Além da Morte (Abril de 2010)
- Revista O Cristão
- 18 de abr.
- 29 min de leitura

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Revista mensal publicada originalmente em Abril/2010 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
E. H. C. adaptado
J. N. Darby (adaptado)
W. J. Prost
The Bible Treasury 12:229
D. C. Buchanan
W. J. Prost
W. Potter, adaptado
Mia V. Bowcott
Além da Morte

Tiago nos ensina que uma pessoa morre quando seu espírito e sua alma são separados de seu corpo. Por meio do apóstolo Paulo aprendemos que quando a ressurreição ocorre, os corpos dos mortos são ressuscitados e são unidos novamente ao seu espírito e à sua alma e se tornam imortais. Esta edição se concentra no intervalo entre esses dois eventos.
Observamos o que nosso Deus nos revelou sobre o estado atual dos mortos, tanto em relação aos nossos irmãos quanto aos perdidos. Vemos por que aqueles que morreram em Cristo atualmente têm uma porção melhor do que nós. Eles estão habitando “com o Senhor”, nós não. Eles estão “no paraíso”, nós certamente não estamos. Eles estão livres do pecado e seus efeitos, nós não estamos.
Ao considerar esse assunto, testamos pela Palavra de Deus algumas das reivindicações daqueles que descrevem experiências nas quais acreditam que morreram e voltaram. Embora interessante, é sábio lembrar o que o Senhor disse: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas [a Palavra de Deus], tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (Lc 16:31). Nossa fé, nosso futuro e nosso conhecimento da verdade repousam sobre o que Deus nos diz, não sobre nossa interpretação do que nós ou outros temos experimentado. “É melhor confiar no SENHOR [tanto em Sua Pessoa quanto Sua Palavra] do que confiar no homem [tanto em nós mesmo quanto em outros]” (Sl 118:8).
Tema da edição
Sempre de Bom Ânimo
Ao falar da garantia da salvação, muitas vezes nos deparamos com respostas como: “Não é bom ter tanta certeza” ou “Não é presunção?” ou “Eu não acho correto estar tão confiante”. Se alguém acostumado a dar essas respostas ler essas linhas, rogamos sinceramente que considerem a passagem da Escritura onde aparecem as palavras no início deste artigo, e sentimos certeza de que não falarão mais assim. Vamos citá-lo: “Ora, Quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o Qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo [confiantes – JND], sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-Lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes” (2 Co 5:5-9).
É o apóstolo Paulo que fala assim daquilo que é verdadeiro para os Cristãos, e mostra que toda a obra e bênção são de Deus; Ele é a Fonte e o Autor dela; é Ele que operou em Seu povo para isso e é Aquele que deu e ainda lhes dá o penhor do Espírito. “Pelo que estamos sempre de bom ânimo”. Que fundamento sólido para a nossa confiança se basear – confiança, sim, porque do começo ao fim é uma obra de Deus. O homem não tem parte na questão. Ele é perfeitamente impotente em si mesmo; sem força, ele não pode fazer nada. Mas Deus, que tem a glória em vista, entra e Se ajusta aos pobres e fracos vasos humanos para isso. Ele nos leva em pura graça, tira nossos pecados, justifica-nos em Cristo e nos dá o Espírito como o penhor da glória a seguir. “Pelo que estamos sempre de bom ânimo”. Bem, que sempre estejamos! Quem pode frustrar o propósito, poder e obra de Deus? Ninguém. Satanás é um inimigo vencido, o homem é colocado de lado na cruz, e toda a obra é de Deus – uma nova criação (2 Co 5:17 – JND). Como então o Cristão pode ser tão confiante? Confiança em Deus é aquilo que O honra.
Sentimentos de fracasso
“Mas e quanto a minha dificuldade”, diz um deles, “está em mim mesmo: Sinto que sou uma criatura tão pobre e fracassada que temo ser muito confiante”. Exatamente, e com razão, enquanto estiver olhando para si mesmo. Se você esperar ter confiança apenas quando parar de falhar, terá que esperar muito tempo; de fato, até você deixar este mundo por completo. A confiança em Deus desloca a confiança própria. O apóstolo estava sempre confiante, porque tinha aprendido a descansar sempre em Deus e não em si mesmo, e essa é uma lição importante para se aprender.
Conhecimento
E observe a seguir o que acompanha isso – conhecimento. “Sabendo”, ele continua, “que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé e não por vista)”. Estamos confiantes, não esperando, nem pensando, nem sentindo, mas sabendo. “Sempre de bom ânimo [confiantes – JND], sabendo”. Ele estava desejando estar com o Senhor – nós também deveríamos estar. Mas como pode ser isso se estamos ocupados com nós mesmos e cheios de dúvidas e incertezas? Não que ele desejasse morrer, mas ser glorificado, como ele diz no quarto verso: “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”. Ele sabia que poderia adormecer, seu espírito passando do corpo para a presença do Senhor no estado de despido, mas essa não é a esperança Cristã apropriada e imediata. Cristo está chegando, e a mortalidade será tragada pela vida, não pela morte. O Cristão deve estar esperando subir, não ir para baixo – para a glória, e não para o estado despido. Esperamos “a adoção, a saber, a redenção [não a corrupção] do nosso corpo” (Rm 8:23).
Sem os “se”, “e” ou “mas”
E então em 2 Coríntios 5:8 ele confirma sua afirmação: “Temos confiança”. Nem uma palavra para amparar você em seu estado de altos e baixos, nem o menor motivo para você ter o mínimo de confiança em si mesmo, seja de que forma for. E não há o vestígio de um “se” ou um “mas” para justificar um momento de falta de confiança em Deus quanto ao futuro. Deus começa, continua e termina Sua obra. Ele salva, dá o Espírito como o penhor e enche a alma com confiança e conhecimento, removendo todo o medo. E Ele cria um desejo na alma de estar com Cristo onde Ele está. Então Ele gostaria que estivéssemos “sempre de bom ânimo [confiantes – JND]”. E você, também está?
Profissão vazia
Uma coisa, querido leitor, é se juntar aos Cristãos e pregar, mas outra é ser um pecador salvo pela graça, correndo com paciência a corrida que temos diante de nós, lutando o bom combate da fé, esperando pela glória. Pela graça sois salvos, não correndo ou lutando, e se salvos, Deus quer que você esteja sempre confiante. Mas aquele que professa e cuja vida é uma negação de sua profissão, a Palavra de Deus é inconfundivelmente clara: “Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (1 Jo 2:4). Tais certamente provarão ser inúteis e sem valor. Que cada crente em Jesus que lê essas linhas seja encontrado sempre confiante até aquele dia.
E. H. C. adaptado
O Estado da Alma Após a Morte
O estado da alma após a morte é um assunto que interessa profundamente a todos nós. Muitos queridos crentes têm a vaga ideia de ir para o céu, mas isso não é mencionado na Escritura, a não ser no único caso do ladrão na cruz indo para estar com Cristo no paraíso. Não que não vamos para lá, mas o pensamento da Escritura sempre está em ir para Cristo. Como Ele está no céu, é claro que vamos para lá, mas estar com Cristo é o que a Escritura apresenta, e isso é importante quanto às nossas afeições espirituais. Cristo é o Objeto diante da alma, de acordo com a Palavra, não simplesmente ser feliz no céu, embora sejamos felizes e no céu.
Felicidade imediata
Meu objetivo agora é dar uma declaração bíblica clara de que há imediata felicidade com Cristo para o Cristão que partiu. É um estado intermediário, pois o Cristão que partiu espera pela ressurreição do corpo – e somente então ele estará em seu estado final em glória. O propósito de Deus é que sejamos conforme à imagem de Seu Filho, para que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. “Ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (1 Jo 3:2). Este, e estar para sempre com o Senhor, é o nosso estado eterno, quando Cristo vier e nos receber a Si mesmo, nos transformado à Sua semelhança, quando nosso pobre corpo terrenal tiver sido conformado ao Seu corpo glorioso (Fp 3:21). Duas coisas nos pertencem: primeiro, ser como o próprio Cristo e estar com Ele; segundo, ser abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais n'Ele. A redenção nos assegurou isso, mas não estamos na possessão disso. Temos apenas o penhor do Espírito, embora Deus tenha nos preparado precisamente para isso.
Lugares celestiais
Além disso, nossa porção está nos lugares celestiais: É distintivo dos crentes que creram e sofreram com Cristo. Nos é dito que Deus irá “congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra” (Ef 1:10). Chegará o tempo em que não somente todas as coisas no céu e na Terra serão reconciliadas (Cl 1:20), mas mesmo as coisas sob a Terra, coisas infernais, serão forçadas a reconhecer Seu poder e autoridade. Todo joelho se dobrará a Ele, e toda língua confessará que Jesus Cristo, o Desprezado e Rejeitado pelos homens, é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2:10-11). Devemos esperar por isso. Mas nesta reunião de todas as coisas no céu e na Terra sob Cristo, nossa parte está nos lugares celestiais; como agora é nossa porção em espírito, assim será nossa parte em glória. Tampouco existe separação real entre esses dois. Certamente, não estamos em glória agora, mas esse é o nosso chamado agora, aquilo pelo qual somos resgatados e aguardamos. “Mas a nossa cidade [cidadania, nosso relacionamento na vida de Cristãos] está nos céus” (Fp 3:20); no mesmo capítulo, versículo 14, onde você tem a “soberana vocação”, a verdadeira força da palavra é “chamado acima”. Assim também, em Hebreus 3, somos participantes do chamado celestial. Como unidos a Cristo pelo Espírito Santo, estamos assentados em lugares celestiais em Cristo – não ainda com Ele, mas sim n'Ele; esse é o nosso lugar.
Por isso, é expresso clara e distintamente que nossa esperança é reservada para nós no céu (Cl 1:5), e Pedro nos diz que uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar está reservada no céu para nós (1 Pe 1:4). Tudo isso mostra claramente que nossas bênçãos estão onde entra a nossa esperança, onde o nosso Precursor se foi, que a nossa glória é celestial, não terrenal. Traremos a imagem do celestial e estaremos para sempre com o Senhor. Todo o objetivo da Epístola aos Hebreus é mostrar que nossa porção é celestial, em contraste com o Judaísmo, que era terrenal.
O estado intermediário
Mas até que ponto a Palavra de Deus nos revela o nosso estado intermediário, entre o tempo em que estamos neste tabernáculo, no qual gememos, e o momento em que ele será glorificado, quando Cristo vier e transformar nosso corpo de humilhação (ARA), conformando-o ao Seu corpo glorioso? Depois de entendermos que nosso chamado é celestial, tudo é simples e claro. Nossa cidadania agora e sempre está no céu. Quando e se morrermos, desfrutaremos disso mais, ou menos, do que aqui?
Sabemos que Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele vivem todos (Lc 20:38). Embora mortos para este mundo, para Ele eles estão tão vivos como sempre, e assim também é para a fé. Alguns ensinam que eles dormem, mas não há fundamento algum para isso. Estevão adormeceu, isto é, morreu; não foi que sua alma tenha adormecido após a morte. Alguns adormeceram, isto é, morreram (1 Co 15:6), e esta é a mesma palavra que “aqueles que adormeceram por meio de Jesus” em 1 Tessalonicenses 4 – JND. Isso contrasta com estar vivo, em Tessalonicenses, e com permanecer até o momento, em Coríntios. Isso é simplesmente morrer, e uma bela expressão para mostrar que eles não deixaram de existir, mas se levantarão novamente em ressurreição, como um homem acorda de seu sono. Isso é claramente visto no caso de Lázaro, em João 11. O Senhor diz: “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono”. Eles pensaram que Ele falava do repouso do sono; então Ele disse claramente: Lázaro morreu. Ou seja, dormir significa claramente morrer, e acordar não é acordar a alma, como se ela dormisse à parte, mas voltar do estado de morte pela ressurreição. O adormecer de um Cristão não é mais nem menos do que morrer; a doutrina do sono da alma é uma pura invenção.
Ela está ausente do corpo, mas ela está presente com o Senhor
Os Cristãos têm Cristo como sua vida, assim como O têm como sua justiça, e, quanto à sua própria morte (2 Co 5:6), eles estão sempre confiantes, sabendo que enquanto estão habitando no corpo, estão ausentes do Senhor. Eles têm vida eterna em Cristo, mas aqui vivem ausente do Senhor, no vaso de barro; quando deixar o pobre vaso de barro, ele estará presente com o Senhor. Isso é melhor ou pior? Lembre-se de que Cristo é a nossa vida; porque Ele vive, nós vivemos. Perdemos nossa conexão com Ele quando morremos? Não é perfeitamente evidente que quando Paulo fala de estar com Cristo e de ser muito melhor do que servi-Lo aqui (embora isso valesse a pena), ele fala do gozo de estar lá? O Senhor declara ao ladrão, que O confessou, que ele estaria com Ele naquele dia no paraíso. Estar com Cristo e no paraíso não era a felicidade que Ele prometeu a ele? Ele tinha certeza de que Aquele que estava pendurado na cruz viria (e não “entraria” como traduzem algumas versões) em Seu reino e pediu para que Cristo pudesse se lembrar dele então. A resposta do Senhor estava em plena harmonia com todo o teor do evangelho: Você não terá que esperar por isso. Eu trago salvação pela graça; hoje estarás Comigo no paraíso – o companheiro adequado de Cristo em bem-aventurança. Esta, então, é a parte do santo que partiu, para estar com Cristo em bem-aventurança, ausente do corpo e presente com o Senhor.
O estado intermediário, então, não é a glória (pois para isso devemos esperar por nosso corpo ser glorificado), mas é a bem-aventurança onde não há mal algum. É estar com o próprio Cristo, a fonte do gozo inefável. As esperanças e o estar “sempre confiante” de Paulo e de Estevão não foram frustrados, nem a garantia dada pelo Senhor ao ladrão deixou de se cumprir. Pergunto: poderiam as brilhantes esperanças, mencionadas em 2 Coríntios 5, Filipenses 1, Atos 7 e as palavras do Senhor ao ladrão, significar, para qualquer mente honesta, adormecer rapidamente e não saber nada? Se 2 Coríntios 5:6-8 significa estar feliz com Cristo, significa estar feliz com Ele quando morremos.
O gozo de Cristo
Não podemos dizer como um espírito desfruta de Cristo, mas não há dificuldade alguma nisso. Meu espírito desfruta de Cristo agora, apesar do impedimento do pobre vaso de barro em que se encontra, e embora agora não O vejamos, ainda nos regozijamos com gozo indizível e cheio de glória (1 Pedro 1:8). Não é o meu corpo que O desfruta agora, mas a minha alma espiritualmente, com o impedimento do vaso de barro e ausente d’Ele; mas então será sem o impedimento do vaso de barro e presente com Ele. O crente pode descansar perfeitamente seguro de que, ao partir do corpo, ele estará presente com o Senhor, e se Sua presença é gozo para ele, ele terá esse gozo. Ninguém estaria mais ansioso para enfatizar a vinda do Senhor e a nossa espera por Ele e a importância da ressurreição. Eu insistiria nisso, como já o fiz, sobre os santos e, de fato, sobre todos, em seu devido lugar, mas não para enfraquecer a solene verdade que todos vivem para Deus, mesmo que sejam espíritos em prisão, nem por outro lado, o excelente gozo e benção de estar com Cristo quando partimos, que morrer é ganho. Esse gozo legitimamente animou e lançou luz celestial em muitos leitos de morte, e ainda o fará assim, se o Senhor prolongar Sua vinda. A Escritura é clara que para um santo partir e estar com Cristo é muito melhor do que o serviço mais bem-sucedido aqui; é tão claro quanto a felicidade do santo nessa condição. O estado completo e final da bênção eterna é quando Cristo virá e tomará todos os Seus santos para estar com Ele para sempre em glória, como Ele mesmo, quando o casamento do Cordeiro tiver chegado e quando estaremos para sempre com o Senhor.
J. N. Darby (adaptado)
Experiências Próximas à Morte
As experiências de “próximas à morte” ou “fora do corpo” têm interessado e fascinado a humanidade por milhares de anos, e há referências a esses fenômenos desde a literatura grega até a romana. No entanto, o interesse moderno pelo assunto realmente começou com a publicação em 1975 do livro de Raymond Moody, Life After Life (Vida após a Vida). Desde então, houve uma explosão de interesse no assunto e, com a chegada da Internet, agora existem vários sites dedicados a ele. O interesse pelo assunto cruza todas as linhas das chamadas religiões do mundo e está presente entre ateus, gnósticos, universalistas e adoradores de Satanás.
Quando os crentes se deparam com tais experiências, muitas questões surgem. Elas são de Deus ou às vezes são produzidos por Satanás? Elas podem ser confiáveis ou são formuladas por mentes que são distorcidas por uma imaginação vívida, por falta de oxigenação, por drogas ou outras influências? Que mensagem, se houver, deve ser recebida deles? Vejamos essas perguntas à luz da Palavra de Deus.
Um exemplo de “próximo à morte”
Para aqueles que não estão familiarizados com o assunto, aqui está um exemplo de uma experiência de “quase morte”.
“Fui levada às pressas para o hospital com queimaduras de terceiro grau em 65% do meu corpo. O que aconteceu a seguir pode parecer mais fantasia do que real, mas eu viajei para aquela terra além da morte e voltei”.
“Uma das primeiras coisas que a alma tem consciência quando sai do corpo físico é a sensação de falta de peso. É uma experiência e tanto olhar para o seu corpo físico deitado em uma cama de hospital. Quando superei o choque da separação do corpo terrenal e percebi que estava agora no mundo espiritual, fiquei impressionada com a vasta diferença entre os dois mundos. Parece não haver fator de tempo no mundo espiritual; além disso, nenhuma sensação de distância ou espaço como a conhecemos aqui”.
“Depois que voltei e tomei morada neste corpo terrenal, o Espírito de Deus me levou à Bíblia, que me mostrou que Cristo é a única resposta. Desde que aceitei a Cristo como meu Salvador pessoal, tenho a certeza da vida eterna”.
Essas experiências podem assumir muitas formas diferentes, embora a sensação de estar fora do corpo seja comum a todas elas. Alguns têm visões agradáveis, enquanto outros veem coisas assustadoras. Alguns afirmam ter visto entes queridos que morreram em algum momento no passado. Com alguns, suas experiências foram conectadas com certas crenças religiosas, dependendo do histórico do indivíduo em questão.
O que a Escritura diz
Em primeiro lugar, acredito que temos a Escritura para afirmar que Deus definitivamente usa essas experiências para falar ao homem. Como o homem é um ser tripartido (espírito, alma e corpo) e sendo criado à imagem e semelhança de Deus, ele tem uma parte consciente de Deus em seu ser. Como tal, o homem é capaz de apreciar as comunicações de Deus, e Deus escolhe Se comunicar com ele de maneiras diferentes. Em Jó, lemos: “Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba; para desviar a sua alma da cova e a sua vida, de passar pela espada” (Jó 33:14-18).
Tais experiências, como as que estamos discutindo, são únicas para o homem e são evidências de que ele foi feito para a eternidade e não apenas para o tempo. Como no exemplo que acabamos de dar, Deus usa essas experiências para levar os homens a pensarem em seu destino eterno e fazê-los perceber sua responsabilidade para com Deus. Alguns que tiveram experiências negativas viram claramente que estavam no caminho de uma eternidade perdida e foram trazidos a Cristo. Não há dúvida de que Deus pode e trabalha por meio dessas experiências.
O poder de Satanás
Por outro lado, sabemos que Satanás é “o príncipe das potestades do ar” e que ele também é o deus e príncipe deste mundo. Nesse papel, ele usa seu poder para influenciar a mente dos homens e dar-lhes uma falsa sensação de segurança ou afirmar o que está errado. Quando as pessoas depositam sua fé na experiência, e não na Palavra de Deus, elas abrem a porta para esse tipo de engano. Muitos incrédulos que tiveram essas experiências afirmam ter visto uma luz linda, sentiram um brilho pacífico e estavam envolvidos em uma “transição para outra dimensão”. Eles alegam que agora estão livres de qualquer medo da morte e encontraram uma profunda “paz interior”.
Drogas e o ocultismo
Conectados a tudo isso, há convites para que as pessoas iniciem experiências fora do corpo usando meditação transcendental, formas avançadas de yoga e outros métodos que estão conectados ao ocultismo. Também é significativo que a maioria das técnicas sugeridas esteja relacionada ao pensamento da Nova Era e ao misticismo oriental. Também é sabido que certos medicamentos e até agentes anestésicos, como a cetamina, às vezes podem levar o indivíduo a ter essa experiência. A mente humana pode funcionar em canais estranhos quando está sob a influência de vários medicamentos, e mesmo enquanto dorme profundamente. A maioria de nós, de vez em quando, teve sonhos extremamente imaginativos e um tanto ridículos, mas pareciam muito reais no momento.
Voltar à Palavra de Deus
O que devemos então, como crentes, fazer com tudo isso? Não é nosso objetivo tentar explicar todos os fenômenos relacionados a essas experiências. Como vimos, há mais de uma causa para esses eventos e, em qualquer experiência, várias causas podem estar presentes. No entanto, acredito que a Escritura, como sempre, nos dá “tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3).
Antes de tudo, o mais importante é perceber que sempre que Deus está nos ensinando a verdade sobre um assunto importante, Ele nunca nos remete à experiência, mas à Sua Palavra. A experiência é importante e Deus a usa em nossa vida. Como vimos, Deus às vezes usa experiências “próximas à morte” e “fora do corpo” para conscientizar as almas de sua condição perdida. Em outros momentos, Ele deu aos crentes que estavam à morte uma visão clara da glória vindoura. No entanto, a experiência não é confiável quando a verdade fundamental está em questão. Os sentidos do homem não podem ir além do que está agindo sobre eles, e qualquer raciocínio baseado na experiência sensorial pode tratar, na melhor das hipóteses, apenas em possibilidades. A experiência pode variar de acordo com nosso estado mental e espiritual, nossa condição corporal e outras circunstâncias que podem influenciar nossa percepção no momento. Em contraste, “a Tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17) e “a Palavra do Senhor permanece para sempre” (1 Pe 1:25). Por fim, não podemos saber nada com certeza sobre o que acontece após a morte, além do testemunho da Palavra de Deus. Neste tempo da graça de Deus, Deus “trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho” (2 Tm 1:10), e não há dúvida alguma sobre o que acontece após a morte, pois foi totalmente revelado. Vamos confiar na clareza da Palavra de Deus, em vez de experiências questionáveis.
Deus no controle
Segundo, lembremos que Deus está firmemente no controle de tudo o que acontece além da morte. Lemos em Tiago 2:26 que “o corpo sem o espírito está morto”, e a Escritura também nos diz, em conexão com a morte, que “o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12:7). Deus é Aquele que controla a vida de todos, e quando Ele escolhe tirar a alma e o espírito do corpo, ninguém, a não ser Ele, pode reuni-los. Se Ele permite uma experiência intermediária em alguns casos, é apenas uma demonstração de que o homem é mais do que apenas um corpo. Mas é somente Deus Quem tem o poder de tomar o espírito e a alma ou permitir que eles retornem ao corpo.
Quando a morte ocorreu claramente, existe apenas Aquele que é “o Primeiro e o Último” e que possui “as chaves da morte e de Hades” (Ap 1:17-18 – JND). Seja o corpo em uma sepultura ou o espírito e a alma sem corpo, é Deus Quem determina seu destino, e somente Ele os reunirá um dia, seja na vinda do Senhor para o crente ou no grande trono branco para o incrédulo.
Poucos detalhes dados
Finalmente, é importante notar que em nenhum lugar da Escritura encontramos nenhuma descrição detalhada do que é experimentado pelas almas “em Hades”, isto é, na condição de alma sem corpo. Em Lucas 16, somos informados simplesmente que o homem rico estava “atormentado”, enquanto Lázaro estava no “seio de Abraão”. Evidentemente, eles tinham todos os sentidos e podiam pensar, lembrar, sentir dor ou prazer e se comunicar. Além disso, o Senhor poderia dizer ao ladrão que estava morrendo que ele estaria com Ele naquele mesmo dia “no paraíso”. Quando Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, é simplesmente registrado que ele “ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar” (2 Co 12:4). Se ele viu e reconheceu alguma coisa ou alguém lá, não foi registrado.
Alguns queridos crentes, talvez com bons motivos, se comprometeram a publicar o que viram e ouviram durante uma experiência “fora do corpo”, com o objetivo de descrever como é o céu. Tais livros e artigos causaram muita sensação e estão sendo anunciados como prova de vida após a morte. No entanto, como Deus não nos deu essa descrição em Sua Palavra, é bastante duvidoso que Ele usasse alguém para trazer uma “nova revelação” neste ponto da história da Igreja.
Percebemos também, com todos aqueles na Escritura que morreram e foram ressuscitados dos mortos, como o homem morto cujo corpo tocou os ossos de Eliseu (2 Rs 13:21), a filha de Jairo (Lc 8:49-56), o filho da viúva de Naim (Lc 7:11-15) e Lázaro (Jo 11), que a Escritura não registra nada que ouviram ou viram ou o que experimentaram. Parece que Deus achou oportuno nos dar uma breve visão do mundo invisível, mas Ele não revelou muitos detalhes. Onde a Escritura é silenciosa, preencher a lacuna usando a experiência do homem é edificar sobre um fundamento de areia.
Se formos chamados como crentes para passar pela morte, podemos descansar no fato de que é para estar com Cristo; o que é muito melhor (Fp 1:23). Conforme as palavras do hino:
“Que gozo e bênção completos seriam,
Além de estar onde Tu estás?”
Hinário Little Flock – Hino 235
W. J. Prost
Samuel Inquietado no Hades
Saul, após a morte de Samuel, foi pedir ajuda à feiticeira de En-Dor. Ele, que abertamente se afastou de Deus, recebeu sua resposta do velho profeta de Deus. Deus assim encontrou o homem infeliz e não permitiu que um demônio personificasse Seu servo. Foi Samuel quem Saul viu. Foi uma visão incomum que a feiticeira viu. Ela confessou, quando disse a Saul que viu deuses subindo da terra. Seu espírito familiar era incapaz de agir, pois o próprio Deus havia assumido o assunto contra Saul.
Samuel estava morto, mas ele existia no estado fora do corpo e, na casa da mulher em En-Dor, ele conversou com Saul e disse-lhe o que aconteceria com ele e seus filhos no dia seguinte. O curso do rei de abandono de Deus é claramente relatado, e o futuro é claramente declarado. Ele estaria no dia seguinte com este Samuel. A morte não encerra a existência dos justos ou ímpios. Samuel estava morto, mas ele não havia deixado de existir. Saul morreria, mas estaria com Samuel no lugar dos espíritos dos que haviam partido, chamado, no Novo Testamento, de “Hades”. A existência de tal lugar, e quem está lá, é tudo o que Samuel, por sua palavra, declara. Ele não foi incumbido de revelar a condição e a posição distinta de cada um no Hades. Mas isso pelo menos é claro, que o profeta estava melhor lá do que aqui. Ele não tinha vontade de voltar à Terra. Ele ficou inquieto ao ser trazido de volta (cap. 28:15). Seu estado pacífico havia sido interrompido por aparecer nesta ocasião a Saul. Duas coisas sobre o outro mundo são esclarecidas. A morte não é o fim da existência de nenhum homem, e os mortos justos não desejam ser trazidos de volta aos palcos deste mundo novamente. Saul obteve sua resposta, e não foi uma resposta incerta, mas que não lhe dava nenhum raio de conforto. Ele sentiu que Deus o havia abandonado e Samuel confirmou isso. Era verdade. Agora nada restava para ele além da morte, e após a morte o julgamento. Seu reinado, que começou, aos olhos humanos, de forma tão promissora, terminou tão desastrosamente. A vitória marcou seu início; a derrota, seguida pela morte por suas próprias mãos, encerrou sua carreira. Ele saiu deste mundo para se encontrar com um Deus ofendido. Assim terminou o curso do homem responsável diante de Deus.
The Bible Treasury 12:229
Saul e Paulo
Como eles enfrentaram a morte
A esperança que o apóstolo Paulo teve no final de sua vida contrasta com o desespero do rei Saul. Esses dois homens que compartilharam o mesmo nome e tribo receberam a informação de que morreriam em breve, além de certas revelações sobre a vida após a morte. Samuel disse a Saul quando foi perguntar a uma mulher que era uma feiticeira: “amanhã tu e teus filhos estareis comigo” (1 Sm 28:19). “E imediatamente Saul caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel; e não houve força nele” (v. 20). Paulo, no final de sua vida, disse: “eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia” (2 Tm 4:6-8).
Há muito a aprender ao considerar a perspectiva que esses dois homens tiveram da vida após a morte. O que deixou o rei Saul com medo? Por que Paulo não estava apenas pronto para morrer, mas preferia partir deste mundo e estar com Cristo (Fp 1:20-24)? Paulo certamente teve mais luz sobre a vida após a morte, mas não acreditamos que esse seja o motivo pelo qual ele estava confiante diante da morte. Foi a obediência da fé; o apóstolo andou em obediência ao que Deus lhe revelou. Ele creu em Deus e andou de acordo. Isso lhe deu certeza do que Deus lhe revelou. Observe algumas de suas palavras: “até ao dia de hoje tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência” (At 23:1). “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20:24). Mais tarde, ele escreveu: “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Fp 1:20). A consistência da caminhada de Paulo com o que lhe fora revelado é o que lhe deu confiança e esperança. Hebreus 6:19 diz: “A qual (esperança) temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu”.
Pelo contrário, Saul continuou andando em desobediência depois de saber onde havia falhado. Embora reconhecesse verbalmente que havia pecado, ainda assim ele se recusou a matar todos os amalequitas. Seu desejo era ser honrado perante os anciãos e todo o Israel (veja 1 Samuel 15). No final de sua vida, quando Samuel foi trazido de volta dos mortos para falar com ele, Samuel reiterou a mesma coisa para ele. “Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR, e não executaste o fervor da Sua ira contra Amaleque, por isso o SENHOR te fez hoje isto” (1 Sm 28:18).
Samuel revelou a Saul que no dia seguinte ele e seus filhos estariam onde Samuel estava, ou seja, o lugar dos espíritos que partiram, ou “Hades”, como é chamado no Novo Testamento. Isso fez o rei Saul se desesperar. Samuel não disse nada sobre Saul ir a um lugar de tormento – apenas que ele estaria com ele. O que deixou Saul com medo foi que ele não tinha fé para andar com Deus e não estava preparado para morrer. Saul viveu para agradar a si mesmo na posição que Deus lhe dera, mas Saul não deu a Deus Seu lugar de direito. Então, quando Deus o abandonou, ele caiu em desespero. As coisas de Deus só são apreciadas se tivermos fé para andar nelas. Obediência e felicidade andam juntas.
Histórias próximas à morte
A questão agora diante de nós é: como devemos nos relacionar com histórias de experiências próximas à morte? Antes de tudo, Deus não está limitado em Sua capacidade de comunicar essas coisas ao Seu povo. É necessário cuidado ao confiar no que os outros relatam, pois nossa fé não é substanciada pela experiência de outros. Nossa fé deve estar na Palavra de Deus, e não nas experiências dos homens. Temos uma palavra de profecia mais segura.
Cremos que o exemplo do apóstolo Paulo nos dá o verdadeiro segredo sobre o que vem depois da morte e como enfrentá-lo. Aprender a conhecer Aquele que tem as chaves da morte e do inferno [Hades] é a melhor coisa. Isso significa muito mais do que conhecer fatos. É conhecer Aquele que revela os fatos. O apóstolo diz desta maneira: “Para conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte; Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos”. Então ele continuou: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:10-11, 14). Não que Paulo não tivesse certeza de estar com Cristo depois que ele morresse, mas ele se esforçou para aprender a conhecer o máximo que podia de Cristo, andando com Ele na Terra, para que O conhecesse melhor em glória. Isso fez dele um homem feliz no final de sua vida. Acreditamos que é o segredo para nós também. Que o Senhor nos dê mais desse zelo para aprender a conhecê-Lo agora durante o resto de nosso tempo na Terra.
D. C. Buchanan
A Sepultura, o Paraíso, o Hades e a Geena
As palavras em nosso título são usadas nas Escrituras, mas às vezes são mal compreendidas ou o significado não é totalmente apreciado. Além disso, algumas delas são ocasionalmente traduzidas erroneamente na versão King James, e talvez em outras traduções também. É importante ter um entendimento claro dessas palavras, a fim de entender o que Deus diz sobre o que está além da morte.
A sepultura
No Velho Testamento, a palavra hebraica ‘qeber’ significa uma sepultura e está sempre conectada a uma localidade definida. A palavra grega correspondente no Novo Testamento é ‘mnemeion’, também significando uma sepultura ou sepulcro. Ambas as palavras são traduzidas de várias formas, como sepultura, sepulcro, túmulo e cemitério e estão conectadas ao corpo, nunca à alma ou ao espírito. Ambas as palavras costumam ter um lugar geográfico específico conectado a elas, e na KJV são traduzidas corretamente, tanto no Velho quanto no Novo Testamento.
Sheol e Hades
No Velho Testamento, a palavra hebraica ‘Sheol’ ocorre muitas vezes. Entendida adequadamente, ela transmite o pensamento de uma alma sem um corpo, e é claramente uma condição, não uma localidade. A palavra grega do Novo Testamento é ‘Hades’, também descreve a condição de uma alma sem um corpo. É aqui que ocorre uma dificuldade, no entanto, pois no Velho Testamento, a palavra Sheol é traduzida “inferno” trinta e uma vezes, e é traduzida trinta e quatro vezes como “sepultura”. Ambas as traduções podem causar confusão, pois inferno, como a Escritura usa a palavra, não é uma condição, mas um lugar. Da mesma forma, uma sepultura é um lugar para um corpo, não a condição de uma alma fora do corpo.
Da mesma forma, no Novo Testamento, a palavra ‘Hades’ é traduzida ‘inferno’ dez vezes e, uma vez traduzida, ‘sepultura’. Mais uma vez, isso gera confusão, pois nem o inferno nem a sepultura transmitem adequadamente o pensamento de uma alma sem um corpo. A sepultura refere-se apenas ao corpo, enquanto a palavra ‘inferno’ é a tradução adequada da palavra ‘Geena’. Falaremos mais sobre isso mais tarde.
Assim, todos os que morreram, sejam crentes ou não, e se morreram nos tempos do Velho ou do Novo Testamento, pode-se dizer apropriadamente que estão em Sheol ou em Hades, quando está se falando da alma desses. No Velho Testamento, antes que a luz do evangelho chegasse, o que acontecia entre a morte e a ressurreição não foi revelado. Mesmo o santo mais piedoso de Deus no Velho Testamento não sabia com certeza para onde estava indo depois da morte. Ele podia confiar em Deus, mas ele não sabia o que iria acontecer. Isso explica expressões em livros como Salmos, Eclesiastes e Jó, que podem levar um leitor casual a supor que todos, sejam eles crentes ou não, vão para um lugar. Por exemplo, lemos em Eclesiastes 3:20: “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó”. Mais uma vez, Jó poderia dizer: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele” (Jó 14:10).
Em certo sentido, todos os que morrem estão em uma condição, na medida em que todos estão em um estado fora do corpo, isto é, na condição de alma sem corpo. No entanto, sabemos que Deus “trouxe à luz a vida e a incorrupção [incorruptibilidade - JND], pelo evangelho” (2 Tm 1:10), e agora sabemos o que acontece entre a morte e a ressurreição. Diz-se simplesmente que o incrédulo está em Hades, mas é revelado como uma condição de tormento, pois lemos sobre o homem rico em Lucas 16 que “no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu” (Lc 16:23). No entanto, o crente nunca é mencionado nesses termos, e isso nos leva a outra palavra.
Paraíso
Embora usada a própria palavra grega, essa é de origem persa e foi usada para descrever os jardins murados especiais mantidos pelos reis persas para seu prazer. Foi usado na tradução da Bíblia da Septuaginta para se referir ao jardim do Éden, e transmitia à mente oriental tudo o que era rico e bonito. Nosso Senhor usou essa palavra para o ladrão que estava morrendo para descrever seu destino e o Seu próprio após a morte. Paulo identifica a palavra com o terceiro céu em 2 Coríntios 12, e está conectada com a árvore da vida em Apocalipse 2:7. É sempre usado em conexão com os crentes e com o lugar de gozo e bênção para o qual eles passam depois de terem deixado este mundo. Nesse sentido, o paraíso pode ser localizado, enquanto os termos Sheol e Hades não podem; eles simplesmente expressam a condição das almas no mundo invisível.
No Novo Testamento, nunca se diz que o crente que morre está em Hades, nem se diz que ele está no paraíso ou no céu, embora tudo isso seja verdadeiro. Porém, a Escritura sempre fala da alma e do espírito do crente como estando “com Cristo”. Embora as palavras paraíso e céu transmitam, de fato, o pensamento de beleza e descanso, mas para o crente a ênfase está na Pessoa de Cristo, não no lugar. Como o escritor do hino coloca,
Não contemplarei a glória,
Mas o Rei da graça.
Embora estar com Cristo, mesmo no estado fora do corpo, seja algo maravilhoso, ainda assim a plenitude de gozo e bênção deve esperar até que o Senhor venha. Naquele momento, a alma e o espírito do crente serão reunidos com seu corpo, e o corpo será transformado “conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21). Então o crente não estará apenas com Cristo, mas será totalmente como Ele, tendo não apenas uma natureza, mas também um corpo adequado àquele lugar celestial. Ser completamente como Cristo e passar a eternidade com Ele são a esperança apropriada de todo crente.
Geena
Finalmente, devemos dizer algo sobre a horrível palavra Geena (TB). Embora usada apenas no Novo Testamento, essa palavra tem sua origem nos tempos do Velho Testamento. É traduzida como inferno ou inferno de fogo e sempre tem o pensamento de um lugar definido, não de uma condição. Em contraste com Hades, que é um estado temporário, Geena é um destino eterno. Poderíamos dizer que Hades é como a condição de um prisioneiro aguardando seu dia no tribunal, enquanto a Geena é como a prisão em que ele é colocado após condenação.
A Geena era o vale de Hinom, no lado sul de Jerusalém, onde o lixo era queimado e os abutres pairavam. Nos tempos dos reis ímpios de Judá, sacrifícios idólatras eram realizados ali, incluindo até o sacrifício de crianças. Não foi até o reinado de Josias que tais práticas abomináveis foram abolidas.
O horror do local ganhou para ele o nome “Ge-hinnom” (Vale de Hinnom), que resultou na palavra grega Geena, usada por nosso Senhor para Se referir ao inferno. Não se diz que tenha sido criado, mas “preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41). É neste lugar terrível que os iníquos serão lançados, corpo e alma, por toda a eternidade.
No grande trono branco, lemos que “morte e o inferno [Hades – TB] deram os mortos que neles havia” (Ap 20:13). A morte entrega o corpo, enquanto o Hades entrega a alma; eles estão reunidos para enfrentar o Senhor Jesus no trono do julgamento. Depois, lemos que “a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo” (Ap 20:14 – TB). Que fim terrível para aqueles que recusam a graça de Deus!
W. J. Prost
Aperfeiçoados
“Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não tardará” (Hb 10:37). Em Hebreus 11:32-40, somos informados do motivo pelo qual devemos ter paciência no sofrimento e na espera da vinda do Senhor. Os “dignos” dos quais ele fala são aqueles de quem o mundo não era digno. Eles obtiveram um bom testemunho [registro] pela fé, mas não receberam a promessa: “provendo [havendo previsto – JND] Deus alguma coisa melhor a nosso respeito”. O que isso quer dizer? “Para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados”.
O que ele quer dizer com “aperfeiçoado”? Esses que morreram na fé estão descansando com o Senhor há muito tempo, mas não estão perfeitos. Em que sentido eles estão imperfeitos na presença de Deus? Eles estão ausentes do corpo e estão presentes no Senhor, mas estão, no que é chamado em outra passagem, num “estado despido”. Ser aperfeiçoado aqui se refere à ressurreição. Quando Deus criou o homem, Ele não o fez sem um corpo, e a morte tem entrado e separado o homem de seu corpo, despe-o de seu corpo, e ele está desvestido, sem o seu corpo. A ressurreição o traz de volta à perfeição. O homem está vestido de novo com seu corpo. Ele está vestido com um corpo que nunca conhecerá a morte. O homem já tem uma alma que nunca morrerá, mas ainda não um corpo que nunca morrerá. Tudo isso é desenvolvido e ampliado em 2 Coríntios 5.
“Não porque queremos ser despidos” (2 Co 5:4). Se a morte vem, é muito abençoado para o crente. É muito melhor “partir e estar com Cristo”, mas não é o que queremos. Como o apóstolo diz: “não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”. É isso que acontecerá na ressurreição. Eles serão vestidos com corpos imortais e incorruptíveis, corpos espirituais.
W. Potter, adaptado
Apenas Começou
"Está tudo acabado", disse uma senhora tristemente, referindo-se ao "adormecer" de um amado amigo Cristão. "Não, mas digamos que apenas começou", foi a resposta reverente.
Apenas começou o glorioso alvorecer
Daquele mundo tão formoso,
Onde entra o espírito resgatado,
Livre de todo cuidado.
Passaram para sempre todas as vigílias
Da sombria noite;
Apenas começou o êxtase do despertar
Na luz celestial.
Apenas começou a bem-aventurança
De estar mais perto de Seu lado,
Ali, através de dias sem nuvens,
Para sempre habitar.
Apenas começou o glorioso hino
“Àquele que morreu”;
No gozo de estar com Ele,
Plenamente satisfeito.
Apenas começou a bem-aventurança de aprender
O que Seu amor fez,
Nas muitas, “muitas moradas”
Que Sua morte conquistou.
Mia V. Bowcott
“Com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte”
Filipenses 1:20
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