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Adão e Cristo (Dezembro de 2010)

Atualizado: 6 de jul.

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Revista mensal publicada originalmente em dezembro/2010 pela Bible Truth Publishers

ÍNDICE


          Tema da edição

          The Bible Treasure (adaptado)

          H. C. Anstey

          J. N. Darby (adaptado)

         Things New and Old (adaptado)

          J. S. A. (adaptado)

          Bible Treasury

          W. Kelly

          J. Kent

Adão e Cristo


A Bíblia tem sido considerada a história de dois homens, Adão e Cristo. Eles são os cabeças de duas raças de homens. A primeira raça começa com Adão criado do pó da terra à imagem e semelhança de Deus. Mas Adão peca contra Deus, arruína sua natureza e traz a morte sobre si mesmo e seus descendentes. O Velho Testamento traça sua triste história. Cristo nasceu da mulher para participar como Homem, mas sem pecado, na criação onde o pecado reina. O Novo Testamento traça Sua história gloriosa. Como Salvador, ele assume a responsabilidade da raça de Adão e seu fracasso e Se apresenta a Deus para julgamento. Ele é feito pecado, leva os pecados de muitos e morre. Então, Ele ressuscita triunfante da morte e Se torna o Cabeça e Doador da vida de uma nova raça, uma nova criação. No primeiro Adão todos morrem, mas em Cristo todos vivem, e Ele é o Último Adão, pois nunca haverá outra raça de homens. O primeiro Adão era da Terra, terrenal, mas Ele é o segundo Adão que é do céu, celestial. Todos estão diante de Deus como fazendo parte da raça de Adão sob a sentença de morte, ou diante de Deus em Cristo como parte de uma nova criação onde a morte e o julgamento nunca virão. Para nós, que somos uma nova criação em Cristo Jesus, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”

 

Tema da edição

 Adão

 

Adão é uma figura, ou tipo, muito marcante d’Aquele que estava por vir (Rm 5:14). Ele foi feito à imagem de Deus, à Sua semelhança. Adão recebeu de Deus o domínio sobre as aves do céu e os peixes do mar, sobre o gado, sobre toda a Terra e sobre todo ser vivo que se move sobre ela. Ele foi o único na Terra a se tornar uma alma vivente por Jeová Elohim (o Senhor Deus), haver soprado em suas narinas o fôlego da vida (Gn 2:7). Portanto, sua alma é imortal. Somente ele tinha um espírito que, em vez de descer à terra como um animal, subia a Deus que o deu (Ec 3:21; 12:7). Portanto, cada um deve prestar contas a Deus diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba as coisas feitas no corpo, sejam boas ou más (Rm 14:12; 2 Co 5:10).

 

Adão em responsabilidade logo se tornou um objeto de julgamento. Cercado por todo bem natural, ele foi submetido ao mais simples mandamento divino – o de se abster do fruto de uma única árvore. Foi o teste de sua obediência. Isso ele violou na primeira tentação do inimigo, seguindo sua esposa para o mal, em vez de guiá-la no bem. Portanto, como desobediente, ele foi expulso do Paraíso sob a sentença de morte e, depois de ter caído, se tornou o pai da raça caída.

 

O bendito contraste 

Mas o santo e justo Senhor Deus procurou Adão no mesmo dia em que pecou. Ele tirou o casal culpado de seu esconderijo e, depois de mostrar a eles sua culpa e Seu respectivo julgamento da serpente, revelou o triunfo de Sua graça, que na Semente da mulher haveria o Segundo Homem e o Último Adão (Gn 3:15).

 

E quão bendito o contraste d’Aquele que foi estabelecido desde aquele dia, o único Objeto de fé e esperança! Agora sabemos que o Filho de Deus veio e deu entendimento àqueles que creem, para que possamos conhecê-Lo, Aquele que é verdadeiro. Tanto o Velho Testamento como o Novo testemunham de Sua glória e humilhação. Eles revelam como Ele derramou Sua alma até a morte e foi exaltado à destra de Deus e estará finalmente e visivelmente sobre todos os povos, nações e línguas, sim, toda a criação.

 

Morte e vida 

Enquanto isso, como por meio de um homem o pecado entrou no mundo e a morte pelo pecado, e assim a morte passou a todos os homens, e porque todos pecaram, a graça de Cristo trouxe uma bênção transcendente, apresentada a todos os homens no gracioso apelo do evangelho. Isto é para “todos os que creem” (Rm 3), pois como por uma ofensa o resultado foi transmitido a todos os homens para condenação, assim por meio de uma justiça o resultado é transmitido a todos os homens para a justificação de vida. Como pela desobediência de um homem, muitos foram feitos pecadores, assim também pela obediência de Um, muitos serão feitos justos (Rm 5:12-19). Acaso não era então digno de Deus trazer para a raça um bem ainda melhor e mais duradouro por meio do único Homem, Seu próprio Filho? E como a bênção é da graça de Deus para todos, também é pregada a todos e é recebida por fé, em vez de depender da lei. O evangelho é universal em seu apelo. Só tem efeito naqueles que creem, mas é igualmente apresentado a todos.

 

Adão, enquanto inocente, permaneceu em sua obediência, mas sendo influenciado por sua esposa, que foi enganada pelo tentador, ele também desobedeceu. Ele procurou ser como Deus, conhecendo o bem e o mal, e ele caiu. Cristo, pelo contrário, veio em carne para glorificar a Deus e salvar os pecadores, conduzindo Sua obediência até a morte, em contraste com a desobediência de Adão até a morte. Cristo fez isso perfeitamente, sofrendo ao máximo as dificuldades e a ruína que o pecado do homem havia causado, enquanto Adão caiu quando foi julgado no mínimo grau com todas as circunstâncias a seu favor. Portanto, Deus também exaltou a Cristo e enviou as boas novas a toda a criação. Cristo justificou o amor de Deus, enquanto Adão agiu sobre a mentira de Satanás, que difamava Seu amor como se Deus escondesse algo bom. Por essa pequena coisa, o fruto proibido da árvore, Adão abandonou a Deus que amou o mundo a fim de dar o seu melhor, Seu único Filho, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

 

Vida eterna 

Adão só se tornou pai depois que ele caiu; Jesus permanece ressuscitado dentre os mortos como o Espírito vivificante, depois de ter sofrido pelos pecados, o Justo pelos injustos. Ele veio para que Seus discípulos tenham vida e a tenham com abundância. É a vida de ressurreição d’Aquele que carregou seus pecados em Seu próprio corpo no madeiro. Assim, o crente tem vida eterna e não entra em julgamento, mas passou da morte para a vida.

 

É assim com você? Se você ouvir Sua Palavra e crer em Seu Filho Jesus, a Quem Ele enviou, você tem direito a essa porção que a graça de Deus agora dá àqueles que creem em Seu nome. Cuidado com o tentador – aquele que é mentiroso e homicida desde o princípio. Cristo é o Caminho, e a Verdade, e a Vida. E o Espírito Santo agora dá testemunho d’Ele.

 

“Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por Ele é justificado todo aquele que crê. Vede, pois, que não venha sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei; Porque opero uma obra em vossos dias, Obra tal que não crereis, se alguém vo-la contar” (At 13:38‑41).

 

The Bible Treasure (adaptado)

O Primeiro Homem Está Sob Juízo

 

Aprendemos o que a cruz do Senhor Jesus efetuou quando aprendemos que ela resolveu eternamente para Deus a questão do pecado e dos pecados. Ela resolveu essas duas coisas, e é mais importante ver como ambas foram resolvidas. Temos o perdão de nossos pecados na obra da cruz, mas a natureza que os cometeu, o pecado, nunca é perdoada. Foi eternamente colocada por Deus sob juízo.

 

Dois homens 

Agora, para tornar isso simples ao nosso entendimento, a Palavra de Deus considera o Cristão como se ele fosse dois homens. Ele é solenemente avisado e exortado a nunca agir como um, enquanto repetidamente é encorajado a agir como o outro. Quando o apóstolo diz: “Já estou crucificado com Cristo”, ele está contemplando o julgamento de Deus registrado na cruz quanto ao primeiro homem e falando de si mesmo como esse homem. Quando ele diz: “e vivo, não mais eu”, é o novo homem, ou o poder da vida de Cristo diariamente exibido nele. A diferença é imensa. Quanto ao primeiro homem, que sempre é controlado pela natureza má, esse homem está sob o juízo de Deus e nunca está em nenhum outro lugar na conta de Deus. Quanto ao novo homem, “criado em verdadeira justiça e santidade” e “criados... para boas obras” (Ef 4:24; 2:10), para ele morte e juízo não têm nada a dizer.

 

É dito isso ao crente porque ele ainda tem a velha natureza dentro de si, assim como a nova, e toda ação de sua vida vem de uma ou de outra delas. Se nos referirmos a 1 Coríntios 3:3, lemos: “não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?” Andar “como homens” é uma censura, porque está andando de acordo com a velha natureza. Por isso, lemos: “E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios” (Ef 4:17). Por outro lado, quando somos tratados como tendo uma nova natureza, lemos: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl 5:16).

 

O primeiro homem está sob juízo 

Confessar em nossa vida cotidiana que a cruz de Cristo tirou nossos pecados e também colocou definitivamente o velho homem sob juízo é uma doutrina fundamental, sem a qual não pode haver nenhum progresso verdadeiro na vida divina. É a segunda parte dessa verdade que corta a raiz de tudo o que não é de Cristo, mas, graças a Deus, também me separa definitivamente do mundo, para que eu ande como Cristo andou nele. Aceitamos muito mais facilmente o fato de que na cruz temos o perdão dos pecados, do que na cruz também temos o julgamento do pecado – a natureza do primeiro homem. Ambos são verdadeiros, e ambos juntos constituem aquilo que aquele que se chama “Cristão” professa crer, por mais que ele possa não chegar a julgar o primeiro homem de forma pratica.

 

Quem é o homem contra quem Deus definitivamente registrou Seu juízo? É o homem que está tentando “progredir” no mundo, tentando estabelecer aqui o seu descanso, onde o pecado contamina tudo. Não se importa com quem seja abatido; seu único esforço é elevar-se e pisar sobre quem ele puder. Ora, Deus determinou nunca mais levantar esse homem. Por mais que eu me esforce, tenho Deus contra mim, quando tento estabelecer esse homem na Terra. Ao fazer isso, estou lutando contra Deus.

 

O Segundo Homem 

Quanto ao Segundo Homem, Deus O Estabelecerá aqui em poder e glória sobre todas as coisas (Ef 1:9-10). Alguém pode ser rejeitado hoje e aceitar alegremente a espoliação de seus bens sem resistir, pois essa é a vontade de Deus para quem segue o caminho de Cristo. “Ser como o lixo deste mundo e como a escória de todos” pode ser a opinião do mundo quanto aquele que está disposto a ser considerado um louco por causa de Cristo (1 Co 3:18), porém “o conselho do Senhor permanecerá” (Pv 19:21). “Mas agora ainda não vemos que todas as coisas Lhe estejam sujeitas; Vemos, porém, coroado de glória e de honra Aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte” – uma prova do que Deus ainda realizará por Ele. E quanto ao mundo, “o mundo passa, e a sua concupiscência”. Que o Espírito nos instrua cada vez mais no fato de que a velha natureza do primeiro homem é, na cruz, definitivamente colocada sob o juízo de Deus e nunca libertada de lá.

 

H. C. Anstey

 Adão e Cristo 

 

Romanos 5:14-21 

O pecado de Adão e as consequências desse pecado são impressionantemente exibidos na parte final de Romanos 5, em contraste com a graça que se manifesta em Jesus Cristo. A posição muito importante que Adão ocupou mostra o caráter e a obra do Senhor Jesus Cristo, que contrasta com o primeiro Adão. Adão em sua inocência era um tipo e figura de Cristo. O Senhor Jesus é o Cabeça de toda graça e verdade, o representante de todos os crentes, enquanto Adão é o cabeça de todo pecado e miséria, um representante de todos os pecadores por natureza. Essa distinção é mencionada em 1 Coríntios 15:47, onde diz: “O primeiro homem, da Terra, é terreno; o Segundo Homem, o Senhor, é do céu”, e em Romanos 5:14 é dito que ele “é a figura d’Aquele que havia de vir”.

 

O amor e a graça superabundantes do Senhor Jesus Cristo são testemunhados no próximo versículo: “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de Um só Homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos”. E o contraste é muito impressionante à medida que continuamos: “E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por Um só, Jesus Cristo”.

 

Aqui temos, em uma perspectiva, o efeito do pecado de Adão e a obra do Senhor Jesus Cristo. Vemos a maneira como Ele satisfez a toda questão da controvérsia entre Deus e o homem.

 

O cabeça e a raiz 

Temos em Adão o cabeça e a raiz de um mundo pecaminoso afundado em iniquidade e miséria, e em Cristo o Cabeça e a Raiz de um mundo de bem-aventurança, reinando na vida, abrindo um “novo e vivo caminho”, prevalecendo sobre o pecado e a ruína do homem – não apenas a salvação de almas para Deus, mas triunfando positivamente sobre o mal do homem, sobre o máximo que o homem mau poderia fazer. Ele não está apenas desfazendo o que o homem havia feito, mas superabundando em bênção sobre a ruína que o homem trouxe sobre si mesmo – não apenas colocando de lado a obra realizada pelo homem, mas manifestando as riquezas do amor divino sobre o mal, o pecado, a ruína e a miséria, que foram permitidos com o objetivo de mostrar de maneira mais extraordinária a grandeza do amor de Deus e Seu contraste direto com o homem em todas as coisas.

 

Ora, é isso que devemos procurar em Cristo, um remédio adequado para o mal que o pecado havia causado, um remédio que deveria enfrentar e superar o peso da iniquidade, e o temos em Cristo, nas abundantes riquezas de Sua graça. A maneira e os meios eram de Sua própria concepção e execução, para manifestar Sua bondade para conosco em Cristo Jesus, que deveriam ser a substância do gozo de Seu povo, o descanso da alma deles, o objeto de suas esperanças e o desejo de suas afeições. E tal Ele é. O mal é abundante e o pecado segue seu curso completo e desenfreado. Traçamos sua raiz, surgimento e progresso no primeiro Adão, em cujo pecado temos a inteira e completa alienação do coração do homem para com Deus. Temos a virtual negação e rejeição de Deus como Deus sobre ele e as consequências práticas dessa negação – a adoção de Satanás como um deus, preferindo esse e a confiança nele, e não em Deus.

 

O presente século 

Agora, eu digo que esta é a exata posição em que o mundo se encontra atualmente. Eles praticamente e decididamente assumiram Satanás como deus, em rejeição do Senhor; eles perderam todas as esperanças de favor; eles perderam todas as reivindicações de qualquer bênção que Deus possa conceder. Todo o mundo fez isso de maneira positiva e voluntária, e todo indivíduo está fazendo isso, até que Cristo o chama para fora do mundo e o traga para descansar n’Ele em relação a todas as coisas. Cristo desfaz em sua alma o que o pecado do primeiro Adão causou, faz dele um herdeiro de Deus e coloca em seu coração o Espírito clamando: “Abba, Pai”. Ele o capacita a conhecer e entender a associação de princípio, sentimento e posição real na qual ele permanece com Cristo ao exclamar: “Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. Daí vem toda a nossa esperança e felicidade; somos levados a confiar n’Ele, a viver em Sua vida, e a não viver mais sob o domínio do diabo que opera nos “filhos da desobediência”. Nós realmente somos “feitos filhos de Deus”, somos libertados das ofensas do primeiro Adão e não estamos mais na posição do mundo.

 

O representante de Deus 

O pecado de Adão induziu a ira da Majestade ofendida do céu. A obra do Senhor Jesus Cristo encontrou, em todas as circunstâncias e em todas as posições, esta situação. Vamos ver Adão primeiro em sua criação, quando ele foi feito das mãos de Deus – a imagem de Deus – à Sua própria semelhança; ele era o representante de Deus, e tudo estava subordinado a ele, tudo colocado sob sua autoridade.

 

O Salmo 8 evidentemente se refere a isso: “Que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?” (v. 4). Mas em Hebreus 2, onde isso é citado, achamos que é figurativo do Senhor Jesus Cristo: “Tu O fizeste um pouco menor do que os anjos” (em Sua humilhação). “Mas, agora, ainda não vemos que todas as coisas Lhe estejam sujeitas” (mas veremos na Sua vinda). “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Ele Se tornou, de forma prática, o Cabeça e a Raiz de uma nova criação, manifestada assim em Sua ressurreição. O Senhor estava fazendo por Seu povo, em Sua humilhação, tudo o que era necessário para tirar o pecado, sofrendo o que era devido ao pecado, mesmo sofrendo até a morte. Sendo então vivificado de acordo com o Espírito de santidade como um Salvador ressuscitado, Ele Se torna o Cabeça de uma nova criação, como Adão era da velha.

 

Adão no Éden 

Veja Adão no jardim, e veremos em sua conduta que ele tinha tudo o que o qualificava como cabeça e raiz de um mundo pecaminoso. Assim, Cristo, ao manifestar uma conduta totalmente oposta nas circunstâncias mais difíceis, é eminentemente qualificado para ser o Cabeça do Seu povo. Adão foi colocado em um mundo inocente, cercado por todas as bênçãos e com todo sentimento santo e justo que poderia suscitar seu amor e gratidão ao grande Doador. Isso deveria ter levado Adão a confiar n’Ele. Deus depositou confiança nele; Ele o colocou como administrador de Seus bens. Deus refletiu Sua própria imagem nele e o tornou capaz de conversar Consigo mesmo; Adão era o elo, por assim dizer, entre Deus e este mundo.

 

O Segundo Homem 

Agora passamos para o Segundo Homem – o caráter e a obra do Senhor Jesus Cristo. Veremos como, em pensamento, palavra e ação, Ele justificou perfeitamente a verdade, o amor e a majestade do grande Deus do céu, que o homem havia vergonhosa e voluntariamente desonrado. Como Ele justificou a verdade de Deus? O Senhor Deus disse: “Certamente morrerás”. Cristo veio como a grande Testemunha para Seu povo de que “o salário do pecado é a morte”, ainda que isso tenha sido somente por imputação, pois Ele era perfeitamente e inteiramente santo. Mas Ele tomou sobre Si os nossos pecados; Ele carregou nossas iniquidades. Ele estava disposto a ser considerado culpado e a sofrer a pena que Deus havia ligado ao pecado: “Certamente morrerás”, a fim de justificar a verdade de Deus.

 

Vemos novamente como Ele justificou plenamente o amor de Deus. Aquele Deus – a Quem o homem considerava um Deus ressentido, escondendo dele aquilo que era desejável – esse mesmo Deus deu Seu Filho unigênito pela transgressão do homem! Quão eminentemente visível é o amor de Deus nos sofrimentos e na morte de Jesus! Quanto mais justo e santo Jesus era, mais o amor de Deus era demonstrado em dar-Lhe pelo pecado. Ele não precisava morrer por Suas próprias ofensas, pois não cometeu nenhuma, nem por seus próprios pecados, pois “não conheceu pecado”. Ele foi levado, no entanto, ao extremo do sofrimento e da vergonha, e ainda assim confiou e creu em Deus, em circunstâncias totalmente opostas àquelas em que Adão foi colocado.

 

Agora vemos nossa gloriosa Cabeça somente pela fé, mas logo O veremos como Ele é, em toda a Sua glória, e seremos transformados nessa mesma glória. Enquanto isso “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. Que possamos, então, ser cheios da plenitude de Cristo! A Escritura abre todas as bênçãos que estão n’Ele, toda a plenitude habita em Cristo, e nós, irmãos do Senhor, participamos dela por uma união que começa no tempo, mas se consuma em uma feliz e infindável eternidade!

 

J. N. Darby (adaptado)

Um Homem em Cristo

 

“Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15:22). Isso nos aponta para duas cabeças. Em Adão todos morrem – assim também em Cristo todos viverão. Isso fala da ressurreição, mas “um homem em Cristo” se refere a um homem estando em Cristo enquanto está no corpo. Nosso Senhor disse: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24), mostrando que a morte de Cristo era necessária antes que Seu povo pudesse ser trazido para a associação mais próxima Consigo mesmo.

 

As duas criações 

Em outra passagem, Cristo é chamado o Último Adão: “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o Último Adão, em espírito vivificante” (1 Co 15:45). Aqui está como duas cabeças da criação. Sim, podemos falar de duas criações, pois lemos que “se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – JND] é” (2 Co 5:17). Tal pessoa está unida com o Último Adão e, quanto à sua posição diante de Deus, ele foi separado do primeiro Adão.

 

Outra passagem confirmará isso: “O primeiro homem, da terra, é terreno [é feito do pó – JND]; o Segundo Homem, o Senhor, é do céu” (1 Co 15:47). Ora, por que a passagem fala apenas de dois homens quando existem milhões? Certamente porque o primeiro homem, Adão, e o Segundo Homem, Cristo, são os cabeças de duas raças ou gerações, e todo ser humano pertence a um ou ao outro. Todos pertenceram ao primeiro, mas por meio da nova criação, alguns, pela graça de Deus, são retirados dele e foram feitos parte do Segundo.

 

Na carne 

Vejamos outra expressão, quando o apóstolo fala de uma condição passada e diz: “Quando estávamos na carne” (Rm 7:5); “os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós” (Rm 8:8-9). Ora, o que pode ser a expressão “na carne” como uma posição passada, a não ser que o Cristão foi retirado dessa posição e colocado em uma posição completamente diferente – em Cristo?

 

É verdade que a expressão “na carne” é usada na Escritura e pelo mesmo apóstolo com o simples significado de estar vivo no corpo, como: “Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne” (Fp 1:24). Mas quando um homem vivo diz: “Quando estávamos na carne”, isso se refere a uma posição que foi deixada.

 

Muitos Cristãos têm ideias muito vagas sobre o que significa a expressão “quando estávamos na carne”. Alguns parecem entender que às vezes estamos na carne e às vezes não, e eles fazem com que seja uma experiência Cristã, o mesmo que é explicado em Gálatas 5:17: “Porque a carne cobiça [luta – TB] contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne”. Mas em Romanos 7 não há uma palavra sobre o Espírito Santo. O inverso de estar anteriormente na carne é “Mas, agora, estamos libertados da lei, havendo morrido naquilo em que estávamos retidos” (como o versículo 6 deve ser lido). Há uma morte em relação à antiga posição da primeira criação em associação com Adão e sob a lei, e uma introdução a uma nova posição em Cristo Jesus e sob a graça.

 

Nossa posição e nossa caminhada 

A posição do Cristão é muito suscetível de ser confundida com seu andar e seus caminhos. Mas as duas coisas são bem distintas. Isso é visto sob muitas figuras na Escritura. Temos que agradecer a Deus que Ele “nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:13). Somos emancipados da autoridade das trevas, governada por Satanás, e levados ao reino do Filho de Deus – um lugar totalmente diferente. Não somos simplesmente mudados de caráter e deixados na nossa antiga posição, mas somos trazidos para o reino do qual Cristo é Senhor e Mestre.

 

Mais uma vez, nós, que éramos filhos da ira, também mortos em pecados, Deus “nos vivificou juntamente com Cristo” e “nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:5-6). Esta é a nossa posição e herança e, embora ainda estejamos no corpo, em Cristo já estamos lá. Não estamos com Cristo, até que estejamos realmente lá. Mas essa é uma posição inteiramente nova e diferente de sermos filhos da ira, quando éramos seguidores voluntários de nosso primeiro pai, Adão, e, quanto a qualquer vida para com Deus, estávamos mortos em pecados. Estávamos, então, em Adão, mas agora, se somos Cristãos, estamos “em Cristo”.

 

Em Cristo 

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é [é uma nova criação – JND]; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação” (2 Co 5:17-18). A nova criação aqui mencionada refuta inteiramente o pensamento de sermos restaurados ao status de Adão na inocência. O status em que os crentes são trazidos excede em muito essa bênção, e é inteiramente e enfaticamente uma nova criação, trazida para nós pela morte do Senhor Jesus, por sermos vivificados juntamente com Ele e pela habitação do Espírito Santo, e a nova posição em que somos assim trazidos pode ser resumida em duas palavras: “Em Cristo”.

 

Agora é importante ver que, como isso é verdade para um Cristão, também é verdade para todos os Cristãos. Assim, a epístola aos colossenses é endereçada “aos santos e irmãos fiéis em Cristo”. A Escritura não reconhece nenhum lugar intermediário. Como cabeças, existem apenas o primeiro homem e o Segundo Homem; o primeiro Adão e o Último Adão – o Senhor Jesus Cristo.

 

Com que cabeça o leitor está conectado? O pensamento de um homem mortal estar “em Cristo” é algo inteiramente além do que poderíamos ter concebido, e sem dúvida parece para alguns ser presunção de ocupar um lugar assim, mas se Deus diz isso de nós, é incredulidade não tomar posse disso e desonrar a Ele que, em graça, declarou isso a respeito do crente. Para alguns parece humildade querer tomar um lugar mais baixo, mas não é. A verdadeira humildade toma o lugar que lhe é atribuído e esquece a si mesma, em amor e admiração por Aquele que realizou tudo.

 

Privilégio e responsabilidade 

Privilégio e responsabilidade fluem do relacionamento. Se Deus nos colocou em uma posição, não podemos nos esquivar de suas responsabilidades, nem devemos pensar levianamente quanto a seus privilégios. Isso seria desprezar nosso direito de primogenitura. Ninguém pense que, fechando os olhos para o que Deus revelou a seu respeito, poderá evitar que muito lhes seja requerido. “E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12:48). A alta posição do santo deve afetar todos os detalhes da vida.

 

Uma vez nessa posição, ao ser vivificado juntamente com Cristo, nada pode trazê-los de volta à antiga posição de estar “em Adão”. Serão disciplinados e, se necessário, poderão ser entregues por Deus a Satanás, para sua humilhação, para a destruição da carne – não para que possam finalmente se perderem, mas “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5).

 

Que todo o povo amado de Deus conheça e entenda melhor e tome posse da elevada e santa posição em que Ele os colocou, e então busque a graça de que seu estado, sua condição de vida, corresponda a essa posição. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra. Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

 

Things New and Old (adaptado)

 Nova Criação

 

A criação é obra de Deus, um ato de poder divino e soberano. O homem pode, dentro de limites, modelar e formar materiais físicos, mas somente Deus pode, por Sua Palavra, trazer à existência aquilo que nunca existiu antes. “Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu”. Isso, estando completamente fora de toda a experiência do homem, é conhecido apenas por revelação: “Pela fé entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente”.

 

A primeira criação veio perfeita das mãos de Deus. “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”. Mas, em Sua sabedoria, Deus Se agradou em colocar tudo o que havia feito sob o homem que Ele havia criado e colocar o primeiro homem, que era da Terra, terreno, em uma posição de responsabilidade. Este homem, quando tentado, desobedeceu e caiu, e não apenas ele próprio se afastou de Deus, se tornando sujeito à morte e condenação, mas também levou toda a criação a gemer. “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou”.

 

Os propósitos de Deus cumpridos 

Os propósitos de Deus em referência a esta criação terão seu cumprimento quando os direitos e poder d’Aquele que é o Segundo Homem, o Último Adão, o Senhor do céu, forem manifestados (veja Salmo 8; Atos 3:21). “a mesma criatura [criação – JND] será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8:21). Deus ainda terá glória para Si mesmo naquela mesma criação em que Sua glória foi reduzida a nada.

 

Há mais do que isso apresentado na Escritura. Deus não está contente, se é que se pode falar assim, em reabilitar a velha criação. Ele traz uma “nova criação”, a qual agora é uma realidade, moralmente ou espiritualmente, para os homens que creem em Cristo. Daí em diante, “fará novo” todo o céu físico e a Terra, para que tudo possa permanecer imutável conforme Ele mesmo, e não dependente, como antes, da responsabilidade e poder de um homem terrestre para mantê-lo, mas na absoluta perfeição e imutabilidade d’Aquele que era o Último Adão. É uma esfera na qual não apenas todas as Suas glórias podem ser manifestadas, mas na qual o próprio Deus pode descansar eternamente.

 

Nova criação manifestada 

A “nova criação” não terá sua verdadeira exibição até depois do dia em que o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, “transformará nosso corpo de humilhação em conformidade com Seu corpo de glória” (Fp 3:21 – JND), ou mesmo, em seu sentido mais amplo, até que os novos céus e a nova Terra apareçam quando não haverá mais “mar”, esse emblema de inquietação e instabilidade. Mas, espiritualmente, agora é uma realidade para o crente em Cristo, embora seja apenas “pela fé” que possamos entendê-la, assim como é somente pela fé que entendemos o que a criação tinha como propósito a princípio (Hb 11:3).

 

O fato de ser realmente uma “nova criação”, e não a melhoria ou modificação de algo já existente, pode muito bem ser a razão pela qual nos envolvemos tão pouco nessa maravilhosa verdade da qual falamos. A alma que não a recebe como revelada por Deus não pode conhecê-la, pois está fora de sua experiência como a criação física.

 

As coisas velhas que passaram 

Está escrito quanto aos céus físicos e à Terra que, antes que os novos sejam introduzidos, os velhos passam. “Os céus passarão”, diz Pedro; “e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão... mas nós... aguardamos novos céus e nova Terra”. Mas isso é igualmente verdadeiro quanto à “criação” moral ou espiritual da qual falamos. A declaração mais simples sobre isso está contida em 2 Coríntios 5:17-18: “Se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – JND] é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por Jesus Cristo”. Assim, vemos três coisas: As coisas velhas passarão, todas as coisas se tornam novas e todas as coisas são de Deus.

 

Quando o Senhor Jesus estava na Terra, descobrimos que, em Seu ensinamento registrado no Evangelho de João, Ele tem o cuidado de destacar claramente que a condição moral do homem diante de Deus é de morte. A própria rejeição d’Ele por Seu povo (João 1:11) provou isso. Antes de introduzir o assunto do novo nascimento em João 3, há uma exposição completa em João 2 do estado miserável do homem, seja considerado no aspecto natural ou religioso. E existe uma declaração bem clara em João 12:24: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”.

 

Em 1 Coríntios, o homem natural é colocado de lado por ser totalmente incapaz de receber as coisas do Espírito de Deus (1 Co 2:14). A morte de Cristo prova que todos morreram (2 Co 5:14). Em Efésios 1-2, o homem é visto como morto quando Deus começa a obra com ele. E assim, de fato, Cristo morreu, embora para Ele isso seja como tendo entregado a vida que Ele tinha como Homem sobre a Terra. Assim também, se a questão é vestir o novo homem, isso é precedido por ter se “despido do homem velho”.

 

O velho não melhora 

Não há melhoria, nem modificação da vida ou natureza que o homem possui em sua antiga posição diante de Deus como descendente de Adão. Ela, espiritualmente, está tão totalmente removida na cruz, quanto os céus e a Terra serão removidos fisicamente no porvir. O Senhor Jesus Cristo, que esteve sozinho diante de Deus como perfeito nessa velha condição de vida, teria permanecido sozinho se Ele não tivesse morrido. Mas Ele morreu voluntariamente nela, e assim essa condição terminou, exceto para aqueles cujos pecados não foram retirados por Ele.

 

Mas se as coisas velhas já passaram, todas as coisas se tornam novas. Onde a morte entrou, Deus introduziu uma nova vida. Não é a restauração de uma vida antiga, mas a real comunicação de uma nova vida, tão verdadeiramente quanto quando Deus soprou pela primeira vez naquele corpo que Ele havia formado do pó da terra, e ele se tornou uma alma vivente. A primeira tinha essa Terra como sua esfera; a segunda pertence aos lugares celestiais. A primeira era natural; a segunda é espiritual. Não é apenas mencionada como uma nova vida e natureza, mas, na realidade, como uma nova criação. E é bom para nós que o simples fato de haver essa nova criação por si só afete nosso coração.

 

Se alguém estiver em Cristo 

Há um imenso poder nas nove palavras iniciais da Bíblia: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra”, e certamente não há menos poder para a alma que pondera sobre essas outras palavras: “Se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – JND] é”. Eles nos falam do poder divino e criativo exercido na associação indissolúvel do crente com o próprio Cristo, e é nessa esfera que Ele está como ressuscitado dentre os mortos. O grão de trigo morreu e agora tem muito fruto, fruto agradável a Deus.

 

“E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por Jesus Cristo”. O Senhor Deus pode visitar Adão no Éden, Deus Todo-Poderoso pode Se dar a conhecer a Abraão e chamá-lo de “amigo”, Jeová poderia habitar entre Israel, exclusivamente e por trás de um véu, mas essa Escritura fala de uma condição na qual há um conhecimento perfeito de Deus como totalmente revelado em graça e proximidade a Ele, assim como o próprio Cristo está próximo. É agora, para a fé, aquilo que futuramente será verdadeiro também para a percepção: “E o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus”; Ele habitará com eles.

 

A natureza divina 

E aí não há apenas proximidade de pessoa, mas perfeita adequação moral. O crente que é desta nova criação participa nela da “natureza divina”. “Deus é luz”, e assim o crente é tratado como filho da luz e chamado a andar assim porque é “luz no Senhor”. “Deus é amor”, e assim o crente é instruído a andar nesse amor, e “quem não ama, não conhece a Deus”. Esses pontos são amplamente tratados na epístola de João. Mas talvez seja mais facilmente apreendido quando vemos que, como essa “nova criação” nunca está separada de Cristo, mas sempre “n’Ele”, assim as características morais a ela pertencentes são aquelas que são perfeitamente expressas em Sua própria Pessoa bendita. “Conhecê-Lo” é saber o que elas são e não há outra maneira de conhecê-las.

 

É necessário, no entanto, lembrar aqui que é somente como ressuscitado dentre os mortos que Ele Se tornou tanto o Representante como o Cabeça desta nova criação. Embora, de fato, sendo o Senhor do céu e o “Filho do Homem que está no céu”, Ele veio, no que diz respeito à primeira criação, “nascido de mulher”, mas nessa ordem de coisas Ele morreu, e é somente como ressuscitado dentre os mortos que Ele assume o lugar e o caráter de que falamos.

 

Entretanto, nunca se deve negligenciar o fato de que o crente está neste mundo em um corpo que é da primeira criação e, consequentemente, que ele está no meio de relacionamentos divinamente designados, relacionados a ela, dos quais nenhum pode ser ignorado sem que a Palavra de Deus e o próprio Deus por quem foram estabelecidos, sejam desprezados.

 

Que o Senhor conceda a cada um de nós ver quão maravilhosa coisa é pertencer agora, em Cristo, a uma nova criação que é toda de Deus, e que possamos ser capacitados a dizer, de forma prática, com o apóstolo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim”.

 

J. S. A., adaptado

Cristo, o Último Adão e Segundo Homem 

 

1 Coríntios 15:45-47 

Há um contraste notável entre Adão e Cristo, como nos é dado nesta passagem. Cristo é chamado de “o Segundo Homem” e “o Último Adão”. Há um volume de verdade em cada uma dessas designações, muito necessário para este dia em que vivemos. Por um lado, que sentença permanece sobre tudo o que é do homem! Por outro lado, que rico conforto existe em um Cristo assim! Certamente isso é necessário quando as energias dos homens são empregadas com crescente orgulho e autoconfiança, quando parece que nada escapa do domínio do poder do homem, tanto quanto as esperanças e expectativas humanas conseguem avaliar.

 

“O Segundo Homem” inscreve morte e condenação sobre tudo o que moralmente existe no homem ou que pertença a ele. Diante de Deus e, portanto, diante dos olhos da fé, a humanidade é resumida em Adão. E quaisquer que sejam as pretensões dos homens, o Espírito Santo encerra tudo em Adão com pecado e morte, pois o juízo de Deus tornou-se necessário pelo pecado, embora isso fosse, com certeza, mais doloroso para Deus. Deus em Sua própria natureza não é um Juiz: Isso é o que o pecado moralmente O obrigou a ser. “Deus é amor”. Nenhuma circunstância O fez ser amor. Ele era amor inteiramente à parte de todas as causas. Mas se não houvesse pecado, não haveria qualquer juízo. Portanto, digo que o pecado tornou necessário que Deus Se tornasse Juiz, mas seria muito depreciativo para Sua natureza supor que Deus Se tornasse amor.

 

Deus é amor tão verdadeiramente quanto é luz: O julgamento divino é uma necessidade criada pelo pecado. Mas, quanto ao homem, tudo o que o Espírito Santo pode dizer sobre ele está contido, por assim dizer, no homem que transgrediu o mandamento de Deus e, assim, tornou necessário à majestade de Deus que Ele tivesse que ser um Juiz, pois quando o Espírito de Deus chama nosso Senhor de o “Segundo Homem”, é como se Ele nos dissesse que todos os outros homens são apenas a reprodução do primeiro homem. Quando você conhece o “primeiro homem”, você tem tudo o que pode ser dito sobre o homem como tal. Quando Cristo apareceu, então, pela primeira vez, havia outro Homem. Todos os outros eram da mesma linhagem, e você tinha a amostra do caráter comum naquele que primeiro caiu e se afastou de Deus e depois foi expulso em vergonha por mandamento d’Aquele que é amor. Tal é o homem!

 

Mas que alegria para nós saber que Aquele que foi feito carne é “o Segundo Homem” – um tipo completamente novo de Homem, como ressuscitado dentre os mortos. Embora Ele fosse verdadeiramente um Homem tanto quanto você ou eu, ainda assim o Espírito Santo Lhe confere esse título de nova e especial honra. E como agora entrado no estado de ressurreição, Ele é outro tipo de homem, para Quem o Espírito Santo reserva esse título notável – “o Segundo Homem”. Podem ter existido gerações e mais gerações de homens, mas eram todos apenas “o primeiro homem”. As gerações ainda continuam, cujas associações são apenas com “o primeiro homem”. Mas eu olho para cima e, pela fé, contemplo agora, ressuscitado dentre os mortos, à destra de Deus, outro, o próprio “Segundo Homem”. O Homem rompeu a morte; o Homem venceu Satanás; o Homem entrou em uma região completamente nova; o Homem é o objeto do deleite de Deus, da adoração de todo o céu.

 

Que pensamento maravilhoso é esse para aquela pobre e fraca criatura! O homem como era desaparece diante dos olhos da fé. Sabemos o que ele é: ele é “o primeiro homem”; ele é como Adão. Mas agora conhecemos outro Homem completamente diferente. Graças sejam dadas a Deus! Aquele que é “o Segundo Homem” é também “o Último Adão”. Não há outro homem – nenhum outro estado ou condição para onde o homem possa ser levado. Não pode haver progresso além do Homem ressuscitado à direita de Deus. A Humanidade n’Ele está fixada em bem-aventurança e glória diante de Deus, de modo que se “o primeiro homem” arrasta o mundo inteiro para dentro de uma cova comum de morte e pronuncia condenação sobre os caminhos da raça, “o Segundo Homem” eleva nosso coração e os alegra na apreensão do que Ele é no céu e de que nós também seremos com Ele, pois Aquele que ressuscitou do túmulo, o Vencedor da morte, nos elevou juntamente com Ele e em Si mesmo e tão certo como Ele está no céu, teremos nossa parte com Ele lá.

 

E deveríamos desejar, de maneira prática, que nosso lugar agora e nossos caminhos e comportamentos não estejam com Adão que caiu, mas com “o Segundo Homem”, “o Último Adão”. Acontece assim conosco? Perguntemo-nos isso não apenas quanto a nós mesmos pessoalmente, mas quanto a nossos pertences, pois há muitos homens que manifestam o mundo, não tanto em seu próprio espírito, mas naquilo que eles desejam e procuram. E você verá com frequência orgulho ou vaidade, talvez não tanto na pessoa do pai ou da mãe, mas naquilo que eles dão ao filho ou toleram com conivência com a criança.

 

Que o Senhor conceda que não façamos nem permitamos uma única coisa que O entristeça! Pouco importa se permanecermos firmes em vinte coisas, se houver uma na qual deliberadamente sancionamos o que é contrário ao Segundo Homem. Que vergonha que isso deveria ser para nós! Atentemos bem nisso para que estejamos firmes, tendo nossos olhos fixos n’Ele a Quem pertencemos – o “Celestial”, pois esse é outro termo usado por nosso Senhor aqui. “Qual o terreno, tais são também os terrenos; e, qual O celestial, tais também os celestiais”. Esses benditos títulos ou descrições pertencem a Ele em sua plenitude somente como ressuscitado dentre os mortos e tendo entrado em glória; como tal, Ele é “o Segundo Homem”, “o Último Adão”, “o Celestial”. Sem dúvida, Ele era e é “o Senhor... do céu”, de outra forma nenhum desses títulos poderia ter sido dito d’Ele. E nisso também há outro elemento de nosso gozo e glória: Aquele que, como Homem glorificado, é o Objeto de deleite e louvor do céu, é o próprio Deus poderoso – o Filho unigênito. Portanto, a bênção do homem está garantida para sempre em Sua Pessoa. Estamos ligados a Ele com um vínculo indissolúvel que já passou pela morte. Mas Ele está ressuscitado dentre os mortos, e permanecemos em Sua própria vida de ressurreição e esperamos o dia em que “traremos também a imagem do celestial”.

 

Enquanto isso, seja nosso andar como daqueles que são conscientemente d’Ele e um com Ele mesmo agora.

 

Bible Treasury

Unidade e União

 

Quando Cristo vier, a natureza humana em nós participará da vitória do Segundo Homem, o Último Adão, assim como agora compartilha da fraqueza e ruína do primeiro homem. Então será o momento em que a natureza humana será promovida a uma posição elevada, isto é, será levantada de todas as consequências da queda do primeiro homem e será colocada em todo o poder e glória do Segundo Homem como Ele está agora na presença de Deus.

 

Jamais seremos feitos Deus; isso não poderia ser e não deveria ser. É impossível que a criatura possa ultrapassar os limites que a separam do Criador. E mais do que isso, a criatura renovada é exatamente aquela que mais abominaria tal pensamento. Não importa qual seja a benção e a glória da Igreja, ela jamais se esquece de suas obrigações como criatura diante de Deus e a reverência devida a Ele. Por essa mesma razão, aquele que conhece a Deus nunca desejaria que Ele fosse menos Deus do que é, e não podia permitir ou tolerar a loucura da exaltação própria que a miserável ilusão do budismo sustenta, juntamente com muitos tipos de filosofia que estão permeando agora no Ocidente e no Oriente – o sonho de uma absorção final na Divindade. Isso é totalmente falso e irreverente. Toda aproximação a tais pensamentos é excluída na Palavra de Deus.

 

No céu, a humildade daqueles a quem a graça soberana de Deus fez participantes da natureza divina será ainda mais perfeita do que agora enquanto estamos na Terra. A natureza humana sob o pecado é tão egoísta quanto orgulhosa. A humanidade caída sempre busca suas próprias coisas e glória, mas a nova natureza, cuja perfeição é vista em Cristo (isto é, a vida dada ao crente), apenas tornará perfeito, sem uma única falha ou impedimento, aquilo que agora somos em Cristo Jesus, nosso Senhor.

 

W. Kelly

Digno é o Cordeiro

 

É a Igreja triunfante cantando,

Digno é o Cordeiro;

O céus por todo lado ressoando louvores,

Digno é o Cordeiro;

Tronos e poderes diante d’Ele se curvando,

Doces aromas com vozes ascendentes

Aumente o coro sem fim,

Digno é o Cordeiro.

 

Toda tribo, língua e nação,

Digno é o Cordeiro;

Juntem-se para cantar a grande salvação,

Digno é o Cordeiro;

Tão alto quanto poderosos trovões rugindo,

Inundações de poderosas águas jorrando,

Prostrados a Seus pés adorando,

Digno é o Cordeiro.

 

Harpas e cânticos soando para sempre,

Digno é o Cordeiro;

Graça poderosa sobre o pecado abundante,

Digno é o Cordeiro;

Por Seu sangue, Ele nos comprou com grande apreço;

Vagando do redil, Ele nos buscou,

E para a glória nos trouxe em segurança;

Digno é o Cordeiro.

 

Cantem com bendita antecipação,

Digno é o Cordeiro;

Pelo vale da tribulação,

Digno é o Cordeiro;

Notas mais doces, todas as notas excelentes,

Sobre o tema que permanece para sempre,

Ainda não contado, embora sempre revelador,

Digno é o Cordeiro.

J. Kent

“O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o Último Adão, em espírito vivificante”

1 Coríntios 15:45





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