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Pequenas Exposições e Meditações Espirituais - Parte 2/4

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ÍNDICE


Pequenas Exposições e Meditações Espirituais

Parte 2/4

J. G. Bellett

O Pai 

João 14-17 

 

“Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais”. Estas palavras foram ditas ao Pai por Cristo a respeito dos santos. Elas nos dizem que a grande tarefa do Senhor era familiarizar os santos com o Pai, que essa já havia sido a Sua tarefa, e que Ele pretendia que essa fosse ainda a Sua tarefa.

 

Isto é cheio de bênçãos. Pensar que nossa alma está sob tal instrução! O Filho nutrindo e ampliando em nós a percepção e o entendimento do amor do Pai, e usando Sua diligência para dar ao nosso coração esse gozo e para dá-lo a nós com mais abundância! Podemos ser lentos, e somos lentos, para aprendê-la. Naturalmente suspeitamos de todos os pensamentos felizes de Deus. Cristo precisa usar de diligência e empregar energia para nos ensinar tal lição. “Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais”. Mas assim é. Esta é a lição da qual Ele é o Mestre, e nossa incapacidade de aprendê-la magnifica Sua graça, pois Ele ainda está nisso, ainda ensinando a mesma lição.

 

Os capítulos anteriores (João 14-16) nos mostram Cristo declarando o Pai. Eles iniciam com Ele nos dizendo que o Pai abriu a Sua própria casa para nós – não apenas isso, mas que Ele a construiu com referência direta a nós, tendo-a feito uma casa com muitas moradas para nossa recepção (João 14:2).

 

Ele então, com algum ressentimento pela incredulidade deles, diz-lhes que o Pai já estava Se revelando a eles. “Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe?[1] Quem Me vê a Mim vê o Pai”. Porque as coisas que Ele havia dito e feito, Ele havia dito e feito como Filho do Pai, como Aquele que estava no Pai e em Quem também o Pai estava (João 14:5-14).

 

Pois isso era incredulidade natural, a indisposição para aprender a lição do Pai de que falei; e é feliz encontrá-la aqui repreendida pelo Senhor. De fato, é somente a fé que pode se assentar como discípula de Cristo – aquele princípio que apenas escuta. O senso moral do homem se exclui a si mesmo dessa escola.

 

Jesus, porém, prossegue com a lição apesar dessa lentidão. Ele lhes conta, após essa interrupção, como Ele Se propusera, quando estivesse ausente, a glorificar o Pai nas obras e na experiência deles (João 14:12-14); e então lhes diz que o Consolador, o Espírito de verdade, o Espírito Santo, que estava prestes a vir a eles, viria como o Espírito do Pai, fazendo-os saber que não eram órfãos, mas tinham a vida do Filho neles (João 14:16-20); e novamente Ele diz a eles que a observância de Sua Palavra asseguraria à alma deles a presença e a comunhão do Pai, bem como a Sua, porque a palavra não era Sua, mas do Pai que O havia enviado (João 14:21-24). Essa palavra ou mandamento, que deveria ser guardado para que essa comunhão fosse assegurada à alma, era sobre amor; porque era a palavra trazida pelo Filho do Pai, e não uma palavra trazida de um rei, ou de um juiz, ou de um legislador (veja João 13:34; 15:12, 17).

 

Em todas essas maneiras verdadeiramente benditas, Ele declara o Pai a nós e usa a Si mesmo apenas como Testemunha ou Servo de tal revelação. Sua própria glória pessoal está implícita em tal serviço; porém esse não é o Seu objeto, mas a declaração do Pai é. E assim também, ao prosseguir neste discurso maravilhoso, Ele declara que o Pai é o Lavrador da videira, deixando-nos saber que o fruto buscado é fruto digno da mão de um Pai, fruto que os filhos, não servos ou súditos, precisam produzir (João 15:1-14). E, novamente, a amizade que Ele lhes apresenta a Si mesmo diz respeito ao Pai, porque eram os segredos do Pai que Ele lhes comunicava na confiança da amizade (João 15:15). E então, no final do mesmo capítulo, Ele apresenta o mundo simplesmente no caráter de ter odiado o Pai, testemunhado no Filho e por meio d’Ele (João 15:23-24).

 

Como tudo isso confirma a palavra: “Eu lhes fiz conhecer o Teu nome”! Mas, além disso: Ele antecipa o dia do Espírito Santo; mas Ele faz isso em constante lembrança e menção do Pai. O Espírito era o Espírito do Pai, dado por Ele, enviado por Ele (João 14:16, 26; 15:26); e quando Ele veio, seu divino Mestre agora lhes diz que deveriam pedir ao Pai e receber d’Ele, para que este seu gozo como filhos que conhecem o amor e a bênção do Pai fosse completa (João 16:23-24).[2] E Ele ainda lhes diz que naquele dia eles conheceriam claramente sua adoção, ou seu lugar com o Pai (João 15:25).

 

E um pouco além de tudo isso, e como que coroando tudo o que Ele havia dito, Ele lhes diz que Suas orações por eles no céu não deveriam ser entendidas como se eles e o Pai estivessem distantes um do outro, mas que eles deveriam se assegurar de que o amor do Pai repousava imediatamente sobre eles, como no pleno poder do relacionamento que Ele tinha com eles (João 16:26-27).

 

Assim, era o nome do Pai que Ele lhes declarava ao longo desses maravilhosos capítulos, trazendo o Pai aos pensamentos e regozijos do coração deles. E se o amor e o céu forem valorizados por nós, que comunicações tão bem-vindas serão essas!

 

Assim, no capítulo final (17), podemos dizer: Nenhuma notícia nossa retorna a Deus de forma tão aceitável como esta: que, pela fé, recebemos estas notícias do Pai. O Filho nos trouxe uma mensagem de amor vinda do seio do Pai, e se Ele agora relatar ao Pai que nós recebemos a mensagem, esta será a resposta mais preciosa junto ao Pai. E tal recebimento desta palavra sobre o Pai também será a nossa mais verdadeira santificação ou separação do mundo, pois o mundo é aquele que se recusa a conhecer o Pai.

 

Eu poderia expressar isso mais brevemente assim. Em João 14-16, o Senhor propõe colocar nossa alma em comunhão com o Pai. Ele enche a alma com pensamentos sobre o Pai; lembranças, presentes exercícios espirituais e perspectivas são todos conectados por Ele ao Pai. Ele nos diz que é a casa do Pai que nos receberá em breve; foi o Pai Quem esteve operando e falando n’Ele, de modo que o que Ele disse e fez foram as palavras e ações do Pai; que eles logo fariam obras maiores do que Ele havia feito, pois Ele estava indo para o Pai; que o Consolador lhes seria enviado pelo Pai; que sua frutificação surgiria do Pai ser o Lavrador; que o mundo os odiaria, porque não conheceu o Pai nem a Ele; que o próprio Pai os amava, e que eles logo entrariam no senso de seu relacionamento com Ele.

 

Se o Espírito de verdade, o Consolador, nos fizer perceber essas coisas, podemos selar essa palavra: “vos convém que Eu vá”. Assim, posso dizer, o propósito do Senhor em João 13 é colocar nossa alma em comunhão com Ele mesmo no céu. Ele nos mostra a Si mesmo no céu, como o próprio lar do amor e da glória, porque Ele seria restaurado ao Pai ali, e ter todas as coisas colocadas em Suas mãos por Deus ali; e dessa maneira Ele antecipa o céu como o lar do amor e da glória para Ele.

 

Mas então Ele nos faz saber que ali Ele permaneceria em Seu amor por nós e em Seu serviço às nossas necessidades – que, embora ali, Ele jamais poderia nos abandonar, nem abandonar nossa necessidade. Assim, Ele busca nos colocar em comunhão com Ele, assim como está agora no céu, assim como depois (em João 14-16), Ele busca nos colocar, como tenho observado, em comunhão com o Pai.

 

Que esse bendito senso de relacionamento preencha e satisfaça nossa alma mais abundantemente!

A Glória de Deus

 

O caminho da glória ao longo das Escrituras pode ser facilmente rastreado e tem muito valor moral para nós conectados a ela.

 

Êxodo 13 – Ela começa sua jornada na nuvem, na libertação de Israel do Egito, quando o sangue pascal, na graça do Deus de seus pais, os havia abrigado.

 

Êxodo 14 - No momento da grande crise, ela se posicionou, fazendo separação entre Israel e Egito, ou entre o juízo e a salvação.

 

Êxodo 16 - Ela se ressentiu das murmurações do arraial.

 

Êxodo 24 – Ela se conecta a si mesma ao Monte Sinai e era como fogo devorador aos olhos do povo.

 

Êxodo 40 - Ela deixa aquele monte para o tabernáculo, a testemunha da misericórdia, triunfando sobre o juízo, retomando também na nuvem seus serviços graciosos para com o arraial.

 

Levítico 9 – Havendo o sacerdote sido consagrado, e seus serviços no tabernáculo sendo cumpridos, ela se manifesta ao povo para a grande alegria deles.

 

Números 9 - Retomando sua jornada em companhia do tabernáculo, a congregação desfruta da condução da nuvem, que agora acompanha o tabernáculo, enquanto a glória o enche.

 

Números 16 - Na hora da total apostasia, ela se mostra em terror judicial aos olhos do povo rebelde.

 

Deuteronômio 21 - Na causa de Josué, um vaso eleito e fiel, ela reaparece na nuvem.

 

2 Crônicas 5 - Ao ser construído o templo, uma nova testemunha da graça, a glória e a nuvem reaparecem para alegria de Israel, como antigamente.

 

Ezequiel 1-11 - Novamente, em outra hora de completa apostasia, a glória, tomando asas e rodas para si mesma, por assim dizer, deixa o templo.

 

Atos 7 - Estêvão, um homem rejeitado pela Terra; vê a glória no céu em companhia de Jesus.

 

Apocalipse 21:9 - Em dias milenares, ela desce do céu em sua nova habitação, a santa Jerusalém, “a Esposa do Cordeiro”, repousando acima no ar, de onde ela sombreia e ilumina as habitações de Israel novamente (Is 4:5), como ela fez uma vez desde a nuvem no deserto, ou entra no segundo templo, o templo do milênio (Ez 43; Ag 2).

 

Tal é o caminho da glória, o símbolo da presença divina. Sua história, assim traçada, nos diz que, se o homem estiver em companhia da graça, poderá regozijar-se nela; mas que ela é um fogo devorador para todos os que se encontram sob o monte Sinai. Ela nos diz também que, ao mesmo tempo em que ela os anima e os guia em seu caminho, ela ressente-se do mal e se afasta da apostasia do povo professo de Deus.

 

É muito instrutivo e reconfortante observar essas coisas na história da glória, que era o símbolo da presença divina. E se essa presença se manifesta a si mesma em outras formas, as mesmas lições ainda nos são ensinadas. Os mais eminentes dos filhos dos homens foram incapazes de suportá-la em si mesmos; mas em Cristo todos, altos e baixos, anônimos e ilustres, puderam não apenas suportá-la, mas também se alegrar com ela.

 

Adão fugiu da presença de Deus. Mas no momento em que ouviu a promessa de Cristo, crendo nela, ele retornou àquela presença com a mais plena e íntima confiança.

 

Moisés, por mais favorecido que fosse, não pôde suportar isso a não ser em Cristo, a Rocha, a rocha fendida, da salvação (Êx 33).

 

Isaías, o principal entre os profetas, desfalece ao ver a glória, até que uma brasa do altar, o símbolo de Cristo em Sua obra pelos pecadores, expia seu pecado (Is 6).

 

Ezequiel e Daniel, companheiros dele no ofício profético, juntamente com ele também falham completamente na presença divina, e são capazes de suportá-la somente por meio da graciosa interferência do Filho do Homem (Ez 3; Dn 10).

 

João, o discípulo amado, o apóstolo honrado, mesmo no próprio lugar e tempo de seu sofrimento por Jesus, toma para si a sentença de morte ao ver Jesus glorificado, até que Aquele que amou, morreu e viveu novamente falou com ele e lhe deu paz e segurança (Apocalipse 1).

 

Esses distintos não podem medir a presença divina por nada além da simples virtude do que Cristo é para eles e por eles. Nessa virtude, eles permaneceram nela em paz; e assim, com eles, o mais distante e anônimo do arraial testemunha uma cena já mencionada (Lv 9). Lá, todos os que estavam à porta do tabernáculo contemplando a consagração e os serviços do sacerdote, o Cristo figurado, triunfam na presença da glória; como também em outra cena mencionada (2 Cr 5), quando a arca, outra figura de Cristo, é trazida para a casa de Deus.

 

O pecado e a justiça são responsáveis por tudo isso.

 

O pecado é acompanhado por isso, como sua consequência necessária – uma destituição da glória de Deus. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Isso foi ilustrado nos casos ou nas histórias que venho traçando. O pecado nos incapacita de suportar a força da presença divina. É demais para um pecador. Mas há alívio total, pois se o pecado e a incapacidade de tolerar a presença ou a glória de Deus são moralmente um, assim também o são a justiça e o retorno a essa presença.

 

O pecado implica uma condição ou estado de ser; assim como a justiça. E assim como o pecado é a incapacidade de se aproximar da glória de Deus, a justiça é aquilo que se aproxima da glória de Deus. É a capacidade de permanecer no seu mais pleno resplendor; como essas histórias também ilustram. Pois em Cristo, por meio das provisões da graça, ou estabelecidos na justiça de Deus pela fé, todos aqueles a quem contemplamos, fossem grandes ou pequenos, encontraram-se à vontade na presença divina.

 

Experimentamos tudo isso em relação aos nossos semelhantes. Se prejudicamos alguém, instintivamente “ficamos aquém” da sua presença; ficamos incomodados com isso e procuramos evitá-lo. Mas se recebemos o perdão dele, selado com o pleno propósito e amor do seu coração, retornamos à sua presença com confiança. E quanto mais, posso dizer, se víssemos que ele nos concedia esse perdão com toda a habilidade e diligência do amor, e ao mesmo tempo nos dizia que todo o mal que lhe havíamos causado havia sido infinitamente reparado, e que ele próprio tinha boas razões para se regozijar com o prejuízo causado por causa da reparação? Certamente tudo isso formaria uma base e seria a nossa garantia para recuperar a sua presença com mais segurança e liberdade do que nunca.

 

Ora, assim é o evangelho. Ele autoriza o pecador a cultivar todos esses pensamentos com plena certeza. O erro que cometemos, a ofensa que Adão cometeu contra o amor, a verdade e a majestade de Deus, tudo foi gloriosamente reparado por Cristo. Deus é mais honrado na satisfação do que teria sido se o mal nunca tivesse sido cometido. Todos os Seus direitos são atendidos em suas mais completas exigências e ao seu mais alto grau de louvor. Ele é “Justo e o Justificador daquele que crê em Jesus”.

 

A fé assume isso, e o crente, portanto, não fica aquém da glória de Deus, embora, como pecador, tenha ficado uma vez. A fé recebe “a justiça de Deus”; e a justiça de Deus pode medir, e de fato mede, a glória de Deus. Em Sua justiça, podemos estar diante de Sua glória. E que a justiça pode, neste sentido, medir Sua glória – que a fé no evangelho, ou no ministério da justiça, pode nos colocar com liberdade ou com o rosto descoberto diante da glória de Deus – é ensinado em 2 Coríntios 3-4; sim, de fato, que a expressão dessa glória só pode ser alcançada no ministério da justiça, a glória plena somente “na face de Jesus Cristo”.

A Glória do Unigênito

 

“O Verbo Se fez carne e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade”.

 

Esta foi a manifestação de Cristo como Filho, e declarada por meio do Espírito por João. E é esta glória, esta plenitude de graça e verdade, que resplandece em todo o ministério público de Cristo, conforme registrado por João em João 1-9. E no progresso desse ministério, observei dois atributos ou atuações desta glória. Primeiro: ela sempre se recusa a se unir a outra glória de qualquer tipo que seja. Segundo: ela persevera em se manifestar a si mesma, desafiando todo tipo de resistência.

 

Essas duas maneiras, constantemente aderidas a ela, evidenciam o valor que ela tinha para si mesma e a firmeza do propósito divino de abençoar o pecador, a cuja condição e necessidades essa glória se adapta.

 

Em João 2, Jesus é tentado por Sua mãe a deixar que a glória do poder se manifestasse n’Ele. Em João 3, Nicodemos O convida a Se manifestar como Mestre. Em João 6, a multidão queria fazer d’Ele um rei. Em João 7, Seus irmãos queriam que Ele Se manifestasse ao mundo. Em João 8, os fariseus queriam que Ele usasse o trovão do monte Sinai em juízo. Mas nenhuma oferta ou solicitação prevalece. Jesus não Se mostrará a não ser como “cheio de graça e verdade”, ou na glória do “unigênito do Pai”. Ele Se recusa a aparecer em qualquer outra glória ou a agir em qualquer outro caráter. Mas então, nessa glória, Ele resplandecerá, e nesse caráter Ele agirá, seja qual for a resistência ou o obstáculo; e ao considerar isso, eu entraria, no momento, um pouco mais em detalhes.

 

Em João 4, vemos o Senhor insistindo em resplandecer na glória da graça e da verdade, apesar dos obstáculos e da resistência de uma das partes mais determinada – “a lei dos mandamentos, contida em ordenanças”. Os Judeus não tinham relações com os samaritanos. Mas Jesus, o Filho de Deus, resplandece em um raio tão brilhante e difuso em uma região quanto em outra, recusando-Se a ser impedido.

 

Em João 5, o Senhor prossegue em Seu caminho com o mesmo caráter inabalável, desafiando o medo ou o perigo. Os Judeus procuraram matá-Lo, porque Ele fez essas coisas no dia de sábado. Mas Sua resposta a tal perigo ou ameaça foi apenas esta: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também”; e Ele continua, ainda persevera, como testemunha do caminho do Pai ou da graça de Deus, embora isso pudesse apenas aguçar a inimizade e predispor os Judeus ainda mais a procurarem matá-Lo.

 

Em João 6, essa glória peculiar, pela qual sozinho Ele trilhava Seu caminho, novamente encontra um grave obstáculo. O Senhor evidentemente sente uma grande distância moral da multidão. Eles eram, de fato, como falamos, a razão de Seu afastamento. Eles haviam despertado um pouco do santo desgosto de Sua alma justa. Isso é evidente, e o coração sabe que isso é um grave impedimento. Mas isso não O impede de manter a demonstração de Sua própria glória, que era para a bênção deles. “Trabalhai, não pela comida que perece”, diz Ele a eles, “mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, O selou”. E assim, em João 7, como em João 5, Ele continua Seu caminho, embora os inimigos estivessem irados e confederados, enviando oficiais para prendê-Lo. Pois, depois de tudo isso, a glória que era plena de graça e verdade irrompe em um de seus mais intensos esplendores, no grande último dia da festa, com Jesus em pé e dizendo: “Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba”. Que vigor no propósito deve ter havido para que pudesse sustentá-Lo adiante em triunfo, apesar de tamanha série de oposições e obstáculos! E assim, até o último momento, posso dizer, essa glória se manifesta em regiões imensuráveis. Jesus “passa” (João 9). Ele vai aonde quer que vá. Mas ainda mantém o mesmo caráter. A mudança de clima, por assim dizer, não faz diferença. A glória ainda é plena de graça e verdade, a glória “como a glória do Unigênito do Pai”. Jesus vê um homem cego de nascença; mas Ele é “a luz do mundo”. E Jesus, depois, o encontra expulso, mas o acolhe para a eternidade.

 

Não sei se algo possa assegurar mais plenamente ao coração de um pecador de seu interesse no Filho de Deus do que tudo isso. Nenhuma resistência prevalece, nenhuma tentação. Nada pode forçá-Lo, nada pode afastá-Lo de Seu propósito de abençoá-los, por um único momento. Essa glória, e somente essa atende às suas necessidades, irrompe em cada ocasião em que vemos Jesus agindo, abrindo caminho através de todos os obstáculos e Se afastando de toda distração. O que demonstra uma firmeza de propósito como essa? Se você vir um homem prosseguindo com sua obra, destemido pela oposição e sem se deixar distrair por seduções, que mais precisamos para conhecer a singeleza e a decisão de sua alma? E tal é o Filho do Pai nesta ação. Na glória que se ajusta à necessidade dos pecadores, Ele resplandece, e somente nela, seja qual for o meio que a obscureça, por mais denso que seja, ou a solicitação que a distraia, por mais sedutora que seja.

 

Ó preciosa graça salvadora! Como tudo isso, em outras palavras, nos diz que Deus achou mais abençoado dar do que receber! Jesus era “o Verbo” que “Se fez carne”, “Deus” que “Se manifestou em carne”. E se Ele tivesse querido, como estes capítulos nos mostram, poderia ter recebido os louvores dos homens, a admiração do mundo, a coroa do reino; mas Ele, “passando” por tudo, estava concentrado no único propósito de levar a bênção aos pobres pecadores.


[1] A repreensão do Senhor a Filipe não tem aplicação tão direta à incredulidade de Filipe no que diz respeito à Pessoa do Filho, como à sua incredulidade com respeito à revelação do Pai que havia sido feita pelo Filho: a outra está envolvida.

[2] Não é a coisa recebida que torna seu gozo completo, mas a prova que recebem de que eles têm o coração e os ouvidos do Pai. O Pai, e não o dom, faz isso por eles, completando o gozo deles. Veja João 16:24.


J. G. Bellett

 

 

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