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Conhecimento (Março de 2019)

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ÍNDICE

W. Kelly

W. J. Prost

C. H. Mackintosh

W. J. Prost

E. H. Charter

J. A. Trench

Faithful Words for Young and Old

F. G. Patterson

G. V. Wigram

Girdle of Truth

A. J. Flint (Poema)

Hino 110


 

Conhecimento

Deus, de forma alguma, escreveu a Palavra para livrar pessoas de problemas, nem foi escrita, como alguns pregam, em textos pelos quais as Escrituras são desconectadas e sua força de conexão destruída. Deus escreveu toda a Sua Palavra para ser valorizada, como se fosse uma questão de se esperar no Senhor, para que pudéssemos entrar e desfrutar plenamente dela, embora ela não possa ser compreendida de uma só vez. Quão sábio isso é! Agradeçamos a Deus porque Sua Palavra está escrita de tal forma que nunca houve uma alma desde o começo do mundo que pudesse se apropriar dela e sondá-la por completo, nem mesmo os próprios apóstolos e profetas. Agradeçamos a Deus que a Sua Palavra nos chama a tomar o lugar de um aprendiz. Quanto mais Deus nos dá a conhecer, mais Ele nos faz sentir o quanto ainda há para aprender, e assim somos mantidos, como Ele deseja que estejamos, em atitude de espera. Sem dúvida, isso não combina com o mundo. É muito melhor falar como se tudo já fosse entendido, ao passo que, pelo contrário, se vê quão pouco é realmente conhecido da Escritura quando reduzida a uma ciência.

W. Kelly

 

O Verdadeiro Conhecimento

Há um antigo conjunto de provérbios, provavelmente de origem árabe ou chinesa, que diz:


“Quem não sabe, e não sabe que não sabe, é insensato. Evite-o.

Quem não sabe, e sabe que não sabe, é estudante. Ensine-o.

Quem sabe, e não sabe que sabe, está dormindo. Desperte-o.

Quem sabe, e sabe que sabe, é sábio. Siga-o”.


Enquanto no sentido natural existe, como dizemos, um fundo de verdade em tudo isso, é importante perceber que essas máximas não podem ser completamente aplicadas à sabedoria divina, como retratada na Palavra de Deus. Para se ter certeza, é importante ter um nível de confiança quando nos comprometemos a fazer algo. Ao fazer uma cirurgia, o cirurgião deve ter um grau de confiança em sua capacidade de realizar bem a operação. Ao construir uma casa, o empreiteiro deve ter alguma convicção de que possui o “know-how” necessário para concluir o trabalho adequadamente. Por outro lado, todos nós vimos aqueles que, com uma autoconfiança nascida da ignorância, abordam uma tarefa com uma confiança que não percebe as limitações de sua capacidade. Da mesma forma, temos visto aqueles que, percebendo sua falta de aprendizado, estão dispostos a buscar instrução. Tudo isso nós entendemos bem num reino natural.


O reino espiritual

No entanto, quando chegamos às coisas espirituais, devemos abordar o conhecimento de uma maneira diferente. Ao contrário da aprendizagem natural, o entendimento espiritual vem por meio do coração e da consciência, e não pelo intelecto. Isso não quer dizer que o intelecto não esteja envolvido, mas desde a queda do homem, suas tendências pecaminosas o tornam propenso a se afastar de Deus e não de ir em direção a Ele. Por essa razão, a Palavra de Deus nos diz: “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7). Paulo pôde lembrar aos coríntios que “na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus” (1 Co 1:21), e por essa razão, sua pregação para eles “não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2:4). Até mesmo Jó, centenas de anos antes, pôde levantar a questão: “Poderás descobrir as coisas profundas de Deus?” (Jó 11:7). O homem em sua busca pelo conhecimento nunca pode elevar-se acima de si mesmo e, portanto, não pode compreender as realidades eternas. Ele deve ter uma revelação divina.


O conhecimento de Deus

Quando se trata do conhecimento real - o conhecimento de Deus e das questões eternas - o homem deve estar sujeito a uma revelação vinda de Deus, o mesmo Deus que a mente natural não quer conhecer. Mas Deus em Seu amor alcança ao homem (que não é apenas um pecador, mas um pecador perdido e um pecador rebelde) e o atrai de volta a Si mesmo. Ele primeiro concede uma nova vida ao homem pelo poder de Seu Espírito, usando Sua Palavra, e então lhe dá um novo desejo, um desejo de conhecer mais sobre Deus e de ter um relacionamento com Ele. É aí, então, que o homem começa a encontrar o verdadeiro conhecimento, pois ao invés de olhar para tudo com seus olhos e intelecto naturais, ele começa a ver tudo pelas lentes da Palavra de Deus.


Isso não quer dizer que a nova vida em Cristo fará alguém versado em coisas como matemática ou literatura, mas, ao contrário, mostra-O como Deus acima de tudo e levará o homem a um relacionamento com o Deus que não é apenas um Criador, mas também um Redentor. Assim, à medida que o conhecimento do homem se aprofunda, ele se torna mais humilde, ao invés de se tornar mais exaltado em si mesmo e orgulhoso. Quando um homem sabe muito no reino natural, isso tende a fazê-lo se orgulhar, o que é algo que o homem natural é muito propenso. Ele não percebe que mesmo o que conhece de maneira natural, sabe apenas como um descobridor, nunca como um criador. É triste dizer que até um crente pode se orgulhar do que sabe, e essa foi a condição de alguns na assembleia em Corinto. Foi para eles que Paulo fez a declaração clara: “Se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber” (1 Co 8:2). Da mesma forma, ele pôde dizer aos gálatas: “Se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6:3). Quando o homem é levado à presença de Deus, mesmo quando tem a ver com coisas naturais, o resultado é a humildade. Não só ele sabe muito pouco, mesmo nas coisas deste mundo, mas quão grande é a sua falta de conhecimento das coisas reais quando ele é trazido para a presença de Deus!


“Como escutas”

Relacionado ao conhecimento espiritual do homem, existe uma observação importante feita por nosso Senhor enquanto esteve na terra, uma verdade tão necessária que o versículo é repetido (com pequenas variações) cinco vezes nos Evangelhos. Podemos ler em Lucas 8:18: “Vede, pois, como ouvis, porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado”. Para ter o conhecimento das Escrituras do jeito certo, devo andar nela. Só então eu realmente o terei, e nessa condição, mais será dado a mim. Mas Deus não permitirá que eu tenha a teoria da verdade em minha cabeça sem a prática correspondente dela em minha vida. Perceberei que não somente nada mais me será dado, mas que Deus tirará o que eu já tenho. Ter e não andar no que tem é apenas parecer que tem. O verdadeiro conhecimento a respeito de Deus tem que ser parte do meu ser moral, não simplesmente um conjunto intelectual de fatos.


O verdadeiro conhecimento

O verdadeiro conhecimento é conhecer a Deus, não apenas como um Criador, mas como Aquele que preparou um plano na eternidade passada de enviar Seu filho amado a este mundo, como homem, para morrer por mim. Começa com o conhecimento do Pai revelado no Filho, e assim João pôde dizer: “Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai” (1 Jo 2:14). Mas então ele escreveu diferentemente para os pais, aqueles que amadureceram na fé, para estes ele disse: “Pais, escrevo-vos, porque conhecestes aquele que é desde o princípio” (1 Jo 2:13). Aqui é o próprio Cristo, Aquele que é desde o princípio, que eles conheceram, e não pode ser nada além disso. Foi Ele quem revelou o Pai, e é n’Ele que todos os propósitos e conselhos estão centrados. Progredir no conhecimento d’Ele abrange tudo o mais.


Essa é a razão, nas Escrituras, pela qual tanta ênfase é dada à Pessoa de Cristo, ao invés de ser dado um simples conhecimento intelectual sobre a Palavra de Deus, embora seja isso uma grande benção. Pedro nos disse que: “Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento d'Aquele que nos chamou por Sua glória e virtude” (2 Pe 1:3). Paulo pôde dizer: “para conhecê-Lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme a Sua morte” (Fp 3:10). Ele mesmo é a verdade, e assim nosso Senhor Jesus pôde dizer a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz” (Jo 18:37). Como a encarnação da verdade, Ele “estará conosco para sempre” (2 Jo 2).


Por toda a eternidade, nunca esgotaremos as glórias de Cristo, pois elas são infinitas. É nosso privilégio apreciá-las agora!

W. J. Prost

 

Quatro Pontos do Conhecimento

Em Deuteronômio 8:1-9, temos quatro valiosos pontos de conhecimento relacionados à nossa caminhada pelo deserto. Temos o conhecimento de nós mesmos, o conhecimento de Deus, o conhecimento de nosso relacionamento e o conhecimento de nossa esperança.


O conhecimento do ‘eu’

Quanto ao conhecimento do ‘eu’, lemos: “Te lembrarás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração”. Quem pode penetrar nas profundidades de um coração humano? Os detalhes de uma vida no deserto tendem a trazer para fora uma quantidade vasta do mal que está em nós. No começo de nossa caminhada Cristã, somos propensos a estar tão ocupados com a alegria presente e libertadora que não sabemos muito sobre as características da nossa natureza. À medida que estamos na nossa caminhada no deserto, começamos a conhecer mais do ‘eu’.


O conhecimento de Deus

Mas não devemos supor que, à medida que crescemos em autoconhecimento, nossa alegria deve diminuir. Isso seria fazer com que nossa alegria dependesse da ignorância do ‘eu’, ao passo que realmente depende do conhecimento de Deus. De fato, enquanto o crente avança no conhecimento de si mesmo, sua alegria se torna mais profunda, à medida que é levado mais profundamente a si mesmo para encontrar seu único objetivo em Cristo. Ele aprende com sua própria experiência a realidade profunda da ruína total da sua natureza. Ele também aprende que a graça divina é uma realidade e que a defesa de Cristo é uma realidade. Em uma palavra, ele aprende a profundidade dos recursos graciosos de Deus. “E te humilhou, e te deixou ter fome”, não para que pudéssemos ser levados ao desespero, mas para que Ele pudesse “te sustentar com o maná, que tu não conheceste”.


Um apelo belo e tocante: Eles tiveram quarenta anos de evidências ininterruptas do que estava no coração de Deus para com Seu povo redimido! Como é possível que, com a história das andanças pelo deserto de Israel abertas diante de nós, pudéssemos ter uma única dúvida ou medo? Oh! que nosso coração possa ser mais completamente esvaziado de nós mesmos, pois isso é verdadeira humildade, e estejamos mais cheios de Cristo, pois isso é verdadeira felicidade e verdadeira santidade. “Pois o SENHOR, teu Deus, te abençoou em toda a obra das tuas mãos; ele sabe que andas por este grande deserto; estes quarenta anos o SENHOR, teu Deus, esteve contigo; coisa nenhuma te faltou” (Dt 2:7).


Nosso relacionamento

Tudo o que temos vivido flui de outra coisa, isto é, o relacionamento em que estamos. “Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o SENHOR, teu Deus” (Dt 8:5). Isso vale para todos. A fome e a comida, a sede e a água, o deserto sem trilha e a coluna-guia, a labuta e o descanso, a doença e a cura, todos falam da mesma coisa, a mão de um Pai, o coração de um Pai. É bom lembrar-se disso, “para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12:3). Um pai terreno terá que usar a vara da disciplina, assim como dar o beijo do afeto. Assim é com Deus nosso Pai. Todos os Seus procedimentos fluem desse relacionamento maravilhoso em que Ele Se coloca com respeito a nós. Andar com Ele, apoiar-se n’Ele e imitá-Lo “como filhos queridos” deve assegurar tudo no caminho da felicidade genuína, da verdadeira força e da verdadeira santidade. Quando andamos com Ele, somos felizes. Quando nos apegamos a Ele, somos fortes, e quando O imitamos, somos praticamente santos e graciosos.


Nossa esperança

Finalmente, no meio de todos os exercícios, das provações, dos conflitos e até mesmo das misericórdias e privilégios do deserto, devemos manter os olhos firmemente fixos naquilo que está diante de nós. As alegrias do reino devem encher nosso coração enquanto atravessamos o deserto. Os campos verdes e as colinas cobertas de vinhedos da Canaã celestial, os portões de pérola e as ruas douradas da Nova Jerusalém, devem encher nossa alma. Quando a areia do deserto nos provar, deixe o pensamento sobre Canaã nos alegrar. Vamos nos debruçar sobre a “herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós” (1 Pe 1:4). Que perspectiva brilhante e abençoada! Que possamos permanecer nisso e n’Ele, que será a fonte eterna de todo o brilho e bem-aventurança!

C. H. Mackintosh (adaptado)

 

Autoconhecimento

Nós ouvimos muito sobre autoconhecimento no mundo hoje em dia. A importância de conhecer a nós mesmos é frequentemente ensinada. Muitos livros foram escritos sobre o assunto, e vários testes são divulgados para nos ajudar a alcançar esse objetivo, tais como tipo de personalidade, testes de QI, questionários que determinam nossa aptidão para diferentes carreiras e outros que avaliam nossos pontos fortes e fracos. Em um mundo que abraçou amplamente o humanismo secular, nos é dito que “desenvolver o autoconhecimento é provavelmente a coisa mais importante que podemos fazer pela felicidade”.


Tal pensamento não é novo, pois foi Sócrates quem cunhou a frase: “Conhece-te a ti mesmo”, mas ele foi além e disse: “Conhecer a ti mesmo é o começo da sabedoria”. No entanto, até mesmo o homem natural reconhece as limitações e a futilidade de tudo isso, pois alguém observou: “Quem estuda a si mesmo impede seu próprio desenvolvimento”. Outro escritor fala sobre “o manuscrito nunca completo que é o conhecimento de si mesmo”. Como crentes, podemos nos perguntar como tudo isso se encaixa na Palavra de Deus. É certo nos conhecermos? Se sim, até onde podemos ir no autoconhecimento? É útil em nossa vida Cristã gastar nosso tempo nessas coisas?


O negativo e o positivo

Por um lado, é útil para nós, como crentes, saber algo sobre nós mesmos, tanto negativamente quanto positivamente. Do lado negativo, muitos de nós, especialmente aqueles que cresceram em lares Cristãos, não percebem as profundezas do pecado de que nossa velha carne pecaminosa é capaz. É possível perceber isso pela revelação divina, pois a Palavra de Deus nos diz, por meio do apóstolo Paulo, que: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). Mas a maioria de nós, teria que admitir que Deus nos coloca em experiências que nos fazem perceber o que está em nosso coração. Pedro era autoconfiante de que nunca negaria o Senhor e tinha que passar por uma amarga experiência para aprender sobre sua fraqueza. Quando estamos cientes dos “pecados que nos assediam”, confiamos mais na força do Senhor e não em nós mesmos.


Do lado positivo, é bom saber algo dos dons e capacidades que Deus nos deu, seja em coisas naturais ou espirituais. Alguém que é muito ruim em matemática, por exemplo, não seria sábio em procurar uma carreira como engenheiro. Na Igreja, o dano foi feito quando alguns tiveram uma visão exagerada de seus dons e foram além deles. Em outros casos, tem sido uma grande perda para a Igreja quando aqueles que tinham dons não os exercitaram e nem os desenvolveram, e por isso Paulo teve que dizer a Timóteo: “Não desprezes o dom que há em ti” (1 Tm 4:14). Se tivermos o desejo de servir ao Senhor, Ele nos mostrará o que podemos fazer por Ele e, em geral, estará de acordo com a capacidade que Ele nos deu.


O Cristianismo é objetivo

No entanto, ocupar-se consigo mesmo nunca nos faz felizes, e a Palavra de Deus nunca nos encoraja a isso. A ideia de que conhecer a si mesmo é o caminho para a sabedoria e para a felicidade é a sabedoria humana, que é o oposto da sabedoria de Deus. O Cristianismo é objetivo, não subjetivo. Deus não nos ocupa conosco, a não ser para julgar o pecado e depois para nos ocuparmos com Cristo. Quando nosso coração é levado a Ele, descobriremos que não precisamos ser levados a nós mesmos de forma alguma, exceto para lidar com o que não está de acordo com a mente de Deus. Em última análise, é impossível nos conhecer completamente e, como bem sabemos, podemos e realmente mudamos. Aqueles que buscam a felicidade em um parceiro de casamento, descrevendo a si mesmos e, em seguida, listando seu “perfil” em um site, às vezes descobrem que o indivíduo com quem acabam tendo um relacionamento tem qualidades e traços de caráter que não eram evidentes a princípio. Além disso, muitas pessoas descrevem a si mesmas como gostariam de ser, não como realmente são. Verdadeiramente o coração humano é: “Enganoso mais do que todas as coisas” (Jr 17:9). É triste dizer que muitas vezes podemos enganar até a nós mesmos a respeito de quem somos. Verdadeiramente, o conhecimento de si não traz sabedoria, mas “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10), e para o crente, Cristo é a sabedoria de Deus para o caminho do Cristão. Jeremias nos lembra “que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha, o dirigir os seus passos” (Jr 10:23).


O conhecimento de si mesmo

Quando somos trazidos a Deus, temos que tratar não apenas com Aquele que nos conhece, mas com Aquele que nos leva ao conhecimento de Si mesmo. Como alguém uma vez disse: “Eu posso conhecer o coração de Deus muito mais do que o meu”. Podemos perguntar como isso pode ser quando lemos: “Quão insondáveis são os seus juízos [de Deus], e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11:33). É porque Deus é totalmente Bom e sempre age de acordo com a Sua natureza santa, para que assim possamos conhecer o Seu coração e o Seu caráter. Ele enviou Seu Filho a este mundo para revelar-Se a nós, para que o Senhor Jesus pudesse dizer: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:9). Seu coração de amor foi totalmente revelado. Não há mudança, nem engano, nem fraude ali. No meu próprio coração existe.


Um objeto fora de nós mesmos

Assim, agora temos um objeto fora de nós mesmos, um objeto no Filho amado de Deus e que se deleita em preencher nosso coração. Se houver necessidade de saber algo de nós mesmos, seja de maneira negativa ou positiva, Ele nos mostrará. Nosso objetivo principal é ser levado a Ele e a tudo o que Ele é. Mas alguns podem dizer: “Não é bom saber o máximo possível sobre os outros, aqueles a quem eu gostaria de considerar como meus amigos e especialmente alguém com quem eu gostaria de me casar?” No entanto, quantos casamentos falham, apesar de todas as tentativas feitas para conhecer mais sobre o cônjuge em potencial antes que seja confirmado o laço!


É muito melhor buscar a mente do Senhor, pois Ele nos conhece completamente, muito melhor do que conhecermos a nós mesmos. Ele não apenas nos criou, mas também conhece nosso caráter, forças e fraquezas naturais e os pecados que nos assediam. Ele prometeu nos direcionar e guiar. O quanto isso é superior a combinar tipos de personalidade com possíveis ofertas de emprego e parceiros para toda a vida!

W. J. Prost

 

O Conhecimento de Cristo

Uma coisa é para um homem moribundo o ser salvo por outra pessoa, mas é algo mais além, para aquele que foi salvo, conhecer quem o salvou. Assim, também, uma coisa é para um pecador que perece ser salvo por Cristo, e outra coisa é conhecer a Cristo depois de salvo.


Antes de ser salvo, Paulo, como Saulo de Tarso, se diferenciava de entre seus companheiros por seu ódio persistente ao nome de Jesus e sua perseguição aos que O seguiam. Ele se referiu a esse período de sua vida várias vezes em seu ministério, em Atos 26:9-11, quando se defendeu na presença de Pórcio Festo e do rei Agripa, em Gálatas 1:13-14, quando esteve prestes a mostrar que um crente não vive segundo a lei, em 1 Timóteo 1:13, quando falou de sua vida anterior para seu “filho na fé” e também em Atos 22:19-20, onde ele repetiu o que já havia confessado ao Senhor. Ele era um homem de boa posição e cuidadoso em sua observância da lei de Deus, mas, em vez dessas coisas produzirem verdadeira sujeição e amor a Deus, ele havia se tornado o mais valente defensor de Satanás ao tentar derrubar a verdade.


Mas no decorrer do tempo, na estrada para Damasco, ele viu uma luz ‘mais brilhante que o brilho do sol’ brilhando de repente sobre ele, e que o fez cair. E embora um juízo fosse altamente merecido, foi como seu Salvador, que o Senhor o deteve naquele dia, e desde então Saulo de Tarso (cujo nome foi mudado para Paulo), perdoado e salvo, conduz a divulgação do evangelho da graça de Deus.


O que foi ganho e perdido

E agora em Filipenses 3:4-7, podemos aprender, escrito com sua própria pena, o maravilhoso efeito produzido em sua alma por essa poderosa mudança: “Ainda que também podia confiar na carne, [...] ainda mais eu [...] Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. Quão grandioso é o poder da graça divina! Ele era um homem tão rigoroso em sua observância à lei de Deus que andava sem culpa no meio de seus companheiros. Observe bem estas palavras: “perda por Cristo”. Muitos o criticam, como se lesse “desistiu por Cristo”, mas não era assim que Paulo relatava. Ele se considerava como um ganhador, não um perdedor. Ele teria sido um perdedor se tivesse continuado com aquelas coisas quando já tinha Cristo.


E agora, como é a nossa situação? É Cristo o meu Salvador? Se sim, como estamos olhando para as coisas que são um ganho para nós na carne? Nós nos ressentimos ao desistir delas e a retemos com uma má consciência? Certamente, se conhecemos um Salvador em glória e O valorizamos da maneira correta, não deveria ser assim. Não houve esforço da parte de Paulo. Cego por causa de sua conversão durante três dias, seus olhos foram novamente abertos para serem fixados em um novo objeto, um Salvador em glória que o salvou. Oh, que nós, como ele, possamos dizer à vista de Deus: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”.


A excelência do conhecimento

Porém, existe algo além. No verso seguinte (v. 8) lemos: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo”. O que temos falado relata o efeito produzido sobre Paulo na sua conversão, mas ele estava aqui escrevendo aos santos em Filipos aproximadamente 30 anos depois. No versículo 7, ele falou de ter contado como perda todas as coisas por Cristo, o que era um ganho para ele. Isso aconteceu quando ele conheceu a Cristo como seu Salvador, mas então acrescentou: “Sim, sem dúvida, as conto todas como perda”. Por cerca de 30 anos, ele seguiu seu caminho rumo ao objetivo que tinha diante dele. Ele estava cansado e cheio de arrependimento por conta de seu autossacrifício? Não, ele estava ocupado com Cristo, e superior àquelas coisas que seu coração naturalmente teria procurado e voltado a elas.


O conhecimento de Cristo

Assim, ele considerou todas as coisas como perda, mas por quê? Por causa de Cristo como Salvador? Sim, mas mais que isso. Cristo ainda era seu Salvador, mas ele não estava satisfeito com isso, então ele diz: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus”. Seu coração foi arrebatado pela Pessoa que o salvou, e essa é a verdadeira devoção. Os homens ao seu redor podem se gabar do conhecimento das coisas naturais. As artes e as ciências, a literatura, a astronomia ou a geologia (coisas certas em seu devido lugar) podem atrair a muitos, mas Paulo tinha um objetivo diante dele que era infinitamente superior a todas elas. Ele estava arrebatado pela Pessoa do Cristo. Ele aprenderia sobre Ele, tornando-se mais intimamente familiarizado com Ele, desfrutando de ainda mais profunda e doce comunhão com o Filho do amor de Deus.


Cristo Jesus meu Senhor

Quantos milhares conhecem a Cristo como Salvador, mas que param aí, aparentemente satisfeitos com Sua obra consumada, talvez regozijando-se e falando sobre a salvação para os outros, e, no entanto, não têm prazer em sua alma para progredir no conhecimento daqu’Ele que os salvou! Eles são gratos por conhecê-Lo como Salvador, mas provavelmente não devem dizer: “Cristo Jesus, meu Senhor”. Sua vontade é mais ou menos ativa e o mundo é mais ou menos atraente. Possuir o senhorio de Cristo significa ter uma vontade quebrantada, doravante sujeitar-se a Ele, e ao mundo como algo sem valor sob nossos pés. Estamos preparados para isso?


Para que eu possa ganhar a Cristo

E observe também agora, ao encerrar, o que o apóstolo acrescenta: “pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:8). Cristo não era mera doutrina para ele, mas uma Pessoa viva em glória, que absorvia sua alma e mais do que satisfazia seu coração. Por causa do conhecimento d’Ele, tinha sofrido a perda de tudo o que a carne valoriza, e ele foi habilitado, após 30 anos de experiência no caminho da fé sem essas coisas, a considerá-las como algo imundo, para que ele pudesse ganhar a Cristo. Nisso ele é um exemplo para todos os crentes em Jesus. Tal conhecimento de Cristo, em vez de levar ao descuido e libertinagem, nos preserva do mal. E quanto mais sabemos d’Ele, mais sério será o desejo de que todo o nosso modo de vida seja conformado em todos os detalhes a Ele. E, na verdade, também poderemos dizer como o apóstolo: “Para mim, viver é Cristo”.

E. H. Chater (adaptado)

 

O Conhecimento do Pai

“Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai” (1 Jo 2:13 – ARC).

O que é esse conhecimento do Pai que faz com que os filhos mais novos que estão em Cristo recebam esse título (de filhos) intransferível? E se o mais novo filho em Cristo tem tal direito, eu e você também podemos desfrutar desse privilégio inestimável? É claramente algo mais do que saber que somos filhos de Deus, embora nosso coração possa muito bem ser tocado ao contemplarmos o modo do amor que nos foi concedido, a fim de podermos ocupar o lugar das crianças diante do Pai, como nascidos d’Ele e possuindo o Espírito de Seu Filho (1 Jo 3:1).


Relacionamento e conhecimento

O relacionamento é uma coisa, já o conhecimento do Pai, cujo filho eu sou, é outra. Se considerarmos um relacionamento natural, a diferença é óbvia. O relacionamento permanece o mesmo, seja qual for o caráter do pai, mas quanta diferença faz para os filhos! O pai pode ser amoroso e compreensivo ou muito distante e frio e a diferença para a criança é incalculável. É suficiente, então, que saibamos que somos filhos de Deus? Não devemos desejar também nos tornar familiarizados com os pensamentos e sentimentos do Seu coração, o amor de Sua natureza e Seu caráter (se posso, assim, usar esta palavra com a maior reverência), quando Ele torna esse conhecimento de Si mesmo o privilégio de Seus pequeninos? Mas podemos perguntar: “Como eu devo conhecê-Lo”? Só pode ser como Ele se revela. Vejamos o modo como a Escritura apresenta essa abençoada revelação para nós.


Revelado aos pequeninos

Mateus 11 nos dá a primeira sugestão de tal revelação no ministério do Senhor Jesus. Foi uma época de profunda provação para Ele. A incredulidade de um coração duro encontrou-O nas cidades onde a maioria de Suas poderosas obras foram realizadas, obras que atestaram quem Ele era. Mas isso só veio à tona, na perfeição do bendito Senhor, o que o conhecimento do Pai era para Ele. Ele sabia de onde receber tudo o que O pressionava tão fortemente, pois podemos ler: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11:25).


Ele não viu nada além da perfeição da sabedoria e amor do Pai quando foi rejeitado naquelas cidades. Se na sabedoria divina essas coisas foram ocultas aos sábios e prudentes, havia pequeninos a quem elas foram reveladas em graça infinita. Ele conhecia o amor do Pai, e nisto Ele encontrou o lugar de descanso perfeito, o submeter-se a Si mesmo, absolutamente em tudo, à Sua vontade. Isso é claramente mostrado nas palavras: “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”. Estas duas coisas vêm a nós, então, na experiência do bendito Senhor: a fonte de Seu descanso era no conhecimento de Seu Pai e na Sua perfeita submissão à vontade do Pai. Ele nos introduziria a ambas, pois esta é a conexão das palavras que se seguem, muitas vezes esquecidas. No verso 27 todas as glórias de Sua Pessoa, do lugar dado a Ele e Sua obra, no mais profundo caráter dela, aparecem diante d’Ele. Não apenas o reino messiânico, mas “todas as coisas” na supremacia universal são entregues a Ele pelo Pai. A maravilhosa glória de sua Pessoa é conhecida nestas palavras: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai”, e então como a razão mais preciosa para o Senhor se fazer carne: “e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Ele veio para revelar o Pai, isso vai muito além da glória em que Ele foi apresentado a Israel até este ponto deste evangelho. Mas é quando a divina e inescrutável glória de Sua Pessoa, como o Filho, é revelada, que Ele insinua Seu propósito de revelar o Pai.


Talvez agora fiquemos ansiosos para perguntar a quem Ele revelará o Pai. Seria somente a quem o Filho viu e conheceu? A resposta vem imediatamente nas preciosas palavras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Quantos passaram pelo mundo com toda sua labuta e cansaço e não encontraram nada para os satisfazer! O Senhor Jesus também passou por isso, mas Ele tinha uma fonte secreta de descanso perfeito. E nos chama a Ele para que possa revelar esse lugar. Essa fonte de descanso é o Pai e o Seu coração de infinito amor. O Filho nos daria descanso revelando-O, e então temos apenas que aprender d’Ele, o manso e humilde. Temos que nos submeter absolutamente à Sua vontade para encontrarmos esse descanso perfeito que pode ser percebido em praticamente todas as circunstâncias. Tanto o Pai quanto o Filho foram vistos em operação prática neste lugar abençoado que o Senhor tomou, conforme expresso em, “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”. Quando alguém na fé reconhece que todos os seus fardos são permitidos pelo Pai e se submete a eles como, “assim Te aprouve”, então o jugo da submissão é fácil e o fardo é leve.


É necessário dar descanso

Quão abençoada é então, a confirmação de que conhecer o Pai não é uma experiência avançada que pertence apenas àqueles que estiveram há muito tempo no caminho Cristão. Descobrimos que é a primeira coisa diante do Senhor que era necessário para dar descanso e situar o coração que confiava n’Ele tendo em vista as consequências de Sua rejeição. Mas, para o pleno desenvolvimento de tudo o que flui da glória divina de Sua Pessoa, devemos nos voltar para o evangelho de João, onde desde o princípio isso brilha em toda parte, embora velado na forma humilde de Sua humanidade.

E o Verbo – o Senhor Jesus, que era por natureza Deus – se fez carne e habitou entre nós, de modo que o olho aberto da fé contempla Sua glória, a glória de um unigênito junto ao Pai, o único objeto estimado pelo Pai para Seu deleite (Jo 1:14). É isso que dá competência a Ele para tornar o Pai conhecido, assim como lemos no versículo 18: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer”. Somente Ele, como o Filho que permanece em Seu seio, foi tão apto a tornar o Pai conhecido, pois Sua proximidade e intimidade com o Pai sempre O caracterizaram enquanto falava e agia como Homem entre os homens.


As palavras e obras

São em Suas palavras e obras, agrupadas pelo Espírito no evangelho de João, que vemos como a revelação do Pai vem a nós por meio do Filho. Somente aqui, em toda a Escritura, o Pai é totalmente revelado. Todas as Suas obras foram, então, as obras do Pai, a expressão da natureza e da vontade do Pai fluindo desta comunhão divina. Em Suas obras, o Pai foi revelado. Daí as Suas palavras solenes em João 10:37-38: “Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em Mim, e Eu, n’Ele”.


Foi o mesmo a respeito de Suas palavras, como João 12: 49-50 mostra maravilhosamente: “Porque eu não tenho falado de Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar [...] Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito”. Com que novo e precioso interesse Seu caminho inteiro é investido, quando aprendemos que pelas palavras e obras Ele está expressando o Pai, para que possamos ser levados a conhecê-Lo como perfeitamente Ele é revelado. Daí também flui a revelação da casa do Pai, nunca mencionada nas Escrituras.

J. A. Trench (adaptado)

 

Obtendo o Conhecimento Bíblico

A verdade bíblica é conhecida pelos Cristãos de duas maneiras, pelo intelecto e pela experiência. A mesma pessoa pode e deve possuir essas duas formas de conhecimento, mas é possível que ela tenha a inteligência sem a experiência ou a experiência sem a inteligência.


Experiência sem inteligência

Se a experiência de uma verdade é vivida sem inteligência, a perda para esta alma será no caminho para encontrar a sabedoria. Como exemplo, a certeza de um crente de sua própria salvação pessoal. Ele recebeu algo da palavra de Deus pela obra do Espírito Santo dentro dele, que lhe assegurou que é salvo, e não tem mais dúvidas ou temores sobre este assunto. No entanto, talvez ele não possa explicar, nem ver claramente, as verdades reveladas nas Escrituras que têm relação com a salvação. Por causa disso, ele está desfrutando daquilo que não compreende plenamente, exceto no que diz respeito a si mesmo, pois ele sabe que em sua alma a salvação lhe pertence.


Enquanto ele anda com Deus, essa falta de entendimento intelectual não fará com que escorregue, mas no momento de algum conflito ele estará em grande desvantagem, pois não será capaz de usar corretamente a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”. Poderá haver confusão quanto ao que este texto significa ou que aquele outro texto quer dizer, a mente ficará confusa, e pelo menos por um tempo pode haver derrota e a alma pode ser posta em dúvida.


Nós vemos crentes queridos e fiéis que, por falta de inteligência no sentido claro da Palavra de Deus, são várias vezes derrotados pelo inimigo e frequentemente sob severa pressão espiritual. Não podemos, portanto, estar ociosos para saber o significado do que Deus diz, pois “Assim diz o Senhor” é de grande importância para o crente.


Inteligência sem experiência

Contudo, nessas observações, não estamos tão preocupados com aqueles que têm a experiência da verdade sem a inteligência clara de seu significado, como estamos a respeito de alguns que têm o entendimento intelectual de uma verdade sem a devida experiência de sua realidade. Dizemos ‘experiência devida’, porque não queremos levar a delicada consideração da experiência Cristã para além dos devidos limites. É comparativamente fácil falar do conhecimento intelectual de uma verdade, pois as palavras podem expressar esse conhecimento, mas a experiência é o que pertence ao coração e é, para o Cristão, individualmente, a energia vital das palavras que ele profere. A cabeça pode testar o conhecimento, já o coração deve testar as experiências. Um Cristão que passou pelo conhecimento experimental de uma verdade discerne o espírito do que fala descrevendo aquilo que ele não sentiu.


Um homem pode ser tão claro quanto um Cristal, mas tão frio quanto o gelo. Ele pode ter a capacidade de detalhar as diversas partes de uma verdade divina, mas ainda assim não ser capaz de mover nenhum sentimento em direção a Deus. Por outro lado, palavras erradas e pensamentos mal formados podem ir direto para a alma e atrair afeições para Deus, mesmo quando o ouvinte estiver plenamente consciente da falta de conhecimento intelectual nas palavras que são proferidas.


Orgulho espiritual

Como já mencionamos, se um Cristão tem falta de conhecimento espiritual de alguma verdade de Deus, ele está, por causa dessa falta de conhecimento, exposto ao inimigo e poderia, em espírito, se afastar de Deus. O que podemos dizer, então, sobre o perigo que cerca aquele que, sendo conhecedor de uma doutrina no intelecto, tendo seu poder mental alimentado por esses mistérios, não é versado na experiência da verdade que ele conhece? Ele está em perigo de cair na mesma condenação que o próprio Satanás caiu, que é, se inchar no seu orgulho. Sim, ele está em perigo do orgulho espiritual, de se gabar do seu conhecimento das verdades divinas, até mesmo nos mais sublimes assuntos como o da glória de Deus, a morte e ressurreição de Seu filho, e a maneira que o homem é abençoado em Cristo! Tal é a sutileza do coração do homem que ele pode manter uma verdade de Deus e usar para a exaltação própria, sim, e frequentemente o faz. “A ciência [conhecimento] incha” e o crente, sem ter a experiência da verdade conhecida, se torna soberbo e com orgulho que será para sua eventual vergonha e desonra.


Ausência da moral de Deus

Sem querer detalhar tal triste estado de alma, talvez possamos mencionar uma ou duas causas dele, para ajudar a evitar tal condição. A principal raiz do mal, então, é a ausência moral da presença de Deus em nosso espírito. A Bíblia é lida, ou provavelmente livros que explicam suas verdades são lidos, e as doutrinas são compreendidas por simples força humana, pela capacidade intelectual, ou pela memória ou algo do tipo. Em uma palavra, o Espírito de Deus, que habita em nós, é ignorado e a mente do crente recebe permissão para tentar compreender as verdades divinas ao invés de o crente se submeter, humildemente e com reverência, ao efeito moral da verdade de Deus sobre seu espírito. Não podemos aprender as verdades divinas a não ser que a aprendamos na presença de Deus. Um processo em nossa alma acompanha a correta aquisição de conhecimento.


É menos perigoso ser estúpido e não ser capaz de compreender uma verdade doutrinalmente, mas ainda assim viver no poder e se mover em sua força, do que conhecer os detalhes dela e ainda assim estar completamente alheio à sua força. Num caso, o próprio sentimento de ignorância pode ajudar a manter o crente humilde, no outro caso, o sentimento de conhecimento irá ensoberbecê-lo. No primeiro, a alma buscará a Deus e Sua proteção será desejada. No segundo, a verdade, ou a habilidade humana de manejar a verdade, e não a de Deus, será confiada. Muitos são maravilhosamente versados nas Escrituras, e têm por anos vivido no orgulho de seu conhecimento! O conhecimento que têm da letra da verdade tem sido usado simplesmente para os capacitar a desprezar seus companheiros Cristãos, assim como um cientista pode usar seu conhecimento para desprezar os homens normais por causa da ignorância deles.


O remédio

O remédio para isto está na atitude moral que o Cristão tem individualmente diante de Deus. É um assunto totalmente privado entre Deus e o crente. Mas o comportamento privado da alma diante de Deus é, de fato, algo que merece grande consideração. Quando fomos convertidos, tivemos que lidar apenas com Deus. Quando recebemos paz, lidamos apenas com Deus. Em todas as grandes crises espirituais em nossa vida, lidamos apenas com Deus, e se morrermos, teremos que ir embora deste mundo somente com Deus. Em uma palavra, tudo o que é estável e permanente na alma resulta dos tratos pessoais com Deus. Agora, se tomamos qualquer verdade somente pela inteligência, deixamos Deus fora de nossa obtenção pessoal do conhecimento das Escrituras. Mais precisamente, negligenciamos o conhecimento de Deus, porque as doutrinas das Escrituras nos dão o conhecimento de Deus. Que estejamos em guarda, já que é algo terrível para a prosperidade da alma dos meros mortais tomar o conhecimento de Deus como se fosse apenas casos científicos.


O conhecimento de Deus

Deus se revelou graciosamente para Seu povo na e pela Sua Palavra, e cada sentimento da revelação que possamos ter certamente irá produzir em nossa alma uma experiência refrescante do próprio Deus. Quando esse conhecimento pessoal de Deus, pelo Seu Espírito, é ganho, a vida e os pensamentos do crente serão formados e coloridos por tal conhecimento. O crente será dominado pelo que passou por ele e se tornará parte dele. Sua vida prática será a linguagem do seu ser interior. Ele mostrará em sua vida prática o que vive dentro dele.


E essa vida prática, por nosso modo de vida e fala, recebe crédito das almas daqueles que ouvem. É uma testemunha, um testemunho de Deus. Por outro lado, o conhecimento adquirido apenas intelectualmente dos mais profundos mistérios de Deus, terá o mesmo poder sobre a alma humana que uma instrução científica.

Faithful Words for Young and Old (adaptado)

 

Renovado no Conhecimento

Em Colossenses 3:10 (RA), nós lemos que “vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem d'Aquele que o criou”. Em Efésios 4:24, vemos: “vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (ARA). É instrutivo notarmos a diferença entre essas expressões similares nos dois livros.


Nossa língua inglesa (e portuguesa) não nos permite ver as distinções mais refinadas que o Espírito de Deus aplica nas Escrituras. Em Efésios 4:24 a expressão “novo (kainos) homem” é expressa por uma palavra totalmente diferente da que encontramos em Colossenses 3:10, pois o grego tem duas palavras diferentes para se referir a “novo”, enquanto no inglês temos apenas uma (bem como no português). Uma palavra no grego implica que é algo que nunca foi visto antes, tal como quando dizemos “isto é uma novidade”. A outra palavra grega significa que é algo novo daquele tipo, mas que tem sido visto antes com frequência, como podemos dizer na primavera “as novas folhas estão aparecendo”.


Efésios fala do primeiro significado da palavra, um “novo homem”, que não é Adão em sua inocência, nem mesmo Adão justo perante a lei, mas um tipo totalmente novo de homem. O novo homem aqui é “criado em verdadeira justiça e santidade” (ou, “santidade da verdade”). Essa mesma palavra é usada para os “odres novos” (Mt 9; Lc 5), onde o vinho novo deve ser posto. É usado também em Mateus 26:29, quando o Senhor vai tomar a taça de vinho “novo” no reino de Seu Pai. Assim, “Um novo mandamento vos dou” (Jo 13:34), e “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21:5).


Renovado

O “novo” (neos) de Colossenses 3:10 é diferente, pois ali não fala do novo homem em espécie, mas o revestir-se na prática do novo homem (porque já o temos vestido, pela morte e ressurreição de Jesus), isto é, a vida prática na qual vivemos aqui. No entanto, mesmo isso sendo verdade, a palavra “renovado” (anakainoō) é composta pelo primeiro significado da palavra novo (mencionado anteriormente), de modo que enquanto a prática do novo homem é a ideia principal aqui, deve haver um cuidado para mostrar que é um tipo totalmente novo de homem que nos revestimos.


Resumindo, as duas palavras são características das Epístolas em que são encontradas. Em Efésios 4 é um “novo homem” em contraste com o velho e tudo o que aconteceu antes. Em Colossenses 3 é a nova vida na qual vivemos de forma prática, mas se tem o devido cuidado de mostrar pela palavra “renovado” que é algo inteiramente novo, primeiramente formado por Deus e em consequência renovado para sermos como Ele é, pelo julgamento prático do mal que há dentro de nós. A natureza de Deus toma seu lugar de forma mais plena por esse despojar do velho homem e suas obras, e por nosso aprofundamento no conhecimento d’Ele como sendo luz e amor.


Pleno conhecimento pessoal

A palavra “conhecimento” é muito impressionante aqui. Não é a mesma que é usada para “conhecimento” em outras partes das Escrituras. Ela significa um pleno conhecimento pessoal, pelo qual eu reconheço uma pessoa, como quando digo: “Eu conheço este homem”. É o conhecimento meditado e conhecido subjetivamente na alma. Veja Colossenses 1:9, onde a mesma palavra é usada para o conhecimento de Sua vontade, e no verso 10, onde é usada em: “frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” como deve ser lido na passagem.


Existe um bom exemplo do uso dessas duas palavras em 2 Pedro 1:5 e 8. Ele deseja (v. 5) que possamos acrescentar “à virtude, a ciência” e no verso 9, que assim não seremos estéreis no conhecimento, ou na plenitude do conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo. O primeiro foi o conhecimento recebido, como objetivamente apresentado à alma. O último era o mesmo conhecimento meditado e conhecido subjetivamente. Esse é um dos belos toques que Deus deu nas Escrituras, por meio da pena e do coração de um pescador galileu indouto!


Não pretendo fazer uma exposição crítica ao destacar essas palavras, mas apresentar o que me interessou nas características do uso delas nas Escrituras.

F. G. Patterson (adaptado)

 

Ignorância sobre Deus

No jardim do Éden o homem caiu, e desde então, mesmo que pela indústria e pesquisas ele tenha adquirido certa medida de conhecimento de todas as coisas da criação, ainda assim ele não consegue encontrar a Deus. O seu maior avanço só o convence mais de sua ignorância. Assim como os atenienses nos tempos de Paulo, se honestos, confessavam ser ignorantes no mais importante ponto que poderia ocupar qualquer criatura inteligente, o conhecimento de seu Criador. Em comparação a isso, o que são os demais conhecimentos? E o que de bom há em todo conhecimento relacionado ao homem, se eu sou ignorante a respeito de Deus?

G. V. Wigram

 

Mera Interpretação

Podemos ter certeza disso, que basear todas as coisas em mera interpretação indica que o poder da consciência para efetuar uma aproximação de Deus e obediência à vontade do Pai é o estado mais frágil. O amor de Cristo é superior ao conhecimento, mas o curso da mera interpretação (um curso tão pequeno de acordo com a mente do Senhor) dá um lugar superior ao conhecimento. Visto que o mero conhecimento não resulta em avanço na graça, perdemos a cruz, e por isso não pode servir para mais nada além de fins terrenais, e tem frequentemente um caráter terreno, intelectual e de mente elevada.

Girdle of Truth

 

Como Saberemos?


Como conheceremos o Cristo de Deus de todos os que fazem tal reivindicação?

Como podemos saber quem tem o direito de levar o nome da salvação?

Oh, há um teste, um teste perfeito, infalível para guiar:

É Cristo, sabemos, se Ele puder as mãos e o lado feridos mostrar.


Como distinguir a única luz verdadeira de toda aquela que brilha?

Muitas brilham, brilham, fluem e ostentam uma fonte divina;

Oh, há um teste, um teste perfeito, infalível para guiar:

A única luz verdadeira sempre pode as mãos e o lado feridos mostrar.


Como provar que a Palavra é verdadeira entre todas as que são ouvidas?

Tantas vozes no mundo, altas e claras soadas;

Oh, há um teste, um teste perfeito, infalível para guiar:

A única Palavra verdadeira pode sempre as mãos e o lado feridos mostrar.


Como saber qual caminho seguir de todos que estão abertos?

Tantas estradas largas e agradáveis serpenteando longe e perto;

Oh, há um teste, um teste perfeito, infalível para guiar:

O único Caminho verdadeiro sempre pode as mãos e o lado feridos mostrar.

A. J. Flint (Adaptado para o português)

 

 

“Ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”

(Mt 11:25).

 
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