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Sofrimentos (Outubro de 2010)

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Revista mensal publicada originalmente em Outubro/2010 pela Bible Truth Publishers

ÍNDICE


          Tema da edição

          W. Brockmeier

          Bible Treasury N5:348, adaptado

          W. J. Prost

        J. N. Darby

          Selecionado de J. N. Darby

          Girdle of Truth 3:393, adaptado

          Girdle of Truth, adaptado

          W. J. Prost

          W. W. Fereday, Bible Treasury

          G. V. Wigram

          Autor desconhecido

 Sofrimento


O sofrimento entrou na criação pelo pecado. Quando o vindouro e eterno dia de Deus e glória começar, o pecado e o sofrimento terminarão para sempre. Então, as únicas evidências físicas de que o pecado já existiu serão as marcas no corpo de nosso Senhor Jesus. No presente “toda a criação geme e está juntamente com dores”.

 

É bom lembrar que o fundamento de todas as nossas bênçãos foi estabelecido pelo sofrimento, o sofrimento de Cristo. Na curta e primeira epístola de Pedro, ele fala sobre o sofrimento dezesseis vezes e sete delas se referem aos sofrimentos de nosso Senhor.

 

Embora não seja natural querer sofrer, Deus está usando até aquilo que o pecado causou para o nosso bem. Deus nos assegurou que Ele faz todas as coisas cooperarem juntamente para o bem; essas “todas as coisas” inclui o sofrimento. Somente no sofrimento estamos nas circunstâncias necessárias para aprender a conhecer nosso Deus como Deus de toda consolação.

 

Quando sofremos, podemos dizer ou pensar sobre alguém que procura nos consolar: Você não entende o que estou passando – e isso pode estar correto. Mas nunca podemos realmente dizer isso sobre o Príncipe de nossa salvação, que foi aperfeiçoado pelos sofrimentos. Ele agora é nosso perfeito Sumo Sacerdote e Consolador. A todo o momento, o convite para nós é: “Vinde a Mim... e Eu vos aliviarei”.

 

Tema da edição

 A Aflição no Salmo 119

 

O Salmo 119 é talvez mais conhecido por suas inúmeras referências à Palavra de Deus e designações variadas a ela. Ele respira a linguagem do remanescente Judeu num dia futuro, quando a lei estará escrita em seus corações, que é um dos componentes da nova aliança, distinta da velha aliança que foi escrita em tábuas de pedra (Jr 31:33).

 

Sabendo disso, é interessante, então, que encontramos o pensamento de aflição mencionado sete vezes neste Salmo. O sofrimento é abordado em muitos aspectos diferentes na Escritura e para propósitos variados, ordenados por nosso Deus. Se considerarmos a aflição à luz do caráter desse Salmo em particular, isso nos impressionará com a importância e a relevância da Palavra de Deus em nossa vida durante tempos de clara provação. É nesse contexto que consideraríamos as reflexões do salmista. Além disso, há crescimento na alma à medida que passamos de uma menção de aflição para outra.

 

Consolo não é libertação 

“Isto é a minha consolação na minha aflição, porque a Tua Palavra me vivificou” (v. 50).

 

Frequentemente, quando chegam as provações, nossa primeira reação é tentar nos livrar completamente da provação ou, pelo menos, procurar diminui-la. Em contraste com essa atitude, o salmista descobriu a Palavra de Deus ser um consolo e refrigério ao seu espírito. Ele não diz nada sobre a ajuda do homem ou a promessa de libertação, mas fala sobre o que a Palavra de Deus significava para ele em sua aflição. Já descobrimos que a Palavra de Deus é um consolo para nossa alma em tempos de provação? Esse foi apenas o começo da obra do Senhor com ele na fornalha da aflição (Is 48:10).

 

O resultado 

“Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a Tua Palavra” (v. 67).

 

O salmista agora vai além de falar do consolo recebido pela Escritura em seu sofrimento e reconhece que havia um curso de afastamento seu do Senhor antes que a aflição chegasse. Um resultado imediato da aflição é que devemos retornar ao Senhor se temos nos afastado d’Ele, mesmo que apenas interiormente. Mais do que isso, a Palavra de Deus, que antes não tinha controle sobre a alma, agora é valorizada e guardada. A Palavra de Deus, quando estimada nas afeições, nos preservará de um caminho que nos afasta do Senhor.

 

Para o nosso bem 

“Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os Teus estatutos” (v. 71).

 

Costumamos citar a Escritura que nos dizem que “sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28), mas a fé precisa estar em atividade para que falemos daquilo que é desagradável, difícil e doloroso como sendo “bom” ou para o nosso bem. A razão pela qual o salmista poderia falar de aflição dessa maneira foi que, por meio da provação, ele aprendeu os estatutos do Senhor. Estamos familiarizados com o aprendizado acadêmico, como em um livro didático, mas para aprender experimentalmente o que encontra a aprovação do Senhor, precisamos nos aproximar d’Ele para aprender com Ele. 

 

Julgamentos corretos 

“Bem sei eu, ó SENHOR, que os Teus juízos são justos, e que segundo a Tua fidelidade me afligiste” (v. 75).

 

O salmista continua a crescer em sua alma. Ao encontrar alívio na aflição, e depois experimentar restauração e instrução como resultado da aflição, ele agora reconhece o caráter justo do Senhor ao afligi-lo. Ele chegou ao ponto em que vê as coisas como o Senhor as vê. Ele percebe que a aflição era necessária para ele, com base no que ele veio a conhecer do Senhor. Isso vai além do que ele achava que eram suas necessidades, mas traz o que o caráter do Senhor exigia de Seu servo. 

 

Preservação 

“Se a Tua lei não fora toda a minha recreação, há muito que pereceria na minha aflição” (v. 92).

 

Agora, refletindo, o salmista reconheceu a gravidade da provação em que ele esteve, e que somente ao encontrar seu prazer na lei do Senhor, foi ele preservado no caminho de fé. Quão grande foi seu progresso! A Palavra agora ofusca a provação. A Palavra que provê alívio foi aprendida e valorizada na alma, e o levou a entender os pensamentos de Deus e a retidão dos caminhos de Deus, e agora se tornou seu deleite, assim como do homem bem-aventurado do Salmo 1. Quão elevada é a porção de se “gloriar em Deus” (Rm 5:11) e se deleitar em Sua Palavra. 

 

Vivificação 

“Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó SENHOR, segundo a Tua Palavra” (v. 107).

 

A aflição agora se aprofunda, mas o Senhor não nos prova acima do que somos capazes de suportar (1 Co 10:13). Com base no que ele experimentou pela primeira vez em tempos de provação, o salmista agora clama diretamente ao Senhor pela mesma vivificação. Ele sabe onde o alívio pode ser encontrado, não é uma questão de aprender isso. Ele conhece a fonte de consolo e que mesmo essa profunda provação não está além da capacidade de o Senhor ajudar.

 

Libertação 

“Olha para a minha aflição, e livra-me, pois não me esqueci da Tua lei” (v. 153).

 

Podemos nos perguntar onde o progresso é evidente quando chegamos a essa última menção de aflição. À primeira vista, parece ter um terreno mais baixo do que o primeiro exercício, pois aqui vemos que o sofredor está solicitando a libertação da própria provação, em vez de buscar algum ganho espiritual por meio da provação. No entanto, não devemos ler muito rapidamente, pois a última parte do versículo parece dar uma pista da base a partir da qual ele expressa seu pedido.

 

Em 1 João 2, lemos sobre pais, jovens e filhinhos. No versículo 13, lemos sobre o que caracteriza cada grupo. Nos versículos 14‑27, são dadas instruções específicas para cada grupo com base em seu crescimento espiritual. A palavra de instrução para os pais é simplesmente uma reafirmação de seu caráter. Cristo é tudo para eles, e nenhuma instrução adicional é necessária. Da mesma forma, o salmista não esqueceu a lei do Senhor. Ela se tornou seu deleite, seu único recurso. Ele aprendeu por provação o que o Senhor desejava para ele. Tudo o que o aguarda é a sua libertação final. Enquanto cantamos às vezes, “E quando tivermos aprendido nossa lição, e nosso trabalho de sofrimento for concluído, nosso Pai sempre amoroso dará as boas-vindas a todos”. O tempo da aflição logo passará. O tempo para as lições a serem aprendidas um dia terminará num instante. Que possamos então aprender, por meio e nas variadas aflições da vida, uma crescente apreciação da Palavra de Deus que nos levará a uma comunhão mais profunda com nosso Senhor, que não conheceríamos de outro modo.

 

W. Brockmeier

Propósitos Divinos no Sofrimento Humano

 

A Escritura apresenta o sofrimento como cumprindo pelo menos seis propósitos distintos.

 

  1. No caso dos egípcios, em primeiro lugar, é infligido como punição pelo pecado – a opressão de Israel.

  2. Na história de Davi, lemos que antes de ser afligido, Davi se afastou; por meio do sofrimento (castigo), ele aprendeu a ser obediente à Palavra de Deus.

  3. Em Jó, encontramos o registro da bondade de Deus em Seu tratamento com o paciente patriarca, desde seus primeiros dias, e, ainda, Jó é levado a confessar, apesar de tudo o que Deus havia sido para ele: [Eu] me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Sua libertação de si mesmo é realizada por meio de seus sofrimentos, e as bênçãos ainda mais abundantes marcam o fim de sua história.

  4. Ao contar sobre uma experiência notável em sua vida, o apóstolo Paulo nos diz, com inconfundível clareza, que o espinho na carne foi enviado com o propósito expresso de impedir a sua exaltação própria e, portanto, sofrer ajudou na prevenção do pecado.

  5. Em Hebreus 2:10, lemos que o Príncipe de nossa salvação foi aperfeiçoado pelos sofrimentos, sofrimentos que foram uma preparação para Sua obra e seus acompanhamentos necessários.

  6. Finalmente, em alguns incidentes da vida dos filipenses, encontramos o sofrimento no caráter de uma dádiva ou privilégio divino. O corpo místico de Cristo, como sua Cabeça gloriosa, está destinado a sofrer na Terra, o que é algo preparatório para o reino eterno do Ungido do Senhor, e por isso a Cabeça sofre naqueles de seus membros, dotados com essa graciosa dádiva.

    

Entre os muitos dons bons e perfeitos concedidos pela generosidade de nosso Deus que nos dá liberalmente, esse é o menos frequentemente transmitido, talvez, do que todos os outros, pois, embora seja moralmente o melhor de todos, quem sinceramente deseja esse dom? Poucos podem exercitá-lo para o louvor digno do grande Doador. Não é a língua eloquente e persuasiva que convence a consciência e toca o coração, que traz pecadores arrependidos em fé viva a Deus, e depois os edifica na sua santíssima fé. Não é o sopro da alma poética em refinada eloquência que acende o pensamento sincero em ação energética. Não é o poder misterioso dos grandes organizadores da vitória que leva os exércitos guerreiros a atos heroicos de sacrifício próprio, nem é qualquer outro dom ou poder que ganha renome mundial e abundância de fortuna. Não, de fato, não é nenhum desses dons, nem qualquer coisa que minimamente se assemelhe a nenhum deles, pois eles, a quem é concedida a bênção celestial, não recebem nenhuma das recompensas que os homens amam dar àqueles a quem gostam de honrar.

 

Mas os sofredores por amor d’Ele, embora seus sofrimentos e eles mesmos sejam desconhecidos por seus companheiros, já têm o sorriso de aprovação d’Ele conscientemente, e no devido tempo eles receberão a grande recompensa – d’Aquele que trilhou tão valentemente o caminho que agora eles seguem. Para tudo isso está escrito: “a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele, como também padecer por Ele”. Sim, “se sofrermos, também com Ele reinaremos” (2 Tm 2:12). O dom gracioso do sofrimento é um dom tão distinto e específico quanto o da cura, o das línguas ou de qualquer outro dom natural de Deus que conquiste honra e renome, além de recompensas mais substanciais. Mas esse presente transforma o abençoado recebedor talvez com mais certeza do que todos os outros, conformando-o à semelhança com Ele próprio e é, por causa dessa comunhão, o mais elevado, maior e mais nobre de todos os dons.

 

Bible Treasury N5:348, adaptado

Sofrendo Como Cristão

 

Já lemos em outro lugar nesta edição que o sofrimento é a porção prometida dos Cristãos neste mundo. Sua cidadania e esperanças são celestiais e, enquanto estão aqui embaixo, ele sofre porque segue um Cristo rejeitado.

 

Existem diferentes tipos de sofrimento pelos quais o crente pode ser chamado a passar. O crente sofre porque faz parte de uma criação que geme e ainda está sob o pecado. Como tal, ele experimenta doenças mentais e físicas, e todas as enfermidades degenerativas que eventualmente levam à morte, se o Senhor não vier antes. Da mesma forma, o crente às vezes sofre sob o governo de Deus, que pode permitir circunstâncias difíceis, doenças físicas e outras provações destinadas a falar com ele sobre algo em sua vida. Não é meu objetivo falar sobre nenhum deles neste artigo.

 

No entanto, o crente também pode sofrer porque ele pertence a Cristo, e eu sugeriria que há pelo menos três maneiras, pelas quais o crente sofre, relacionadas à sua associação com um Cristo rejeitado.

 

5 

Primeiro de tudo, o crente hoje sofre “por causa da justiça”. O Senhor Jesus disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5:10). Mais tarde, Pedro nos diz: “se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (1 Pe 3:14). Vivemos em um mundo injusto e, uma vez que rejeitou o Senhor Jesus, a Escritura chama Satanás de deus e príncipe deste mundo. Como resultado, a justiça sofre na era atual e o pecado é desenfreado. Do Senhor Jesus foi dito profeticamente: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade” (Hb 1:9). Como o crente tem nova vida em Cristo, ele também ama a justiça e sofre quando vê a injustiça ao seu redor.

 

À medida que a vinda do Senhor se aproxima, o mal é cada vez mais descontrolado. É tentador tentar acertar as coisas, mas não é hora de fazermos isso. Este é o dia da graça de Deus e, embora devamos ser testemunhas vivas a este mundo, não devemos agir em julgamento ou tratar com o mal. Quando Cristo voltar em julgamento, nós voltaremos com Ele, e então será a hora de julgar a injustiça.

 

Nosso lugar é, antes, ser seguidores daquilo que é bom (1 Pe 3:13) e estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Devemos mostrar justiça em nossa vida, enquanto esperamos o dia em que Deus “com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou” (At 17:31).

 

Sofrendo por Cristo 

Segundo, o crente também sofre por Cristo. Isso é algo mais profundo do que sofrer por causa da justiça, pois envolve não apenas um ódio ao mal, mas também um amor por Cristo. Posso odiar a injustiça sem referência direta a Cristo, mas o sofrimento por Cristo traz Ele mesmo à cena. Paulo pôde dizer: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele, como também padecer por Ele” (Fp 1:29). Mais tarde, Paulo poderia lembrar a Timóteo que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12). Quando Paulo (então Saulo de Tarso) no princípio de sua conversão, o Senhor disse a Ananias a respeito dele: “Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome” (At 9:16). Quantos queridos crentes desde então sofreram por Cristo, seja na perda de seus bens, em prisão, em danos corporais ou até na morte.

 

É o nome de Cristo que traz a reprovação, pois este mundo O expulsou e não querem Seus seguidores. O mundo gosta dos resultados do Cristianismo, e mesmo um mundo injusto aprecia a justiça em outro. Mas se o nome de Cristo é trazido, imediatamente há reprovação, pois Ele não é desejado.

 

Embora nos prometam esse tipo de sofrimento, pode ser muito difícil de suportar e, como resultado, alguns queridos crentes fizeram concessões para evitá-lo. Às vezes, as concessões tomam a forma da negação real de Cristo, como aconteceu com Pedro na época da crucificação do Senhor. Em outros momentos, pode assumir a forma de caminhar com o mundo até certo ponto, envolver-se em programas que tentam melhorar o mundo e, talvez, estar conectado a um sistema religioso que também esteja envolvido nessas atividades. Certamente precisamos da graça para sermos fiéis ao nosso Senhor e Salvador, que nos amou e morreu por nós. A cruz de Cristo nos separou para sempre deste mundo, e carregar Sua cruz também me separa da religião mundana. O verdadeiro Cristianismo faz tudo de Cristo e nada do homem, e o mundo não quer isso.

 

Sofrendo com Cristo 

Existe um tipo final de sofrimento para o crente, o de sofrer com Cristo. Isso é uma coisa mais profunda do que mesmo sofrer por Cristo. “Se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Uma expressão semelhante ocorre em 2 Timóteo 2:12: “Se sofrermos, também com Ele reinaremos”. Em Filipenses 3:10, Paulo fala da “comunicação [comunhão – KJV] de Suas aflições”. Muitas vezes, esse tipo de sofrimento é invisível, mas talvez seja o mais precioso, pois somos identificados com Ele e Sua causa neste mundo. Envolve ver a condição deste mundo como Cristo a via, e a sentir como Ele a sentiu, quando viu os resultados do pecado. Tudo isso não foi apenas por causa de Sua santidade, mas também por causa de Seu amor. Quando o amor divino está operando em nossa alma, também sentiremos, em certa medida, o tipo de tristeza que Ele sentiu e continua a sentir. Nosso bendito Mestre pôde chorar na sepultura de Lázaro quando viu a tristeza e o sofrimento que o pecado havia trazido. Ele poderia chorar por Jerusalém quando eles recusaram todas as propostas de Deus em graça. No mesmo espírito, Paulo podia chorar sobre aqueles que andavam como “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3:18).

 

Em nossos dias, o sofrimento com Cristo pode assumir muitas formas. Não apenas vemos e sentimos a condição deste mundo como Cristo sente, mas também vemos e sentimos a condição da Igreja como Ele sente. Quando a Palavra de Deus é deixada de lado, quando a verdade de Deus é abandonada, quando há indiferença em Suas reivindicações, quando há pouca evidência de amor por Cristo, então sofremos, se somos fiéis a Cristo. Sentimos e sofremos com outros crentes que talvez estejam em circunstâncias difíceis, mesmo que as circunstâncias sejam o resultado do governo de Deus. Paulo poderia dizer aos coríntios: “Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase?” (2 Co 11:29). No entanto, esse sofrimento era em grande parte invisível. É ter o coração de um pai para com seus filhos, como Paulo poderia fazer alusão em 1 Coríntios 4:15: “Não teríeis, contudo, muitos pais”.

 

A glória vindoura 

Todo sofrimento, seja por causa da justiça, por Cristo ou com Cristo, encontrará sua resposta na glória vindoura. Em qualquer medida em que tivermos compartilhado de Sua rejeição, compartilharemos de Sua glória em um dia vindouro. Mais do que isso, essas experiências de sofrimento aqui embaixo nos permitem conhecer a Cristo de uma maneira que nunca poderemos aprender na glória. Lá em cima, não haverá nada que cause tristeza; é somente aqui que podemos ter o privilégio de sofrer por e com nosso bendito Mestre. No entanto, as memórias de passar por isso com Ele e ter tido comunhão com Seus sofrimentos permanecerão por toda a eternidade. Talvez o “maná escondido” (Ap 2:17) se refira a isso – o desfrutar de Cristo lá em cima em tudo o que Ele foi para nós durante a jornada no deserto, enquanto que a “pedra branca” é sua recompensa por compartilhar de Seus sofrimentos. Temos um tempo tão curto para compartilhar esses sofrimentos. “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).

 

W. J. Prost

A Compaixão de Cristo

 

Temos um Sumo Sacerdote que penetrou nos céus – como Arão pelas sucessivas partes do tabernáculo – Jesus, o Filho de Deus. Ele, em todas as coisas, foi tentado como nós, mas sem pecado, de maneira que pode Se compadecer de nossas fraquezas. A Palavra traz à luz as intenções do coração, julga a vontade e tudo o que não tem Deus como seu objeto e sua fonte. Então, no que diz respeito à fraqueza, temos Sua compaixão. Cristo, é claro, não tinha desejos maus: Ele foi tentado em todos os aspectos, mas sem pecado. O pecado não teve parte nisso de forma alguma. Mas não desejo compaixão pelo pecado que está em mim. Eu o detesto – desejo que seja mortificado – julgado sem misericórdia. Isto é o que a Palavra faz. Por minhas fraquezas e dificuldades, busco compaixão e a encontro no sacerdócio de Jesus. Não é necessário, para se compadecer de mim, que uma pessoa sinta no mesmo momento o que estou sentindo – antes pelo contrário. Se estou sofrendo dor, não estou em condições de pensar tanto na dor de outra pessoa. Mas, para me compadecer dele, devo ter uma natureza capaz de apreciar sua dor.

 

Assim é com Jesus ao exercer Seu sacerdócio. Ele está em todos os sentidos além do alcance da dor e da provação, mas Ele é Homem. E Ele não apenas possui a natureza humana que, com o tempo, sofreu angústia, mas experimentou as provações pelas quais um santo precisa passar de forma mais completa do que qualquer um de nós mesmos, e Seu coração, livre e cheio de amor, pode se compadecer inteiramente conosco, tanto de acordo com Sua experiência do mal como de acordo com a liberdade gloriosa que Ele agora tem para prover e cuidar dessa natureza humana. Isso nos encoraja a manter firme nossa confissão, apesar das dificuldades que assolam nosso caminho, pois Jesus Se preocupa com elas, de acordo com Seu próprio conhecimento e experiência do que são e de acordo com o poder de Sua graça.

 

O trono da graça 

Portanto, estando nosso Sumo Sacerdote lá, podemos ir com toda ousadia ao trono da graça, para encontrar misericórdia e a graça adequada para nós em todos os momentos de necessidade: misericórdia, porque somos fracos e vacilantes; graça necessária, porque estamos envolvidos em uma guerra que Deus reconhece.

 

Observe, não é que vamos ao Sumo Sacerdote. Isso é feito com frequência, e Deus pode ter compaixão, mas é uma prova de que não compreendemos completamente a graça. O Sacerdote, o Senhor Jesus, Se ocupa de nós, Se compadece de nós, por um lado, e, por outro, vamos diretamente ao trono da graça.

 

O Livro de Hebreus não fala aqui sobre quedas; encontramos isso em 1 João 2. Ali também está em conexão com a comunhão com o Pai; aqui, com o acesso a Deus. Seu objetivo aqui é nos fortalecer, nos encorajar a perseverar no caminho, consciente das compaixões que possuímos no céu, e que o trono está sempre aberto para nós.

 

J. N. Darby

Sofrendo na Carne

 

A vontade da carne é o princípio prático de todo pecado. A vontade é não obediência a Deus, e, portanto, é pecado em seu próprio princípio, mas, sendo a vontade da carne, se manifesta nos desejos da carne. Ela não se volta para Deus, mas, ao contrário, se inclina para o que a carne deseja. A vontade da carne é a ação da natureza em inimizade contra a vontade de Deus. O sofrimento na carne é o oposto dessa vontade ou ação da natureza. Isso é aplicado tanto a Cristo quanto a nós, mas, no caso de Cristo, é aplicado à Sua morte (Veja 1 Pedro 3:18). Em vez de ser desobediente em tudo, é perfeito em obediência, desde a divina sujeição de toda a vontade no Salmo 40 para tomar o lugar de obediência, Ele foi até à morte e foi obediente enquanto sofria o poder de Satanás e a ira de Deus, em vez de não obedecer. Ele era perfeito em obediência, não poupando a carne em nada e morreu para o pecado uma vez; isto é, Ele foi até a morte em suas formas mais completas, em vez de Se afastar de fazer a vontade de Deus ou ter uma vontade própria. Ele morreria ao invés de ter uma vontade ou qualquer coisa além da vontade de Deus. Assim, o pecado não encontrou entrada ou lugar n’Ele. Um pedaço de fruta serviu para levar Adão ao pecado; nada poderia levar Cristo a isso. Ele não apenas nunca teve nenhum pecado, mas passou por tudo o que podia induzir a vontade própria, e nada foi capaz de levá-Lo a pecar. Ele sofreu na carne. O pecado ficou totalmente frustrado e para sempre – toda a prova foi enfrentada e nada serviu para introduzir o pecado. Ele, portanto, descansou de toda a questão relativa ao pecado. Ele tem um sábado divino e eterno quanto a isso. Que bendito é isso! Na Terra Ele não teve esse descanso. Ele sempre teve vitória sobre o pecado – nunca deixou que nada além de obediência governasse Seu coração, e provou que Ele tinha uma natureza contrária ao pecado, com o propósito de obedecer e nada mais. Isso era perfeição. Entre Ele e Seu Pai, no exercício do amor em obedecer, Ele tinha gozo, mas até morrer, não teve descanso quanto ao pecado.

 

Isso tem, como um grande princípio, sua aplicação a nós. “Aquele que padeceu na carne já cessou do pecado” é um princípio abstrato. Quando a vontade da minha carne opera, eu não deixei de pecar, mas quando, pelo poder do Espírito Santo, ajo inteiramente e me sinto inteiramente na nova natureza, e não é permitida a vontade carne, nem qualquer pensamento que pertença a ela encontra entrada, porque estou cheio do que o Espírito me dá e obedeço no gozo da obediência, embora sofra em relação ao homem, então, nesse sentido, deixei de pecar. Como o pecado está na carne, pode ser em nós uma questão de grau. É parcial, temporário, talvez, em sua realização, mas o princípio permanece sempre verdadeiro, e o sofrimento (ou seja, até onde há sofrimento) na carne, o pecado não tem lugar em mim, meus pensamentos, mente e ser moral. A carne não é mudada, mas se eu sofrer apenas nela, a carne em mim não tem operação quanto à vontade.

 

Selecionado de J. N. Darby

 Sofrendo por Cristo e Castigo

 

Hebreus 12:1-13 

Quando olhamos para Jesus como um Homem em glória, vemos Alguém que chegou ao final do curso. Ele percorreu todo o curso de fé, passou por todas as provações dele; Ele começou e terminou. Você nunca pode se encontrar em nenhum lugar de provação, onde um crente possa ser encontrado, que Cristo não tenha estado nele. Ele percorreu todo o caminho e está assentado à direita do trono de Deus.  é onde a estrada leva; portanto, não desista da cruz. Jesus suportou e Se assentou lá – vale a pena correr por isso. Ele veio em amor divino, mas caminhou no caminho em que temos que andar com todos os motivos que nos sustentam e nos animam. Ele tinha diante d’Ele o gozo de estar diante de Deus naquele lugar abençoado. Que consolo no caminho da dificuldade e da provação, ver que Ele o trilhou por completo e foi sustentado em tudo da maneira que somos!

 

Sofrimento e castigo 

Ao longo de todo o caminho, enquanto avançamos em direção ao descanso em glória, Deus está exercitando nosso coração para nos tornar participantes de Sua santidade. Estes exercícios têm um duplo caráter: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado” (Hb 12:4). Aqui temos dois princípios que somente o Espírito de Deus poderia conectar: primeiro, resistir até ao sangue, o que implica sofrer por Cristo; segundo, ao mesmo tempo, sofrer em conflito contra o pecado e por meio do qual o pecado é, na prática, julgado em nós. Deus conecta nossa luta contra o pecado ao sofrimento por Cristo; resistir até ao sangue é morrer por Cristo, mas como isso ocorre no conflito contra o pecado, ele não pode ser verdadeiramente realizado quando o princípio do pecado e a nossa vontade própria estão ativos em nós. Portanto, esse mesmo sofrimento serve como disciplina e, no versículo seguinte, é acrescentado: “Filho Meu, não desprezes a correção do Senhor”. Quem pensaria em Deus nos castigando no exato momento em que estávamos sofrendo por Cristo? Mas é assim, pois o “eu” é tão sutil; se mistura até mesmo com o sofrimento por Cristo e atrapalha nosso serviço, e podemos ter medo até de desonrar ao invés de servi-Lo. Estamos propensos a desanimar quando temos que nos julgar no meio do conflito, e até podemos ficar tentados a sentar e não fazer absolutamente nada. O julgamento de si mesmo é correto, mas não o desânimo. Suponha que eu esteja servindo a Cristo e desanime na guerra. Por que isso está acontecendo? Confiança no meu próprio mau uso do poder – falta de fé no fato que Deus fazendo a Sua obra. Ora, o que Deus está fazendo? Deus está usando o desânimo para me exercitar a julgar a mim mesmo. Não existe um passo de nossa vida que não faça parte do processo em que Deus está tratando conosco. É um processo de quebrantar a carne, de modo a me fazer depender da salvação de Deus. Após essa libertação, é um sistema de experiências para me exercitar a caminhar com Deus. A questão da libertação nunca mais surge, mas há uma quantidade de coisas a serem julgadas para que eu possa desfrutar da comunhão com Deus.

 

Moisés 

Em Moisés, temos um exemplo dessas duas coisas; ele estava sofrendo por Cristo e também sofrendo por causa de sua carne, ao mesmo tempo. O Espírito de Deus nos fala do caminho brilhante de fé em que ele estava andando quando veio entre os filhos de Israel (Hb 11:24-26), mas a carne o acompanha, e com uma mistura de energia humana, nutrida pela posição em que esteve, ele mata o egípcio. Deus certamente permitiu que a ruptura fosse completa, mas Moisés então teme a ira do rei. Em suas ações, ele olha para um lado e para o outro, e quando é conhecido, ele foge. Ele estava, em sua essência, sofrendo por Cristo – suportando o opróbio de Cristo da forma mais abençoada, mas tinha ainda muito que ser purificado e subjugado nele, e se ele teve que fugir porque se identificara com o povo de Deus, ele teve que passar por aqueles quarenta anos de disciplina para afastá-lo de toda confiança na força humana. Quando isso acaba, vemos quão pouca coragem a carne pode ter na presença de dificuldades. Agora, embora a carne tenha realmente mostrado sua fraqueza, ele pode ser um deus para o Faraó.

 

Paulo 

Também em Paulo, vemos a mesma coisa. Um espinho na carne foi dado a ele, para que ele não se exaltasse. Vemos nele a ação da devoção na vida divina, e a ação da carne sendo refreada por aquilo que o tornaria desprezível em sua pregação (veja Gálatas 4:13-14). Quando o apóstolo assim sofria, sentia o espinho, e ele estava realmente sofrendo por Cristo, mas era necessário para deter a carne. Esse é o efeito dessa maravilhosa graça que emprega aqueles que ainda precisam aprender por si mesmos, como vasos de glória e de verdade divinas para ensinar aos outros. O vaso deve ser tratado bem como empregado. Deus, em certo sentido, tendo dado ocasião ao perigo de exaltação própria de Paulo pela abundância de revelações concedidas a ele, o protege do perigo.

 

Quão precioso é esse cuidado constante de Deus! Ele está sempre cuidando de nós. Os hebreus estavam ficando mundanos, e a perseguição vem. Isso é sofrer por Cristo, e ainda pelo pecado. E a mão de Deus está lá para dar por meio de todos os sentidos exercitados para discernir o bem e o mal. A obra está em andamento, embora eu não saiba tudo o que está acontecendo até depois. Quando a obra termina, eu me torno mais espiritual e sou capaz de ver o que Deus estava fazendo o tempo todo. Ele continuará Sua própria obra para Sua própria glória. O castigo nem sempre é por transgressão, mas, se não for por ela, é pelo princípio que produz transgressão ou que poderia produzi-la.

 

Girdle of Truth 3:393, adaptado

Sofrendo e Confiando

 

Daniel 3 

Em Daniel 3, temos uma imagem do espírito e caráter em que os piedosos passam por suas provações. Não é tanto para o caráter de suas provações quanto para o espírito daquilo que desejo brevemente chamar atenção. Anteriormente em Israel, Deus mostrou Seu poderoso poder em libertações temporais, como no caso do Faraó, mas conosco é diferente. Nós somos espiritualmente libertos; estamos aguardando o Filho de Deus vindo do céu. Aqueles que são fiéis a Deus sempre foram um povo que sofre. Obediência e confiança em Deus caracterizam Seu povo em todos os momentos.

 

Encontramos aqui que, além do amor ao poder, o homem usa a religião para unir e agrupar pessoas, para obrigar a conformidade com a palavra do rei, pois os homens usam a religião para manejar e influenciar os outros a obter seus próprios fins egoístas. Isso encontramos aqui em pleno desenvolvimento. O rei que exercia o poder de Deus e em cuja mão Deus o colocou, não o usou em favor de Deus. Em vez de usá-lo para servir a Deus, ele cria uma imagem e ordena que todos os homens a adorem. O que encontramos como resultado? O povo de Deus se abstém da idolatria no caráter do remanescente. O remanescente não se submeterá, nem tampouco eles se submetem. Claro, isso é visto como um grande crime, perturbando a coisa toda. Depois vem a perseguição, e a isso eles se submetem.

 

O poder de Deus 

Por mais que Deus permita que Seu povo sofra, nada deve alterar sua confiança n’Ele. A fé era algo tão simples na Babilônia quanto em Jerusalém. Deus é o Deus do céu e da Terra em todos os momentos, e ninguém pode impedir Seu poder ou o exercício dele em graça para com Seu povo. Ele pode permitir que eles sejam provados – Ele pode nem sempre dar libertação exterior, mas a paciência é sempre a mesma, e o fundamento da confiança também. Se as circunstâncias da provação são diferentes, o poder do Senhor de interferir é sempre o mesmo. As circunstâncias nunca impedem isso o mínimo que seja. A provação externa pode ocultar o poder de Deus de nossos olhos, mas Ele é sempre o mesmo. Não duvido que hoje em dia muitos corações estejam desanimados e prontos para dizer: “Quem nos mostrará o bem?” A resposta é a seguinte: “SENHOR, exalta sobre nós a luz do Teu rosto”. E o que mais se poderia conseguir? O que é melhor ou mais poderoso que a luz do rosto de Deus? Por mais tristes que possamos estar com as coisas, isso não é para enfraquecer nossa confiança em Deus. Foi quando tudo parecia impossível em Israel que “Emanuel” foi encontrado entre eles, e por mais desesperadora que seja a condição do povo de Deus quando um falso deus é estabelecido, Deus permanece o mesmo.

 

Os fiéis sofrem 

Observe o perfeito poder do rei e a perfeita paciência desses fiéis sofredores. Se eles tivessem resistido ao poder, isso teria acabado com eles em um momento, pois eles o teriam tirado da mão de Deus. Mas agora eles mudam a palavra do rei por sua paciência. Se eles se opusessem a Nabucodonosor, tudo teria terminado, pois Deus deu ao rei seu poder, mas eles se submeteram e, portanto, Deus poderia libertá-los.

 

Qual é o efeito desses fiéis estarem na provação? A identificação de seus nomes com Deus, assim como Ele era chamado o Deus de Abraão. “Pelo qual todo o povo, e nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego”. Que coisa bendita estar assim associado com Deus, tendo Seu nome associado ao deles, e quão bendita foi a identificação dos santos com o Deus que não Se envergonha de ser chamado o Deus deles! Foi por meio da não resistência que eles alcançaram essa glória, ao se submeterem ao poder e à vontade de Deus, embora o mal, no que diz respeito ao exercício desse poder, estivesse nas mãos do rei. Se tomarmos um lugar humilde e baixo de sofrimento sob poder, encontraremos o poder de Deus se manifestando para livrar. Vemos aqui que eles têm quietude e paz de coração, seja se recusando a adorar, sofrendo na fornalha ou saindo dela com honra, e isso certamente trará a recompensa bendita de sempre ter o nome de Deus identificado com o nosso. O Deus a Quem conhecemos como nosso Deus e a Quem nos apegamos na provação aqui embaixo, e Ele a nós, é o mesmo cujo nome se associa a nós na glória.

 

Girdle of Truth, adaptado

A Glória Futura Supera o Sofrimento Presente

 

Romanos 8:18-27 

É confortante e instrutivo notar a maneira que a glória esperada superava em muito os sofrimentos na mente do apóstolo. Não é que ele não tenha sofrido – devemos sofrer, e sofrimentos não são agradáveis, mas o sofrimento logo acaba! “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). Não é apenas que ele sabe que então terá descanso e glória, mas que percepção da glória ele tem agora – a glória que será exibida na manifestação dos filhos de Deus! É “a glória que em nós há de ser revelada” – a nossa glória e, ainda assim, a glória de Deus. “Se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Se a nossa parte é sofrer, também é assim em relação à glória a ser revelada. Enquanto Cristo (o Filho) reflete a glória do Pai, a mulher (a Igreja) reflete a glória do homem. Então também há a percepção, pelo poder do Espírito Santo, de que ela nos pertence – de que ela é realmente nossa. Se um homem tem a percepção de que algo é dele, não haverá como dar as costas ao que ele sabe que é seu, mas sim chegar o mais rápido possível. Se seu coração está nesse estado, cheio do Espírito Santo, ele passará pelo mundo como um anjo passaria por ele. Você acha que, se Gabriel fosse enviado para trazer uma mensagem para este mundo, ele desejaria permanecer aqui? Não, ele não poderia ficar onde tudo está corrompido.

 

Mas é um princípio muito mais elevado que desfrutamos do que um anjo pode usufruir e, portanto, nunca pode sair do coração de um anjo a mesma canção de louvor que vem do coração do crente. Embora tenha sido observado que nunca se diz na Escritura que os anjos cantam, é dito que eles “falam”, “dizem” e “conversam”. Não poderia haver harmonia no cântico de um anjo em comparação com o nosso, pois seu coração não foi exercitado com provações como o nosso. Nunca tendo pecado, eles não podem saber o que é a alegria da salvação ou o que é ser fortalecido quando fraco, ou levantado ao fracassar ou consolado no sofrimento. Eles louvam, e bendizem a Deus, mas não podem conhecer o novo cântico que cantam os que passaram por tudo isso. Os quatro seres vivos não descansam dia e noite, dizendo: “Santo, santo, santo, Senhor Deus Todo-Poderoso” (JND), mas o assunto deles é a criação –  “porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Ap 4:11). Mas em Apocalipse 5 é a redenção: “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és... com o Teu sangue compraste [redimiste – JND] para Deus”.

 

A glória da cruz 

Paulo sofreu muito, mas isso apenas mostrou a glória de forma mais brilhante diante dele e mostra como a glória da cruz preenchia sua alma. As palavras “deste tempo presente” são impressionantes. A glória é tão presente, que ele chama o sofrimento de apenas momentâneo – “Porque a nossa leve e momentânea tribulação”. Se você conversar com alguém sobre esse presente século (mundo) mal e sua mente perceber a eternidade, você descobrirá que a eternidade é grande demais para permitir espaço para qualquer outra coisa. Nós nunca percebemos a eternidade, até que a preenchamos com o amor do Pai e a glória de Cristo. Se pensarmos na eternidade de outra forma, apenas olhamos para um mero vácuo. Ficaremos confundidos por um lado e cheios de glória por outro. Ao nos encontrarmos na glória de Deus, dificilmente sabemos como apreendê-la – “um peso eterno de glória mui excelente”. Isso não é algo para nos tornar orgulhosos com a “glória que em nós há de ser revelada”; não é uma mudança de tempo, mas a glória está presente em sua mente e ele percebe a glória. Então ele a expõe doutrinariamente: “Porque para mim tenho por certo” – Não meramente ‘ensinamos’ – “que as aflições deste tempo presente” – os sofrimentos atuais haviam perdido seu poder impeditivo, porque ele viu o poder de Deus neles e suportou as aflições de acordo com o poder de Deus. O melhor é fazer com que o coração associe-se conscientemente a toda essa bela cena. Se mantivermos nosso coração sempre ocupado com Cristo e a glória, haverá uma percepção de que estaremos sempre lá.

 

É surpreendente como a alma se torna suave quando está feliz no Senhor! Como remove toda a aspereza! Os santos não podem contender estando felizes no Senhor, embora possam contender sobre doutrina ou disciplina. Todos devemos olhar adiante e ter o coração cheio da glória. O efeito disso é nos colocar em sofrimento, embora possamos dizer que isso não é digno de ser comparado com a glória que será revelada em nós. Não é a glória divina e essencial, é claro, mas a glória manifestada, e nos alegramos na esperança da glória de Deus. Deus tem filhos e deve manifestar Seus filhos em Sua glória. Então, e não até então, que a criatura é introduzida na liberdade da glória dos filhos de Deus.

 

Os gemidos da criação 

“Toda a criação geme”. Que admirável diferença! Ele está falando do “peso eterno de glória” que será revelado em nós, e imediatamente se vira e diz: Em que criação que geme estou! É a percepção desta glória que nos torna aptos para entrar na tristeza da criação ao redor que geme. A esperança de Cristo, vindo em glória, o eleva acima de tudo. O gemido vai além dos santos – toda a criação geme. Quando tenho o Espírito Santo, posso estar cheio de alegria e cheio de esperança, mas isso não impede meu gemido como uma criatura. Quanto mais eu me alegro, mais sinto que este corpo miserável é um vaso de barro que não pode conter o tesouro.

 

Não há gemidos na minha conexão com Deus; é tudo regozijo e nada mais a esse respeito. “Regozijai-vos, sempre, no Senhor”. No momento em que minha mente se enche com o pensamento: ‘serei conformado a Cristo como Ele é em glória’, isso me associa a Ele agora. O pensamento de Sua vinda me faz feliz. Não há outra esperança a não ser a de ser conformado a Cristo. A morte não é uma esperança. “Mas a nossa cidade está nos céus”, e é lá que esperamos estar. Minha esperança é estar com Ele no céu, corporalmente. Eu tenho tudo para minha alma agora em Cristo.

 

Suas esperanças 

É maravilhoso como Deus habilidosamente Se introduz a Si mesmo em tudo, enchendo-nos com Suas esperanças, Seus sofrimentos e Suas afeições. Quão completamente Ele veio para possuir a alma do homem! É o amor de Deus fora de nós, e Seu amor é derramado em nosso coração. Nós habitamos em Deus, e Deus em nós. Ele nos deu Seus pensamentos e sentimentos, para que estejamos envolvidos em Deus, “porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações”. O amor de Deus! Se não for o Seu amor, não serve para nada; Se não estiver em mim, não há realidade. A Escritura às vezes fala como se fosse de nós, e outras como sendo de Deus. Assim meu coração geme, enquanto é dito: “o mesmo Espírito intercede por nós”. É um grande conforto saber que eles não são gemidos egoístas em mim. Gemidos egoístas encontramos em Romanos 7, mas Romanos 8 está cheio de Cristo e do Espírito.

 

W. Kelly (adaptado)

Limpando o Ramo

 

A mão do Pai está sobre os Seus – sempre em amor – para aumentar sua frutificação: “Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto”. A poda é muitas vezes dolorosa e penosa, e estamos propensos a não perceber a mente divina enquanto estamos experimentando-a, mas o amor ordena tudo para a glória divina e o bem-estar da alma. As coisas surgem em nós e silenciosamente se desenvolvem e crescem, das quais, talvez, estejamos apenas pouco conscientes, mas que, no entanto, retardariam seriamente o nosso progresso na conformidade moral com a imagem de Cristo, se permitido continuar. Estamos sob os cuidados do Lavrador. Os santos são a lavoura de Deus (1 Co 3:9), e a tesoura de poda é graciosamente aplicada em amor. Preciosos tratamentos! Necessários por causa do engano do coração ao passar por esta cena presente.

 

W. W. Fereday, Bible Treasury

Sofrendo em Comunhão ou por Disciplina

 

Você já conheceu a comunhão nos sofrimentos com Cristo? Já conheceu as águas profundas? Você terá que descer até elas. Se você não passar pela tristeza em comunhão com Cristo, você passará por ela em disciplina.

 

G. V. Wigram

Graça no Sofrimento

 

Que graça, ó Senhor, e beleza brilharam

Ao redor de Teus passos aqui!

Que amor paciente foi visto em toda

Tua vida e morte de aflição!

 

Para sempre em Teu coração oprimido

Um peso de tristeza pairou;

No entanto, nenhuma palavra rude e murmurante

Escapou de Tua língua silenciosa.

 

Teus inimigos podem odiar, desprezar, insultar,

Teus amigos se mostrarem infiéis;

Incansável ainda em perdão,

Teu coração só podia amar.

 

Ó, dá-nos um coração para amar como Tu.

Como Tu, ó Senhor, para sofrer

Muito mais pelos pecados dos outros do que por todas

As injustiças que recebemos.

 

Um Contigo mesmo, que cada olhar

Em nós, Teus irmãos, veja

Essa gentileza e graça que brotam

Da união, Senhor, Contigo.

 

Autor desconhecido

“Se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados”

Romanos 8:17


1 Comment


elianeoliveiravila
Jun 14

Quão preciosa é a Palavra de Deus a nos revelar o Propósito de Deus em Cristo Jesus . Recebemos a fé e cremos na obra eterna de Deus e assim passamos para uma nova vida, onde tdo suportamos, para que a nossa carne não tenha nenhum domínio sob nós. Agora em Cristo, não nos sujeitamos à nossa vontade, mas a vontade de Deus, pois nEle há as virtudes que agora podemos nos gloriar.

E essa libertação nos faz sujeitarmos tdo ao Senhor.

Sabemos que no mundo tdo está sob juízo, mas temos nossa pátria no céu.

Essa esperança nos leva a prosseguir, mesmo que gemendo, a nos regozijarmos no Semhor.

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