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Palavras de Edificação 26

(Revista bimestral publicada originalmente em Março/Abril 1990)

 

ÍNDICE


 

SANTIFICAÇÃO – O QUE É?


Tendo o propósito de ministrar paz e conforto àqueles que, embora verdadeiramente convertidos, ainda não se apossaram da plenitude de Cristo, e que, como consequência, não estão desfrutando da liberdade do evangelho, consideramos de grande interesse e importância escrever sobre o assunto da Santificação. Cremos que muitos, daqueles cujo bem-estar espiritual desejamos promover, sofrem por terem uma idéia errada acerca deste assunto. Na verdade, em alguns casos, a doutrina da santificação é tão mal compreendida que chega a interferir com a fé na perfeita justificação e aceitação do crente perante Deus.


Temos ouvido, com certa frequência, pessoas se referirem à santificação como se fosse um trabalho progressivo, por meio do qual nossa velha natureza seria gradativamente melhorada. Além disso, afirmam que enquanto esse processo não atingir o seu clímax, ou seja, enquanto a natureza humana, caída e arruinada, não for completamente santificada, não estaremos preparados para o céu.


Tanto as Escrituras como a experiência prática de todos os crentes são totalmente contrárias a tal pensamento. A Palavra de Deus não nos ensina que o Espírito Santo tenha como objetivo o aperfeiçoamento, mesmo que gradual ou de que forma for, de nossa velha natureza – aquela mesma natureza que herdamos, por nascimento natural, do caído Adão. O apóstolo inspirado declara expressamente que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Esta passagem é clara e conclusiva quanto a este ponto. Se "o homem natural" não pode "compreender", nem "entender", "as coisas do Espírito de Deus", como poderia este mesmo "homem natural" ser santificado pelo Espírito Santo? Não está evidente que falar em santificação de nossa natureza está em oposição direta ao ensinamento de 1 Coríntios 2:14? Outras passagens poderiam ser acrescentadas, para provar que o desígnio das operações do Espírito não é o de aperfeiçoar ou santificar a carne, porém não há necessidade de multiplicar as citações bíblicas. Algo que está completamente arruinado não pode nunca ser santificado.


Não importa o que se faça com a velha natureza ela continua arruinada, e, com toda a certeza, o Espírito Santo não desceu para santificar a ruína, mas para conduzir o arruinado a Jesus. Em vez de encontrarmos qualquer tentativa de santificação da carne, lemos que "a carne cobiça (ou milita) contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro" (Gl 5:17). O Espírito Santo poderia ser representado como travando uma guerra contra aquilo que Ele estaria gradualmente aperfeiçoando ou santificando? Acaso não cessaria o conflito tão logo o processo de aperfeiçoamento tivesse atingido o seu ponto máximo? No entanto, será que o conflito do crente alguma vez cessa enquanto ele estiver no corpo?


Isto nos leva à segunda objeção à teoria errônea da santificação progressiva da nossa natureza, a saber: A objeção criada pela sincera experiência prática de todos os crentes. Você, que lê estas linhas, é um verdadeiro crente? Se for, acaso já notou algum aperfeiçoamento em sua velha natureza? Há nela algum aspecto que seja melhor agora do que quando começou em sua vida Cristã? Talvez agora você possa, e é certo que pela graça deverá poder, subjugá-la com maior rigor, mas será que ela melhora com isso? Se ela não for mortificada, estará sempre pronta para surgir novamente e se mostrar com a mesma vileza de sempre. A carne em um crente não é em nada melhor do que a carne em um incrédulo. E se o Cristão não tiver firme em sua mente que o “eu” deve ser julgado, ele logo irá aprender, por amarga experiência, que sua velha natureza é tão má agora como sempre o foi; e continuará assim até o fim.


É difícil conceber que alguém, que é levado a esperar uma melhora gradativa de sua natureza, possa desfrutar de um momento de paz, uma vez que tal pessoa não poderá deixar de ver, caso examine a si mesma à luz da Palavra de Deus, que seu velho eu – sua carne – é o mesmo de quando ele caminhava na escuridão moral de seu estado de inconverso. O seu caráter e a sua condição estão, de fato, bastante mudados pela posse de uma nova natureza, sim, de uma "natureza divina" (2 Pe 1:4), e pela incorporação do Espírito Santo para dar cumprimento à Sua vontade. Mas, no momento em que é permitido que a velha natureza volte a agir, o crente a encontrará, como sempre, em completa oposição a Deus.


Buscando a Paz fora do Fundamento

Não temos qualquer dúvida de que, na sua grande maioria, a melancolia e o abatimento de que muitos crentes se queixam, pode ser uma consequência da má compreensão deste importante assunto que é a santificação. Muitos estão procurando o que nunca podem encontrar; estão buscando a paz com base em uma natureza santificada em vez de a procurarem no sacrifício perfeito; buscam-na num contínuo trabalho de santidade quando deveriam buscá-la numa completa obra de expiação. Tais pessoas consideram uma presunção crer que seus pecados estão perdoados enquanto sua natureza má não estiver completamente santificada e, ao perceberem que nunca alcançam isto, acabam por não desfrutar de uma completa certeza de perdão, vivendo, consequentemente, uma vida triste. Em poucas palavras, estão buscando um fundamento totalmente diferente daquele que Jeová afirma haver colocado, e vivem, por conseguinte, uma vida de incertezas. A única coisa que parece dar-lhes uma centelha de conforto é algum esforço aparentemente bem sucedido em sua luta por santidade pessoal. Se tiverem um bom dia, se forem favorecidos com um período de agradável comunhão, se puderem usufruir de um sentimento pacífico e devoto, estarão prontos a proclamar: "Tu, Senhor, pelo Teu favor fizeste forte a minha montanha" (Sl 30:7).


Mas, oh! quão deplorável é o fundamento para a paz de espírito que tais coisas oferecem! Tais coisas não são Cristo, e enquanto não estivermos cientes de que nossa posição diante de Deus é em Cristo, a paz não poderá se estabelecer. A alma, que verdadeiramente se apossou de Cristo, é deveras desejosa de santidade, porém está ciente do que Cristo é para si. Tal pessoa encontrou seu tudo em Cristo, e o desejo supremo do seu coração é crescer à Sua semelhança. Esta é a verdadeira santificação prática.


Frequentemente ocorre que pessoas, ao falarem de santificação, tenham em mente a coisa certa, apesar de não conseguirem se expressar de acordo com os ensinamentos das Sagradas Escrituras. Há, também, muitos que vêem apenas um lado da verdade acerca da santificação, sem enxergarem o outro, e, embora possamos estar parecendo alguém que faz dos outros transgressores da Palavra, é sempre mais desejável, ao falarmos de qualquer assunto relativo à Palavra, e, ainda mais deste assunto de tanta importância como é a santificação, que falemos de acordo com a divina integridade da Palavra de Deus. Devemos, portanto, apresentar aos nossos leitores algumas das principais passagens do Novo Testamento nas quais esta doutrina é exposta. Estas passagens irão nos ensinar duas coisas: o que é santificação e como é efetuada.


A primeira passagem, à qual chamaremos a atenção, é 1 Coríntios 1:30: "Mas vós sois d'Ele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Aqui aprendemos que Cristo "foi feito" todas estas quatro coisas. Deus nos tem dado, em Cristo, um precioso porta-jóias, e quando o abrimos com a chave da fé, a primeira jóia que resplandece aos nossos olhos, é: “sabedoria”; a segunda é: "justiça"; a terceira é: "santificação" e, a quarta é: "redenção". Temos isso tudo em Cristo. Quando recebemos um, recebemos todos. E como recebemos um e todos? Pela fé. Então, por que o apóstolo cita redenção por último? Porque ela se cumpre no livramento final do crente de seu corpo, de sob o poder da mortalidade, quando a voz do arcanjo e a trombeta de Deus deverá levantá-lo do túmulo, ou transformá-lo, "num abrir e fechar de olhos"; o corpo está agora numa condição e, "num momento", estará em outra (1 Co 15:52). No curto espaço de tempo expressado pelo rápido movimento das pálpebras, o corpo passará da corrupção para a incorrupção; da desonra para a glória; da fraqueza para o poder. Que mudança! Será imediata, completa, eterna!


Mas o que devemos aprender do fato da "santificação" estar colocada naquele grupo juntamente com "redenção"? Aprendemos que aquilo que a “redenção” será para o corpo, a “santificação” é agora para a alma. Em poucas palavras, santificação, no sentido em que é aqui usada, é imediata e completa – um trabalho divino. No que diz respeito à santificação e à redenção, uma não é mais progressiva do que a outra. Uma é tão completa e independente do homem quanto a outra. Sem dúvida, quando o corpo tiver passado pela gloriosa mudança, haverá picos de glória a serem atingidos, profundezas de glória a serem penetradas e extensos campos de glória a serem explorados. Todas estas coisas irão nos ocupar através da eternidade. Mas, então, a obra para nos preparar para tais cenas será feito “num momento”. O mesmo sucede com relação à santificação: seus resultados práticos estão constantemente se apresentando, mas ela, em si mesma, trata-se de algo realizado “num momento”.


Justiça e Santificação

Que imenso alívio seria para milhares de almas zelosas, ansiosas e batalhadoras, se compreendessem isto, e tivessem uma apropriada possessão de Cristo como “santificação”! Quantos estão se empenhando em realizar uma santificação por si mesmos! Após muitos esforços infrutíferos, buscando conseguir justiça em si mesmos, foram a Cristo para obtê-la; e, no entanto, não querem fazer o mesmo quando se trata de buscar por santificação. Receberam "justiça sem obras" e esperam conseguir “santificação com obras”. Receberam justiça pela fé, mas acham que a santificação deve ser conseguida por esforço próprio. Não percebem que recebemos santificação exatamente da mesma maneira que recebemos justiça, visto que Cristo "para nós foi feito por Deus" tanto uma coisa como outra. Recebemos a Cristo pelo esforço? Não, mas pela fé! Pois "aquele que não pratica, mas crê n'Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rm 4:5). Isto se aplica a tudo o que recebemos em Cristo. Nós não estamos autorizados a separar de 1 Coríntios 1:30, o assunto da santificação, colocando-o em um plano diferente das outras bênçãos que o versículo engloba. Também não temos “sabedoria, e justiça, e santificação, e, tampouco, redenção” em nós mesmos; e, nem podemos adquiri-las por algo que possamos fazer; mas Deus fez com que Cristo fosse todas estas coisas em nós. Nos dando Cristo, Ele nos deu tudo o que está em Cristo. A plenitude de Cristo é nossa, e Cristo é a plenitude de Deus.


Em Atos 26:18, é falado, com respeito aos gentios convertidos, como recebendo "a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé". Aqui a fé é o instrumento pelo qual nos é dito para sermos santificados, pois nos liga com Cristo. No exato momento em que o pecador crê no Senhor Jesus Cristo, é ligado a Ele. É feito um com Ele, completo n'Ele, aceito n'Ele. Isto é verdadeira santificação e justificação. Não se trata de um processo. Não é um trabalho gradual. Não é progressiva. A palavra está bem explícita. É dito: "os santificados pela fé em Mim". Não diz "…os que deverão ser santificados", ou "…os que estão sendo santificados". Se esta fosse a doutrina, assim ela seria exposta.


Não há dúvida de que o crente cresce no conhecimento de sua santificação, na consciência do poder e do valor que ela tem, na sua influência e seus resultados práticos, e na experiência e gozo dela. Tão logo, a verdade derrame sua luz divina sobre a alma, o crente entra numa compreensão mais profunda, daquilo que envolve o fato de se estar separado para Cristo, em meio a este mundo satânico. Isso tudo é abençoadamente verdadeiro, mas quanto mais a verdade é visualizada, mais claramente iremos entender, que santificação não é meramente, um trabalho progressivo operado em nós pelo Espírito Santo, mas, é o resultado de nossa ligação a Cristo pela fé, por meio da qual nos tornamos participantes de tudo o que Ele é. Este é um trabalho imediato, completo e eterno. "tudo quanto Deus faz durará eternamente: nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar" (Ec 3:14). Se Ele justifica ou santifica, "durará eternamente". O selo da eternidade, é fixado sobre todo o trabalho da mão de Deus; "nada se lhe deve acrescentar" e, louvado seja o Seu nome, "nada se lhe deve tirar".


Há passagens que apresentam o assunto em outro aspecto, o resultado prático no crente de sua santificação em Cristo, o que pode exigir uma consideração mais apurada daqui para frente. Em 1 Tessalonicenses 5:23, o apóstolo roga aos santos aos quais se dirige: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". A palavra santifique, aqui, está no sentido de se distinguir determinadas classes de santificação. Os Tessalonicenses tiveram, assim como todos os crentes, uma perfeita santificação em Cristo, porém, no que se refere à apreciação e manifestação prática dessa santificação, isto foi apenas consumado em parte, razão pela qual o apóstolo roga para que eles fossem totalmente santificados.


É digno de nota, que nesta passagem nada é dito a respeito da carne. Nossa natureza caída e corrompida, é sempre tratada como algo irremediavelmente arruinado. Ela foi pesada na balança e achada em falta. Foi medida por um padrão divino, e se mostrou insuficiente. Foi conferida por um fio de prumo divino, e provou estar desaprumada. Deus a rejeitou. A velha natureza encontrou o seu fim perante Deus, e foi por Ele condenada, e entregue à morte (Rm 8:3). Nosso velho homem está crucificado, morto e sepultado (Rm 6:8). Estaremos nós, mesmo que por um momento, a imaginar que Deus – o Espírito Santo – desceria dos céus com o propósito de desenterrar algo condenado, crucificado e enterrado, a fim de podê-la santificar? Basta apenas que se identifique o que implica tal ideia, para que a mesma seja abandonada para sempre, por todo aquele que se sujeita à autoridade das Escrituras. Quanto mais acuradamente estudarmos a Lei, os Profetas, os Salmos e todo o Novo Testamento, iremos ver que a carne é totalmente irrecuperável. Ela não é boa para coisa alguma, e o Espírito não a santifica, pelo contrário, capacita o crente a mortificá-la. Nos é dito que lancemos fora o velho homem. Tal preceito nunca nos teria sido dado, se o objetivo do Espírito Santo fosse a santificação daquele velho homem.


Santidade Verdadeira e Prática

Cremos que ninguém irá nos acusar de estarmos alimentando o desejo de rebaixar o padrão de santidade pessoal, ou enfraquecer sinceras aspirações de uma alma que tenha crescido naquela pureza que todo verdadeiro Cristão deve desejar ardentemente. Longe de nós tal pensamento! Se existe algo que desejamos promover em nós mesmos e, acima de tudo, nos outros, é uma completa pureza pessoal; uma santidade divinamente prática; uma sincera separação para Deus, de todo o mal e em todas as formas e maneiras. Por isto nós ambicionamos, por isto oramos, e nisto desejamos crescer diariamente.


Porém, estamos plenamente convencidos de que um edifício de santidade verdadeira e prática, nunca pode ser erigido sobre um alicerce legalista, e, por conseguinte, chamamos a atenção dos leitores para 1 Coríntios 1:30. É triste vermos que muitos daqueles que, de uma forma ou de outra, deixaram qualquer base legalista no que se refere à justiça, hesitem em fazer o mesmo para abraçar a santificação. Cremos ser este o engano de milhares de pessoas, e estamos ansiosos em vê-lo corrigido. A passagem citada poderia corrigir inteiramente este sério erro, se tão somente fosse recebida no coração pela fé.


Todos os Cristãos, com algum discernimento, concordam quanto à verdade fundamental da “justificação sem obras”. Todos admitem plenamente que não podemos, por nosso próprio esforço, produzir uma auto-justificação diante de Deus. Mas será que não está igualmente claro que a justificação e a santificação são colocados precisamente no mesmo terreno na Palavra de Deus. Não podemos produzir uma santificação do mesmo modo como não podemos produzir uma justificação. Podemos tentar fazê-lo, mas cedo ou tarde descobriremos que terá sido totalmente em vão. Podemos prometer e decidir; podemos trabalhar e lutar; podemos nutrir a vã esperança de que amanhã agiremos melhor do que hoje; mas no fim acabaremos constrangidos a reconhecer, sentir e confessar que somos tão incapazes naquilo que se refere à santificação como o somos no que diz respeito à justificação.


Ah! que doce alívio para o que sofre e tem buscado por satisfação e descanso em sua própria santidade, quando descobre, após anos de infrutífero esforço, que exatamente aquilo que ele tanto ambiciona está entesourado para ele em Cristo! Ao descobrir isto, sua alma torna-se serena em uma completa santificação a ser desfrutada pela fé! Ao viver batalhando contra seus hábitos, suas concupiscências, seu mau gênio e suas paixões, esse crente tem feito o mais penoso dos esforços para subjugar sua carne e crescer em santidade interior, mas ele tem falhado (compare com Romanos 7)! Ele descobre, para seu profundo desgosto, que ele não é santo, e lê que "a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12:14). Aqui não nos fala de um certo grau ou estágio de santificação, mas sem a coisa em si, a qual todo Cristão possui desde o momento em que crê, quer ele saiba disto ou não. A perfeita santificação está tão incluída na palavra “salvação”, quanto “sabedoria”, “justificação”, ou “redenção”. Não se recebe a Cristo por esforço, mas pela fé, e quando se recebe a Cristo, recebe-se tudo o que está em Cristo. Consequentemente, é permanecendo em Cristo que se encontra poder para subjugar as concupiscências, paixões, mau gênio, maus hábitos, circunstâncias e influências nocivas. O crente deve contar com o Senhor Jesus em tudo. O crente não pode dominar uma única luxúria, assim como não pode cancelar todo o catálogo de seus pecados, desenvolver uma justiça perfeita ou ressuscitar os mortos. "Cristo é tudo em todos" (Cl 3:11). A salvação é uma corrente de ouro que se estende de eternidade a eternidade, e cada elo dessa corrente é Cristo. É tudo Cristo, do primeiro ao último.


Justificado e Santificado

Tudo isso é simples para a fé. O lugar do crente é em Cristo, e se o crente está em Cristo para uma coisa, deve estar em Cristo para todas as coisas. Não pode estar em Cristo para a justificação, e fora de Cristo para santificação. Se eu devo a Cristo a justificação, devo igualmente a Ele a santificação. Não devo ao legalismo nem uma coisa nem outra. Recebo ambas pela graça, por meio da fé, e tudo em Cristo. Sim, tudo em Cristo. No momento em que o pecador vem a Cristo e crê n'Ele, é tirado completamente do velho plano da natureza; ele perde sua velha situação legal e tudo o que diz respeito à mesma, e é visto como estando em Cristo. Ele não está mais “na carne, mas no Espírito” (Rm 8:9). Deus o vê apenas em Cristo e em conformidade com Cristo. Ele se torna um com Cristo para sempre. "Porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo" (1 Jo 4:17). Tal é a posição absoluta, a posição estabelecida e eterna do mais fraco bebê na família de Deus. Não há mais do que uma posição para todo filho de Deus, todo membro de Cristo. Seu conhecimento, experiência, poder, dom e inteligência, podem variar, mas sua posição é uma só. Seja quanto à sua justificação ou santificação, o crente possui tudo, e deve tudo, à sua permanência em Cristo. Se alguém não obteve uma completa santificação, tampouco terá obtido uma completa justificação. Mas 1 Coríntios 1:30, ensina claramente que Cristo "para nós foi feito por Deus"; tanto uma, quanto a outra, em todos os crentes. Não nos é dito que tenhamos justificação, e “um pouco” de santificação. Se não temos autoridade para colocar a palavra “um pouco” antes de justificação, também não temos autoridade para fazer isto com a santificação. O Espírito de Deus não coloca a palavra “um pouco” antes de nenhuma delas. Ambas são perfeitas, e as temos, ambas, em Cristo. Deus nunca faz algo pela metade. Não há algo como meia-justificação. Tampouco, há algo como meia-santificação. A idéia de que um membro da família de Deus, ou do corpo de Cristo, seja totalmente justificado, mas apenas meio santificado é, por princípio, contra as Escrituras, e revoltante à toda a sensibilidade da natureza divina.


Não é improvável que muito da má compreensão que prevalece, com respeito à santificação, seja devido ao costume que se tem de confundir duas coisas que diferem muito na prática, a saber, nossa posição e nossa condição. A posição do crente é perfeita, pois ela é um dom de Deus em Cristo. Porém, a condição ou maneira de agir do crente, esta sim pode ser bem imperfeita, oscilante e marcada por insegurança pessoal. Enquanto sua posição é absoluta e inalterável; sua condição prática pode exibir muitas imperfeições, uma vez que ele permanece no corpo e cercado por várias influências hostis que dia a dia afetam a sua condição moral. Se, então, sua posição for avaliada por sua maneira de agir, por sua situação ou condição; ou o que ele é sob o ponto de vista de Deus for avaliado do ponto de vista dos homens, então o resultado apresentado será falso. Se eu tentar chamar à razão tudo aquilo que sou em mim mesmo, em vez do que eu sou em Cristo, devo, necessariamente, chegar à uma conclusão errada.


Nós devemos olhar para tudo isso com muito cuidado. Estamos sempre muito dispostos a raciocinar de baixo para cima, de nós para Deus, em vez de o fazermos de cima para baixo, de Deus para nós. Devemos ter em mente que:


Longe como as órbitas celestes que brilham,

Além de onde as nódoas da Terra ascendem,

Além de meus pensamentos, além do chão que meus pés trilham,

Vossos caminhos e pensamentos transcendem.


Deus olha para Seu povo, e age para com ele de acordo com sua posição em Cristo. Deus deu-lhes essa posição. É Ele Quem faz com que sejam o que são; são o fruto do Seu trabalho. Portanto, tratá-los como estando meio-justificados é uma desonra para Deus, tanto quanto considerá-los como meio-santificados.


Esta linha de pensamento, nos conduz a outra forte prova, tirada da autorizada e conclusiva página de inspiração divina, a saber, 1 Coríntios 6:20. Nos versículos precedentes, o apóstolo pinta um quadro horrível da natureza humana caída, e adverte sinceramente aos santos de Corinto que eles haviam sido exatamente aquilo. "E é o que alguns têm sido" (1 Co 6:11). Esta é uma declaração cabal. Não há palavras lisonjeiras; não há rodeios, e nem se tenta esconder a verdade completa quanto à ruína irreversível da natureza humana. "E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus" (1 Co 6:11).


Que flagrante contraste antes e depois do "mas" dito pelo apóstolo. De um lado, temos toda a degradação moral da condição humana, e, do outro, encontramos a absoluta perfeição da posição do crente diante de Deus. Isto é, verdadeiramente, um maravilhoso contraste, e deve ser lembrado que a alma passa, em um instante, de um lado para o outro deste "mas". "E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados" (1 Co 6:11), o que os torna bem diferentes. No momento em que receberam o evangelho de Paulo, eles foram "lavados, santificados, e justificados". Ficaram prontos para o céu e, se assim não fosse, haveria uma mancha na obra divina.


De toda mancha nos limpar,

Foi Teu desejo, Senhor;

Me atreveria a duvidar

Do alcance do Teu favor?

A Tua Palavra é fiel

Tua obra completa e cabal;

Estou seguro! Vou rumo ao céu!

Iria eu, duvidar, afinal?


Isso tudo, é divinamente verdadeiro! O mais inexperiente crente está limpo de toda mancha, não por mérito, mas como consequência de estar em Cristo. Ele deverá, evidentemente, cultivar o conhecimento e a experiência do que é realmente santificação. Ele irá, assim, entrar no poder prático da santificação; no seu efeito moral sobre os seus hábitos, pensamentos, sentimentos e afeições. Em suma, ele irá entender, e exibir a poderosa influência da santificação divina, sobre o seu caráter, e sua conduta. Porém, quando assim for, ele estará tão santificado aos olhos de Deus, quanto no momento em que foi unido a Cristo pela fé; sua santificação estará tão completa, quanto, quando se encontrar exposto à luz da divina presença, refletindo os raios de glória emanados do trono de Deus e do Cordeiro. Ele se encontra em Cristo agora; ele se encontrará em Cristo então. Sua condição, ou seja, as circunstâncias e a esfera em que se encontra, será diferente. Seus pés estarão, então, sobre o piso de ouro do santuário nas alturas, em vez de estarem em contato com a árida superfície do deserto. Ele se encontrará em um corpo de glória, em vez de estar em um corpo de humilhação. Porém, no que diz respeito à sua posição, sua aceitação, sua plenitude, sua justificação, e sua santificação, tudo já terá sido estabelecido no momento em que creu no unigênito Filho de Deus – tão estabelecido quanto sempre estará, pois foi tão estabelecido quanto Deus é capaz de fazê-lo. Tudo isso, parece fluir como a conclusão necessária e inquestionável de 1 Coríntios 6:11.


Você já está Santificado!

É da maior importância compreender, com clareza, a diferença entre uma verdade, e sua aplicação prática, ou o resultado que essa verdade produz. Esta distinção é sempre mantida na Palavra de Deus. Você já está santificado! Esta é a verdade absoluta, tanto no que diz respeito ao crente, quanto no que é visualizada em Cristo. A aplicação prática disso, e seus resultados no crente, poderemos encontrar em passagens como esta: "Cristo amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra" (Ef 5:25-26). "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo" (1 Ts 5:23).


Mas como esta aplicação é feita, e este resultado alcançado? Pelo Espírito Santo, por meio da Palavra escrita. Por isso lemos em João 17:17: "Santifica-os na verdade". E também em 2 Tessalonicenses 2:13, "por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade", e 1 Pedro 1:2, "Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito".


O Espírito Santo, efetua a santificação prática do crente, com base na obra completa de Cristo, e Sua maneira de agir é pela aplicação, no coração e na consciência do crente, da verdade como ela é em Jesus. O Espírito Santo, apresenta a verdade acerca da nossa posição perfeita perante Deus em Cristo, e, alimentando o novo homem em nós, nos capacita a lançar fora tudo o que não está de acordo com aquela posição. Um homem que é lavado, santificado, e justificado, não estará satisfeito com qualquer atitude de mau gênio, concupiscência ou paixão impura. Ele é separado para Deus, e deveria limpar-se de toda imundícia da carne e do espírito. É seu privilégio sagrado e feliz aspirar pelas mais sublimes alturas da santidade pessoal, e seu coração, e seus hábitos devem ser dominados, e estar sob o poder daquela grande verdade de que ele está perfeitamente lavado, santificado, e justificado.


Esta é a verdadeira santificação prática; não se trata de uma tentativa de aperfeiçoar nossa velha natureza, ou de se empenhar inutilmente em tentar reconstruir uma ruína irrecuperável. Não; trata-se simplesmente do Espírito Santo, pela poderosa aplicação da verdade, capacitando o novo homem a viver, agir e existir naquela esfera à qual ele agora pertence. Aí sim, sem sombra de dúvida, haverá verdadeiro progresso. Haverá crescimento no poder moral desta preciosa verdade – crescimento em habilidade espiritual para subjugar a natureza e mantê-la sob todos aqueles atributos – um crescente poder de separação do mal ao nosso redor – um crescente desvendar do céu ao qual pertencemos e para o qual estamos caminhando – uma crescente capacidade para a apreciação de seus exercícios sagrados. Tudo isso será por meio do gracioso ministério do Espírito Santo, que usa a Palavra de Deus para desvendar à nossa alma a verdade sobre o caminhar que convém a uma tal posição. Mas deve ficar bem claramente compreendido que a obra do Espírito Santo na santificação prática, dia a dia, está fundamentada no fato de que os crentes estão "santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez" (Hb 10:10). O objetivo do Espírito Santo, é nos indicar o conhecimento, a experiência, e, a exibição prática daquilo que tornou-se verdadeiramente nosso no momento em que cremos. Neste aspecto não existe progresso pois nossa posição em Cristo é eternamente completa.


"Santifica-os na verdade: a Tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). E também, "O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo" (1 Ts 5:23). Nestas passagens, encontramos o importante aspecto prático da questão. Aqui vemos a santificação apresentada, não apenas como algo absoluta e eternamente verdadeiro para nós em Cristo, mas também como algo que é trabalhado em nós, a cada dia e hora, pelo Espírito Santo por meio da Palavra. Quando encarada deste ponto de vista, a santificação é, evidentemente, algo progressivo. Eu deveria estar mais avançado em santidade no próximo ano do que estive neste. E deveria, pela graça, estar avançando dia a dia em santidade prática. Mas será que isto nada mais é do que a expressão prática, na minha própria pessoa, daquilo que já era completamente meu em Cristo, no exato momento em que cri? O fundamento sobre o qual o Espírito Santo executa a obra subjetiva no crente, nada mais é do que a verdade objetiva de sua eterna perfeição em Cristo.


Assim, "segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12:14). A santificação é apresentada aqui como algo a ser seguido – a ser alcançado por uma busca zelosa – algo que todo verdadeiro crente irá sempre cultivar.


Que o Senhor possa nos dirigir dentro do poder dessas coisas. Que elas não venham habitar como dogmas, ou doutrinas na região de nosso intelecto, mas entrem e permaneçam no coração, como realidades sagradas, e poderosamente influentes! Que possamos conhecer o poder santificador da verdade (Jo 17:17); o poder santificador da fé (At 26:18); o poder santificador do nome de Jesus (1 Co 1:30; 6:2); a santificação do Espírito Santo (1 Pe 1:2); a graça santificadora do Pai (Jd 1).

C.H.Mackintosh (1820-1896)


 

RAÍZES


Para resistir à tempestade, uma árvore deve ter raízes proporcionais à sua ramagem; um veleiro deve ter um mastro, dimensionado, em função da superfície da vela desfraldada. O mesmo ocorre com o crente; cada vez que deixa de cultivar uma comunhão secreta com Deus, quando a obra dentro de si, não está de acordo com o que acontece fora da sua pessoa, ocorre um naufrágio espiritual.


A comunhão com Deus, sempre deve ter um lugar mais elevado, do que o serviço para Deus. Nunca deve-se descuidar disso. Se Deus não recebe a completa homenagem de nosso coração, o que fizermos com nossas mãos, ou com nossa inteligência, não terá valor para Ele. Se a fonte oculta de nossa atividade não for o amor pelo Senhor, não iremos adiante. Tudo o que tivermos edificado sem este sólido fundamento acabará caindo, e quanto mais alto for o edifício, maior será sua queda.


O que o Senhor espera de nós – não nos enganemos – não são obras espetaculares, mas a homenagem de uma humilde obediência.


Gozoso é aquele que, qual árvore vivente,

Por Ti plantado junto ao caudal,

Se arraiga, cresce e brota plenamente,

Se delicia em Ti, ó Fonte celestial!

Pleno de frutos, qual densa sebe,

De provas mil não teme o ardor.

Ditoso aquele que em Ti bebe,

Terno Jesus, Fonte de amor!


 

NAAMÃ, O LEPROSO


"Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito; porque por ele o Senhor dera livramento aos siros: e era este varão homem valoroso porém leproso" (2 Rs 5:1).


Quanto vale, afinal, a grandeza nas coisas deste mundo? Um homem pode se tornar bem famoso; pode prosperar nos negócios até superar quem quer que seja, ou pode escalar o mais alto pináculo de honra da grandeza política ou militar. Naamã era tudo isso, mas ele era leproso. Assim também, o homem, não importa qual posição ocupe neste mundo, é um pecador. Ah! isto estraga tudo; torna amargo todo e qualquer cálice deste mundo.


A lepra era incurável. Uma vez que contaminasse alguém, tal pessoa se tornaria imunda – inchada, coberta de crostas e feridas – uma asquerosa figura da condição do homem: perdido e arruinado ao extremo por causa do pecado. E o que é pior, no que se refere ao pecado, como também o era no caso do leproso, o homem descobre que qualquer esforço para curar a si próprio é em vão. O temido veneno se alastra. Oh! quão repugnante é o pecado! Querido leitor, talvez há muito tempo que você espera melhorar, mas será que não ficou cada vez pior? Nenhum médico da Síria podia curar a lepra. Neste mundo não se pode encontrar um só remédio, eficaz contra o pecado. Procure por todo o globo terrestre, e verá que o homem não inventou a cura para o pecado. O mundo inteiro é um grande leprosário.


Deus escolheu as coisas fracas deste mundo” (1 Co 1:27). Uma pequena serva cativa torna-se a mensageira de Deus para aquele poderoso militar Sírio. Ela diz, "Oxalá que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria: ele o restauraria da sua lepra" (2 Rs 5:3). E eu posso dizer a você, querido leitor, "Quem dera que você estivesse aos pés de Jesus. Ele o limparia de seus pecados".


O Rei de Israel não tinha a fé que esta pequena serva demonstrava ter. Ele pensava que os Sírios buscavam um pretexto para guerrear. Ele, pensando acerca de si próprio, disse, "Sou eu Deus, para matar e para vivificar?" (2 Rs 5:7).


"Sucedeu porém que, ouvindo Eliseu, homem de Deus" (2 Rs 5:8), ele mandou avisar o leproso para que viesse ter com ele. "Veio, pois, Naamã" (2 Rs 5:9). E tal qual era o homem, assim era a sua vinda! Trazia presentes, cavalos e carruagens! E ficou esperando na porta, mas Eliseu não aceitou qualquer um de seus presentes. A salvação de Deus não está à venda. Eliseu enviou um mensageiro dizendo, "Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado" (2 Rs 5:10). Eliseu nem sequer saiu para falar com Naamã; tão somente enviou um mensageiro. Deve ser pela fé, e não por vista ou por sinais. Deus dá tão somente a Sua Palavra. Aquele que crê é salvo.


O rio Jordão era um tipo ou figura da morte. A arca da aliança havia permanecido em seu meio, enquanto todo o Israel passou a pés enxutos pelo seu leito seco, entrando na terra de Canaã. Trata-se de uma das mais surpreendentes ilustrações de Jesus tomando o nosso lugar no rio da morte. Não havia cura para a lepra deste grande homem, a não ser que mergulhasse sete vezes no rio da morte. Não há um meio sequer, em todo o universo, pelo qual um pecador possa ser limpo, a não ser pela morte de Jesus. Somente o Seu sangue nos limpa de todo pecado.


Como era de se esperar, isto fez com que o leproso ficasse profundamente indignado, o que nada mais é do que a indignação do coração humano contra o modo que Deus estabeleceu para limpar o pecado. "Com toda a certeza", deve ter pensado o leproso, "Deus irá fazer algo grandioso para mim ou em mim, para que eu seja salvo". "Mas, mergulhar no Jordão… sepultar-me em um rio de morte; que coisa mais desprezível!"


Além do mais, "não são porventura Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado?" (2 Rs 5:12). E ele se foi indignado. Assim acontece ainda hoje, quando o pobre leproso pecador diz, "Não são as doutrinas da minha igreja muito melhores do que a salvação somente pela morte de Cristo? Minha igreja me diz para jejuar; para manter os votos de minha profissão de fé; em suma, para guardar todas as ordenanças de minha igreja. Não é muito melhor me lavar nesses rios de minha própria religião do que simplesmente crer em Deus no que se refere à morte de Cristo?"


Está bem, se você quer assim, então tente! Lave-se, lave-se, lave-se; e me mostre alguém, dos milhões que têm se lavado nos rios das religiões humanas, que esteja limpo do pecado. Mostre-me alguém que tenha certeza de que seus pecados estejam perdoados em virtude de todos os seus jejuns, orações e obediência às ordenanças. Não, não existe um sequer que, lavando-se nos velhos rios humanos, já tenha, ou possa algum dia ter, a certeza de que está salvo. Os servos de Naamã lhe disseram, "Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande cousa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado" (2 Rs 5:13). Todas as nações são testemunhas do que um homem poderá fazer (se o fato de se fazer algo adiantasse) para se ver limpo do pecado.


"Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus: e a sua carne tornou, como a carne dum menino, e ficou purificado" (2 Rs 5:14).


Com que magnificência, com toda a certeza, nos é exibida aqui a morte e a ressurreição, as duas grandes lições de Deus. A morte de Cristo: o fim do pecado; a ressurreição de Cristo: o início de uma existência totalmente nova. O velho leproso desce à morte; sepultado com Cristo. Surge o novo homem em todo o frescor de uma criança recém-nascida. Oh! quão imaculadamente limpa é esta nova criação! "E ficou purificado" (2 Rs 5:14). Esta é a maneira de Deus limpar. "No corpo da sua carne, pela morte, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis" (Cl 1:22). Jesus desceu até à morte. Todo aquele que crê está morto com Ele, sepultado com Ele, ressuscitado com Ele, perfeito n'Ele, sem mancha ou ruga ou qualquer coisa do gênero (Rm 6; Ef 5). Oh! conhecer o poder da ressurreição; sendo feito conforme à Sua morte! Abandonar o velho e pobre "eu" leproso no Jordão. Ah! o velho leproso tem que submergir!


Com frequência, quando pensamos que já estamos conscientes da morte do "eu" na cruz, vemos que ele precisa de um pouco de submersão. Ah! você ainda continua ocupado com o velho leproso, perdendo o seu tempo com suas feias crostas e supuradas feridas? Livre-se do leproso; afunde-o, afunde-o no Jordão. Só no fundo, bem no fundo, num lugar de morte, é que existe um lugar apropriado para o "eu". O único lugar para as suas justiças e para as suas injustiças é a sepultura de Cristo. Desvie o seu olhar do velho leproso para o Cristo ressuscitado. Se, por um lado, Adão estava cheio do veneno do pecado, por outro lado Deus fez com que Cristo se tornasse para nós sabedoria, santificação, justiça e redenção. Não existe qualquer mancha de lepra no Cristo ressuscitado. E “qual Ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo 4:17). Aperfeiçoados para sempre. Limpos de toda mancha.


Oh! querido leitor, você aprendeu esta tremenda lição? Você já mergulhou na morte? Está você ressuscitado com Cristo? Então se ocupe com as coisas que são do alto. Toda velha mancha do leproso pecado já se foi. "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus" (2 Co 5:17-18).

Charles Stanley (1821-1890)


 

POR SEUS FRUTOS


Normalmente, uma árvore é conhecida por seus frutos. Muitas pessoas, que dificilmente conseguiriam diferenciar uma árvore de outra, são capazes de fazê-lo quando vêem o fruto. Existem muitos mestres religiosos cujos lábios podem nos enganar, e cujas pretensões quase nos fazem cultivar um grande respeito por eles, mas o Senhor não nos disse que deveríamos julgá-los pelo que falavam. Não existiam mestres religiosos mais rigorosos, e nem mais presunçosos, do que os fariseus, mas o Senhor Jesus os julgou por seus frutos. Deveríamos fazer este teste em nós mesmos em nossa vida diária.


Façamo-nos passar pelo mesmo teste. Somos aquilo que fazemos. Os homens não colhem uvas de espinheiros, ou figos dos abrolhos. Não podemos cultivar um espinheiro, de modo a fazer dele uma videira, ou transformarmos um abrolho numa figueira, assim como ninguém poderá ser treinado a se tornar um verdadeiro Cristão. O verdadeiro Cristão é aquele que é nascido de novo; nele habita o Espírito Santo, e pelo Espírito ele é capacitado a produzir os frutos que são aceitáveis a Deus.


Algumas das árvores do pomar do Senhor, não produzem tantos frutos quanto outras, mas “os que ouvem a Palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem” (Mc 4:20). Considere a grande quantidade de mangas que são produzidas por uma única mangueira. Aquela mangueira foi também, um dia, uma solitária manga. Conforme os anos foram se passando, ela brotou, cresceu, criou galhos, e estes, nas épocas apropriadas, produziram frutos. Em algumas épocas as árvores produzem mais abundantemente que em outras, e o mesmo ocorre com o Cristão, embora esta palavra seja sempre válida: "Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto" (Jo 15:8).


Os frutos de uma árvore não surgem todos de uma só vez. O processo é, geralmente, lento. Porém, embora o desenvolvimento seja lento ou comparativamente rápido, a árvore, em sua totalidade, está ordenada de forma a produzir fruto. E este princípio é igualmente verdadeiro no que diz respeito ao Cristão. Ele não vive mais para si mesmo, mas para a glória de Deus, e se não produz fruto, sua vida está sendo desperdiçada.


Existe somente uma maneira de se produzir fruto, e esta maneira nos é mostrada pelo Senhor Jesus em Suas palavras registradas no capítulo 15 do Evangelho de João. É somente estando n'Ele, permanecendo n'Ele, ou vivendo em Sua companhia que produzimos fruto. Quando o coração está familiarizado com Cristo, os pensamentos, palavras e ações do crente são aceitáveis diante de Deus Pai. Não somos os melhores juízes do caráter dos frutos que produzimos, embora devêssemos viver em constante juízo próprio. Os outros irão concluir o que somos pelos nossos modos e por nossas palavras.


Nossa influência, é a parte mais importante de nossa vida. Nunca subestime sua influência, e nunca se esqueça: você não pode evitar exercer influência sobre outros.


"O fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei" (Gl 5:22-23).


Estas coisas são mais valiosas que todas as jóias que o mundo pode exibir, e é pelos seus frutos que o mais humilde seguidor do Senhor Jesus é conhecido.

Young Christian


 

SEGURANÇA ETERNA


Existem cinco coisas que deveriam acontecer antes que um salvo perca a sua salvação. Porém, são coisas impossíveis de acontecer!


1) Alguém teria que nos tirar da mão do próprio Deus. "Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai" (Jo 10:29).


2) Alguém teria que quebrar o selo de propriedade que nos tornou propriedade particular de Deus. "Fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da Sua glória" (Ef 1:13-14).


3) Alguém teria que expulsar o Espírito Santo de Deus que habita em nós. "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Co 3:16). "E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14:16).


4) Alguém teria que nos separar do amor de Cristo. "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus Quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo Quem morreu, ou antes Quem ressuscitou dentre os mortos, O qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:31-39).


5) Alguém teria que apagar o nome do crente do Livro da Vida do Cordeiro. "Alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus" (Lc 10:20). "cujos nomes estão (escritos) no livro da vida" (Fp 4:3). "E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo" (Ap 20:15). "Os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (Ap 21:27).


Nossos nomes, das palmas de Suas mãos,

A eternidade não conseguirá apagar;

Impressos no coração de Deus já estão,

Com a indelével tinta da graça sem par;


E nós, até o fim viver poderemos,

Na solene certeza que nos é dada;

Já seguros, mas sempre mais serenos,

Tendo nos céus o final da jornada.

Christian Treasury

 

Pensamento:

Todas as pessoas, crentes ou incrédulas, deverão abandonar o mundo. O mais obstinado mundano irá, cedo ou tarde, abandonar as vaidades, prazeres, esperanças e interesses deste mundo. Ele terá que abandoná-los. A diferença é esta: o Cristão abandona tudo isso para Deus; o mundano abandona essas coisas no final pois não pode conservá-las consigo. Faraó, rei do Egito, abandonou o Egito e sua corte tanto quanto Moisés. Mas a diferença é que o rei do Egito teve que abandoná-las por causa do juízo que caiu sobre si, enquanto Moisés abandonou-as por Cristo.


"Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa" (Hb 11:24-26).

Christian Tresaury

 

A BÍBLIA DO MEU VIZINHO


Eu sou a Bíblia do meu vizinho,

Pois me lê sempre ao me encontrar;

Hoje me lê, se estou de caminho,

E amanhã, quando vier ao meu lar.

Parente, amigo, ou colega há de ser,

Ou é, talvez, só meu conhecido;

Poderá, meu nome, nem saber dizer,

Mas, certo estou: ele me tem lido!


Quem será este que é meu vizinho

Que está a me ler, quando nem ligo,

A fim de ver quais são meus caminhos

E se estou andando do jeito que digo?

É aquele que está sempre por perto

Pra tecer críticas e até blasfemar;

Que está seguro que seu pensar é certo,

Porém, é mais um pra Cristo salvar.


Esteja ciente, querido irmão,

Que o mundo inteiro está a nos ver

Buscando em nós um claro sermão,

Não só nas palavras, mas sim no viver.


Em linhas bem retas busquemos copiar,

Aquilo que Deus por nós quer dizer,

A fim de o vizinho podermos ganhar

Pra Cristo Jesus, depois de nos ler.

Adaptado de "Helps For Young Believers"


Existem dois tipos de testemunho: os lábios e a vida. E os lábios deveriam ser apenas a expressão daquilo que primeiramente foi produzido na própria vida. Deveríamos desejar uma realidade intensa; sermos possuídos e controlados pela verdade que professamos possuir, e assim evitar o uso de frases e sentenças que nunca tenham sido aplicadas em nós mesmos – que nunca tenham sido por nós comidas, digeridas e experimentadas como verdade em nossa própria alma.

E.Dennet

The Christian Newsletter


 

A NOSSA ESPERANÇA


"Na casa de Meu Pai há muitas moradas;vou preparar-vos lugar" (Jo 14:2). Notemos que Cristo estava na casa de Seu Pai, da qual Ele desfrutava como Filho, e como Homem irá nos preparar lugar. Esta é uma bênção inefável! Foi um consolo, um gozo, os discípulos terem Cristo com eles nesse mundo, mas aquilo durou pouco tempo. Ele iria nos preparar um lugar para estarmos "na (em a) casa". Pensemos como será o lar do Seu coração! Onde os Seus afetos serão sentidos – os afetos do Filho divino, e também na Sua humanidade – e pensemos que esse é o lar para onde Ele nos irá levar. Que coisa maravilhosa! Que lar deve ser!


"Virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo" (Jo 14:3). "Mandar-vos subir não seria conveniente; enviar-vos um guia, tampouco seria apropriado; mas virei Eu mesmo para vós". Que ternura! Ainda que tenha entrado na glória, e tenha Se assentado no trono de Seu Pai, irá deixá-lo para voltar e levar-nos pessoalmente à casa de Seu Pai. Os Seus afetos estão tão concentrados em nós que Ele não estará satisfeito sem que venha buscar-nos. Virá pessoalmente; não enviará outra pessoa.


A bem-aventurança da Sua vinda não interessa apenas a nós, mas é a expressão do coração de Cristo. Ele quer que Lhe pertençamos. É o Seu próprio interesse por nós, o Seu amor para conosco. Quando reconhecemos isso, o nosso coração é atraído para Ele. Sem dúvida é uma benção inefável para nós, mas é também a revelação do próprio Cristo. A única esperança bem-aventurada da Igreja é que Ele virá outra vez e nos levará. É uma realidade que quando partimos do corpo estaremos “com o Senhor”, ausentes do corpo, presentes “com o Senhor” (2 Co 5:8), mas não é essa a nossa esperança; nossa esperança é que Ele virá e nos levará (espírito, alma e corpo reunidos).


Esta esperança Ele a tem em Seu coração, e deve estar em nosso coração também. As virgens saíram ao encontro do noivo: essa foi a condição da Igreja ao princípio. Convertidas, esperando o Filho de Deus dos céus, porém, todas adormeceram, tanto as prudentes como as loucas. Era necessário despertá-las pelo grito da meia-noite. O que levou a Igreja a uma condição morta foi o pensamento: "o meu Senhor tarda em vir"; isso levou-a "a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se" (Lc 12:45).


Esta é uma verdade que deve ser posta em prática, e é essencial à vida do Cristão. Se estivermos, constantemente, à espera de Cristo não desejaremos estar em lugar algum onde não queremos que Ele nos encontre. Deveríamos também nos apartar de qualquer coisa que não Lhe agrade, não importa o que seja.


Esperamos Aquele que nos ama. O Seu coração deseja-nos, e Ele quer dar satisfação ao Seu coração. Não é assunto de profecia. A profecia tem a ver com o governo divino deste mundo e ela tem um lugar importante, mas nada a ver com a nossa esperança.

J.N.Darby (1800-1882)

 

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