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O Tribunal de Cristo (Junho de 2008)

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Revista mensal publicada originalmente em junho/2008 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          J. N. Darby

          J. A. Trench

          E. Dennett, adaptado de The Christian Friend, 13:149

          J. N. Darby, adaptado de Collected Writings of JND

          Words of Truth, N3:161

          W. J. Prost

          C. H. Mackintosh

          D. C. Buchanan

          W. W. Fereday (adaptado)

          P. A. H. (adaptado)

          Autor desconhecido

          Autor desconhecido

 

O Tribunal de Cristo


Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo; tudo deve ser levado até lá. Mas mesmo assim, sou como Ele mesmo é. O que Ele irá julgar? Como eu cheguei ali? Porque Cristo veio e me buscou. De modo que, quando eu comparecer perante o tribunal de Cristo, é porque Cristo me amou tanto que veio me buscar para estar ali, e em quais condições? Eu estou em glória antes de chegar ao tribunal. Nós compareceremos ao tribunal, mas compareceremos diante d’Aquele que está na presença de Deus como a garantia de nossa salvação. Tudo será trazido à tona e com imenso proveito e ganho para nós. Então saberemos o certo e o errado, como somos conhecidos.

 

J. N. Darby

 

O Tribunal de Cristo


Por que comparecemos no tribunal de Cristo? É porque lá, pela primeira vez, poderemos conhecer Sua graça de maneira completa, como não podemos conhecê-la agora. Todos os nossos caminhos estarão diante d'Ele desde o berço até a glória e, mais do que isso, todos os Seus caminhos para conosco e, então, que irrupção de louvor que nunca se extinguirá irá surgir de nosso coração. É necessário que tudo venha à tona para que finalmente Sua graça tenha seu lugar pleno em meu coração.

 

J. A. Trench

 

O Tribunal de Cristo


“Todos”, diz o apóstolo, “devemos comparecer ante o tribunal de Cristo” (2 Co 5:10). Esta declaração inclui crentes e incrédulos, embora haja um longo período de intervalo entre os julgamentos das duas classes. Mas é com os crentes que agora estamos ocupados. Sua aparição perante o tribunal de Cristo ocorrerá entre Sua vinda e Sua Aparição. Arrebatados para encontrar o Senhor nos ares, eles serão, então, como Cristo, irão vê-Lo como Ele é (1 Jo 3:2), e estarão com Ele para sempre (1 Ts 4:17). O lugar para onde serão levados e em que estarão com o Senhor é a casa do Pai. Isto nós sabemos das próprias palavras do Senhor: “Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos lugar. E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:2-3). Lá, o bendito Senhor tomará todos os que são d'Ele e os apresentará irrepreensíveis diante da presença de Sua glória com grande alegria (Jd 24). Ele e os filhos que Deus deu a Ele aparecerão diante de Seu Pai e nosso Pai, e de Seu Deus e nosso Deus com gozo transbordante! E com grande gozo o próprio Deus contemplará o fruto e a perfeição de Seus próprios conselhos, sendo todos remidos conforme a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito dentre muitos irmãos (Rm 8:29)!

 

O caráter do julgamento 

Algumas observações preliminares devem ajudar muito a entender o caráter do julgamento.

 

O crente nunca será julgado por pecados. Em 2 Coríntios 5, não são os pecados, mas as obras feitas no corpo que são julgadas. De fato, supor que a questão da nossa culpa, nossos pecados, pudesse ser levantada novamente é ignorar, para não dizer falsificar, o caráter da graça e a obra da redenção. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê n’Aquele que Me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação [julgamento – JND], mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24). “Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10:14). A questão do pecado foi resolvida e encerrada para sempre na cruz, e todo crente está diante de Deus em toda a permanente eficácia do sacrifício ali oferecido, e é aceito no Amado. Mesmo agora, portanto, estamos sem mancha diante de Deus, e nossos pecados e iniquidades não serão mais lembrados (Hb 10:17).

 

Esta verdade também é vista quando é lembrado que teremos nosso corpo glorificado e seremos como Cristo antes de sermos manifestados diante de Seu tribunal, pois a ressurreição dos santos que dormiram em Cristo, a transformação dos vivos e o arrebatamento de ambos para a presença do Senhor, precederá Seu julgamento. Isto é consolo indizível, por já sermos como Cristo, teremos plena comunhão com Ele em todo julgamento que Ele fizer sobre nossas obras, e, portanto, nos alegraremos com a exposição e rejeição de tudo o que procedeu da carne em nossa vida aqui embaixo, e não do Espírito Santo. Isso responde às perguntas feitas às vezes, se não devemos tremer e ter vergonha sendo todas as obras de nossa vida Cristã trazidas e mostradas em seu verdadeiro caráter? De fato, como alguém disse, “estamos na luz pela fé quando a consciência está na presença de Deus. Estaremos de acordo com a perfeição daquela luz quando comparecermos perante o tribunal de Cristo”. É algo solene, pois tudo é julgado de acordo com essa luz, mas é aquilo que o coração ama, porque, graças a nosso Deus, nós somos luz no Senhor!

 

As obras feitas no corpo 

Tendo essas coisas em mente, podemos considerar mais de perto a natureza do julgamento em si. Não somos nós que temos que ser julgados, nem, como foi explicado, nossos pecados reaparecerão contra nós, mas, como a própria Escritura diz, “todos devemos comparecer [se manifestar] ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal”. O corpo do crente é do Senhor, um membro de Cristo e o templo do Espírito Santo (1 Co 6:15-19) e, portanto, deve ser usado em Seu serviço para a exibição do próprio Cristo (Rm 12:1; 2 Co 4:10). Por isso a ardente expectativa e esperança do apóstolo era que Cristo fosse magnificado em seu corpo, fosse pela vida ou pela morte (Fp 1:20). É por causa disso que somos responsáveis pelos atos praticados em nosso corpo, de modo que, enquanto fomos aperfeiçoados para sempre por meio da única oferta de Cristo, não poderá haver nenhum pecado além sendo colocado em nossa conta.

 

Cada ato de nossa vida, não apenas atos de serviço, mas todo ato que tenhamos feito serão manifestados, testados e julgados no tribunal de Cristo. O bem será visto e declarado como tal. Enquanto estes foram certamente produzidos em nós e por nós por meio da graça de Deus e do poder do Seu Espírito, eles serão contados em Sua infinita compaixão como nossos, e como tal, receberemos a recompensa. As coisas más, por mais belas que pareceram aqui, também serão vistas e reconhecidas em seu verdadeiro caráter, e pertencentes a ninguém além de nós mesmos, um produto de nossa carne, e receberão sua justa condenação. Nós nos regozijaremos em ver tudo o que desonrou nosso bendito Senhor, embora feito por nós mesmos, recebendo seu justo julgamento. O tempo para segredos desaparecerá, pois aquilo que torna tudo manifesto é a luz, e então tudo será examinado e testado pelo brilho total da luz da santidade daquele tribunal.

 

Nossa responsabilidade 

Vale a pena considerar se essa verdade ocupa o devido lugar em nossa alma. Conhecendo a graça e a plenitude da redenção, existe o perigo de negligenciar ou esquecer nossa responsabilidade. Mas isso nunca deve ser o caso, e a perspectiva do tribunal de Cristo destina-se a exercer uma influência muito prática em nossa alma. A própria conexão na qual ela é encontrada mostra que esse é o caso. “Mas temos confiança”, diz o apóstolo, “e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pelo que muito desejamos também ser-Lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes” (2 Co 5:8-9). A perspectiva preparou a alma do apóstolo, estimulando-o com zelo inabalável em tudo o que ele fez para buscar apenas a aprovação de Cristo. De fato, é precisamente isso que ela faz por nós, permitindo-nos trazer todas as nossas ações para a luz de Sua presença agora, e nos ajudando a fazê-las por e para Ele. Aqui está a nossa força. Satanás é muito sutil e muitas vezes nos tenta a agradar aos homens, mas quando nos lembramos de que tudo será manifestado diante do tribunal, somos imunes a suas armadilhas, sabendo que, se nos recomendarmos aos outros, pode ser que isso desagrade a Cristo. E qual é o proveito de praticar o engano, seja sobre nós mesmos ou sobre os outros, quando a natureza de tudo o que fazemos está muito perto de ser exposta? Ser aceitável a Cristo será nosso objetivo presente na proporção em que tivermos o Seu tribunal diante de nossa alma.

 

E. Dennett, adaptado de The Christian Friend, 13:149

 

Julgamentos Presentes e Futuros


Todo julgamento final será inteiramente dado ao Filho. “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (Jo 5:22-23). O Pai “deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem” (v. 27).

 

O julgamento presente do Pai 

No que diz respeito ao nosso tempo neste mundo, o Pai julga (1 Pe 1:17): “E, se invocais por Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação”. Esse juízo é efetivado na santidade de Sua natureza contra o mal e em Seu cuidado paternal por nós em santidade. Por essa razão, temos que nos julgar e, se não o fizermos, somos julgados pelo Senhor. Há o Seu governo a esse respeito – a “correção do Senhor” (Hb 12:5).

 

Os julgamentos futuros do Filho 

Cristo julgará os vivos e os mortos, em Seu aparecimento e em Seu reino. Agora não é o tempo do julgamento de Cristo; pelo contrário, é o tempo da graça para o mundo. É claro que Deus pode interferir no julgamento, supremamente, se quiser, mas desta vez é o tempo de Sua graça. Quando Cristo aparecer e estabelecer o reino, será o tempo do julgamento. Quando Cristo aparecer para o Seu reino, o julgamento e a justiça andarão juntos na Terra. “Ele tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou” (At 17:31).

 

Quando o Senhor julga os mortos, Ele não vem de modo algum. “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros” (Ap 20:11-12). Aqui não há vinda à Terra. Cristo está assentado em um grande trono branco, e o céu e a Terra fogem. Seu reino é entregue a Deus depois que este julgamento é executado, mas não até então (Veja 1 Coríntios 15:24). Mas há outro julgamento, o dos vivos, para o qual Cristo vem. Esse tempo será como os dias de Noé e Ló – eles estarão comendo, bebendo, comprando, vendendo, plantando, construindo, casando e se dando em casamento. Esse dia de julgamento virá sobre eles como um ladrão na noite – uma cena bem diferente do grande trono branco.

 

Os santos com Cristo em juízo 

Quando Cristo vier em juízo, haverá então aqueles que “por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder, quando vier para ser glorificado nos Seus santos e para se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que creem” (2 Ts 1:9-10). Neste julgamento, os santos anjos vêm com Ele, pois “o Filho do Homem, quando vier na Sua glória e na do Pai e dos santos anjos” (Lc 9:26). No entanto, Ele também traz Seus santos com Ele: “Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória” (Cl 3:4). “Assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14). Esta verdade dos santos vindo com Cristo quando Ele aparecer para julgar os vivos é plenamente ensinada na Escritura. Mesmo no Velho Testamento lemos: “então, virá o SENHOR, meu Deus, e todos os santos contigo, ó Senhor” (Zc 14:5), assim também em Judas: “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos” (vs. 14-15).

 

Julgamento marcial e de sessão 

Antes que o Milênio seja estabelecido, Deus também reunirá todas as nações e as trará a julgamento. A parábola das ovelhas, bodes e irmãos (Mateus 25) descreve este julgamento das nações, embora isto não seja a destruição da besta e seus exércitos e o falso profeta. Este último é executado por Cristo vindo do céu e como um julgamento de guerra, “e julga e peleja [guerreia – JND] com justiça” (Ap 19:11). É a destruição daqueles que, animados por Satanás, se levantam contra Ele. Mas além deste julgamento marcial, há um juízo de sessão – o julgamento das ovelhas e dos bodes. Após a destruição da besta e do anticristo, Cristo assumirá o trono de Jeová na Terra em Jerusalém, pois Jerusalém será chamada de trono de Jeová (Jr 3:17), e o julgamento procederá do Seu trono.

 

No final de Mateus 23, o Senhor, dirigindo-Se a Jerusalém, declara que a casa deles ficaria deserta, e Ele declara que eles não O verão mais até que eles dissessem: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” O Senhor então (no capítulo 24:1-31) dá conta de tudo o que estava relacionado com o testemunho entre os judeus até que Ele veio – quando “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Ele então exorta seus discípulos, e em três parábolas apresenta a responsabilidade dos Cristãos durante o período de Sua ausência, mostrando que o adiamento de seu próprio retorno levaria o ministério público da Igreja à opressão hierárquica e mundanismo, como aconteceu. Então a parte histórica é retomada no capítulo 25:31. “E, quando o Filho do Homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos, com Ele”. Este não será um ato transitório como um relâmpago, mas “então, Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante d’Ele [os gentios]. Israel e os Cristãos já foram mencionados. O evangelho do reino havia saído (cap. 24:14) como um testemunho para todas as nações (todos os gentios). E agora o fim chegou; as nações foram julgadas (os vivos) de acordo como receberam esses mensageiros do reino. É um erro dizer que há duas classes aqui, pois há três – as ovelhas, os bodes e os irmãos. Os bodes tinham desprezado esta mensagem final do reino e foram condenados. As ovelhas receberam os mensageiros e foram abençoadas; o fato de terem cuidado dos irmãos era como se eles tivessem cuidado de Cristo da mesma maneira. Aqueles julgados são as nações (ou gentios) sobre a Terra quando Cristo vier. Cristo como Rei assentará e julgará os gentios – um evento frequentemente mencionado pelos profetas.

 

O nosso julgamento 

Até onde e como o julgamento se aplica a nós – aos santos celestiais? Primeiro, a partir do julgamento dos vivos e dos mortos, eles estão clara e totalmente isentos – quando Ele aparece, eles aparecerão com Ele em glória. Eles vêm com Ele quando Ele vem para executar o julgamento (Cl 3:4; 1 Ts 4; Ap 19). Isto é confirmado pela impressionante cena em Apocalipse 4, onde o trono (não de graça, mas) de julgamento, com trovões, relâmpagos e vozes, é colocado no céu.

 

Precisamos reconhecer que nós todos somos sujeitos à condenação e responsáveis em nós mesmos ao julgamento como responsáveis perante Deus. Essa é uma grande verdade fundamental que está na base da salvação, bem como na base da ira. Nada deve ser permitido para enfraquecer isso, e também, “de maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12). “Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo” (2 Co 5:10). Mas o Cristão, por meio da graça, antecipou isso. Ele reconheceu pelo ensinamento divino que a condenação é sua própria porção; ele sabe que nele, isso é na carne, não há bem algum. Ele reconheceu, por meio de uma obra divina em sua própria alma, o que o pecado é diante de Deus, como o tribunal o mostrará. Mas então ele também reconheceu que Aquele que julgará os vivos e os mortos também Se interveio como Salvador antes de Se tornar Juiz e levou seus pecados em Seu próprio corpo no madeiro. Os pecados, pelos quais ele próprio teria que ser julgado, já foram levados por Outro, e a obra que os afastou está consumada e não pode ser repetida. Quando ele comparecer diante do tribunal de Cristo, ele está diante d'Aquele que afastou, Ele mesmo, todos os pecados dele.

 

Mas, além disso, em que estado o Cristão aparece diante do Senhor? Ele está ressuscitado em glória. Nenhum julgamento pode ser aplicado a ele, que possa afetar o fato de ele estar em glória, pois ele já está nela quando ele aparece lá. Somos “conforme à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29). Qual será o julgamento, se somos completamente como o juiz, e Ele mesmo nossa justiça? E o conhecimento disso é aplicado à nossa felicidade presente neste mundo. “Nisto é perfeita a caridade para conosco, para que no Dia do Juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo 4:17).

 

O terror do Senhor 

Em 2 Coríntios 5, o apóstolo primeiro olha para a porção adequada do santo, não como morte e julgamento, ou mesmo como morte e felicidade. É a mortalidade sendo engolida pela vida – o corpo mortal sendo transformado em glória, sem que a morte necessariamente interfira. Mas a morte e o julgamento caíram na porção do homem, e se a morte interferiu, sua confiança permaneceu inabalável, pois ele tinha vida divina. Se ele estivesse ausente do corpo, ele estaria presente com o Senhor. Então, ele considera o julgamento – chama-o de terror do Senhor, o vê completamente e declara que todos compareceremos diante do tribunal de Cristo. Então, o quê? – Ele treme ou pensa em si mesmo? De maneira nenhuma, ele convence os homens. Seu terror não produz efeito de terror em sua própria mente. Foi um julgamento que, como tal, afetou os outros. No entanto, teve uma influência poderosa em seu coração e consciência. Outros não eram livres como ele era. O pensamento daquele dia desperta o amor de Cristo que nos constrange e ele persuade os homens que não estavam preparados para isso; mas depois, em segundo lugar, os leva ao julgamento de Deus como uma coisa presente de um modo santificador. Nós somos, diz ele, (não que “seremos”), manifestados a Deus. E esse é um efeito importantíssimo – nos trazer de maneira prática à presença de Deus para nos julgarmos, e para fazermos isso quanto ao bem e ao mal, como será julgado naquele dia. Tal era então o efeito sobre Paulo: não havia terror para ele, mas um estímulo para a busca de pecadores não convertidos e para manter sua alma na presença e temor de Deus.

 

Galardão e não condenação 

Outra expressão nesta passagem requer uma observação – “receba segundo o que tiver feito por meio do corpo”. A expressão “julgamento” é cuidadosamente evitada, mesmo quando, em certo sentido, existe tal coisa. O homem logo se transformaria em uma questão de aceitação da pessoa. Já, quanto aos ímpios, não preciso me alongar sobre eles. Eles receberão as coisas feitas por meio do corpo – será a condenação deles; mas no que diz respeito aos santos, eles também receberão as coisas feitas no corpo. Quanto à aceitação, estamos em Cristo, todos tendo Cristo por nossa justiça. Mas os santos têm o privilégio de servir, e no trabalho do Espírito Santo por nós há uma diferença. Nós recebemos por meio da graça a recompensa do trabalho, e cada homem sua própria recompensa de acordo com o seu próprio trabalho. A Escritura fala de receber um inteiro galardão. Os tessalonicenses serão o gozo de Paulo e a coroa de glória, não a nossa, como fruto de seus labores. Se nós construímos com madeira, feno e palha, tudo será perdido, apesar de sermos salvos. Em uma palavra, a justiça está em Cristo, a mesma para todos, mas o serviço é recompensado.

 

Quando isto acontecer, estaremos em glória, e nem mesmo teremos a natureza, a carne em que pecamos. Nós conheceremos como somos conhecidos, e daremos conta de nós mesmos a Deus, uma revisão de toda a nossa vida e de todos os caminhos abençoados de Deus para conosco, veremos tudo como Deus vê, e nos maravilharemos com a graça toda perfeita que nos guiou desde nosso nascimento. Agora, quando olho para trás, adoro a graça de Deus. Então conhecerei como sou conhecido e verei os mil exemplos de como os Seus olhos me observaram para me abençoar. Mesmo agora nós somos manifestados, até em pensar nisso. Devemos dar contas então, de fato; mas será quando formos glorificados, e trazidos para estar com Cristo por Ele mesmo para sempre.

 

Em resumo, então, há um julgamento dos vivos quando Cristo vier e um julgamento dos mortos imediatamente antes do grande trono branco. Haverá um julgamento contínuo quando Cristo retornar, em um sentido mais geral, com o poder associado ao governo de justiça sobre a Terra, durante o Milênio. Para os santos não há julgamento algum: Cristo vem para recebê-los para Si mesmo e os eleva em glória para tê-los com Ele. Mas eles darão conta de si mesmos a Deus quando estiverem em glória, e receberão a recompensa do serviço, embora tenha sido a graça que o produziu neles.

 

J. N. Darby, adaptado de Collected Writings of JND

 

 Homens que Esperam o Seu Senhor 

Lucas 12:36-40

 

Em Lucas 12, o Senhor está revelando os princípios que devem guiar Seu povo em um mundo adverso enquanto Ele estiver fora. O primeiro grande princípio é que “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete sobre os telhados será apregoado” (vs. 2-3).

 

O pecador e o santo 

Esta é uma verdade muito solene – o mundo está andando em um espetáculo vão e as coisas são mantidas em segredo agora, mas está chegando o dia em que tudo será trazido para a luz. Eu não sei até que ponto nosso coração gosta de pensar que tudo será trazido à luz. Se nos afastarmos do pensamento de sermos levados para lá, se temermos o pensamento de que tudo será revelado então, isso prova que nossa consciência ainda não foi trazida para a luz, ou que não estamos andando de acordo com a luz agora. Se esse é o estado da sua alma, sua consciência não está praticamente correta aos olhos de Deus. Se, como pecador, sua consciência ainda não tiver sido purificada, não há nada que possa fazer isso a não ser o sangue de Cristo. Mas, como Cristão, quando estou na luz de Deus, julgo o mal na luz agora, em vez de deixá-lo aparecer depois, quando todos compareceremos diante do tribunal de Cristo.

 

Como pecador, você é capaz de dizer: “Sou um pobre pecador e somente a cruz de Cristo é que me serve”. Isso vai dar muito certo. Mas será que você pode dizer: “Eu sou um pobre pecador, e apenas o tribunal de Cristo é que me serve?” Não, você diz, isso não vai dar certo. Mas quando você, pela fé, passou a sentença do dia do juízo sobre sua própria alma, e aplicou a si mesmo a verdade, “Não há nenhum justo, nem nenhum sequer”, e viu que “os que estão na carne não podem agradar a Deus”, você então vê o que o pecado é diante de Deus agora, assim como o dia do julgamento o mostrará. Quando você aprendeu a bendita verdade que Aquele que julgará os vivos e os mortos, Ele mesmo veio para ser o Salvador, e carregou seus pecados em Seu próprio corpo no madeiro, antes que Ele Se tornasse o Juiz, você então saberá que quando você comparecer diante do tribunal de Cristo, você estará diante d'Aquele que afastou todos os seus pecados.

 

A eficácia da redenção é a coisa toda. O Juiz Se acusou a Si mesmo dos pecados, e como Ele é o Juiz, Ele negaria a Si mesmo se Ele os colocasse novamente na conta de vocês que creem. A obra a qual afastou os pecados está finalizada, e não pode ser repetida. É isso que dá, não apenas esperança, mas “para que no Dia do Juízo tenhamos confiança”. Algumas pessoas têm esperança, e pensam que são mais humildes. Se houver julgamento, deve haver condenação, mas, se eu fui justificado, não há julgamento para mim, pois como chegarei diante do tribunal de Cristo? Ele disse: “Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo”. Ele me ama tanto que está vindo para mim, e mudará meu corpo de humilhação para que possa ser moldado como Seu corpo glorioso, de modo que, quando eu comparecer diante do tribunal de Cristo, isso será em Cristo e como Aquele Cristo que me amou e Se entregou por mim! – Quem veio, Ele mesmo, para me levar para estar com Ele para sempre!

 

Quanto ao julgamento, não existe tal coisa para o santo. Conheceremos assim como somos conhecidos, quando estivermos em glória, conformados à imagem do Filho; quando Ele aparecer, seremos como Ele, pois O veremos como Ele é. Qual será o julgamento, se somos completamente como o Juiz, e Ele mesmo nossa justiça?

 

Lombos cingidos e candeias acesas 

“Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas, as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu Senhor”. É isso que dá o caráter adequado ao lugar do Cristão, enquanto está aqui embaixo – esperando por Cristo! A verdadeira esperança dos santos é a vinda de Cristo para nos receber para Si mesmo. A morte não é propriamente a esperança do Cristão. A esperança “não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”. A mortalidade não é engolida pela vida quando estou morto. Por causa dessa esperança, devemos ser “semelhantes aos homens que esperam o seu senhor”. Você deve ter seus olhos em Cristo como vindo para recebê-lo; este deve ser seu caráter – esperar – para que quando Ele vier, você possa abrir para Ele imediatamente.

 

Em Mateus 25, temos o relato das virgens que não estão vigiando. Sábias e tolas – todas acabaram dormindo; elas não continuaram vigiando. Duas coisas caracterizam o verdadeiro servo após a rejeição de Cristo – “lombos cingidos” e “candeias acesas”, isto é, expectativa de Seu retorno e serviço. Deve haver uma profissão plena, distinta e absoluta em nós, brilhando como as luzes de Deus no mundo. Enquanto estamos aqui neste mundo, devemos ter nossos lombos cingidos. É a posição que temos para servir. Este não é o lugar para descanso, mas para vigilância. Nós devemos vigiar todos os nossos pensamentos enquanto estivermos aqui. Mas o que é o céu? O céu é onde eu posso deixar meu coração ir! Esse é um imenso conforto. Aqui devo ter meus lombos sempre cingidos; aqui minha condição é que meu coração seja mantido em ordem pela Palavra de Deus; aqui estou esperando por Cristo que Se separou como o Homem celestial em glória, para que Ele seja o Objeto diante de nosso coração. Eu estou esperando por Alguém que me ama e está vindo por mim. Ele não envia alguém por mim, Ele próprio vem! Devemos ter nosso coração pronto para recebê-Lo. Um homem que tem a mão na maçaneta da porta está pronto para abri-la no minuto em que ouvir a batida, e é assim que deveríamos estar. Isso não tem nada a ver com profecia.

 

A vinda do Senhor é a esperança do Cristão para si mesmo. Até que o Senhor venha, nosso lugar é estar vigiando, e Ele diz: “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que Se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-Se, os servirá”. Ele nos diz: “Você teve seu coração se esforçando no máximo, e você estava certo em tê-lo assim, mas eu vou levar você para um lugar onde você deve se assentar, e será o Meu deleite ministrar para você”. Eu não apenas recebo a bênção de estar na casa do Pai, mas recebo o bendito Filho de Deus ministrando os deleites da casa para mim. Que figura do amor de Cristo! O amor se deleita em servir, e aqui o Bendito diz: “Eu Me cingirei para que Eu sirva você”. Cristo assumiu a forma de um Servo quando Se tornou Homem. Ele vai desistir de ser Homem? Nunca! E Ele nunca desiste de servir também. Ele tomou outro serviço ao subir ao céu – lavar nossos pés. Ele tem a preeminência em tudo e a preeminência também no serviço. Ele não vai deixar de servir, Ele é o Servo para sempre! E nós que servimos e esperamos por Ele aqui, durante este pequeno período de Sua rejeição, então encontraremos nossa recompensa em descanso e na festa na qual Jesus Se cingirá a Si mesmo para nos servir.

 

Uma coisa faço 

Se formos fiéis a Cristo, podemos encontrar muita oposição do mal contra nós. Mas se sofrermos por causa de Cristo, sejamos mansos como Cristo foi manso, em meio a tudo isso. Ele faz com que a ira do homem O louve e reprime o resto dela. Toda a ira do homem contra Ele só trouxe a plena e abençoada realização do próprio propósito de Deus. O que eu vejo em Sua entrada em Jerusalém? – que até que tenhamos paz no céu nunca haverá paz na Terra. No atual estado das coisas, queremos toda a armadura de Deus, pois a maldade espiritual está nos lugares celestiais. Que possamos dizer como Paulo: “Mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação [vocação do alto – JND] de Deus em Cristo Jesus”.

 

Se o Senhor viesse nesta noite, será que poderíamos cada um dizer: “Este é o meu Senhor, estou esperando por Ele?” Você já conheceu a virtude de Cristo na redenção de não ter nada a temer em Sua vinda, ou está permitindo que o espírito do mundo entre e esconda sua afeição e devoção por Ele? Se Ele viesse, o gozo do seu coração seria abrir para Ele imediatamente? Eu tenho gozo vindo d'Ele até que Ele venha; Eu terei gozo com Ele quando Ele vier novamente.

 

Words of Truth, N3:161

 

Aprovação de Deus 


“E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros” (Lc 13:30).

 

Sabemos que é a estimativa de Deus de nossa vida e serviço para Ele que importará na concessão dos galardões. O homem pode fazer julgamentos neste mundo, mas Paulo poderia dizer: “a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por algum juízo humano” (1 Co 4:3). Ele reconheceu que Deus levaria em conta não apenas as ações, mas também os motivos por trás delas, que só Ele poderia conhecer plenamente. Da mesma forma, o Senhor Jesus deixou claro que aqueles que têm o primeiro lugar neste mundo podem ficar aquém da estimativa de Deus, enquanto aqueles que parecem últimos aqui podem receber uma grande recompensa.

 

Os valentes de Davi 

Acredito que vemos este princípio ilustrado na lista dos valentes de Davi no Velho Testamento. No final de sua vida, Davi leva em conta aqueles que o serviram bem e menciona por nome aqueles cujo caráter e coragem eram especialmente dignos de nota. Em particular, eu gostaria de olhar para os três homens que têm o primeiro lugar nessa lista, e ver na Escritura por que eles têm esse lugar. Sugiro que haja instruções para nós, nas razões da alta recomendação de Davi por eles.

 

Estes homens são nomeados em 2 Samuel 23:8-12: “Adino, o eznita, Eleazar, filho de Dodô, filho de Aoí, e Sama, filho de Agé, o hararita”. Em primeiro lugar, vale a pena notar que, exceto na lista que é semelhante a esta dos valentes de Davi de 1 Crônicas 11, nenhum desses três homens parece ser mencionado em nenhum outro lugar na Palavra de Deus. Nem durante o tempo de rejeição de Davi, nem em todas as suas guerras que se seguiram quando ele era rei, encontramos menção dos nomes desses homens. No entanto, eles recebem o primeiro lugar na lista de Davi.

 

Sugiro que existem várias razões que são dadas para isso. Primeiro de tudo, é evidente a partir da descrição dada em 2 Samuel e 1 Crônicas, que esses homens possuíam uma coragem incomum. Eles enfrentaram momentos incríveis em batalha e tiveram que ficar sozinhos às vezes. Está registrado de Adino, o Eznita, que ele matou 800 de uma só vez. Outros como Eleazar se levantaram e defenderam um campo de cevada quando os homens de Israel fugiram, e Sama defendeu um campo de lentilhas quando outros fugiram (Está claro no relato de 1 Crônicas, e bonito de ver, que Davi ficou com Eleazar defendendo o campo). Tal coragem é notável, e por si só certamente asseguraria sua inclusão na lista de Davi. No entanto, também está claro que a coragem deles nasceu, não apenas da habilidade natural e bravura, mas da fé em Deus e do que Ele poderia fazer em favor deles. Tanto a respeito de Eleazar como de Samá está registrado que “o SENHOR operou um grande livramento” (2 Sm 23:10, 12). Sem dúvida, eles tinham visto Davi matar Golias com apenas uma pedra e uma funda, porque ele confiava no Senhor e eles foram encorajados a fazer o mesmo. Humanamente falando, a possibilidade de vencer uma batalha contra várias centenas seria impossível, mas Deus deu a vitória.

 

O primeiro lugar 

No entanto, acredito que existem pelo menos duas outras razões pelas quais eles recebem o primeiro lugar. Seguindo este relato de coragem em guerras regulares, encontramos outro incidente tocante, e mesmo que o nome destes três homens não seja especificamente mencionados, parece que eles eram os envolvidos. Quando Davi estava na caverna de Adulão, se escondendo de Saul, ele desejou beber água “da cisterna de Belém que está junto à porta” (2 Sm 23:15). Sem dizer a Davi ou a qualquer outra pessoa, esses três homens “romperam pelo arraial dos filisteus” (2 Sm 23:16) para conseguir a água dessa cisterna para Davi. Tal era o seu amor e devoção por Davi que eles arriscaram suas vidas a fim de obter a água que ele desejava beber. Está escrito que Davi não quis beber da água, “mas derramou-a perante o SENHOR” (2 Sm 23:16). Ele tanto valorizou este ato de devoção que ele mesmo fez um sacrifício ao Senhor com a água.

 

O equilíbrio certo 

Nos termos da verdade do Novo Testamento, sugiro que esses homens exibiram, ao menos em figura, o equilíbrio necessário em suas vidas, em adoração e serviço. Em relação à adoração, seus corações tinham Davi com tão grande estima que nenhum esforço ou risco eram grandes demais para dar a ele, durante o período de sua rejeição, aquilo que lhe era devido como sendo o verdadeiro rei. Não houve comando, nenhuma coação – somente um desejo expressado. Mas para aqueles que eram devotos, suas afeições por Davi os fizeram arriscar suas vidas para satisfazer esse desejo. Mais tarde, quando ele já era rei, a água daquela cisterna estaria facilmente disponível, mas havia um custo tremendo para tomar dela durante sua rejeição. Assim é a adoração hoje em dia. Existem obstáculos do mundo, da carne e do diabo, e assim o louvor que é rendido neste período de rejeição do Senhor tem uma qualidade especial. No céu não haverá nenhum obstáculo – “no céu mais doce e alto” (Hinário Little Flock 80) – mas Deus valoriza grandemente aquilo que é dado sob circunstâncias difíceis, e talvez envolvendo grandes custos.

 

A respeito do serviço, eles eram exemplos em sua prontidão de arriscarem suas vidas em batalhas, mesmo que fosse apenas um campo de cevada ou lentilhas que estavam em perigo. Fazia parte da herança de Israel, parte da terra que Deus lhes dera, e eles se recusaram a perder uma pequena parte dela. Então, hoje, nos foi dada a preciosa verdade de Deus concernente ao Seu amado Filho e Seus propósitos concernentes a Ele. Foi-nos dado o privilégio de sermos testemunhas vivas neste mundo e de pregar o evangelho. Alguns podem fugir, achando que o evangelho e a verdade não valem tal esforço, mas Deus valoriza aqueles que defenderão o que Ele nos deu, pois tudo fala de Cristo. Como com esses homens, Ele dará a força necessária, se olharmos para Ele.

 

Tal equilíbrio pode bem ser algo que desejamos, dentro do Cristianismo. Muitos crentes são fiéis no serviço, mas talvez não tenham essa devoção na adoração. Outros podem valorizar muito o privilégio de adorar “em espírito e em verdade” (Jo 4:24), mas serem negligentes quando se trata de serviço. O crente que é realmente dedicado ao Mestre não terá falta de um nem de outro em sua vida. Nós vemos um desequilíbrio em alguns dos outros que estavam associados a Davi. Abisai, por exemplo, excedeu em bravura, e em uma ocasião ele também se opôs a trezentos homens, e obteve grande vitória. Entretanto, ele não compartilhava do coração de Davi e teve que ser repreendido muitas vezes por causa de sua energia e zelo que iam além dos pensamentos de Deus. Outros, como Jônatas, amavam Davi “como à sua própria alma” (1 Sm 18:1), mas não tinham a energia para deixar a corte de Saul e seguir Davi em um caminho de rejeição. Que nós, que temos a luz do Cristianismo, aproveitemos esses exemplos e procuremos, pela graça, sermos diligentes tanto na adoração como no serviço e nessa ordem! Na adoração, nós honramos Aquele que é o verdadeiro Rei, mas que é rejeitado agora neste mundo. No serviço, buscamos Seus interesses aqui e procuramos defender Sua glória, enquanto encaminhamos outros a Ele. Ambos são necessários.

 

Abnegação 

Finalmente, parece que esses três homens estavam contentes em fazer seu trabalho e viverem suas vidas em segundo plano, tendo seus corações direcionados para Davi. Eles não procuravam, como Joabe, uma posição elevada e o reconhecimento público, nem exaltavam seus feitos, como fez Saul e outros. Como resultado, seus nomes foram mencionados apenas na lista dos valentes de Davi (Da mesma forma, é impressionante que o nome de Joabe esteja ausente da lista, embora ele tenha sido o capitão do exército de Davi durante todo o seu reinado. No entanto, o nome de seu escudeiro, que novamente não é mencionado em nenhum outro lugar, está lá). Novamente, nos contentemos em buscar apenas a glória de nosso bendito Mestre, pois certamente Ele é digno de toda honra. Num dia vindouro, no tribunal de Cristo, Ele terá prazer em reconhecer e recompensar todos os que assim fizeram!           

 

W. J. Prost

 

Nós Veremos Como Nunca Antes 


Quando estivermos diante da luz do Tribunal de Cristo, olharemos para traz com um olhar iluminado para toda a nossa carreira, e veremos, como nunca vimos antes, nossos erros, nossas tolices, nossos pecados, nossas fraquezas, nossas segundas intenções. Mas também veremos, como nunca vimos antes, a plenitude da graça de Deus, e a eficácia do sangue de Cristo.          

 

C. H. Mackintosh

 

A Exaltação de José 


As vestes usadas para exaltar José dão uma bela imagem da glória vindoura do Senhor Jesus Cristo e da noiva dada para estar associada a Ele. Os anos anteriores a esse momento foram um período de provação da fidelidade de José por meio das circunstâncias e provações na casa de seu pai, na casa de Potifar e na casa da prisão. José foi o homem acima de todos os outros na casa de seu pai, a quem o pai podia amar com confiança. Mas isso levou seus irmãos a vendê-lo como escravo, depois mergulhar em sangue a túnica de muitas cores e enviá-la de volta ao pai. Novamente, na casa de Potifar, sua fidelidade era o meio de torná-lo o supervisor de toda a casa. Mas ele foi traído pela esposa de Potifar. Sua própria pureza moral foi difamada, e as vestes que lhe foram arrancadas foram usadas como um sinal do mal, fazendo com que ele fosse enviado para a prisão. Enquanto estava na prisão, o comportamento de José ganhou o favor do carcereiro-mor, de modo que ele confiou tudo em suas mãos. Todas essas experiências foram um campo de provas para o tempo em que Deus o exaltaria por toda a terra. Sua justiça prática em circunstâncias tão adversas provou que ele estava bem preparado para esta grande posição.

 

Quando o mordomo se lembrou de suas falhas, José foi apresentado a Faraó como quem interpretava os sonhos. Como a Escritura havia declarado anteriormente, “o Senhor estava com José”, agora ele é capaz de enfrentar a situação. Ele foi capaz de interpretar o sonho de Faraó de tal maneira que Faraó lhe disse: “Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão inteligente e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo”. Ele reconheceu nele as qualidades morais necessárias para que se confiasse toda a riqueza do Egito.

 

O Faraó “o fez vestir de vestes de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai” (Gn 41:42-43). O linho fino é muito significativo, pois é um reflexo das boas qualidades morais que José tinha. O ouro fala da justiça divina, como o linho da justiça prática. Assim, no dia vindouro em que Cristo será exaltado, essas duas características, que o Senhor Jesus manifestou em Sua vida na Terra, são o que O colocará com poder e autoridade no lugar de exaltação em Sua segunda vinda.

 

A noiva vestida de linho fino 

A contemplação disso dá um significado adicional à Escritura em Apocalipse 19:6-9, onde temos a noiva de Cristo vestida de “linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos”. A noiva, com as mesmas qualidades morais que o noivo, cria um relacionamento maravilhoso. Ela é capaz de representar e glorificar adequadamente a Cristo. O linho fino, puro e resplandecente, retrata a demonstração pública de Sua aprovação em relação aos atos práticos de justiça praticados enquanto aqui na Terra. É aqui neste mundo que somos submetidos a todos os tipos de provações e testes que provam como realmente somos. Que o Senhor nos faça ser mais parecidos com Ele.

 

O tribunal de Cristo será, sem dúvida, o meio pelo qual a noiva estará preparada para as bodas do Cordeiro. No tribunal, todas as coisas feitas no corpo durante nossa vida aqui na Terra são apresentadas ao Senhor para revisão. Tudo o que tem Sua aprovação é recompensado. Tudo o que não tiver Sua aprovação será queimado. Para o crente, é um julgamento de obras, não de pessoas. Como será bom ter algo para adornar a ceia das bodas. Que o Senhor, que nos chamou para Si mesmo, como falou o apóstolo Paulo, “vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus, ao Qual seja glória para todo o sempre. Amém” (Hb 13:21).

 

D. C. Buchanan

 

O Terror do Senhor  


“Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo”, tudo deve ser levado até lá. Isso inclui tanto os santos quanto os pecadores. Não que todos comparecerão juntos diante do Senhor, nem com os mesmos problemas. Aqueles que creem em Jesus estão em paz com Deus por meio de Sua obra, estão na possessão da vida eterna em Seu Filho e, portanto, estão além do julgamento. Cristo não pode julgar Sua própria obra. Mas tudo deve ser divulgado, para que possamos conhecer a verdade real sobre Sua graça e sobre nós mesmos, e que quaisquer recompensas devidas por um serviço fiel possam ser concedidas pelo Senhor. Mas quão solene será para alguns estar diante de Cristo! Que confusão de rosto – que ruína eterna! Em toda a nudez da natureza, sem um trapo para cobrir, sem um único apelo – apenas para ser justamente expulso da presença d'Ele para o ai eterno!

 

O pensamento disso despertou o apóstolo e isso se tornou um segundo motivo para serviço e ministério. Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé (2 Co 5:10-11). Será que isso age assim conosco, amados irmãos? Satanás parece determinado em nossos dias a remover completamente esse motivo de serviço. Nunca os terrores do julgamento foram tão suavizados, para não dizer abertamente negados. Mas isso é agir falsamente para com os homens e tornar-se ferramentas do inimigo. Paulo tinha o futuro, com suas questões tremendas e assustadoras, completamente diante de seus olhos, e isso teve o efeito de torná-lo ainda mais zeloso em seu trabalho por Cristo entre os homens.

 

W. W. Fereday (adaptado)

 

 A Glória de Sua Graça  


No tribunal de Cristo, vemos a própria essência da graça. O julgamento do pecado foi suportado por este Bendito na cruz. Ele nos permite confiar n'Ele mesmo. Ele nos fez d'Ele, e agora Ele nos colocou neste mundo para Si mesmo. Quando essa cena termina, Ele nos leva a Seu tribunal, e repassa o que fizemos neste mundo; Ele revê o que Seu próprio Espírito Santo fez por meio de nós neste mundo. Então Ele conta isso para nós, e na grandeza de Sua graça, Ele diz: “Eu o recompensarei por isso” – por aquilo que o Seu próprio Espírito fez por meio de nós. Será que já existiu graça como essa?

 

P. A. H. (adaptado)

 

O Quanto Eu Devo 


“Quando este mundo passageiro estiver acabado,

Quando o sol radiante se tiver posto,

Quando eu estiver com Cristo em glória,

Olhando para a história terminada da vida

Então, Senhor, eu saberei completamente,

Não até então, o quanto eu devo.”

 

Autor desconhecido

 

A Voz do Juiz 


Ele está vindo! Oh, quão solene

Quando a voz do Juiz for ouvida,

E em Sua própria luz Ele nos mostrar

Cada pensamento, ato e palavra.

Ele nos mostrará o que era apenas pecado;

Pequenos atos que havíamos esquecido,

Ele nos mostrará o que foram para Ele.

 

Autor desconhecido

 

“Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-se, os servirá”

Lucas 12:37

 



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