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Foto do escritorE. Dennett (1831-1914)

O Nome Sobre Todo Nome - Parte 2/3

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O Nome Sobre Todo Nome

Edward Dennett

 

Parte 5 – O Nome Sobre Todo Nome 


Às vezes, levanta-se a questão de qual é esse nome, mas quer seja o nome de JESUS – como parece provável, se a interpretação revisada[1] for adotada – ou não, seu significado é muito evidente. Uma passagem da epístola aos Efésios explicará isso. Em conexão com a exibição da suprema grandeza do poder de Deus “sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos”, o apóstolo prossegue, “e pondo-O à Sua direita nos céus, acima [muito acima – KJV] de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não apenas neste século [mundo – KJV], mas também no vindouro” (Ef 1:19-21). Aqui, o significado evidentemente é que, qualquer que seja a exaltação ou dignidade de qualquer uma das hierarquias ou inteligências celestiais, Cristo como o Homem glorificado foi colocado acima de todas elas. Entre o vasto número de seres celestiais, Ele é absolutamente supremo. A tradução “muito acima” pode não ser exatamente justificada pela palavra grega usada, mas não podemos duvidar de que nossos tradutores aproveitaram seu espírito ao procurar expressar que não havia um semelhante ao Cristo glorificado, que Sua exaltação é tão indescritível que todas as mais altas graduações de existências angélicas estão muito abaixo de Seus pés. Da mesma forma, em Filipenses 2 “o nome sobre todo nome”[2] indicará a supremacia absoluta em todo o universo do Cristo glorificado como Senhor. Nada menos do que isso satisfará os termos desta passagem.

[1] A leitura revisada refere-se a um texto grego diferente do “textus receptus”.

[2] Alguns manuscritos indicam "o" (adotado pela AIBB, TB e ARA) em vez de "um" nome (adotado pela ARC e ACF), e a Versão Revisada (inglesa) adotou isso.

 

Isso será mais facilmente entendido se considerarmos o lugar e a conexão em que essas palavras se encontram. Em certo sentido, a passagem do versículo 5 ao 11 é completa em si mesma. Ela vai num crescente a partir de exortações anteriores, e aqui está a maravilha de que toda essa bendita revelação da Pessoa, do caráter, da encarnação de Cristo, Sua humilhação e consequente exaltação, seja dado para fazer valer a exortação do apóstolo de que a mente “que houve também em Cristo Jesus”, visto em Sua vinda “desde a mais plena glória da Divindade, até às profundezas da dor do Calvário”, deve estar diante dos crentes como seu exemplo! Que possamos, então, refletir sobre ela, pois quanto mais ela for considerada, mais profundamente ela se imprimirá em nossa alma. Em uma eternidade passada, Ele, que esteve aqui embaixo como o Humilhado, sendo – subsistindo (ARA) – na forma de Deus. Tal declaração, por mais que esteja além do alcance máximo de todos os nossos pensamentos, não pode significar menos do que Sua Divindade absoluta e essencial. Isso fala de Sua existência eterna como Deus, assim como João diz sobre o Verbo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Sobre essa bendita verdade paira toda a verdade da revelação e da redenção. Renunciar a isso seria perder o Sol do sistema solar e, assim, trazer escuridão, caos e destruição. Por isso mesmo, em todas as épocas, a controvérsia tem sido grande em torno da Pessoa de Cristo. Ora Sua Humanidade, e ora Sua Divindade, foi obscurecida, se não negada. A fé enfrenta todos os argumentos do homem pelas simples afirmações da Palavra de Deus.

 

Se, no entanto, a Divindade de nosso bendito Senhor é aqui introduzida, é apenas para magnificar Sua graça e humilhação própria, pois a afirmação disso é seguida imediatamente por palavras de importância transcendente. Primeiro, Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus, mas... segundo, “aniquilou-Se a Si mesmo”, ou, mais literalmente e exatamente, “esvaziou-Se” (TB). A primeira frase significa que, embora Ele subsistisse na forma de Deus, Ele não usou isso para exaltação própria, e como na versão de Darby, “não considerava um objeto de rapina estar em igualdade com Deus”. É, sem dúvida, um contraste com Adão, que caiu na armadilha de Satanás de procurar exaltar a si mesmo, ser “como Deus, conhecendo o bem e o mal”. Adão, sendo homem, procurou exaltar a si mesmo, Cristo, sendo Deus, humilhou-Se a Si mesmo. Quão abençoado é o contraste! Essa era a mente que estava em Cristo Jesus, e a próxima frase – “mas aniquilou-Se a Si mesmo” – contém a primeira manifestação dessa mente. Devemos nos aproximar de tal afirmação com os pés descalços (pois o lugar é santo). Do que, então, Aquele que sendo em forma de Deus esvaziou-Se a Si mesmo? Recentemente, foi escrito que Ele Se esvaziou de “prerrogativas divinas”; outros ensinaram que o esvaziamento incluía Seus atributos divinos. De maneira nenhuma! Admitir isso é certamente obscurecer a verdade essencial de Sua Divindade e abrir a porta para o racionalismo em suas piores formas. Pois o que são atributos? São as características da Divindade, de modo que esvaziar-se dos atributos é deixar de lado a Divindade. Não! Mil vezes não! Como alguém disse: “O Ser essencial da Divindade não pode mudar. Seu esvaziamento próprio aplica-se à forma”.

 

As próximas frases deixarão isso claro, descrevendo, como fazem, o processo e o efeito do esvaziamento: Ele “tomando a forma de Servo, fazendo-Se [ou melhor, tornando-Se foi Seu próprio ato voluntário e, de fato, divino] semelhante aos homens”. Foi como Deus que Ele Se aniquilou, e agora essas palavras O apresentam a nós depois que Ele tinha agido assim, pois O vemos à semelhança dos homens e na forma de Servo. Isso inclui toda a verdade da encarnação e, por meio dela, somos capazes de formar alguma estimativa, por mais inadequada que seja, da imensidão do rebaixamento de “a forma de Deus” para “a forma de Servo”. Ninguém além de Deus Se iguala a tal condescendência e graça, pois era realmente a exibição do amor divino no meio dos pecadores, e ninguém além de Deus poderia ter feito tal rebaixamento, pois o homem está limitado à sua própria forma e modo de existência. No fato da encarnação, portanto, contemplamos um dos gloriosos mistérios da redenção. E embora sejamos incapazes de entender seu pleno e abrangente significado, ainda aprendemos que quanto mais baixo Cristo descia, mais brilhava o esplendor de Sua glória divina! Pois Deus é luz e Deus é amor, e onde contemplamos isso? Certamente n’Aquele que tomou sobre Si a forma de Servo. Em cada passo de Seu caminho, em Suas palavras de graça e verdade, em Suas obras de poder e misericórdia, a luz e o amor em toda a sua perfeição podem ser percebidos pelo olho aberto, e o coração divinamente instruído é constrangido a exclamar: Eis! Deus está aí.

 

Como já foi dito, como Deus, Ele Se aniquilou [esvaziou-Se – TB], e agora aprendemos que, como Homem, Ele Se humilhou. De fato, toda a vida de nosso bendito Senhor como Homem é resumida nestas palavras: Ele "humilhou-Se a Si mesmo”, pois não é, como em outra versão e tornou-Se obediente até à morte” (KJV), mas sendo obediente[3], isto é, humilhando-Se a Si mesmo; e então, para trazer à tona o caráter completo da humilhação, é adicionado, “e morte de cruz”. Esse foi um lugar baixo, de fato, que Ele tomou quando assumiu a forma de Servo, mas quão mais baixo quando, “achado na forma de Homem”, Ele desceu à morte vergonhosa da cruz! E lembremo-nos novamente em nossas meditações, enquanto nos maravilhamos e adoramos na presença de tal infinita condescendência, que Cristo é aqui apresentado como nosso Exemplo. A pergunta pode muito bem ser feita, na bela linguagem de outra pessoa, “Será que nossas afeições não são atraídas e absorvidas ao nos determos, com deleite, no que Jesus foi aqui embaixo? Admiramos, somos humilhados e somos conformados a Ele pela graça. Cabeça e fonte desta vida em nós, a exibição de Sua perfeição n’Ele atrai e desenvolve suas energias e humildade em nós. Pois quem poderia ser orgulhoso em comunhão com o humilde Jesus? Humilde, Ele nos ensinaria a ocupar o lugar mais baixo, mas que Ele mesmo tomou, o privilégio de Sua graça perfeita. Bendito Mestre, que possamos pelo menos estar perto e escondidos em Ti”. [3] N. do T.: É um distinto ponto. O Sr. Dennett está chamando a atenção para uma questão técnica sobre a expressão "becoming obedient" (JND) (“sendo obediente”). A importância do ponto não é apenas o fato de que Ele fez isso (foi obediente até à morte), mas a ênfase está em Seu comportamento enquanto fazia isso (sendo obediente). A beleza da Sua obediência brilha enquanto que Ele está fazendo isso (morrendo). Esta é a mente (sentimento) de Cristo que é colocada diante de nós. Tem a ver com Sua atitude enquanto o fazia. Uma pessoa pode expressar desdenho e se render à morte sem fazê-lo nobremente. Cristo foi perfeito em como Ele obedeceu.

 

Tal é o maravilhoso fundamento sobre o qual se baseia a presente exaltação de Cristo. Que há uma conexão direta entre os dois é visto na expressão “pelo que”, que também nos expressa a estimativa do coração de Deus da humilhação de Cristo. Muitos fundamentos da glória de Cristo são dados na Escritura. Sua dignidade, por exemplo, é celebrada em Apocalipse 5, em virtude da redenção que Ele havia assegurado por meio de Sua morte e pela eficácia de Seu sangue. Ele mesmo reivindica ser glorificado em João 17, porque glorificou o Pai na Terra e consumou a obra que lhe foi dada a fazer.

 

Aqui o aspecto é bem diferente. É o próprio Deus intervindo, no gozo de Seu coração, em Seu deleite n’Aquele que Se humilhou tanto e O elevando àquelas alturas de glória que Ele agora ocupa; e o ato proclama em alta voz, em todo o universo, que nenhuma outra posição teria sido comparável aos Seus méritos, que Aquele que desceu ao mais baixo de todos deve ter o lugar mais alto. Moralmente, é a exemplificação do princípio, em toda a sua perfeição, que o próprio Senhor enunciou – “aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Pode-se então dizer que Sua alta exaltação era apenas Seu mérito e coroa. O apóstolo em sua epístola aos Efésios toca em outro lado deste grande assunto. Lá, ele nos diz que Aquele que desceu às partes mais baixas da Terra é O mesmo que subiu muito acima de todos os céus, para encher todas as coisas (cap. 4:9-10). Embora possamos não ser capazes de sondar essa profunda linguagem, ela não pode significar menos do que isto, em virtude da humilhação de Cristo e da obra que Ele efetuou para a realização dos conselhos de Deus, Ele finalmente inundará todo o universo com Sua própria glória redentora. E isso, e nada menos do que isso, será a resposta de Deus à humilhação de Seu amado Filho.

 

Voltando à nossa passagem, aprendemos que “o nome que é sobre todo nome” (TB) é dado a Ele como parte de Sua exaltação, ou melhor, que é a própria estimativa de Deus do que era devido Àquele que Se humilhou, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. É assim a dignidade de Cristo demonstrada pelo lugar que Deus Lhe deu para ocupar. Dizemos, “dado a Ele para ocupar”, porque a apresentação aqui é a de Sua exaltação como Homem, como consequência de Sua perfeita obediência e inteira devoção à glória de Deus durante todo o Seu caminho na Terra até à morte, inclusive. O que é “o nome”, ou se é o nome de Jesus, já foi observado, não pode ser decidido; e, de fato, é a coisa significativa para a qual o Espírito de Deus direcionaria nossa atenção. O significado, repita-se, é que, quaisquer que sejam os seres exaltados que cercam o trono celestial, o glorificado Jesus está acima e além de todos eles. O nome concedido a Ele, em virtude de Sua humilhação, evidencia uma dignidade que transcende em muito as posições mais exaltadas da hoste celestial e diz, além disso, que Ele é supremo em todos os mundos que constituem o universo de Deus. Se, então, essa posição que Ele agora preenche é expressiva do deleite de Deus no outrora humilhado Cristo, não despertará também o deleite do povo de Deus ao contemplá-Lo naquele estado e glória? É na graça de nosso Deus que somos chamados a compartilhar de Seu próprio deleite em Seu Filho amado; e o gozo disso, por mais fraco que seja sua medida, é realmente o antegozo – o começo – dos regozijos celestiais que, enchendo o coração, mesmo enquanto pisa nas areias do deserto, só pode encontrar uma saída por meio do canal de adoração e do cântico.

 

Parte 6 – Em Nome de Jesus


Se Deus der a Cristo o lugar de supremacia universal e absoluta, Ele a terá reconhecida em todos os círculos de Seus domínios. Assim é dito, após declarar que também Ele Lhe deu um nome que é sobre todo o nome, “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na Terra, e debaixo da Terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. A linguagem aqui empregada deve ser cuidadosamente considerada, se seu significado preciso for para ser apreendido. E, em primeiro lugar, a força das palavras “ao nome de Jesus” precisa ser explicada, na medida em que muita discussão tem sido levantada sobre este ponto. A frase no original pode ser traduzida com precisão, “em o nome de Jesus” em vez de “ao” nome de Jesus, como em nossa tradução. A questão então é: essa tradução pode ser aceita? Se “ao nome de Jesus” fosse uma apresentação incorreta das palavras originais, a outra, quaisquer que fossem as dificuldades que a acompanhassem, teria que ser adotada, mas ela é tão exata quanto “em o nome de Jesus”, e por essa razão devemos ser direcionados por outras considerações. É então apresentado que se curvar diante de Deus em nome de Jesus, e confessá-Lo como Senhor, é aparecer lá em virtude do que Ele é, em todo o valor do que Ele é por meio de Sua morte e ressurreição (veja, por exemplo, João 14:13-14) e, consequentemente, implicaria salvação para todas as classes mencionadas. Em outras palavras, se “em o nome de Jesus” fosse mantido, isso faria com que essa passagem ensinasse o universalismo, e um universalismo, como será visto mais adiante, que incluiria demônios, bem como homens e anjos.

 

Tal significado nos colocaria em contradição direta com muitas outras passagens, e, portanto, somos obrigados a adotar a tradução alternativa, “ao nome de Jesus”.

 

Com isso se quer dizer que é a vontade de Deus que toda criatura no universo, mais cedo ou mais tarde, reconheça a supremacia e o senhorio do exaltado e glorificado Jesus. Se o coração estiver em harmonia com o reconhecimento, e a confissão da boca proceder de uma fé real e viva em Cristo, isso será salvação para todos os que a fizerem (veja Romanos 10:8-13). Todos, portanto, que neste dia da graça receberem o evangelho, o testemunho de Deus da morte e ressurreição de Cristo, e confessarem a Cristo como seu Senhor e Salvador, serão salvos para sempre. Mas o ponto da passagem é que todos fora dessa classe abençoada, todos os homens impenitentes e não regenerados, todos os anjos que já existiram, ou melhor, que foram preservados, em sua perfeição criada, todos os anjos que caíram e foram lançados “no inferno”, e entregues “às cadeias da escuridão, ficando reservados para juízo”, e todos os demônios e seres infernais, reconhecerão, ou serão compelidos a reconhecer pelo poder, a autoridade e o senhorio do glorificado Jesus. Deus não permitirá, de acordo com o ensino dessa passagem, que uma única criatura consciente seja contenciosa ou exteriormente rebelde para com Seu amado Filho. Eles podem odiá-Lo, como muitos deles O odeiam em seu coração, mas, quer eles O odeiem ou não, serão obrigados a dobrar os joelhos ao outrora humilde e agora glorificado Jesus, e seus lábios terão que confessar que Ele, Jesus Cristo, é o Senhor, para a glória de Deus Pai. E isso é devido a Ele, como está bem expresso nas conhecidas linhas:

 

Digno és Tu, ó Cordeiro de Deus,

 Que todo joelho a Ti se dobre”.

 

Pode ser necessário, no entanto, explicar isso com um pouco mais de detalhes, pois alguns podem não ter entendido o assunto até agora. Vamos então examinar as exatas palavras dessa passagem. Ela diz: “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra”. Dos que estão nos céus, como antes foi dito, incluirão todas as coisas existentes nos céus – todas as hostes celestiais – e dos que estão na Terra, como é claro, indicarão os homens, então a única dificuldade está na frase “debaixo da Terra”. A própria palavra (pois na verdade é apenas uma palavra) aponta reconhecidamente para o que é subterrâneo. Mesmo admitindo isso, alguns argumentam ainda que se refere apenas aos mortos. Mas mesmo no uso clássico, isso vai mais longe e compreende espíritos malignos; e quando é lembrado que, durante a passagem de nosso bendito Senhor neste mundo, os demônios foram obrigados a reconhecer Sua autoridade e até mesmo a confessar Seu nome, e que, como Tiago ensina, eles “creem e tremem”, há uma forte garantia de que eles estão em vista nesta passagem. Há outra passagem que, embora aparentemente tenha o mesmo significado, ainda é bastante diferente. Lemos em Apocalipse 5, “E ouvi a toda criatura que está no céu, e na Terra, e debaixo da Terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”. O termo “debaixo da Terra” aqui não é o mesmo que em Filipenses; e significa – como a sequência das palavras mostra, “e os que estão no mar” – toda coisa animada sob a superfície da Terra. Assim, a passagem mostra o cumprimento do último versículo do Salmo 150: “Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR”, e antecipa o louvor de toda a criação.

 

Assumindo então a exatidão de nossa interpretação, pode-se agora perguntar: Quando ocorrerá esse reconhecimento universal da autoridade de Cristo, juntamente com a confissão de Seu senhorio? Lembremo-nos de que é Deus, agindo conforme Seu próprio coração e também em justiça, que deu a Cristo esse lugar exaltado como Homem. Não é uma questão aqui de Sua Divindade, embora isso nunca deva ser esquecido, mas sim do lugar que Deus concedeu a Ele como o Homem que uma vez Se humilhou aqui, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. E junto com Sua exaltação nesse caráter, foi emitido o decreto de que todas as criaturas com entendimento devem se curvar e reconhecer Sua soberania. Onde, então, refazendo a pergunta, a obediência a este decreto será exibida? Ao procurar respondê-la, podemos tomar os três círculos de seres em sua ordem; e, primeiro, portanto, o das coisas no céu. Existem duas passagens especialmente relacionadas a esse assunto, às quais se pode fazer referência. Em Hebreus 1, em uma citação dos Salmos, lemos: “E todos os anjos de Deus O adorem”, e isso está em conexão com a introdução do Primogênito no mundo. Em Apocalipse 5, temos permissão para ouvir os milhões de milhões e milhares de milhares de anjos, quando o Cordeiro toma o livro da destra d’Aquele que está assentado no trono, dizendo com grande voz: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças”. Além disso, quando o Filho do Homem vier em Sua glória, todos os santos anjos estarão com Ele, como guardiões de Seu trono, e assim aprendemos que o reconhecimento de Sua supremacia será constante e perpétuo – que, começando com o momento de Sua exaltação, continuará para sempre.

 

A submissão do segundo círculo, o das coisas na Terra, será, em certo sentido, mais gradual e extensa. Começou no dia de Pentecostes, pois o testemunho de Pedro naquele dia era que Deus havia feito Aquele mesmo Jesus, que os Judeus crucificaram, Senhor e Cristo; e todos os que pela graça receberam esse testemunho, de fato dobraram os joelhos a Cristo e confessaram Sua autoridade, conforme declarado pelos apóstolos. Foi assim com todos os convertidos desde aquele dia, e assim será com todos os que são trazidos das trevas para a maravilhosa luz de Deus, até o fim do dia da graça. Depois que a Igreja for levada, ainda haverá uma poderosa obra da graça, como pode ser deduzida de Apocalipse 7, e durante os mil anos será cumprida a gloriosa predição do Salmo 72: [Ele] dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra”. Aqueles que habitam no deserto se inclinarão diante d’Ele, e os Seus inimigos lamberão o pó. Os reis de Társis e das ilhas trarão presentes; os reis de Sabá e de Sebá oferecerão dádivas. E todos os reis se prostrarão perante Ele; todas as nações O servirão. Haverá, portanto, durante Seu glorioso reino na Terra, sujeição universal às Suas legítimas reivindicações como supremas, de modo que, como lemos em outro Salmo, “Pela grandeza do Teu poder” – poder exibido diante dos olhos dos homens – ”se submeterão a Ti os Teus inimigos”, ou, como está na margem da versão King James, “renderão obediência fingida”. Durante esse reinado de justiça, o homem não ousará, quaisquer que sejam os pensamentos de seu coração, se rebelar contra o governo soberano de Cristo, exceto à custa de destruição instantânea. Exteriormente, portanto, todos estarão em professa submissão ao Seu governo. E não é um prazer contemplar essa perspectiva, quando o outrora humilhado e rejeitado Cristo será universalmente exaltado, mesmo ainda nesta Terra? O cenário que uma vez testemunhou Sua vergonha e ignomínia, então contemplará Sua exaltação e glória; e de milhões de corações subirá a alegre confissão de que é Seu devido direito, enquanto cantam: “E bendito seja para sempre o Seu nome glorioso; e encha-se toda a Terra da Sua glória! Amém e amém!”

 

Em relação ao último círculo, temos menos passagens positivas para nos guiar, embora o fato seja afirmado repetidas vezes que nada, nenhum ser no universo, será excluído da sujeição à Sua autoridade. (Veja, por exemplo, Ef 1:20-22; 1 Co 15:24-28; etc.) O tempo em que “os anjos que não guardaram o seu principado” serão tratados, é distintamente declarado, como estando no “juízo daquele grande dia” (Jd 6). E aprendemos em Apocalipse 20 que o próprio diabo será lançado no lago de fogo e enxofre, imediatamente antes da sessão de Cristo – a Quem todo o julgamento foi confiado – no grande trono branco, onde todos os mortos, pequenos e grandes, receberão sua recompensa eterna. Os demônios não são mencionados aqui, mas não pode haver dúvida de que eles estão incluídos no julgamento de seu líder e chefe. O julgamento final, portanto, seja dos anjos caídos, do próprio Satanás ou das multidões de mortos não convertidos (pois apenas esses aparecem diante do grande trono branco), ocorrerá no final de todas as tratativas de Deus com este mundo. Antes do início dessa última sessão de julgamento, a Terra e o céu terão fugido da face d’Aquele que se assentará no grande trono branco, pois esta cena final do estabelecimento das santas reivindicações e da autoridade justa de Deus é preparatória para a introdução do novo céu e da nova Terra, onde a justiça reinará (habitará). Os propósitos de Deus a respeito da glória de Seu Filho amado, Sua vontade de que todo joelho se dobre a Ele e que toda língua confesse que Ele é o Senhor, terão sido cumpridos então. Todo o mal terá sido eliminado, pois Deus limpará toda a lágrima dos olhos de Seus redimidos, “e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas”.

 

Mesmo a exaltação e glória de Cristo têm, se podemos nos atrever a falar assim, um objetivo. Elas são, como lemos, “para a glória de Deus Pai”. Se Seus eternos conselhos a respeito de Cristo e Seus redimidos fluíram de Seu próprio coração, em sua realização e resultado, redundarão em Sua própria glória exibida diante dos olhos de todo o universo. Cabe ao crente antecipar isso: e, de fato, a contemplação deste fim glorioso de todos os caminhos de Deus encherá seu coração de admiração e adoração de tal forma que ele será constrangido a exclamar usando as palavras inspiradas do apóstolo: “Porque d’Ele, e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém!”. E novamente, “a Ele seja glória na assembleia em Cristo Jesus, por todas as gerações, dos séculos dos séculos. Amém” (JND).

 

Parte 7 – Em Seu Nome 


Ao examinarmos esse título, descobriremos que há, de modo geral, um duplo significado conectado a essa expressão – um voltado para Deus e outro para o homem. A isso pode ser adicionada a expressão que, embora ligeiramente diferente, pode ser adequadamente incluída sob este título, ou seja, “crer” “no Seu nome” (Jo 1:12, 2:23). A palavra “no” neste caso não é no sentido que geralmente é traduzida, mas sim, “em o” ou “para o”, que unida com a palavra “crer”, indica o objeto para o qual a fé tem sido atraída. Isso será mais facilmente entendido se for explicado que existem na Escritura três maneiras principais de estabelecer a fé. Por exemplo, diz-se que Abraão creu em Deus [“Abraham believed God”]; também lemos várias vezes, especialmente no evangelho de João (embora as palavras nem sempre sejam assim traduzidas), sobre crer no Cristo, e, além disso, encontramos crer a respeito d’Ele, ou sobre Ele, como em Atos 16:31, etc. Há uma diferença muito distinta nesses vários modos de expressão. Crer[4] em uma pessoa é receber sua palavra ou testemunho, crer nela (believe in) é acreditar que ela é digna de confiança; e crer em (believe on) é realmente descansar ou confiar no objeto da fé que foi apresentado à alma. Podemos ver, portanto, que crer no nome de Cristo é a concordância da alma à Sua confiabilidade, e que o nome de Cristo, a expressão de tudo o que Ele é, é aquilo que é proclamado no evangelho como o objeto para a fé. E a aceitação desse testemunho, o testemunho do que Cristo é, como o Senhor Jesus Cristo, é o início de todas as bênçãos. O direito para tomar o lugar de filhos está conectado a isso (Jo 1:12), como também o direito para a possessão da vida eterna (Jo 3:15-16). Chamamos a atenção para isso, e sinceramente insistimos com o leitor, porque, sem o conhecimento desta porta de entrada para toda a bem-aventurança, é impossível entrar na consideração da virtude do nome de Cristo. O valor de Seu nome deve ser conhecido para a salvação antes que possa ser desfrutado na presença de Deus, ou antes que possa ser usado no mundo. [4] N. do T.: (No inglês, diferentemente do português, não há necessidade de usar preposições adicionais com o verbo crer (believe) – como em Romanos 4:3 – JND e KJV “Abraham believed God” – Abraão creu Deus)

 

Lemos em João 14, “E tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei”. Como mostram as últimas palavras do versículo 13, está aqui, de acordo com a verdade característica deste evangelho, o nome do Filho e não o de Cristo, mas isso ilustrará ainda mais nosso ponto. O que então nos é apresentado é que os crentes são divinamente autorizados a comparecer diante do Pai em nome do Filho; que eles mesmos, em relacionamento por terem nascido de novo e recebido o Espírito de adoção por meio da morte e ressurreição de Cristo, em associação com Ele em Seu próprio relacionamento (Jo 20:17), estão agora livres para entrar na presença de Seu Pai, e do Pai deles, em Seu bendito nome. Que essas palavras indicam o período após Sua morte, ressurreição e ascensão é evidente pelo fato de que a presença do Espírito Santo é contemplada (Jo 14:16-17, etc.). Quando esse tempo chegasse, e não antes, eles poderiam pedir ao Pai em Seu nome. Isso explicará a linguagem do Senhor no capítulo 16: “E, naquele dia, nada Me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora” (durante o tempo de Sua permanência com eles na Terra) “nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que vossa alegria se cumpra” (vs. 23-24). Quem de nós entrou no vasto significado dessa passagem? Ou quem se valeu em todo o seu comprimento, largura, altura e profundidade da graça indescritível aqui expressa?

 

Vamos então examinar essas comunicações maravilhosas, e para nos ajudar, podemos perguntar, em primeiro lugar, o que se entende por pedir em nome do Filho. Estar diante do Pai dessa forma é estar lá em todo o valor desse nome, de acordo com a própria estimativa do Pai, com toda a reivindicação do Filho sobre o coração do Pai e com a autoridade do Filho para a apresentação de nossas petições. Quando Ele mesmo, o Filho encarnado, estava junto ao túmulo de Lázaro, disse: “Pai, graças Te dou, por Me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves”. Se, portanto, pedirmos alguma coisa em Seu nome, também seremos sempre ouvidos e isso é precisamente o que o bendito Senhor promete aqui. Então, entendendo que Ele nos deu essa liberdade e privilégio, quando estamos no gozo do relacionamento que Ele assegurou para nós com o Pai, duas coisas ainda precisam ser determinadas, primeiro, quanto à Sua autoridade necessária para as petições aqui referidas, segundo, quanto ao assunto delas. A autoridade do Filho para expressar quaisquer desejos especiais gerados em nosso coração só pode ser obtida em comunhão com Sua própria mente, como a Escritura nos ensina pelo Espírito Santo. E, portanto, seu assunto só pode dizer respeito às próprias coisas do Filho. Ou seja, em outras palavras, a garantia dada de que tudo o que pedirmos em Seu nome será feito não pode indicar nossas próprias necessidades e desejos pessoais, mas supõe que Seu povo esteja em comunhão com Seus próprios desejos, objetos e interesses, para que possam orar por eles em Seu próprio nome e com Sua autoridade. Pois quando aprendemos, em qualquer fraca medida, quais são os conselhos do Pai para a glória de Seu Filho amado, somos livres, se tivermos deixado de nos ocupar conosco, para sermos levados ao vasto círculo das coisas do Filho e das coisas do Pai (Jo 16:14-15), e orar pelo cumprimento de todos esses propósitos maravilhosos de Seu amor. Que lugar é esse em que somos introduzidos! E que graça nos investe com toda a Sua própria preciosidade diante do Pai!

 

Se por um lado podemos comparecer diante de Deus em nome de Cristo, por outro, isso nos instrui a que façamos tudo, seja entre nossos irmãos ou no mundo, em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus e Pai por Ele (Cl 3:17). Esses dois aspectos são constantemente, e de todas as maneiras, apresentados na Escritura. Em João 17, por exemplo, depois que o Senhor colocou os discípulos em Seu próprio lugar diante do Pai, Ele lhes dá Seu próprio lugar diante do mundo. Pedro, da mesma maneira, ensina que, se os crentes têm um santo sacerdócio para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo, eles também têm um sacerdócio real para mostrar ao mundo os louvores (excelências) d’Aquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Isso é apenas para declarar a bendita verdade de que o crente é inseparável de Cristo, seja diante de Deus ou diante dos homens, que pela graça ele está tão ligado a tudo o que Ele é e realizou, que ele entra no Santo dos Santos em todo o valor de Sua Pessoa e Sua obra, e passa pelo mundo como Seu representante. Na verdade, esta última palavra é a que mais expressa o que é agir em nome de Cristo, ou, como nessa passagem, em nome do Senhor Jesus (Cl 3:17). É agir em Seu nome e sob Sua autoridade. O que um embaixador, ou um agente diplomático, é em relação ao seu soberano, o Cristão é em relação a Cristo. Ele deve ser governado inteiramente pela vontade de seu Senhor, ele deve, com toda a fidelidade, expressar Sua mente, estudar Suas instruções e procurar de todas as maneiras promover Seus interesses. O egoísmo e os objetivos egoístas não podem ter lugar em tal missão, seu lema deve ser o do apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo”, e somente Cristo é o Motivo e o Objeto de todas as suas atividades.

 

Podemos fazer uma pausa na presença de tal declaração e exclamar: Quem é apto para tal missão? Para que ninguém, portanto, se sinta sobrecarregado com o pensamento do que podem considerar uma responsabilidade tremenda, lembrem-se de que Aquele que nos envia para agir em Seu nome nos sustenta na missão com todo o Seu poder. Ninguém vai à guerra por conta própria a qualquer momento. O nome do Senhor, de fato, quando corretamente sustentado e usado, carrega onipotência consigo. Assim, quando os setenta voltaram para o Senhor, eles disseram: “Senhor, em Teu nome, até os demônios se nos submetem” (Lc 10:17 – AIBB) (“em”  e não “pelo”, como traduzido na ARC, ARA) “Eis”, respondeu o Senhor, “que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo”. A missão e o poder para sua realização estão, portanto, intimamente ligados, apenas a fé, a fé em ação, é a condição essencial para o uso do poder. Essa verdade precisa ser insistentemente enfatizada no momento atual, se quisermos que haja um reavivamento ou recuperação, antes do retorno do Senhor. Está escrito: “Tudo é possível ao que crê”; lemos as palavras, não duvidamos delas, e ainda assim raramente pensamos na possibilidade de serem comprovadas em nossa própria experiência. Um santo do passado sabia o segredo quando escreveu: “Senhor,  o que Tu ordenas, e então ordena o que Tu queres”. Mesmo assim, pois é apenas pelo próprio poder do Senhor que o menor de Seus preceitos pode ser traduzido em prática; embora seja igualmente verdade que Seus maiores mandamentos são tão fáceis de executar quanto o menor, na medida em que o poder adequado está sempre a serviço da fé. Isso é visto no caso do homem com a mão mirrada. Como ele poderia esticar um braço que estava seco e morto? Ele creu, e o poder divino fluiu para sua mão morta; ele a estendeu, e eis que “ficou sã como o outra”.

 

Algumas ilustrações de ação em nome de Cristo ajudarão no entendimento de todo o assunto. Tomemos primeiro um exemplo de atividade apostólica nos dias pentecostais. Quando Pedro e João encontraram o coxo na porta do templo que é chamada Formosa, Pedro expressamente negou agir em sua própria autoridade, ou poder, dizendo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3:6). Da mesma forma, Paulo, “em nome de Jesus Cristo”, ordenou que o espírito maligno que possuía a jovem que o seguia por muitos dias saísse dela. Em ambos os casos, eles agiram, portanto, como Seus servos e usaram, no exercício da fé, Seu poder nos milagres operados. Da mesma forma, ao corrigir distúrbios entre os santos em Corinto e em Tessalônica, o apóstolo agiu em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 5:4; 2 Ts 3:6). Esses exemplos serão suficientes para mostrar que em todo serviço, bem como em todos os deveres e responsabilidades da vida diária, é privilégio do crente agir em nome de seu Senhor. É, de fato, seu verdadeiro chamado estar diante dos homens como o representante de Cristo. Isso pode ser visto em outro aspecto de uma passagem em Pedro. “Se, pelo (literalmente, “em”) nome de Cristo sois vituperados”, diz ele, “bem-aventurados sois” (1 Pe 4:14). Aqui é evidente que os inimigos de Cristo consideravam Seu povo como levando Seu nome e, assim, se levantavam no mundo como representantes d’Ele. Por isso, a inimizade deles contra Cristo se manifesta na perseguição de Seus seguidores. E o Cristão nunca pode se desvencilhar desse relacionamento com o seu Senhor ausente. Seja na assembleia, em seu lar ou movendo-se entre seus semelhantes, em todos os lugares e em todos os momentos, ele deve lembrar-se de que leva o nome de Cristo para agir em Seus interesses, sob Sua autoridade e em Seu nome.

 

Repetindo, talvez, mais uma vez: Que privilégio indescritível ser dotado da liberdade de comparecer diante de Deus e dos homens em nome de Cristo! É, por outro lado, a própria grandeza do privilégio que indica a vastidão da responsabilidade. Pois se nos é confiado o nome de Cristo, como um santo padrão, que vigilância incessante e que percepção de nossa dependência são necessárias para mantê-lo em toda a sua pureza e guardá-lo de toda desonra? Para nos encorajar a ser diligentes nesse objetivo, podemos nos lembrar de quão precioso é para o coração de Cristo contemplar Seu povo zeloso e diligentemente cuidando da honra de Seu nome. Como lemos no profeta Malaquias, “Então, aqueles que temem ao SENHOR falam cada um com o seu companheiro; e o SENHOR atenta e ouve; e há um memorial escrito diante d’Ele, para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do Seu nome” (cap. 3:16). Foi um dia de abundante iniquidade e corrupção entre o povo de Deus, mas esse remanescente piedoso foi separado do mal para os laços da santa comunhão por seu temor piedoso e seu amor pelo nome de Jeová. Os olhos do Senhor estavam sobre eles, e no regozijo de Seu coração Ele proclamou: “E eles serão Meus..., naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro”, isto é, no dia do juízo vindouro, Ele os colocaria em Sua casa do tesouro entre Suas coisas preciosas. Que todos nós desejemos a aprovação do Senhor por cuidarmos da honra de Seu nome mais precioso e inigualável.

 

Parte 8 – Por Amor do Seu Nome

 

Há duas ou três expressões que podem ser consideradas sob esse título. Pode-se perceber uma certa diferença em seu significado, mas, em sua aplicação prática, elas têm, para todos os efeitos, a mesma força. Uma pode ser traduzida como “por causa”, ou “em razão de Seu nome”, outra, como o título deste capítulo, e ainda outra, “em favor de Seu nome”. Em todas as três, a ideia fundamental é o valor do nome para aquele que age, suporta ou sofre, e isso também encontrará, como esperamos ver, uma exemplificação nos atos de graça de Deus para com Seu povo. As palavras: “Teu nome é como unguento derramado” já estiveram diante de nós, e as expressões que serão adicionadas agora fornecerão outra ilustração do fato de que é a fragrância do nome de Cristo que deleita tanto o coração de Deus quanto o coração de Seu povo. Por isso, lemos em conexão com as bênçãos de Seu justo domínio durante os mil anos, que “O Seu nome permanecerá eternamente; o Seu nome se irá propagando de pais a filhos, enquanto o Sol durar; e os homens serão abençoados n’Ele; todas as nações Lhe chamarão Bem-aventurado” (Sl 72:17). Sim, por toda a eternidade continuaremos a cantar o cântico que aprendemos na Terra:

 

“Teu nome amamos, Senhor Jesus,

 E humildemente nos curvamos diante de Ti;

 E enquanto vivemos, a Ti bendizemos

 E damos Te toda adoração e glória”.

 

No primeiro caso diante de nós, é o valor do nome para Deus, que fornece a base para o exercício de Seu amor perdoador. O apóstolo João diz assim: “Filhinhos, escrevo-vos porque, pelo Seu nome, vos são perdoados os pecados” (1 Jo 2:12). Toda a verdade da graça está contida nesta breve declaração, pois o termo “filhinhos” nessa passagem compreende toda a família de Deus. Aprendemos com isso que, no perdão dos pecados, Deus age unicamente com base no valor do nome de Seu Filho amado, mas em virtude de Seu nome como Aquele que O glorificou na Terra e consumou a obra que Ele Lhe deu para fazer. Que equívocos seriam eliminados da mente das almas ansiosas se essa simples verdade fosse apreendida! Pois então, em vez de passar dias cansativos em busca de algo bom ou mérito em si mesmos, sobre o qual descansar para serem aceitos diante de Deus, ou como uma evidência inquestionável de sua conversão, eles perceberiam que, para serem salvos, deve ser totalmente por meio do que Cristo é para Deus. Que todos esses, portanto, ponderem em oração as palavras, “por amor do Seu nome”, na medida em que mostram, além da possibilidade de dúvida ou erro, que a atitude de Deus para com todos os que vêm a Ele confessando seus pecados, depende inteiramente de Sua estimativa do valor do nome d’Aquele bendito que agora está assentado à Sua direita. Que rocha imutável e inabalável é assim fornecida para nossa alma – aquela Rocha Eterna, de fato, na qual podemos descansar para sempre em perfeita paz, uma paz que nenhuma mudança de sentimento ou experiência poderá afetar. Nunca deixemos de proclamar essa bendita verdade às almas atingidas pelo pecado e cansadas, pois é o próprio cerne das boas novas de Deus aos homens neste dia de graça.

 

E não apenas recebemos o perdão de nossos pecados, mas nossos pés também são mantidos, enquanto passamos pelo deserto, da mesma maneira. Lemos, por exemplo, no Salmo 23: “Ele restaura a minha alma; Ele me guia nas veredas da justiça por amor do Seu nome” (JND). Ou seja, Deus empreendeu tudo por nós no mesmo terreno no qual Ele perdoou nossos pecados. O motivo de todas Suas atividades de graça e amor, de Sua atitude imutável, de Seu cuidado e proteção vigilantes, é encontrado em Cristo, e não em nós mesmos. Isso é abençoadamente exemplificado no Salmo de onde a citação acima é tirada; só aqui, é o Senhor como nosso Pastor, agindo mais de Seu próprio coração e do relacionamento que Ele teve o prazer de assumir em relação ao Seu povo. O argumento simples é que, se Ele Se tornou nosso Pastor, Ele fornecerá tudo o que for necessário para nós, seja em nosso caminho de peregrinação ou ao passar pelo vale da sombra da morte. Mas o versículo citado mostra que é por causa de Seu próprio nome que Ele mantém esses relacionamentos de graça. Se estamos cansados, desanimados, desencorajados ou deprimidos, Ele restaura nossa alma, e, como precisamos de orientação constante, com todo desejo de trilhar Seus caminhos, mas muitas vezes incapazes de discerni-los, Ele Se colocou à nossa frente e nos conduz nos caminhos da justiça por amor de Seu nome. Se, então, o nome de Cristo é tão indizivelmente precioso para Deus, e se constitui a base totalmente eficaz de Seu relacionamento conosco, como devemos procurar zelosamente estar em comunhão com Ele sobre isso, e assim, tendo algum senso fraco de Seu valor, deleitar-nos em nos aprofundar n’Ele, descansando n’Ele em nossas aproximações com Deus, assim como Ele descansa n’Ele em Seus relacionamentos conosco.

 

A comunhão com o coração de Deus, de fato, quanto à preciosidade do nome de Cristo, é o verdadeiro segredo da devoção e coragem incansáveis de muitos de Seus seguidores. O apóstolo Paulo pode ser mencionado como uma ilustração especial disso, embora as palavras “por amor do Seu nome” não sejam usadas. Em cativeiro, e não mais capaz de entregar sua mensagem abençoada – com a perspectiva da morte a qualquer momento, pois ele não sabia se seria jogado aos leões imediatamente – era seu consolo, apesar dos motivos mistos que governavam a atividade de muitos, que Cristo fosse pregado, e nisso ele se regozijou e se regozijaria. Toda a sua expectativa e esperança era que ele pudesse ser mantido e sustentado de modo que Cristo pudesse ser magnificado em seu corpo, fosse pela vida ou pela morte. Absorvido em seu objetivo, somente Cristo delimitava seu horizonte, e, portanto, por amor a Cristo, ele estava disposto a sofrer qualquer coisa e tudo, se pudesse apenas trazer glória ao Seu bendito nome. Da mesma forma, lemos em outra epístola de alguns que tiveram o nome de Cristo tão indelevelmente gravado no coração que, por Sua causa, aceitaram com gozo a espoliação de seus bens, de outros que provaram cruéis escárnios e açoites, cadeias e prisões, e de outros também que foram serrados ou mortos à espada, enquanto se alguns escaparam do martírio, tiveram que vagar em peles de ovelhas e cabra, sendo desamparados, afligidos e maltratados (Hb 10 e 11).

 

Esse caráter sofredor do caminho de Seus discípulos foi, muitas vezes, o tema da instrução de nosso Senhor. Longe de esconder deles as aflições e perseguições que encontrariam, Ele os advertiu em todas as ocasiões possíveis do que teriam que suportar por causa de Seu nome. Assim, por exemplo, Ele diz no sermão da montanha: “bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por Minha causa”. Em outro momento, “Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do Meu nome”, e mais uma vez: “Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós”, “vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”. Assim aconteceu, pois Paulo escreveu (citando os Salmos): “Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro”. Mas se nosso bendito Senhor nos preveniu do que pode ser imposto a nós por meio da confissão de Seu nome, Ele também ministrou o sustento e a consolação necessários. De Si mesmo em Seu caminho por entre este mundo, está escrito que pelo gozo que estava diante d’Ele, Ele suportou a cruz, desprezando a afronta, e para nosso encorajamento, Ele deixou registradas estas palavras: “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do Meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna”.

 

Sofrer com Cristo é uma necessidade, em certa medida, se somos filhos de Deus, mas sofrer por Cristo é um privilégio ligado à fidelidade em Seu serviço. Como exemplo disso, o caso de Pedro e João pode ser apresentado. Levantados perante o conselho judaico, haviam sido proibidos de falar ou ensinar em nome de Jesus, mas, obedecendo a Deus em vez de aos homens, prosseguiram com sua bendita obra.

 

Mais uma vez presos, depois de terem sido milagrosamente libertados da prisão, foram espancados e ordenados a não falar em nome de Jesus. Eles ficaram desanimados ou assustados por causa do que tiveram que suportar? De maneira nenhuma, eles, “Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5:40-41). Qual é então o segredo dessa superioridade à vergonha e ao sofrimento? É a preciosidade de Cristo para o coração de Seu povo, a certeza de Sua presença com eles e o conhecimento de que mesmo a morte é apenas o caminho da vida para Sua presença eterna. Se por nossa causa Ele Se tornou pobre, para que por meio de Sua pobreza pudéssemos ser ricos, certamente não é grande coisa se formos ensinados, pela graça, a considerar, como Moisés, o vitupério de Cristo como maiores riquezas do que os tesouros do Egito, e se estivermos dispostos a sofrer perseguição e suportar a perda de todas as coisas aqui por causa do Seu nome.

 

Ainda outro exemplo do poder do nome de Cristo pode ser considerado. Na terceira epístola de João, lemos sobre alguns que “por amor do nome” (TB) saíram, sem tomar nada dos gentios. A forma da frase, “por amor do nome”, nessa passagem coincide exatamente com a usada por Pedro e João em Atos 5, e assim concluímos que foi o valor do nome de Cristo para o coração deles que levou este último a se regozijar no sofrimento, e o primeiro a recusar o apoio do mundo por seu serviço. Bom teria sido para a Igreja de Deus se o exemplo desses devotos servos tivesse sido seguido. Nada corrompeu tanto o Cristianismo quanto a aceitação da ajuda mundana para o avanço de seus objetivos. Antes de o Senhor ser crucificado, Ele disse aos Seus discípulos: “Quando vos mandei sem bolsa, alforje ou sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Eles responderam: Nada”. Ele é menos terno em Seu cuidado com Seus servos agora que está glorificado à direita de Deus? Um nobre exército de servos dedicados em todas as partes do mundo testemunhará de bom grado que eles também, embora sem o apoio garantido do homem e recusando a assistência do mundo, nada lhes faltou. E seria o início de uma nova era no serviço Cristão, e especialmente nas missões Cristãs, se aqueles envolvidos nelas saíssem na mesma fé simples na total suficiência do nome de seu Senhor. Nos últimos dias da história da Igreja na Terra, que muitos verdadeiros crentes sejam levantados e enviados para a seara pelo Senhor da seara – homens a quem o nome de Cristo é tão precioso que eles podem encontrar n’Ele seu Único motivo, o Único estímulo para seu zelo, e sua abundante garantia para toda a sua dependência d’Ele, para todo o seu apoio necessário.

 

O leitor encontrará muita edificação ao traçar outros casos na Escritura, e nossa oração é que cada um que seja encorajado a fazê-lo pela leitura do que foi escrito, possa encontrar, enquanto estiver envolvido, que seu coração seja atraído mais plenamente na adoração e louvor de nosso bendito Senhor e Salvador, e que possa se tornar seu único e intenso desejo, em toda a sua vida futura, de trazer glória a este precioso NOME.

E. Dennett

 





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