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Os Ouvidos (Dezembro de 2022)


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ÍNDICE

Os Ouvidos

Tema da Edição

D. Graham (adaptado)

W. F. B. (adaptado)

W. J. Prost

W.W. Fereday (adaptado)

W. J. Prost

J. W. Smith

Girdle of Truth, Vol. 3

J. N. Darby, Collected Writings

J. N. Darby, Collected Writings

Present Testimony, Vol. 12

Present Testimony, Vol. 3 Os Ouvidos de Deus

G. V. Wigram

J. G. Bellett

Things New and Old, Vol. 2

W.T. Turpin (adaptado)

W. Kelly (adaptado)

C. H. Mackintosh (adaptado)

J. D. Burns

"Fala porque o Teu servo ouve"

Choice Gleaning

 

Os Ouvidos

O menino colocou as mãos sobre as orelhas enquanto sua mãe estava falando com ele. Por quê? Porque ele não queria ouvir o que ela estava dizendo a ele. O Senhor disse: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça” (Mt 11:15). Por quê? Porque era uma questão relativa à vontade. Eles estavam dispostos a ouvir e a receber? Ou só queriam falar sem permitir que a vontade e a consciência deles aceitassem o que Deus queria que eles ouvissem e cressem? Em geral, a Palavra de Deus usa os ouvidos, quando está em conexão com questões morais e não físicas, como uma mensagem para nós sobre a vontade e sobre estar disposto, com o coração e a consciência, a ouvir o que Ele está nos dizendo. O Senhor Jesus tinha ouvidos perfeitos. “Sacrifício e oferta não quiseste; os Meus ouvidos abriste [cavaste]... Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei está dentro do Meu coração (Sl 40:6, 8). A vontade de Deus foi a única pela qual Ele viveu; como um Homem, Ele nunca agiu por Sua própria vontade. Parte do que leremos nos artigos a seguir será um teste de audição. Que não sejamos como aqueles em Atos 7 que “gritaram com grande voz e taparam os ouvidos”.

 

Os Ouvidos do Senhor

Há três passagens na Escritura que se referem aos ouvidos e que revelam, à nossa alma, o coração de nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo.


Os ouvidos abertos para ouvir

“Sacrifício e oferta não quiseste; os Meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então Eu disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de Mim: Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Sl 40:6-8).


Os ouvidos são os órgãos pelos quais recebemos instrução. Eles simbolizam a posição do homem diante de Deus em sua responsabilidade de ser obediente. Quando Deus formou o homem do pó da terra, Ele formou (cavou) nele os ouvidos como sendo os órgãos ouvintes de seu corpo. (Um escultor com seu martelo e cinzel faz isso no mármore.) Adão, porém, se fez como surdo [não deu a devida importância] às instruções de Deus e tornou-se desobediente. Ouvidos que ouvem, no entanto, recebem instruções e obedecem. “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10:17).


Aqueles sacrifícios de animais no Velho Testamento e várias outras ofertas nunca poderiam glorificar a Deus em relação ao pecado. Havia Um, no entanto, que “era cada dia as Suas delícias, alegrando-Me perante Ele em todo o tempo” (Pv 8:30 – ACF). “Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não Te agradaram. Então, disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:5-7). A Septuaginta, a tradução grega do Velho Testamento, de onde a citação do Senhor foi tirada, dá o verdadeiro sentido dos ouvidos sendo abertos, ou escavados, no Salmo 40 – isto é, Se tornando um Homem diante de Deus, para Quem a obediência é o único caminho correto.


Esta, então, é a encarnação do Filho de Deus, sobre Quem lemos em Filipenses 2:5-8: “Cristo Jesus que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se [esvaziou-Se – JND] a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” E assim, referindo-se aos “dias da Sua carne”, diz-se que, “ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:7-8). Ele era o Homem perfeitamente dependente e obediente. Nunca houve outro como Ele. O cumprimento da vontade de Seu Pai era tudo para Ele. Ele preferiu morrer a deixar de fazer isso em qualquer aspecto. “O Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus” (Hb 12:2).


Os ouvidos abertos para obedecer

“O SENHOR Deus Me abriu os ouvidos, e Eu não fui rebelde, não Me retraí. Ofereci as costas aos que Me feriam e as faces, aos que Me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que Me afrontavam e Me cuspiam” (Is 50:5-6 – ARA).


Tendo observado o caráter da vinda de Cristo a este mundo e com a cruz em vista, agora vemos o caráter de Seu caminhar pelo mundo. No contexto do versículo acima, Seus ouvidos são abertos momento a momento à medida que caminhava, para que Ele possa conhecer a vontade do Pai quanto ao Seu serviço. Ele diz: “Porque Eu desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo 6:38).


Ele ainda diz: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem” (Is 50:4). Ele, com toda a humildade, serviria as necessidades de todos os que Ele encontrasse, mas como guiado pelo Pai. Ele veio não para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos. Ele nunca deu um passo ou disse uma palavra sem primeiro receber instruções de Seu Pai. “Porque Eu não tenho falado de Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o Seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai Mo tem dito” (Jo 12:49-50). Ao servir aos cansados em suas necessidades, Ele o fez em perfeita dependência e obediência.


Não só vemos o Senhor como o Servo perfeito aqui, mas também contemplamos Sua perfeita confiança em Seu Deus. “O Senhor Jeová, porém, Me ajudará; pelo que não Me sinto confundido, e por este motivo pus o Meu rosto como uma pederneira [pedra], e sei que não serei envergonhado” (Is 50:7 – TB). Mesmo com a sombra da cruz diante de Sua alma, lemos: “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7). E outra vez O ouvimos dizer: “O SENHOR, tenho-O sempre à Minha presença; estando Ele à Minha direita, não serei abalado. Alegra-se, pois, o Meu coração, e o Meu espírito exulta; até o Meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a Minha alma na morte [no Sheol – JND], nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção. Tu Me farás ver os caminhos da vida” (Sl 16:8-11 – ARA).


Essa é a dependência contínua da orientação do Pai para cada passo – para cada palavra. Ele sempre foi o Homem de fé, o Dependente e Obediente, e o Servo perfeito.


Os ouvidos devotados para servir

“Mas, se aquele servo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e a meus filhos, não quero sair forro [livre – ACF]. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre” (Êx 21:5-6).


Aqui vemos um servo hebreu cujo tempo de serviço está terminado, mas que, por amar seu senhor, sua esposa e seus filhos, não sairá livre. Ele apresenta claramente seu propósito, em seguida, sua orelha é furada com uma sovela, como uma marca de servidão perpétua.


Quão maravilhosamente isso retrata o coração e o caminho do nosso bendito Senhor e Salvador! Nós O ouvimos dizer a Seu Pai: “Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer” (Jo 17:4). Quando Seu ministério público aqui acabou, o Senhor poderia ter retornado à glória com toda a honra. Ele não faria isso, no entanto, sem primeiro completar aquela obra do Calvário, que tão infinitamente glorificou a Deus Seu Pai. E se Ele não tivesse completado aquela obra, Ele teria que voltar sem assegurar para Si uma noiva celestial e uma família para Deus. Não, Seu amor por Seu Pai e Seu amor por Seu povo O mantiveram aqui até que tudo tivesse sido feito. Ele declararia Seus desejos e Se colocaria sob o julgamento de Deus para a glória de Deus e nossa bênção.


Assim, Seus ouvidos foram abertos (um corpo preparado para Ele) para fazer a vontade do Pai em tudo, mas especialmente no que diz respeito à obra do Calvário. Além disso, Seus ouvidos foram abertos para receber instruções com relação a ministrar as necessidades daqueles cansados que Ele encontraria em Seu caminho aqui embaixo. E, finalmente, Sua orelha estava furada, comprometendo-Se com a devoção ao serviço de Seu Pai e àqueles que são Seus agora e para sempre.


Agora, a Palavra para cada um de nós é: “Quem tem ouvidos, ouça” (Ap 3:13). E também nos é dito: “Vede, pois, como ouvis” (Lc 8:18). Em nosso serviço, então, seja para Deus ou para o homem, que possamos estar atentos à Palavra de nosso Senhor para nós. Que o Espírito de Cristo dê Seu caráter ao nosso serviço enquanto esperamos por Ele na dependência e com coração devotado. Só então experimentaremos o poder em nosso serviço e teremos o sentido consciente de Sua aprovação repousando sobre ele.

D. Graham (adaptado)

 

A Voz e os Ouvidos

As ovelhas do Senhor ouvem Sua voz, e elas conhecem Sua voz. Quão maravilhosamente simples isso é, e não apenas nos firma, mas o quanto isso mantém a alma longe de qualquer perigo!


Isso é associação com o Senhor aqui na Terra, embora ouçamos a voz que vem do céu. É algo bendito saber que não se pode esperar menos. Se você entrar nessa forma de pensar, você não vai confundir isso com nada mais; isso exclui toda sabedoria humana. Você não deveria permitir que algo se intrometesse com a voz de Deus, e os ouvidos que estão acostumados a isso, estão à procura dessa voz. Se nossos ouvidos estiverem abertos, certamente a ouviremos. Todos têm um caminho neste mundo, e embora seja um caminho que não se vê, ainda há um caminho. O Senhor Jesus não exigia um caminho aqui, Ele mesmo era “o Caminho”.


O costume no Oriente é que as ovelhas sigam o pastor. Ele vai adiante delas (elas não são pastoreadas com um cão, como se faz na Inglaterra); elas ouvem a voz do pastor, elas a conhecem, e elas o seguem; e não vão seguir um estranho. Você acha que elas iriam seguir um estranho? Essa questão não existe para elas, contudo, não têm nenhuma dúvida sobre a voz do pastor. Elas se submetem à voz que conhecem. Tudo o que não é de Cristo é de outro deus. Nosso Senhor poderia dizer profeticamente de Si: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (Sl 16:1). Vemos aqui que, como Homem, o próprio Senhor era dependente. Ele confiava em Deus.


O pastor indica o caminho

O pastor indica o caminho, e você não tem nada a fazer a não ser segui-lo. É a coisa mais simples possível; uma pequena criança pode fazer isso. Cristo não queria que Seu caminho Lhe fosse traçado de antemão, mas Ele Se tornou carne, tornou-Se um homem, e essa é a razão pela qual Ele teve toda a perseguição lançada sobre Ele pelo homem. Pense em todo o desprezo que Ele suportou, e que nunca teria acontecido se Ele não tivesse Se tornado um Homem. Ele era o Homem perfeito, um contraste com a ruína na Terra, e Ele sofreu pela ruína. É uma coisa maravilhosa que nos foi permitido estar com esse Homem. Deus nos coloca junto com esse Homem, para que estejamos associados a Deus, e, portanto, o Salmo 16 também pode ser aplicado a nós. Pensar que Deus e o homem estão juntos nesta Terra. Ele nos coloca para estarmos juntos, contra Satanás aqui. O lugar que o Senhor ocupa está sendo mantido.


Você ama os santos porque também vê neles o que você aprecia, ou por que eles são de Deus? Não temam por ser encontrado com os santos, pois é neles que Ele Se agrada. “Em Quem está todo o Meu prazer” (Sl 16:3). Quanto aos santos, a vida deles subsiste em ressurreição, onde em Sua presença, eles têm plenitude de gozo para sempre.

W. F. B. (adaptado), Words of Faith, Vol. 3

 

Uma Voz Mansa e Delicada

Estas palavras são encontradas em 1 Reis 19:12 e dizem respeito ao profeta Elias, que havia fugido da terra de Israel para o Monte Horebe, onde a lei de Deus havia sido originalmente dada a Moisés. Pouco antes de fugir, Elias, com o poder de Deus, tinha conquistado uma grande vitória sobre Satanás e a idolatria no Monte Carmelo. Os profetas de Baal foram completamente derrotados e finalmente mortos, depois que o povo viu o fogo de Deus descer e consumir não apenas o sacrifício de Elias, mas também a madeira, as pedras, o pó e a água que estava no rego ao redor do altar. Mas então Jezabel ameaçou a vida de Elias, e em vez de confiar no Senhor, ele fugiu dela.


É instrutivo notar que Elias fugiu para o Monte Horebe, pois Elias tinha sido um pilar da lei que havia sido dada lá. Sabemos que a lei de Moisés foi introduzida com uma grande demonstração do poder de Deus, como registrado em Êxodo 19. Lemos sobre “trovões e relâmpagos... e sonido de buzina [trombeta] muito forte” (v. 16). Também lemos que “o SENHOR descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente” (v. 18). Se o homem deveria ter uma relação com Deus baseada em obediência, ele precisava sentir a majestade e a glória de Deus e o que a santidade de Deus exigia. Sabemos que, apesar da promessa de Israel de que “tudo o que o Senhor tem falado faremos” (Êx 19:8), nenhum filho de Adão poderia manter a lei de Deus. Foi somente com base em um sacrifício de sangue que Deus poderia caminhar com o homem culpado.


Comunhão com Deus

Além de tudo isso, a lei não deu ao homem qualquer comunhão com Deus. Não, ela deixou claro os requisitos santos de Deus, mas não aproximou os homens a Ele. A fidelidade exemplar de Elias na busca de trazer Israel de volta à lei não foi eficaz, embora a demonstração do poder de Deus tenha resultado na morte de todos os profetas de Baal. No entanto, devemos lembrar que o poder, mesmo que seja de Deus e para Deus, tende a nos concentrar em nós mesmos e trazer orgulho e exaltação própria. Infelizmente, este foi o caso com Elias, embora ele tenha sido um grande servo do Senhor.


Encontramos Elias fugindo de Jezabel, que havia ameaçado tirar a vida dele no dia seguinte, e está registrado que “ele se levantou, e foi para escapar com vida” (1 Rs 19:3). Mas é sim uma estranha contradição que no versículo seguinte ele “pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida” (v. 4). Aqui estava um homem piedoso, mas reduzido ao extremo desânimo. Ele estava fugindo para escapar com vida, mas também querendo morrer. Qual era o problema?


Manifestação de poder

Aprendemos com a história de Elias que as maiores lições da vida não são aprendidas por uma demonstração de poder, mas em quietude e humildade, na presença do Senhor. O poder, às vezes, é necessário, como uma ajuda à comunhão com o Senhor, mas não pode ser um substituto para ela. Quando o servo fica ocupado consigo mesmo e os resultados não são o que ele espera, o desânimo pode facilmente se estabelecer. Mas o Senhor sabia como alcançar o coração de Seu estimado servo e ensinar a ele a lição necessária.


Em primeiro lugar, o Senhor falou com ele, perguntando-lhe o que ele estava fazendo lá no Monte Horebe. A resposta de Elias revela a sua ocupação consigo mesmo, pois ele acusa o povo de Deus e se descreve como o único fiel que resta em Israel. É então que Deus dá várias exibições de Seu poder – um vento, um terremoto e um fogo. Elias certamente estava familiarizado com tudo isso, e é significativo que ele foi capaz de ficar no monte enquanto tudo isso acontecia. Era uma exibição comparável à que ocorrera centenas de anos antes, quando a lei foi dada. No entanto, Deus não estava em nenhuma dessas forças poderosas. Sem dúvida, Seu poder estava lá, mas não o próprio Deus. Finalmente Elias ouve uma “voz mansa e delicada”, e ele reconhece instantaneamente o Senhor. Em reverência, ele envolve o rosto no manto e vai para a entrada da caverna. Novamente vem a pergunta: Que fazes aqui, Elias? Novamente Elias dá a mesma resposta de antes, acusando o povo de Israel e exaltando-se como o único fiel deixado em Israel. Qual foi o resultado?


O fim do ministério da lei

Deus não podia mais usá-lo e disse-lhe, entre outras instruções, para ungir Eliseu como profeta para tomar o seu lugar. Há uma grande instrução para todos nós nisso. O poder de Deus é grande, e a demonstração ocasional disso é necessária para nos lembrar de Quem Deus é e do que Ele pode fazer. Precisamos ser lembrados de que somos criaturas e que todo o poder está nas mãos de Deus. No entanto, como observamos anteriormente neste artigo, o poder pode nos ocupar com nós mesmos, ainda que seja o poder de Deus. É numa voz mansa e delicada que Deus realmente é conhecido e Sua mente revelada. Por essa mesma razão, o Senhor Jesus poderia lembrar os Seus discípulos não para se alegrar porque os demônios estavam sujeitos a eles por meio do Seu nome, mas sim se alegrar porque os seus nomes estavam escritos no céu (Lc 10:20). No caso de Elias, o coração de Deus para com o Seu povo não tinha mudado, mesmo que precisassem estar sob a Sua disciplina. Mesmo no final de história deles, Ele ainda poderia dizer-lhes: “Com amor eterno te amei” (Jr 31:3). Embora Deus possa muito bem trazer disciplina sobre Seu povo, Ele não aprecia que os acusemos perante Ele.


Para finalizar, podemos notar que Elias parece ter sido quebrado pelos comentários feitos a ele pelo Senhor e por lhe ter sido dito para ungir Eliseu para ser profeta em lugar dele. Mas, novamente, a graça de Deus é exibida, pois uma vez que Elias aprendeu a ouvir a voz mansa e delicada, Deus lhe concede uma prorrogação. É verdade que ele ungiu Eliseu, mas então Eliseu segue Elias e o serve. Elias não desaparece imediatamente da cena; por aproximadamente dez anos ele continua a atuar como um profeta, enquanto Eliseu aprende com ele.


Muitas vezes acontece o mesmo na nossa vida. Podemos ter que aprender uma lição difícil, mas uma vez que essa lição é aprendida, Deus Se deleita em manifestar Sua graça para conosco. Que tenhamos os ouvidos abertos e prontos para ouvir aquela “voz mansa e delicada”! Nos dias difíceis em que vivemos, podemos contar com a graça de Deus em nossa vida, embora, em algum momento, Sua disciplina possa ser necessária. Como diz o hino:


A graça de Deus até o fim

Brilho mais claro e brilhante;

Nem coisas presentes, nem futuras,

Podem mudar Seu amor divino.

Toplady


W. J. Prost

 

Ouvidos Dispostos

1 Samuel 3

Este foi o início de muitas revelações a Samuel. “E crescia Samuel, e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. E continuou o SENHOR a aparecer em Siló, porquanto o SENHOR Se manifestava a Samuel, em Siló, pela Palavra do SENHOR” (1 Sm 3:19, 21). Se as circunstâncias fossem normais, Deus teria falado com o sumo sacerdote e por meio dele, de acordo com Sua própria nomeação. Mas sendo isso impossível, Ele falou com o homem com ouvidos dispostos e por meio dele. Esse ainda é o Seu caminho. Nosso Senhor disse ao proferir Suas parábolas: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 13:9). Sete vezes nas cartas às Igrejas na Ásia (Ap 2-3) encontramos as palavras: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Isso é claramente uma coisa individual. A massa da Cristandade está mais do que nunca indiferente à vontade do Senhor, e os líderes, em muitos casos, alimentam seus seguidores com mentiras, pois a apostasia prevista está amadurecendo rapidamente. Mas o homem que tem os ouvidos dispostos não deixará de avançar no conhecimento de Deus e de Sua Palavra, para sua própria bênção profunda e para o proveito espiritual de todos os que têm o privilégio de ouvir seu testemunho. Cada um de nós pode muito bem orar: “Ó, dê-me os ouvidos de Samuel — os ouvidos abertos, ó Senhor”.


O jovem profeta não falhou em conquistar o respeito do povo. Isso fica evidente a todo coração exercitado que, , embora Deus, em Sua justiça, estava julgando o sacerdote, Ele não estava abandonando Seu povo. Na soberania do Seu amor, Ele tinha firmado uma nova ligação entre Si e eles na pessoa do primogênito de Ana. “E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR” (1 Sm 3:20).


Em seu subsequente ministério de intercessão, Samuel faz lembrar Moisés de forma notável (Jr 15:1), e como o precursor do legítimo Rei, ele é igualmente uma figura de João Batista.

W.W. Fereday (adaptado)

 

A Fé Vem Pelo Ouvir

Em Romanos 10:17, lemos que, “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus”. Embora as palavras sejam simples e transmitam uma verdade espiritual relativamente simples, ainda há uma profundidade de significado no versículo que é importante entender. Em um versículo anterior, lemos: “E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:14), e isso nos mostra o valor daqueles que, conhecendo a Palavra de Deus, estão dispostos a pregar essa verdade aos outros. No entanto, há uma forma correta e uma errada (talvez devêssemos dizer, uma maneira imperfeita) de transmitir a verdade da Palavra de Deus.


Quando falamos da Palavra de Deus, pode acontecer o que muitas vezes é chamado de “apologética Cristã”, que se refere à defesa, para os incrédulos, da verdade da Escritura como sendo racional e digna de crença. Tal defesa usa vários argumentos, alguns dos próprios textos da Escritura, e às vezes evidências externas de acontecimentos como, o cumprimento da profecia, os registros históricos neste mundo e outras fontes. Provérbios 26:5 diz, “Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos” (ARA). Às vezes, é útil apontar o quão tolos alguns dos argumentos contra a Palavra de Deus realmente são, e como essas linhas de raciocínio são em si contraditórias.


A Palavra de Deus

Embora uma defesa apologética possa chamar a atenção de alguém, fazê-lo pensar e, por fim, ser usada pelo Senhor, ainda assim, um convencimento intelectual, em si mesmo, não traz uma alma para Cristo. Pelo contrário, é a Palavra de Deus, aplicada pelo Espírito de Deus, que transmite nova vida. Por exemplo, lemos em Tiago 1:18: “Segundo a Sua [do Pai] vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade”. Nosso bendito Senhor poderia, Ele próprio, dizer a Nicodemos: “aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3:5). Deus dá nova vida por Sua própria vontade, usando Sua Palavra e Seu Espírito. Podemos perguntar por que usar a Palavra de Deus é tão importante, e há duas razões para isso. Em primeiro lugar, é a Palavra de Deus, que veio diretamente d’Ele por inspiração para aqueles que foram levados a escrevê-la. Ela tem sido para sempre “firmada no céu” (Sl 119:89 – ARA), e é “viva e ... permanece para sempre” (1 Pe 1:23). É muito importante que nossa fé se apoie diretamente na Palavra de Deus, e não no mero relato do homem, não importa quão preciso o relato possa ser.


O Espírito de Deus

Segundo, quando a Palavra de Deus é usada, ela pode ser aplicada diretamente à consciência e ao coração pelo Espírito de Deus. Então, Deus recebe a glória pelo trabalho feito na consciência e no coração, pois esses são trazidos diretamente para a presença de Deus. Deus nos diz em Sua Palavra: “E a Minha glória não a darei a outrem” (Is 48:11). Quando os 70 discípulos voltaram da sua missão de pregação (Lc 10:17-20), o Senhor Jesus pôde participar da alegria deles de que “até os demônios” estavam sujeitos a eles, por meio do Seu nome. No entanto, Ele gentilmente os advertiu para não se alegrarem com isso, mas sim porque seus nomes estavam escritos no céu. Eles não deviam se alegrar tanto com o que haviam feito, mesmo que isso fosse feito expressamente por Seu comando e com Seu poder. Em vez disso, eles deviam se alegrar com o que Ele havia feito por eles — algo em que eles não tinham nenhuma contribuição.


Como crentes, o Senhor Se deleita em nos usar em Seu serviço e pregar Sua Palavra. Mas é pela Sua Palavra e pelo Seu poder que as almas são salvas. Nunca devemos esquecer isso, pois a glória deve ser toda d’Ele. Um hino o expressa bem:


Ó mente divina, assim deve ser,

Que toda a glória pertence a Deus:

O amor divino, que fez decreto

Devemos ser parte, por meio do sangue de Jesus.

Ó nos mantenha, amor divino, perto de Ti,

Para que nossa nulidade possamos conhecer,

E sempre para Tua glória seja

Andando na fé enquanto aqui embaixo.

J. N. Darby


W. J. Prost

 

Coceira nos Ouvidos – O Que É Agradável a Si Mesmo

“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4:3-4).


Aqui encontramos não “ouvidos fechados”, mas “ouvidos que coçam”[1] e aqueles que “desviam os ouvidos da verdade”. Os ouvidos não são surdos, nem impedidos, nem fechados; eles estão bem vivos e abertos para ouvir. Eles coçam para captar algum som, mas não a verdade. Não, eles se afastam da verdade como de um som conhecido, mas desagradável, familiar, mas de mau gosto, ouvindo de todos os lados, mas desacreditado e evitado. Os ouvidos que coçam procuram o que é agradável a si mesmos e se desviam da verdade. Procuram o sensacional, o sentimental, o irreal, a sabedoria deste mundo, mas detestam a verdade.


Isso é solene e sério! E qual é a consequência? A coceira nos ouvidos satisfaz? Essa coceira leva à paz ou ao contentamento ou a uma base sólida de descanso divino? Não, pelo contrário, ela leva “às fábulas”. Que punição! Desviar-se da verdade é tornar-se às fábulas. Que retrato do nosso dia!


Lemos: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”. Esse tempo chegou e esses são os homens desta geração. Os mestres vão se amontoando e a doutrina deles se adequa admiravelmente aos gostos corrompidos e degradados dos ouvidos que os escutam. A sã doutrina como expiação pelo sangue, a eternidade da punição e a deidade do bendito Senhor Jesus Cristo não podem ser toleradas. Os grandes fatos fundamentais da doutrina de Deus são cientificamente descartados, e em vez disso, fábulas tolas e aberrações mentais são gananciosamente engolidas.


A palha e o trigo

“Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor” (Jr 23:28), e os ouvidos religiosos destes dias estão se alimentando de palha. Aproximamo-nos rapidamente do momento em que “Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:11-12). É, portanto, uma coisa séria brincar com a verdade, ou pensar que Deus não tem consciência de como ela é tratada em nossas mãos.


Os homens desta geração são terrivelmente responsáveis. Eles estão em terreno escorregadio. Mil privilégios sagrados, uma Bíblia aberta, um evangelho claro e difundido, o trabalho do Espírito na Terra, a graça paciente de Deus – tudo isso torna a responsabilidade deles enorme. Graças a Deus, graça e misericórdia permanecem; a porta ainda não está fechada. O doce convite ainda é válido. “VEM”, chega aos ouvidos tão plena e ricamente como sempre.


“Escutai, e inclinai os ouvidos, e não vos ensoberbeçais; porque o SENHOR falou. Dai glória ao SENHOR, vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; antes que, esperando vós luz, Ele a mude em sombra de morte e a reduza à escuridão” (Jr 13:15-16).

J. W. Smith

 

Aquela Boa Parte Que Não Será Tirada

Lucas 10:38-42

Na parte final deste capítulo, vemos que a única grande coisa era ouvir a Palavra de Cristo. Isso aprendemos com a aprovação maior dada à Maria do que a dada à Marta, que, em certo sentido, estava fazendo uma coisa muito boa, pois ela O recebeu em sua casa e O serviu. Mas há algo melhor do que isso, e “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”. Em certo sentido, deve haver trabalho para servir a Cristo, mas é muito melhor ouvi-Lo. Suas Palavras entrariam e teriam poder no coração.


A única coisa que permanece para sempre é a Palavra do Senhor. A sabedoria deste mundo é contra ela, o raciocínio humano é contra ela, mas a Palavra de Deus é a única coisa sobre a qual vale a pena esperar diligentemente. Se um Cristão está raciocinando sobre as circunstâncias, em vez de buscar a Palavra – “assim diz o Senhor” – ele certamente vai decair em sua própria alma. O princípio insistido nesta narrativa final do capítulo é o mesmo que o Senhor ensinou quando disse no versículo 20: “alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus”, em contraste com os demônios se sujeitando a eles. Queremos a Palavra em nosso coração e estar sentados aos pés de Cristo.


A religiosidade é amável o suficiente para este mundo, mas isso não entrará no céu. Devemos ter Cristo em nosso coração, pois o mundo está se desvanecendo, e só aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.


Sentado aos pés de Jesus

Ao sentar-se aos pés de Jesus, Maria soube como antecipar a morte d’Ele e o valor de Sua Pessoa a ponto de fazer com que ela tomasse o unguento de nardo e, em pleno afeto de seu coração, esgotar o vaso na unção de Seus pés. Somente Maria ungiu o corpo do Senhor para o sepultamento, e ela não é vista no sepulcro, nem mesmo na cruz. Ela só pensava na ressurreição, porque sabia que as almas dos homens estavam arruinadas e que Ele veio livrá-las.


A questão retratada nestes versículos não é tanto que Marta estava incomodada em preparar uma refeição, mas que Maria estava ouvindo a Palavra, pois o grande prazer que encantou o Senhor era o ouvido atento à Sua Palavra. “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade (Tg 1:8). Deus estava agora, por Sua própria Palavra, trazendo a verdade para a alma das pessoas. Elas podem, é claro, ter os ouvidos fechados para essa Palavra, mas isso é outra coisa. “A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. Cristo era a Palavra viva, e Ele disse: “Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado”. A verdade coloca tudo no seu devido lugar, ou não é verdade. Ela coloca tudo na plena luz de Deus. A verdade coloca o homem no lugar dele, ou não é verdade. Ela coloca o pecado no lugar dele, ou não é verdade. Ela coloca a justiça no lugar dela, ou não é verdade. Ela coloca o amor no lugar dele, ou não é verdade. E coloca Deus no lugar d’Ele, ou não é verdade. Em certo sentido, a verdade nunca veio até que Cristo veio, pois eu não digo a verdade sobre Deus, a menos que eu diga que Ele é amor, e que nunca se manifestou até que Cristo veio. A lei não disse nada sobre isso; graça e verdade vieram por Jesus Cristo. Tudo foi moralmente corrigido por Ele. Eu não digo que os homens viram isso. A lei é colocada em contraste com o que Cristo veio declarar. “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17).


A Palavra escrita

A Palavra escrita é agora o instrumento que revela a verdade. A lei era santa, justa e boa, porque era de Deus. A lei convenceu os homens do pecado, mas desse modo, a lei em si mesma não era a verdade. Dizia aos homens o que deviam fazer, mas enquanto dizia aos homens que deviam amar a Deus de todo o coração, não dizia nada em si mesma o que era o homem, mas o que o homem deveria ser, pois ela disse: “faça isso e viverá”. Ela não disse ao homem que ele era um pecador perdido, e incapaz de cumpri-la; não disse ao homem qual era sua condição; dessa forma, não disse nada da verdade, apenas deu um pensamento abstrato sobre o que o homem deveria ser. Também, a lei não dizia o que Deus era, embora a lei em si fosse verdadeira, ela apenas afirmava que “os Meus estatutos e os Meus juízos guardareis; os quais, fazendo-os o homem, viverá por eles” (Lv 18:5). Claro, eu não preciso dizer que o homem não poderia cumpri-la, e, portanto, a lei não era a verdade – isso veio por Jesus Cristo. Cristo entra como a Luz e diz: Vocês todos estão mortos no pecado, mas Eu posso lhes dar vida – isso é verdade. Ele diz: Deus é amor, e Deus manifestou Seu amor a um mundo pobre, pecaminoso e perdido, por isso estou aqui! Isso é verdade. A vinda de Cristo ao mundo mostrou como tudo estava no mundo e colocou tudo em seu verdadeiro lugar, tanto para o homem quanto para Deus. Sua vinda mostrou que tanto judeus quanto gentios eram igualmente escravos do pecado e de Satanás e que a verdade era necessária para libertá-los.


Portanto, Cristo veio, não apenas em graça e em verdade, mas também em amor, pois Ele veio para deixar claro ao coração e à consciência do homem seu verdadeiro estado diante de Deus, e para mostrar o remédio. Cristo era a Palavra viva. Ele veio testemunhando e dizendo o que Deus era – não especificamente na redenção, mas em testemunho. Portanto, de que valor para Ele foi o serviço pesado de Marta, em comparação com uma alma, a quem Ele veio salvar, ouvindo Sua Palavra? É o mesmo agora com um Cristão. Quando a Palavra de Deus vem, ela tem uma excelência sobre o coração do homem para fazê-lo crer. “Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17). A Palavra de Deus tem suas reivindicações sobre o coração daqueles que a ouvem, e quando recebida, é vida. Faz o caminho dela pela sua própria autoridade para a alma. Não há poder vivo em um milagre para colocar a vida na alma de um homem, mas há poder vivo na Palavra de Deus. E nunca há uma alma salva senão pela Palavra de Deus, pois é a Palavra que fala do sangue derramado na redenção. Uma pessoa pode acreditar por causa de milagres. Muitos o fizeram nos dias que o Senhor andou aqui, mas Jesus não Se confiava neles, porque era apenas uma convicção natural na mente, sem qualquer poder vivo na alma. Deve haver Cristo no coração, e é pela Palavra que qualquer alma pode entrar no céu. Pela Palavra de Deus uma alma é vivificada, pois somos gerados pela Palavra, e se a Palavra não pode fazê-lo, isso nunca será feito. “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade” (Tg 1:8). Suponha que pudéssemos começar um trabalho e fizéssemos um milagre; isso não daria vida a uma alma.


Responsabilidade

Mas a Palavra de Deus também coloca os homens sob responsabilidade. “A Palavra que tenho pregado, essa ... há de julgar no último Dia” (Jo 12:48). Assim também são as “sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação” (2 Tm 3:15). Assim, vimos que o poder vivificante da Palavra de Deus é colocado em contraste com milagres, de modo que uma fé fundada em milagres, como tal, é menos do que nada e vaidade, não tendo vida nela, pois não está no poder de nenhum milagre converter ou vivificar uma alma.


Há três coisas constantemente impostas em conexão com o poder da Palavra de Deus. Primeiro, a Palavra falada virá contra os homens num dia determinado. Em segundo lugar, embora venham “tempos difíceis (TB) [perigosos (KJV)], a Palavra de Deus pode “fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”. Terceiro, em uma alma que é vivificada pela Palavra de Deus, o efeito moral é torná-la dependente e obediente. “Santificado para a obediência”. Dependência é a característica do novo homem. O velho homem é independente, fazendo sua própria vontade, mas o novo homem conta com Deus. A perfeição do Senhor como Homem era Sua total dependência de Deus. Ele era Deus, é claro, mas sendo encontrado na forma de Homem, Ele era dependente, e, portanto, O encontramos, no início deste capítulo, como em outras partes do evangelho de Lucas, orando,que é a expressão de dependência. E assim também com Saulo de Tarso, quando sua própria vontade independente foi quebrada, temos a mesma expressão de dependência. “Eis que ele está orando” (At 9:11). Quando a altivez de sua vontade foi subjugada, sua linguagem foi: “Senhor, o que queres que eu faça?” A partir daquele momento, Deus teve Seu devido lugar na alma de Paulo. Assim, obtemos a força da declaração: “Mas uma só [coisa] é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.

Girdle of Truth, Vol. 3

 

Ouvidos que Não Escutarão


“Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4:2-4 – ARA).


Paulo está evidentemente olhando para os Cristãos. Timóteo deveria continuar pressionando de modo urgente, porque logo eles não o ouviriam. Quer fosse oportuno ou não, ele continuaria com isso, porque muito em breve não haveria oportunidade alguma.


Eu não acho que o apóstolo aqui fala do evangelho. O capítulo anterior fala de abandono. Ele está falando dos dias maus. Paulo não está dizendo que o evangelho não deva ser pregado aos pecadores em todos os lugares possíveis, mas a questão especial que ele tem em mente é que a Igreja entraria em um tal estado que eles não ouviriam a verdade. Quando pregamos o evangelho agora, pregamos a pessoas que se dizem Cristãs. É possível encontrar infiéis, é verdade. É dos últimos dias que ele está falando. Eles surgiram nos dias de João. Então, aqueles eram os últimos dias, embora tenha tido seu desenvolvimento moral desde então. Pedro diz: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus”, e Judas diz que esses homens “se introduziram com dissimulação” (ARA), e também que esses são os que o Senhor vem julgar.

J. N. Darby, Collected Writings, Expository 6

 

Comunicação

Abra seus ouvidos para Deus antes de abrir a boca para os outros.

Em oração, Deus ouve mais do que palavras; Ele ouve nosso coração.

Jesus ouve até o mais débil pedido por ajuda.

 

Seus Ouvidos Estão Sempre Abertos

Sabemos que Ele sempre ouve tudo o que pedimos de acordo com Sua vontade. Precioso privilégio! O próprio Cristão não desejaria que lhe fosse concedido qualquer coisa contrária à vontade de Deus, mas para tudo o que está de acordo com Sua vontade, os ouvidos d’Ele estão sempre abertos para nós, sempre atentos. Ele sempre ouve. Ele não é como o homem que não possa ouvir por estar muitas vezes ocupado, ou descuidado, para que Ele não ouça. Deus sempre nos ouve, e com certeza Ele não falha no Seu poder; a atenção que Ele nos dá é uma prova de Sua boa vontade. Recebemos, portanto, as coisas que Lhe pedimos. Ele nos atende. Que doce comunhão! Que grande privilégio! E assim é também do que podemos nos valer em amor para com os outros.

Present Testimony, Vol. 12

 

Deus Tem Falado

Quem tem ouvidos para ouvir?

A Palavra de Deus deve ser recebida pela fé, e os raciocínios do homem não podem ser o fundamento da fé; se fossem, não seria fé em Deus, nem fé na Sua Palavra. “Ele creu em Deus”. “E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a Mim” (Jo 6:45).


Vimos o Senhor colocando o Seu selo nas Escrituras, mas observamos, ao fazê-lo, que Ele colocou o Seu selo na fé de todos aqueles que anteriormente haviam crido nelas. Não foi porque Ele havia feito isso que os fiéis creram. A fé e o coração deles tinham sido previamente testados. Eles tinham fé, porque tinham recebido o testemunho das Escrituras antes de serem assim aprovados, no momento em que foram apresentados à fé deles, com base na autoridade da própria Escritura.


Quando Jeremias falou (Jr 7:23-28), vemos que nem todos receberam seu testemunho; havia alguns que não tinham ouvidos para ouvir, mas que ouviam falsos profetas. Quando Deus é reconhecido, isso se torna uma questão moral. Em todas as épocas, os crentes receberam o testemunho de Deus, e os incrédulos não foram capazes de discernir Deus no testemunho; e isso é assim agora. Deus dá, em Sua Palavra, evidências morais suficientes para recomendar tal testemunho à consciência. Quando Ele estabeleceu uma coisa nova ou quando Ele sustentou a fé à distância do santuário, Ele acrescentou evidências extraordinárias e suficientes. Mas com isso vem a responsabilidade moral daquele que ouve, que Deus nunca deixa de lado, e também a graça que age dando e estabelecendo a fé: A recepção da Palavra, e depois o entendimento desta Palavra, é uma coisa apresentada à responsabilidade do homem. Somente a graça pode capacitá-lo a recebê-la e entendê-la.

Present Testimony, Vol. 3

 

Os Ouvidos de Deus

A importância da oração está, não nos lábios que a faz, mas nos ouvidos em que ela é ouvida.

G. V. Wigram

 

A Porta dos Ouvidos

Os ouvidos são a porta de entrada, e a mente a avenida, mas a alma é a habitação da verdade divina.

J. G. Bellett

 

A Orelha Marcada com Sangue

A ponta da orelha direita foi marcada com sangue porque é pela orelha que recebemos comunicações; é uma via para nossa mente e nosso coração. Nossos julgamentos são formados de acordo com o que ouvimos. “Pelo que ouvi, eu julgo”. Recebemos instruções pelos ouvidos, e há uma conexão notável entre a boca e os ouvidos. Quanto ao ministério da Palavra, o verdadeiro servo ouve primeiro e depois fala. Assim foi com o Servo perfeito. “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem. O Senhor JEOVÁ Me abriu os ouvidos, e Eu não fui rebelde” (Is 50:4-5). Se homens maus e enganadores ganharem nosso ouvido, dificilmente haverá um limite para os danos que receberemos. Satanás primeiro alcançou os ouvidos de Eva, e então seu coração transgrediu contra Deus. Oh, ter o sentido constante em nossa alma de que nossos ouvidos são inteiramente para Deus, para que dia a dia e hora a hora, como uma criança pequena, possamos olhar para cima e dizer: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve” (1 Sm 3:9).

Things New and Old, Vol. 24

 

Ouvir Diariamente

“O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem” (Is 50:4).


Queridos jovens, vocês fazem isso? Vocês acordam todas as manhãs com ouvidos para ouvir o que o Senhor tem a dizer? Você lê a sua Bíblia de manhã e pede a vontade de Deus para o seu dia? Você deseja e voluntariamente recebe instruções de Deus todos os dias? Você é dependente, ou simplesmente sai da cama de manhã e se prepara para o trabalho do dia sem primeiro ficar de joelhos em oração e passar um tempo lendo a Escritura?


Oh, queridos jovens! Você é mais forte do que o bendito Filho de Deus? Quando Ele estava aqui como Homem, Ele esperou em Deus a cada manhã.

C.H. Brown

 

Ouvindo

Devemos estar de posse de liberdade e descanso para ouvir Sua voz. Se não houver descanso, você não poderá Lhe dar ouvidos. Não pretendo negar nem por um momento que há um exercício anterior ligado ao silenciamento dos desejos naturais, ao desaparecimento de outros sons que estavam prontos para encher os ouvidos da alma. Ou seja, mortificar o que se intromete, a fim de que os ouvidos desimpedidos possam ser direcionados para Ele, sem distração , e não para coisas que um coração doentio desperdiça, numa vida cansada e inquieta, ao alimentar-se de si mesmo.


Há um descanso na pessoa que ouve bem que é muito abençoado de testemunhar. Havia algo disso em Maria, quando ela se sentou aos pés de Jesus, e ouviu a Sua Palavra. Sua atitude era repousante; ela se sentou e ouviu.


Não nego a atividade da vida, seja em sua seriedade em conquistar, seja em sua prontidão para se render; mas afirmo que deveria ser atividade repousante — uma atividade que é mantida viva e sustentada por um objeto fora de si.


“Como o solo, quando ressecado com o calor do verão, Bebe alegremente da bem-vinda chuva; Nós também, ouvindo a Seus pés, Recebemos Suas palavras e sentimos Seu poder.”


Abstração e absorção

Vamos notar aqui um ou dois resultados da escuta com esse espírito.


Primeiro: tal pessoa é abstraída (despojada) de tudo, exceto do objeto da alma. Outros sons que de outra forma poderiam influenciar, agora deixam de interessar ao tal. Os ouvidos são voltados para captar cada nota da voz do Encantador; e, oh! Que voz é! Até mesmo Seus inimigos declararam que “nunca homem algum falou assim como este Homem”.


A noiva (quando o dia da união ainda não havia amanhecido e na inquietude do seu afeto) fica fascinada enquanto ouve no crepúsculo e anuncia com êxtase “a voz do meu amado” - d “meu amado falou” – toda a sua alma se volta para ouvir o que o noivo de seu coração tem a dizer.


Ao lado da abstração está a absorção de toda a ocupação da alma; os ouvidos, não apenas curvados para ouvir, mas absorvendo cada expressão de Sua voz; e isso, também, não como alguém que está separado de mim, mas Aquele a Quem estou unido.


“É a Sua voz que acorrenta o meu coração; É a Sua mão que separa; É a música que ouço. Fascinante, pressione-me para mais perto; Todos os outros sons se foram; Flutuo pela corrente sozinho: Todo o universo acima, Como um espelho para o Seu amor”


W.T. Turpin (adaptado)


 

Maria… Ouvia a Sua Palavra

Em Lucas 10:38-42, há uma comparação moral entre as duas irmãs que amavam o Senhor. Aquela que escolheu a melhor porção foi aquela cujo coração mais se apegou à Palavra como um elo entre a alma e Deus. Como todos sabemos, é pela Palavra da verdade que qualquer um é gerado de Deus, pois ela é a semente da vida incorruptível, aquela Palavra que vive e permanece para sempre. Mas ela é muito mais que isso. É o meio de crescimento, de purificação do caminho, do desfrute de Deus e, consequentemente, da bênção espiritual dia após dia. Isso ficou muito evidente na diferença entre Marta e Maria.


Eram irmãs de sangue, ambas crentes e amadas por Jesus. No entanto, havia uma diferença, e a principal causa e evidência disso entre as duas era o valor superior que Maria tinha pela Palavra de Jesus. A Palavra de Deus tem um poder educativo sobre a mente e as afeições dela, e ela prova ser a pessoa que mais valoriza o Senhor. O crente que mais realmente O serve, na mais verdadeira comunhão, é aquele que tem o mais profundo valor pela Sua Palavra. Encontramos isso como um princípio geral em outras partes da Escritura (“este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos”), e particularmente em João 14 – “Se alguém Me ama, guardará a Minha Palavra”. No caso de Marta e Maria, vemos o que acontece na prática. Lemos que “uma certa mulher, por nome Marta, O recebeu em sua casa”. Ela reconheceu plenamente que Ele era o Messias. Havia fé no coração de Marta pelo que Deus havia dado, mas ela não via mais n’Ele do que simplesmente o Messias. Sua fé não foi mais longe.


No entanto, “tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a Sua Palavra”. Maria não é caracterizada por uma recepção ao Senhor como fez Marta, por atenções amorosas e hospitalidade, embora da parte de Marta, tudo isso era fundado, sem dúvida, em um crescimento que vinha de fé. Em vez disso, “Maria sentou-se aos pés de Jesus e ouviu a Sua Palavra”. Alguns podem supor que essa seja uma prova muito menor de amor, mas para Jesus isso era, incomparavelmente, a atitude mais aceitável das duas. Marta honrou a Jesus como faria um judeu crente e justo; ela reconheceu a si mesma como serva, a Ele como Rei, e estava tão feliz quanto sua fé poderia estar ao receber o Senhor em sua casa no dia de Sua humilhação.


Maria ouvia a Sua Palavra

Sua irmã, no entanto, sentou-se aos pés de Jesus e ouviu Sua Palavra. No caso de Maria, não foi tanto o que ela fez pelo Senhor. Em vez disso, ela tinha uma percepção de Sua grandeza e amor que seu único desejo era sentar-se a Seus pés (uma atitude de humilhação muito mais profunda do que Marta jamais teve), com a consciência da plenitude divina que havia n’Ele para ela. Ela ouviu Sua Palavra; Marta “estava afadigada com muitas coisas”. Quantos há que gostam de servir ao Senhor, mas estão muito mais cheios de seus próprios feitos por Ele do que os d’Ele para eles, bem como n’Ele próprio! Isso engana a muitos. Eles medem a fé pela sua jornada de agitação e atividade. Mas, na verdade, tal atitude sempre tem envolvida uma grande parte do ego. Quando é a verdadeira humildade que anima, pode haver muito feito, mas há pouco ruído. Maria sentou-se aos pés de Jesus e ouviu Sua Palavra.


“Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude” (v. 40). Assim, não só havia uma grande quantidade de importância própria em Marta, mas, como costuma ser, ela se sentia constantemente desprezada e incomodada pelos outros. O espírito do egoísmo mede por si mesmo, e não pode apreciar um amor que é mais profundo do que o seu próprio, e que se mostra de maneiras e formas que não têm beleza aos seus olhos. Portanto, Maria, em vez de ser um objeto de complacência para Marta, a perturbava. Por que Maria não a ajudou? Os pensamentos de Marta giravam em torno de si mesma. Se ela estivesse pensando em Jesus, não teria dado ordem a Ele, a não ser reclamado de Maria. “Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude” Que falta de amor e humildade! Ela nem sequer deixa que o Senhor dirija a situação. O eu é sempre crítico, assim como importante, e tão rápido para culpar aos outros quanto para arrogar a si mesmo o que é impróprio. Ela esqueceu que era apenas a serva do Senhor. Quem era ela para desejar controlá-Lo? Marta estava cheia de zelo, mas de seus próprios caminhos (para não dizer sua própria vontade) em servir a Cristo.


Jesus justificou o coração fiel

Jesus, no entanto, responde com a dignidade que Lhe era própria, e com o amor, que sempre O caracterizou, que vê a verdade, mas que ao mesmo tempo defende o coração fiel diante daqueles que os entendem mal. Ele amou a ambas de fato, e diz em resposta: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas”. Ele trata primeiro com ela. Ela não deveria estar tão ansiosa e preocupada. Marta não sabia o que Paulo sabia tão bem – “mas uma coisa faço” (Fp 3:13). Nunca houve um homem com tão numerosas ocupações como o apóstolo, nunca houve outro com tal coração para a Igreja. E, no entanto, ele poderia empregar alegremente suas mãos em fazer tendas, porque ele não queria ser pesado, embora tivesse o direito de o ser como um apóstolo de Cristo. O que foi que o fez tão concentrado e feliz por meio de todo o seu trabalho e sofrimento? A razão era que uma Pessoa, o único objeto digno, encheu e governou coração de Paulo. Isso o fez completamente feliz no meio das mais profundas aflições. Aquela “uma coisa” é precisamente o que é necessário para o filho de Deus, e a mesma coisa que Marta praticamente não tinha. Não era que ela não cria no Senhor, mas ela também tinha seus próprios pensamentos. A natureza era forte. Ela mantinha os fundamentos da tradição e dos sentimentos judaicos; todas essas coisas operavam ativamente em sua mente. Para tal pessoa, receber o Senhor Jesus não era apenas uma questão de honrá-Lo, mas de honrar a si mesma também. Nesses casos, o ego sempre se mistura numa maior ou menor medida, até mesmo com o desejo de exibir o respeito apresentado a Jesus.


“Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (v 42). Não há nada mais como isso. Essa boa parte significa valorizar a Cristo e Sua Palavra; não pensar o que Maria poderia fazer por Ele, mas o que Ele poderia fazer por Maria. Receber tudo do Senhor para sua alma, em vez de recebê-Lo em sua casa, estava diante da alma de Maria. Esta era a única coisa necessária – era o próprio Cristo. Ele é tudo, e Maria sentiu isso. Essa “boa parte ... não lhe será tirada” – é eterna. As honras de Marta passaram; elas estavam próximas do fim, pois logo Jesus não seria conhecido segundo a carne. Mas a posição de Maria, de fé humilde em ouvir Sua Palavra, duraria para sempre. Mesmo no céu a essência disso não será perdida. A comunhão com Jesus, o deleite em Jesus, a humildade de coração diante de Jesus, serão sempre verdades; é a parte da verdadeira dedicação e do amor mais profundo. Por maior que seja a fé e a esperança, o amor é o que permanece para sempre, e o amor agora é proporcional ao poder de fé e de esperança. Todas essas coisas eram incomparavelmente mais ricas e mais fortes no coração de Maria do que no de Marta, e isso porque Cristo encheu o coração de Maria — essa única coisa que é necessária.

W. Kelly (adaptado)

 

Deus em Todas as Coisas

Nada ajuda mais o Cristão a suportar as provações de seu caminho como o hábito de ver Deus em todas as coisas. Não há circunstância, por mais trivial ou banal que seja, que não possa ser considerada como mensageira de Deus. O livro de Jonas ilustra essa verdade de uma maneira muito marcante. Lá aprendemos que não há nada comum para o Cristão; nada é um curso de eventos aleatórios; tudo é extraordinário. As coisas mais comuns – as circunstâncias mais simples – exibem na história de Jonas evidências da interferência divina. Para ver essa característica instrutiva, não é necessário entrar em uma exposição detalhada do livro de Jonas. Precisamos apenas notar uma expressão, que ocorre nele repetidamente, a saber, “O Senhor preparou” (ACF).


Um grande vento

No capítulo 1 o Senhor mandou um grande vento ao mar, e esse vento tinha em si uma voz solene para os ouvidos do profeta, se ele estivesse acordado para ouvi-la. Os pobres marinheiros pagãos, sem dúvida, tinham enfrentado tempestades muitas vezes, essa, porém, era especial e extraordinária para um indivíduo a bordo, embora ele estivesse dormindo no porão do navio. Em vão, os marinheiros procuraram conter a tempestade; nada adiantaria até que a mensagem do Senhor tivesse chegado aos ouvidos daquele a quem ela foi enviada.


Um grande peixe

Seguindo um pouco mais a Jonas, notamos outro caso de Deus em todas as coisas. Ele é levado a novas circunstâncias, mas não está longe do alcance dos mensageiros de Deus. Os Cristãos nunca se encontrarão numa posição em que a voz do Pai não alcance os ouvidos deles ou em que não enxerguem as mãos do Pai, pois, Sua voz pode ser ouvida e Sua mão vista, em todas as coisas. Então, quando Jonas foi lançado ao mar, “o Senhor preparou um grande peixe”. Aqui também, vemos que não há nada comum para o filho de Deus. Um grande peixe não é incomum— há muitos deles no mar. Porém, o Senhor preparou um para Jonas, com a finalidade de ser um mensageiro de Deus para a alma dele.


Uma aboboreira

No capítulo 4 vemos o profeta sentado ao oriente da cidade de Nínive, em amargor e impaciência, aflito porque a cidade não havia sido destruída e ele suplicou ao Senhor que lhe tirasse a vida. Parecia que ele havia esquecido a lição aprendida durante os três dias que esteve nas profundezas, e, portanto, precisou de nova mensagem de Deus. “O Senhor Deus preparou uma aboboreira ”. Isso é muito instrutivo. Certamente não havia nada incomum na simples existência de uma aboboreira, mas a de Jonas exibiu traços da mão de Deus e forma uma ligação – uma importante ligação – na cadeia de circunstâncias pelas quais o profeta estava passando. Assim, a aboboreira, como o grande peixe, era uma mensagem de Deus para a alma dele. “Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira”. Ele tinha antes desejado morrer, mas seu desejo era mais o resultado de impaciência e desgosto do que o santo desejo de partir e estar no descanso para sempre. Era por causa da dor do presente, ao invés da alegria do futuro que o fez desejar partir.


Um bicho

Isso sempre acontece. Estamos frequentemente ansiosos para fugir da pressão que se apresenta, mas se a pressão fosse removida, o desejo cessaria. Se desejássemos a vinda de Jesus e a glória de Sua abençoada presença, as circunstâncias não fariam diferença; devemos então, aguardar tão ardentemente somente para fugir de circunstâncias agradáveis bem como as de pressão e de tristeza. Jonas, enquanto se sentava sob a sombra da aboboreira não pensava em partir, e o fato de seu estado de “extrema alegria por causa da aboboreira” provou o quanto ele precisava daquela mensagem especial do Senhor. Serviu para manifestar a verdadeira condição de sua alma. No entanto, a aboboreira era nada mais que um elo na cadeia, pois o Senhor “preparou um bicho” (TB) e esse bicho, insignificante como era, visto como sendo um instrumento, era, ainda assim, o agente divino como foi o “grande vento” ou o “grande peixe”. Um bicho, quando usado por Deus, pode fazer maravilhas; ele secou a aboboreira de Jonas e ensinou a ele, como nos ensina, uma lição solene. É verdade que o bicho era apenas um agente insignificante, e a eficácia dele dependia de sua união com os outros agentes, mas isso só ilustra mais notavelmente a grandeza da mente de nosso Pai. Ele pode preparar um bicho, e pode preparar um vento forte do leste, e Ele pode fazer os dois, e embora sejam tão diferentes, podem ser instrumentos de Seus grandes projetos.


No grande e no pequeno

Em uma palavra, a mente espiritual vê Deus em todas as coisas. O bicho, o grande peixe e a tempestade são todos instrumentos em Suas mãos. Os agentes mais insignificantes, assim como os mais esplêndidos, promovem Seus objetivos. O vento leste não teria se mostrado eficaz, embora tivesse sido sempre tão veemente, se o bicho não tivesse feito seu designado trabalho. Como é impressionante tudo isso! Grandes e pequenos são termos em uso apenas entre os homens e não podem se aplicar a Ele “Aquele que Se humilha para ver as coisas que estão no céu”, bem como “na Terra” (Sl 113:6 – JND). Jeová pode dizer o número das estrelas, e enquanto faz isso Ele pode tomar conhecimento da queda de um pardal. Nada é grande ou pequeno para Deus.


O crente, portanto, não deve olhar para nada como um evento aleatório, pois Deus está em todas as coisas. É verdade que ele pode ter que passar pelas mesmas circunstâncias – para enfrentar os mesmos julgamentos – como outros homens, mas ele não deve enfrentá-las da mesma forma, e elas também não transmitem a mesma informação aos seus ouvidos. O crente deveria ouvir a voz de Deus e ouvir Sua mensagem seja na ocorrência mais insignificante, bem como na mais importante do dia. A desobediência de uma criança ou a perda de um patrimônio, o fracasso de um servo ou a morte de um amigo, devem ser todos considerados mensageiros divinos à alma do crente.


Os propósitos insondáveis de Deus

Assim também, quando olhamos ao nosso redor no mundo, Deus está em todas as coisas. A derrubada dos tronos, a queda dos impérios, a fome, a peste e todos os eventos que ocorrem entre as nações exibem traços da mão de Deus e expressam uma voz para os ouvidos do homem. O diabo vai procurar roubar do Cristão a verdadeira doçura desse pensamento; ele vai tentá-lo a pensar que, pelo menos, as circunstâncias comuns da vida cotidiana não exibem nada de extraordinário, mas são apenas como acontecem com os outros homens. Porém, não devemos ceder a ele nisso. Devemos começar todas as manhãs com essa verdade vividamente gravada em nossa mente – Deus está em todas as coisas. Tanto o Sol que gira ao longo dos céus em esplêndido brilho como o verme que rasteja ao longo do caminho foram preparados por Deus, e, além disso, ambos podem cooperar no desenvolvimento de Seus insondáveis projetos.


Gostaria de observar, para concluir, que o único que caminhava lembrando-Se permanentemente dessa preciosa e importante verdade era o nosso bendito Mestre. Ele via a mão do Pai e ouvia a voz d’Ele em todas as coisas. Isso aconteceu de forma perfeita por ocasião da mais profunda tristeza. Ele saiu do jardim de Getsêmani com aquelas palavras memoráveis: “não beberei Eu o cálice que o Pai Me deu?” Assim, Ele reconheceu da maneira mais completa que Deus está em todas as coisas.


 

Os Ouvidos de Samuel

Silenciado foi o hino da noite; Os pátios do templo se escureceram; A lâmpada estava quase apagada

Lá, diante da arca sagrada;

Quando uma voz divina, de repente, Soou, no silêncio do santuário, claramente.


Já velho, fraco e cansado, O sacerdote de Israel, dormia;

E em seu turno no templo, um menino, Um pequeno levita, em seu destino; E o que a Eli foi então selado, Pelo Senhor, foi ao filho de Ana revelado.


Oh, dê-me, de Samuel, o ouvido: Sempre aberto para Ti, Senhor, Pronto e capaz em seu sentido A cada Palavra Tua, e em temor,

Como ele, responder ao Teu chamado, A qualquer custo, à voz do meu Amado.


Oh, dê-me o coração de Samuel. Sempre humilde, um coração fiel.

Que em Tua casa com fé permaneça, E em Teus portões, a vigília não esqueça. Um coração, que dia e noite, a Ti agrade, E se mova no sussurro da Tua vontade.


Oh, dê-me de Samuel, a mente. Uma fé que não murmura e que contente, Com resignação e obediente, Vida ou morte a Ti sempre apresente!

E para que eu tenha reveladas, Verdades que a sábio algum serão mostradas.

J. D. Burns


 

[1] N. do T.: κνήθω (knēthō) Da raiz κνάω (knaō) raspar; coçar, isto é, (por implicação) fazer cócegas. desejoso de ouvir algo agradável; obter excitação prazerosa; satisfazer uma coceira.



 

"Fala, porque o Teu servo ouve" ( 1 Sm 3:10)

Talvez a primeira instrução que a criança precise aprender é a ouvir.


A palavra ouvir em latim é audire. A expressão ob audire significa ouvir atentamente. Desta frase vem a palavra obediência. Portanto obedecer tem sua raiz em ouvir atentamente.


Por outro lado, a palavra surdez em latim é surdus e totalmente surdo é ab surdus.

Portanto a vida será um absurdo ou até mesmo irracional se não estivermos ouvindo atentamente a ponto de obedecer Àquele que é a Verdade.

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