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A Trindade (Junho de 2010)

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Revista mensal publicada originalmente em Junho/2010 pela Bible Truth Publishers

ÍNDICE


          Tema da edição

          W. J. Prost

          H. E. Hayhoe

          J. N. Darby (selecionado)

        F. G. Patterson

          Bible Treasury 15:90

          J. N. Darby (adaptado)

          P. Wilson

          J. N. Darby

          G. V. Wigram (adaptado)

          J. N. Darby

          J. N. Darby (adaptado)

          Hinário Little Flock, Hino 131

A Trindade

 

O assunto desta edição está além do entendimento. No entanto, muitas coisas que conhecemos e desfrutamos também estão além do nosso entendimento. Como criaturas, somos finitos enquanto Deus é infinito. Então Ele está além da compreensão humana. Mas, bendito seja Deus, Ele escolheu Se revelar a nós por meio do Filho de uma maneira que possamos conhecê-Lo e adorá-Lo.

 

Conhecemos o amor de Cristo, porém ele “excede todo o entendimento”. A paz de Deus guardará nosso coração e mente por Cristo Jesus, ainda assim ela “excede todo o entendimento”. As profundezas da sabedoria e do conhecimento de Deus produzem “insondáveis... juízos” e “inescrutáveis... caminhos”.

 

Wigram comenta sobre este assunto: “A mente humana muitas vezes cria grandes dificuldades para si mesma no assunto da Trindade – dificuldades que não existem. As pessoas costumam me dizer: 'Eu não gosto da palavra Trindade; Não vejo como pode haver três em um e um em três.’ A minha resposta é muito simples. 'Não tenho um amor particular pela palavra (Trindade), mas tenho um amor particular pela verdade que os homens cunharam para representar essa palavra, embora não possa dizer que a entendo'” (adaptado).

 

Não permitamos que aquilo que não podemos entender restrinja o nosso desfrute de nosso Deus infinito, como Ele Se revelou a Si mesmo para nós.

 

Tema da edição

Deus Totalmente Revelado

 

Como outro já disse, é um pensamento solene, mas abençoado, que Deus agora foi totalmente revelado. Certamente o homem não pode ter nenhum relacionamento com Deus, a menos que Deus decida Se revelar. Em consequência, quanto maior a revelação de Deus, mais próximo e mais abençoado é o relacionamento com Ele, mas também maior é a condenação se essa revelação for rejeitada. No Velho Testamento, Deus falou “muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas” (Hb 1:1), mas foi sempre e apenas uma revelação parcial de Deus. Deus agora “Falou-nos... na Pessoa do Filho” (Hb 1:2 – JND) e escolheu Se revelar completamente por meio d'Ele, pois foi do agrado da Divindade (JND) que toda a Sua plenitude habitasse e Se manifestasse em Cristo.

 

O homem em relacionamento 

Esse fato maravilhoso é ao mesmo tempo um privilégio admirável, mas também leva o homem a uma séria responsabilidade. Pensar que Deus, que é infinito e, portanto, incapaz de ser conhecido por Suas criaturas finitas, escolheu Se revelar no Filho, por esse Filho Se tornar Homem e vir ao mundo! Mais do que isso, essa revelação tinha como objetivo a bênção suprema do homem e ser estabelecido num relacionamento com Deus que nenhuma mente humana jamais poderia ter pensado ser possível. Para aqueles que aceitam Cristo como a revelação de Deus, a bênção é tal que toda a eternidade não será suficiente para a manifestação e o desfrute dela.

 

Por outro lado, a revelação completa de Deus serviu apenas para trazer à tona a depravação total da raça humana e a oposição do homem em relação a Deus, conforme revelado em Cristo. Tendo Se revelado completamente, e também no amor e na graça, Deus (falamos com reverência) não pode fazer nada além. Se o homem rejeita o amor e a graça, bem como a verdade (e tudo isso foi revelado e plenamente exibido em Cristo), Deus deve então agir em juízo, embora seja Sua “estranha obra” (Is 28:21).

 

Para o crente, há maravilhosas bênçãos associadas ao pleno conhecimento de Deus – bênçãos peculiares ao Cristianismo neste tempo da graça de Deus. Gostaríamos de mencionar algumas delas, embora esteja além do escopo deste artigo entrar em detalhes sobre essas bênçãos.

 

Deus como nosso Pai 

Antes de tudo, somos levados ao conhecimento de Deus como nosso Pai. No Velho Testamento, Deus foi revelado como Deus Todo-Poderoso e como Jeová – como Deus Todo-Poderoso para os patriarcas e como Jeová para Israel. Nenhum deles representou plenamente o caráter de Deus para o homem, mas agora Ele foi revelado à Igreja como Pai. É em conexão com a revelação de Deus como Pai que temos a vida eterna, pois enquanto os do Velho Testamento certamente tiveram uma nova vida, a expressão “vida eterna” nunca foi aplicada a ela. Cristo veio para revelar o Pai, e como Filho, Ele foi o Único capaz de revelá-Lo. Mais do que isso, já que por Sua obra (de Cristo) na cruz, Ele nos trouxe para o mesmo relacionamento abençoado com o Pai. Ele pôde dizer a Maria Madalena: “Subo para Meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Antes disso, o Senhor Jesus havia falado de “Meu Pai”, “o Pai” e até “vosso Pai”, mas nessa última expressão sempre havia o pensamento de “vosso Pai celestial”. Agora somos livres para chamar Deus de nosso Pai e desfrutar desse relacionamento em toda a proximidade em que Cristo nos trouxe. Não pode haver nada mais íntimo do que isso.

 

Mas essa revelação de Deus como Pai foi feita pelo Filho, que Se tornou Homem para fazer isso. “O Pai enviou Seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4:14). Enquanto a Pessoa do Filho é um mistério divino e permanecerá assim, mesmo assim Ele revelou completamente o Pai. Como Homem, Ele andou por este mundo em companhia de homens, experimentando toda a tristeza que o pecado trouxe a eles. Ele então morreu por nós como Homem e, tendo ressuscitado dentre os mortos, continuará sendo Homem por toda a eternidade, a fim de desfrutar de nossa companhia. Bem, o escritor do hino pode dizer:

 

O que suscitou o pensamento maravilhoso;

 Ou quem o sugeriu?

 Que nós, a Igreja, para a glória trazidos,

 Tenhamos sido abençoados com o Filho.

 

A revelação divina 

A revelação de Deus na Trindade ocasionou muita controvérsia, não apenas entre os incrédulos, mas até mesmo entre os Cristãos. Tudo isso, em última análise, decorre da antiga determinação do homem de se agarrar, em coisas divinas, àquilo que está além de seu entendimento. Quando ele não pode entender, ele as reduz a algo que ele possa entender. Ao fazer isso, ele invariavelmente corrompe a verdade de Deus e cai no erro. Quando Deus é revelado como o Pai e o Filho, o homem comete o erro de raciocinar a partir das relações humanas para tentar entender as divinas; ao fazer isso, sempre desonra a Deus e corrompe seu próprio desfrute daquilo que Deus deu. Nas relações humanas, um pai deve existir antes de seu filho, e o filho deve ser procriado pelo pai. Mas nos relacionamentos divinos, Pai e Filho coexistiram por toda a eternidade – algo que a mente natural não pode entender. Em vez de questionar ou tentar entender, devemos nos curvar em admiração e adoração! Se começamos com relacionamentos divinos e depois seguimos para o que é humano, Deus é glorificado e o homem é muito mais abençoado.

 

Além disso, há a revelação do relacionamento, pois o homem foi formado à imagem e semelhança de Deus. Ao conhecer as relações divinas, podemos entender melhor as relações humanas, embora sejam necessariamente inferiores, devido à diferença entre finito e infinito. Mas o gozo de Deus como Pai e Cristo como Filho nos faz perceber que os relacionamentos humanos são padronizados, embora não iguais aos divinos. Traz uma dimensão em nossa vida espiritual que não existia antes e traz um prazer que não podia ser conhecido quando Deus não era totalmente revelado.

 

A habitação do Espírito Santo 

Finalmente, somos habitados pelo Espírito Santo, e Ele está presente aqui na Terra, habitando em cada crente individualmente e entre os crentes coletivamente como a casa de Deus. Sua vinda é referida como “a promessa do Pai” (At 1:4), e o Senhor Jesus poderia falar do “o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome” (Jo 14:26). Toda a Trindade está envolvida na bênção do crente. É pelo Espírito de Deus que estamos em associação direta com Cristo – um Cristo ressuscitado em glória. O Espírito de Deus era conhecido no Velho Testamento, pois está registrado que Ele vinha sobre indivíduos de tempos em tempos, capacitando-os para que trouxessem a mente de Deus e escrevessem as Escrituras Sagradas. No entanto, como consequência da glorificação de Cristo à direita de Deus, o Espírito desceu para tomar Seu lugar neste mundo até que a Igreja seja chamada para casa.

 

Viver durante esse tempo em que o Espírito de Deus está aqui na Terra é um tremendo privilégio. Ele está aqui como o Paracleto – aquele que Se encarrega e cuida de todos os nossos assuntos. Ele nos leva a toda a verdade, revela as coisas de Cristo para nós e nos leva a desfrutar de Cristo em nosso coração. Seu objetivo final é nos tornar cada vez mais semelhantes a Cristo, para sermos “transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18). Ele lidera e guia, tanto individual como coletivamente, em nossa vida, para a glória de Deus e nossa bênção, seja em adoração ou em serviço. Este é um privilégio que não era conhecido antes do dia de Pentecostes, nem será conhecido na Terra novamente depois que a Igreja for chamada para o lar.

 

Bem, podemos dizer, junto com outro escritor de hinos:

 

Seja abençoada nossa porção

Glorificando a Trindade;

Pelo evangelho do alto,

Pela palavra que “Deus é amor”.

 

W. J. Prost

A Trindade

 

Toda atividade da Divindade é sempre em Trindade. A primeira vez que o nome de Deus é mencionado na Bíblia, a palavra hebraica usada é Deus no plural. Na língua hebraica, há singular, dual e plural. A palavra hebraica para Deus no plural é Elohim. Esta é a palavra usada em Gênesis 1:1. A palavra hebraica para Deus no dual é Elohaim. Nunca é usada na Escritura. A palavra hebraica para Deus no singular é Eloah. A primeira vez que ela é usada é em Deuteronômio 32:15-17, onde Ele é contrastado com os ídolos.


 

A ordem na Escritura é sempre Deus, o Pai, em propósito, o Filho, Aquele que realiza os propósitos de Deus, e o Espírito Santo, o poder pelo qual eles são cumpridos. Esta verdade permeia toda a Palavra de Deus.

 

Criação 

O propósito de Deus Pai era que a criação fosse a esfera para a exibição de todos os Seus conselhos (Ef 1:9-10).

 

O Filho é Aquele por Quem tudo é criado e sustentado (Jo 1:1-4; Cl 1:16; Hb 1:1-3).

 

O Espírito Santo é o poder na criação (Sl 104:30).

 

Redenção 

Deus Pai em Seu amor propôs a bênção do homem (Jo 3:16). Deus estava em Cristo reconciliando o mundo Consigo mesmo (2 Co 5:19).

 

Cristo em obediência do amor realizou a obra da redenção (Hb 10:7-10).

 

Ele (Cristo) “pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14).

 

Ressurreição 

  • Deus Pai ressuscitou Cristo dentre os mortos (At 3:15). 

  • Cristo, o Filho, ressuscitou a Si mesmo dentre os mortos[1] (Jo 10:18). 

  • O Espírito Santo ressuscitou Cristo dentre os mortos (Rm 8:11; 1 Pe 3:18).

{1}  N. do T.: Também a esse respeito, consulte comentário em Atos dos Apóstolos por J. N. Darby em Micellaneous 4.


Deus, o Filho 

Como Homem, Ele podia estar com fome, com sede e cansado, para poder ser um Sumo Sacerdote que Se compadece. Como Deus, Ele pôde acalmar os ventos e as ondas. Ele pôde ressuscitar os mortos. Ele pôde abrir o entendimento de seus discípulos. Ele pôde e comunicou poder. Ele conhecia os pensamentos dos outros sobre Ele. Ele poderia e predisse a maneira de Sua morte.

 

Ele é o eterno Eu Sou (Jo 8:58).

 

Negar toda a glória da Divindade do Senhor Jesus Cristo é dar as costas ao único Salvador. Quem fizer isso morrerá em seus pecados (João 8:24). A Escritura diz: “Nenhum deles... pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele” (Sl 49:7), mas o Senhor Jesus era o Deus perfeito e o Homem perfeito, ao caminhar aqui na Terra. É a Sua Pessoa (Deus, o Filho), que dá valor à obra da expiação que Ele consumou quando foi levantado na cruz (João 3:14). Assim, vemos que, para ter o conhecimento da salvação, como em João 3:16, é preciso crer na Pessoa e na obra do Senhor Jesus Cristo.

 

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” (Jo 3:36).

 

H. E. Hayhoe

A Trindade em Unidade

 

Deus é Um, mas Ele nunca foi ou jamais poderia ser totalmente revelado como Um. Ele foi conhecido sendo Um em contraste com uma multiplicidade de deuses, mas naquela época Ele não era totalmente revelado. Ele existiu sempre em Trindade e em unidade. Não tenho pretenções de entender isso, mas sei disso porque, quando Deus é totalmente revelado, Ele é revelado dessa forma. Quando Ele foi conhecido como Um (Dt 6:4), Ele não Se permitiu ser aproximado, mas habitou atrás do véu. Ele usou várias figuras sensíveis para mostrar que Ele não era conhecido, que a verdadeira luz não brilhava e que o caminho para o Santo dos Santos ainda não estava manifesto.

 

Deus Se revelando 

Mas quando Ele Se revela, o Filho está na Terra, ainda que no seio do Pai. Ele é a imagem do Deus invisível. Aquele que O viu, viu o Pai. A luz de Deus estava no mundo, mas o homem não a viu nem a compreendeu. Aquele revelado, o Pai, era conhecido em bondade pelo Filho. Embora o Deus invisível foi feito conhecido por Aquele que era Sua imagem, ainda assim, se Ele tivesse deixado de ser invisível, Cristo teria deixado de ser um Revelador e Imagem especiais. Se Ele não tivesse mostrado e O revelado perfeitamente como realmente manifestado (isto é, se Ele não tivesse sido Deus), não teria havido revelação. Se Ele não fosse Filho, não poderia ter revelado o Pai para nós como tal.

 

Mas isso não é tudo. As trevas não compreenderam a luz. O Espírito Santo Se tornou poder para dar competência de entendimento e revelar, como poder que se comunica, tendo-nos vivificado para termos capacidade de entender. Não estou dizendo isso por mera dedução, mas pela revelação de Deus.

 

A natureza de Deus 

Sem a Trindade, o amor, a justiça e a santidade não eram conhecidos – a natureza espiritual de Deus e a pureza como tal. Toda a verdadeira natureza de Deus, isto é, o que Ele é, sem a Trindade, é desconhecida. O Pai quer; o Filho vivifica quem Ele quer. Mas porque temos vontades separadas, por que necessariamente desejariamos ter o Pai e o Filho? O Espírito distribui a quem Ele quer, mas isso não é separado da vontade do Pai e do Filho. Eles não têm o mesmo conselho, mas têm um conselho, mente, propósito e pensamento; ainda assim, Eles agem distintamente na manifestação desse conselho. O Pai envia o Filho, e o Filho envia o Espírito. No entanto, quando o Filho vem, Ele não está, por causa disso, separado do Pai. “O Pai, que está [permanece – ARA] em Mim, é Quem faz as obras” (Jo 14:10). Assim, Cristo expulsa demônios pelo Espírito de Deus; ainda assim é Ele Quem os expulsa. Existe unidade em tudo o que constitui unicidade quando falamos espiritualmente – não unidade como sendo um por chegar às mesmas coisas, ou união, ou por estarmos unidos como estamos, por termos apenas um Espírito habitando em todos, mas – por sermos um em ser eterno, de modo que tudo o mais flui dessa única vontade e conselho, porém, de tal maneira que a distinção na ação nessa vontade seja revelada a nós. Esta não é vontade distinta, mas querer distinto.

 

Não que eu tenha a menor pretensão de entender esse mistério divino, onde todos são Deus, todos um Deus, Deus todos os três; todavia, o Pai é revelado, o Filho O revela, e o Espírito Santo vivifica e O torna conhecido. O Filho que revela não é diferente do Pai a Quem Ele revela, ou Ele não O revelaria. Pelo Espírito que vivifica e dá a conhecer, nascemos de Deus e conhecemos Deus habitando em nós. Ele O revela a nós por Sua própria presença e é, de todas as formas, o poder de Deus, ativo na criatura.

 

O finito e o infinito 

Nem a criatura poderia alcançar Deus, ou Deus não seria Deus. É simplesmente impossível, pois se o finito chega ao infinito, não há nem finito nem infinito. E o Deus infinito não poderia, como tal, Se revelar a uma criatura finita. Tampouco isso é verdade apenas mentalmente, pois se Deus em Sua glória o tivesse feito, a criatura não poderia ter existido diante d'Ele. Portanto, se moralmente revelado (isto é, como Justo, Santo e em glória essencial), o homem não poderia estar diante d’Ele. O homem era moralmente contrário. Nem mesmo o amor seria suficiente, pois o que era o amor para o homem tal como ele era? Não havia vínculo, nem desejo, e, se o homem era pecador, não havia aptidão para a simples demonstração disso.

 

A capacidade de comunhão 

Mas no Filho, pelo Espírito Santo, pela obra de Cristo e pela operação do Espírito Santo, Deus é revelado e, no amor do Pai, justiça e santidade são mantidas e glorificadas, com capacidade de comunhão em gozo de ambos o Pai e o Filho e a inteligência de todos esses caminhos conferidos pela presença do Espírito Santo.

 

Portanto, enquanto João diz que Deus amou o mundo de tal maneira, encontramos que sempre que ele fala de graça e poder, trazendo o homem ao conhecimento e gozo de Deus, ele fala do Pai e do Filho, acrescentando posteriormente nas palavras de Cristo a presença e trabalho do Consolador.

 

Distinção das Pessoas e a Unidade de natureza 

Assim, vemos que não poderia haver revelação completa de Deus senão por meio do Filho pelo Espírito e, por meio disso, do Pai. A revelação completa do Deus único é somente assim – Pai, Filho e Espírito Santo. Isso é o que o Um Deus é, uma identidade de vontade e Ser, de modo que Eles são essencialmente Um e Um só, mas distintos em querer e agir (e podemos distingui-Los em querer e agir: por isso, geralmente falamos de Pessoas), contudo, nunca querendo ou agindo, senão na vontade comum e na unidade da natureza.

 

Eu temo muito a linguagem humana sobre isso. Mas afirmo que a única revelação completa do único Deus verdadeiro é a revelação d'Ele por meio da Trindade. Nossas orações se elevam da mesma forma. Por meio d'Ele (Cristo, o Filho), temos acesso por um Espírito ao Pai.

 

J. N. Darby (selecionado)

A Unidade da Divindade

 

A unidade da Divindade era a grande doutrina do Velho Testamento, e isso em contraste com a pluralidade dos deuses dos pagãos. Havia indícios constantemente dados, e, sem dúvida, percebidos pela fé, em alguma medida, de que mais estava por vir, algo por trás de tudo isso. Mas a unidade da Deidade era o assunto em questão. “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR” (Dt 6:4 – JND). “A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus; nenhum outro há senão Ele” (Dt 4:35).

 

A Trindade revelada 

A Trindade das Pessoas nunca foi conhecida na alma até que o Espírito Santo fosse dado para habitar em nós. Portanto, mesmo os apóstolos não sabiam completamente quem era Aquele que graciosamente andava com eles na Terra. Se lhes fosse possível saber que Deus estava lá – quando o Filho estava revelando o Pai na Terra – teria sido possível conhecer a Deus na dualidade; isto é, que Ele poderia ser conhecido em apenas duas Pessoas. Isto não poderia acontecer. O Filho revela o Pai na Terra, o Pai habita n'Ele e faz as obras, mas o Espírito Santo era o poder pelo qual o Filho expulsava demônios – tudo foi apresentado ao homem. Mas Cristo precisava morrer e ressuscitar e subir ao alto e dar o Espírito Santo àqueles que Lhe obedecem, e agora, pelo poder do Espírito Santo, conheço o Pai, revelado no Filho e pelo Filho. Um Deus é assim conhecido na Trindade das Pessoas, como uma verdade subjetiva na consciência da alma. Pedro pôde dizer: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, e ter uma revelação divina dada pelo Pai, mas era inoperante na época, como muitas coisas estão em nós mesmos, até que seja conhecido subjetivamente em nossa alma. Alguns versículos mais tarde, em Mateus 16, ele mostra que a carne não foi quebrantada nele até o auge da revelação e, de fato, nunca teve seu poder até que depois ele recebeu o Espírito Santo. O Espírito dado quando Jesus foi glorificado fez toda a diferença.

 

A plenitude da Divindade 

Em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Nunca haverá e não poderá haver revelação adicional de Deus, pois tudo foi revelado; caso contrário, o Filho de Deus não cumpriu Sua missão, o que é simplesmente impossível. A Trindade das Pessoas é tornada conhecida, e o Filho levou a Humanidade à Divindade – efetuou redenção e nos reconciliou com Deus por Sua morte, e, ressuscitados com Ele, somos selados com o Espírito de Deus e, portanto, diante d'Ele em Cristo Jesus, e Ele em nós diante dos homens. A primeira coisa estabelece nosso lugar diante de Deus; a segunda, nossos deveres perante os homens.

 

A distinção das Pessoas 

Não há confusão nas Pessoas da Trindade, mas também não há separação entre Elas. Cada Pessoa (como falamos) faz coisas diferentes, mas Todas trabalham em conjunto e na unidade da Divindade. O Pai envia o Filho; o Filho não envia o Pai. O Filho morre por mim, não o Pai. O Espírito santifica, vivifica, mas o Pai e o Filho também. Tudo isso agora é conhecido no Cristianismo e sob a graça e é bem diferente do que esperavam aqueles que estavam sob promessa ou que era sentido por aqueles que estavam sob a lei. Sob o primeiro, os patriarcas o conheciam como El Shaddai (Deus Todo-Poderoso). Veja Gênesis 17:1 e Êxodo 6:3. Ele era o Todo-Poderoso, para cuidar dos peregrinos da fé. Com Israel, era Jeová – Aquele que existia por Si mesmo, cumpriria tudo o que havia prometido. Conosco, é o Pai, revelado pelo Filho e conhecido pelo Espírito Santo, habitando em nós – um Deus em Trindade. No entanto, Aquele que é assim para nós – o Pai – nos diz que é o mesmo que foi Todo-Poderoso para os patriarcas e Jeová para Israel. Compare 2 Coríntios 6:18 e leia “Jeová” quando for dito “SENHOR”, onde tem esse significado.

 

O conhecimento do caráter de Deus 

Você também pergunta: “O conhecimento do caráter de Deus por si só daria esta certeza?” Em termos abstratos, eu responderia que sim. Mas qualificaria minha resposta dizendo que você não poderia conhecer completamente Seu caráter até que a cruz tivesse passado, de modo que a obra de Cristo precisa acontecer, assim como Deus ter sido revelado na Terra. Posso ser atraído por Ele como um homem na Terra, mas a consciência deve ser purificada por Sua obra que rasga o véu, e todo o caráter de Deus precisa ser conhecido, perfeito em graça, face a face com o homem no seu pior. Com o conhecimento de tal revelação, deve haver certeza.

 

F. G. Patterson

Um só Deus – Um só Mediador

 

“Há um Deus, um Mediador também de Deus e homens, Cristo Jesus um Homem, o Qual Se deu a Si mesmo em resgate por todos, o testemunho em seus próprios tempos. Para o que fui constituído um pregador e apóstolo (digo a verdade, não minto), um mestre dos gentios, em fé e em verdade” (1 Tm 2:5-7 – tradução de Willian Kelly).

 

A unidade de Deus é a verdade fundamental do Velho Testamento, pois era o testemunho central pelo qual o povo Judeu era responsável, em um mundo onde todos os outros lugares estavam entregues à idolatria. Devemos acrescentar que Jeová, o Deus de Israel, era Aquele Jeová, Seu próprio nome de relacionamento com Seu povo na Terra. “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o SENHOR, e Meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e Me creiais, e entendais que Eu Sou o mesmo, e que antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá. Eu, Eu Sou o SENHOR, e fora de Mim não há Salvador” (Is 43:10-11).

 

Mas durante a dispensação Judaica, Deus, embora conhecido por ser Um, não era conhecido como Ele é. “Fez conhecidos os Seus caminhos a Moisés, e os Seus feitos aos filhos de Israel”. Ele habitava nas trevas espessas, mesmo onde Se cercava de um povo por possessão, e um véu encobria o que havia de manifestação da presença divina, de modo que o sumo sacerdote se aproximava apenas uma vez por ano, com nuvens de incenso e não sem sangue para que ele não morresse. Foi somente Jesus que O tornou verdadeiramente conhecido, como vemos (onde menos se poderia esperar) por aquele ato de graça incomparável em que Ele estava cumprindo toda a justiça quando batizado por João no Jordão. Lá, quando o Espírito Santo desceu sobre Ele, o Pai desde o céu proclamou que Ele era Seu Filho amado. A Trindade foi revelada. É nas Pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo que Deus, o Deus único, é realmente conhecido. Sem Jesus isso era impossível; Quando Ele dá o primeiro passo, a Trindade em unidade resplandece – amor e luz, onde não há trevas nenhumas. Quão infinita é a nossa dívida para com o Verbo feito carne, que Se dignou tabernacular[2] conosco, Filho unigênito que declarou Deus e revelou o Pai.

[2] N. do T.: O verbo inglês tabernacled significa assumir uma morada temporária.

 

Assim, como precisamos, temos uma imagem adequada do Deus invisível, e esse Jesus é Mediador de Deus e dos homens, embora a mediação, é claro, vá além da representação, pois há duas partes: Sua Humanidade e Seu resgate, ambos em um momento especial, se Deus deve ser conhecido e se o homem pecador deve ser adequadamente abençoado no conhecimento de Deus.

 

O Mediador é um homem, para que Deus seja conhecido pelos homens. O Absoluto é distinto do relativo por um abismo intransponível para nós. Nós, criaturas, somos universalmente relativos. Mas se o homem não pode se elevar a Deus, e aqueles da humanidade que, por graça, são justos, repudiarão e abominarão acima de tudo um pensamento tão presunçoso, Deus pode e, com infinito amor, desce ao homem, ao homem em sua culpa e miséria com um juízo sem fim diante dele.

 

 Bible Treasury 15:90

O Batismo de Jesus

 

Jesus Se apresenta para o batismo, mas vem para Se colocar no meio de Seu povo. Certamente Ele não Se une ao povo rebelde e intratável, mas desde o primeiro passo dado por aqueles que, pela graça, ouvem a palavra do testemunho de Deus, desde o primeiro passo no bom caminho, Ele é encontrado com eles em Sua infinita graça. Conhecemos e concordamos com o testemunho de João de que Aquele que veio não tinha necessidade de arrependimento. Pelo contrário; Ele estava cumprindo a justiça. Mas para os Seus, era exatamente a coisa de acordo com Deus. A vida de Deus, que emitiu seu primeiro sopro na atmosfera de Deus, deu o primeiro passo no caminho divino no meio dos homens, em direção ao reino que iria aparecer. Ele não os deixaria lá sozinhos; Ele toma o Seu lugar com eles. Graça infinita, doce pensamento, cheio de Seu amor para com o coração dos Seus!

 

Observe também como Ele Se humilha aqui ao nível de Seu mensageiro: “Assim nos convém cumprir toda a justiça”. Ele diz, por assim dizer: “Você tem sua parte, Eu a Minha, na realização da vontade de Deus”. Lá, Ele já é um Servo! Ele é batizado, e toma Seu lugar no meio dos Seus – no meio do remanescente fiel que andava sob o efeito do poder da Palavra de Deus. E agora, onde está Ele, o Servo, Aquele que Se humilhou, que tem o Seu lugar com o Seu povo pobre, o mais pobre do Seu rebanho? O céu está aberto, o Espírito Santo desce sobre Ele, o Pai O confessa como Seu Filho, Ele é o modelo da posição que Ele assumiu por meio da redenção. O céu nunca havia sido tão aberto antes; nunca havia tido na Terra um Objeto que Ele pudesse reconhecer como fazendo Sua boa vontade. Agora havia.

 

Para nós também, o véu está rasgado e o céu está aberto. Nós fomos ungidos e selados pelo Espírito Santo assim como Jesus foi; o Pai nos reconheceu como sendo Seus filhos amados já neste mundo. Ele era tal em Seu próprio e pleno direito, digno de ser assim em Si mesmo. Somos introduzidos pela graça e redenção. Mas, quando adentra no meio de Seu povo, Ele mostra qual é a posição que n’Ele lhes pertence; como acabei de dizer, Ele é o modelo dela. Que felicidade! Que graça! Mas, observe com atenção, Sua Pessoa divina permanece sempre como tal, uma diferença além da qual nunca se perde, seja qual for Sua humilhação e Sua graça para conosco. Quando o céu está aberto para Jesus, Ele não tem nenhum Objeto acima, para o qual procura fixar sua atenção. Ele próprio é o Objeto que o céu contempla. Quando o céu está aberto para Estevão, assim como para nós pela fé, Jesus, o Filho do Homem, é o seu Objeto no céu, que está aberto para o Seu servo. Na graça, o Senhor toma um lugar conosco. Ele nunca perde o Seu próprio, seja pelo Pai, ou pelo coração do crente. Quanto mais próximos estamos d'Ele, mais O adoramos.

 

Observe aqui também outra coisa. É na humilhação voluntária de Jesus e por meio dela que toda a Trindade é pela primeira vez plenamente revelada. O Filho está alí, o Objeto especialmente notável como Homem, o Espírito Santo vem e permanece sobre Ele, e a voz do Pai O confessa. Revelação maravilhosa associada à posição que o Filho havia tomado! O Filho é reconhecido como Jeová no Salmo 2. O Espírito Santo é encontrado em todo lugar no Velho Testamento. Mas a revelação completa das três Pessoas na unidade de Deus – a base do Cristianismo – é reservada para o momento em que o Filho de Deus toma Seu lugar no meio dos pobres do Seu rebanho, Seu verdadeiro lugar na raça na qual Ele tinha Suas delícias, os filhos dos homens. Que graça é essa do Cristianismo! Que lugar é esse onde nosso coração é encontrado! Se ensinados por Deus, aprendemos a conhecer essa graça e Aquele em Quem ela veio a nós! Aqui, então, está nossa posição de acordo com essa graça em Cristo Jesus, diante de Deus nosso Pai, aceito no Amado.

 

J. N. Darby (adaptado)

Oposição à Verdade da Trindade

 

Satanás primeiro iludiu os homens introduzindo a adoração de muitos deuses (politeísmo) e, então, quando Deus chamou Abraão e sua semente para testemunhar contra esse mal, Satanás estava pronto com a mentira de que havia dois deuses – um da luz e outro das trevas. Deus então falou por meio de Isaías, o profeta, contra a falsidade do diabo no dualismo. O testemunho distinto de Israel para Deus, na medida em que havia fidelidade, era que somente Jeová era Deus – sendo Jeová o nome pelo qual Ele havia Se revelado no relacionamento de aliança com Israel.

 

A revelação da Trindade 

Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos uma revelação adicional de Deus, pois descobrimos que existem três Pessoas distintas em uma única Divindade – Deus, o Pai, Deus, o Filho e Deus, o Espírito Santo. A palavra “Trindade” tem sido usada para expressar essa bendita verdade. Que cada uma das Pessoas da Divindade é Deus definitivamente é afirmada na Escritura: “Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” fala do Pai como sendo Deus (Jo 20:17). “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” é uma evidência conclusiva de que o Filho é Deus (1 Jo 5:20). Muitos versículos falam da distinção da Pessoa do Espírito Santo e de Sua Divindade. Em Atos 5, Pedro acusou Ananias de mentir ao Espírito Santo no versículo 3 e, em seguida, no versículo 4, ele diz: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”. De quem, senão de Deus, pode-se dizer que Ele (o Espírito Santo) reparte particularmente a cada um, como Ele quer (1 Co 12:11)?

 

Embora existam indicações no Velho Testamento de que existem três Pessoas na Divindade, isso não foi realmente revelado até o batismo do Senhor Jesus – o Filho – no rio Jordão. Naquele momento, os céus se abriram sobre aquele belo Objeto na Terra, e o Pai falou ao Filho, dizendo: “Tu és o Meu Filho amado em Quem Me comprazo” e o Espírito Santo desceu sobre Ele (Mc 1:10-11; Mt 3:16-17; Lc 3:22).

 

O testemunho no Velho Testamento 

Essa revelação da Trindade foi obstinadamente recusada pelos Judeus, embora o Velho Testamento, que eles professavam acreditar e honrar, a indicasse; por exemplo, o próprio primeiro versículo de Gênesis 1 foi um enigma até que essa luz brilhasse sobre ele. “No princípio, criou Deus”, como está escrito na língua hebraica, tem um substantivo no plural (Elohim) combinado com um verbo singular (criou). A conclusão muito clara é que Elohim inclui as diferentes Pessoas da Divindade, e o verbo singular indica que Eles agem como Um na criação. (Devemos observar, no entanto, que quando a criação é atribuída a qualquer Pessoa da Divindade em particular, é ao Filho [Cl 1:16; Hb 1:2]). O mesmo ocorre também em conexão com a criação do homem. Em Gênesis 1:26, lemos: “E disse Deus [Elohim]: Façamos (nós) o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança”.

 

A imitação 

Está chegando o dia em que Satanás terá outra imitação com a qual irá se opor à Trindade da Divindade. Ele próprio liderará uma trindade do mal. Ele dará seu poder à cabeça do vindouro Império Romano revivido (chamado na Escritura de “a besta”), e juntos eles trabalharão com a cabeça apóstata de Israel na Terra da Palestina (o falso profeta que fala mentiras) numa última tentativa desesperada de frustrar os propósitos de Deus a respeito de Seu Rei em Sião.

 

Em um sentido, o falso profeta é chamado de anticristo, mas em outro sentido todo o triunvirato iníquo será anti (ou contra) Cristo – Cristo em seu caráter tríplice de Profeta, Sacerdote e Rei. O chefe do estado Judeu será “anti-profeta”, pois ele falará mentiras e fará maravilhas mentirosas; o chefe da confederação romana será “anti-rei”, pois ele será o governante que exercerá grande poder e desafiará Deus e Seu Cristo; o próprio diabo é “anti-sacerdote”, pois ele é o acusador dos irmãos e, nesse momento, lançará seu poder na luta contra o remanescente que teme a Deus.

 

Todos os inimigos abatidos 

Mas todo o poder e inteligência do homem e do diabo não valerão de nada, pois Cristo virá na hora designada e lançará a besta e o falso profeta no lago de fogo (Ap 19:20), e o diabo será lançado no abismo por mil anos, após isso ele também será lançado no lago de fogo onde estarão a besta e o falso profeta (Ap 20:1-3, 10). Todo o poder das trevas deste mundo deve ceder diante d'Ele quando Ele vier para fazer de Seus inimigos Seu escabelo (Sl 110:1), e Ele reinará até que Ele coloque todos os inimigos debaixo de seus pés (1 Co 15:25). E pensar que Ele associará – a nós que cremos n'Ele no dia de Sua rejeição – a Si Mesmo naquele dia em que Ele regerá as nações com um cetro de ferro (Sl 2:9; Ap 2:27)!

 

 “Senhor, apresse aquele dia de brilhante luz,

Aquela perspectiva resplendecente, infalível;

Onde Deus brilhará na luz divina,

Em glória que nunca se desvanece” 

 

P. Wilson

Oração a Deus

 

Não posso fazer uma oração a Deus sem toda a Trindade. “Porque por Ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito”.

 

J. N. Darby

Os Tratamentos de Deus para com Seus Filhos

 

Nós, que conhecemos, como indivíduos, o amor do Senhor Jesus devemos ter distintamente diante de nossa mente a insondabilidade de Sua Pessoa, percebendo que Suas glórias são do caráter mais elevado possível. Ele mesmo declara e diz: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (Mt 11:27). Qualquer tentativa de analisar e qualquer sentimento de que compreendemos o Filho está totalmente errado. O Filho apresentou o Pai e os planos do Pai, e não nos cabe compreender Aquele por Quem eles foram apresentados.

 

O Criador 

Em Colossenses 1, encontramos algumas glórias surpreendentes. Paulo fala da imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criação, preeminente ali, pois n’Ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. João afirma isso também. Nem uma coisa sequer foi trazida à existência senão por Ele, o Senhor Jesus Cristo. Aquele que traz cada coisa à existência precisa estar acima dessa coisa e, de fato, também acima de todas as coisas. Ele acrescenta que as coisas foram criadas não somente por Ele, mas para Ele. Tudo estava conectado com Ele e com a manifestação da Sua glória divina. Novamente (v. 17), “e Ele é antes de todas as coisas”. Ele era antes de tudo, pois era a única causa de tudo, e a causa deve ter prioridade e superioridade para todos os efeitos, e acrescenta: “e todas as coisas subsistem por Ele” ou permanecem juntas. Ele sustenta tudo pela mão de Seu poder.

 

Então ele continua falando de redenção, o lugar peculiar que Ele manteria para uma parte dos remidos, “E Ele é a cabeça do corpo, a assembleia; Aquele que é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, para que Ele tivesse a preeminência em todas as coisas: pois n’Ele, toda a plenitude da Divindade Se agradou habitar, e por Ele reconciliar todas as coisas a Ela mesma, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele, tanto as coisas sobre a Terra como as coisas nos céus” (Cl 1:18-20 – JND).

 

A Igreja e Israel 

Ele está aguardando por aquele maravilhoso momento em que haverá um novo céu e uma nova Terra, onde habita a justiça: tudo trazido por Si mesmo sob o poder de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e no céu acima de Si mesmo tendo a Igreja, a Noiva; na Terra, tendo Israel, a nação sob governo e então sob bênção; e tudo o que não tivesse se sujeitado, lançado no lago de fogo.

 

Quem, do início ao fim, é o Executor de tudo isso? O Filho de Deus, o Homem que me amou e Se entregou por mim – o Homem que foi pendurado entre dois malfeitores no Calvário. O poder divino era d'Ele; o nome de todos que deveriam estar com Ele em glória foi dado a Ele pelo Pai. Que tipo de Pessoa era essa? Oh, amados amigos, a luz que estava ativa no reino da criação foi manifestada. Que demonstração de poder, de ternura para os que estão na Terra! Que poder todo-poderoso que tirará do pó todos os que dormem na morte e os eleva à glória celestial e enche a Terra com uma nova raça, igual a Ele na glória acima, enchendo todos e para sempre, nos novos céus e na nova Terra, onde habita a justiça!

 

O plano divino 

Eu acho que posso traçar, desde a criação, os passos graduais do homem colocado no jardim do Éden até a ordem mais baixa da criação. Mas, desde a mais alta expressão da perfeição humana até o Deus infinito, existe um abismo entre os dois. O menor grão de areia transportado pelo vento tinha uma relação mais próxima comigo do que aquela que tenho, como criatura, com o Deus Todo-Poderoso e Infinito. Quando olho para o fim do que Deus está fazendo, fico impressionado. Existe a plenitude da glória divina em um Homem e, em toda a elevação daquela glória, o Homem perfeito e um povo no céu. O céu não foi feito para o homem; Ele deu a Terra aos filhos dos homens. Mas um povo é vivificado pelo Espírito Santo, adotado como filhos, revestidos com corpos gloriosos, e a partir d'Ele, o todo é mesclado juntamente até Deus. Todo o Pai é apresentado no Filho, Deus na glória divina, o Deus-Homem naquele trono, e uma companhia preparada como a Noiva na glória;  e, a partir disso, passo a passo, ele dá unidade ao que está diante da mente divina.

 

Oh, que lugar o Homem que morreu no Calvário tinha na mente de Deus Pai! Não é de admirar que o coração de Paulo estivesse explodindo: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3). “Todas as bênçãos espirituais” – são nossas por meio d'Ele, n'Ele que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Ele nos escolheu em Cristo antes que o mundo existisse. A mente volta ao lugar que Ele tinha no seio do Pai. O que entendemos por todas as bênçãos espirituais? Temos pensamentos claros sobre elas? Poderíamos nos assentar e escrever uma lista delas, assim como poderíamos escrever uma lista de bens materiais desta vida? Bênçãos para Israel – o que são em comparação?

 

Comunhão 

Nas coisas divinas, somente a Escritura não é suficiente; é uma questão de comunhão. Sabemos o que é comunhão com o Pai e o Senhor Jesus Cristo? As pessoas que sabem provavelmente mostrarão isso em seu rosto. Sabemos o que isso significa? Que coisa bendita é o Pai ter um Filho assim, e esse Filho ter um Pai assim! Dizer, deitado em sua cama à noite: “Lá estão Eles lá em cima; quão bendito Deus é com um Filho assim! Que Pessoa feliz é Cristo em ser o Filho de um Pai assim – o Filho que produziu todas as riquezas da graça, para que até eu possa apreciá-las!” O coração olha de Um para o Outro, conhecendo o relacionamento e o que o relacionamento envolve, e deleita-se nele. É uma pequena degustação da nova criação.

 

Temos que esperar com paciência com Ele, não apenas por Ele. Ele está esperando por Sua Igreja, que é criada por Deus em Cristo Jesus. Mas a Igreja é criada para as boas obras, e Deus as preparou de antemão para que andássemos nelas. Não há obras para as quais você foi criado? Aquele que morreu por você, que vive por você – você não tem que viver por Ele? Em grandes coisas? Não, em pequenos detalhes. Comer para Ele, beber para Ele, dormir e acordar para Ele. Como isso enobrece todo o percurso de um Cristão! Quando eu descansar, os olhos de Cristo estarão sobre mim? De manhã, quando eu começo, é com Cristo – viver para Cristo? Como posso? Nós somos um espírito com Ele.

 

G. V. Wigram (adaptado)

A Unidade do Amor Por Nós

 

Fiquei profundamente interessado e comovido com a reciprocidade de interesse entre o Pai e o Filho em Seu amor por nós (João 17). Suas comunicações são entre Si, ou pelo menos pela boca do Filho que Se dirige ao Pai, e eu aprendo a maneira pela qual Eles compartilham esse amor. O Pai nos deu ao Filho; o Filho nos manifestou o nome do Pai. Ele guardou os discípulos em nome do Pai; agora o Pai deve guardá-los. O Pai deve abençoá-los porque são Seus, mas também porque o Filho é glorificado neles. O Filho também nos deu todas as palavras que o Pai Lhe deu para Seu próprio gozo. Que pensamento, que o Pai e o Filho pensam assim sobre nós!

 

J. N. Darby

A Plenitude da Divindade

 

Na frase “foi do agrado [do Pai] que toda a plenitude n’Ele habitasse” (Cl 1:19 – ARC), o leitor pode perceber, logo à primeira vista, que a expressão “do Pai” foi inserida por nossos tradutores. Isso nos priva do desenvolvimento da glória na Pessoa de nosso mais bendito Senhor. “Pois n’Ele toda a plenitude da Divindade Se agradou habitar” (JND); Da forma como está redigida em várias versões, é apenas o prazer do Pai sobre o Filho, o que considero uma depreciação injuriosa da glória divina do Filho, privando-nos da revelação daquilo em que, para mim, consiste o Cristianismo – uma revelação da Trindade conhecida no relacionamento a que somos introduzidos pela fé nela. No capítulo 2, temos o fato: “Porque n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9), isto é, na encarnação do Filho. Enquanto Ele era o Filho em união pessoal com a carne como Jesus, não havia separação do Filho em relação ao Pai ou ao Espírito, embora fossem muito distintos em Seu relacionamento. Portanto, o Senhor diz que, embora Ele próprio tenha operado os milagres, “o Pai, que está em Mim, é Quem faz as obras” (Jo 14:10), e ainda: “se Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus” (Mt 12:28). Que Ele era o Filho, no entanto, é o objeto direto da fé, mas revelando o Pai e, portanto, “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Em uma palavra, a plenitude da Divindade (como é declarado pelo Espírito a respeito d’Ele) “n'Ele habita corporalmente”. Essas coisas podem ser difíceis quanto à explicação humana, mas não quanto à comunhão, onde está o Espírito de Deus, pois Ele revela em comunhão, segundo o poder da verdade, e de nenhuma outra maneira. E acredito que, embora o intelecto humano se despedaçe contra a glória da revelação divina, a plenitude de nosso gozo e esperança, a solidez de nosso Cristianismo e, consequentemente, a força e energia Cristãs dependem principalmente da clareza com a qual estamos concientes da unidade e Trindade, tornadas conhecidas a nós na encarnação, que é a revelação dela. Creio ser essa uma revelação conhecida, onde somente pode ser conhecida, em comunhão, pelos que foram feitos participantes do Espírito pela fé em Cristo Jesus.

 

J. N. Darby (adaptado)

A Trindade

 

Demos louvor ao Pai,

Deus em Quem nos movemos e vivemos;

O louvor dos filhos Ele gosta de ouvir;

Os cânticos dos filhos deleitam Seus ouvidos.

 

Demos louvor  ao Primogênito,

Cristo, o Profeta, Sacerdote e Rei;

Com alegria elevamos nosso mais doce cântico

Ao Cordeiro que uma vez foi morto!

 

Demos louvor pelo Espírito Santo

Enviado do céu no Pentecostes!

É somente por meio d’Ele que vivemos,

E a preciosa verdade recebemos.

 

Abençoada seja a nossa porção

Glorificando a Trindade;

Pelo evangelho do alto,

Pela palavra que “Deus é amor”.

 

Hinário Little Flock, Hino  131


 “O Pai, que está em Mim, é Quem faz as obras”

João 14:10


 

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