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Revista mensal publicada originalmente em janeiro/2008 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
A. C. Hayhoe
J. G. Bellett, Christian Truth, 6:159
G. V. Wigram (adaptado)
G. H. Hayhoe
J. N. Darby
A. C. Hayhoe
C. H. Mackintosh, selecionado de The Christian Friend, 3:57-64
W. J. Prost
H. Smith
A. C. Hayhoe
Separação
A separação é difícil ou é um prazer? Você sabe, mil palestras sobre separação não seriam nada para o coração que não ama o Senhor Jesus Cristo. Mas, na verdade, as conversas sobre separação não são necessárias para o coração que realmente ama o Senhor. Eu sei que a palavra “separação” às vezes faz as pessoas se encolherem um pouco. Mas você e eu vimos uma separação completa, total e prazerosa, não é mesmo? Em cada casamento que assistimos, vemos isso de novo. Vemos aquela noiva chegar para juntar seu braço ao do seu noivo que a está esperando. O que é que ouvimos? Algo assim: “Você promete que, renunciando a todos os outros, você vai se apegar somente a ele, enquanto ambos viverem?” Isso envolve separação? Sim. E essa separação é difícil? Seria muito difícil se não houvesse laços de amor para torná-lo precioso.
Queridos santos de Deus, quando vejo Aquele que nos amou até a morte e Seu propósito de ter uma noiva para satisfazer os anseios de Seu coração amoroso, a Igreja que é Seu corpo, Ele tinha todo o direito de nos chamar para a separação. Além disso, amados, porque pertencemos Àquele a quem este mundo expulsou e rejeitou, devemos ser gratos pelo privilégio de nos separarmos para Ele.
A. C. Hayhoe
Separação
Antes de Deus julgar o Egito e separar Seu povo de lá, o Egito precisava ter o testemunho de Sua bênção por meio de José e ter a oportunidade de aceitar ou rejeitar Sua bondade, pois é a bênção desprezada ou negligenciada que amadurece o pecado. Como o Senhor Jesus diz de Seu testemunho por Deus no mundo: “Se Eu, entre eles, não fizesse tais obras, quais nenhum outro têm feito, não teriam pecado; mas, agora, viram-nas e Me aborreceram a Mim e a Meu Pai”. Ou seja, desprezaram as riquezas do amor e da bondade. No Egito, outro rei surgiu “que não conhecia José”. O Egito havia esquecido a bondade de Deus, manifestada a eles por meio de José. Assim, a medida do seu pecado estava cheia e o Egito estava pronto para o juízo. Sem o ministério anterior de José, portanto, a plenitude de seu pecado não poderia ter sido atingida, assim como agora o mundo está convencido do pecado porque não crê em Jesus. Isso faz do Egito uma amostra do mundo.
O Êxodo da separação
O êxodo é a separação do povo de Deus do mundo. Israel deveria sair do Egito para servir ou realizar uma festa para o Senhor (Êx 5:1; 3:18; 8:1, 20; 9:1, 13; 10:3, 9), pois eles não poderiam servi-Lo, nem fazer sacrifícios a Ele na terra de sua escravidão e diante daquele povo (cap. 8:25-27). Seu serviço religioso era de tal caráter que o Egito não o toleraria. Era algo que tão completamente iria de encontro com todos os pensamentos daquele povo, que eles iriam persegui-los e destruí-los se fossem testemunhas disso. Portanto, eles precisam partir.
Que caráter esse simples fato dá ao Egito ou ao mundo! Deus não tinha um santuário ali. Os pensamentos e as formas daquela terra eram tão opostos a Ele que Ele não podia estabelecer Seu nome entre eles. Seu povo deve sair antes que eles pudessem abrir Seu templo ou levantar Seu altar, porque as mesmas coisas que Israel sacrificaria ou crucificaria, o Egito adoraria (cap. 8:26). Israel precisa, portanto, ser separado do Egito antes que eles possam realizar sua festa ao Senhor.
E assim foi depois. Havia uma cerca ao redor da Terra Santa, uma parede de separação que separava Israel em Canaã das nações. Nenhum estranho poderia comer da Páscoa; nenhum incircunciso podia realizar a festa do Senhor. E assim ainda é. Temos que adorar “em espírito e em verdade”. Ninguém pode invocar a Deus corretamente se não for pelo Espírito que concede a adoção, nem chamar Jesus de Senhor senão pelo Espírito Santo. Ainda é no princípio da separação que Deus deve ser servido ou adorado, tal como quando Israel teve que ir ao deserto, fora do Egito, ou distinguir-se de todas as nações pela circuncisão para então fazer o que foi pedido.
O lugar separado: o santuário de Deus
A parede de separação agora é diferente, é verdade; o lugar fora da terra não é um mero deserto, é verdade. Mas o local de serviço é tão distinto como sempre foi. “Necessário vos é nascer de novo”. “A obra de Deus é esta: que creiais n’Aquele que Ele enviou”. “E, chegando-vos para Ele, a Pedra viva... vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo”. Aqui está o deserto, o lugar separado, o santuário de Deus, dentro da parede de separação. O Espírito Santo eleva isto agora. A união com Cristo forma isso e, nesse lugar, as abominações do mundo são sacrificadas agora, assim como as abominações do Egito foram sacrificadas no deserto da antiguidade. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida devem ser ali crucificadas, embora todas elas sejam do mundo.
E qual foi a festa completa que Israel celebrou ao Senhor quando eles saíram para o deserto? Ora, na verdade ela foi fornecida a eles pelo próprio Egito. Assim que eles chegaram às margens do Mar Vermelho, eles começaram a realizar sua festa. Eles não esperaram para alcançar o monte (Êx 3:12). É bem verdade que eles serviram depois, ou sacrificaram a Deus, aos pés daquela montanha (Êx 19-40; Lv 1-9), mas o próprio Egito deu-lhes um cântico antes de chegarem ao local designado. O Egito era ousado o suficiente para resistir a eles até a ponto de segui-los até as próprias mandíbulas do Mar Vermelho. Sua inimizade era completa, mas tudo isso acabou dando a Israel um cântico de triunfo sobre o Egito (Êx 15). Mesmo antes de chegarem ao lugar para o qual haviam sido chamados, esse gozo já era deles. E assim conosco, amados. Satanás exerceu sua vontade, mas Jesus, pela morte e ressurreição, o derrotou. Se Satanás não tivesse levado seus carros e seus cavalos, toda a força e poder de seu reino, para o monte do Calvário, o cântico que a ressurreição coloca em nossa boca não teria sido nosso. Mas agora é nosso, e ele nunca pode silenciá-lo. O cântico foi levantado por ele mesmo, e ele nunca pode silenciá-lo, e nós também carregamos o eco de cântico em nosso coração por todo os lugares, até alcançarmos o monte do Senhor. Nesse sentido, o Egito deu a Israel esse cântico; nesse sentido, o deus deste mundo dá ao nosso coração este cântico, pois o próprio comedor produziu comida – do próprio homem forte saiu doçura.
O que nos separa de maneira viva e prática no dia a dia do mundo é a comunhão com Jesus. A fé, ou o Espírito, ou a nova natureza, é o primeiro grande êxodo – nossa primeira ida para o deserto, fora do Egito, para celebrar nossa festa para o Senhor – nosso ato de separação do mundo, mas o lugar da separação pode ser mantido diariamente somente pela comunhão com Jesus, por meio do mesmo Espírito que primeiro nos atraiu.
J. G. Bellett, Christian Truth, 6:159
Separação e Adoração
O testemunho do Espírito de Deus tem sido para alguns, em certas ocasiões, verdades particulares para satisfazer a necessidade especial do dia. Em nossos dias, isso é um testemunho de devoção prática e separação total do mal que existe no mundo. Foi em razão de Deus haver colocado estas duas verdades na consciência de alguns homens que algo semelhante a um reavivamento foi realizado nestes últimos dias. Observe a alavanca que o apóstolo usa em Romanos 12 para mover os santos. Não tinha ele um coração para as ovelhas? Seguramente ele tinha. Mas havia Outro por Quem ele tinha coração, e esse era o Senhor Jesus Cristo. Ele começa: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus” (ARA). Observe o pedido que esse firme amor é levado a usar. Este é o motivo pelo qual ele apela para eles. Misericórdias subiram para o Deus do céu, e descem para a mente do pobre e débil Cristão. Sem uma percepção de Suas misericórdias, não pode haver devoção a Deus e separação do mal. Santidade não produzirá isto. Se meu coração ainda está neste mundo, é porque eu não aprendi o que é misericórdia. O que você acha que Deus deveria fazer com você? Você tem algum direito sobre Ele, além de que Ele deveria odiar você? Você é apenas barro nas mãos do Oleiro – barro que nenhum outro oleiro poderia fazer algo de você! Será que você está em Sua mão, para que Ele molde você como Ele deseja – culpado e repugnante como você está em contraste com Cristo? Cristo é luz e você é trevas. Deus não poderia fazer nada com você, além de buscá-lo em misericórdia.
A misericórdia de Deus
Observe o que esta misericórdia realmente é. Não é meramente misericórdia providencial como falam os homens, mas misericórdias que são resumidas em todos os capítulos anteriores da epístola. O resumo não se encerra em Romanos 8, mas depois de mostrar as dispensações em Romanos 9-11, ele começa: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus” (ARA). O que há para o homem deve estar todo no terreno da misericórdia. Deus não quer um testemunho nosso no céu, mas Ele o quer na Terra, e Ele terá um. Precisamos entrar nos pensamentos de Deus sobre as coisas, e vemos que Deus nunca coloca alguém em uma posição tal, que não precise de misericórdia.
“Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). O pensamento é que devemos provar o que o Cristo ressuscitado é em alguém que ainda tem a consciência do pecado em seus membros. É-nos dito para “cessar de fazer o mal”. Talvez você diga, eu encontro o mal dentro de mim, e não consigo me afastar dele. Mas é dito a você para deixar de fazer o mal, não cessar do mal. Satanás pode colocar muitos pensamentos em minha mente, mas eu não devo dar ouvidos a eles. Não, eu acabei com eles. John Bunyan atormentou sua alma por muitos longos anos com aquilo que depois foi o seu próprio gozo. Depois ele descobriu que a razão de Satanás o haver atormentado era porque Cristo era seu, e quando ele pôde tomar as coisas com ousadia por Cristo, as coisas ficaram mais fáceis para ele.
O propósito de Deus para nós
Por que o Cristão é deixado aqui? Se um homem faz um relógio é para um propósito. Tem ponteiros para mostrar o tempo, e eles são como os membros vivos de Cristo aqui. Como o relógio é feito para mostrar a hora, o povo de Deus estava destinado a mostrar Seus louvores. Um relógio nunca é mantido em ordem se não for mantido funcionando, e você nunca encontrará um corpo saudável se não estiver em ação. Nas coisas espirituais, você nunca encontrará um Cristão em um estado saudável que não mantenha seu corpo como um sacrifício vivo para Deus. Um Cristão deve estar cheio de alegria e do Espírito Santo.
Nossa conduta e o coração
A segunda exortação do apóstolo é a não-conformidade com o mundo, e este é um ponto que nos prova muito de perto. É uma coisa muito difícil obter o verdadeiro teste sobre o que é o mundanismo. Há uma coisa certa – você nunca conseguirá isso se se apegar às características exteriores de conduta, pois o mundanismo pode muito bem ser nutrido no coração enquanto temos todas as aparências de negá-lo. O que Caim faz quando Deus coloca Sua marca sobre ele? Ele vai e se acomoda confortavelmente sem Deus. Era no “eu” e não em Deus em quem ele pensava. Ele não tinha olhos bons; Seus pensamentos se agruparam ao redor do “eu”, e não ao redor de Deus que o havia poupado. Se um homem está buscando algo para o “eu”, ele não está satisfeito com Deus. Ele quer outra coisa – algo pelo qual possa se exaltar um pouco no mundo. É “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2:16). Essas três coisas negam que Deus nos fez para Si mesmo. No momento em que Adão e Eva serviram a si mesmos, todo o mal foi feito. Com Cristo, Satanás tentou estas três coisas, mas não pôde entrar, porque Cristo não tinha mente para cuidar de Si mesmo. O mundo pode se infiltrar entre as folhas dos pensamentos da mente de alguém e causar mais danos do que um verme que come livros em uma biblioteca. Assim como o verme faz o mal em segredo, o mesmo acontece com o mundo no coração. O “eu” é mais difícil de se detectar.
Essa forma de mundanismo que se conecta com a debilidade da consciência é a mais enganosa. O corpo, alma e espírito devem ser para Cristo. Um homem pode dizer: “Não tenho liberdade para comer carne”. Bem, ele não deve comê-la contra sua consciência, e ainda assim, depois de um tempo, ele pode achar que foi apenas o mundo em sua consciência que o impediu de comer a carne. Pode ser sua própria grande religiosidade e mais luz lhe mostrará isso. Como você pode decidir entre a consciência e o sentimento? Em resposta a essa pergunta, gostaria de perguntar uma outra: Você realmente quer dizer a Deus, o Pai do Senhor Jesus Cristo: “Tu me pedes isto, e eu te dou”? Tome cuidado para não confundir sentimento com consciência. Se você andar como o mundo, você não é uma testemunha de Cristo, e você tem que sair de Sodoma o mais rápido que puder. O mundo entra onde Deus deveria estar? Se estou procurando algo à parte de Deus, é o mundo, a concupiscência e assim por diante. O único poder para sustentar essa jornada de peregrino é o reconhecimento e a dependência da Sua misericórdia. Se você deixar isso para trás por um momento, você desmorona imediatamente. Nada desfaz os laços com o mundo, no início ou no fim, a não ser aquilo que nos separou no começo.
G. V. Wigram (adaptado)
Devoção e Separação – Obra do Coração
A verdadeira separação é uma obra do coração. Não é um código de regras, mas uma Pessoa bendita diante da alma. O Senhor Jesus enche o coração e guia os pés para seguirmos a Ele, pois Ele uma vez andou aqui sendo o Rejeitado. Ele era, e é, o verdadeiro Separado – agora em glória – o Príncipe de nossa salvação, trazendo muitos filhos para aquela glória. Se a separação é apenas uma coisa formal, isso levará ao orgulho e à satisfação própria, o que é desagradável para Deus. A verdadeira separação é produzida pelo amor de Cristo, constrangendo o coração, e isso é aceitável e agradável a Ele. É primeiro separação para Cristo e, em seguida, separação de tudo o que não Lhe agrada. “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5:4).
G. H. Hayhoe
Latitudinarismo
Pode ser doloroso e uma provação se manter afastado do latitudinarismo[1], isso tem uma forma amável em geral, é em certa medida respeitável no mundo religioso, mas não prova a consciência de ninguém e permite a vontade de todos. É o mais difícil de ser decidido, porque muitas vezes é conectado com um verdadeiro desejo do bem e está associado à natureza amável. E parece rígido, estreito e sectário rejeitar andar de tal modo. Mas o santo, quando tem a luz de Deus, deve andar claramente nela. Deus justificará Seus caminhos no devido tempo. Amar a todo santo é um claro dever; andar em seus caminhos não é.
[1] N. do T.: Latitudinarismo é a doutrina defendida por teólogos, estudiosos e clérigos ingleses da Universidade de Cambridge que também eram anglicanos moderados. Em particular, eles acreditavam que aderir a doutrinas muito específicas, liturgias muito determinadas e formas organizacionais rígidas, como faziam os puritanos era desnecessário e poderia ser até prejudicial.
J. N. Darby
O Caminho da Unidade de Deus
Deus está trabalhando no meio do mal para produzir uma unidade da qual Ele é o centro e a fonte, e que reconhece, de forma dependente, a Sua autoridade. Ele ainda não a produz pela eliminação judicial dos ímpios; Ele não pode Se unir com os ímpios ou ter uma união que os sirva. Como pode então existir esta união? Ele aparta os chamados de entre o mal. “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos... e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”. Como está escrito: “Neles habitarei e entre eles andarei”. Agora aqui temos isso claramente estabelecido. Esta foi a maneira de Deus reunir. Foi dizendo: “saí do meio deles”. Ele não poderia ter reunido a verdadeira unidade em torno de Si mesmo de outra forma. Já que o mal existe – sim, é nossa condição natural – não pode haver união da qual o Deus santo é o centro e o poder, a não ser pela separação do mal (J. N. Darby).
O grande princípio da energia do Espírito de Deus em nós, ao passar pelo deserto, é revelado no Livro de Números. No capítulo 6, temos a separação positiva para Deus na energia do Espírito Santo – “para o SENHOR” (v. 2). E assim fez o Senhor Jesus, particularmente depois de Sua ascensão – “por eles Me santifico a Mim mesmo”, para que nós, pela energia do Espírito em nós, pudéssemos estar separados agora no deserto, andando de branco, mantendo nossas vestes não manchadas pela carne. Novamente, o Senhor separou-Se a Si mesmo para Se dedicar a obra de seu Pai, e por isso separou-Se dos filhos de Sua mãe (Sl 69:8) – a carne que pelo pecado estava sob o poder da morte. Ele ainda mantém o caráter nazireu, porque todos os Seus discípulos ainda não estão reunidos a Ele, e agora, em certo sentido, conosco, é a separação do gozo – “o fruto da videira”; não devemos deixar o coração ir em direção a ela. Em glória, é o grande espírito de descanso, e então não haverá necessidade de cingir o coração. Agora, o efeito da energia do Espírito é cingir os lombos de nossa mente, para não ficarmos contaminados, mas, em glória, não cingiremos nossas vestes, porque não temeremos a contaminação ali. Na cidade de refúgio, o homem estava a salvo, mas ele não podia sair ou aproveitar suas possessões.
Separação do vinho – gozo
“De vinho e de bebida forte se apartará” (v. 3), isto é, do gozo. O Senhor veio apropriadamente esperando encontrar gozo entre os homens, esperando encontrar uma resposta ao Seu amor nos corações dos homens, mas não encontrou nenhum, e assim Ele foi um Nazireu desde o princípio. Ser nazireu é estar separado de toda afeição natural que pode ser tocada pela morte – ser separado para o Senhor. Nenhum mel poderia ser oferecido ao Senhor, e agora o Espírito é um novo poder que vem nos separando de tudo o que é natural. O Senhor, cheio do Espírito para o serviço, disse: “Mulher, que tenho Eu contigo?” Toda a natureza, pelo pecado, caiu sob o poder da morte; assim, o nazireu “por seu pai, ou por sua mãe, ou por seu irmão, ou por sua irmã, por eles se não contaminará... porquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça” (v. 7). Veja também Lucas 14:26. O laço do Senhor na natureza estava com os Judeus como Filho de Davi, mas Ele abriu mão de tudo isso como algo natural, pois “depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas”. As afeições naturais vêm de Deus e, portanto, são boas em si mesmas, mas não conduzem a Deus, sendo usadas no objeto. João era um nazireu desde o ventre. Paulo era nazireu e Jeremias também. Então somos nazireus. Nosso próprio gozo está além da morte. Portanto, tudo o que eu renuncio aqui, que tem o sabor da morte, é simplesmente uma renúncia daquilo que impede uma apreensão mais profunda do gozo e bênção daquela vida que está além do poder da morte. O Senhor quebrou esse vínculo na cruz. “Senhor, com estas coisas se vive, e em todas elas está a vida do meu espírito” (Is 38:16).
Santo para Deus
“Todos os dias do seu nazireado, santo será ao SENHOR” (v. 8). Este é o grande princípio do nazireu – Santo para Deus, e no menor grau que ele possa atingir a esse caráter, ainda assim em Cristo ele é perfeito. Tudo isso é uma coisa distinta da inocência. Adão era inocente, mas não separado para Deus. Separação para Deus supõe um conhecimento do bem e do mal, e ainda separação do mal. Adão obteve o conhecimento do bem e do mal pela queda; o Espírito Santo veio para nos tirar desse mal. O Espírito é um poder totalmente novo, nos separando para Cristo em glória, agora que o mal e a vontade própria entraram. É uma coisa que muito nos prova conhecer o bem e o mal, pois por natureza estamos no mal – amando o mal e odiando o bem. O Espírito Santo está agora nos tirando do mal, e aqui está a dor – Sua energia em nós nos mantendo longe do mal enquanto passamos por um mundo de pecado e morte. Não podemos ser inocentes agora que o pecado entrou, mas somos santos em Cristo.
Se um homem morrer subitamente – Contaminação
“E se alguém vier a morrer junto a ele por acaso, subitamente” (v. 9) – um pensamento descuidado, e a comunhão se perde imediatamente.
A morte entrou em tudo na natureza como o sinal do ódio de Deus pelo pecado. O espírito de devoção real a Deus sempre foi perfeito em Cristo, mas está falhando em nós. Onde quer que o velho homem aja, existe o princípio da morte. Portanto, nós entramos na morte pelo tempo em que o velho homem está agindo. Portanto, a palavra para nós é: “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências”, e novamente: “Vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem”. Tudo isso é solene. Não apenas temos paz, mas, enquanto passamos por essa cena de pecado, precisamos ser santos e devotos a Deus pela energia do Espírito Santo em nós.
O cabelo comprido – Força
“Todos os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha” (v. 5). Se eu me afastar da devoção a Deus, é verdade que o cabelo pode crescer de novo, mas a cabeça deve ser raspada, e o tempo perdido. Não é uma questão de pecado aqui, mas de perda quanto à energia da vida. Uma árvore que foi muito mutilada e quebrada crescerá novamente; não foi morta, mas apenas ferida, mas sua estatura não será a mesma que uma árvore que não foi ferida. Isto é deixar Satanás estragar e atrapalhar a obra do Espírito. Sansão deixou seu coração entrar na fraqueza da natureza, e quando deixamos entrar a natureza, nossa força desaparece. Sansão, como nazireu, era um tipo da energia do Espírito de Deus; ele deixou escapar o segredo de sua força, e isso o deixou e ele ficou fraco como os outros homens. É verdade que, no devido tempo, sua força retornou e, com grande energia, arrancou as fundações do templo. Se não formos cuidadosos e vigilantes para guardar o segredo de nossa força em comunhão com Deus, e o mundanismo e o pecado entrarem, podemos não estar conscientes de nós mesmos, mas a verdade aparecerá quando nos levantarmos para escaparmos – pode ser em serviço – e nos achamos fracos como os outros homens. E quando, em nossa fraqueza, como Sansão, o diabo arrancará nossos olhos.
O verdadeiro Nazireu
O Senhor era o verdadeiro Nazireu, e nunca abandonou, em toda Sua jornada, do Seu nazireado. Não foi algo fácil para Ele trilhar o caminho do sofrimento, mas Ele orou. No jardim, “posto em agonia, orava mais intensamente” antes que a tentação viesse, e então vemos que Ele não parou, pois Ele não podia. Portanto, devemos primeiro passar pela provação com Deus, e então Deus estará conosco na provação. Pedro dormiu e não orou, e quando a provação chegou, ele a enfrentou na carne e desembainhou sua espada. Jesus orou para que o cálice pudesse passar d'Ele, mas quando os chefes dos sacerdotes e soldados vieram, embora Satanás estivesse por trás de tudo, Ele viu a mão de Deus e pôde dizer: “O cálice que Meu Pai Me deu”. Então não foi uma tentação de forma alguma, mas um ato de obediência.
Os versículos 13 a 21 mostram as ofertas a serem oferecidas. Tudo o que estava em Cristo é apresentado a Deus, e então realmente chegamos ao poder desses sacrifícios a Deus, mas até que a Igreja esteja reunida, o Senhor mantém Seu caráter de Nazireu.
J. N. Darby, Notas de uma leitura da Bíblia
O Nazireado – Números 6
A condição do primeiro Adão
Quando a morte para o pecado não é vista, não pode haver separação real do mundo, especialmente daquilo que se chama mundo religioso. Por isso, muitas vezes podemos nos surpreender ao ver homens piedosos se misturando com o mundo e ajudando em seus planos e melhorias. Mas todo o sistema de ocupação com o “eu”, de procurar melhorar a condição de homem do primeiro Adão, de procurar alcançar a completa santificação na carne, é julgado pela simples verdade de que o Cristão morreu para o pecado na morte de Cristo e que no seu batismo ele confessa isso e está determinado a andar como um que já está e sempre estará morto para o pecado (A. Miller).
Ao examinarmos a Escritura, encontramos muitas passagens estabelecendo o intenso espírito de separação que deve sempre caracterizar o povo de Deus. Quer direcionemos nossa atenção para o Velho Testamento, no qual temos o relacionamento de Deus e o relacionamento com Seu povo terrenal, Israel ou com o Novo Testamento, no qual temos Seu relacionamento e tratamento com Seu povo celestial, a Igreja, encontramos a mesma verdade proeminentemente estabelecida, a saber, toda a separação daqueles que pertencem a Deus. A posição de Israel é assim declarada na parábola de Balaão: “eis que este povo habitará só e entre as nações não será contado”. Seu lugar estava fora do alcance de todas as nações da Terra, e eles eram responsáveis por manter essa separação. O mesmo é verdadeiro, somente em um terreno muito mais elevado, em referência ao povo celestial de Deus, a Igreja – o corpo de Cristo – composto de todos os verdadeiros crentes. Eles também são um povo separado.
Fariseus ou santos
Vamos agora prosseguir para examinar o fundamento dessa separação. Há uma grande diferença entre estar separado com base no que nós somos e do que Deus é. O primeiro faz do homem um fariseu; o último faz dele um santo. Se eu disser a um pobre pecador: “Aparte-se de mim; eu sou mais santo do que tu”, serei um detestável fariseu e um hipócrita; mas se Deus, em Sua infinita condescendência e perfeita graça, me disser: “Eu te coloquei em relacionamento Comigo mesmo na Pessoa de Meu Filho Jesus Cristo; portanto seja santo e separado de todo mal; Saia do meio deles e seja separado”, estou obrigado a obedecer, e minha obediência é a manifestação prática do meu caráter como um santo – um caráter que eu tenho, não por causa de qualquer coisa em mim, mas simplesmente porque Deus me trouxe para perto de Si mesmo por meio do precioso sangue de Cristo.
É bom ser claro sobre isso. O farisaísmo e a santificação divina são duas coisas muito diferentes e, no entanto, são muitas vezes confundidas. Aqueles que lutam pela manutenção do lugar de separação que pertence ao povo de Deus são constantemente acusados de se colocarem a si mesmos acima de seus semelhantes e de reivindicar um grau mais elevado de santidade pessoal do que normalmente possuem. Esta acusação surge de não atentar à distinção que acabamos de mencionar. Quando Deus chama os homens para serem separados, é na base do que Ele fez por eles na cruz, e onde Ele os colocou, em eterna associação Consigo mesmo, na Pessoa de Cristo. Mas, se me separo com base no que sou em mim mesmo, é a suposição mais insensata e sem graça que, mais cedo ou mais tarde, se manifestará. Deus ordena ao Seu povo que seja santo com base no que Ele é: “Sede santos, porque Eu Sou santo”. Isso é evidentemente uma coisa muito diferente de “Aparte-se de mim, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu”. Se Deus traz pessoas para se associarem Consigo mesmo, Ele tem o direito de prescrever qual deveria ser o caráter moral delas, e elas são responsáveis por corresponder a isso.
Humildade ou orgulho
Assim, vemos que a mais profunda humildade está no âmago da separação de um santo. Não há nada tão calculado para colocar alguém no pó quanto o entendimento da real natureza da santidade divina. É uma humildade absolutamente falsa aquela que surge quando olhamos para nós mesmos – sim, é na realidade baseada no orgulho, que nunca percebeu a profundidade de sua absoluta inutilidade. Alguns imaginam que podem alcançar a mais verdadeira e profunda humildade ao olharem para si mesmos, enquanto isso só pode ser alcançado olhando para Cristo. “Quanto mais as Tuas glórias atingirem os meus olhos, mais humilde serei”. Este é um verdadeiro sentimento fundado no princípio divino. A alma que se perde no brilho da glória moral de Cristo é verdadeiramente humilde, e nenhuma outra é.
Sem dúvida, temos o direito de sermos humildes, quando pensamos quão pobres criaturas somos, mas basta apenas um momento de reflexão para ver a falácia de procurar produzir qualquer resultado prático olhando para si mesmo. É somente quando nos encontramos na presença da excelência infinita que somos realmente humildes.
Um filho de Deus deve se recusar a ser ligado a um incrédulo, seja para um objetivo doméstico, comercial ou religioso, simplesmente porque Deus lhe diz para ser separado, e não por causa de sua própria santidade pessoal. A aplicação deste princípio em questões de religião envolverá necessariamente muita provação e tristeza; será chamada de intolerância, fanatismo, estreiteza de mente, exclusivismo e coisas do tipo, mas não podemos evitar tudo isso. Contanto que nos mantenhamos separados com base num princípio correto e com um espírito correto, poderemos seguramente deixar todos os resultados com Deus.
Verdade e graça
Em Neemias, lemos: “E a geração de Israel se apartou de todos os estranhos, e puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais” (cap. 9:2). Isso não era farisaísmo, mas obediência positiva. Sua separação era essencial para sua existência como povo. Eles não poderiam ter desfrutado da presença divina em qualquer outro fundamento. Assim deve sempre ser com o povo de Deus na Terra. Eles devem ser separados, ou então eles não são apenas inúteis, mas perniciosos. Deus não pode reconhecê-los ou acompanhá-los se eles se unirem a incrédulos, sob qualquer base ou qualquer objetivo que seja. A grande dificuldade é combinar um espírito de intensa separação com um espírito de graça, benignidade e paciência, ou como alguém disse, “manter um círculo estreito com um coração largo”. Isso é realmente uma dificuldade. Assim como a manutenção estrita e intransigente da verdade tende a estreitar o círculo ao nosso redor, precisaremos do poder expansivo da graça para manter o coração amplo e as afeições aquecidas. Se batalharmos pela verdade de outra forma que não seja em graça, somente daremos um testemunho unilateral e nada atraente. E, por outro lado, se tentarmos expor a graça à custa da verdade, ela se mostrará, no final, apenas a manifestação de uma liberalidade popular à custa de Deus – algo muito inútil.
Os meios e o fim
Então, quanto ao objetivo para o qual os verdadeiros Cristãos geralmente se unem com aqueles que, mesmo em sua própria confissão e no julgamento da própria caridade, não são Cristãos de forma alguma, será descoberto afinal que nenhum objetivo realmente divino e celestial pode ser obtido por uma violação da verdade de Deus. “O fim justifica os meios” nunca pode ser um lema divino. Os meios não são santificados pelo fim, mas ambos os meios e fins devem estar de acordo com os princípios da santa Palavra de Deus, ou então tudo levará a confusão e desonra. Poderia ter parecido a Josafá um objetivo muito valioso recuperar Ramote-Gileade da mão do inimigo e, além disso, ele poderia ter parecido ser um homem muito liberal, gracioso, popular e de coração largo, quando, em resposta à proposta de Acabe, ele disse: “Serei como tu és, o meu povo, como o teu povo, os meus cavalos, como os teus cavalos”. É fácil ser liberal e ter um coração largo à custa do princípio divino, mas como isso acabou? Acabe foi morto, e Josafá escapou por pouco de morrer, tendo feito total naufrágio de seu testemunho.
Assim, vemos que Josafá nem mesmo obteve o objetivo para o qual ele se uniu a um jugo desigual com um incrédulo, e mesmo se ele o tivesse ganho, não teria sido justificativa de seu curso. Nada pode justificar que um crente esteja se unindo a um incrédulo e, portanto, por mais bela, atraente e plausível que a expedição à Ramote-Gileade possa ter parecido aos olhos do homem, foi, no julgamento de Deus, “ajudar ao ímpio e amar aqueles que ao SENHOR aborrecem” (2 Cr 19:2).
A verdade de Deus despe os homens e as coisas das falsas cores com as quais o espírito de conveniência os enfeitaria e os apresenta em sua verdadeira luz, e é uma misericórdia indescritível ter o julgamento claro de Deus sobre tudo o que está acontecendo ao nosso redor. Isso transmite calma ao espírito e estabilidade ao curso e ao caráter, e salva alguém dessa infeliz flutuação de pensamento, sentimento e princípio que tão inteiramente o incapacita para o lugar de um testemunho constante e consistente por Cristo. Certamente erraremos, se tentarmos formar nosso julgamento pelos pensamentos e opiniões dos homens, pois eles sempre julgarão de acordo com as aparências exteriores, e não de acordo com o caráter intrínseco e princípio das coisas. Desde que os homens consigam o que consideram um objetivo correto, eles podem não se importar com o modo de obtê-lo. Mas o verdadeiro servo de Cristo sabe que ele deve fazer a obra de seu Mestre sob os princípios de seu Mestre e no espírito de seu Mestre. Não satisfará a tal pessoa alcançar o fim mais louvável, a menos que possa alcançá-lo por um caminho divinamente designado. Os meios e o fim devem ser divinos. Admito, por exemplo, ser o fim mais desejável propagar as Escrituras – a própria Palavra pura e eterna de Deus - mas se eu não puder propagá-las a não ser me juntando com um incrédulo, devo abster-me de propagá-la, uma vez que eu não devo fazer o mal para que possa vir o bem.
Eu pressionaria meu amigo crente para que ele exercesse julgamento em relação àqueles com quem ele se unisse em todos os assuntos, incluindo questões religiosas. Se ele está neste momento trabalhando em jugo ou em arreios com um incrédulo, ele está positivamente violando o mandamento do Espírito Santo. Ele pode estar ignorantemente fazendo isso até o presente, e se assim for, a graça do Senhor está pronta para perdoar e restaurar, mas se ele persistir na desobediência depois de ter sido advertido, ele não pode esperar a bênção e presença de Deus com ele, não importa quão valioso ou importante o objetivo que ele pode procurar atingir. “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15:22).
C. H. Mackintosh, selecionado de The Christian Friend, 3:57-64
“Saí do Meio Deles”
2 Coríntios 6:14-18
Outros artigos nesta edição mostraram claramente que a separação do mal neste mundo é uma coisa extremamente necessária para o crente. Isso era verdade desde o início da história do homem, onde a família de Sete era separada da família de Caim em seus caminhos e associações, e continua até incluir o chamado de Abraão e, finalmente, a separação de Israel de outras nações. É um princípio que é ainda mais necessário hoje. Desde a cruz, este mundo tem estado sob julgamento, e Deus chamou a Igreja para fora dele, para esperar por Seu Filho do céu. Os crentes hoje são uma peculiar companhia celestial, chamada a ser separada deste mundo. O Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo” (Jo 15:19). Novamente, Ele disse, em Sua oração ao Pai em João 17: “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17:14-15).
Dentro da grande casa
No entanto, outra separação tornou-se necessária na história da Igreja, a saber, a separação do mal dentro da grande casa da Cristandade. Em 1 Timóteo 3:15 é chamada de “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade”. No entanto, na época em que 2 Timóteo foi escrito, a decadência havia chegado, e Paulo teve que dizer: “os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). Como resultado, a casa de Deus é denominada a “grande casa” com diferentes vasos nela, “uns para honra, outros, porém, para desonra” (2 Tm 2:20). A casa não pode mais ser igualada à Igreja do Deus vivo, pois a casa agora contém muitos que são meros professos e não são verdadeiramente parte da Igreja. Aqueles que professam ser a Igreja também falharam e não são mais a coluna e a firmeza (base) da verdade. Assim, aquele que deseja ser fiel ao Senhor é chamado a “se purificar destas coisas” (os vasos para desonra), a fim de que ele seja um “vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21).
Em ambos os casos, é a separação do mal, seja no mundo ou na casa de Deus, pois o crente não é chamado a sair do mundo ou a deixar a casa de Deus. Em vez disso, ele ainda está no mundo (Jo 17:11) e também não pode deixar a casa de Deus; para fazer isso, ele teria que se tornar um apóstata e abraçar uma religião falsa. Em vista disso, às vezes surge a questão de até onde esta separação se estende, e como o crente pode viver tanto no mundo quanto na grande casa da Cristandade, mas permanecer separado do mal que há em ambos.
Os extremos no mundo
Ao falar da relação do crente com o mundo, o Senhor Jesus disse claramente que “eles estão no mundo” (Jo 17:11), mas também que “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo” (Jo 17:14). Isso envolve uma caminhada que pode ser realizada somente em comunhão com o Senhor, pois Ele a exemplificou perfeitamente. A tendência, desde o início, foi ir a extremos em qualquer direção. Pouco depois de os apóstolos terem ido estar com o Senhor, alguns começaram a trazer a Igreja abaixo, em sua caminhada e associações, até o nível do mundo. O imperador Constantino adotou o Cristianismo e o tornou a religião do Império Romano, e como resultado, os crentes logo ocuparam lugares de destaque e autoridade no governo. Eles se misturaram na política e nas ambições do mundo e, é claro, logo se envolveram em seu mal também. Para todos os efeitos práticos, eles não estavam apenas no mundo, mas também eram do mundo. Outros, alarmados com a falta de piedade e separação do mal, começaram a encontrar ordens monásticas, se isolando do mundo atrás das muralhas; outros se tornaram eremitas, vivendo em pequenas cabanas ou cavernas, longe da civilização. Outros ainda viviam em plataformas nos polos, de modo a permanecerem separados do mundo e do seu mal. Embora parte disso fosse, sem dúvida, bem intencionado, isso resultou em homens não apenas não sendo do mundo, mas também, para fins práticos, não estando no mundo. A carne assumiu o controle e o legalismo resultante apenas atendeu ao orgulho do homem e não a Cristo. Em vez de ser um testemunho do poder salvador de Cristo e de Sua obra consumada na cruz, eles eram antes um testemunho das obras do homem e, assim, o verdadeiro evangelho foi corrompido.
Os extremos na Cristandade
Na grande casa da Cristandade, algo similar ocorreu na adoção de extremos. Alguns, buscando purificar-se dos vasos de desonra, levaram isso tão a sério que virtualmente se isolaram do resto do corpo de Cristo. Ao fazê-lo, eles se tornaram legalistas, intolerantes, duros e sectários, pois tinham pouco ou nada a ver com outros crentes que não estavam associados a eles. Outros, desejando seguir “a justiça, a fé, a caridade (amor) e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”, quase ignoraram qualquer mal relacionado com aqueles na grande casa, se desculpando dizendo que tal mal só importa ser tratado entre o indivíduo e o Senhor, mas não a responsabilidade dos outros para julgar.
É desnecessário dizer que tais extremos são errados, seja em nossa associação com o mundo ou com outros crentes. Como então esses extremos devem ser evitados? Nós somos trazidos de volta à conclusão de que o Cristianismo prático muitas vezes envolve um equilíbrio adequado na verdade, e que os princípios que nos foram dados no Novo Testamento podem ser aplicados somente em comunhão com o Senhor e com a direção do Espírito Santo. Ao contrário do Velho Testamento, o Novo Testamento não nos dá pequenas repartições para se encaixar todas as situações. Em vez disso, devemos tomar decisões em cada caso na presença do Senhor e buscar Sua mente. Nossa separação deve ser para Ele.
Ir a extremos é natural para o nosso coração humano e pode ser feito até mesmo pelo crente na energia da carne, sem qualquer dependência do Senhor ou buscando Sua mente na situação. Eu posso empreender total isolamento do mundo, ou viver uma vida descuidada e mundana, sem qualquer real comunhão com o Senhor. Da mesma forma, eu posso, na grande casa, exercer isolamento total de outros crentes, por um lado, ou abraçar todos os crentes, por outro lado, sem qualquer consideração por sua caminhada ou associações. Ambos podem ser feitos na energia da carne.
O equilíbrio correto
No entanto, para equilibrar esses princípios, estar no mundo mas não ser dele, ou separar-se do mal na grande casa, ainda assim buscar aqueles que invocam o Senhor com um coração puro, requer constante comunhão com o Senhor e dependência d'Ele. Eu não posso dar um passo nem tomar uma decisão correta sem me voltar para Ele. Se eu estiver andando com o Senhor, vou achar isso relativamente fácil, pois “O segredo do SENHOR é para os que O temem” (Sl 25:14). Por outro lado, se eu estiver a uma distância d'Ele, procurando conhecer Sua mente, meu estado de alma será revelado em Sua presença. Eu posso ter que julgar algo antes que o Espírito possa novamente ser livre para me mostrar a mente do Senhor. É triste dizer que nosso coração natural, em vez de julgar a nós mesmos, muitas vezes prefere substituir algum arranjo feito pelo homem pela mente do Senhor e, portanto, ir a extremos. Isso pode tornar a vida mais fácil, por assim dizer, na superfície, mas resulta na perda de nossa comunhão com o Senhor e o privilégio de vivermos para Sua glória aqui embaixo.
Lembremo-nos de que Ele valoriza nossa comunhão acima de tudo e deseja nossa companhia, nossa dependência e nossa constante caminhada com Ele. Então descobriremos que somos capazes de equilibrar os princípios de Sua Palavra e andar de um modo que Lhe agrade.
W. J. Prost
Separação Versus Isolamento
“Separação” e “Reunião” devem andar juntas. A separação sem reunião somente incha e faz com que tenhamos um espirito de fariseu e a uma maior dispersão. Quando o Senhor separa o Seu povo do mal, Ele os reúne em torno d'Ele mesmo. Cristo é o grande centro de reunião de Deus. Nós podemos reunir Cristãos, mas se eles não estão reunidos a Cristo e com Cristo, isso somente será mais uma dispersão. Podemos reunir pessoas em torno de alguma grande verdade, ou aprofundar a espiritualidade, ou aumentar a santidade e, assim, fazer um partido de santidade, ou reunir Cristãos para expressar a verdade do um só corpo e manter uma disciplina escriturística e, assim, fazer um partido eclesiástico. Podemos reunir os crentes para pregar o evangelho e, assim, fazer um partido evangélico. Mas, por melhores que sejam nossas intenções, se não conseguirmos reunir para Cristo como o centro vivo, estamos apenas contribuindo para a dispersão. Foi bem dito por alguém: “Não são os Cristãos, mas Cristo, que Se tornou o centro de Deus. Podemos juntar Cristãos, mas se não é Cristo no próprio espírito de cada um, é apenas uma dispersão. Deus não conhece nenhum centro de união, além do Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo é o próprio Objeto, e nada além de Cristo pode ser o centro. O que não está se reunindo em torno desse centro, para Ele e vindo d'Ele, está espalhando. Pode haver reunião, mas, se não é ‘Comigo’, é dispersão. Somos por natureza tão essencialmente sectários que precisamos vigiar contra isso. Eu não posso fazer de Cristo o centro dos meus esforços, se Ele não é o centro dos meus pensamentos” (JND).
H. Smith
Ele Morreu por Mim
Quando primeiro o meu precioso Salvador, em Seu amor,
Levantou esses olhos presos à Terra para Ele acima,
Vi aquelas feridas e pensei que para provar Seu amor
Ele morreu por mim!
Mas será que, quando eu desprezei Seu amor,
Que Ele, para ganhar o meu amor, ansiou incessantemente?
É verdade! E agora a minha alma aprendeu esta verdade,
Ele morreu por mim!
A minha alma emocionou-se, a minha língua encheu-se ao saber
Que o meu coração outrora teimoso, agora branco como a neve,
Com o arrebatamento cheio, pode cantar enquanto aqui em baixo,
Ele morreu por mim!
Os anos passam, e vem o meu coração reivindicar
Os prazeres variados da Terra. Devo participar
E entristecer o meu Senhor, ou afastar-me do lado d’Aquele,
Que morreu por mim?
Tenho de decidir. Qual será a minha resposta?
O mundo atrai e seduz inofensivamente;
O Salvador inclina-Se e sussurra amorosamente,
Eu morri por ti!
A escolha é feita. O meu coração não deve dividir-se,
Parte para o mundo, e parte para Ele que morreu.
Doravante que eu possa ser encontrado junto, ao lado d’Aquele
Que morreu por mim!
O Seu coração de amor, eu sei, nunca falhará;
Embora os amigos possam ir e vir, embora temores prevaleçam,
Estas quatro doces palavras podem dar abençoada paz,
Ele morreu por mim!
Eu prossigo rapidamente, lançando sobre Ele cada cuidado.
Seu amor se deleita em compartilhar de minhas alegrias e dores,
E logo em casa, estas notas encherão o ar,
Ele morreu por mim!
A. C. Hayhoe
“Eles não são do mundo, como também Eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”
João 17:14-15
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