Breves Meditações - Parte 4/14
- J. G. Bellett (1795-1864)

- 22 de jul.
- 18 min de leitura
Atualizado: 2 de out.

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ÍNDICE
Breve Meditações
Parte 4
J. G. Bellett
O Enigma de Sansão
“Do comedor saiu comida, e do forte saiu doçura” (Juízes 14:14)
Isso foi abundantemente ilustrado na história deste mundo. Acaso não posso dizer que é a chave de tudo? Ela nos mostra figurativamente Deus e o inimigo em suas diversas obras – o inimigo fazendo sua obra como o forte e o comedor, e Deus, em poder gracioso e vitorioso, forçando-o a produzir tanto comida quanto doçura – constantemente e sempre extraindo o bem do mal e construindo novos sistemas de maravilha, glória e gozo a partir das ruínas que Satanás forjou.
No entanto, estou agora considerando isso apenas como nos é apresentado nos primeiros capítulos da Escritura – refiro-me a Gênesis 1-9.
O homem em inocência é colocado no jardim do Éden; e lá (como toda a Sua criação) Deus é glorificado e tem Seu gozo, enquanto a criatura é abençoada e feliz.
Mas o homem perde esse gracioso estado. Ele perde sua inocência sob a tentação da serpente, e junto com sua inocência ele perde tudo.
Isso nos leva imediatamente a uma nova cena. Com certeza. Mas temos que perguntar: o que vemos do homem e do próprio Deus bendito ali?
Deus faz uma túnica de peles para Adão e o veste, e também outra para Eva e a veste.
Pergunto novamente: esta obra foi mais ou menos grata a Ele do que a obra de criação dos seis dias anteriores? Consideremos isso. Na obra da criação, o Senhor Deus tinha materiais diante de Si, e em beleza e fecundidade Ele estava adornando os céus e abastecendo a Terra. Mas agora Ele tem Cristo diante de Si, e está ocupado com aquela obra de graça que havia sido o segredo e o conselho de Seu seio em Sua própria eternidade, e que será para maravilha, gozo e louvor em outra eternidade.
E quanto a Adão, ele, no início, chamou sua companheira de “mulher”, mas agora ele a chama de “Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes”.
Pergunto novamente: em qual destes nomes de sua companheira auxiliadora Adão encontrou seu maior gozo? Deixarei que isto responda: “Ele a recebeu, a princípio, como vinda de si mesmo, osso de seus ossos e carne de sua carne; mas agora ele a recebe como mãe (e a testemunha para si mesmo) daquela misteriosa Semente que haveria de travar um confronto com o grande inimigo que recentemente o havia arruinado, até que Ele o tivesse derrubado e esmagado.”
Será que não posso agora dizer: Podemos duvidar de qual destas foi a fonte da mais rica alegria para Adão? E além desta exultação no espírito de Adão, há evidência de uma alegria ou exultação semelhante nos lábios de Eva, quando ela clama: “Alcancei do Senhor um homem”, no nascimento de seu primogênito. E depois há uma expressão impressionante de triunfo inteligente e crente em Abel, quando ele oferece a gordura com o cordeiro sobre seu altar. E ainda mais, como não vemos no Éden, os santos nos são apresentados invocando juntos o nome do Senhor, caminhando com Deus, morrendo para esta vida e para este mundo, e sendo levados para o céu. E o que significa tudo isso para o coração do homem? Isso é mais ou menos do que a inocência e o jardim? Não é o céu um cenário mais brilhante do que o Éden poderia ter sido, se tivesse continuado a herança imaculada do homem para sempre? (Gênesis 1-5).
Deixo esses contrastes para que eles possam nos dizer se o comedor foi ou não forçado, naquele primeiro momento da nossa história, a produzir comida, e o forte, doçura.
Chegamos, no entanto, a outro campo de observação posterior, onde novamente encontramos o próprio Deus e Sua criatura, o homem, bem como o comedor implacável.
A maldade amadurece, eleva-se à sua forma plena, e o dilúvio, o juízo de Deus, a submerge. Mas uma arca, para a salvação por meio do juízo, é prescrita por Deus em graça e construída por Noé em fé. E quando ela está pronta, todas as criaturas da Terra, de acordo com a eleição de Deus, posso dizer, sobem para tomar seu lugar nela. E então, no momento devido, quando todos estão alojados, Noé e sua esposa, seus filhos e suas esposas, e todas essas criaturas separadas de todos os tipos, o próprio Deus os fecha dentro, concedendo Sua própria força e segurança aos Seus escolhidos, e tornando sua condição tão inatacável quanto Seu próprio trono poderia ser.
Então, enquanto estava na arca, Noé teve exercícios de coração, posso dizer, exercícios no Espírito. Houve a abertura da janela, e a missão do corvo e da pomba, o recolhimento da pomba, e novamente o envio dela, e novamente uma segunda vez o seu recolhimento com uma folha de oliveira no seu bico; e então, tirada a cobertura da arca; tudo isso tendo seus vários significados místicos de verdade brilhante e maravilhosa. E quando chega a hora de deixar a arca, tudo sai tão fresco e abundante como quando entraram treze meses antes; nada faltando, por menor que fosse e insignificante – nada danificado, por mais delicado e exposto que estivesse; e tudo isso, uma segunda vez, sob o olhar de Noé. O que tudo isso deve ter sido para o seu espírito! Que deleite fresco e variado tudo isso deve ter sido para ele, embora o trabalho do comedor tenha tornado esse aprisionamento no barro do julgamento de Deus necessário para ele (Gn 6-8)
E, depois de todo esse grande período de parênteses, e a arca sendo deixada por todos os que havia carregado durante o julgamento de Deus, e “a Terra que agora existe”, como Pedro a chama, sendo pisada por Noé e sua hoste resgatada, vemos seu altar e seu sacrifício, e a aceitação de Deus disso. Noé toma posse do novo mundo em nome de Jesus. Ele entra nele com a autoridade e em virtude do que Cristo era para ele. Ele lê seu título de propriedade a isso no sangue do Cordeiro de Deus e oferece seus holocaustos de louvor em conformidade com isso. A arca havia sido Cristo para ele no dia do juízo, e o reino que se seguirá somente será seu por meio de Cristo. Que oferta voluntária foi essa! E o que significava para o Deus da sua salvação? Podemos entender algo disso quando lemos: “E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em Seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra (o solo – JND) por causa do homem”. Já houve tal linguagem no seio divino antes? Deus descansou em Sua obra de criação com infinito deleite, sabemos. Ele descansou, como lemos, e foi revigorado. Mas agora, o valor de Cristo para uma criação condenada está diante d’Ele, expresso em toda a preciosidade do sangue da expiação, pela fé de um pecador que Lhe confessava, na linguagem misteriosa de Seu altar, que todo o seu direito a tudo e a qualquer coisa se encontrava no sacrifício de Seu próprio Cordeiro. Antes disso, Deus havia dito: “Não é bom que o homem esteja só”; mas agora Ele diz: “em Seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra (o solo – JND) por causa do homem”. Antes disso, Ele havia visto que a obra de Suas mãos era boa, mas agora sentia um cheiro suave na obra de Cristo.
Não era tudo isso comida e doçura novamente? O inimigo de fato havia se mostrado como um comedor e um forte, como antes tinha sido no jardim – corrompendo o homem fora do Éden, assim como no princípio o corrompera dentro dele. Mas Deus não o havia feito novamente produzir comida e doçura? Não eram os deleites divinos nesta cena de redenção de um caráter mais elevado do que haviam sido no dia da criação? Não é o valor de Cristo maior para Deus do que toda a beleza e ordem que se manifestam nas obras de Suas mãos? E não é Noé, Seu resgatado na arca, mais rico do que Adão, Sua criatura no jardim? Ele estava recebendo os dons da graça e prestando a obediência de fé de um coração livre; ele estava aprendendo a suficiência de Cristo para ele e experimentando os exercícios do Espírito nele. Ele se via não apenas em um sistema criado, mas em um sistema redimido.
É uma visão grandiosa de se contemplar: o comedor produziu comida e o forte, doçura. E ainda estamos em vista deste grande mistério até o final destes capítulos, depois que o novo mundo foi conquistado e “a Terra que agora existe” foi formalmente tomada e herdada. Pois ali vemos Noé assentado em estado real e sacerdotal. Ele é “abençoado”, como Adão o foi em seus dias, e a quem foi dito: “Frutificai e multiplicai-vos e enchei a Terra” (Gn 1:28; 9:1). O rastro da serpente está de fato sobre todo o cenário e condição das coisas. Adão teve a Terra subjugada a si, e as criaturas da floresta, do campo, do mar e do ar reconheceram seu senhorio sobre elas, recebendo dele os nomes que lhe aprouvesse dar a elas, elas em sinal de reconhecimento, e ele no exercício da soberania; enquanto que agora as criaturas da Terra se encontram diante de Noé apenas em temor e pavor. Não era mais a homenagem que prestavam ao homem, mas o senso de domínio que tinham em razão da eminência do homem. Ali estava o fruto e o testemunho da obra do comedor. Mas com isso, a mesa de Noé estava agora mais fartamente servida do que a de Adão no início. A erva do campo nutria o homem então – a carne dos animais do campo agora o nutrirá; pois a comida de Adão era própria de um inocente, a de Noé é a comida de um resgatado. Adão desfrutou da vida de uma criatura sem mácula – Noé, da vida de um pecador comprado com sangue[1].
[1] O sangue não deveria ser comido com a carne; o sangue era reservado para fazer expiação (veja Lv 17). Noé, portanto, alimentou-se do testemunho de sua redenção, assim como Israel na noite pascal no Egito. Sua festa era a festa de um pecador comprado com sangue.
Ali estava o testemunho renovado de como a comida foi extraída à força do comedor. Era um mundo exterior, ostentando as cicatrizes e contusões de uma luta mortal – era uma mesa interior, que anunciava uma redenção plena, segura, gloriosa e selada pelo sangue.
Mas, há mais. O Senhor Deus faz uma aliança com Noé e com todas as criaturas ao seu redor, de que Ele protegerá a Terra de um segundo dilúvio. E como sinal disso, Ele coloca o arco na nuvem, lá no alto, sob Seus próprios olhos, para que possa contemplá-lo e, assim, lembrar-Se de Sua promessa. Que pensamentos e palavras são estes; e, no entanto, estas são as palavras do Espírito, falando-nos dos caminhos íntimos de Deus conosco, com nossa alma e com nossas circunstâncias! A nuvem pode ameaçar e encher-se de água; o arco a controlaria. A nuvem pode franzir a testa; o arco sorriria. O Senhor seria agora revigorado e glorificado nos conselhos de Sua graça, como no início Ele o fora nas obras de Suas mãos. E a criação foi estabelecida, não em condições falíveis, mas em condições seguras.
Não havia nenhuma nuvem ameaçadora no céu do Éden; mas também não havia nenhum arco resplandecente cavalgando triunfante sobre ela. A nuvem era agora a testemunha de que o comedor havia feito sua obra – uma obra mortal – uma obra de perda e ruína; mas o arco era igualmente a testemunha de que Deus havia obtido comida e doçura do comedor (Gn 9).
Enigma maravilhoso! Começando a se revelar aqui, logo no princípio[2].
[2] Diz-se no capítulo 6 que Deus se arrependeu de ter criado o homem, o que O entristeceu profundamente. Mas isso não afeta este enigma maravilhoso, nem afeta o ensinamento deste pequeno artigo. Pois essa era a experiência divina quando a obra do comedor era vista em si mesma, e separadamente, a obra de Deus, que o forçava a produzir comida e doçura.
A queda ou ruína do homem foi realizada pela sutileza do comedor, do homem forte, da velha serpente que é o diabo e Satanás; mas no meio das ruínas o próprio Deus está reunindo regozijo mais rico e glória mais resplandecente do que Ele havia conhecido antes – e quanto à Sua criatura, o homem, sua comunhão com Deus é mais profunda e mais abençoada, seus destinos mais excelentes e gloriosos, sendo celestiais, como o de Enoque e os santos antediluvianos, ou em dignidades reais e sacerdotais, como o de Noé, em um sistema redimido e não meramente criado, com os sinais seguros da proteção infalível de Deus diante de si.
Eras da Ressurreição
Quanto a todo este capítulo (1 Coríntios 15), posso dizer que há uma ordem em suas partes, que é edificante descobrir e meditar. Poderia ser intitulado “A história da graça e da glória à luz da ressurreição”. A ordem da qual falo é esta.
Versículos 1-4. O fato da ressurreição do Senhor Jesus é declarado.
Versículos 5-11. Este fato é comprovado por muitas e diferentes testemunhas, por aqueles que O viram na Terra depois que ressuscitou, e por alguém que O viu em glória depois que ascendeu.
Versículos 12-19. O valor do fato assim declarado e provado é aqui exposto, em bela ordem. Tudo é declarado como dependendo dele – os interesses daqueles que estão mortos e daqueles que ainda estão vivos e trabalhando; na verdade, de todos os pecadores, isto é, de toda a humanidade.
Aqui termina a história da graça à luz da ressurreição, porque fomos libertos dos nossos pecados.
Versículos 20-28. Aqui, a história da glória começa à luz do mesmo mistério. O Senhor ressuscitado é visto como as primícias, o penhor de uma colheita, colheita essa que será colhida “na Sua vinda”, e então, com Ele, levada através do reino para a era em que “Deus será tudo em todos”. Isso pode ser lido em conexão com 1 Tessalonicenses 4 e Apocalipse 20-21.
Versículos 29-38. A propósito, o apóstolo aborda certos pensamentos aqui. Ele admite que, se não houvesse ressurreição, ele próprio seria um tolo, sofrendo em vão. Mas ele diz que são tolos aqueles que questionam a ressurreição, pois não têm o conhecimento do próprio Deus, nem da lição que a semeadura e a colheita nos ensinam.
Versículos 39-49. Nestes versículos, Ele retoma a história da glória à luz da ressurreição. Ele já nos havia mostrado, nos versículos 20-28, a jornada pela qual os santos ressuscitados seriam transportados, de glória em glória; agora, Ele nos mostra as pessoas ou corpos nos quais eles deveriam empreender essa jornada.
Versículo 50. Neste versículo ele ensina que somente uma pessoa assim poderia fazer tal jornada.
Versículos 51-57. Aqui, ele nos ensina o processo maravilhoso pelo qual essa nova pessoa ou corpo será tomado ou assumido pelos santos. E ele ainda nos informa que esta será a participação na vitória que o Senhor Jesus já conquistou.
Versículo 58. Aqui, neste último versículo, ele expõe brevemente a lição moral ou prática deste grande mistério.
Esta parece ser a estrutura natural e o conteúdo geral deste capítulo maravilhoso e magnífico. No entanto, vou analisar mais especificamente os versículos 20 a 28.
Como já disse, no grande tratado sobre este mistério que encontramos em todo este capítulo, o apóstolo (tendo já o afirmado, depois provado como pela boca de testemunhas, e então demonstrado sua necessidade e indispensabilidade) prossegue, nestes poucos versículos, a nos ensinar as diferentes eras da ressurreição e as coisas que ocorrerão tanto durante quanto depois delas. É uma Escritura muito rica e bela em suas comunicações.
Em primeiro lugar, aprendemos com isso que o Senhor Jesus estava completamente sozinho no dia de Sua ressurreição. Ele mesmo ocupou aquele momento, e do povo, por assim dizer, não havia ninguém com Ele – nem um sequer. “Cristo, as primícias”, como lemos aqui. Porque Sua ressurreição tinha qualidades peculiares; completamente peculiares. Foi uma ressurreição dentre os mortos, uma ressurreição vitoriosa, vida em vitória sobre o poder da morte, uma vitória realizada e conquistada por Ele mesmo. Mas foi a única ressurreição que teve essa qualidade ou caráter. A ressurreição foi devida a Cristo. Ele foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai (Romanos 6:4). Não era possível que tal Pessoa pudesse ter sido retida pela morte e pela sepultura (Atos 2:24). Ele mesmo também podia dizer, e disse: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (João 2:19). E Ele estava falando do templo do Seu corpo.
Tudo isso era peculiar, como não preciso dizer, e não poderia ser dito de nenhum outro. A ressurreição era devida a Ele; e, além disso, Ele tinha o poder dela em Si mesmo, ou em virtude do que Ele era. Portanto, O vemos sozinho na era das primícias da ressurreição, “Cristo, as primícias”. E isso havia sido figurado sob a lei, pela colheita de um molho no início da colheita (e antes que qualquer grão novo tivesse sido comido), e pelo movimento dele, exatamente como era, diante do Senhor (Lv 23:9-14).
Mas então, Cristo em ressurreição, sendo chamado de “primícias”, promete uma colheita. Este é o significado de tal título. Consequentemente, no devido tempo, a colheita segue – e isto constitui a segunda era na série de ressurreições. Como continuamos nesta Escritura, lemos: “depois os que são de Cristo, na Sua vinda”. E isto é tudo menos solitário. Incontáveis milhões estarão lá, todos os eleitos desde o princípio até aquele momento, pois todos eles são “filhos da ressurreição” (Lucas 20:36). Mas, como a ressurreição anterior das primícias, será uma ressurreição dentre os mortos, uma ressurreição vitoriosa – esta qualidade, no entanto, a distingue da outra, que é uma vitória sobre a morte não conquistada por esta multidão, mas conferida a eles; não devida a eles, mas em infinita graça concedida a eles, e concedida a eles por Aquele que já tinha sido “as primícias”, ou, como Ele é chamado em outro lugar, “o Primogênito dentre os mortos”. Eles ressuscitam dentre os mortos, ou em vitória, simplesmente porque “são de Cristo”, como lemos aqui. Ele ressuscitou em Seus dias justamente porque Ele era Quem era e o que era; eles agora ressuscitam tão simples e meramente porque eles são de Quem são. “Os que são de Cristo, na Sua vinda”. Esta é a colheita de Levítico 23, que segue as primícias – a colheita. Ou, pelo menos, é como essa colheita. Diz-se que somos “como [uma espécie de – KJV] primícias das Suas criaturas” (Tiago 1:18). E, abençoados por podermos repeti-lo, nós ressuscitamos, como o próprio Senhor, de entre os mortos, ou em ressurreição vitoriosa. “Se o Espírito d’Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita” (Romanos 8:11).
Isto sendo cumprido em seu tempo, como lemos, “na Sua vinda”, e como vemos mais adiante mostrado a nós em 1 Tessalonicenses 4, então, novamente em seu tempo, alcançamos a terceira era da ressurreição, chamada “o fim” (v. 24). Mas aqui, temos novos pensamentos sugeridos a nós.
Esta é uma ressurreição indigna desse nome – consequentemente, está apenas implícita e não expressa aqui. Não é uma ressurreição vitoriosa, ou uma ressurreição dentre os mortos, como a anterior, mas simples e sem qualquer glória uma ressurreição dos mortos, uma ressurreição dos não regenerados, daqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida, para receber o fruto de suas obras conforme o julgamento d’Aquele que Se assenta no grande trono branco. É, como posso expressar, uma ressurreição judicial, não vitoriosa, uma ressurreição não para a vida, mas para o julgamento, como é antecipado pelo Senhor em João 5:29 e como é demonstrado pelo profeta em Apocalipse 20:11-15.
Isto é algo novo, e de caráter verdadeiramente solene. “Cantarei”, diz a harpa da profecia, “a misericórdia e o juízo”. As estações ensolaradas da ressurreição para as quais olhamos inicialmente, ressurreição para a vida e em glória, são agora sucedidas por uma estação de ressurreição que convoca os mortos ao julgamento e ao lago de fogo. E precisamos de diferentes estações em nossa alma ao lermos essas diferentes coisas. Devemos conhecer a alegria de antecipar a ressurreição dentre os mortos; e devemos sentir as terríveis advertências e prenúncios que a Escritura nos dá sobre a condenação daqueles que, nesta era de “longanimidade”, neste “ano aceitável”, neste “dia da salvação”, não tocam em Cristo na multidão para obterem virtude d’Ele. Mas somos frios e de corações estreitos. De fato, somos. Mas assim é, repito; as vozes dos profetas falam de misericórdia e de julgamento – de ressurreição dentre os mortos, para glória, e de ressurreição dos mortos, para julgamento. “vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação [do julgamento – JND]” (João 5:28-29).
Temos, no entanto, muito conectado com esta terceira era de ressurreição nestes poucos versículos de 1 Coríntios 15. Pois o Espírito Se agrada, neste capítulo maravilhoso, de nos escrever uma grande parte da história da ressurreição, bem como de afirmar e provar a sua existência. Ele já nos ensinou, como vimos, sobre a ressurreição, quanto às eras ou estações em que ela ocorrerá; agora, por meio do apóstolo, Ele prossegue nos ensinando o que acompanhará a terceira e última dessas eras.
Aprendemos várias coisas, importantes em si mesmas, sérias e interessantes, e adequadas, como toda verdade profética, para regular e ampliar nossos pensamentos sobre o grande assunto dos tratamentos de Deus com este nosso mundo arruinado, e Seus propósitos concernentes às várias demonstrações de Suas próprias glórias.
Aprendemos que o Senhor Jesus, tendo recebido um reino após a segunda era da ressurreição, irá por um tempo (aqui deixado indefinido), mantê-lo e ordená-lo de forma a reduzir todo inimigo à sujeição a Ele, até mesmo a morte.
Tendo feito isso, e assim cumprido o ofício e a tarefa do “Reino”, sob a comissão de Deus, tendo sido fiel a essa grande administração, Ele a entregará, “quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai”, para que “Deus seja tudo em todos”. Isto é, para que o próprio Deus possa então ser manifestado em alguma forma, sem dúvida, inefável de glória digna de Si mesmo e digna de Sua eternidade, quando todas as administrações nas mãos de Cristo tiverem sido cumpridas, quando a graça na era da longanimidade e o poder na era do reino tiverem cumprido sua comissão.
Em sincronia com esta entrega do reino e esta grande ação final, ocorrerá a terceira era de ressurreição. Será, como vimos, uma ressurreição dos mortos e para o julgamento. O julgamento ocorrerá diante do “grande trono branco”, e a condenação dos mortos então julgados será “o lago de fogo”. E esta ação estará em plena coerência com tudo o que a acompanha – porque será mais uma testemunha de que o Senhor Jesus está ali subjugando todas as coisas a Si mesmo. Será uma ação do “reino” – assim como o lançamento da própria morte no lago de fogo será outra ação. Tudo fala da plena submissão daquele momento a Cristo em tudo – que Ele foi capaz de sujeitar todas as coisas a Si mesmo, como lemos em Filipenses 3 – e que então, é chegada a hora, a hora apropriada, a hora gloriosa, de deixar o poder e a administração de lado e entrar na própria eternidade de Deus – quando o “cetro de equidade [retidão – JND]” dará lugar a “morada” de “justiça” (Hebreus 1:8; 2 Pedro 3:13).
Mas devo observar duas ou três coisas relacionadas a isso mais particularmente. Cristo, lemos aqui, “entrega” o reino. Esta será a primeira vez, em todo o curso da história do mundo, na longa sucessão de tronos e dinastias, que o “poder” será devolvido à mão que o havia confiado. Um após outro dos animais de Daniel teve o seu reino tirado dele. Ele havia sido infiel àquilo que lhe foi confiado, e a administração lhe foi tirada. Esta é a história comum. Nunca houve um reino “duradouro”, pois nunca houve um reino “fiel”. Ainda não houve um “cetro de retidão” e, portanto, ainda não houve um cetro “inquebrável”. As nações da Terra são julgadas, assim como as quatro grandes bestas ou impérios – “os pequenos montes”, bem como as “grandes montanhas”. Vemos isso em Isaías 15-24 e em Jeremias 14:15, 25, onde o cálice da indignação de Deus é enviado de um povo para outro, até que cada terra, cada nação, seja levada a beber dele.
E não preciso acrescentar que a nação de Israel e o trono da casa de Davi eram tão infiéis quanto qualquer outro, e mais culposamente infiéis do que qualquer outro.
O Messias não apenas se destaca como o “Preeminente”, mas também como “o Único” em Seu reino. Ele será o rei “verdadeiro e fiel”, assim como já foi a Testemunha e Profeta “Fiel e Verdadeiro”. (Apocalipse 19:11). Ele ordenará Seu reino com juízo e justiça. Ele manterá Seu cetro em retidão e guardará Sua casa real como deve ser guardada. (Salmo 101). E, portanto, não há como tirá-lo d’Ele para entregá-lo a outro mais fiel do que Ele. Ele pode prestar contas de Sua mordomia, embora prove ser o Único que sempre foi capaz de responder quando assim desafiado. (Lucas 16:1; Salmo 82). Não haverá tomada do reino de Sua mão, mas Ele o “entregará”, como Aquele que foi infinitamente Fiel, Fiel até o último jota e til, Àquele que O constituiu.
Tudo isso é simples, mas totalmente precioso; e tudo isso é transmitido ao nosso entendimento, com plena certeza, pelas palavras: “quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai” – ou, como as palavras poderiam ser: “quando ele entregar o reino a Deus, o Pai” (AIBB).
Este é um dos benditos segredos a respeito do Senhor Jesus que aprendemos nesta magnífica, embora curta, palavra profética. Há um toque passageiro ou um toque de beleza, que também devo notar, em meio às grandes e importantes comunicações desta Escritura. É isto: que a “morte” é o único inimigo especificado ou sinalizado aqui, como sendo aniquilado ou posto sob os pés de Cristo. De modo geral, aprendemos que “todos os inimigos” devem ser subjugados; mas a “morte”, e somente a morte, é mencionada individual ou especificamente aqui.
Há um toque de beleza nisso. Isso mantém o grande tema de todo o capítulo ainda em vista, pois é um escrito sobre ressurreição. Outros profetas nos falarão da sujeição de outras coisas ao cetro do Senhor Jesus no dia de Sua realeza. Daniel nos diz que Ele quebrará em pedaços todos os outros reinos e encherá toda a Terra com o Seu próprio reino. Isaías nos diz que a Terra, naquele dia, se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. O salmista repetidamente nos fala de toda a criação O reconhecendo em Seu senhorio universal. João pode chamá-Lo de “Rei dos reis e Senhor dos senhores”; e pode ouvir o mundo inteiro clamando: “Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina“. Tudo isso, e muito mais de glória semelhante, é contado pelos profetas de Deus a respeito da soberania vindoura do Filho do Homem. Mas não há nenhuma característica na ampla gama desta monarquia universal e poder todo-dominante e conquistador, sinalizada aqui, além da destruição da morte no poderoso alcance e domínio do reino de Cristo. E repito, há um toque de beleza nisso, visto que a ressurreição foi o tema de todo o capítulo.
TUDO o que foi para o Senhor ou vindo do Senhor entre os Seus santos será reconhecido em Seu dia. Toda a graça neles, todo o amor, todo o serviço, todo o sofrimento por Ele ou pela justiça, todas as formas e medidas dessas coisas e coisas semelhantes, serão aceitas e honradas. Mas assim, acrescento, todo aprendizado de Sua mente terá sua aceitação com Ele, e sua própria alegria naquele dia. Pode ser algo pequeno em comparação, mas terá sua medida. Servos, amantes, imitadores, mártires serão aceitos então, mas também os discípulos. Eu reivindico um lugar naquele dia em que “cada um receberá de Deus o louvor”, para aqueles que, em meio aos erros e julgamentos equivocados dos homens, aprenderam, valorizaram e se apegaram aos pensamentos e princípios da sabedoria divina, da mente de Deus, no progresso de Suas dispensações.
J. G. Bellett



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