Princípios da Guerra Espiritual - O Evangelho no Livro de Josué - Parte 1/4
- H. F. Witherby (1838-1907)
- 8 de out. de 2024
- 27 min de leitura
Atualizado: 22 de out. de 2024

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ÍNDICE
Princípios da Guerra Espiritual
O Evangelho no Livro de Josué
Henry Forbes Witherby
Parte 1/4
Observação
O leitor atento da Palavra de Deus, sem dúvida, já observou uma analogia entre o Livro de Josué e as Epístolas aos Efésios e Colossenses. O objetivo deste pequeno volume é direcionar a mente para essa analogia, e levar o leitor a buscar mais profundamente as verdades que são ilustradas pelo Livro de Josué.
“Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10:11).
Comentários Introdutórios
É geralmente aceito que o Livro de Josué consiste em duas seções. A primeira, Josué 1-12, dá o registro da conquista da terra; a segunda, Josué 13-24, da distribuição da terra entre as tribos.
A primeira seção começa com uma exortação para possuir, e depois das palavras “e a terra repousou da guerra” termina com a enumeração das vitórias. A segunda seção começa com a palavra do Senhor, “ainda muitíssima terra ficou para possuir” e encerra com o aviso de Josué ao povo, e com o relato de sua morte. A primeira é vigorosa com energia divina. É poder, força no Senhor, e no poder de Sua força; e as falhas registradas nela, são falhas em ação. A segunda é principalmente inação – e inação é por si só falha – ainda assim, exemplos de zelo pelo Senhor podem ser encontrados nela. Esta ascensão e queda conta, em poucas palavras, a história de cada era, na qual a responsabilidade de manter sua posição foi confiada ao povo de Deus, que, infelizmente, depois de começar seu curso cheio de zelo, abnegação e espírito de vitória, muitas vezes afundou em descanso prematuro; e, como consequência inevitável, tornou-se indiferente e mundano.
E se, nesse estado de indiferença, o espírito de confiança própria ganha um lugar, a restauração, se efetuada, é operada por Deus por meio de disciplina.
Que possamos receber e ser energizados pelas instruções saudáveis que este Livro contém, pois seus ensinamentos são particularmente adequados para nossos dias de luxúria.
O Líder - Josué 1:2
“Moisés, Meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora” (Js 1:2).
Na sabedoria de Deus, as histórias da Escritura de muitos homens santos da antiguidade apresentam Cristo a nós sob várias figuras.
Moisés tipifica Jesus trazendo Seu povo para fora da terra de condenação, enquanto Moisés e Arão tipificam Jesus Cristo liderando Seu povo por este mundo desértico. Moisés não liderou Israel para Canaã. Josué, que tipifica o Senhor Jesus Cristo como o Príncipe [Capitão – KJV] da nossa salvação, foi designado para esse serviço.
No livro que está diante de nós, Moisés, “o tirado”, o servo de Jeová designado para tirar Seu povo do Egito, saiu de cena. Jeová o sepultou e escondeu o lugar de sua sepultura até hoje (Dt 34:6).
Josué toma seu lugar, e o nome de Josué também é significativo. Originalmente ele era chamado de Oseias (libertação), mas isso foi aumentado para Jehoshua, que significa “a salvação do Senhor”.
Moisés estava morto, e Josué era o líder divinamente designado de Israel; portanto, o caminho de obediência e bênção de Israel era seguir seu novo capitão.
As lições do livro de Josué, espiritualmente consideradas, referem-se ao chamado celestial do Cristão. Aqui, sob a capitania de seu Senhor ressuscitado, o Cristão pode ver a si mesmo. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima” (Cl 3:1).
Exortação - Josué 1:2-9
“Moisés, Meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que Eu dou aos filhos de Israel. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como Eu disse a Moisés. Desde o deserto e desde este Líbano até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus e até o grande mar para o poente do Sol será o vosso termo. Ninguém se susterá diante de ti, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te e tem bom ânimo [sede forte e corajoso – JND], porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo [sede forte e muito corajoso – JND] para teres o cuidado de fazer conforme toda a lei que Meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas [para que possas prosperar – JND] por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás [terás um bom sucesso – JND]. Não to mandei eu? Esforça-te e tem bom ânimo [sede forte e corajoso – JND]; não pasmes, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares” (Js 1:2-9).
É um princípio infalível que as exortações da Escritura são fundamentadas na graça.
Deus é o Deus de toda graça, portanto, o que Ele exorta Seu povo a fazer, Ele lhes dá poder para realizar.
Talvez em nenhuma parte da Palavra de Deus se encontre maior graça do que em Suas exortações; pois o objetivo delas é aproximar Seu povo de Si mesmo e conduzi-lo mais profundamente aos seus privilégios.
Na exortação comovente que acabamos de ler, a base é que a terra pertence a Israel de acordo com a promessa; e assim, porque Deus lhes dera a terra, Ele ordena: “Levantem-se e tomem posse dela”. Quando essa exortação foi dada, Israel foi levado, pela graça soberana e bondade paciente, às próprias fronteiras da terra prometida. Suas glórias se espalharam diante de seus olhos – os campos de trigo, oliveiras, vinhedos e os montes dos quais, lhes foi dito que neles “cavarás o cobre”. Já, por antecipação, os “ribeiros de águas, de fontes e de abismos, que saem dos vales e das montanhas” eram deles, e uma coisa apenas era necessária para o desfrute de sua porção; eles deveriam “levantar-se e possuí-la”. Era época de colheita – a época do bem mais rico do ano – e o Jordão (isto é, o rio da Morte ou do Julgamento) ameaçava barrar seu caminho, pois “porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega”. Contudo, a fé se apegaria à Palavra do Deus vivo e, independentemente da dificuldade, obedeceria a essa Palavra imediatamente.
Agora, contemplar os campos de trigo não era comer os frutos, e contemplar os montes não era extrair suas riquezas; e a única condição que o Senhor impôs ao povo foi que eles, de fato, deveriam entrar e tomar posse da terra que Ele lhes havia dado.
Quão verdadeiro é, a respeito da possessão espiritual, que nenhum conhecimento geográfico, por assim dizer, da verdade de Deus, nenhuma habilidade de mapear doutrinas ou dispensações, é por si só possessão. A real possessão se torna a porção daqueles que, por combate individual, passo a passo, conquistaram terreno; e para eles vale a promessa: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado”.
A fim de estimular Seu povo a conquistar sua possessão, o Senhor graciosamente prometeu Sua infalível presença, força e proximidade a eles no conflito. O Senhor não havia esquecido seus medos em Escol. Ele sabia que os filhos de Anaque ainda pisavam a terra, e que cidades grandes e altas, muradas até o céu, enchiam a terra; e, em Sua graça, Ele encoraja Seu povo, para que aprendessem a medir os filhos de Anaque pela força de Jeová em vez de pela sua própria, e as cidades muradas por Seu poder, e não pela aptidão de suas armas de guerra.
A força que Jeová desejava em Seu povo era força de mão para tomar e reter firmemente; e força de joelhos para que o lutador não fosse derrubado. E nós, Cristãos, somos exortados assim: “fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder”, “porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”, que são para nós aquilo que as hostes de Canaã foram para Israel. Nem devemos ficar contentes com o fato de vencer um inimigo; “e, havendo feito tudo”, ou como diz a margem da versão King James, “tendo vencido tudo”, somos chamados a “ficar firmes” (Ef 6). A cidade murada pode ser tomada, mas, como sentinelas em seu posto, devemos “ficar firmes”, se esperamos retê-la.
Deus, ao dar exortação e encorajamento, nos avisa do perigo e da dificuldade. Mas, amado leitor, se recuarmos diante da dificuldade, lembremo-nos de que recuamos diante da terra prometida. O quê? Um Cristão se assentará no lado desértico do Jordão por causa dos gigantes de Canaã?
Novamente, o Senhor clama ao Seu povo por força e coragem. E desta vez é para que eles obedeçam a toda a Sua Palavra. Nem o menor desvio é permitido. É uma estrada reta, e um passo para o lado os desviaria completamente; “para que dela não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda”. Sua Palavra não deveria se apartar da boca deles; “Está escrito” deveria decidir tudo; e deveria ser sua meditação, tanto de dia quanto de noite, seu estudo contínuo. Prosperidade e sucesso seriam deles à medida que obedecessem à Palavra de Deus.
E, companheiros Cristãos, aqui está uma boa ocasião para sermos francos conosco mesmos. Por que um está sem paz plena com Deus? Por que outro tem magreza de alma? Por que outro tem problemas em vez de gozo? A Palavra de Deus não é seguida implicitamente, passou-se por cima do caminho claro da Escritura.
Uma terceira vez temos o Senhor dizendo: “sede forte e muito corajoso” (JND). A primeira vez, porque tudo é por graça; a segunda, porque a Palavra é d’Ele; e agora, porque Sua própria autoridade é nossa comissão. Uma vez que o Cristão se apodere do fato da autoridade divina da Palavra de Deus, imediatamente tudo o que é humano deve se curvar.
Com a promessa “o SENHOR, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares”, a exortação se encerra; pois não seria possível obedecer à Sua ordem a menos que fôssemos abençoados com Sua presença.
Admoestação - Josué 1:10-11
“Então, deu ordem Josué aos príncipes do povo, dizendo: Passai pelo meio do arraial e ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de comida, porque, dentro de três dias, passareis este Jordão, para que tomeis posse da terra que vos dá o SENHOR, vosso Deus, para que a possuais” (Js 1:10-11).
Há algo de contrastante com os costumes humanos no fato de o povo de Israel ter sido ordenado a permanecer três dias após receber uma exortação tão estimulante como a que acabavam de receber.
Eles têm que preparar comida, esperar um período de tempo perfeito e não se apressar impetuosamente; e é assim que, tendo partido da última etapa de seu caminho no deserto – Sitim – Josué e todo o povo se alojam nas margens do Jordão antes de atravessarem.
Temos que aprender que a energia humana não pode cruzar rios de morte, ou derrubar os muros das fortalezas deste mundo, e que devemos ser despertados para seguir o Senhor. Tudo precisa ser no Seu tempo, bem como de acordo com a Sua Palavra. Impulso não é fé, e seguir em frente na mera força do nosso próprio conhecimento adquirido da verdade de Deus certamente se manifestará como sendo impulso.
Deus tem Seu próprio tempo. Ele não tem pressa, e Ele também não quer que Seu povo aja com zelo carnal, nem na excitação de um conhecimento recém-adquirido. Ações corretas podem ser feitas em momentos errados, e bem seria se alguns que amam seu Senhor, em vez de se precipitarem no impulso da verdade recém-adquirida, primeiro demorassem seus três dias e a digerissem – a tornassem, pela graça do Espírito de Deus, completamente sua. A menos que façamos da verdade de Deus parte de nós mesmos, por assim dizer, nossa fraqueza se revelará no dia do teste. Esse conhecimento da Palavra divina que não entra profundamente no coração não manterá a alma quando seu apoio for mais necessário; será descoberto então que tal conhecimento era de um tipo exterior; e que, portanto, não podemos usá-lo. Aprender de uma outra pessoa uma verdade de Deus como uma questão de inteligência, sem ter experimentado a força dela em nossa própria alma, é conhecimento sem poder.
Ao extrair instruções dessa história literal, não devemos, contudo, supor que um intervalo de tempo determinado seja necessário para efetuar um exercício necessário da alma, pois Deus pode e opera em alguns em um curto período, o que é Seu prazer realizar em outros por meio de uma lição ao longo de toda a vida.
A Mensagem do Evangelho - Josué 2 e 6
“Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias” (Hb 11:31).
Quão apropriado é o lugar que esta história do evangelho ocupa na ordem do livro diante de nós.
Vemos em Raabe um monumento de misericórdia e um padrão para nós, que aprendemos nela, que a salvação alcança o maior dos pecadores.
Em comum com seus concidadãos, Raabe ouvira a mensagem do julgamento vindouro, e ela, assim como eles, temera excessivamente, acreditando no poderoso exército de Jeová - os israelitas peregrinos. Mas, como o julgamento retardou sua marcha, os homens orgulhosos de Jericó o consideraram frouxidão e se endureceram em sua iniquidade. Raabe não participou do espírito deles, pois, no intervalo da espera, ela pensou na libertação. Quando encontramos almas tremendo hoje para que não sejam destruídas com este mundo perverso, e amanhã, quando seu tremor cessar, seguindo seus caminhos perversos, elas nos lembram do ferro que se torna mais e mais duro ao ser aquecido na fornalha até que, por fim, os golpes do martelo dificilmente deixarão uma impressão. Mas o julgamento deve vir, e o pecador endurecido terá que prová-lo, assim como fizeram os desafiadores homens de Jericó.
Sigamos os dois espiões. O julgamento há muito ameaçado está nas muralhas da cidade, seus arautos entram nela e são recebidos na casa de Raabe. Ela os saúda como mensageiros de misericórdia, mas seus cidadãos guiados por seu rei buscam a vida deles.
A palavra vinda do alto é julgamento para o mundo: “Agora é o julgamento deste mundo”; mas para o pecador individual a mensagem é libertação. Para cada casa, para cada pecador, onde o arauto de Deus vem, a saudação é “Paz”, paz pelo sangue de Cristo, e todos os que aceitam a mensagem de Deus são salvos da ira vindoura. Ai, de fato, daqueles que rejeitam a mensagem de misericórdia de Deus, pois assim fecham sobre si mesmos a única porta de escape. Aqueles que sentem sua necessidade e reconhecem o justo julgamento de Deus sobre este mundo perverso, saúdam Seus mensageiros com alegria. Foi a fé de Raabe que a salvou, e a incredulidade de Jericó foi sua condenação. “Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias” (Hb 11:31).
Olhar para trás e contemplar a destruição de Jericó, e a salvação de Raabe dela, é profundamente solene e instrutivo para nós, que vivemos nestes últimos dias da longanimidade de Deus. Vamos ficar então com Raabe e os dois espiões no telhado plano de sua casa, e olhando ao redor aprendamos uma lição para os nossos tempos. Marque o desenvolvimento da cidade, suas melhorias recentes, seus grandes e altos muros, e seus portões de bronze. Como desde a criação do mundo, as montanhas estão em seus lugares. Como antes, os vales são dourados com trigo maduro, as encostas roxas com videiras frutíferas; pois, observe isto, é o tempo da colheita. O antigo Jordão flui adiante, suas margens cobertas de águas profundas, como se orgulhosamente dissesse: Eu sou uma barreira para a aproximação do inimigo. O Sol, que eles adoram, calmo nos céus, afunda sob as montanhas, derramando seu rico brilho sobre os vales, e o povo beija sua mão para ele. Os negócios da cidade, comer carne e beber vinho, casar e dar-se em casamento, nascimento e morte, continuam como nas gerações anteriores. Os escarnecedores da cidade dizem, a fábula do julgamento envelheceu , quarenta longos anos atrás ouvimos como o Senhor secou as águas do Mar Vermelho para esse povo que reivindicam esta terra, e não há nada a temer.
O testemunho da vinda do Senhor envelheceu para o mundo. O Filho do Homem vindo dos céus em fogo flamejante, e a derrubada da ordem das coisas como elas agora existem na Terra, não concordam com as noções humanas de estabilidade. “Onde está a promessa da Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”; “o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão”. Esta Palavra de Deus foi divulgada há mais de mil e oitocentos anos. Não julgueis, então, pela vista, não sejais voluntariamente ignorantes do dilúvio, ou do incêndio de Sodoma e das cidades da planície, pois se o julgamento tarda, é somente por esta única razão: “O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3:9). Somos da Cidade da Destruição, ou esperamos pelo Filho de Deus do céu, que livrou Seu povo da ira vindoura? Não importa em que parte da cidade moramos, seja na Rua da Moralidade ou nos Bairros Religiosos; não importa quão ricamente nossa casa esteja mobiliada com boas ações, pois se somos do mundo, somos daquele lugar sobre o qual Deus pronunciou julgamento. Os homens podem dizer, “paz e segurança”, mas enquanto falam assim, repentina destruição virá sobre eles, e eles não escaparão. Os homens de Jericó podem zombar de Israel marchando ao redor de seus muros, até que, atônitos e oprimidos, eles pereçam em sua derrubada.
O coração de Raabe está cheio, pois a Palavra de Jeová é realidade para ela. Pela fé, ela entende que os dias de Jericó estão contados, seu progresso está no fim e os últimos momentos de sua hora de graça estão próximos. Seus pensamentos não estão com os dos habitantes da cidade, seu espírito está separado de sua cidade natal, ela espera por vida em outro lugar. Nos dois espiões que estão com ela no terraço, ela contempla os mensageiros do “Deus em cima no céu e embaixo na Terra”, e assim o testemunho deles é mais poderoso para ela do que todas as evidências das coisas exteriores. Para esses homens, ela alivia sua alma e, se puder, lança sua sorte com o povo de Deus odiado por Jericó.
Raabe era por natureza e por prática uma filha da ira, assim como os outros. Em comum com os pecadores de sua cidade, ela não tinha direito à salvação de Deus – nenhum, mas ela creu e confessou que o julgamento do Senhor estava sobre ela; ela reconheceu que a terra em que habitava não pertencia mais ao seu povo, mas ao povo de Deus – “Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra”. Ela reconhecia que o julgamento era de Jeová – “Jeová vosso Deus é Deus em cima no céu e em baixo na Terra” (TB). Cerrada ao terror deste Deus poderoso, o que ela deveria fazer? “Que (ela) se apodere da Minha força e faça paz Comigo; sim, que faça paz Comigo” (Is 27:5). Raabe apelou para a bondade de Jeová. Ela confiou n’Ele e clamou por misericórdia: “salva-nos, que perecemos”; este era seu fardo. Morte ao redor dela, morte nela, o que mais poderia satisfazê-la, exceto a vida? “Livra nossas vidas da morte”.
Os antecedentes de Raabe, talvez, expliquem por que ela mentiu aos mensageiros do rei. Este é um assunto para reflexão. Quão frequentemente observamos alguma tendência maligna, algum hábito ou temperamento odioso, apegar-se até mesmo a crentes sinceros! Um tom moral baixo não é alterado para um tom exaltado do dia para a noite; não, nem mesmo pela conversão.
O sinal de que Raabe tinha vida era um símbolo fora dela. Era o cordão de escarlata pelo qual os espiões escaparam de Jericó; e Deus ficou satisfeito com o símbolo. Sob o abrigo do cordão pode ter havido medos ansiosos, ou, possivelmente, fé forte, enquanto o exército marchava ao redor da cidade, mas ele cobria tudo. Este cordão nos fala do sangue de Cristo, o precioso “símbolo” que fala da perfeita satisfação de Deus com relação ao pecado. Por esse sangue precioso, Deus pode ser Justo e o Justificador, pois o sangue atendeu Suas reivindicações quanto ao pecado, e satisfez Suas justas demandas. E agora Deus justifica de todas as coisas aquele que crê em Seu Filho.
Mas Raabe tinha mais do que esse cordão de escarlata, ela tinha os dois homens vivos como sua segurança. Em vão teria sido o cordão amarrado em sua janela se os espiões não tivessem chegado ao acampamento! Esses homens tinham garantido a vida deles pela dela, “Nossa vida responderá pela vossa”; a vida deles era a vida dela. E isso não nos fala das palavras asseguradoras do Salvador, “porque Eu vivo, e vós vivereis” (Jo 14:19)? É a vida d’Ele que é a vida do crente, uma vida além das reivindicações e do poder da morte. Jesus, o Filho de Deus, é a Vida Eterna. “Aquele que tem o Filho tem a vida” (1 Jo 5:12). Pela morte de Cristo, a vida do homem foi judicialmente encerrada, e na vida do Ascendido, o crente mais fraco vive. Que você, caro leitor, creia no nome de Seu Filho, e tenha vida eterna, pois em Adão “todos nós somos mortos” (TB). Nós, que cremos, somos removidos do julgamento do mundo; porque, sendo Cristo a nossa vida, já não somos da cidade da destruição, mas daqueles que esperam a vinda do Senhor para nos tirar do mundo.
Que brilhante padrão de cuidado Raabe nos oferece para com os pecadores que perecem! Quão fervorosa foi sua súplica por seu pai, mãe, irmãos, irmãs e todos os seus parentes! Ela usou sua oportunidade para “levar para casa” muitos, e nenhum deles foi deixado para perecer na derrubada de Jericó.
Ela mesma era um testemunho de misericórdia, e o cordão de escarlata em sua janela, era a evidência da fé. Apontando para o cordão de escarlata, ela poderia dizer a eles que por aquela janela os homens deixaram a cidade, e que eles tinham comprometido sua vida pela dela, e pela vida de todos os que permaneceram sob o abrigo daquele cordão.
Vamos agora nos voltar para a arrogante e incrédula Jericó. O Jordão recua, e os exércitos de Deus cercam a cidade. Ela cerrou-se em ferrenha determinação, não permitindo que ninguém saia e desafiando qualquer um a entrar. Numa formação divinamente escolhida, o exército de Deus a rodeia. Os trombeteiros estão lá, como se antecipassem “o ano aceitável do Senhor”. Para Jericó, é um som vão, adequado apenas para zombaria e ridículo. O quê? Homens marchando em círculos derrubarão um reino? Agora chega o sétimo dia, com suas sete notas de apregoação, com sua agitação no acampamento e seu “levantar-se de madrugada”. É o último dia para a casa de Raabe oferecer abrigo. Antes do anoitecer, o povo de Jericó perecerá.
Tudo é silêncio. A cidade está cercada. O capitão do exército dá a palavra. O grito de vitória rasga os corações incrédulos. Os muros de Jericó vacilam e caem. É uma destruição repentina. A espada devora velhos e jovens, ricos e pobres. A cidade é destruída pelo fogo. O orgulho de Jericó não existe mais.
Leitor, mais uma vez a pergunta, Você é do mundo? Este mesmo mundo é uma “cidade de destruição”. Eis no destino de Jericó o seu fim certo.
Mas Raabe, onde está ela? Segura, salva? Ela estava segura no momento em que creu. O pecador é salvo imediatamente quando crê. Viva no meio da morte? Sim, a vida era dela quando os espias uniram a vida deles com a dela. “Josué conservou com vida a prostituta Raabe, e a casa de seu pai, e tudo quanto tinha; e habitou no meio de Israel até ao dia de hoje, porquanto escondera os mensageiros que Josué enviara a espiar Jericó” (ARA).
Mas onde será encontrado o historiador para registrar a duração da estadia daqueles que entram em sua herança celestial? “Daí jamais sairá” (Ap 3:12).
A Posição Cristã - Josué 3-4
Eles “passaram o rio a pé” (Sl 66:6).
“Que tiveste... tu, ó Jordão, que tornaste atrás?” (Sl 114:5).
A passagem de Israel pelo Jordão é geralmente considerada uma figura da entrada do crente no céu após a morte, mas há mais do que simplesmente isso.
Israel foi libertado do julgamento sobre o Egito pela Páscoa. Na passagem do Mar Vermelho, a perseguição do Faraó chegou ao fim, e Israel foi libertado do seu poder. Eles passaram a pé enxuto pelas águas que ameaçavam se tornar seu túmulo, e ali seu perseguidor e seu exército foram sepultados. Eles foram libertados do Egito e de seu rei, e colocados na margem oposta, um grupo de peregrinos com destino a Canaã. Mas a passagem do Mar Vermelho não os trouxe para Canaã; isso foi realizado cruzando o Jordão.
Antes de atravessar o rio, o povo deveria, primeiro, observar a arca; e, segundo, santificar-se.
No deserto, se a arca permanecesse sob suas cortinas, o povo permanecia em suas tendas; se ela avançasse, eles a seguiriam. E agora, como eles estão prestes a trilhar um caminho até então não trilhado – um caminho do qual eles não têm conhecimento – de uma maneira especial, eles devem observar as direções da arca, para que eles soubessem “o caminho pelo qual haveis de ir, porquanto por este caminho nunca passastes antes”. No entanto, embora devessem observar a arca e segui-la, é dito a eles: “Não vos aproximeis dela”, mas deveria manter uma distância definida entre ela e eles, um espaço medido de dois mil côvados.
Em segundo lugar, eles deveriam se santificar, por causa das “maravilhas” que o Senhor faria no meio deles no dia seguinte.
A arca é uma figura de Cristo. O caminho da fé é necessariamente um caminho sempre novo para o povo de Deus, e é simplesmente olhando para Jesus que qualquer um de nós sabe “o caminho pelo qual devemos ir”. Israel não deveria pressionar a arca, e o Cristão deve dar ao Senhor Jesus o pleno lugar, pois em todas as coisas Ele deve ter a preeminência (Cl 1:18). Há uma distância divina entre Ele e Seu povo. Se o povo não tivesse deixado um espaço entre si e a arca, as primeiras fileiras teriam impedido aqueles que vinham atrás de vê-la. E o Cristão deve sempre ter uma visão completa de Cristo, se ele quiser andar no caminho de Deus.
Mas como seguiremos a Cristo? “Santificai-vos”, foi a palavra de Deus para Israel, quanto mais, então, para nós! Verdadeiramente, não há como seguir o Senhor Jesus, exceto com passos santos. Não há como se aproximar das “maravilhas” de Deus, exceto como Moisés se aproximou da sarça. Então, como “nos santificaremos”? Nossa única santificação é Cristo – “o Qual para nós foi feito por Deus... santificação” (1 Co 1:30). Não há poder para separação do mal, exceto por Cristo. E quanto mais de perto olhamos para a santificação cerimonial judaica, mais evidentemente vemos que tudo apontava para Cristo.
A arca do Senhor, na passagem do Jordão, era chamada de “A arca do concerto do Senhor de toda a Terra”. O Senhor Jesus disse: “É-me dado todo o poder no céu e na Terra” (Mt 28:18), pois o Pai confiou tudo em Suas mãos.
O rio Jordão barrava a entrada de Israel em Canaã. Exceto por através desse rio, Deus não tinha caminho para Seu povo entrar na terra prometida. Quando Israel chegou às suas margens, era época de colheita, e “o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega”; assim, o ribeiro estava aumentado em uma torrente poderosa, e estendeu suas amplas águas sobre o vale. Podemos facilmente imaginar o exército de Israel, com os “homens de guerra”, as mulheres e os pequenos, aglomerados perto de sua borda; e podemos imaginar a arca do Senhor, carregada pelos levitas, dois mil côvados na frente do exército. Todos os olhos estão fixos na arca do Senhor, pois todos estão plenamente cientes de que, se quiserem entrar em Canaã, deve ser pela arca. Certamente ninguém entre aquela vasta companhia duvida por um momento do poder de Deus; não, porém eles estão esperando ver Suas “maravilhas” operadas em sua presença.
E assim, “quando os que levavam a arca chegaram até ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que levavam a arca se molharam na borda das águas... pararam-se as águas que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adã, que está da banda de Sartã; e as que desciam ao mar das Campinas, que é o mar Salgado, faltavam de todo e separaram-se”. No Mar Morto, o Rio da Morte foi engolido. E a maré ameaçadora de águas revoltas se levantou num montão diante da arca do Senhor. Haveria naquela companhia um coração que temesse que o “transbordamento do Jordão” o submergisse? Antes que uma gota da maré pudesse tocar o mais fraco israelita, a arca de Deus precisaria ter sido varrida.
“Até que todo o povo acabou de passar o Jordão”, a arca ficou diante das águas amontoadas; mas, quando “as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar e corriam, como antes, sobre todas as suas ribanceiras”. Esta é uma figura do Senhor segurando o derramamento do julgamento até que Seu povo seja primeiro reunido em casa. Consideração solene para aquele que não conhece Cristo como Aquele que liberta da morte! Oh, considere que as águas do julgamento há muito represadas certamente varrerão esta Terra com poder irresistível, e se o último do exército passar diante de você, e você for deixado para trás, como você encontrará sua entrada na terra de luz e amor além? Que Deus em Sua misericórdia lhe conceda, caro leitor, atravessar enquanto o caminho ainda está aberto.
Deus não permitiu que Israel atravessasse o Jordão, exceto por aquele caminho que Sua arca abriu. Israel, trinta e oito anos antes, por vontade própria, se esforçou para lutar para entrar em Canaã, eles tentaram o máximo em sua incredulidade para alcançá-la – mas em vão; e o Senhor agora lhes mostrou que Seu caminho deve ser trilhado somente na força da arca. Se um israelita não pode ganhar a herança terrenal por sua própria força, como o pecador ganhará o céu por seus próprios esforços?
Agora, como um Jordão, a morte limita este mundo desértico, através do qual os homens estão viajando, e não há vau, nem balsa, nem ponte, por onde possamos cruzar o rio. Mais cedo ou mais tarde, cada um dos filhos dos homens deve chegar à beira do rio, mas ninguém entrará na terra da vida além, exceto pelo próprio caminho escolhido por Deus.
Assim como na figura diante de nós, o curso de Israel, como andarilhos murmuradores e incrédulos, terminou no Jordão, assim nossa história, como homens na carne, termina, aos olhos de Deus, na morte de Seu Filho. Na graça e no poder de Deus, o que o Filho realizou, Ele realizou para todos. E para cada um de Seu povo. O Senhor e Seu povo são “plantados juntamente” (não poderíamos dizer unidos, pois a morte não une) na morte. Eles ocupam o mesmo lugar – estamos “mortos com Cristo”. É o conforto do crente perceber isso; pois quando sabemos que aos olhos de Deus estamos judicialmente mortos, e que Ele não olha para nós em nossa condição natural, mas somente em Seu Filho, nossas dúvidas e medos são sepultados, e somos capazes de considerar-nos “como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
O mesmo poder que levou os sacerdotes que carregaram a arca a seco através do rio, foi eficaz na passagem do menor do exército. A arca e o povo eram idênticos. Cristo desceu à morte e esvaziou-a de seu poder, assim como a arca do Senhor esgotou o fluxo do Jordão; e é por Ele que todo crente entra na terra celestial além. Se somos “plantados juntamente” com Cristo na semelhança de Sua morte, estamos unidos a Ele em Sua vida. Porque Ele vive, nós também vivemos. Somos “salvos por Sua vida” (Rm 5:10). “Já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3). Cristo, nossa arca, trouxe Seu povo purificado através do rio da morte para a terra prometida. Em Cristo, o crente está, por assim dizer, do outro lado do Jordão, e em repouso em Canaã. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3).
Talvez seja bom colocar juntos os três grandes símbolos da Páscoa, do Mar Vermelho e do Jordão.
Na noite da Páscoa, aprendemos sobre a obra de Cristo como o Cordeiro imaculado, cujo sangue precioso respondeu a todas as reivindicações que a justiça tinha contra nós e “nos livra da ira vindoura” (1 Ts 1:10 - ARA).
Da noite do Mar Vermelho aprendemos a obra gloriosa de Deus em libertar Seu povo do poder de Satanás. Faraó queria ter arrancado Israel, comprado com sangue, das mãos de Jeová se pudesse; ele tentou o máximo. Mas quando amanheceu, o Senhor olhou desde a coluna de fogo e nuvem para o perseguidor e seu exército, e eles clamaram: “Fujamos da face de Israel, porque o SENHOR por eles peleja contra os egípcios”. Então o mar voltou sobre eles, e “nem ainda um deles ficou” (Êx 14:25, 28). Assim, na força de Jeová, os seiscentos mil de Israel passaram a pé enxutos pelo mar, e cantaram na outra distante margem, o Senhor “sumamente Se exaltou”; as mulheres respondendo ao cântico com tamborins e danças. E mais do que este cântico de liberdade, eles, pela fé atribuindo toda a obra de sua bênção ao Senhor, falaram como se já estivessem em Canaã; “Na Tua misericórdia guiaste o povo que remiste; Na Tua força o conduziste à Tua santa habitação” (Êx 15:13 – TB).
Quando o Senhor ressuscitou dos mortos, o poder de Satanás, o perseguidor do povo do Senhor, foi derrubado. Desde aquela manhã triunfante, o cântico da vitória tem sido cantado por todo crente que conheceu o Salvador como seu Libertador. E, pela fé, todo crente pode dizer não apenas que ele é “redimido”, mas que, apesar do deserto intermediário, ele é trazido pela “força” de Deus para os lugares celestiais – Sua “santa habitação”.
Quando Israel começou a pisar no deserto, sua forte fé mudou para incredulidade. Seus inimigos, de fato, estavam mortos, mas o “eu” estava em plena atividade; e eles ficaram tão ocupados consigo mesmos, que se esqueceram de sua grande libertação e de seu cântico de triunfo no Mar Vermelho.
Eles chegaram ao Jordão pela manhã e cruzaram em plena luz do dia. Não lemos sobre gritos de vitória acompanhando a passagem, nem tamborins, nem danças, mas uma solene quietude parece permear o exército enquanto observam a arca do Senhor descer para eles na inundação do rio.
Na plena luz clara desta cena, aprendemos a morte para o “eu” e a vida com Cristo. Aprendemos que o mesmo Salvador Todo-Poderoso, que derramou Seu precioso sangue por Seu pobre povo escravizado; e que, por Sua própria força, derrotou seus inimigos, tem, no poder de Sua vida, trazido-os para os lugares celestiais. É abençoado, de fato, perceber, pelo ensino do Espírito Santo, a grandeza da obra de Cristo por Seu povo, conforme delineada na passagem do Mar Vermelho, e nossa posição em Cristo, conforme estabelecida na passagem do Jordão.
Antes que o Jordão fosse atravessado, o Senhor disse a Josué: “Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel”; e quando eles atravessaram, é dito: “Naquele dia, o SENHOR engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés” (Js 3:7; 4:14).
Deus Pai magnifica o Senhor Jesus como o Vencedor da morte; e o Senhor nunca é completamente honrado pelo povo de Deus até que a grandeza de Sua obra na ressurreição seja apreendida.
Quando todo o povo passou pelo Jordão, o Senhor ordenou a Josué: “Tomai do povo doze homens, de cada tribo um homem, e mandai-lhes, dizendo: Tomai daqui, do meio do Jordão, do lugar do assento [onde permaneceram firmes – JND] dos pés dos sacerdotes, doze pedras; e levai-as convosco à outra banda e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite”.
Essas doze pedras representavam todo o povo de Israel, uma pedra para cada tribo; e, tendo sido retiradas das profundezas do Jordão, elas falavam da obra de Deus, que, por Sua arca, havia feito passar o povo. Essas pedras foram colocadas na terra, um sinal de que todo Israel era uma família – que as doze tribos de Jeová eram um povo. Um sinal também (sendo colocadas na terra prometida), de que a união manifesta das tribos foi efetuada em Canaã. Algumas das tribos de Israel poderiam escolher sua morada no lado desértico do Jordão – elas poderiam não atingir praticamente a medida completa de bênção que a terra prometida lhes oferecia; mas suas pedras foram colocadas na terra prometida e, apesar da pobreza de sua fé, elas eram uma com seus irmãos ali.
Israel foi edificado em unidade manifesta em Canaã; a Igreja é Um corpo nos lugares celestiais. Nenhuma tribo, nenhuma divisão, nem Judeu nem gentio são reconhecidos nela. Somos vivificados juntos... ressuscitados juntos, e feitos para assentarmos juntos em lugares celestiais em Cristo Jesus. Essa unidade é efetuada pelo Espírito Santo, como resultado da obra de Cristo. Somos membros uns dos outros, sendo membros de Seu corpo.
Se algum membro da Igreja de Deus (como as duas tribos e meia de Israel que escolheram uma porção aquém da terra prometida) escolher uma posição que praticamente nega a unidade do corpo, ainda assim, estando unido a Cristo, ele é da companhia indivisa. Ele perde o gozo de sua porção, enquanto vive abaixo de seus privilégios, é verdade; mas ele não pode frustrar o conselho de Deus, ou frustrar Seu propósito de abençoá-lo. E embora, nesta Terra, as divisões arruíne a beleza da Igreja de Deus, ainda assim, na glória, será descoberto que nenhum membro está faltando. Quando, pela fé, o Corpo é contemplado em sua beleza divina e celestial, o Cristão pode olhar calmamente para as divisões da Cristandade, e encarar seus cismas sem se desanimar – pois Cristo não está dividido – e pode lamentar a vaidade do esforço para formar uma união no lado desértico do Jordão, como se fosse uma união daquilo que não é celestial, nem no poder da ressurreição de Cristo.
Os doze homens carregando sobre os ombros as pedras do Jordão também ilustram qual deve ser a condição do povo ressuscitado do Senhor enquanto eles andam por este mundo. “trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Co 4:10). Enquanto os representantes das doze tribos pisavam a terra prometida, carregando as pedras sobre os ombros, eles testificaram não apenas que foram trazidos para Canaã, mas também do caminho pelo qual entraram nela. A vida de Jesus não se manifesta em nós por simplesmente dizermos que ressuscitamos com Ele; mas por uma negação de si mesmo, uma morte para o mundo, pelo poder de Sua morte.
Essas pedras foram colocadas em Gilgal e se tornaram “para sempre por memorial aos filhos de Israel”. Quanto mais a morte e ressurreição do Filho de Deus devem ser o único memorial para cada crente! “Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?, fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão. Porque o SENHOR, vosso Deus, fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, como o SENHOR, vosso Deus, fez ao mar Vermelho, que fez secar perante nós, até que passamos. Para que todos os povos da Terra conheçam a mão do SENHOR, que é forte, para que temais ao SENHOR, vosso Deus, todos os dias”. Assim Israel deveria responder à pergunta: “O que significam estas pedras?” que naturalmente surgiria na mente de muitos nos dias posteriores. Se qualquer inquiridor nos fizesse uma pergunta semelhante a respeito de nossa salvação, podemos responder com ousadia: Cristo morreu e ressuscitou; por Ele, atravessamos a seco o rio da morte; e Sua morte e ressurreição não apenas nos libertaram para sempre de nossos inimigos, mas também nos libertaram de nós mesmos; e agora é a feliz, sim, gloriosa porção de todo crente no Cordeiro que foi morto, testemunhar a grandeza suprema do poder de Deus para aqueles que creem.
O lapso de um curto período de mil e oitocentos anos afastou o povo de Deus do fundamento da fé Cristã? Outros sinais são necessários agora, sinais que a Igreja primitiva teria desprezado? É um fato triste para todo coração fiel, que a razão humana e a maquinaria religiosa inventada pelo homem tenham manchado o testemunho simples e ousado da obra de Cristo. No entanto, seja qual for a resposta que o povo de Deus dê a seus filhos, o Filho de Deus crucificado, ressuscitado e ascendido é o único fundamento da fé, como todo pecador salvo algum dia testemunhará. Que sejamos testemunhas de Deus neste assunto! (Veja 1 Coríntios 15:1-4, 14-15).
Antes de deixar esta cena das “maravilhas” de Jeová, notemos esta palavra: “Levantou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no lugar do assento dos pés dos sacerdotes que levavam a arca do concerto; e ali estão até ao dia de hoje”. O Filho de Deus ascendido nunca Se esquece do povo pelo qual Ele morreu. Ele nunca Se esquece de Sua morte. As águas profundas, onde Seus todo-poderosos pés “permaneceram firmes”, estão presentes para Ele e para Seu Deus e Pai. Do trono nas alturas, Ele Se lembra da cruz.
Que nós, que n’Ele temos trilhado o caminho maravilhoso que a razão humana não tinha conhecimento, e que n’Ele entramos nos lugares celestiais, enquanto desfrutamos da bênção indizível da vida no Filho de Deus ressuscitado e exaltado, permaneçamos na lembrança de Sua morte – olhemos, pelo poder do Espírito divino, para as águas profundas!
H. F. Witherby
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