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Breves Meditações Sobre os Salmos - Parte 3/9

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ÍNDICE


 

Breves Meditações Sobre os Salmos

Principalmente em Seu Caráter Profético

J. G. Bellett

Parte 3

 

Salmo 47

 

O Deus de Jacó, que havia sido celebrado no Salmo anterior em Seu caráter guerreiro, ou como Deus das batalhas, é saudado neste Salmo em um estágio posterior de Seus caminhos gloriosos. Seu povo Judeu aqui fala como consciente do lugar e da dignidade na Terra para a qual Ele agora os chamou; e Ele mesmo é tratado por eles como tendo vindo a Sião, e lá tomou Seu assento como Rei de toda a Terra; e todas as nações são chamadas a adorar diante d’Ele. Ele “subiu”. As portas agora levantaram suas cabeças para deixar entrar este Rei da glória (Sl 24). Jeová-Jesus, Deus de Israel, é agora Rei de toda a Terra; há um só Senhor, e o Seu Nome um só (Zc 14).

 

Alguns, competentes para falar sobre tais assuntos, sugeriram que no versículo 9, deveríamos ler “os príncipes do povo se juntaram ao povo do Deus de Abraão”.

 

Salmo 48

 

O mesmo Deus de Jacó é visto em um estágio ainda progressivo de Sua glória. No último Salmo, Ele tinha acabado de “subir” ao Seu trono, como depois da vitória – aqui Ele está assentado, como Rei e Sacerdote, em Seu templo e em Seu trono. E por causa disso, Sião é a alegria de toda a Terra, pois acaba de provar ser o terror de todas as confederações malignas. A esperança agora é concretizada, e a fé se tornou visível. “Como temos ouvido, assim vimos” (TB).

 

A beleza de Jerusalém no dia da glória é celebrada pelos profetas, assim como a beleza do Messias – a formosura da cidade, bem como a do Filho de Davi – da rainha como do Rei nos dias do reino (veja Salmo 45). Então, aqui nos é dito para andar ao redor dela e notar seus antemuros.

 

Isaías 60 apresenta a honra e o louvor dela naqueles dias. Pois Davi e Jerusalém estavam, por decreto antigo, ligados em uma aliança de paz e gozo, – o Senhor de Israel dizendo: “porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi e por amor de Jerusalém, que tenho elegido” (1 Rs 11:13).

 

Salmo 49

 

Tendo sido traçados os tratamentos do Senhor com Seu Israel, e seu curso desde a aflição e degradação até a glória e gozo estabelecidos (Sl 42-48), o Profeta de Deus dirige uma palavra de sabedoria e admoestação a todo o mundo, tomando esses caminhos de Deus com Israel como seu texto. Ele parece olhar para eles como uma parábola, e neste Salmo nos dá a moral ou a aplicação dessa parábola. Ele mostra que Deus resiste aos orgulhosos, mas eleva os humildes, e que apenas os retos têm uma porção permanente. E esta é, de fato, a grande moral da história do mundo, assim como a de Israel. Tudo mostra que aquilo que é feito “debaixo do Sol” é vaidade; e que a ressurreição, compreendendo aquilo que leva a ela em graça e o que a segue em glória, é a única realidade (veja Eclesiastes 12:13-14). Toda honra no mundo perecerá como os animais (Sl 49:12). Os sábios e os brutos igualmente morrem (v. 10). A riqueza é inadequada para alcançar a redenção da corrupção (vs. 6-9). Toda a beleza, aquém daquela que o Deus da ressurreição comunica, será consumida na sepultura; mas há uma manhã prestes a se levantar para o gozo e glória de todos os que são Seus (vs. 14, 15).

 

A ressurreição interpretará tudo. Esse é o testemunho do Senhor. E Israel libertado nos últimos dias será Israel como na ressurreição.

 

Salmo 50

 

Este magnífico Salmo apresenta o Senhor conduzindo o julgamento da casa de Israel nos últimos dias. O juízo é estabelecido (vs. 1-6), e então os livros são abertos, e deles duas acusações distintas são lidas, como veremos a seguir. O Remanescente é separado deste juízo por uma característica simples: “Aqueles que fizeram Comigo um concerto com sacrifícios”. Ele não os descreve por nenhum relato prolongado do que fizeram ou sofreram por Ele; mas fala deles como crentes, como pecadores que confiam no sangue e no sacrifício do Salvador. Isso é suficiente para esse propósito. Como Jesus, introduzindo os santos ao conhecimento do Pai, fala deles com o mesmo caráter, dizendo que eles “têm verdadeiramente conhecido que saí de Ti, e creram que Me enviaste” (Jo 17).

 

Jeová então apresenta Suas acusações contra Israel. Ele os acusa de ignorância de Sua verdadeira adoração – nos mesmos detalhes que Paulo acusa os gentios em seu sermão em Atenas (At 17). E é simplesmente isso: o homem em sua religião trata Deus como Alguém que deve ser ministrado e apaziguado, em vez de tratá-Lo como o Bendito Doador e o próprio Reconciliador. Essa é a grande diferença entre a religião humana e a divina. A religião de Deus é graça, a religião do homem é obras. Israel havia enchido o altar com ofertas, mas não recorreu a Deus como Libertador (vs. 7-15). Essa é a primeira acusação lida nos livros quando o julgamento é iniciado. A segunda é então movida contra eles. Diz respeito à sua vida prática e comportamento, como os gentios faziam com sua religião e adoração. Isso condena sua conduta como desviada também. Eram religiosos, mas também injustos (vs. 16-21).

 

Sobre tudo isso, o Senhor dirige uma palavra de advertência, de repreensão e de exortação, para que Israel possa prestar atenção a tempo, antes que o julgamento assim anunciado chegue, e não haja escapatória. Que eles aprendam a religião do louvor, e a conduta da justiça, e assim, estejam devida e alegremente no caminho para a salvação e a glória (vs. 22-23).

 

É bom, podemos dizer neste Salmo, que o coração se fortifique com graça e não com manjares. O santuário de Deus é adornado com graça – o do homem com comida ou observâncias carnais. Se for no santuário de Deus que entramos, devemos fazê-lo com louvor, e sair dele para caminhar de uma maneira bem ordenada em direção à salvação ou ao reino, como aqui nos é mostrado. Se é no santuário do homem que entramos – o “espírito de escravidão” nos encherá – “manjares” ou religiosidade nos ocuparão, mas nenhuma verdadeira devoção renovada a Deus. A verdade de Deus libertará a consciência e nos fará felizes n’Ele por meio de riquezas ilimitadas da graça e obedientes a Ele em formas de justiça. A mentira do homem ou a religião do homem nos manterá com medo e nos deixará sem regeneração.

 

Salmo 51

 

Este Salmo parece vir de maneira muito expressiva após o anterior. Ele exibe uma alma prestando atenção à doutrina e à advertência ali proferidas. É uma invocação ao Senhor (Sl 50:15) no dia da angústia – também no dia da mais profunda angústia – angústia da alma. O pobre pecador aqui foge para a graça, foge com seu fardo para Deus somente. E é a isso que a repreensão à religião legalista de Israel no último Salmo justificaria e levaria a fazer.

 

Não é só a expressão de Davi, arrependido por seu pecado em relação a Urias e Bate-Seba, mas a expressão do Remanescente arrependido no último dia (veja Salmo 38). O confessor traz um coração partido a Deus – a única oferta aceitável no momento. Mas quando aceito e perdoado, então sua ação de graças e oferta queimada de louvor serão oferecidas e recebidas.

 

E é somente em Deus, como eu disse, que a alma aflita aqui busca seu alívio. Ela repudia outras confidências. Nem mesmo as ordenanças são o seu refúgio. Ela renuncia aos sacrifícios e ofertas que poderiam trazer como remédio para sua culpa; mas é somente a lavagem de Deus, a salvação e a justiça de Deus que ela pede e aguarda.

 

E isso é abençoado: Pois ordenanças são utilizadas muitas vezes por uma alma convicta de seu erro, assim como um bom coração ou uma boa vida seriam utilizados por um mero moralista. Mas isto é apenas outra forma, embora mais sutil, de justiça própria.

 

E, além disso, podemos observar que este Salmo nos diz que, como Deus era todo o alívio e repouso de Davi, Ele era todo o Objeto de Davi: “Contra Ti, contra Ti somente, pequei”. Como ele diz a Natã: “Eu pequei contra o Senhor”. Esse era o pensamento no coração do verdadeiro arrependido naquela época, e ainda deve ser. E pela história sabemos que o Senhor Se tornou o Objeto de Davi. Todo o seu comportamento depois de sua convicção mostrou isso; pois ele deixaria que o Senhor fizesse com ele o que quisesse – trazê-lo de volta à alegria como e quando quisesse (2 Sm 15:25), e pleitear por Ele contra seu injuriador e perseguidor (2 Sm 16:12-13).

 

Como tudo isso nos diz para cultivar o hábito de andar com Deus! “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado... por um juízo humano, diz o apóstolo. Que possamos ter esse mesmo pensamento! Que desejemos provar nossa própria obra na presença de Deus, para que possamos nos regozijar apenas em nós mesmos, e não no outro! Que possamos dar ao Senhor o Seu lugar em nós! Ele não tinha lugar no coração de Judas, Ele tinha no de Pedro; Ele não tinha nenhum no coração de Saul, Ele tinha no de Davi. E assim Ele terá nas afeições de Seu Israel em breve, quando aprenderem a reconhecer seu pecado contra Ele, como na linguagem deste Salmo, enquanto a nação, com coração apóstata, estará dizendo: “Inútil é servir a Deus” (Ml 3).

 

Salmo 52

 

Este Salmo apresenta algo bastante contrastante com o anterior. Lá, o pecador, como vimos, foi quebrantado e se voltou para Deus em arrependimento; aqui ele continua ainda na maldade e na teimosia e orgulho de seu coração recusando a graça. O arrependido era Davi ou o Remanescente Judeu, como também vimos, e este homem poderoso é como Absalão ou o rei voluntarioso. Esse apóstata ainda está aqui triunfante; mas o Remanescente está confiando na graça e antecipando seu domínio sobre ele.

 

O “dito zombador” (ARA), como Habacuque fala , é muito apropriado aqui (v. 7). Temos vários desse ditos na Escritura, proferidos sobre a queda de alguns orgulhosos incrédulos desprezadores do Senhor. Sua bondade foi escarnecida, Suas correções foram desconsideradas, Suas súplicas ridicularizadas, Suas advertências ignoradas e, então, quando não há remédio, diz o Senhor: “Eu Me rirei no dia da vossa calamidade, E zombarei quando vos sobrevier o terror” (Pv 1:26 – TB) [veja Êxodo 15, Juízes 5, Isaías 14, Ezequiel 28, Apocalipse 18, para exemplos desses insultos ou “provérbios sarcásticos” (ACF)].

 

E este Salmo é interessante para nós como nos dando uma interpretação divina da “oliveira” e seus “ramos” (veja Rm 11). Essa é a graça ou o concerto da promessa, e aqueles que confiam nisso, como o arrependido aqui diz: “eu sou como a oliveira verde na Casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente”.

 

E essa é a interpretação do mesmo símbolo em Romanos 11; pois aqueles ramos que foram cortados eram aqueles que não creram, ou seja, não confiaram na misericórdia; e aqueles a quem é prometido um lugar permanente, a promessa é feita com base em sua continuidade na bondade, ou seja, se continuarem na graça de Deus.

 

E assim as oliveiras e os castiçais estão ligados (Zc 4; Ap 11). Pois, para sermos uma testemunha, nós mesmos devemos primeiro viver por graça. Devemos extrair a gordura da azeitona antes de podermos brilhar no castiçal.

 

Salmo 53

 

Tendo sido advertido pelo profeta no Salmo anterior e, como vimos, também em contraste com o Remanescente arrependido, o rei voluntarioso ou o jactancioso que recusa a graça ou a bondade divina, ainda é, no decorrer de vários Salmos, mantido diante dos olhos do profeta. Aqui ele é desafiado como o tolo ou o incrédulo; pois assim será. Ele se mostrará como parecendo ser Deus; ele agirá como se não houvesse ninguém acima dele; ele fará de acordo com sua vontade, engrandecendo-se acima de todo deus, e falará coisas espantosas contra o Deus dos deuses. Assim, profetas e apóstolos preveem a semelhança do apóstata dos últimos dias (veja Daniel 11; 2 Tessalonicenses 2).

 

E como é diferente a mente do Remanescente justo da mente deste apóstata. Eles estão humilhados e quebrantados de coração, enquanto este está na plenitude do orgulho. Eles fazem de Deus tudo para eles nesse dia da sua angústia, enquanto este está dizendo e agindo de acordo com o que diz: “Não há Deus”. Esse é o contraste. E assim os santos agora se distinguem do mundo. Jesus, Jesus, é o Tudo em todos eles – Sua plenitude, é o tesouro pelo qual eles se tornam completos (veja Colossenses 2).

 

O “grande temor” deste Salmo parece ser o do Remanescente arrependido; por outro lado, o “grande pavor” do Salmo 14 parece ser o do jactancioso e seus bandos – os inimigos do Remanescente. Isso explica a diferença no final de cada um desses Salmos.

 

Salmo 54

 

Seu primeiro e segundo versículos expressam desejos com base na aflição descrita no terceiro. E então, até o fim, o suplicante, assegurando-se de uma resposta, faz a promessa de oferecer louvor a Deus.

 

É claro que essa pode ser a expressão de fé em qualquer um. Mas profeticamente é a linguagem do justo Israel sob a pressão do rei voluntarioso, que, como vimos, acabara de se manifestar (veja Salmo 52-53). E sabemos que quando o Senhor os trouxer para o deserto dos últimos dias, Ele então falará confortavelmente com eles e lhes dará esperança naquele vale de Acor (Os 2). Neste Salmo, eles parecem provar essa esperança. O Israel de Deus aqui se lançou em Seu Nome (v. 1), e Seu Nome será no final seu louvor (v. 6); pois sabemos que Seu Nome os libertará (veja Apocalipse 19). Eles chamam a facção apóstata de “estranhos”; pois eles serão estranhos a Deus e ao Seu Israel, assim como os santos são estranhos no mundo e aos seus caminhos.

 

NOTA: No último versículo deste Salmo, foi dito de forma proveitosa — “O tempo verbal pretérito é usado aqui como expressão de confiança nas misericórdias futuras. Em linguagem profética, esse tempo verbal muitas vezes expressa a certeza das coisas futuras”.

 

Salmo 55

 

Este Salmo, ainda como os anteriores, contempla o rei iníquo ou voluntarioso e sua facção. Parte disso é a expressão do Senhor Jesus ao contemplar a traição de Judas e a facção que seguia a ele[1]. Em última análise, é o iníquo, ou algum outro confederado com ele, que faz o Remanescente piedoso sentir sua mão nos últimos dias, e contra quem o Remanescente roga, e que também trai os piedosos, assim como Jesus foi traído por Judas. Pois, visto como Judeu, ou alguém da nação de Deus, Jesus era o Remanescente em Seus dias. Mas este Salmo também é a expressão, em sua medida, do próprio Davi, sob a astúcia e traição de Aitofel em companhia de Absalão (veja 2 Samuel 15-16). João 13:21 nos mostra quão profundamente o Senhor sentiu a conduta de Judas, assim como este Salmo, e também Salmo 41. Mas Seu alívio estava na oração (vs. 16-17; veja também Salmo 69:13).

[1] Nota: Veja as observações sobre o Salmo 27 quanto a uma parte de alguns Salmos, e não o todo sendo a linguagem de Cristo.

 

Assim, Israel tomou o seu caráter de Judas (At 1:16). Ele os liderou e os representou. Assim, a nação será confederada com o iníquo em breve, e o Remanescente piedoso, como Jesus, encontrará “violência e contenda na cidade” (v. 9).

 

Podemos observar que o forte pensamento neste Salmo é este: que a cidade é ainda pior do que um deserto. Pois se o aflito aqui pudesse, ele teria trocado a cidade pelo deserto. Mas que visão do homem isso nos dá! Ele torna seu lugar mais terrível do que os refúgios dos animais selvagens! Pois “a cidade” é o lugar do homem. E por meio da luta humana, da fraude e da violência, ela se torna pior do que o lugar das indomáveis criaturas. Nesse estado, o homem é comparado pelo Espírito às bestas mais ferozes do deserto (Dn 7, Ap 13). E todos nós deveríamos ter essa percepção do que é o homem e seu lugar. Jesus descobriu que era assim, e Seu alívio estava apenas em Deus. E Ele poderia dizer a Deus, embora neste lugar do homem, “Tu Me tens mostrado maravilhosamente a Tua bondade numa grande cidade forte” (Sl 31:21 – JND). Mas em breve, esta cidade do homem será derrubada (v. 23, Ap 16:19), e lugar será preparado para a cidade de Deus, onde tudo será paz e gozo.

 

Salmo 56

 

Este ainda é o clamor do mesmo Sofredor, em razão da pressão do mesmo inimigo. Ele está aqui com a sensação de estar completamente cercado, não tendo recursos presentes, enquanto Seus inimigos e seus conluios diários contra Ele são muitos, sua inimizade para com Ele sendo o assunto de todos os seus pensamentos, ajuntamentos, emboscadas e espreitas contra Ele são agora o que Ele contempla ou apreende continuamente.

 

A Palavra ou promessa de Deus é todo o seu recurso – não a força presente, mas a Palavra da promessa – a lembrança de Deus a respeito dele; o recolhimento de suas lágrimas por Deus; contando suas andanças ou tristezas. Isso é tudo o que ele tem agora, a lembrança de Deus a seu respeito, como teve Noé na arca (Gn 8:1), e como esse mesmo povo aflito terá em breve, de acordo com a antecipação que Malaquias faz deles (Ml 3:16). A Palavra é a esperança do sofredor aqui, e ele se assegura de que a principal ocasião de seu louvor em breve também será a Palavra, ou o cumprimento do que ele agora crê e espera. Como diz o apóstolo: “Eu sei em Quem tenho crido”. Não é que haja libertação presente, mas há promessa, e a fé pode ouvir isso e recebê-la como penhor de louvor futuro.

 

Tal deve ser o estado da nossa alma. Ela deve descansar nas promessas, sabendo que serão cumpridas e se tornarão o tema de constante deleite. Nunca estamos limitados pela “Palavra” ou pelas promessas. Elas são tudo o que queremos. Precisamos apenas da fé para desfrutá-las com toda a tranquilidade do coração. Como este pobre sofredor antecipa ocasiões de louvor e o pagamento de seus votos, à luz dos viventes.

 

Salmo 57

 

O espírito deste Salmo é muito parecido com o do anterior, e é outra expressão, sem dúvida, dos mesmos sofredores, na mesma ocasião.

 

Há antecipações mais completas e brilhantes de libertação aqui; e há, como depois no Salmo 144, expectativa dessa libertação por alguma missão ou ministério “do alto”, ou do céu. A cena em Apocalipse 19 é a resposta a essa expectativa: ali os céus se abrem para deixar descer o Libertador aqui desejado e esperado.

 

Como esta coleção de Salmos, contemplando fortemente, como já foi dito, o rei voluntarioso ou apóstata dos últimos dias, apresenta as aflições do povo de Deus neste mundo! Na verdade, toda a Escritura o faz – “pois que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus”. Como o Cristo ou os santos de Deus poderiam contar com a resistência e o martírio em um mundo que sempre permanece em total inimizade contra Ele? “Para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados” (AIBB). – “como condenados à morte”. Mas o que resta é o descanso. E assim este Salmo antecipa abençoadamente a exaltação de Deus, e os louvores e cânticos de Seu povo, quando o inimigo tiver ido para sempre – quando a divina “misericórdia e verdade” e a missão “do alto” cumprirem a libertação. O santo prepara seu instrumento para um cântico de agradecimento ao Senhor – como Davi preparou música para os dias de Salomão (1 Crônicas 25).

 

Salmo 58

 

Os governantes e juízes da Terra são desafiados, como novamente em Salmo 82. Mas eles são chamados neste Salmo de “filhos dos homens” (veja João 5:27); mas no Salmo 82 de “deuses”.

 

Sob suas mãos, o mundo é deixado em toda a sua maldade nativa. O estado maligno é terrivelmente descrito; e o Profeta clama solenemente por julgamento sobre eles.

 

E há isso também estabelecido no Salmo – o fundamento do triunfo dos justos quando o julgamento do mundo vier. Temos esse mesmo triunfo, por exemplo, em Isaías 30:32 e em Apocalipse 19:1. Mas aqui temos o fundamento ou princípio de todo aquele justo gozo no julgamento de Deus. “O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio. Então, dirá o homem: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na Terra”. O santo ainda não poderia, nesta presente dispensação, triunfar sobre o juízo, porque o Senhor está publicando Seu nome e louvor em graça; mas em breve ele aprenderá a triunfar sobre ele, porque o Senhor vindicará Sua glória divina pela vingança e estabelecerá Seu governo do “mundo vindouro” pelo julgamento do “presente século”.

 

Tudo isso é perfeito em seu devido tempo. Agora nos regozijamos na graça redentora de nosso Parente; em breve, seremos capazes de triunfar no poder vingador do mesmo Parente. Pois ambos pertenciam ao Remidor sob a lei, e ambos são os caminhos do nosso Jesus em suas ocasiões. Apocalipse 5 mostra os santos na primeira forma desses regozijos ou triunfos; Apocalipse 19 os mostra na segunda forma.

 

Este julgamento da Terra e de seus deuses ou governantes não ocorrerá, é claro, até que aquele apóstata ou iníquo dos últimos dias seja manifestado. De modo que este Salmo é a expressão do Espírito de Deus no Remanescente, e contempla o mesmo tempo e mesmas circunstâncias que os Salmos anteriores, como vimos no Salmo 52.

 

Salmo 59

 

Este ainda é o clamor do mesmo sofredor piedoso e conscientemente inocente, contra a confederação de poderosos iníquos, que, no orgulho incrédulo, desprezam os julgamentos de Deus. Eles são chamados de “as nações”, considerados incrédulos, enquanto Deus é toda a esperança do pobre aflito. A linguagem pode nos lembrar do Salmo 2:1 e de Joel 3:12. Deve ser lido como o clamor do Remanescente sofredor no último dia contra a confederação. Um juízo significativo é desejado sobre ela (v. 11); assim como Jesus deseja o mesmo sobre Seus perseguidores Judeus, no Salmo 69. E assim como a nação Judaica está neste momento sob um significativo julgamento, assim será esta confederação gentílica no dia vindouro da vingança (veja Isaías 66:24).

 

O desapontamento do inimigo é surpreendentemente concebido nos versículos 14-15, em contraste com sua vantagem temporária no versículo 6. Em sua prosperidade, arrotavam pela saciedade, mas agora rosnam como animais não alimentados.

 

A manhã chega para a alegria do Remanescente, depois que a rapina noturna desses impuros terminou em sua destruição (v. 16).

 

O Messias, a Quem o “povo” pertence (v. 11), parece levantar este clamor por Seu Remanescente contra “todos os gentios [pagãos – KJV]. E Sua confiança em Deus é fortemente expressa no clamor que Ele pronuncia, apesar da força e malícia do inimigo.

 

Salmo 60

 

Aqui, o Remanescente Judeu deseja o retorno do rosto do Senhor, que, como sabemos (Is 8:17), agora está afastado de Israel. E eles estão conscientes de que até lá, a Terra estará completamente fora de ordem. Pois Israel é o centro dos arranjos terrenais do Senhor.

 

Sião é o lugar de Seu descanso terrenal.

 

Eles admitem que estavam bebendo o vinho da perturbação ou colhendo o fruto amargo do justo desagrado de Deus. Mas no meio de tudo isso, eles igualmente reconhecem que aqueles que continuaram em Seu temor O conheceram, por causa de Sua verdade e fidelidade, como um estandarte para eles.

 

Com maior confiança, eles reivindicam as esperanças dos amados (v. 5). Então Deus responde do santuário. Seu clamor O desperta, por assim dizer, para um senso de Sua glória, ou herança na Terra. Pois Ele agora examina Suas posses terrenais. Siquém, Sucote, Gileade, Manassés e partes distantes de Moabe e Filístia agora pertencem a Ele, e Ele triunfa aos olhos de Sua glória. Ele Se regozija com todas elas como Sua possessão, antecipando, no meio disso, Seu insulto sobre Edom. Isso pode trazer à mente a ação exultante do poderoso Anjo (Cristo) em Apocalipse 10:1-3; Ele ali antecipa Sua herança da Terra num espírito de triunfo.

 

E isso é assim muitas vezes. O toque da pobre mulher na multidão imediatamente despertou Jesus, e o arrependimento do filho pródigo abriu novas alegrias na casa do Pai. E é assim aqui. Os desejos do Remanescente, as esperanças e reivindicações do Amado proferidas na Terra, despertam os pensamentos de Deus para Suas possessões aqui e Lhe dão regozijo e triunfo sobre elas.

 

O Messias, ao ouvir essa voz no santuário, entra em espírito nesta cena de profundas e fortes afeições, ansiando pelo dia da batalha na terra de Edom, sobre a qual Seu sapato será lançado (veja Isaías 63:1). Ele está “esperando até que os Seus inimigos sejam postos por escabelo dos Seus pés”. Ele é zeloso para enfrentar o inimigo, assegurado da vitória com a ajuda do Deus de Israel.

 

Salmo 61

 

Este é um pequeno Salmo belo e tocante. É como uma declaração de Jesus no sentido de ser rejeitado por Israel, embora Ele fosse consciente e legitimamente o seu Rei. E Davi, caçado por Saul nas cavernas e desertos depois de ter sido ungido por Samuel, era a figura de Cristo em tal condição (veja 1 Samuel).

 

Essa rejeição por parte de Israel faz com que Jesus Se sinta Um estranho aqui. Ele está, por assim dizer, no “fim da Terra”; e ali Ele ora, e ali Ele deseja a Rocha, isto é, a Ressurreição (veja Salmo 40:2), ou o Reino. Mas Ele confia, com plena fé, na presença e abrigo presentes de Deus; pois, como Seu tabernáculo, Ele tem o propósito de permanecer “para sempre”, ou no decorrer da era de Sua rejeição. Mas depois de uma pausa, Ele antecipa mais do que um abrigo em um momento de rejeição e tristeza. Ele Se assegura do favor de Deus para com Ele como Rei; e que, como tal, Ele em breve permanecerá “para sempre”, ou no decorrer da era de um reino, quando Ele pagará os votos de Suas atuais horas de angústia, e Seus clamores e orações serão trocados por gozo e louvor.

 

Salmo 62

 

Esse mesmo Rei rejeitado, o Filho renegado de Davi, também é ouvido aqui. Ele está abençoadamente fazendo Deus ser tudo para Ele. Ele não terá outro refúgio ou fonte de força, a não ser Deus. Deus é a Sua Rocha, a Sua Salvação, a Sua Glória. Sua alma espera apenas n’Ele, e toda a Sua expectativa vem d’Ele (veja Hebreus 10:12-13, e Salmo 110). Essa é uma expressão verdadeiramente excelente da fé do Jesus rejeitado, que era o Remanescente, como podemos falar, em Seus dias; e o mais aceitável deve ter sido o incenso disso diante de Deus.

 

Neste Salmo, Jesus desfruta de Deus como Sua Rocha; em Salmo 61. Ele desejou a Rocha – e Ele encorajava Seu povo a ter a mesma mente e a afastar-se do homem; e desafia os homens deste mundo por seu engano, violência e falsa confiança.

 

De fato, Ele aprendeu muito bem a lição de que “o poder pertence a Deus”. Pois uma vez Deus havia falado isso, mas Jesus a ouviu duas vezes. Ele a ouviu com pleno testemunho de sua veracidade; assim Ele abriu Seus ouvidos para a instrução divina, manhã após manhã (Is 50:4). O homem é um aluno mais desinteressado (veja Jó 33:14).

 

Assim, o Senhor Se mostra separado do homem caído. Ele confia somente em Deus e receberá somente de Deus. O diabo teria feito com que Ele confiasse nele e recebesse dele, como Adão fez no passado (Gn 3), e como o apóstata fará em breve (Ap 13:2), mas Ele recusou (Mt 4).

 

E Ele também aprendeu a misericórdia de Deus. Porque, embora o próprio Deus seja tudo, como a Sua declaração havia reconhecido, ainda assim Ele dará a cada um a recompensa de suas obras. Embora Ele opere todas as nossas obras em nós, ainda assim Ele as tratará como nossas e recompensará até mesmo o copo de água fria dado em nome de Jesus.

 

Salmo 63

 

O mesmo Rei renegado é novamente ouvido neste Salmo. Mas aqui Ele está fazendo de Deus a grande Fonte de refrigério e gozo para Seu espírito, como no Salmo anterior Ele O fez o fundamento de Sua confiança e força nas circunstâncias.

 

Todo o sistema em Israel, conforme estabelecido pelo Senhor, era um santuário (Êx 15:17, Sl 114:2), pois um santuário é um lugar onde Deus Se dá a conhecer, e a terra de Israel era um lugar assim. Jeová estava lá. Mas Israel se revoltou e Jesus foi renegado. E assim era “uma terra seca e cansada” para os justos.

 

Mas neste Salmo, a fé está em exercício vivo. Como Jesus não pode ver o poder e a glória de Deus no santuário, Ele Se lembrará do próprio Deus. Ele tem o senso de Sua benignidade, embora a visão do santuário seja negada a Ele. Sua meditação sobre Ele O encherá de louvor, e a sombra consciente de Sua asa, de regozijo, embora Ele seja agora lançado fora, e o lugar esteja em si mesmo seco e sedento.

 

Esse é um exercício abençoado da alma em Deus. E recusando Sua alma qualquer outro gozo presente além dessa lembrança de Deus, Ele assegura-Se de outro gozo em breve, até mesmo um gozo real, gozo em Seu reino e confusão de todos os Seus inimigos, quando eles serão feitos uma ração para os animais da Terra (Ap 19; Ez 39). Porque o gozo e o refrigério espirituais, por mais abençoados que sejam, não são o fim. A glória ainda deve ser a expectativa. Como Cristo tem um reino reservado para Ele, nada menos do que o gozo de um Rei pode satisfazê-Lo. Mesmo agora, embora assentado à direita de Deus, Ele ainda está numa posição de espera (Hb 10:13).

 

Este Salmo também foi, ao que tudo indica, a expressão de Davi quando esteve separado da casa de Deus, mas ainda encorajado pela presença espiritual de Deus. E nossa alma deve conhecer esses segredos. Pedro não os conhecia quando dormia, e Paulo e Silas quando cantavam louvores na prisão? Não havia santuário ao redor deles, mas o Espírito Santo Se espalhou dentro de um reino de luz, liberdade e gozo em Deus. Eles eram cidadãos de uma cidade que não precisava da luz do Sol. O Judeu piedoso nos últimos dias se identificará com essa afirmação. Versículo 10 “raposas” (veja Lamentações 5:18; Lucas 13:32, 34) – A raposa faz um trabalho diferente da “galinha”. Esta ajunta debaixo de suas asas – aquela dispersa e destrói.

 

Salmo 64

 

O Jesus sofredor aqui ora por proteção contra Seus traiçoeiros perseguidores incrédulos, que secretamente conspiram contra Ele e desprezam os juízos de Deus.

 

Mais plenamente, no entanto, esse é o desejo do Espírito de Cristo em união com o Remanescente aflito nos últimos dias. Pois contra eles, como contra o próprio Jesus, a facção incrédula tramará, como sabemos tanto pelos Salmos quanto pelos Profetas.

 

E os Salmos desse caráter podem nos lembrar do que é dito sobre o Senhor em 1 Pedro 2:23. Como sabemos, também de João 17:25, que Ele entregou o mundo, em sua infidelidade, à observação do Justo Pai.

 

Os justos sabem que Deus tem Suas flechas, assim como os ímpios têm as suas – as de Deus são de juízo, as dos ímpios de engano e maldade (vs. 3, 7). E eles se asseguram de que verão seus inimigos serem levados em seu próprio mau caminho, e então o mundo ao redor fugirá deles, e aprenderá por Seus juízos, a temer o Senhor e a publicar Seus feitos. E, finalmente, eles tomam conhecimento de si mesmos, e se gloriam, depositando sua confiança e colhendo seu gozo no Deus da sua salvação.

 

Salmo 65

 

Este é um Salmo de particular beleza. Aqueles do Remanescente em Israel estão olhando para a casa onde seus pais louvaram; e eles confessam ao Senhor, por assim dizer, que aquele lugar santo e belo está devastado, que tudo ali está silencioso como a morte agora, mas pronto para irromper novamente no alegre cumprimento dos votos, e na reunião de todo o mundo em Seu santuário, quando Ele tiver ouvido a oração de Seu povo (vs. 1-2). Em espírito de arrependimento, eles então reconhecem que apenas suas iniquidades devem explicar suas ruínas atuais; mas eles têm confiança na vinda da remissão divina da culpa de sua nação (v. 3). Eles aguardam a bondade de Deus para si mesmos e Sua justiça sobre seus inimigos; antecipando que os confins da Terra serão movidos quando ouvirem sobre esses julgamentos divinos em justiça sobre os inimigos de Israel (vs. 4-8). E no final, eles antecipam o gozo milenar e a frutificação da Terra, quando o Senhor Se tornará novamente o Lavrador da terra de Seu povo, como Ele foi antigamente, quando Seus olhos voltarão a repousar naquela terra desde o princípio até o fim do ano, quando a beleza, a alegria e a rica fertilidade atestarão o cuidado e a habilidade do divino Cultivador de Sua amada e favorecida vinha, quando os dias do céu estiverem na Terra (veja Deuteronômio 11:10-21).

 

Nada pode exceder essa imagem. Os pensamentos do Remanescente são rapidamente levados por meio de tristezas e julgamentos até o descanso e prosperidade milenares. Mas lá eles se entregam por algum tempo às cenas felizes ao seu redor. O deserto e os lugares secos se alegrarão com isso. O Senhor está novamente a favor das montanhas e colinas, dos rios e dos vales de Israel, e eles estão cultivados e semeados. “E a terra assolada se lavrará, em vez de estar assolada aos olhos de todos os que passam. E dirão: Esta terra assolada ficou como jardim do Éden” (Ez 36:35). Em palavras poéticas:

 

“O campo fértil

Ri com abundância – e a terra, outrora árida,

Exulta ao ver sua maldição sedenta revogada.”

 

Salmo 66

 

Aqui, o louvor antecipado e esperado no Salmo anterior irrompe em Sião. Jeová respondeu à oração com coisas tremendas de justiça (Sl 65:5, 66:3, 5) Os votos feitos são aqui pagos (Sl 65:1, 66:13-14) Quando estavam aflitos, oraram, agora, alegres, cantam Salmos.

 

Mas este Salmo parece ter uma estrutura muito exata marcada por Selás. O Salmista (o Espírito de Cristo no Remanescente) chama todas as terras para louvar a Deus por Seus juízos (vs. 1-4), e então os convida a olhar para esses juízos (vs. 5-7). Ele então chama ao povo para bendizer a Deus por Suas misericórdias para com eles (levando-os Ele mesmo nessa adoração, vs. 8-15), e então os convida a ouvir a história dessas misericórdias (vs. 16-20).

 

Observe “vinde e vede” no versículo 5, “vinde e ouvi” no versículo 16; pois as obras manifestadas, ou obras na Terra (as operações de Sua mão), são propostas aos olhos, as obras ocultas, ou obras na alma (as operações de Seu Espírito), são propostas aos ouvidos. Todo o Salmo é uma expressão de grande liberdade e gozo de coração, e expressa ricamente a alegria dos escolhidos de Deus nos dias do reino, lembrando os juízos dos ímpios e a disciplina dos justos que introduziram o reino.

 

Salmo 67

 

Este Salmo é a expressão do Remanescente Judeu trazido para perto do reino e onde lhe é dado fé para ver qual será o resultado de sua salvação sobre o mundo em geral (veja Oséias 1-2; Salmo 85; Isaías 2:2, 11:9-10). O “Redentor” de Israel deve ser o “Deus de toda a Terra” (Is 54:5).

 

Há duas lições para o mundo por meio de Israel: justiça, vinda dos juízos divinos em favor de Israel sobre as nações (Is 26:9), e graça, vinda da bondade divina para com o próprio Israel (Jr 33:9). É essa segunda lição que o Remanescente aqui deseja que o mundo aprenda. E também neste momento, os santos, glorificados juntos e, como Jesus, no céu, ensinarão o mundo a conhecer o amor, o maravilhoso amor, do Pai, e que foi o Pai que enviou Jesus. Essa será a lição mais elevada e profunda, contada pelos filhos celestiais (Jo 17:22-23).

 

O desejo do Remanescente neste pequeno e motivante Salmo é, podemos acrescentar, muito fervoroso e feliz. O Remanescente, por assim dizer, “magnifica o seu ofício”, como o apóstolo celebrando os grandes resultados de seu próprio Deus, dando-lhe Sua bênção. E sabemos que a admissão deles será nada menos que a vida dentre os mortos para todo o mundo (Rm 11:15).

 

Salmo 68

 

Quanto à grandeza e alcance, este Salmo é, talvez, inigualável. Foi cantado, provavelmente quando a Arca estava se movendo da casa de Obede-Edom para o monte Sião. Ele inicia, portanto, com as palavras de Moisés, como em tempos antigos a Arca estava começando a se mover pelo deserto (Nm 10). E nos é dito que, quando Davi a carregou, cantores a acompanharam (1 Cr 15). Aqui estamos como se estivéssemos ouvindo a música que eles cantavam.

 

E como a própria arca era um mistério, assim era essa jornada também. Foi a expressão do retorno do Senhor ao Seu Israel no último dia. Pois então, por meio de provações, eles serão novamente levados ao regozijo da presença de Deus; assim como aqui a Arca, o símbolo dessa presença, é trazida de seu distante exílio e assentada nas alturas de Sião.

 

Esta jornada parece ser dividida em várias etapas (1 Cr 15:26):

 

Primeira etapa: – Quando a Arca começa sua jornada, os cantores celebram de maneira geral os diferentes efeitos da presença de Deus – que, como foi dito, era o símbolo – tanto sobre os ímpios quanto sobre os justos. Pois essa presença é condenação para um, mas salvação para o outro (vs. 1-6).

 

Segunda etapa: – Após a primeira parada, a jornada é retomada, e os cantores entoam tanto os sinais terríveis quanto os graciosos da mesma presença divina, enquanto Israel estava atravessando o deserto (vs. 7-10).

 

Terceira etapa: – Aqui eles publicam o poder de Deus para Israel, quando, tendo cumprido sua passagem pelo deserto, Ele os trouxe a Canaã, e lá lhes deu o óleo de gozo por tristeza, e ornamento por cinzas (vs. 11-14).

 

Quarta etapa: – Esta parte de sua jornada parece trazê-los à vista de Sião, e os cantores saúdam aquele monte de Deus; e quando eles começam a subi-lo, eles profetizam a ascensão de Cristo, a verdadeira Arca, (em Quem, como sabemos, a própria glória habitava, pois Ele era “Deus manifestado em carne”) e o fruto para si mesmos e para outros de tal ascensão (vs. 15-19).

 

Observe, que os anjos subiram o monte Sinai em sua dignidade, sendo capazes de suportar a luz daquele monte de fogo, nunca tendo perdido seu primeiro estado de santidade e honra. Mas eles serviram a ascensão de Jesus no ministério deles, estando prontos para servir em total sujeição a Ele.

 

Quinta etapa: – Estando agora no ato de levar seu fardo santo monte acima, enquanto lutam pelo cume, os cantores inspirados celebram o dia da provação de Israel, quando o Senhor Se levantará para livrá-los da morte e de sua condição de exilados, para mostrar Sua presença novamente em grande poder para eles, e para recompensar a controvérsia de Sião sobre seus inimigos. Pois isso foi oportuno, como a profecia na etapa anterior; a luta monte acima sendo um símbolo adequado da última provação de Israel, já que o início da ascensão foi da ascensão de Jesus (vs. 20-23).

 

Sexta etapa: – Tendo conquistado as alturas do monte e a Arca tendo alcançado seu descanso, os cantores, com a mesma adequação, profetizam o glorioso descanso final de Deus e de Seu Israel, quando a mesma presença de Deus ainda será conhecida, embora em uma nova forma, ou como os caminhos do “Rei”. As nações então aguardarão com suas ofertas: a lança e a espada serão repreendidas; e Aquele que cavalga nos céus será encontrado tanto em Sua excelência quanto em Sua força para Israel, como é anunciado aqui (vs. 24-35).

 

O Senhor do céu Se preocupará com Israel nestes últimos dias (veja o versículo 33; Dt 33:26). Pois Ele primeiro, como o cavaleiro no cavalo branco, sairá do céu para seu resgate (Ap 19), e depois nos céus abertos será o grande centro de glória e poder no reino (Jo 1:51).

 

Tal é este Salmo mais magnífico, relembrando as virtudes da Presença Divina ao longo da história do povo de Deus. O cântico que foi entoado depois que a Arca foi devidamente colocada por Davi na tenda que ele havia preparado para ela, no monte Sião, é dado em 1 Crônicas 16. Aquele cântico seguiu a este Salmo: este foi um Salmo interrompido, enquanto a Arca estava a caminho; aquele foi um cântico ininterrupto, quando a jornada da Arca terminou.

 

Salmo 69

 

Neste Salmo solene e comovente, ouvimos uma expressão do Filho do Homem. Sua alma passa pela sensação de Sua tristeza e pela antecipação do juízo de Seus perseguidores, até Sua ressurreição e Seu reino em Sião no último dia. Temos a comunhão da alma de Jesus com Deus, tanto como Aquele que foi capaz de salvá-Lo da morte (Hb 5), quanto como Aquele que julga com justiça (1 Pe 2). Pois Ele clama a Um e confia a guarda de Si mesmo ao Outro. E assim este Salmo ilustra essas duas coisas que os apóstolos nos ensinaram nessas duas passagens: tão perfeitamente se misturam as luzes que brilham na Escritura velha e nova, seja nos Salmos ou Profetas, ou nas Epístolas ou Apóstolos.

 

Podemos dividir este Salmo nas seguintes seções ou partes:

 

Versículos 1-12. Jesus, o Filho do Homem, expressa Suas aflições.

 

NOTA: O versículo 5 mostra como Ele Se identificou com os Seus eleitos (2 Co 5:21), e é reconfortante para nós sabermos que os nossos pecados foram assim confessados. E Deus sabia o segredo de toda a aflição de Jesus, embora o homem não soubesse (veja Isaías 53:4).

 

Versículo 6: Ele deseja que ninguém se sinta confundido ou ofendido por causa de Sua vergonha e tristeza (Mt 11:6), mas que aprenda que isso foi suportado em favor de outros. Pois a aflição do justo será uma ofensa para aqueles que não entendem e valorizam isso. Suas tristezas causadas pelas mãos do homem eram para a glória de Deus no mundo; Suas tristezas causadas pelas mãos de Deus eram para nossa expiação e salvação para sempre. O versículo 4 é citado pelo próprio Senhor em João 15.

 

Versículos 13-18. Ele revela Sua fonte de alívio e apoio nessas aflições. Como Ele diz em outro lugar: “Em paga do Meu amor, são Meus adversários; mas Eu faço oração”. Ele Se entregou a Deus (Sl 109:4).

 

Versículos 19-28. Ele acusa Seus perseguidores Judeus e clama por julgamento.

 

NOTA: Este é, portanto, o motivo do presente estado de Israel (veja Romanos 11:8-10). O juízo repousa sobre eles, sobre a alma e corpo deles e sobre suas propriedades. Seu sistema, como testemunho de Deus e nação de Deus, está em ruínas.

 

Versículos 29-31. Ele implora pela ressurreição, fazendo o Seu voto de louvor.

 

NOTA: Ele “foi ouvido quanto ao que temia”, ou “por causa da Sua piedade” (ARA) (Hb 5:7). Ele foi libertado da cova, em uma visão da ressurreição, por Sua própria virtude e santidade (Sl 16:10). Seu povo é libertado pelo Seu sangue (Zc 9:11, Hb 13:20). Mas o grande inimigo está preso ali (Ap 20:1-3)

 

Ele pagará os votos que faz aqui (veja Salmo 116). E esse louvor pela ressurreição é mais agradável ao SENHOR do que sacrifícios de bois ou bezerros em memória do pecado. E é em comunhão com Jesus em ressurreição que os santos agora adoram. Lá eles colocam, como em um novo altar, os seus sacrifícios de louvor (Hb 13:10, 15).

 

Versículos 32-36. Ele antecipa o arrependimento de Israel e, em seguida, o reino.

 

NOTA: “Os teus presos” é o título para o Remanescente (Zc 9:11-12). Compare o versículo 32 com o Salmo 22:26, onde o Remanescente é claramente considerado.

 

O gozo comum do céu e da Terra, que acompanha a restauração de Sião para ser a morada de Seu povo outrora pobre, mas agora enriquecido, é docemente antecipado.

 

Assim, neste Salmo muito abençoado, o espírito de Cristo medita desde Seu sofrimento até o pleno gozo de Seu esperado reino.


J. G. Bellett

 



 

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