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ÍNDICE
Os Evangelistas - Meditações Sobre os Quatro Evangelhos
J. G. Bellett
Parte 3
Mateus 21-23
Esta porção do nosso Evangelho abre com a terceira e última apresentação de Cristo a Israel. Ela é de acordo com a voz do profeta Zacarias. “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta” (Zc 9:9).
Tudo é feito em plena solenidade. O teste do coração de Israel será aplicado sob todas as vantagens; o caminho, permita-me dizer, do nosso Deus em todas essas ocasiões.
Quando Adão, no princípio, foi colocado no jardim para guardá-lo, tudo era para ele; não havia nada em todo aquele estado de então que não pudesse declarar a ele a respeito de seu Criador. Assim, depois, quando Noé foi colocado no novo mundo, ele estava lá sob todas as vantagens de honra e felicidade; o arco na nuvem sendo uma testemunha viva para ele, se necessário, de que o Senhor Deus estava atento a ele e seria Fiel. Israel na terra de Canaã não precisava de nada. “O que mais poderia ter sido feito à Minha vinha, que Eu não tenha feito?” foi a demanda do Senhor diante de Seu povo. A sebe foi levantada, a torre foi construída, o lagar foi cavado e a videira mais escolhida foi plantada. E então agora, nada está faltando nessas propostas ou apresentações do Messias a Israel. O Belemita nasceu de acordo com o profeta, e Ele era “grande até os fins da terra” (AIBB), de acordo com o mesmo profeta, os gentios do extremo oriente vieram a Belém para que pudessem adorá-Lo. A Luz brilha desde a Galileia, da terra de Zebulom e Naftali, de acordo com outro profeta; e uma “grande Luz” de fato, como ele havia falado, ela se revela, surgindo como que com cura em suas asas sobre um povo que estava habitando na terra da sombra da morte. E agora o Rei prometido por um terceiro profeta aparece, de acordo com a palavra que havia sido dita antes sobre Ele, e em plena solenidade. As harmonias de muitas vozes da Escritura podem ser ouvidas agora. Os Salmos 8, 24 e 118, bem como Zacarias 9, estão em nossa audição nesta grande ocasião.
O momento foi realmente cheio de maravilhas. “Do SENHOR é a Terra e a sua plenitude”, é ouvido; pois o dono do jumento reconheceu o senhorio de Jesus, e colocou Seu supremo título acima do seu próprio. O próprio jumento, assim como seu dono, estava no poder do momento; pois o jumentinho acompanhava a mãe, ou a mãe acompanhava o seu jumentinho; mal podemos dizer qual era o que acompanhava, e não importa; ambos foram trazidos, e trazidos juntos a Jesus; pois não haveria então nenhuma transgressão nas empatias da natureza. O cabrito não poderia, em tal momento, ser cozido no leite de sua mãe. Aquele momento foi como o amanhecer do dia milenar, e a criação deve tomar sua parte na alegria e poder disso. O povo, por suas hosanas e seus ramos de palmeira, estava contando sobre um dia feliz, uma festa de tabernáculos para as tribos do Senhor; e se a multidão assim exulta em suas hosanas, os animais exultarão em seus fardos. No dia da Sua tentação, os animais selvagens estavam com o Senhor, para testemunhar que o Éden não havia sido perdido por Ele (Marcos 1:13); então aqui, os animais de carga se regozijam em seu serviço, como se o reino tivesse sido agora introduzido por Ele, e a criação tivesse sido libertada de seus gemidos.
Certamente, mais uma vez posso dizer, foi um momento cheio de maravilhas, uma hora brilhante e festiva de fato. Isso não tinha sido assim nos dias de Samuel. As vacas mugiam então, enquanto iam, pois seus bezerros foram deixados para trás, enquanto elas, as mães, carregavam a arca para Bete-Semes (1 Samuel 6). A natureza pode receber uma ferida então, e continuar em seu gemido; mas agora, na presença do Senhor do mundo milenar, a natureza se regozija.
Quão simples, mas quão grandioso e brilhante, é tudo isso! É, no entanto, apenas por um momento. Tudo isso é assim, para que, quer ouvissem ou não, Israel soubesse que o clamor de um Rei estava perto deles. A questão era: Eles o receberiam entre eles? Mas não; novamente eles “não quiseram”. Se o Belemita era exilado, e a Luz de Zebulom brilhou na escuridão que não a compreendeu, o Rei será um Rei impedido e rejeitado. Ele entra na cidade em meio ao alvoroço da multidão. “Quem é Este?”, eles dizem. Ele dá cumprimento ao zelo do Messias de acordo com o salmista (Salmo 69:9). Ele cura, como fazendo as obras reconhecidas do Filho de Davi. Mas rapidamente, em vez de clamores e regozijos, insultos e desafios O aguardam na cidade real. A inimizade dos principais e representantes de Israel logo se manifesta; eles destituem o Pastor, a Pedra de Israel; eles estão profundamente descontentes com o Filho de Davi; e pensam apenas em como podem matar o Herdeiro da vinha.
O que resta para Ele agora? O que Ele tem que fazer agora? Esta é a rejeição do Rei que trouxe a salvação com Ele, após a rejeição do Menino de Belém e da Luz da Galileia. O que resta? “Porque seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis?” “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono, mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende”. Essas vozes podem ser ouvidas agora. “Eis o fim. O fim é vindo” (TB) pode ser ouvido da mesma forma. A figueira estéril é, portanto, amaldiçoada de acordo com a parábola, agora ela está cortada. Ela havia sido poupada por três longos anos, e tinha conhecido a paciência do lavrador cavando ao redor dela e adubando-a; mas ela ainda era estéril. “Nunca mais nasça fruto de ti” é agora dito a ela. A maldição é pronunciada, pois o tempo de longanimidade passou; “e,” como lemos, “a figueira secou imediatamente”.
Tal foi o resultado solene desta terceira e última apresentação de Si mesmo como seu Messias, Jeová-Messias, a Israel, e a rejeição de Israel a Ele.
Os discípulos se maravilham com a figueira, que o Senhor amaldiçoou, murchando tão rapidamente; e Ele então entrega o oráculo sobre a remoção da montanha; um símbolo de algo ainda mais estranho e terrível do que o murchamento da figueira. “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito”. Tudo deve ceder. As poderosas barreiras que os homens ergueram contra o estabelecimento do poder do Senhor na Terra serão colocadas de lado, e então os homens aprenderão “que Tu, a Quem só pertence o nome de JEOVÁ, és o Altíssimo sobre toda a Terra”; e “se firmará o monte da Casa do SENHOR no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros”.
Betânia era Seu refúgio nesse momento. Rejeitado e, portanto, como um Estranho aqui, Ele encontra Seu lugar na família de fé que O amava em meio à inimizade do mundo. E quando Ele retorna novamente, como Ele faz, da aldeia à cidade, de Betânia para Jerusalém, não é, como tinha sido até então, para renovar e prosseguir Seu serviço de amor e poder, mas para expor e convencer Israel, e deixá-los sob condenação. Isso vemos ainda mais no decorrer destes capítulos (Mateus 21-23).
Nas parábolas dos dois filhos, dos lavradores maus e das bodas do filho do rei, que Ele profere em meio aos principais do povo, em Seu retorno a eles de Betânia, Ele convence Israel de desobediência a todos os caminhos de Deus, seja a lei, pelo ministério do Batista, ou pela graça dos Judeus. Ele está então em pleno confronto direto com os grandes representantes da nação, herodianos, saduceus e fariseus; respondendo-lhes e questionando-os. E tendo passado por tudo isso, tendo-os exposto e silenciado, Ele conclui pela evidência de sua culpa e profere a sentença de justiça. Israel é julgado e abandonado. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vos ficará deserta”.
Ele então sai com Seus apóstolos para o Monte das Oliveiras. Na linguagem do profeta Zacarias, Ele pega Sua vara “Suavidade [Formosura – TB]” e a corta em pedaços; isto é, Ele Se retira de Israel; pois, quer eles saibam ou não, Ele é sua formosura, sua glória, sua perfeição.
O tempo havia chegado completamente para isso. A Pedra havia sido rejeitada pelos construtores, de acordo com o salmista; os três pastores, herodianos, saduceus e fariseus, haviam sido cortados como em um mês, de acordo com o profeta; portanto, o Senhor não mais apascentaria o rebanho, de acordo com o mesmo profeta (Zc 11; Sl 118).
Foi também neste momento, no final de Mateus 23, que o Senhor pode ser visto e ouvido olhando para trás, para Israel, e Seu último ministério no meio deles, como com a linguagem de Isaías em Seus lábios: “Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual Eu a repudiei? Ou quem é o Meu credor, a quem Eu vos tenha vendido? Eis que por vossas maldades fostes vendidos, e por vossas prevaricações vossa mãe foi repudiada. Por que razão vim Eu, e ninguém apareceu? Chamei, e ninguém respondeu? Tanto se encolheu a Minha mão, que já não possa remir? Ou não há mais força em Mim para livrar? Eis que, com a Minha repreensão, faço secar o mar, torno os rios em deserto, até que cheirem mal os seus peixes, pois não têm água e morrem de sede. Eu visto os céus de negridão e pôr-lhes-ei um pano de saco grosseiro por sua cobertura” (Is 50).
Que antecipação! O Espírito no profeta parece respirar este exato momento de Mateus 23. Jerusalém é agora como uma esposa divorciada, repudiada por suas transgressões. Seu Criador tinha sido seu Marido, o Senhor dos exércitos. Nos dias anteriores a estes do Evangelho de Mateus, nos dias dos juízes, dos reis e dos profetas, ela tinha sido como uma mulher amada por seu amigo, mas uma adúltera. Os deuses das nações tinham sido sua confiança. Agora seu próprio Deus foi recusado. Ele tinha vindo e chamado, mas não havia ninguém para responder. E ainda assim, certamente, Ele poderia perguntar: “tanto se encolheu a Minha mão, que já não possa remir?” Será que Ele havia perdido o poder ou esquecido o amor que os havia libertado em outros dias? Não teria Ele sido para Israel agora, em suas cidade e aldeias o que fora para eles no Egito, quando Ele secou seu mar e vestiu os céus deles com escuridão? Suas curas e alimentações, todas as Suas ações de graça e poder, poderiam responder por Ele. Foi a iniquidade e a incredulidade deles que agora os separaram de seu Redentor. E Ele Se afasta deles agora, como este maravilhoso capítulo de Isaías continua a nos contar, primeiro para falar uma palavra oportuna aos Seus eleitos, e então para dar Suas costas aos que ferem, e Suas faces aos que arrancam os cabelos.
Maravilhoso de fato é Isaías 50. Assim como Zacarias 11. Cada um deles antecipa o Evangelho de Mateus em seu esboço e estrutura. E agora, na abertura de nosso Mateus 24, o Senhor Se retira, de acordo com Isaías, para falar uma palavra oportuna àqueles que estão cansados, Seus pobres seguidores que continuaram com Ele em Suas tentações; ou, de acordo com Zacarias, como a Palavra do Senhor a ser esperada pelos pobres do rebanho. (Posso observar que há, geralmente, por meio deste Evangelho, um grande cuidado e diligência para ligar com as vozes dos profetas o que está acontecendo no momento; e esta é uma marca do forte caráter Judaico de toda a ação.)
Mateus 24-25
Os discípulos O seguem até o Monte das Oliveiras. Eles O acompanharão ao mesmo lugar novamente, em breve; e isso, também, em uma ocasião mais solene. Agora eles O esperam ali, como “os pobres do rebanho” e Ele, como “a Palavra do Senhor”, os instrui (Mateus 24-25).
Ele revela a eles segredos dos dias vindouros, segredos que diziam respeito a Israel. Ele lhes conta sobre o princípio das dores, dos problemas que viriam sobre a Terra, por meio de guerras, terremotos e pestes. Ele lhes conta sobre as provações e perigos dos fiéis em Israel, a quem Ele adverte, aconselha e encoraja, de acordo com suas circunstâncias. Ele os previne sobre a grande tribulação, da carcaça e das águias, das ordenanças do céu dando notas assustadoras de preparação; e então do sinal no céu, a lamentação das tribos da terra e da vinda do Filho do Homem. Ele lhes conta, além disso, sobre a reunião dos eleitos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus, e do estabelecimento do reino sob o trono de glória. E, a propósito, Ele profere, nas parábolas das dez virgens e dos talentos, julgamento sobre aqueles que, durante Sua ausência, professaram esperar por Ele ou servi-Lo; distinguindo entre aqueles para quem essa espera e esse serviço eram uma realidade, e aqueles para quem tais coisas eram meramente uma profissão.
De fato, esta palavra profética é muito completa. Ela nos leva, em pensamento ou em fé, através dos dias de angústia e julgamento de Israel, para o estabelecimento das nações sob o trono do reino milenar onde o Filho do Homem Se assenta. (Eu leio Mateus 25:31 como uma continuação da história de Mateus 24:31, que foi interrompida por assunto moral ou expresso entre parentesis.)
Entre tudo isso, eu especificaria uma coisa, não, creio eu, de observação tão comum quanto muitas outras, mas ajudando a manter aquele caráter do nosso Evangelho que vimos que ele carrega desde o começo. Quero dizer isto. As folhas da figueira, o Senhor nos diz em Mateus 24:32, dão aviso de que o verão está próximo; e assim, Ele diz, as coisas que Ele estava detalhando dariam aviso, quando acontecessem, de que o reino estava próximo.
Agora, as coisas que Ele estava detalhando eram julgamentos sobre Israel, as aflições e as visitações daquele povo sob a mão de Deus.
Isto é solene. Nos dias de Josué e de Davi, as vitórias deram aviso de que a herança e o reino de paz estavam próximos. Uma conquista após a outra pela espada de Josué disse às tribos que a terra logo seria dividida entre elas; e uma conquista após a outra pela espada de Davi, da mesma forma, deu aviso ao povo de que, em breve, nenhum mal ou inimigo ocorreria, mas que a glória pacífica encheria a terra. Mas agora não são esses sinais que Israel deve aguardar. Juízos, e não vitórias, devem agora preceder o reino ou a herança; juízos ou aflições sobre eles mesmos, e não conquistas de seus inimigos. Pois Israel tem sido infiel. Israel agora rejeitou seu Senhor; e, portanto, “essas coisas”, aflições e juízos, precisam acontecer, antes que o reino seja deles. Os dias de verão estão por vir. A estação ensolarada, a era do brilho milenar, será para Israel e a Terra; mas aflições e visitações são as folhas da figueira que são, como seus arautos, para anunciar aquela era de glória.
O vale de Acor deve ser agora a porta da esperança. Israel pecou, como no dia de Jericó, e não pode seguir adiante para a herança, exceto pelos juízos purificadores de Deus. Todos os profetas se juntam ao Senhor ao apontar para essas mesmas folhas da figueira como anunciando o verão. Leia Moisés em Deuteronômio 32; leia Isaías por toda parte; leia Ezequiel em seu vigésimo capítulo; Daniel no final de seu nono; e Oseias em seu primeiro e segundo. Estes estão agora diante de mim, como nos contando o mesmo mistério; que aflições e juízos são os caminhos de Israel para o reino.
Olhando para trás a partir deste ponto do nosso Evangelho, vemos, de fato, um ministério de graça paciente e sofredora. Era um ministério, no entanto, bem conhecido nos caminhos de Deus com Israel. O Livro dos Juízes, sim, os livros anteriores do deserto, Êxodo e Números, os Livros também de Reis e Crônicas, nos mostram o mesmo ministério. Tudo isso era o cultivador da vinha dizendo repetidamente: “deixa-a este ano, até que Eu a escave e a esterque”. Era o próprio Senhor dizendo: “Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas”. Mas Israel “não quis”. Isso também foi visto repetidamente.
O sinal do céu vindo de Suas mãos, como era buscado pelos saduceus e fariseus juntos – pois a inimizade contra Ele era forte o suficiente para misturar elementos até mesmo tão mutuamente repulsivos quanto estes – o Senhor não deu e não poderia dar. Ele não poderia Se tornar aceitável ao mundo, ou credenciar a Si mesmo nos princípios do mundo. E os incircuncisos repreenderão a geração que buscava isso. Os homens de Nínive não pediram nenhum sinal do céu, nem a rainha de Sabá. Eles levaram o coração e a consciência a Deus e à Sua Palavra. A pregação de Jonas e a sabedoria de Salomão alcançaram os incircuncisos, sem nada para satisfazer o orgulho do homem, ou o curso e espírito do mundo; e eles se levantariam em juízo com esta geração, e a condenariam. Mas no devido tempo, embora de uma forma que não esperavam, um sinal do céu lhes será dado. Eles pediram por isso (Mateus 16:1), e eles o terão (Mateus 24:29-30); mas será um sinal do julgamento vindouro, um sinal de que o Filho do Homem está a caminho vindo do céu nas nuvens para executar a vingança escrita. “o Sol escurecerá, e a Lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”.
Até agora, no entanto, e por toda esta longa e incomensurável era de Sua ausência, são as Lamentações de Jeremias que são ouvidas pelo ouvido de fé, em meio às desolações de Sião. O choro de Raquel, ouvido no segundo capítulo do nosso Evangelho, sobe ainda mais cheio de aflição e lamento aos ouvidos em Mateus 23. E se essa é a aflição que, como lemos sobre ela, se recusa a ser consolada, era aflição, eu pergunto, sempre tão eloquente, sempre tão cheia das paixões da natureza, como nos lábios de Jeremias? Ouça-o contando, como na pessoa da filha de Sião, o segredo de um coração partido. E ainda assim, na mais profunda expressão desse coração, como Deus é vindicado!
“Que testemunho te trarei? A quem te compararei, ó filha de Jerusalém? A quem te assemelharei, para te consolar a ti, ó virgem filha de Sião? Porque grande como o mar é a tua ferida; quem te sarará? Os teus profetas viram para ti vaidade e loucura e não manifestaram a tua maldade, para afastarem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e motivos de expulsão” (Lm 2:13-14).
Esta é de fato a declaração de um coração partido vindicando Deus. De acordo com Jeremias, Jerusalém deve atribuir a si mesma seu cativeiro e banimento. Sua iniquidade tem sido sua ruína. E assim com a lamentação de Jesus sobre ela. Ela matou os profetas e apedrejou os mensageiros de Deus, e afinal, ela “não quis”. Sua ferida é incurável, mas ela o fez. Sua iniquidade tem sido seu cativeiro, diz o profeta. Porque ela não quis, portanto ela não é ajuntada, diz o Senhor.
Mateus 26 - 27:61
Esses capítulos nos dão o assunto essencial, as cenas finais da vida de nosso Senhor aqui; Sua morte e ressurreição; tal como é comum a todos os Evangelhos, e também, quanto a um objeto geral, é o mesmo em todos. Há, no entanto, mesmo nessas narrativas comuns, marcas que são características; tal como notei em minhas meditações sobre Lucas e João, já mencionadas.
Em Mateus, não precisamos dessas marcas em partes destacadas da narrativa: é todo este Evangelho, como observei antes, que revela seu propósito, deixando-nos saber que estamos lendo a respeito da questão do Messias com o Israel de Seus dias. Ele assume um caráter bem definido, como vimos agora; sua estrutura e suas partes nos deixam sem dúvidas quanto à sua intenção e objetivo. Ainda assim, encontramos marcas características de uma natureza mais detalhada, se as procurássemos; muitas dessas eu tive ocasião de exibir, enquanto meditava no Evangelho de Lucas. E eu agora gostaria de notar algumas outras coisas que são peculiares a Mateus, e características dele, nestes últimos capítulos.
Acho que podemos observar que nem em Mateus nem em Marcos o Senhor é apresentado tanto em pensamentos de Sua própria elevação e glória pessoal como em Lucas ou João. Ele é visto antes como Alguém que está conscientemente nas mãos do homem, rendendo-se àquela inimizade que, de acordo com este Evangelho, estava em ação contra Ele desde o princípio. Pois a cruz, cumprindo necessariamente o conselho de Deus, na realização da redenção, sob outra luz, era o fruto da inimizade Judaica, o fruto do coração reprovado e revoltado do homem. Ao matar o Senhor Jesus, o homem estava fazendo, por sua própria impiedade, o que Deus, em Suas próprias riquezas de graça, havia determinado antes que fosse feito (Atos 4:28). E Mateus e Marcos colocam esse caráter sobre esse feito.
Em Mateus e Marcos, consequentemente, temos essa cena bem parecida. E ainda assim Mateus tem algumas coisas que o distinguem.
Por exemplo, ele é o único evangelista que percebe a palavra do profeta sobre o campo do oleiro. Aquele campo foi comprado com o preço do sangue do Senhor, e foi feito o lugar para enterrar estrangeiros. E isso tinha um significado para Israel, com quem Mateus tem a ver. O ato de Judas foi o ato de Israel. Ele foi o guia para aqueles que levaram Jesus (Atos 1:16). Foram eles que com mãos perversas o crucificaram e mataram, como o apóstolo lhes diz, e sua terra é “Aceldama” até hoje (Joel 3:21). É o campo de sangue, e o túmulo de estrangeiros. É uma terra contaminada, e os gentios a têm em possessão.
Então, a resposta da multidão a Pilatos, para que pudessem acalmar todos os escrúpulos de sua mente, e que ele pudesse ser levado a fazer com Jesus o que eles desejassem – isso é igualmente peculiar a Mateus. O povo parece ter percebido a hesitação do governador; e, para se certificar de sua presa, eles dizem a ele: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. E, eu pergunto, pode haver algo mais característico? Isso não nos diz solenemente que a morte do Senhor, como vista em Mateus, foi a morte de um Mártir nas mãos dos Judeus?
Isto é muito significativo. Certamente sabemos que foi a morte ou imolação do Cordeiro de Deus, sob a mão de Deus; mas certamente também, foi a morte ou martírio do Justo, nas mãos de homens ímpios.
Mateus 27:62 – 28
E, como ainda mantendo sua peculiaridade até o fim, este é o único Evangelho que nos fala da inimizade Judaica perseguindo o Senhor além da cruz. É Mateus, e somente Mateus, que nos fala do selamento da pedra e da colocação da guarda na porta do sepulcro. Isso foi permitido pelo governador romano, a pedido e sugestão dos anciãos e sacerdotes de Israel. Pilatos não se importou com isso; era o propósito estabelecido e o ódio amargo da mente Judaica; perseguir o Senhor além do túmulo; provando ser ela indomável. Nenhuma brasa de fogo, embora amontoada sobre a cabeça repetidamente, a reduz, nem a morte a acalma. Seu sepulcro deve testemunhá-la, como Sua vida e morte fizeram. Nosso evangelista não nos deixa perdê-la de vista por um momento sequer. É essa inimizade que inicia seu Evangelho, na tentativa de Herodes contra a vida do Menino, e é a mesma que agora o encerra, no túmulo de seu Messias martirizado. Não apenas isso, mas Sua ressurreição também testemunhará dela; pois quando o sepulcro os decepcionou, e, apesar do selo e dos soldados, o Senhor ressuscitou, os principais sacerdotes e os anciãos estão na mesma obra novamente. Eles haviam conseguido a guarda de soldados romanos para vigiar o sepulcro, e agora corrompem os soldados romanos com muito dinheiro, para contar uma mentira sobre o sepulcro (Mateus 27:69; 28:12).
Surpreendentemente, de fato, o Espírito mantém a pena do evangelista fiel ao seu assunto por toda parte. Cristo foi apresentado repetidamente a Israel, e isso, também, de acordo com seus próprios profetas, e na maravilhosa graça curadora e abençoadora de Seu próprio ministério; mas Ele apenas atraiu o ódio de Israel repetidamente, do começo ao fim.
Essa inimizade do homem para com Deus pode ser vista ao longo de toda a história do homem; mas, de fato, aqui a vemos se exibindo ao máximo. “A inclinação da carne [a mente carnal – JND] é inimizade contra Deus”. Nenhuma atração a suaviza, nenhuma ameaça a subjuga. No começo, Caim peca apesar da súplica pessoal do Senhor a ele; Ninrode desafia os julgamentos de Deus; Faraó resiste às solenes visitações da mão de Jeová sobre sua terra; Amaleque insulta a bandeira hasteada do Senhor; e Balaão se endurece contra as advertências do Espírito de Deus. Absalão, Hamã e Herodes podem se apresentar como mais testemunhas do homem; e assim também pode a multidão feroz que se arremeteu loucamente sobre Estêvão, embora seu rosto, no momento, brilhasse como o de um anjo. E, em breve, os apóstatas do Apocalipse, no final da história, serão ousados para resistir ao Cavaleiro do cavalo branco e Seu exército, descendo do céu em glória e poder. Não é tudo isso o testemunho de algo incorrigível e incurável, que nenhuma atração pode suavizar, e nenhuma ameaça controlar? E uma amostra igual a qualquer uma dessas nós temos nesses sacerdotes de Israel, e nesses soldados de Roma. O véu tinha acabado de ser rasgado como na presença dos primeiros, e o túmulo na presença dos segundos, mas eles consentem juntos em inventar uma mentira, e falsificar tudo.
O homem está desesperado em sua obstinação e inimizade. Quem confiará em um coração que foi assim exposto?
E mais ainda, quanto a essa inimizade de Israel. Lemos aqui, em nosso vigésimo oitavo capítulo, que essa mentira dos sacerdotes e soldados em conluio (de que os discípulos vieram e roubaram o corpo de Jesus enquanto a guarda dormia), é comumente relatada até hoje; um claro sinal da antiga inimizade, e de sua continuidade por todas as gerações da nação, até os dias de hoje.
Não adianta, no entanto, recalcitrar contra os aguilhões. Isso é apenas autodestruição. Jesus ressuscita no terceiro dia, o dia designado; e Sua ressurreição é julgamento sobre Seus inimigos. Ela nos diz isso – que Aquele com Quem estão as fontes da vida e da morte, colocou-Se do lado da Vítima do mundo, do lado d’Aquele a Quem o homem expulsou e recusou. Ela nos diz que há uma questão entre Deus e o mundo a respeito de Jesus; e o fim dessa questão será o julgamento, o julgamento daquilo que se alinhou contra Deus. Portanto, está escrito: “Deus... porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-O dentre os mortos” (At 17:30-31 – AIBB).
Este é o poder e o fruto da ressurreição do Senhor Jesus que obtemos em nosso Evangelho. Uma garantia disso é dada no início de Mateus 28. O anjo remove a pedra selada. Ela trazia o selo oficial de que o propósito não poderia ser mudado; e quem ousaria tocá-la? Isso seria morte para qualquer homem. Mas Aquele que estava assentado nos céus riu dela com desprezo. O anjo se senta em triunfo sobre ela e decreta a sentença de morte sobre os guardiões da pedra. Israel havia desprezado a Pedra selada de Deus, Sua Pedra eleita e provada, e havia escolhido para si uma que trazia outro selo; mas esta em que eles confiavam agora é removida por Deus; pois não é a Rocha do povo de Deus, como eles próprios agora podem julgar. E o fruto pleno desta certeza será trazido à tona naquele dia, quando os inimigos de Jesus serão feitos escabelo de Seus pés, e a queda da Pedra rejeitada esmague até o pó (Mateus 21:42-44; 22:44).
Esta é a voz da ressurreição, como a lemos em Mateus. Claro que não preciso dizer como ela tem outras vozes que a fé escuta; como ela fala da remissão dos pecados, e como ela promete, como primícias, a colheita no dia do levantar e da ascensão da família celestial. Mas aqui, em Mateus, ela fala do julgamento. É como a vara que brotara de Números 17, que foi trazida, como algo vivo, vinda da presença de Deus, para silenciar o murmurante e rebelde arraial de Israel.
É somente em Mateus que temos essa cena da pedra selada; mas isso, é claro, porque é somente em Mateus que temos a pedra selada em si, como vimos antes.
Mas quão perfeito é isto na unidade de todo o evangelho! É o Evangelho da inimizade de Israel para com o Messias, e a rejeição d’Ele por eles; e aqui essa inimizade recebe a garantia completa de seu julgamento vindouro no dia do poder d’Aquele a Quem eles rejeitaram.
Mas mais adiante. O julgamento de Seus inimigos deve ser seguido pelo assento d’Ele no lugar de poder e domínio. O julgamento é para abrir caminho para a glória. Consequentemente, a ressurreição do Senhor neste Evangelho se encerra mostrando-O a nós naquele lugar; e este é o único Evangelho que faz isso. Aqui somente ouvimos o Senhor ressuscitado usando estas palavras, ao falar com Seus apóstolos: “É-Me dado todo o poder no céu e na Terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado” (ACF).
Esta é a exaltação e senhorio do Jesus ressuscitado. A conversão das nações, e a reunião de toda a Terra, todo o mundo gentio, em obediência a Ele, é aqui assumida; e isto, também, como o fruto daquele apostolado que o Senhor já havia ordenado; um apostolado Judaico em seu caráter; pois é aos Seus Doze que Ele confia este ministério.
Esta, portanto, é uma reunião das nações ao Jesus ressuscitado, como o Senhor de Israel. E assim, neste último capítulo, o Senhor em ressurreição “retoma Suas relações Judaicas” e, por meio dessas relações, Sua conexão com toda a Terra.
Ele testemunha o senhorio universal como em Sua mão, poder tanto no céu quanto na Terra; e então Ele faz Sua reivindicação ao discipulado e obediência de todas as nações. Não temos nada do efeito da ressurreição sobre os lugares celestiais aqui, nada do mistério da família glorificada. É apenas Jesus exaltado, e exaltado como Messias; e, sobre isso, o discipulado de toda a Terra, no testemunho e ensino do apostolado Judaico. É o Senhor retornado à Terra, para os fins de formar um povo para Seu nome lá, e lá exibir Seu reino. A ascensão não é vista aqui. É apenas o Cristo ressuscitado, não o ascendido, que temos aqui; e, portanto, as mulheres podem abraçá-Lo e adorá-Lo, embora, no Evangelho de João, Maria não pode nem mesmo tocá-Lo (João 20:17); pois lá Ele estava a caminho do Pai. Sua ressurreição levou apenas à Sua ascensão lá; a Terra era apenas um palco para o céu. Aqui é o fim de Sua jornada gloriosa e triunfante.
Quão consistente é tudo isso com o propósito do Espírito de Deus em nosso evangelista! A inimizade e a incredulidade Judaicas ainda operam, e mantém essa condição de coisas, essa liderança das nações em Jesus, seu Messias, não realizada. Mas as promessas de todos os profetas que falaram em nome de Deus desde o princípio serão cumpridas; o monte da casa do Senhor será estabelecido, e todas as nações fluirão para ele; e os direitos de Jesus-Messias serão vindicados em poder soberano. As “bênçãos [misericórdias – JND] de Davi” são “fiéis [seguras – JND]”, asseguradas pela ressurreição que estamos contemplando (Atos 13:34); e Ele reaparecerá, e as reivindicará, e as desfrutará, e as exercerá, por toda a era eterna e milenar.
A Semente de Davi, toda fidelidade e verdade como Ele é, terá Seus direitos, e Seu povo, todos miseráveis e incrédulos como eles foram, e ainda são, serão feitos dispostos. Até agora, como está escrito sobre eles, eles “não quiseram”; mas, em breve, como está escrito novamente sobre eles, “o Teu povo se apresentará voluntariamente” (Mt 23:37; Sl 110:3). E então todas as promessas serão cumpridas.
Mas temos uma promessa ainda mais profunda e maravilhosa dessa bênção que será a porção de Israel e de Jerusalém nos dias vindouros da glória e do poder do Messias. E Mateus, em plena consistência com todo o seu Evangelho, é o único evangelista que nos dá isso.
Ele registra o seguinte grande fato nestes capítulos finais; que depois que o Senhor entregou Sua vida na cruz, “Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição d’Ele, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos”.
Este foi um evento maravilhoso, tão significativo quanto maravilhoso.
Sepulcros foram abertos como fruto do triunfo da morte do Senhor; e então esses sepulcros abertos revelaram corpos de santos após Sua ressurreição; e então esses santos ressuscitados foram e se mostraram na cidade santa.
Que glória para Jesus! Que publicação da vitória plena de Sua morte! Se o véu do templo cedeu então, também o fizeram os túmulos dos santos. O céu se deleitou em reconhecer essa vitória, e o inferno foi forçado a reconhecê-la!
Mas se isso era glória para Jesus, que graça era isso para Jerusalém!
Uma mensagem especial foi enviada a Pedro, pelo anjo do mesmo Senhor ressuscitado: “Mas ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia; ali O vereis”. E isso foi terno e atencioso; pois Pedro precisava de uma garantia especial da mão de seu Mestre negado. E assim uma garantia especial, muito especial e maravilhosa, em graça semelhante, é aqui dada a Jerusalém, quando essas primícias da ressurreição do Senhor, de Seu triunfo sobre o pecado e a morte, são assim levadas a ela.
E ela é chamada de “A Cidade Santa”. Ainda excelentes maravilhas da graça, de fato! Jerusalém toma da pena do nosso evangelista seu título de honra. Esta é a cidade sobre a qual, um ou dois dias atrás, o Senhor chorou, a cidade na qual (Ele havia testemunhado recentemente) um profeta não poderia perecer. Ele havia Se retirado dela, deixando-a em desolação culpada. Ele havia, algumas horas antes, sido crucificado ali; e por suas próprias ações, ela havia conquistado para si o título de Sodoma e Egito.
Apocalipse 11:8. Mas agora é “a Cidade Santa”. No conselho da graça e na linguagem do Espírito, Jerusalém é “A Cidade Santa”.
Que promessa da purificação daquela fonte que agora havia sido aberta, como os profetas falam, até mesmo para Jerusalém! Que penhor era este daquele dia quando o cativeiro de Sião será trazido de volta, e este discurso será usado na terra de Judá: “O SENHOR te abençoe, ó morada de justiça, ó monte de santidade!” (Jr 31:23).
A graça daquelas palavras, “Começando por Jerusalém,” tem sido comumente admirada, e apropriadamente; pois quando o Senhor ressuscitado estava enviando a todo o mundo as novas da salvação na remissão dos pecados, Ele queria que isso fosse primeiro declarado na cidade culpada, a sangrenta Jerusalém. Mas dificilmente precisamos nos surpreender com isso, já que temos diante de nós esta maravilhosa e gloriosa promessa de graça – as próprias primícias da triunfante ressurreição de nosso Senhor enviadas a Jerusalém como “a Cidade Santa”!
Mas todos os profetas nos falam dessa graça que abunda e da bênção final de Israel por meio dela.
A glória, em Ezequiel, tem que deixar a cidade no início, por causa das abominações que foram feitas lá; mas, no final, ela retorna. E agora, como vemos, a glória no Evangelho por Mateus faz exatamente o mesmo. Jesus é a glória. Ele deixa a cidade; mas Ele deixa sinais seguros e infalíveis de Seu retorno no devido tempo. Assim, Ezequiel e Mateus estão juntos; assim, Isaías e Mateus estão juntos. A esposa divorciada de Isaías se tornou, no devido tempo, uma alegre mãe de filhos. E aqui, em Mateus, ouvimos o mesmo. Jerusalém é deixada pelo Senhor, como alguém rejeitado e desolado, em Mateus 23; mas no final, em Mateus 28, seu apostolado de doze fará discípulos de todas as nações. (Veja Is 50 e 54). Que harmonias! Nos caminhos do Senhor está a continuidade, e Israel será salvo (Is 54:5).
A luz dos profetas se levanta e brilha novamente, depois de tanto tempo, nos evangelistas. A glória em Ezequiel, e Jesus em Mateus, fazem as mesmas jornadas; a Jerusalém de Isaías é a Jerusalém do nosso evangelista. Podemos não ter esperado isso, mas então encontramos. E enquanto ouvimos as vozes dos profetas e evangelistas, como em concerto, podemos nos lembrar dessas duas linhas felizes:
“No Velho Testamento, o Novo é ocultado,
No Novo Testamento, o Velho é revelado.”
As luzes de Deus que suavemente despontam
Nos primeiros livros divinos,
Como as horas da manhã conduzem ao meio-dia,
Brilham ao longo do Volume.
É o mesmo, o Sol brilhante,
Que brilha mais claro e quente;
As nuvens que velavam seu raio ascendente,
Dissipam-se antes que a noite acabe.
Tão consistente, bem como rica; tão imutável, bem como plena, é a graça de Deus em todos os Seus propósitos, e aqueles oráculos de Deus que registram esses propósitos. “Verdadeiramente, Tu és o Deus que Te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” profere o profeta; e o Jesus do nosso evangelista é o Deus de Israel, assim Se escondendo, virando as costas para Jerusalém por um tempo, e dizendo, “não me vereis mais” (Is 45:15; Mt 23:39).
Tal, não duvido, é o sentido do nosso Evangelho em geral, e da parte final dele, que agora estive observando em particular.
Posso dizer que é uma lição muito completa, necessária e maravilhosa no caminho do nosso Deus que nos sentamos para ler neste Evangelho. A inimizade Judaica que observamos e rastreamos do começo ao fim. Ela provou ser incansável, implacável, fiel a si mesma, recusando-se a ceder a qualquer súplica ou a se render em quaisquer termos. Ela perseguiu o Senhor em Seu nascimento, ao longo de Sua vida, até Sua morte, em Seu túmulo, após Sua morte e, como nosso evangelista nos mostra ainda, “até ao dia de hoje”.
Ela O rejeitou em todas as formas em que Ele poderia Se apresentar. Ele foi repetidamente apresentado ao Seu Israel pelos seus próprios profetas, mas eles não O conheceram.
No curso de toda essa terrível exibição de incredulidade em Israel, o Espírito, por meio de nosso evangelista, aproveita a ocasião, por causa dessa inimizade, para olhar, por um momento, para o tratamento de Deus com os gentios (como vimos em Mateus 13); e então, por outro momento (como vimos em Mateus 17), para antecipar o reino em sua glória celestial; pois essas coisas são os resultados dessa inimizade, estabelecidos seguramente na graça e soberania divinas.
E então, no final, nosso evangelista é levado, pelo mesmo Espírito, a dar indícios do julgamento que virá sobre essa inimizade, e também daquela graça abundante que reunirá e abençoará Israel nos últimos dias do glorioso reino milenar.
Será que não posso, portanto, dizer que é uma Escritura completa e maravilhosa? Verdadeiramente maravilhoso é que tais tesouros de sabedoria e conhecimento sejam encontrados em um livro curto!
Mas é de Deus, e quem ensina como Ele? “Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor”. E tenho certeza de que “se esperarmos pacientemente no Senhor, todas as dificuldades da Escritura são entradas para a luz e a bênção”. Isso foi dito por outro, e acho que posso dizer, eu constatei isso ser assim, embora a espera n’Ele tenha sido fria e fraca. E o coração ainda se curva a outro dito: “Concepções espirituais deslumbram, iluminam e animam a mente, antes de guiá-la e contentá-la; e nunca podemos ensinar com o mesmo vigor, aquelas verdades que apenas vemos e desfrutamos, como podemos ensinar aquelas pelas quais somos guiados e controlados.”
J. G. Bellett
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