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O Temor de Hoje (Outubro de 2022)

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ÍNDICE

Tema da Edição

W. J. Prost

W. J. Prost

W. J. Prost

C. H. Mackintosh

C. H. Mackintosh

J. N. Darby

The Young Christian

Christian Truth

J. D. Smith (Poema)


 

O Temor de Hoje


Precisamos entender a diferença entre o temor em relação ao homem e em relação a Deus. “O medo [temor – ARC] do homem traz um laço” (Pv 29:25 – TB) “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10). O temor do homem é o resultado de, em seu coração, desconfiar de Deus como nosso Pai e do Seu perfeito cuidado e controle sobre cada detalhe de nossa vida. O temor do homem também é resultado da perda temporária da nossa comunhão com Deus quer seja pelo orgulho, ou pela desobediência, ou mesmo a falta de dependência. O temor adequado de Deus é um respeito reverente por Sua grandeza, autoridade e poder sobre todas as coisas, inclusive sobre nós. Quando caminhamos na luz, caminhamos na percepção consciente de que Ele vê e conhece cada detalhe do que está acontecendo conosco, e se a apreciação de Seu perfeito amor for acrescentada, o temor do homem ou das circunstâncias é removido. Se não respeitarmos a Deus e andarmos em desobediência perderemos nossa confiança em Seu amor e nossa consciência nos fará temer o governo de Sua mão sobre nossa vida. Porque Deus deu a cada homem uma consciência, o incrédulo procura ignorar e remover Deus de seus pensamentos, pois ele vive com o medo de ser julgado por Deus.


 

Não Temas


A frase “não temas” ocorre muitas vezes na Palavra de Deus, começando com a palavra à Abrão em Gênesis 15:1 e terminando com a palavra dita ao apóstolo João em Apocalipse 1:17. Muitas vezes as palavras vêm diretamente do Senhor para um dos Seus, para encorajá-lo e acalmar seus temores. No entanto, as palavras vêm às vezes de homens ou mulheres, como José, Davi, Elias, Jael e outros. Algumas vezes até homens ímpios como Absalão usaram o termo na Escritura.


Neste artigo, seria impossível considerar todas as referências na Escritura de “não temas”, mas é significativo que o termo ocorra sete vezes no livro de Lucas. A ordem em que elas são usadas em Lucas também é importante.


Sabemos que o evangelho de Lucas retrata o Senhor Jesus como o Filho do Homem, e é a introdução do ministério de Paulo. Como tal, Lucas nos coloca em contato com as almas muito mais do que os outros evangelhos. Alguns até nomearam Lucas de evangelho social. Mateus nos dá a verdade do reino e, portanto, é muito mais ocupado com o reino. No entanto, o Senhor Jesus fala da Igreja em Mateus e nos diz que no futuro Ele edificaria Sua Igreja. Marcos olha para Cristo como o Servo perfeito, enquanto João traz, muito claramente, Sua divindade.


A vinda de Cristo

As três primeiras vezes que as palavras “não temas” aparecem no livro de Lucas falam da vinda de Cristo ao mundo. Na primeira vez, o sacerdote Zacarias, enquanto se dedica em seu serviço no templo, vê um anjo diante dele, e muito naturalmente, fica perturbado e com medo. Mas o anjo lhe diz: “Não temas” (Lc 1:13), e então passa a dar-lhe notícias maravilhosas sobre um filho que lhe nasceria. O filho era João Batista, o precursor do Senhor Jesus, que iria “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1:17).


Na segunda vez a frase é usada pelo anjo que fala à Maria, a mãe terrenal do Senhor Jesus, dando a notícia que ela deveria dar à luz ao Messias de uma maneira milagrosa (Jo 1:30). Maria também ficou um pouco perturbada quando o anjo do Senhor apareceu, mas ela foi imediatamente instruída a não temer. A fé de Maria era simples, mas real, e ela imediatamente aceita o que lhe foi dito, dizendo: ... cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38).


Finalmente, quando nosso Senhor nasceu em Belém, mais uma vez um anjo do Senhor apareceu, desta vez para pastores que estavam vigiando seus rebanhos à noite. Eles também inicialmente “tiveram grande temor”, porque “a glória do Senhor os cercou de resplendor” (Lc 2:9). Mas o anjo imediatamente os tranquiliza dizendo: “Não temais” (Lc 2:10), e então lhes dá a notícia do nascimento d'Aquele que deveria ser o Salvador. A notícia lhes trouxe grande alegria, e eles imediatamente vão ver Aquele Salvador que tinha nascido.


Amor revelado

A introdução de Cristo no mundo trouxe consigo a revelação do amor de Deus. O amor de Deus estava lá no Velho Testamento, pois Ele podia dizer a Seu povo Israel, mesmo depois de todo o seu fracasso: “Com amor eterno te amei” (Jr 31:3). No entanto, esse amor estava encoberto e não claramente trazido à tona para toda a humanidade. Durante o tempo do Velho Testamento após o dilúvio, os homens frequentemente aderiam à idolatria e aos deuses pagãos, que usavam o poder satânico para provocar neles o medo. Mas quando Cristo veio ao mundo, foi para revelar o amor e a graça de Deus, que é o verdadeiro antídoto para todo o temor. Assim, lemos em 1 João 4:18 (ACF) que “o perfeito amor lança fora o temor”. Nessas primeiras vezes que a frase “não temas” é usada no evangelho de Lucas está apropriadamente conectada com a vinda de Cristo ao mundo — Aquele que revelaria o amor de Deus a toda a humanidade.


Poder libertador

Agora, porém, encontramos mais quatro ocasiões em que nosso Senhor diz ao Seu povo: “Não temas”, e nesses casos traz o poder libertador de Cristo. Primeiro Ele nos assegura do Seu amor, e do amor do Pai por nós, e depois traz Seu poder libertador.


Em Lucas 5:1-11, nosso Senhor começa a chamar discípulos para segui-Lo, e quando Ele usa o barco de Pedro como uma pequena plataforma para pregar, Ele o recompensa com um imenso carregamento de peixes. Pedro pode ter hesitado em desistir de seu sustento no negócio da pesca para seguir o Senhor, mas o Senhor o tranquiliza, dizendo-lhe: “Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens” (Lc 5:10). Da mesma forma, se hoje, você e eu estamos no caminho da escolha do Senhor, todo o Seu poder está nos apoiando. Ele conhece as nossas necessidades, e não há o que temer quanto às necessidades da vida. O Senhor prometeu cuidar de nós.


Segundo, encontramos nosso Senhor dizendo, “não temas”, a Jairo, o príncipe da sinagoga, quando sua filha morreu. O povo pensava que o Senhor poderia curá-la enquanto ela estivesse viva, todavia achava que ressuscitar os mortos estava além de Seu poder. A mensagem do Senhor ao pai foi: “Não temas; crê somente, e ela será salva” (Lc 8:50 – ARA). O poder de Deus não foi limitado pela morte; o Senhor Jesus poderia livrar sua filha da morte e ressuscitá-la. Deus normalmente não ressuscita pessoas hoje, mas sabemos que na vinda do Senhor, Seu grandioso poder levantará todos aqueles que morreram em Cristo e os levará para estar com Ele.


Os que matam o corpo

Terceiro, encontramos o Senhor Jesus mais uma vez lembrando a Seus seguidores que eles estavam seguindo um Cristo rejeitado. Haveria aqueles que poderiam matar o corpo, mas não poderiam tocar a alma. Além disso, nem mesmo um passarinho cairia no chão sem que o Senhor percebesse, e Ele lembra aos Seus que eles tinham mais valor do que muitos passarinhos. Mais do que isso, haverá uma recompensa em um dia vindouro para aqueles que confessam Cristo diante dos homens; e eles, por sua vez, serão confessados diante dos anjos de Deus em um dia vindouro. Vale a pena desistir de vantagens neste presente mundo, a fim de ter ganho futuro com o Senhor no céu.


Hoje, também seguimos o mesmo Cristo rejeitado, e a corrente de pensamento hoje, mesmo em países que se basearam em princípios Cristãos, é cada vez mais contrária às reivindicações de Deus. Pode muito bem ser que antes de nosso Senhor vir para nos levar para casa, possamos também sofrer perseguição por aderir à Palavra de Deus e procurar ser fiéis a Ele.


O reino vindouro

Finalizando, no mesmo capítulo 12 de Lucas, encontramos nosso Senhor dizendo “não temas” a respeito do reino vindouro. Já apontamos que o evangelho de Lucas está mais ocupado com as almas e suas necessidades do que com o reino, mas o Senhor Jesus sabe que muitos estavam procurando um reino visível. Eles ficaram desapontados quando não o viram e sentiram como se suas esperanças estivessem caindo por terra. Haveria um reino? Sim, haverá, e num dia futuro, o remanescente piedoso da nação de Israel o herdará. Assim, o Senhor lhes diz: “Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino” (Lc 12:32).


No entanto, ao mesmo tempo, o Senhor tece, em Suas palavras para eles, o pensamento claro da bênção celestial. Havia algo ainda mais maravilhoso do que o reino que se aproximava – a preciosidade de ajuntar tesouros no céu. Então, se o tesouro deles estivesse lá em cima, eles perceberiam que “onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). E hoje o encorajamento é o mesmo, seja para você e para mim, como parte da Igreja, ou para aqueles entre os judeus piedosos na tribulação. Se a morte pelo martírio nos alcançar ou a eles, nós e eles certamente herdaremos o reino do lado celestial.


Em resumo, então, não nos é prometido nada neste mundo; nosso único futuro é a glória. O amor de Deus revelado em Cristo é a nossa proteção contra o temor, e o poder libertador de Cristo está lá para nós, seja nas circunstâncias aqui embaixo ou mesmo na morte, se Deus permitir que isso nos aconteça.


W. J. Prost


 

Temor no Mundo Incrédulo


Embora grande parte do temor neste mundo possa não ser óbvio publicamente, ainda há sinais distintos e nuances sutis no comportamento das pessoas que revelam seus íntimos sentimentos. Há mais de um ano, quando a pandemia de COVID-19 estava em um ponto alto, uma amostra de pessoas nos Estados Unidos foi questionada sobre quais eram seus maiores temores. Alguns que foram mencionados com mais frequência foram a agitação civil, o temor de um ente querido pegar a COVID-19, ficar gravemente doente por alguma outra causa, funcionários corruptos do governo, poluição do meio ambiente, terrorismo cibernético e colapso econômico. Mais recentemente, com a pandemia de COVID-19 diminuindo e a guerra na Ucrânia assumindo sérias proporções, os temores aumentaram, com muitos estando mais preocupados agora com a possibilidade de aumento da escassez de combustível e alimentos e uma Guerra Mundial que pode incluir armas nucleares. No entanto, juntamente com tudo isso, há aparentemente várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e um declínio geral em todas as esferas da sociedade. Um estado de temor pode desencadear indignação, uma demanda por ação e uma desintegração de confiança e até mesmo de civilidade. Estamos vendo tudo isso no mundo de hoje, incluindo um aumento em coisas como a incivilidade geral, indo até a escalada da conduta agressiva no trânsito. Mais do que isso, aqui na América do Norte estamos vendo um aumento nos tiroteios contra multidões, geralmente por aqueles que estão com raiva ou simplesmente cansados de todos os inconvenientes e aborrecimentos da vida. Eles querem acabar com tudo, mas levar tantos quanto possível com eles. A ira dentro deles está “fervendo”, e eles a estão derramando sobre qualquer um e todos que estejam ao seu alcance.


Falta de visão

Somos lembrados da falta de visão que é falada na Palavra de Deus e das consequências solenes dela. “Onde não há revelação (visão – JND), o povo fica sem freio” (Pv 29:18 – TB). Em seu tempo, Jeremias podia lamentar o estado das coisas em Judá, e dizer: ... nem acham visão alguma do SENHOR os seus profetas” (Lm 2:9).


No passado, em muitos países ocidentais, as pessoas confiaram em uma visão mundana — uma visão que incluía apenas este mundo e não se estendia além desse horizonte. Esse tipo de visão é típica do mundo de Caim — uma visão que tenta organizar o máximo de prazer possível em um mundo que é estragado pelo pecado. No entanto, Deus é deixado de fora em tudo isso, e Suas reivindicações são esquecidas. Com algumas das economias mais produtivas que o mundo já viu, particularmente nos Estados Unidos, o mundo ocidental desfrutou de prosperidade e “boa vida” por muitos anos. Essa bondade de Deus, por sua vez, induziu um senso de complacência na mente daqueles que nasceram e cresceram sob essa formidável atmosfera. Um senso de direito, juntamente com a sensação de que essa prosperidade continuaria indefinidamente, produziu uma mentalidade que não consegue entender como tudo isso começou a desmoronar de repente. Alguns foram capazes de lidar com as mudanças, enquanto outros, incapazes de lidar com as dificuldades, se afastaram e recorreram a maus comportamentos de vários tipos. Esse mau comportamento pode incluir simplesmente a incivilidade que já mencionamos e um tanto de “quem se importa?” atitude essa em relação à responsabilidade, ou que pode se transformar em conduta imoral e até mesmo violência.


Uma visão elevada

Qual é o problema? O problema é que a visão não foi elevada o suficiente. Uma visão que está limitada ao horizonte deste mundo nunca será capaz de sustentar as tempestades da vida. Esse tipo de visão pode funcionar em “tempo bom”, mas nunca se sustentará em uma tempestade e nem na morte. O homem natural, no seu melhor, pensa em “tornar este mundo um lugar ideal” e talvez em deixar um bom legado que garanta que seu nome será lembrado. Mas uma visão centrada apenas neste mundo não é suficiente.


O tipo de visão mencionada na Palavra de Deus é uma visão fundamentada no próprio Senhor – uma visão que olha para a eternidade, e não apenas para o nosso tempo neste mundo. O homem foi criado para a eternidade, não para o tempo. E sua arte, música e poesia, são basicamente um lamento pela perda de algo que é eterno. Quando frequentei a universidade, um dos professores de filosofia (um assunto que não estudei) aparentemente observou uma vez em uma palestra que, se havia um Deus, por que Ele criou um mundo onde tudo no fim tinha que morrer? A única resposta é encontrada na Palavra de Deus, pois Deus não criou tal mundo. “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). Aquele professor não tinha visão alguma, pois ele rejeitou não apenas a Bíblia, mas a existência do próprio Deus. No entanto, o homem não pode fugir de sua constituição, pois ele anseia pelo que é eterno. A dificuldade com o homem caído é que abraçar uma visão eterna das coisas envolve necessariamente o reconhecimento das reivindicações de Deus sobre ele, e isso ele não quer.


O antídoto

O antídoto para o temor presente neste mundo é uma visão da eternidade e a promessa de uma vida além deste mundo. O homem pode rejeitar esse pensamento, mas no fundo, cada um sabe que foi criado, não apenas para o tempo, mas para a eternidade. Cada um sabe que deve encontrar Deus algum dia e responder a Ele. Como alguém disse, a consciência do homem nunca será adepta do ateísmo.


Nós, que pertencemos a Cristo, devemos orar para que todos os tristes acontecimentos de hoje e a deterioração geral da “boa vida” à qual nos acostumamos atraiam as almas a Cristo e as levem a pensar seriamente sobre o que está além desta vida. Em vez de provocar o abandono das restrições, tais situações deveriam produzir uma reverência solene ao Deus que as permitiu, pois Deus nunca faz cair o julgamento sobre o homem sem dar um aviso. Estamos vendo essas advertências hoje, e nossa oração deve ser para que elas sejam levadas em conta.


W. J. Prost


 

Temor no Coração dos Crentes


Em outro artigo desta edição, analisamos o temor no coração dos incrédulos – a fonte e a resposta a esse temor. Mas, e o temor no coração daqueles que pertencem a Cristo? Esse temor é sempre justificado, ou o temor no coração do crente é sempre errado?


Por um lado, Paulo podia dizer claramente a seu filho espiritual, Timóteo, que “Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, de amor e de moderação” (2 Tm 1:7). As circunstâncias sob as quais Paulo fez essa exortação são importantes, pois ele não sentiu necessidade de dizer isso quando as coisas estavam em ordem na Igreja e quando os santos estavam indo bem de forma geral. Ao contrário, ele diz isso quando estava na prisão pela última vez e quando os sinais de declínio na Igreja estavam se tornando muito evidentes. Neste mesmo capítulo, ele tem que dizer a Timóteo: ... os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). No segundo capítulo, ele tem que lhe dizer que a separação dos “vasos para desonra” seria necessária, e isso às vezes significaria a separação de um companheiro Cristão que estava andando mal. É sob essas tristes condições que Paulo lembra a Timóteo que Deus não nos deu o espírito de temor; em vez disso, Ele nos dá o espírito de fortaleza (poder), amor e moderação (sábia prudência).


O espírito de temor

Nessa exortação, vemos verdadeiro encorajamento, pois embora Paulo reconhecesse o declínio que estava chegando e avisasse Timóteo sobre isso, ainda assim, não há qualquer sinal de desânimo em toda a epístola. Paulo estava confiante no que havia sido dado pelo Senhor e no que havia pregado. Ele não tinha nada de que se arrepender, e lembra a Timóteo que o Senhor era o Mesmo, ainda que alguns estivessem renunciando à verdade que Paulo havia pregado. A palavra usada aqui para ‘amor’ é a palavra frequentemente usada para amor divino, e a palavra usada para ‘fortaleza’ é a palavra frequentemente usada para o poder de Deus. É a palavra raiz da qual obtemos nossa palavra em inglês [também em português] “dinamite”. Depois, há a cautela da “sábia prudência”, que significa demonstrar amor divino e usar o poder divino da maneira correta, sob a orientação do Espírito de Deus.


No Velho Testamento, temos a advertência de que “o temor do homem armará laços, mas o que confia no SENHOR será posto em alto retiro [está seguro – ARA] (Pv 29:25 – ACF). Há o perigo de sentirmos o temor de vários acontecimentos ao nosso redor, e talvez o declínio geral das coisas, mas sentir o temor do homem também está errado. O temor do homem pode nos levar ao abandono da nossa coragem de permanecer firmes para com o Senhor, e de honrá-Lo apesar das dificuldades. Em vez disso, devemos ter a atitude tomada no Salmo 118:6 e repetida em Hebreus 13:6: “O Senhor é meu ajudador; e não temerei o que me possa fazer o homem”. Muitos crentes queridos ao longo dos tempos têm corajosamente defendido o Senhor e sofrido as consequências da fidelidade deles.


Deixe-nos, portanto, temer

Contudo, eu acredito que, de acordo com a Palavra de Deus, há momentos e situações sob as quais o crente pode e deve temer. O primeiro deles é o temor quanto a nós mesmos. O Espírito de Deus pôde dizer: “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no Seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás” (Hb 4:1). Além disso, o apóstolo Pedro escreve aos crentes judeus em seu tempo: ... andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação” (1 Pe 1:17).


Esse tipo de temor é bom para um crente, pois significa que não confiamos em nossa própria força, mas dependemos do Senhor. Pedro sabia muito bem como o excesso de confiança em sua vida o fez falhar e, finalmente, negar seu Senhor com juramentos e maldições. Ele estava pronto para ir até a morte pelo Senhor Jesus, mas o comentário de nosso Senhor foi: “na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41). Mais tarde, felizmente ele foi restaurado e foi um servo útil do Senhor, porque ele aprendeu a não confiar em sua própria força. Ele, de fato, deu a sua vida pelo Senhor quando era mais velho.


Encontramos muitos tipos de dificuldades ao nosso redor hoje, e à medida que o estado do mundo se torna mais pecaminoso e contrário ao crente, precisamos cada vez mais confiar na força do Senhor para sermos fiéis a Ele. Quando saímos em Sua força e em temor piedoso, obteremos a vitória.


O temor do Senhor

Juntamente com isso está o que a Escritura chama de “o temor do Senhor”, e essa expressão é usada muitas vezes na Palavra de Deus. Provérbios 22:4 nos lembra que, “O galardão da humildade e o temor do SENHOR são riquezas, e honra, e vida”. Isso foi, é claro, escrito quando as bênçãos terrenais eram um sinal do favor de Deus, mas o princípio permanece o mesmo. Uma humildade saudável está ligada ao temor do Senhor, o que significa que reconhecemos nosso lugar como criaturas e, portanto, nossa responsabilidade para com Deus. Se formos tentados a cair em pecado, o temor do Senhor nos conterá e nos fará perceber duas coisas. Primeiro, vamos perceber que o Senhor quer o nosso bem e nossa bênção e que o pecado só pode trazer problemas e tristeza em nossa vida. A felicidade na nossa vida como Cristãos está ligada à obediência. Em segundo lugar, vamos perceber que há um governo de Deus que não deixará nosso pecado impune. Há consequências para o mau comportamento, e o temor do Senhor nos lembrará disso. Se pecarmos, não perdemos a nossa salvação, mas perdemos o nosso gozo de Cristo, e perdemos a Sua bênção em nossa vida.


Também ligado ao temor do Senhor está o temor de dar um passo sem a Sua orientação. Às vezes, temos confiança em nosso próprio julgamento, e é verdade que é esperado que tenhamos discernimento espiritual ao considerar as questões que surgem de tempos em tempos. No entanto, nossa própria mente e inteligência natural podem facilmente nos desviar, a menos que estejam sob o controle do Espírito de Deus e guiados pela Palavra de Deus. O discernimento espiritual vem de Deus, e isso só pode ser obtido com humildade, andando no temor do Senhor.


Temor enquanto não andava bem

E mais, há um temor que não é normal para um crente que está andando com o Senhor, mas é permitido por Ele para nossa bênção final. Esse tipo de temor também pode ocorrer em um incrédulo, e o Senhor pode usá-lo em bênçãos neste caso também. Refiro-me ao tipo de temor que resulta do que não é julgado em nosso próprio coração.


Quando Adão e Eva pecaram, eles se esconderam entre as árvores do jardim, e a desculpa de Adão foi: “Temi, porque estava nu” (Gn 3:10). Quando Caim matou seu irmão Abel, ele reclamou ao Senhor que seu castigo era maior do que ele poderia suportar. Ele presumiu que todos os que o encontrassem o matariam. Mas por que essa suposição? Não parece que alguém tenha ameaçado matá-lo. Em vez disso, seu temor era por causa do que não estava julgado em seu próprio coração. Ele tinha matado, e projetou o seu pecado nos outros. Muitos anos depois, Deus pôde sustentar Jó diante de Satanás como sendo um homem bom, e é digno de nota que Satanás não discutiu com Deus nem levantou acusações contra Jó. No entanto, quando a angústia veio sobre ele, ele pôde dizer: “Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu” (Jó 3:25 – ACF). Por que Jó temeu? O próprio Deus o havia declarado um bom homem, mas evidentemente havia temor em seu coração, mesmo quando tudo estava indo bem com ele.


A dificuldade com Jó era a mesma que com Adão; ele percebeu que seu coração não estava totalmente correto diante de Deus. Adão estava em uma posição mais séria, pois ele havia desobedecido a um comando direto; estar nu não era o verdadeiro problema. Jó era um homem bom, mas apesar de toda a sua bondade, ele temia a pecaminosidade de seu próprio coração e o orgulho que creditava a si a sua bondade, em vez de dar a Deus essa glória. Novamente, o Senhor pode e usa esse tipo de temor para levar os homens ao arrependimento, seja pecadores ou santos.


Temor santo quanto ao pecado

Finalmente, mencionamos um temor com grande reverência, percebendo que pisamos em solo santo. Lemos em Hebreus 5:7 que nosso bendito Senhor, no Jardim do Getsêmani, “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia”. Aqui estava um temor que nenhum outro poderia ter – o temor de ser “feito pecado”. Aqui estava Aquele que não podia pecar e, portanto, não precisava ter medo de cair no pecado, mas Ele estremeceu em ser feito pecado por nós. Ele não tinha medo do homem, nem temia os sofrimentos físicos da cruz, embora os sentisse como qualquer outro homem. Mas Ele temia ser feito pecado e ir para a morte, pois a morte era o salário do pecado. Esse era um temor piedoso, embora um temor que nenhum outro poderia ter.


Em resumo, então, vemos que há tipos de temor que são errados para um crente, mas alguns que estão certos, e eles são usados pelo Senhor para nos manter longe do pecado e abençoados em nossa alma.


W. J. Prost


 

Não Temer o Homem, mas Temer o Senhor


No ensinamento do Senhor, em Lucas 12, Ele define a consciência de Seus discípulos diretamente à luz do tribunal. “E digo-vos, amigos Meus: não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas Eu vos mostrarei a Quem deveis temer: temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei” (Lc 12:4-5). “O temor do homem traz um laço” (Pv 29:25 – TB) e está intimamente ligado ao “fermento dos fariseus”. Mas “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10) e faz com que o homem sempre se conduza como se estivesse na plena luz do tribunal de Cristo. Isso conferiria imensa dignidade e um caráter elevado, enquanto efetivamente cortaria, de imediato, o espírito de altiva independência, mantendo a alma sob o poder esquadrinhador da luz divina. O efeito da luz divina é tornar tudo e todos manifestos. Não há nada que tenha mais tendência de roubar, do discípulo de Cristo, a devida dignidade de seu discipulado como andar como que diante dos olhos ou dos pensamentos dos homens. Enquanto o fizermos, não podemos ser seguidores desimpedidos do nosso Mestre celestial. Além disso, o mal de andar diante dos homens é moralmente aliado com o mal de procurar esconder nossos caminhos de Deus. Ambos participam do “fermento dos fariseus”, e ambos encontrarão seu devido lugar diante do tribunal. Por que devemos temer os homens? Por que devemos levar em conta as opiniões deles? Se tais opiniões não suportarão o julgamento na presença d'Aquele que tem o poder de lançar no inferno, elas não valem nada, pois é com Ele que temos que tratar. Paulo pôde dizer: “a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por algum juízo humano” (1 Co 4:3). O homem pode ter um tribunal agora, mas ele não o terá depois. Ele pode estabelecer o seu tribunal no tempo, mas ele não terá tribunal na eternidade. Sendo assim, por que devemos moldar o nosso caminho em referência a um tribunal tão frágil e transitório? Que possamos desafiar nosso coração quanto a isso! Deus nos conceda a graça de agir agora com relação ao depois — a nos conduzir aqui com nossos olhos no futuro; olhar o tempo à luz da eternidade.


Confiança

“Se eu, portanto, me elevar acima dos pensamentos e opiniões humanas, como devo entrar em uma cena em que esses mesmos pensamentos e opiniões prevalecem?” Essa é uma pergunta muito natural, mas ela encontra sua resposta completa nos lábios do Mestre. Até dá a impressão de que Ele havia gentilmente antecipado essa questão crescente de incredulidade, quando, tendo levado Seus discípulos acima das névoas nebulosas do tempo colocando-os na clara, esquadrinhadora e poderosa luz da eternidade, Ele acrescentou: “Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido diante de Deus. E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos” (Lc 12:6-7). Aqui, o coração é ensinado não apenas a temer a Deus, mas também a confiar n'Ele; não é apenas alertado, mas também tranquilizado. “Temer” e “não temer” podem parecer um paradoxo para a carne e o sangue, mas para a fé não é um paradoxo. O homem que mais teme a Deus temerá menos as circunstâncias. O homem de fé é, ao mesmo tempo, o homem mais dependente e independente do mundo: dependente de Deus; independente das circunstâncias. A última é a consequência da primeira; verdadeira dependência produz verdadeira independência.


O cuidado do Pai

E note o fundamento da paz do crente. Aquele que tem o poder de lançar no inferno, o Único a Quem ele deve temer, realmente teve o trabalho de contar os cabelos de sua cabeça. Ele certamente não teve esse trabalho com o propósito de deixá-lo perecer aqui ou no futuro. De forma alguma. O detalhamento dos cuidados de nosso Pai deve silenciar todas as dúvidas que possam surgir em nosso coração. Não há nada muito pequeno, e não pode haver nada muito grande para Ele. As incontáveis órbitas que se movem através do espaço infinito e um passarinho caindo são semelhantes para Ele. Sua mente infinita pode absorver, com igual facilidade, o curso das eras eternas e os cabelos da nossa cabeça. Esse é o fundamento estável sobre o qual Cristo estabelece Seu “não temais” e “não andeis cuidadosos (inquietos, solícitos). Frequentemente falhamos na aplicação prática desse princípio divino. Podemos admirá-lo como um princípio, mas é somente na sua aplicação que sua verdadeira beleza é vista ou sentida.


Liberdade de testemunho

Agora, descobrimos, nesta Escritura diante de nós, que o testemunho ousado e intransigente para Cristo está conectado com essa elevação santa acima dos pensamentos dos homens, e essa confiança calma no perfeito e terno cuidado de nosso Pai. Se meu coração é elevado acima da influência do temor do homem e suavemente tranquilizado pela certeza de que Deus leva em conta os cabelos da minha cabeça, então estou em uma condição de alma para confessar Cristo diante dos homens (vs. 8-10). Nem preciso ter cuidado com o resultado dessa confissão, pois enquanto Deus me quiser aqui, Ele me manterá aqui. “E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (vs. 11-12). O único fundamento adequado de testemunho para Cristo é ser plenamente liberto da influência humana e firmado na confiança absoluta em Deus. Na medida em que sou influenciado ou devedor aos homens, estou incapacitado para ser um servo de Cristo, mas posso ser efetivamente liberto da influência humana somente por uma fé viva em Deus. Quando Deus enche o coração, não há espaço para a criatura, e podemos estar perfeitamente certos disto, que nenhum homem jamais teve o trabalho de contar os cabelos de nossa cabeça. Provavelmente nós mesmos não tenhamos tido esse trabalho, mas Deus tem, e, portanto, eu posso confiar em Deus mais do que em qualquer outro. Deus é perfeitamente suficiente para cada exigência, grande ou pequena, e só precisamos confiar n'Ele para saber que Ele é. É verdade que Ele pode e usa os homens como instrumentos, mas se nos apoiarmos nos homens em vez de Deus, fazemos cair uma maldição sobre nós, pois está escrito: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR” (Jr 17:5). O Senhor usou os corvos para alimentar Elias, mas Elias nunca pensou em confiar nos corvos. E assim deve ser sempre. Fé se apoia em Deus, conta com Ele, se apega a Ele, confia n'Ele, espera por Ele, sempre deixa um espaço livre para Ele agir. Fé não obstrui o Seu caminho glorioso por qualquer confiança na criatura, mas permite que Ele Se mostre em toda a realidade gloriosa do que Ele é, deixando tudo para Ele. Além disso, se ela entrar em águas profundas e ásperas, sempre será vista no topo da onda mais alta e, de lá, contemplando em perfeito repouso em Deus e Suas ações poderosas. Isso é fé — esse precioso princípio — a única coisa neste mundo que dá a Deus e ao homem seus respectivos lugares.


C. H. Mackintosh (adaptado)


 

Perfeito Amor


Nada é mais marcado na história e experiência das almas do que a tendência de olhar para dentro, para si mesmo, em vez de olhar para fora, para Cristo. Tem sido bem observado que “fé é o olhar exterior da alma, não o seu olhar interior”. Isso é muito verdadeiro, e, com certeza, seria bom se fosse mais plenamente admitido em nossa mente. O objeto sobre o qual a fé fixa o seu olhar está sempre fora de nós. No terreno de fé, quando olhamos para dentro de nós, perdemos o conforto e a paz que é nosso privilégio desfrutar.


Esse hábito predominante de olhar para dentro, em vez de para fora, tem tido o efeito de roubar de muitos, a beleza divina, a preciosidade e o poder daquilo que é dito em 1 João 4:17 (JND): “para que tenhamos ousadia no dia do juízo”. Esse hábito os coloca sobre a triste e desconcertante questão de examinar o amor deles mesmos, a fim de encontrar a perfeição em tal amor. Essa é uma tarefa sem esperança, pois um pobre, indefeso, indigno pecador, tateando em meio às trevas de seu próprio coração, não consegue encontrar nada “perfeito”.


O perfeito amor lança fora o temor

Nada poderia estar mais longe da mente do Espírito do que o pensamento de nosso perfeito amor, e isso é claro a partir da simples leitura de 1 João 4:17: “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança [ousadia – JND]; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo” (ACF). Agora, como poderia o nosso amor a Deus ser suficientemente “perfeito” para nos dar “ousadia no dia do juízo”? Como poderíamos olhar à frente, com ousadia nítida, para o tribunal, se estivéssemos descansando na perfeição de nosso próprio amor? Como poderia o nosso amor ter um carácter tal que lançasse fora todo o “temor” atormentador do nosso coração? Impossível.


O que, então, o apóstolo quer dizer quando diz: “O perfeito amor lança fora o temor”? Ele quer dizer que o perfeito amor de Deus, manifestado a nós e “em nós aperfeiçoado” no precioso sangue de Seu próprio amado Filho, elimina completamente o temor de nosso coração. Se eu sei que Deus me ama perfeitamente, não tenho motivos para duvidar ou temer. E como Ele revelou o Seu amor por mim? No sangue que fluiu do lado perfurado do Cristo crucificado. Esse sangue não só satisfez as reivindicações de Deus quanto aos meus pecados, mas também expressou o Seu perfeito amor para com a minha alma que perecia. O pecado tinha sido julgado e eternamente afastado por aquele sangue que revelou os profundos segredos do amor que habitam no seio de Deus para com os pecadores perdidos. Logo, o que o “dia do juízo” fará pelo crente? Ele tornará evidente, na perspectiva do céu, da Terra e do inferno, que não há nada contra o crente. A luz do “tribunal de Cristo” mostrará que não há sequer uma partícula naquela “veste branca”; que deve toda a sua pureza ao poder do sangue. O tribunal será tão favorável ao crente quanto o propiciatório é agora. Essa é uma verdade maravilhosa – verdade divinamente calculada para lançar fora o “temor” do coração e substitui-lo por ousadia.


Como Ele é, nós também somos

Mas notemos especialmente a maneira pela qual o amor de Deus é em nós aperfeiçoado. “porque assim como Ele é, nós somos também neste mundo” (TB). Isso, verdadeiramente, é a perfeição do amor. Como o Juiz é, nós também somos. “Somos completos n'Ele” — “aceitos no Amado” — “n'Ele que é verdadeiro” — parte d'Ele mesmo. Ele é a Cabeça e nós somos os membros. Cristo tomou o nosso lugar na cruz. Ele foi feito pecado; Ele foi julgado em nosso lugar. Ele tomou o nosso lugar para que pudéssemos tomar o d'Ele. Ele desceu aos abismos mais profundos de nossa condição, a fim de que pudéssemos ser levantados às mais elevadas alturas de Sua posição diante de Deus. “Porque assim como Ele é, nós somos também neste mundo” (TB). Assim é que o amor de Deus é “em nós aperfeiçoado”, para “que no dia do juízo tenhamos confiança”. Certamente, o Juiz não condenará a Si mesmo. Mas Ele é a minha justiça. Ele não encontrará uma falha em Sua própria obra. Mas essa é a base da minha confiança. Ele fez de mim o que sou e colocou-me onde estou. “Ora, foi o próprio Deus Quem nos preparou para isto” (2 Co 5:5 – ARA).


Não há temor

Portanto, segue-se que, se o pensamento do “dia do julgamento” desperta um único “temor” em nosso coração, é uma prova de que não cremos que Deus nos amou perfeitamente ou que o sangue de Cristo nos purificou perfeitamente. Deus encontrou tudo o que queria na cruz. Ele mesmo resolveu toda a questão do pecado. Ele Se satisfez perfeitamente quanto a isso. Ele conhecia a necessidade e a atendeu. Ele conhecia as exigências e as atendeu. Ele mediu a culpa e a cancelou. Ele afastou o pecado de tal forma que encontrou Sua própria pureza infinita. O pecado é perfeitamente e eternamente posto de lado; o pecador que crê é perfeita e eternamente trazido para perto. O pecado nunca pode ser deixado entrar; O pecador nunca pode ser expulso. Visto que tudo depende da perfeição do amor de Deus, da eficácia do sangue de Cristo e da verdade do testemunho do Espírito Santo, uma única dúvida é um insulto à Santíssima Trindade.


Há quem pense que dúvidas e medos são sinais de vida espiritual. Eles podem ser, da mesma forma que as dores reumáticas são sinais de vida natural, mas quem cobiçaria tais sinais? Quem desejaria tortura perpétua como prova de que está vivo? O apóstolo enfaticamente declara que “o perfeito amor lança fora o temor: porque o temor tem consigo a pena [o tormento – JND]. O que teme não é perfeito em amor” (1 Jo 4:18 - ACF).


“E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” (1 Jo 4:16 – ACF).


C. H. Mackintosh (adaptado)


 

O Espírito, Não de Temor, mas de Poder


As exortações que recebemos em 2 Timóteo 1:3-8 nunca são dadas a menos que haja circunstâncias para exigi-las. Elas são destinadas a enfrentar alguma tendência na carne, para que possamos nos proteger contra tal tendência no Espírito. É bom lembrar que o Senhor lida conosco exatamente como somos; que, em todos os Seus caminhos, Ele leva em conta as circunstâncias em que estamos e não nos leva a outras circunstâncias, como na filosofia.


Com relação aos nossos cuidados e provações, Cristo não nos tira deles. “Não peço que os tires do mundo” (Jo 17:15). Enquanto Ele nos deixa no mundo, Ele nos deixa sujeitos a tudo que é reservado ao homem, mas na nova natureza Ele ensina a nos apoiar em Deus. O pensamento conosco muitas vezes é que, por sermos Cristãos, iremos nos livrar das provações, ou então, passando por elas, não iremos senti-las. Esse não é o pensamento de Deus a nosso respeito.


O Cristão teórico pode ser sereno e calmo; ele pode ter belos livros e ditos agradáveis, mas quando ele tem algo de Deus para abalar sua serenidade, você descobrirá que ele é um Cristão mais consciente das dificuldades que existem no mundo e da dificuldade de superar isso. Quanto mais perto de Deus um homem anda, pela graça, mais terno ele se torna para com as faltas dos outros; quanto mais ele vive como santo, mais consciente ele fica da fidelidade e da ternura de Deus e de como isso foi aplicado a si mesmo.


O exemplo do Senhor Jesus

Veja o Senhor Jesus no Getsêmani: o que encontramos? Nunca uma nuvem sobre Sua alma, a inalterável serenidade. Nunca O vemos fora do Seu centro, Ele é sempre o Mesmo. Mas se olharmos para os Salmos, será que não encontramos algo quebrando a serenidade no íntimo? Os Salmos trazem à tona o que acontecia no Seu íntimo. Nos evangelhos Ele é apresentado ao homem como o testemunho do poder de Deus com Ele, naquelas mesmas coisas que teriam afligido o homem. Ele andava com Deus junto a eles, e assim O encontramos em perfeita paz, dizendo com calma: “A quem buscais?” “Sou Eu”. Que tranquilo! Quão imponente (pois a paz no meio das dificuldades controla)! Quando por Si mesmo, em agonia, Ele transpira como se fossem grandes gotas de sangue, não era serenidade, pois Ele tinha sentimentos de coração no Seu íntimo. Ele sentiu completamente a prova, em espírito, mas Deus estava sempre com Ele nas circunstâncias, e, portanto, Ele estava invariavelmente calmo diante dos homens.


Não devemos esperar nunca ser exercitados, perturbados ou abatidos, como se não tivéssemos sentimento. “Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre” (Sl 69:21). Ele sentiu tudo completamente. Ele foi posto em ferros (Sl 105:18). “Afrontas”, diz Ele, “Me quebrantaram o coração”(Sl 69:20). Mas há essa diferença entre Cristo, em Seu sofrimento e aflição, e nós; com Ele nunca houve um instante de interrupção entre a prova e a comunhão com Deus. Não é isso que acontece conosco. Temos primeiro que descobrir que somos fracos e não podemos ajudar a nós mesmos, e então nos voltamos e olhamos para Deus.


O apóstolo Paulo

Onde estava Paulo quando disse: “Todos me abandonaram”? Sua confiança em Deus não foi abalada, mas olhando ao seu redor, quando ele chegou ao fim de seu ministério, seu coração foi partido por causa da infidelidade. Ele viu o dilúvio do mal entrando (2 Tm 3-4), e o perigo de Timóteo ser deixado sozinho, olhando para o mal, e sentindo sua própria fraqueza. Para que Timóteo não entre em um espírito de temor, ele diz: “despertes o dom de Deus, que existe em ti... porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza [poder – ARA], e de amor, e de moderação. Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus” (2 Tm 1:6-8). Se temos o espírito de temor, isso não é de Deus, pois Deus nos deu o espírito de poder. Ele enfrentou todo o poder do inimigo na fraqueza do homem, em Cristo, e Cristo agora está assentado à direita da majestade nas alturas.


Um participante das aflições

“Participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus” (2 Tm 1:8). O quê! Um participante de aflições? Sim. Da libertação da percepção delas? Não — um participante de aflições que podem ser sentidas como um homem, mas “de acordo com o poder de Deus”! Isso não significa evitar a pressão da tristeza e da fraqueza. Paulo tinha um “espinho na carne” (2 Co 12:7), e ele não sentiu isso? Sim, ele sentia isso diariamente, e como “um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo”. E o que ele disse? “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas [nas coisas em que sou sensivelmente fraco], para que em mim habite o poder de Cristo”. O poder de Deus se colocando ao nosso lado não diminui, em nós, o sentimento de fraqueza, mas lançamos toda a nossa “ansiedade [cuidado – JND] sobre Ele, porque Ele tem cuidado de nós”. Não que no exato momento em que recorremos a Deus tenhamos uma resposta. Daniel teve que esperar três semanas inteiras para uma resposta de Deus, mas desde o primeiro dia que ele decidiu em seu coração compreender e humilhar-se diante de seu Deus, suas palavras foram ouvidas (Dn 10:12). Conosco, muitas vezes, primeiro pensamos sobre a coisa e começamos a trabalhar em nossa própria mente, antes de irmos a Deus. Não havia nada disso em Cristo. “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai” (Mt 11:25). Cansamo-nos na grandeza de nossa senda?


Não andeis ansiosos

“Não andeis ansiosos de coisa alguma” (Fp 4:6 – ARA). Isso é fácil de dizer. Coisa alguma! Seria não ter cuidado com o estado da Igreja, ou a respeito da pressão de uma família? “Ansiosos de coisa alguma”. Tudo o que produz um cuidado em nós, produz o cuidado de Deus por nós; portanto, “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. Então, “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”, não é o vosso coração que guarda a paz de Deus, mas a paz em que o próprio Deus está — a Sua paz, a estabilidade imóvel de todos os pensamentos de Deus, guarda o vosso coração.


Além disso, quando não estamos ansiosos, a mente libertada e a paz de Deus mantendo o coração, Deus coloca a alma pensando em coisas felizes. “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Fp 4:6-9) Deus é o companheiro da alma: não apenas “a paz de Deus”, mas “o Deus de paz”.


Quando a alma é lançada sobre Deus, o Senhor está com a alma na provação, e a mente é mantida perfeitamente calma. O Espírito de amor, o Espírito de Cristo, está presente; se penso em mim, esse é o espírito do egoísmo.


J. N. Darby


 

Sem Temor – Temor Piedoso


“No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena [tormento – JND] (ACF).


Mas há um temor piedoso, que arranca pela raiz uma coisa muito má; um temor que, se um santo dissesse: “Eu poderia fazer isso ou aquilo”, o faria sentir que, “o olho de Deus está olhando para mim”, e ele desistirá de fazer o que disse.


The Young Christian, Vol. 33


 

Os Teus Testemunhos São Fiéis


No Salmo 93:5, lemos estas palavras: “Mui fiéis são os teus testemunhos”. Em conexão com essa verdade, há quase 2.000 anos, nosso Senhor Jesus Cristo (examinando com o olhar que tudo vê, de Deus onisciente, quais seriam as condições na Terra antes de voltar a este mundo com poder e glória) definiu mais claramente o estado das coisas com estas palavras:


“... e, na terra, angústia das nações, em perplexidade [isto é, sem saída, sem solução]; pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo, porquanto os poderes do céu serão abalados” (Lc 21:25-26).


Em todas as coisas, nosso Senhor Jesus deve ter a preeminência; já os profetas deste “presente século mau” estão prestando tributo [obediência] involuntariamente a Ele. Alguns anos atrás, um de seus próprios profetas escreveu um livro intitulado “O Esboço da História”, um livro que ignorava o que Deus tinha a dizer em Sua Palavra quanto à origem e destino do homem, um livro que exaltava a criatura e esqueceu o Criador. Esse mesmo homem, H. G. Wells (depois de examinar o curso dos acontecimentos nos últimos anos), inverteu-se em declarações que assustaram até mesmo seus próprios admiradores. Ele afirmou:


“Este mundo está a ponto de perder suas restrições”.


“O fim de tudo o que chamamos de vida está próximo e não pode ser evitado...”


“As pessoas estão descobrindo que uma assustadora estranheza entrou na vida. Mesmo as pessoas menos observadoras estão revelando, por surtos e sobressaltos, um certo assombro, uma sensação de fuga e recuo de que algo está acontecendo para que a vida nunca mais seja a mesma...”


“... Os escritores estão convencidos de que estamos em um beco sem saída. É o fim...”


“Até agora, os eventos foram mantidos unidos por uma certa consistência lógica, pois os corpos celestiais, como os conhecemos, foram mantidos unidos pelo puxão da corda dourada da gravitação”.


“Agora é como se o cabo tivesse desaparecido e tudo estivesse se dirigindo para qualquer lugar a uma velocidade crescente”.


“Os limites do desenvolvimento ordenado e secular da vida... foram alcançados e entregues para um caos até então inacreditável...”


[H. G. Wells foi um escritor, historiador e jornalista secular, não cristão, cuja vida abrangeu a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX — 1866-1946.]


Ouçamos mais uma vez a voz da Escritura: “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva [a esperança da vinda do Senhor para os Seus como coisa concretizada na alma] apareça em vosso coração” (2 Pe 1:19).


Christian Truth, Vol. 28


 

Sou Eu…Não Temais


Era noite no lago, a mais escura; Homens robustos que o medo desfigura; Viram um espírito - assim eles diziam; Com pavor no coração pelo que viam: Mas ao ouvir: “Tende bom ânimo, sou Eu”, Com a mente refeita, ouvem a Quem o medo removeu.


Nós, também, podemos ouvir um falso alarme, Que fala alto, assusta e faz alarde; Nosso coração grita, com a alma abatida Em mudanças repentinas no caminho da vida, Até ouvirmos a Quem diz, com voz firme e longânimo - “Sou Eu! Não Temais! Tende bom ânimo!”


Às vezes Ele vem com misteriosa aparência - Que aos olhos mortais só revela a resistência; Para o sentido humano, a sabedoria finita, É estranha a bênção que Seu cuidado credita; Então, obscuros enigmas que a noite produz - Revelados são, naquilo que vem do céu em clara luz.


J. D. Smith(adaptado)


 

“O Deus de paz será convosco”

(Fp 4:9).





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