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Orgulho e Humildade (Abril de 2008)

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Revista mensal publicada originalmente em abril/2008 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          W. J. Prost

          A. Miller

          Things New and Old, 8:152

          J. N. Darby

          Adaptado de Things New and Old 3:141

          A. H. Rule, de uma carta

          J. N. Darby

          To Every Man His Work, 1:168

          Adaptado de The Christian Friend, 1898

          J. N. Darby, adaptado de The Girdle of Truth

          Hinário “The Little Flock” hino 283

 

Orgulho e Humildade


Um espírito humilde, a humildade, a sujeição e a obediência caminham juntos. O mesmo acontece com o orgulho, um espírito soberbo, a obstinação e o pecado. O homem pecador é naturalmente orgulhoso. Ele pensa que o que possui é mérito seu e não se considera necessitado de misericórdia ou graça. No entanto, o coração orgulhoso quer ser como Deus e independente de Deus.

 

Nenhum homem é verdadeiramente humilde até que veja e se julgue a si mesmo como realmente é diante de Deus. Ele deve aprender como Jó: “me abomino”, e como o homem em Romanos 7, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”. Deus resiste aos orgulhosos, pois “abominação é para o SENHOR todo altivo de coração” (Pv 16:5).

 

Quando o “eu” é julgado, o homem reconhece o lugar baixo como sendo seu devido lugar e qualquer exaltação provém da graça de Deus e não de seus próprios méritos. Ele olha para longe de si mesmo para encontrar gozo e confiança somente em Deus. Como alguém disse: “A verdadeira humildade não consiste tanto em pensar mal de nós mesmos, mas em não pensar em nós mesmos de forma alguma. Eu sou muito ruim para valer a pena pensar sobre mim. O que eu quero é me esquecer de mim mesmo e olhar para Deus, que é de fato digno de todos os meus pensamentos”.

 

Nosso Senhor Jesus, o Homem perfeito, Se humilhou e tomou o lugar baixo, um lugar de descanso e obediência. Ele nos chama para vir a Ele ali. “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei... aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11:28-29).

 

Tema da edição

 

A Necessidade da Humildade

 

Sempre houve uma necessidade entre os homens pela humildade, pois o orgulho tem sido uma característica proeminente do homem desde a queda. Foi o orgulho que incitou a rebelião original de Satanás contra Deus e um apelo ao orgulho, pelo menos em parte, que Satanás usou para seduzir Eva para desobedecer a Deus. Assim, lemos em 1 Timóteo 3:6 sobre alguém que está em perigo de se ensoberbecer, e assim cair na “condenação do diabo”. Assim, o orgulho é uma das raízes do pecado original do homem, e tem estado desenfreado no mundo desde aquela época.

 

Formas de orgulho 

Nosso orgulho pode assumir diversas formas. Podemos nos ocupar com nós mesmos de maneira positiva ou negativa, e mesmo assim o orgulho pode ser a raiz de ambos. Podemos estar ocupados conosco mesmos, pensando em como somos bons ou, de outra forma, podemos pensar em nós mesmos sobre o quanto somos maus. Embora seja correto perceber nossa verdadeira condição aos olhos de Deus, Ele nunca nos ocupa com o pecado, exceto para julgá-lo. Constante ocupação com a nossa maldade não é a verdadeira humildade, pois o orgulho pode ser alimentado até mesmo quando falamos sobre o quanto somos maus. Mais do que isso, o orgulho pode entrar em coisas espirituais, pois nosso ego pecaminoso, mesmo depois de sermos salvos, não fica melhor do que antes. É esse orgulho espiritual que talvez seja o mais sério.

 

Em Provérbios 6:17, descobrimos que os “olhos altivos” estão no topo de uma lista de sete coisas que o Senhor odeia e que são uma abominação para Ele. Por que o orgulho é tão sério aos olhos de Deus e por que é tão odioso para com Ele? Eu sugeriria que a principal razão é que o orgulho do homem toma a glória que pertence somente a Deus e a entrega para si mesmo. O lugar apropriado da criatura é o da submissão e obediência, enquanto o orgulho promove a rebelião e a desobediência. Assim, é correto dizer, à luz da Palavra de Deus, que toda forma de orgulho está errada e deve ser condenada.

 

Aonde o mundo está indo 

Nestes últimos dias da graça de Deus com este mundo, vemos o orgulho exemplificado em pelo menos duas maneiras. Em primeiro lugar, o orgulho do homem natural e do mundo em geral, sem dúvida, atingirá seu apogeu durante o período da tribulação. A rebelião será abundante em todos os lugares, e mesmo na presença do inconfundível poder de Deus, é registrado naquele tempo que os homens “mordiam a língua de dor. E, por causa das suas dores e por causa das suas chagas, blasfemaram do Deus do céu e não se arrependeram das suas obras” (Ap 16:10-11). Em vista de tudo isso, Deus predisse “que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos” (2 Tm 3:12). Num sentido mais amplo, também nos disse que devemos olhar “para a figueira e para todas as árvores” (Lc 21:29). Embora isso, sem dúvida, será cumprido depois que a Igreja for chamada ao lar, ainda assim vemos o começo dela agora. A figueira representa Israel como nação e todas as árvores falam de outras nações. Cada grupo étnico e raça está exigindo autonomia e insiste em ter sua voz ouvida no cenário mundial. Quando comecei a universidade há quarenta e cinco anos, havia cerca de 120 países nas Nações Unidas. Hoje, são mais de 190, representando uma média de mais de um novo país por ano. O orgulho religioso é frequentemente misturado com isso e resulta em um fanatismo que frequentemente se manifesta em atos de violência para apoiar falsas religiões, bem como ambições nacionalistas. Embora essa situação possa resultar de múltiplas causas e de uma interação de forças econômicas e políticas, o orgulho do homem certamente está na raiz de tudo isso.


Uma atitude babilônica 

Em outra maneira e talvez mais séria, porém, estamos vendo orgulho entre o povo de Deus. Estamos no final de uma dispensação arruinada, no que diz respeito à responsabilidade do homem. O que Deus deu no princípio tem sido negligenciado, e os pensamentos e ações do homem corromperam, no testemunho exterior, o que Deus pretendia. Se levarmos isso a sério, percebemos que nosso lugar é mais do que nunca o de nos humilharmos diante de Deus, buscando Sua mente e não fingindo ser o que não somos. No entanto, descobrimos que, como sempre, o pecado que mais prevalece no mundo é aquele em que a Igreja de Deus tende a cair. Tendo sido libertada moralmente do Egito, a Igreja está sujeita a cair em uma atitude babilônica e o orgulho associado a ela. Essa atitude é revelada na carta endereçada a Laodiceia, em Apocalipse 3, onde o Senhor tem a dizer àqueles que professam Seu nome: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3:17).

 

Mais uma vez, essa atitude, sem dúvida, atingirá seu auge na falsa Igreja, que continuará fingindo ter o nome de Cristo mesmo depois que a verdadeira Igreja for chamada para casa. A falsa Igreja é na verdade chamada de Babilônia, por causa de seu orgulho e rebelião final contra Deus. No entanto, é uma voz para cada um de nós hoje, pois o espírito de orgulho e autossuficiência se mostra agora.

 

Deterioração do testemunho 

Podemos apontar o dedo para os outros, mas é uma coisa solene lembrar que, no Velho Testamento, o orgulho era talvez mais evidente entre aqueles que ainda estavam adorando em Jerusalém – no centro de Deus. Mais que isso, à medida que seu testemunho e poder se deterioravam, seu orgulho parecia aumentar em proporção. Assim encontramos Israel dizendo: “Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este” (Jr 7:4), exatamente no ponto em que Deus estava prestes a levá-los para o cativeiro. Mais tarde, quando o Senhor em graça permitiu que um pequeno número retornasse do cativeiro e restaurasse Sua adoração em Jerusalém, seu orgulho tomou a forma do farisaísmo e eles acabaram crucificando seu Messias.

 

Estamos sujeitos a esse mesmo espírito em nossos dias, e devemos nos lembrar de que quanto mais Deus nos deu, mais necessidade existe de manter isso em humildade. Se Cristo estiver diante de nós, não teremos problema, pois seremos mantidos humildes ao percebermos constantemente quão pouco somos como Ele e quão pouco andamos em Seus caminhos. Se começarmos a olhar para os outros, no entanto, o orgulho em nós mesmos começará a nos inchar, e então Deus estará descontente conosco.

 

O ponto de referência correto  

Vemos essa atitude nos discípulos, enquanto nosso bendito Senhor estava na Terra. Enquanto alguns deles estavam no monte da transfiguração com Ele, foi pedido aos outros discípulos que curassem um menino que estava possuído por um demônio, mas eles não podiam. Mais tarde, eles discutiram um com o outro sobre quem seria o maior, e então João relatou que eles tinham visto um homem expulsando demônios em nome do Senhor. Eles o proibiram, dando como a razão para isso o fato de que ele “não nos segue” (Mc 9:38). O Senhor repreendeu esse espírito, pois, sem dúvida, a ênfase estava em “nós” e não no Senhor. O orgulho havia chegado, e aqui encontramos aqueles que não conseguiram expulsar um demônio proibindo outro que estava evidentemente fazendo isso, porque ele não estava com eles.

 

Mais tarde, o Senhor Jesus coloca a ênfase correta neste assunto quando Ele diz: “Quem Comigo não ajunta espalha” (Lc 11:23). Aqui o Senhor é o ponto de referência e, portanto, nosso desejo deve ser de ajuntar com Ele e não conosco. Ao fazer isso, seremos preservados da frouxidão, e também seremos mantidos longe do orgulho.

 

À medida que o mundo se tornar mais sombrio, sem dúvida veremos o orgulho do homem se agravar e, entre os crentes também haverá uma tendência ao orgulho, mesmo que seja orgulho do que Deus nos deu. Como é inapropriado nesses dias se orgulhar de ter feito grandes coisas, exatamente no momento em que a luz de Deus mostrou quão pouco realmente fizemos. Não! A humildade é o nosso lugar, bem como a confiança em Deus, que nunca Se deixa a Si mesmo sem testemunho e que honra a fé sempre que é exercida diante d'Ele.

 

W. J. Prost

 

A Graça Produz Humildade


Os que são verdadeiramente piedosos são instintivamente humildes. Eles geralmente são reservados e, na maioria das vezes, são pouco conhecidos. Não há humildade tão profunda e real como aquela que o conhecimento da graça produz. Esses humildes e ocultos encontram apenas um pequeno lugar na página histórica. Mas o herege insinuante ou zeloso e o fanático ruidoso ou visionário são demasiado clamorosos para escaparem de ser notados. Por isso é que o historiador registrou com tanto cuidado os princípios tolos e as más práticas de tais homens.

 

A. Miller

 

Humilde e Humilhado

 

Há uma diferença entre ser humilde diante de Deus e ser humilhado por Deus. Sou humilhado por Deus porque não fui humilde. Eu sou humilhado por causa do meu pecado. Se eu tivesse sido humilde, teria recebido a graça para impedi-lo, pois “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (1 Pe 5:5).

 

O único lugar de humildade é na presença de Deus. É quando saio da Sua presença que estou em perigo de ficar soberbo. As pessoas dizem que é perigoso estar muitas vezes no monte. Eu não acho que é quando estamos no monte que estamos em perigo, mas quando saímos de lá. É quando saímos do monte que começamos a pensar que estivemos lá. Então o orgulho entra. Não creio que Paulo precisasse de um espinho quando estava no terceiro céu. Foi depois de ele ter descido que corria o risco de se exaltar – de pensar que ele tinha estado onde ninguém mais esteve.

 

Eu não acredito que pensar mal de nós mesmos é a verdadeira humildade. A verdadeira humildade é nunca pensar sobre nós mesmos – e isso é tão difícil de se encontrar. É constantemente eu, eu, eu. Se você sempre começa uma frase com a palavra “eu”, não há nada que uma pessoa deixe de colocar depois dela.

 

Que corações nós temos! “Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração” (Jr 17:10). Quem, senão Deus, pode conhecê-lo? As pessoas que pensam que sondam seus corações e são rápidas em falar sobre o seu mal, não conhecem realmente os seus corações, nem são verdadeiramente humildes. O fato é que eles mesmos devem estar falando de si mesmos, e seu orgulho é alimentado até mesmo por falarem do quão maus eles são.

 

Things New and Old, 8:152

 

Vontade e Humildade


Obediência, e não ter vontade própria, é a verdadeira humildade, e é para isso que a bondade e a graça de Deus convida o homem. A confiança em Deus leva a alma a se submeter a Ele. Isto é tanto um dever quanto uma necessidade, mas é feito num coração onde existe confiança. É a verdade do nosso relacionamento com Deus e a alma está feliz. Nós não precisamos ter vontade própria; se Deus que nos ama tem uma vontade para nós em todas as coisas, devemos nos encomendar a Ele. Que graça é que o Deus Onipotente está sempre pensando em nós em todos os detalhes de nossa vida!

 

J. N. Darby

 

Esvaziar a Si Mesmo


A plenitude de Deus espera por um vaso vazio. Esta é uma grande verdade prática, muito facilmente declarada, mas envolvendo muito mais do que se pode imaginar a princípio. Toda a Palavra de Deus ilustra esta verdade, a história do povo de Deus ilustra isso, e a experiência de cada crente ilustra isso. Quer estudemos a Palavra de Deus ou os caminhos de Deus, aprenderemos essa verdade tão preciosa que a plenitude de Deus sempre espera por um vaso vazio. Isso vale para o pecador que está vindo a Cristo, e é válido para o crente em todos os estágios de sua caminhada, desde o ponto inicial até o objetivo.

 

O pecador 

Quando o pecador está vindo a Cristo, a plenitude de Deus em amor redentor e misericórdia perdoadora estão esperando por um vaso vazio. O que realmente interessa é fazer com que o pecador tome o lugar de um vaso vazio. Uma vez lá, toda a questão é resolvida. Sim, mas que exercício, quanto esforço, quanta labuta, quanto conflito, quantos esforços infrutíferos, quantos altos e baixos, e quantos votos e resoluções são necessários antes que o pecador seja realmente levado a tomar o lugar de um vaso vazio e esteja pronto para ser preenchido com a salvação de Deus! Quão difícil é esvaziar o pobre coração legalista de sua legalidade, para que seja cheio de Cristo! O coração terá algo de si mesmo para se apoiar e se apegar. Aqui está a raiz da dificuldade. Nunca podemos tirar água das fontes da salvação até que venhamos a elas com vasos vazios.

 

Isto é uma obra difícil. Muitos passam anos de esforços legalistas antes de alcançar o grande ponto moral de se esvaziar a Si mesmo em conexão com a simples questão da justiça diante de Deus. Quando o pecador chega a esse ponto, a questão é considerada tão simples que a maravilha é como que ele pôde ter demorado tanto para se apegar a ela, e por que não havia conseguido isso antes. Nunca há qualquer dificuldade quando o pecador realmente toma o terreno do esvaziamento próprio. A pergunta: “Quem me livrará?” é seguida imediatamente pela resposta: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 7:24-25).

 

Quanto mais um pecador se esvaziar de si mesmo, mais estável será a sua paz. Se o “eu” e seus feitos, seus sentimentos e seus raciocínios não forem esvaziados, haverá dúvidas e medos, altos e baixos, vacilos e flutuações posteriores. Por isso, há a importância vital de procurar se libertar claramente do “eu”, para que Cristo, que é “corporalmente toda a plenitude da divindade”, seja conhecido e desfrutado.

 

O crente 

Esta verdade também se aplica a um crente em todos os estágios de sua caminhada. Às vezes, temos muito pouca ideia de quão cheios estamos do ego e do mundo. Por isso é que, de uma forma ou de outra, temos que nos esvaziar de nós mesmos. Como Jacó de antigamente, lutamos com afinco e mantemos firme nossa confiança na carne, até que, por fim, a fonte de nossa força se seca e o chão de nossa confiança é varrido de debaixo de nós, e então somos forçados a clamar,

 

“Outro refúgio não tenho, 

Minha alma se agarra indefesa a Ti”

 

Não pode haver maior barreira à nossa paz e gozo habitual de Deus do que estarmos cheios de confiança própria. Nós devemos ser esvaziados e humilhados. Deus não pode dividir a casa com a criatura. É inútil esperar por isso. Jacó teve que ter a juntura de sua coxa tocada para que ele pudesse aprender a se apoiar em Deus. O manquejar de Jacó encontrou seu recurso certo em Jeová, o Único que nos esvazia da natureza para que possamos ser cheios d'Ele mesmo. Ele sabe que, na medida em que estamos cheios de confiança própria ou de confiança na criatura, somos privados da profunda benção de sermos cheios da Sua plenitude. Por isso, em Sua grande graça e misericórdia, Ele nos esvazia para que possamos aprender a confiarmos n'Ele como uma criança. Este é o nosso único lugar de força, vitória e repouso.

 

Nossa ambição 

Alguém disse: “Eu nunca fui verdadeiramente feliz até que deixei de desejar ser grande”. Esta é uma admirável verdade moral. Quando deixamos de pretender ser alguma coisa, quando nos contentamos em ser nada, então provamos o que é a verdadeira grandeza, a verdadeira elevação, a verdadeira felicidade e a verdadeira paz. O desejo incansável de ser alguém destrói a tranquilidade da alma. O coração orgulhoso e o espírito ambicioso podem dizer que isso é um sentimento baixo e desprezível, mas quando começamos a aprender d'Aquele que era manso e humilde de coração, quando bebemos em alguma medida do espírito d'Aquele que Se tornou de nenhuma reputação, então vemos as coisas de maneira bem diferente. “Aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. O caminho para subir é descer. Esta é a doutrina de Cristo, a doutrina que saiu dos Seus lábios e está inscrita em Sua vida. “E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio deles e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt 18:2-4). Essa é a doutrina do céu – a doutrina do esvaziamento próprio. Quão diferente isso é do espírito de egoísmo e exaltação própria!

 

Uma voz  

Temos, na pessoa de João Batista, um bom exemplo de alguém que entrou, em alguma medida, no verdadeiro significado do esvaziamento próprio. Os judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para perguntar-lhe: “Quem és tu? Que dizes tu de ti mesmo?” Qual foi sua resposta? Uma de alguém que a si mesmo se esvaziou. Ele disse que era apenas “uma voz”. Ele estava tomando seu verdadeiro lugar. “Uma voz” não tinha muito de que se gloriar. Ele não disse: “Eu sou aquele que clama no deserto”. Não; ele era apenas a voz de alguém”. Ele não tinha ambição de ser nada além disso. Isso era esvaziamento próprio. E observe o resultado. Ele encontrou o Objeto que o absorvia em Cristo. “No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia de dois dos seus discípulos. E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus”. O que foi tudo isso, além da plenitude de Deus esperando por um vaso vazio! João não era nada; Cristo era tudo; portanto, quando os discípulos de João o deixaram para seguir a Jesus, podemos nos sentir seguros de que nenhuma palavra murmurante, nenhum tom de ambição desapontada ou orgulho ferido escapou de seus lábios. Não há inveja nem zelo em um coração esvaziado de si mesmo. Não há nada de sensível, nada tenaz, sobre alguém que aprendeu a tomar o seu verdadeiro lugar. Se João estivesse buscando seus próprios interesses, ele poderia ter reclamado quando se viu abandonado, mas não, quando um homem encontrava seu Objeto que o satisfaz no “Cordeiro de Deus”, ele estava feliz em perder seus discípulos para Ele.

 

Oh! Ambicionemos por um espírito esvaziado de si mesmo – “um coração livre de si mesmo” – uma mente liberta de toda ansiedade sobre as coisas que lhes são próprias! Que possamos ser mais completamente libertos do “eu” em todas as suas operações detestáveis! Então o Mestre poderá nos usar, e nos abençoar. Ouça Seu testemunho sobre João: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11:11). Quão melhor é ouvir isso do Mestre do que do servo! João disse: “Eu sou uma voz”. Cristo disse que ele era o maior dos profetas. Simão, o mágico, se dizia “que era uma grande personagem”. Tal é o caminho do mundo – o modo do homem. João Batista, o maior dos profetas, revelou que ele próprio não era nada – que Cristo estava “acima de tudo”. Que contraste!

 

Adaptado de Things New and Old 3:141 

 

Orgulho Secreto


Acredito que precisamos manter o corpo de Cristo diante de nós e procurar edificar os santos simplesmente como pertencentes a ele, onde quer que possam ser encontrados. Ai de mim! Sabemos como os santos estão dispersos, mas o amor os busca e os busca para ministrar a eles porque são de Cristo. Acho muito fácil mergulhar em uma espécie de espírito sectário, enquanto o terreno pode ser mantido intelectualmente claro o suficiente. É fácil estar procurando construir algo que seja para o olhar do homem. Que o Senhor nos guarde de termos nosso coração voltado para qualquer coisa que não seja aquilo que Ele ama – a Igreja pela qual Ele Se entregou.

 

Quão verdadeiro é que sem Ele, não podemos fazer nada. E não nos tem faltado muito a percepção da dependência d'Ele? E em vez de seguir o caminho humilde d’Aquele que pôde dizer: “Eu sou verme, e não homem”; pensamos que somos algo e nos exaltamos – ai de mim! Isso é apenas para ser rebaixado. Mas quão melhor é a Sua misericórdia a ponto d'Ele nos abater agora, do que nos permitir continuar com orgulho de coração! Ele nos traz para baixo para que Ele possa nos elevar no sentido de Sua própria maravilhosa graça. Eu pensei que talvez muitos de nós não tenhamos percebido suficientemente a total ruína de tudo o que foi colocado sob a responsabilidade do homem. Nós falamos e escrevemos sobre a ruína da Igreja, enquanto secretamente em nosso coração estamos nos orgulhando de que pelo menos há um pequeno círculo onde tudo está certo, e nós estamos nele.

 

É claro que a Palavra e a verdade de Deus não mudam, e sempre é verdade que, onde dois ou três estão reunidos em nome de Cristo, Ele está “no meio” deles. A verdade é tão simples e o caminho tão claro como sempre foi, e assim há sempre um recurso para a fé. Mas se o orgulho está à espreita em nosso coração, pensando que estamos bem, e que “os irmãos” são uma espécie de asilo para o qual o povo de Deus deve ser reunido, onde eles podem estar seguros e cuidados até que o Senhor venha, certamente isso mostra que não aprendeu bem a verdade da ruína da Igreja. E não tem havido mais disso do que talvez estejamos cientes? E, portanto, Deus está nos permitindo aprender sobre a ruína da Igreja entre nós, assim como nossa loucura em nos preparar para ser qualquer coisa. Oh! Que aprendamos bem a lição, que Cristo possa Se tornar tudo para nós, não apenas um Objeto de nosso coração individualmente, mas o Centro ao qual nos reunimos e Aquele que nunca pode falhar, mas que, apesar do fracasso da Igreja e mesmo de apostasia que ameaça tudo, “é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória” (Judas 24).

 

O modo como temos que aprender essas coisas, por causa de nosso orgulho e loucura, é de fato humilhante, e podemos muito bem tomar a lamentação de Davi: “Como caíram os valentes! Não o noticieis em Gate, não o publiqueis nas ruas de Asquelom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos” (2 Sm 1:19-20). Mas é melhor aprender a lição a qualquer custo e por maior que seja a humilhação; certamente é algo abençoado aprender isso, e podemos ter confiança também n'Ele, cuja graça nunca pode falhar e que ama todo o Seu povo com um amor que não acaba.

 

Que sejamos mantidos esperando por Ele, ainda mantendo a Palavra de Sua paciência.

 

A. H. Rule, de uma carta

 

A Maior Humildade

 

Quando Deus coloca a melhor roupa sobre um pecador inútil, a maior humildade é curvar-se e usá-la, sabendo que tudo o mais não serve e são trapos, e que Deus nos deu essa roupa. Se você começar a se perguntar se está em forma, ou disser que não estou em condições de usá-la, isso mostra que você acha possível estar em forma. O Pai “nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”. A verdadeira humildade é aceitar o dom de Deus em graça. Seria loucura ou pior para nós pensarmos em sermos como o Filho de Deus, mas quando Ele diz isso, devemos apenas reconhecer e abandonar nossos próprios pensamentos como maus e aceitar isso como bom. Quando Deus fala, não temos que ponderar sobre nada; nossa parte é crer.

 

J. N. Darby

 

Nosso Conselheiro, Nosso Padrão e Nosso Orgulho 

   

“Jesus! Tu és suficiente para preencher o coração e a mente”

  

Que Objeto temos para ocupar a mente e o coração – o Verbo feito carne, a manifestação na perfeita Humanidade de toda graça moral, envolvendo o coração do próprio Deus! Pouco nos apegamos às excelências, às glórias que resplandecem de Jesus, mas é algo doce considerá-Lo em qualquer de Suas formas de graça. Não estamos apenas encantados ao considerar a Ele, mas temos Sua imagem impressa em nosso coração, temos a Ele mesmo como nosso Exemplo para que possamos andar como Ele andou. Pensemos n’Ele em Sua humildade, Sua mansidão, Sua gentileza – doces graças, que nosso coração possui, muitas vezes carentes em nossos caminhos.

 

Sua humildade 

Em perfeita submissão à vontade de Seu Pai e na presença do mal do homem que recusou Seu amor e bondade, ouvimos essas preciosas palavras de Mateus 11:25-30: “Vinde a Mim... e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”. Seu espírito na palavra profética declara: “Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as Minhas forças; todavia, o Meu direito está perante o SENHOR, e o Meu galardão, perante o Meu Deus” (Is 49:4). Em tal momento, Ele diz: “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”. Ele dá o segredo, que Ele conhecia tão bem, do verdadeiro descanso. Na dependência absoluta, não tendo nada, mas recebendo todas as coisas do Pai, Ele é o Modelo de toda verdadeira humildade e dependência. Sua vida na Terra, no lugar e no relacionamento que Ele havia assumido, era uma constante vivência da plenitude do amor de Seu Pai. Ele sempre foi O dependente. Que padrão de humildade!

 

Em Marcos 10:44-45 Ele dá o segredo da verdadeira grandeza. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos”. Assim, em Jesus, sempre preeminente em graça e glória, nós contemplamos uma vida de perfeita humildade. Esta graça, que pertence ao mais elevado arcanjo diante do trono, bem como a mais humilde das criaturas inteligentes de Deus, é “não apenas uma graça, mas a incorporação na qual todas as outras graças estão contidas”.

 

Sua mansidão 

Somente o que é verdadeiramente humilde pode ser manso.  A percepção de total dependência – de não ter nada – deve produzir no que é exercitado, no espírito interior, a graça passiva da mansidão – a recepção de tudo, seja alegria ou tristeza, d'Ele que é Todo-Sábio e Todo-Bom. Assim, em Jesus vemos mansidão na presença da inimizade do homem, em todos os sofrimentos do caminho da obediência, recebendo todas as coisas, provações e tristezas, como vindas do Seu Deus e Pai. Quando Ele foi rejeitado pelos aldeões samaritanos (Lc 9:51-56), os discípulos teriam chamado fogo para descer do céu para consumi-los, mas Ele disse: “Vós não sabeis de que espírito sois”. E foram para outra aldeia. Novamente em Lucas 8, quando Sua obra de misericórdia na cura do endemoninhado tirou o mal do homem e os gadarenos pediram a Ele que Se retirasse deles: “E, entrando Ele no barco, voltou”.

 

Sua benignidade 

O apóstolo exorta os coríntios “pela mansidão e benignidade de Cristo” (2 Co 10:1). Distinta da mansidão, que está mais no espírito interior, a benignidade é mostrada em atos e maneiras exteriores. Jesus ensina o espírito de benignidade na graça perdoadora do senhor ao servo da parábola (Mt 18:27), o senhor diminuindo sua justa cobrança e perdoando gratuitamente o devedor, e Jesus ensina que, como devedores perdoados nós também, em benignidade, devemos perdoar, não exigindo nem o que possa ser devido.

 

Sua própria benignidade discernimos em Sua resposta a Seu servo e precursor João Batista. Da prisão, João envia mensageiros a Jesus, dizendo: “És Tu Aquele que havia de vir ou esperamos outro?” As circunstâncias difíceis pareciam enfraquecer a fé de João. Em benignidade, Jesus dá a resposta, sem censurar o seu querido servo, mas fala em linguagem que João bem compreende, ao seu coração.

 

Assim, sempre em benignidade, Jesus suporta a ignorância e a vontade própria de Seus discípulos. Pedro aprendeu a benignidade de Seu Senhor em doce graça restauradora após a ressurreição. O Senhor da glória, o mesmo Jesus, encontrou Saulo de Tarso em sua inimizade e ódio para com o nome de Jesus e para com os Seus humildes discípulos, como Paulo escreveu posteriormente, na graça “abundante”. O que Ele era em graça na Terra, tal Ele é em glória.

 

Nosso único Objeto 

O Espírito de Deus O coloca diante de nós, onde Ele está e como Ele é, como o único Objeto para ocupar nosso coração – “nosso Conselheiro, nosso Padrão e nosso Guia”. Devemos ser transformados pela renovação de nossa mente, diariamente, a cada hora, mesmo aqui, trazendo em nosso coração a esperança de que quando Ele aparecer, seremos como Ele, de acordo com o propósito de Deus, totalmente conforme a imagem de Seu Filho.

 

To Every Man His Work, 1: 168

 

A Benignidade de Cristo 


“A mansidão e benignidade de Cristo” (2 Co 10:1). 

Até onde sabemos, essa expressão só é encontrada nessa passagem, mas a característica com a qual ela está ligada, mansidão, explica isso. Além disso, a verdade da benignidade do Senhor resplandece em quase todas as páginas dos evangelhos. É bom que nossa alma medite nisso, embora possamos ser repreendidos pelo contraste que ela oferece à nossa própria dureza e inflexibilidade. O apóstolo a usa como uma base de apelo aos coríntios, que haviam se afastado de seus abençoados ensinamentos e que, se não tinham rejeitado inteiramente sua autoridade apostólica, ainda estavam permitindo que ele fosse deslocado, tanto em suas afeições quanto como seu mestre, por “falsos apóstolos” que “são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo” (2 Co 11:13). Foi nessas circunstâncias que Paulo rogou pela mansidão e benignidade de Cristo. Seus inimigos alegaram que sua presença corporal era fraca e sua fala era desprezível. Não era que o caráter de seu Mestre – Sua mansidão e gentileza – tivesse brilhado por meio de seu ministério! Foi isso que provocou a oposição, para não dizer desprezo, desses defensores do primeiro homem e o que o exalta diante dos olhos dos homens? Não sabemos, mas em todo caso será proveitoso considerarmos esse belo traço de Cristo.

 

A mansidão e a benignidade andam juntas 

O próprio Senhor conecta a mansidão com a humildade (Mt 11:29). Há uma diferença nessas graças morais e, no entanto, pode-se quase dizer que elas estão necessariamente ligadas entre si. Onde uma delas é encontrada, as outras certamente aparecerão, pelo menos na medida certa. A verdadeira humildade só pode brotar do quebrantamento da vontade própria. Onde a vontade foi praticamente colocada de lado por meio de disciplina, haverá também humildade, aquela paciente falta de resistência na presença do mal que aceita cada cálice de tristeza e provação da mão do Senhor e demonstra benignidade de espírito e de comportamento para com todos. Este é o espírito contrito e humilde com o qual Deus Se agrada em habitar ou, como diz Pedro, aquele espírito manso e quieto que é, à vista de Deus, de grande valor.

 

Se entendermos isso, conforme aplicado aos crentes, compreenderemos mais prontamente o que Paulo chama de a “benignidade de Cristo”. Sua vontade nunca precisou ser quebrada (longe esteja tal pensamento!), porque era perfeita. Ele nunca a exerceu, porque Ele veio para fazer a vontade do Pai; Ele estava sempre em completa submissão ao Pai. Ele viveu pelo Pai, nunca Se moveu ou agiu, exceto na palavra do Pai, e assim sempre fez as coisas que Lhe agradaram. Ele não fez nada de Si mesmo, além do que Ele viu o Pai fazer, “porque tudo quanto Ele faz, o Filho o faz igualmente” (Jo 5:19). Assim, quando na presença do mal e da inundação do poder de Satanás, perdendo de vista os cegos e iníquos instrumentos do inimigo, Ele poderia dizer: “não beberei Eu o cálice que o Pai Me deu?” (Jo 18:11) Ele era benigno em face da violência desenfreada. Assim também quando diante do sumo sacerdote e do conselho Judaico, e também diante de Pilatos, Sua mansidão e benignidade eram visíveis tanto em Sua atitude como em Suas palavras. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca. Ele foi levado como um cordeiro mudo ao matadouro, e como uma ovelha diante de seus tosquiadores, assim Ele não abre a Sua boca (Is 53:7).

 

Cristo exemplificado por nós 

Desejamos salientar que o que é visto em Cristo deve ser exemplificado por Seu povo. O mesmo apóstolo escreve aos filipenses: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens” (Fp 4:5). Esta palavra “equidade” é a mesma que é traduzida “benignidade” na passagem em consideração, e esta é realmente a sua verdadeira força. Outra palavra foi sugerida, a saber, a submissão, mas a submissão é apenas a expressão de um espírito gentil. Em Filipenses, é a conduta exterior que está em vista, e conduta externa ou comportamento para com todos, crentes e incrédulos, pois diz: “a todos os homens”. A forma que a gentileza assumiria para com os homens seria a de nunca insistir nas próprias opiniões ou direitos imaginários, mas buscar, com um espírito castigado e subjugado, se retirar e ocupar o lugar mais baixo na presença dos outros, cedendo tudo àqueles ao redor, exceto onde a fidelidade a Deus e à Sua Palavra requer firmeza. Que motivo poderoso é dado para o cultivo da benignidade nas palavras: “Perto está o Senhor” (Fp 4:5)! Em vista de Sua vinda, podemos nos contentar em deixar tudo o que nos afeta para o acerto de contas daquele dia.

 

Se, então, a gentileza de Cristo deve ser reproduzida no crente, a questão pode ser proveitosamente considerada. Como isso é efetuado? O obstáculo a ela está claramente no caráter da carne em nós – sua impaciência, impetuosidade, obstinação e vontade própria. Isso pode ser discernido até mesmo no caso de Pedro, cujos fracassos durante a sua companhia com o Senhor na Terra podem todos ser direcionados para a avidez da carne, apesar de sua ardente afeição por seu Senhor. É essencial, portanto, antes que a benignidade de Cristo possa ser exibida, que o caráter da carne seja experimentalmente aprendido. Precisamos descobrir, mesmo que por dolorosa disciplina, que não há nada de bom na carne. Então, podemos saudar com gratidão as boas novas da graça – de que a carne já se manifestou diante de Deus para julgamento na cruz de Cristo e foi retirada de diante de Seus olhos para sempre. Em um novo estado então entramos e somos aceitos – o estado de estar “no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós” (Rm 8:9). Então haverá liberdade para nos ocuparmos com Cristo, Aquele que nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós. Suas afeições divinas serão formadas dentro de nós, de modo que, enquanto estivermos buscando uma crescente intimidade com Cristo, Ele será formado dentro de nós e será manifestado mais claramente por meio de nossa caminhada e conduta.

 

O obstáculo removido 

Nossa vontade é a dificuldade no assunto de benignidade. Ajudaria a remoção deste obstáculo se fosse visto e confessado que a vontade da carne é má e nada além disso. “E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado”, pois o corpo governado pelo pecado na carne não pode produzir nada além do pecado. Se Cristo está em você – que pensamento! Se Ele está, certamente desejamos que Ele assuma o controle total, e então Sua abençoada vontade nos governaria para Seu próprio prazer. Então, nos deleitaremos com Aquele que Se tornou o Objeto do nosso coração. Então, constrangidos pela afeição a buscar a intimidade de Sua companhia, seremos diariamente conformados à Sua imagem, e assim Seus próprios benditos traços morais, Sua mansidão e benignidade, serão formados dentro de nós e revelados em nossos caminhos e maneira de viver. Mas as palavras do apóstolo devem ser relembradas nesta conexão: “trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Co 4:10).

 

Adaptado de The Christian Friend, 1898 

 

O Caráter e a Energia do Cristão

 

Filipenses 2 nos dá o caráter Cristão, ou como homens falam, a graça Cristã; o capítulo 3 nos dá a energia que eleva o Cristão acima das coisas do presente. O capítulo 2 fala de Cristo descendo e Se humilhando; e o capítulo 3 fala d'Ele no alto, e do prêmio de nossa vocação celestial.

 

Um pouco de cuidadosa atenção mostrará que o capítulo 2 apresenta os graciosos frutos conectados com o estudo de coração sobre a humilhação do bendito Senhor e a absorção do espírito dessa humilhação. O capítulo 3 dá a imagem daquela energia abençoada que considera o mundo como escória, vence no caminho e aguarda o tempo em que o poder do Senhor terá subjugado até o poder da morte em nós e todos os seus efeitos, e nos transformará em glória. Precisamos desses dois princípios e dos motivos relacionados a eles. Podemos ver muito da energia do Cristianismo em um crente e nos regozijarmos com isso, enquanto outro exibe muita graciosidade em seu caráter, mas nenhuma energia que vença o mundo. Onde a carne, ou mera energia natural, se mistura em nosso caminho com a energia divina, o caminho do crente sincero e devoto requer ser corrigido pelo primeiro – mais comunhão interior e semelhança graciosa com Cristo, mais se alimentar do Pão que desceu do céu. Além de exibir Cristo, daria peso e seriedade à sua atividade – tornando-a mais real e divina. Por outro lado, aquele que mantém um comportamento gracioso e julga, talvez, o que vê como sendo carnal na energia de outro, falha ele próprio nessa energia e lança uma ofensa sobre aquilo que é realmente de Deus em seu irmão.

 

Graça e devoção 

Ah, se soubéssemos como nos julgar um pouco a nós mesmos e sermos completos em nosso caminho Cristão, se tivéssemos proximidade com Cristo o suficiente para atrair d'Ele toda graça e toda devoção e para corrigir em nós mesmos o que quer que tente estragar um ou o outro! Não que eu espere que todos os Cristãos tenham sempre todas as mesmas qualidades. Eu não acho que é a mente de Deus que eles devam ter. Eles devem se manter humildemente em seus lugares. O olho não pode dizer à mão, não tenho necessidade de ti, nem a mão aos pés. A completude está em Cristo somente. Dependência mútua e completa um do outro sob Sua graça é a ordem do Seu corpo. É difícil para algumas mentes ativas pensar assim, mas é a verdadeira humildade e contentamento não ser nada e servir e estimar os outros mais excelentes que nós mesmos. Eles têm aquilo em que somos deficientes. Nossa parte é fazer o que o Senhor nos propôs a fazer, servir e contar com Ele para tudo, pois na verdade Ele o faz, e ficar contente em ser nada quando temos feito em silêncio a Sua vontade, para que Ele seja tudo.

 

A humilhação de Cristo 

O capítulo 2 nos traz a humilhação de Cristo, mas o modo como é apresentada é muito belo. Os filipenses, que já no início da história do evangelho mostravam graça a esse respeito, haviam pensado em Paulo em sua prisão distante e Epafrodito que, dando efeito ao seu amor e cheio de zelo gracioso, não considerou sua vida para realizar este serviço e ministrar às necessidades do apóstolo. O apóstolo faz um uso comovente desse amor dos filipenses, enquanto o reconhecia como um refrigério da parte de Cristo. Ele havia encontrado “conforto em Cristo... consolação de amor... comunhão no Espírito... entranháveis afetos e compaixões” no renovado testemunho do afeto dos filipenses. Seu coração foi atraído também para eles. Se eles o fizessem perfeitamente feliz, eles deveriam estar completamente unidos e felizes entre si mesmos. Quão graciosamente e com que delicadeza ele se volta para notar suas falhas e perigos aqui em associação com suas expressões de amor para com ele! Quão calculado para ganhar e fazer quaisquer Evódia e Síntique envergonharem-se de disputas onde a graça está assim em ação! Então ele fala dos meios para andar neste espírito. Todos devem pensar nos dons e vantagens espirituais de seu irmão, assim como dos seus. Para fazer isso, ele deve ter a mente que havia em Cristo. Isso nos leva ao grande princípio do capítulo.

 

O primeiro Adão 

Cristo é apresentado em total contraste com o primeiro Adão. O primeiro homem se colocou em posição para ser igual a Deus: “Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:5). Como resultado, ele se tornou desobediente até a morte. Mas o Bendito, sendo em forma de Deus, não o teve por usurpação, e na forma de um servo foi obediente até a morte. Ele era realmente Deus, como Adão era realmente homem, mas o ponto aqui é observar a condição e o status de cada um, respectivamente, e um veio em ambição e Outro em graça. Cristo era verdadeiramente Deus mesmo quando Ele tomou a forma de um homem, mas Ele tomou a forma de um servo e também era realmente um Homem e um Servo em graça. Cristo em amor Se humilhou, enquanto Adão por egoísmo buscou ser exaltado. Cristo foi exaltado como Homem, enquanto Adão foi rebaixado com tal. Não foi meramente que Cristo suportou pacientemente os insultos dos homens, mas Se humilhou a Si mesmo. Isso era amor. Havia dois grandes passos nisso. Sendo na forma de Deus, Ele tomou a forma de homem, e como Homem Ele Se humilhou a Si mesmo e foi obediente até a morte, e isto, a morte da cruz. Essa é a mente que deve estar em nós – o amor se tornando em nada para servir aos outros. O amor se deleita em servir, o ego gosta de ser servido. Assim, a verdadeira glória de um caráter divino está na humildade, enquanto o orgulho humano se mostra no egoísmo. Quando a primeira está em nós, desenvolvem-se afetos e devoção graciosos e contando com afeições graciosas que em outros são desenvolvidas, uma fonte de genuíno gozo e bênção para a Igreja.

 

Amor que se sacrifica a si mesmo 

Graciosas afeições fluem dessa humildade, na qual o “eu” desaparece pelo amor. “E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós”. Ele faz da fé dos filipenses a principal coisa – era a oferta a Deus. Sua parte era apenas suplementar em relação a isso, embora fosse para a morte. Pois os filipenses eram de Cristo, o fruto do trabalho da alma de Cristo, a coroa de Cristo e gozo como Redentor. Então o apóstolo os viu e se alegrou neles. Seu serviço havia ministrado para isso. Se seu serviço continuasse e ele abrisse mão de sua vida, ele se regozijaria nisso, tanto mais evidentemente o amor abnegado, pois o amor se deleita nisso. E eles, por esta razão, deveriam se regozijar com ele, pois era realmente sua glória, assim, entregar-se por Cristo.

 

Vestido com Seu caráter 

Se olharmos para nós mesmos, nunca poderíamos falar em nos humilhar, pois não somos nada. Mas praticamente em Cristo, a mente que estava n'Ele deve estar em nós, e na graça temos que nos humilhar, ter a mente que estava n'Ele, terminar com o nosso “eu” e servir. Então esses amáveis frutos da graça fluirão sem impedimentos, qualquer que seja o estado da Cristandade ao nosso redor. Devemos operar nossa própria salvação com temor e tremor em meio aos perigos espirituais da vida Cristã, evitando pretensões de grandeza e distinções espirituais. Deus trabalha em nós e isso dá a noção da seriedade e realidade do conflito em que estamos engajados; obediência, a coisa mais humilde de todas, pois não há vontade nela, caracterizando nosso caminho, buscaremos a mente de Cristo e seremos revestidos de Seu caráter. Bendito privilégio! Sejamos mais zelosos em mantê-lo do que nossos direitos humanos e importância, e as benditas graças do amor celestial fluirão e manterão juntos os corações dos santos, em um amor que tem primariamente Cristo por seu objetivo. Em tal estado, é fácil considerar os outros melhores do que a nós mesmos. Como Paulo viu o valor dos filipenses para Cristo, ele apenas se ofereceu pela fé deles. Isso se torna fácil, porque quando estamos perto de Cristo, vemos o valor dos outros para Ele e n’Ele, e vemos nosso próprio nada, talvez também nossas próprias falhas no amor.

 

J. N. Darby, adaptado de The Girdle of Truth 

 

A Necessidade de Humildade

 

“Fostes chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” 

(1 Co 1:9).

 

“A nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” 

(1 Jo 1:3).

 

  

Quando contemplamos a maravilhosa cruz

Na qual o Senhor da glória morreu,

O nosso mais rico ganho consideramo-lo uma perda,

E desprezamos todo o nosso orgulho.

 

Não permita, Senhor, que nos vangloriemos,

Exceto na morte de Cristo, nosso Deus;

Todas as coisas vãs que mais nos encantam,

Nós as sacrificaríamos por Seu sangue.

 

Da Sua cabeça, das Suas mãos, dos Seus pés,

A dor e o amor fluíam misturados;

Alguma vez tal amor e tristeza se encontraram,

Ou espinhos compuseram uma coroa tão rica?

 

Se todo o reino da natureza fosse nosso,

Isso seria uma oferta demasiado pequena;

Amor que transcende os nossos maiores poderes,

Exige a nossa alma, a nossa vida, tudo.

 

Hinário “The Little Flock” hino 283

 

“Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”

(Mt 11:29)

 

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1 Comment


elianeoliveiravila
Sep 13

Quão maravilhoso é desfrutar das coisas lá do alto. Onde pela fé, somos constrangidos a deixar tudo, para seguir a Cristo, reconhendo ter nEle tdo que precisamos, em dependência e obediência a Palavra de Deus.


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