Os Cristãos foram dispersos e perderam a verdade de seu chamado celestial. Mas quando Deus toma o Seu povo pelas mãos, seja terrenal ou celestial, será para trazê-los de volta para sua própria terra. Se reunidos pelo Senhor, é para que sejamos guiados pelo Senhor para nosso próprio país.

 

Sexto, tendo conduzido Seu rebanho à sua própria terra, o Senhor os alimenta “Em bons pastos”. O verdadeiro alimento para o Cristão está no país celestial. Quando os filhos de Israel foram trazidos para sua própria terra, eles se alimentaram do trigo da terra do ano antecedente (Js 5:11-12). Ao atravessar o deserto, precisamos de Cristo como o maná, mas como povo celestial nos alimentamos de Cristo como “o trigo da terra, do ano antecedente”. Precisamos nos alimentar de todas as glórias e perfeições de Cristo no lugar onde Ele está, pois somos formados daquilo que nos alimentamos.

 

Sétimo, finalmente, naquela terra celestial, Ele dá ao Seu povo o repouso: “Eu as farei repousar” (v. 15). Neste mundo não há repouso duradouro para o povo de Deus, mas “resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9). Quando acordarmos nos satisfaremos de Sua semelhança (Sl 17:15). Ele nos fará descansar em perfeito descanso, e Ele “descansará no Seu amor” (Sf 3:17 – TB).

 

Quão perfeitos são os caminhos do Sumo Pastor das ovelhas! À luz deste exemplo perfeito de cuidado de pastor, tenhamos graça para julgar nossas falhas do passado e procurar, pelo pouco tempo que ainda resta, moldar nosso serviço de acordo com esse padrão divino. “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (1 Pe 5:4).

 

H. Smith, Scripture Truth, 10:9

 

 Verdade das Escrituras


Havia noventa e nove que repousavam em segurança.

No abrigo do aprisco.

Mas uma estava nos montes, distante,

Longe dos portões de ouro –

Longe, nos montes selvagens e desérticos.

Longe do cuidado do terno Pastor.

 

“Senhor, tens aqui noventa e nove;

Elas não são suficientes para Ti?”

Mas o Pastor respondeu:

“Esta que é Minha se afastou de Mim”,

E, embora o caminho seja áspero e íngreme,

Eu vou ao deserto para encontrar a Minha ovelha.

 

Mas nenhuma das resgatadas jamais soube,

O quão profundas foram as águas atravessadas,

Nem quão escura foi a noite que o Senhor passou

Antes d'Ele encontrar Sua ovelha perdida:

Do deserto, Ele ouviu o clamor dela:

Doente e desamparada, e pronta para morrer.

 

“Senhor, de quem são essas gotas de sangue por todo o caminho?

Que marcam a trilha até o monte?”

“Elas foram derramadas por uma que se desviou,

Antes que o Pastor pudesse trazê-la de volta”.

“Senhor, porque Tuas mãos estão tão feridas e perfuradas?”

“Elas foram perfuradas à noite por muitos espinhos”.

 

Mas pelos montes, trovões se rompem,

E subindo a encosta rochosa,

Houve um brado à porta do céu:

“Alegrai-vos! Encontrei Minha ovelha!”

E os anjos ecoaram ao redor do trono,

“Alegrai-vos! Pois o Senhor traz de volta os Seus!”


E. C. Clephane

 

“E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas”

Marcos 6:34

 

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