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Consciência (Julho de 2019)

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ÍNDICE


C. H. Mackintosh

H. F. Witherby

H. F. Witherby

W. J. Prost

Gospel Gleanings

Bible Treasury

J. G. Bellett

B. Conrad

J. N. Darby

W. Kelly

Hino 14


 

Consciência


O homem tem consciência e, só ao saber que simplesmente fez o que é mau, tem uma consciência contaminada (Tt 1:15). Quando se julga culpado aos olhos de Deus, ele tem uma má consciência (Hb 10:22). Quando, porém, ao crer no testemunho de Deus a respeito do sangue de Seu Filho, ele é assegurado pela Palavra de Deus de que tem remissão de pecados, ele tem uma consciência purificada – “quanto mais o sangue de Cristo [...] purificará a vossa consciência” (Hb 9:14). Depois disso, andando em obediência à Palavra de Deus, ele tem uma boa consciência; tem a percepção intuitiva de que está fazendo a vontade de Deus e tem o testemunho de que agrada a Deus. Felizes são aqueles que se exercitam em manter uma consciência livre de ofensas tanto diante de Deus quanto diante dos homens (At 24:16).


C. H. Mackintosh


 

Consciência


Somente o homem, entre as criaturas nesta Terra, tem consciência. Sem dúvida, alguns animais podem ser instruídos em obediência por seus donos, mas a inteligência e a memória da criatura não são consciência. Mas para quem está consciente de seu ser pecaminoso, isso é uma realidade terrível. A consciência estraga os prazeres do pecado, torna miserável o homem próspero e mau, assusta o cético e força a muitos, contra seus julgamentos e sentimentos, a confessar seus crimes e a se render à justiça.


Não negamos que o homem possa se endurecer até que, apesar de sua consciência, ele se torne como os animais e evite o mal apenas por causa de suas consequências. Pior ainda, sua consciência pode ficar como queimada com um ferro quente e ficar tão embotada contra toda influência de justiça que até seus semelhantes o considerem brutal para a sociedade. No entanto, a consciência permanece apesar de tudo isso. Podemos perguntar o que é a consciência e como o homem age por meio dessa poderosa força interior.


O sentido moral do certo e do errado

Consciência é o senso moral de certo e errado que é inato no homem. Faz parte do seu ser, tanto quanto a razão ou a vontade. Podemos descrever a consciência como o olho do ser moral no homem, ou compará-la a uma voz interior lhe ordenando a respeito do certo e do errado.


A consciência não capacita o homem a saber abstratamente o que é certo e errado; não é em si um padrão o que é correto. Antes, se o homem recebe a lei do certo e do errado, a consciência o atrai de acordo com a lei que ele conhece. A consciência precisa de instrução, não instrui e, de acordo com a fidelidade à instrução da consciência, suas declarações serão mais, ou menos, justas. Assim como o olho responde à luz natural, a consciência responde à luz moral.


A consciência de um pagão não se dirige a ele como a de um homem que conhece a Palavra de Deus. A consciência de um Cristão, instruída no espírito da vontade de seu Pai, fala de maneira muito diferente daquela que conhece apenas a letra das Escrituras. Assim, mesmo entre os Cristãos verdadeiros, há uma grande diferença na sensibilidade da consciência. A consciência é como uma janela, que pode estar limpa ou suja. Alguns trabalham para manter a janela limpa; outros são desleixados e o corpo destes não está completamente cheio de luz.


Responsabilidade

A responsabilidade do homem está de acordo com seu conhecimento do certo ou do errado. Tendo ouvido o que é certo, somos obrigados a obedecer, e a consciência falará sobre a questão. Os pagãos têm o livro da natureza diante de seus olhos. “Porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1:20). Mais do que isso, “quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2:14-15). Nosso instinto moral, nosso senso de certo e errado, testemunham sobre o Deus invisível.


Como o homem passou a ter essa voz dentro dele? Deus fez o homem moralmente bom e o colocou em uma cena do bem – o Jardim do Éden, onde não havia mal. O homem não tinha conhecimento do mal, seu estado era belo e ele era feliz. Mas inocência não é perfeição, e atualmente o homem perdeu essa simplicidade; ele é desenvolvido, tem consciência, o que é uma coisa boa, mas que foi obtida de maneira ruim. O homem agora conhece o mal, mas como uma criatura caída; ele ama o mal e não pode fazer o bem. Quando dizemos caído, queremos dizer caído daquela condição em que Deus o colocou. O homem ganhou conhecimento por meio de sua queda. “Disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:22). O conhecimento é inquestionável, mas junto ao conhecimento existe uma natureza contrária a Deus, que ama a iniquidade.


Justiça e santidade

Para o Cristão é dito: “Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:22-24). Isso não é inocência recuperada, mas justiça e verdadeira santidade. O homem adquiriu o conhecimento do bem e do mal para nunca perdê-lo, mas em Cristo ele não está mais sob o poder do mal. E no futuro o crente possuirá o conhecimento do bem e do mal, mas sem um desejo pelo mal e se regozijará no bem; isso será perfeição.


Assim, o homem adquiriu sua consciência pela desobediência. Ele roubou seu conhecimento e, quando seus olhos foram abertos para o conhecimento fatal do mal, ele temeu e fugiu de Deus. O conhecimento do homem o condenou, e ainda o condena. O único passo acima da linha de fronteira o colocou onde reina a escuridão. O homem agora está acostumado com o mal; isso vem naturalmente para ele sem necessidade de aprendizagem, pois ele nasceu em pecado e foi moldado em iniquidade. É somente quando ele é instruído no que é correto e ensinado por Deus que ele se torna sensível ao errado.


No entanto, mesmo a consciência sensível e refinada não é força. É uma luz para os pés que estão paralisados: “mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18). A consciência torna o homem infeliz. Quando o Espírito de Deus trabalha dentro de um homem, Ele começa com a consciência, e quanto mais profunda a consciência é trabalhada, mais firme será a construção. A primeira vez que o homem se escondeu de Deus foi por causa de sua consciência, e Deus começa com o homem onde o homem O abandonou. Aquele tipo de pregação do evangelho que deixa a consciência isolada ou apenas lida suavemente com ela, produzirá conversos irreais ou fracos. A consciência deve estar correta diante d’Ele, e até que o Espírito de Deus aplique a Palavra viva à consciência, um homem não está mais perto de Deus do que Adão estava quando estava se escondendo. Assim é com o Cristão; a menos que sua consciência esteja correta diante de Deus, ele não pode ter comunhão com Deus.


Consciência Cristã

A consciência Cristã é a sensibilidade ao certo e ao errado, e à medida que o sentido da coisa em si aumenta dentro de nós, aumenta também a nossa sensibilidade a ela. À medida que o crente cresce na graça e no conhecimento do Senhor, sua consciência se torna mais aguçada. Ele lamenta os pecados da alma. Não é um castigo que ele teme, mas lamenta ter feito algo errado contra seu Deus. Foi essa consciência aguçada que fez Paulo se exercitar dia e noite, mantendo a consciência limpa diante de Deus e dos homens. Existe o risco de haver muito pouco exercício para manter a consciência limpa. O sangue de Cristo purificou nossa consciência. Conhecemos o bem e o mal, mas não tememos a Deus, pois sabemos que o sangue de Seu Filho satisfez a justiça de Deus. Não temos medo de Deus, pois Ele é inteiramente por nós. Ele deu Seu Filho, que derramou Seu sangue por nós. Nossa consciência, instruída pelo Espírito de Deus sobre a morte de Cristo, sabe que Deus não tem nada contra nós. Essa clareza de consciência na presença de nosso Deus santo e gracioso certamente leva ao aumento da consciência de todo tipo de coisa má. A janela da alma do Cristão não se fecha; ele deseja que a luz brilhe, e seu desejo sincero é manter todas as impurezas e manchas fora do vidro daquela janela.


H. F. Witherby (adaptado)


 

A Função da Consciência


A consciência de um homem diz a ele que ele está errado e é uma voz interior falando com ele do que é certo e do que é errado. Até os pagãos têm esta vela dentro deles, cuja luz cintilante brilha com uma nitidez variada em todo seio humano. Mas a consciência não é o padrão do que é certo e errado. Enquanto a consciência interior discrimina entre o bem e o mal e detecta nossas obras, a consciência nunca revela ao homem qual é sua natureza. Somente a luz da Palavra de Deus revela isso. Aprendemos o que somos, qual é a nossa natureza, à luz invariável da verdade de Deus.


Se um homem pudesse saber o que ele é em si mesmo, aos olhos de Deus, sem o conhecimento de Sua graça, seu fim seria desespero absoluto, pois “Deus é luz, e não há n’Ele treva nenhuma” (1 Jo 1:5), enquanto o homem, por natureza, é “da noite [e] das trevas” (1 Ts 5:5). Deus não pode mudar; “Porque Eu, o SENHOR: não mudo” (Ml 3:6). O homem não pode mudar sua natureza; “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas?” (Jr 13:23).


O Evangelho de Deus não propõe desenvolver a natureza do homem, reformá-la ou cultivá-la, pelo contrário, Deus a considera uma coisa sem valor. O jardineiro não cultiva a macieira brava, mas enxerta uma maçã doce e, com a faca, corta o caule da árvore velha. Deus não permite à velha natureza em nenhum lugar em Sua presença, ao invés disso, traz a vida, em Cristo.


H. F. Witherby


 

A Consciência e os Absolutos Morais


Em uma edição anterior da revista ‘O Cristão’ (Junho de 2014), consideramos o que é absoluto e o que é relativo, particularmente no âmbito moral e espiritual. Entre outras considerações, vimos que o homem é por natureza um ser relativo, mas também responsável perante Deus que, em Sua natureza, é absoluto. Por essa razão, o homem deve lidar com o absoluto e o relativo em sua vida aqui na Terra. No entanto, quando olhamos para a consciência, descobrimos que ela não pode funcionar corretamente, a menos que esteja firmemente conectada aos absolutos morais.


Como vimos em outro artigo nesta edição, o homem adquiriu uma consciência no momento de sua queda em Gênesis 3; ele então passou a ter o conhecimento do bem e do mal. A consciência não era necessária antes disso, pois o homem, em sua inocência, não precisava saber sobre o certo ou o errado. Como ele não era, em seu estado inocente, capaz de fazer algo errado, ele não precisava de uma verificação interna de suas ações. Mas agora, tendo desobedecido a Deus e se tornado “carne do pecado” em vez de carne inocente, Deus deu a ele aquilo que o lembraria de seu pecado, atuaria como um impedimento a isso e, acima de tudo, lembraria sua responsabilidade perante Deus. Desde aquela época, o objetivo constante de homens pecadores tem sido tentar escapar dessa responsabilidade para com Deus.


Luz moral

Assim como nossos olhos precisam de luz natural para funcionar adequadamente, nossa consciência precisa de luz moral para funcionar da maneira correta, e isso Deus nos forneceu prontamente. Antes da Palavra de Deus escrita, Deus Se revelou diretamente ao homem, deixando claro o que era exigido d'Ele. Desde que a Palavra escrita apareceu, o homem teve abundante testemunho de sua responsabilidade para com Deus. Mais do que isso, Deus é capaz de falar claramente ao homem “em sonho ou em visão de noite” (Jó 33:15) e, às vezes, onde Sua Palavra não está prontamente disponível, Ele continua a usar desses meios hoje. Finalmente, todo homem tem o testemunho da criação, “porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Rm 1:20). Embora a criação e entidades, como sonhos e visões, possam não dar luz moral direta, elas lembram ao homem de sua responsabilidade perante Deus e fazem com que ele busque a Deus.


Após a Reforma, que ocorreu em grande parte no século XVI, a Palavra de Deus circulou amplamente na Europa e, finalmente, na América do Norte. Por se dirigir à consciência dos homens, trazia o selo da autoridade moral de Deus. As consciências foram exercitadas por ela, os homens foram levados a sentir a necessidade de um Salvador, e muitos aceitaram a Cristo. Mas mesmo no mundo em geral, havia muitos que, apesar de não terem nascido de novo, aceitavam os padrões morais das Escrituras. (Isso era verdade mesmo antes da Reforma, embora a Bíblia não estivesse geralmente nas mãos do homem comum). Como resultado, as leis e o governo foram baseados nos padrões morais absolutos da Bíblia. Nisto reside a diferença entre a Palavra de Deus e as falsas religiões, pois as Escrituras trazem Deus diretamente para a consciência por meio da Palavra, enquanto o que é falso permanece entre Deus e a consciência. O que é falso forma um deus de sua própria criação e pode até formular alguns bons princípios, mas também permite que os desejos mais básicos dos homens se expressem sob o disfarce da religião. (É triste dizer que, em muitos casos, o que é verdade às vezes é corrompido pelo homem com o mesmo resultado; aconteceu no judaísmo e está acontecendo no Cristianismo).


A Palavra de Deus

Quando a Palavra de Deus é abandonada, a consciência não tem absolutos para guiá-la, e tudo se torna relativo. Nosso Senhor alertou sobre isso, dizendo ao povo: “Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6:23). Quando o homem tem a Palavra de Deus, nesse sentido há luz nele. Se ele a abandonar, a escuridão será maior do que se ele nunca tivesse tido a luz. Isso aconteceu com os judeus, pois como alguém observou, não era que eles não tivessem luz, pelo contrário, era a condição da mente. Ao ensinar alguns princípios corretos, uma religião falsa pode até colocar a alma em algum grau de luz, mas deixa o homem na escuridão de seus próprios motivos maliciosos ou cobiçosos. Esse foi o caso dos judeus, pois o judaísmo, assumido pelos motivos corruptos dos homens, pôde prepará-los para matar o Salvador. (Não que o judaísmo fosse uma religião falsa; antes, foi substituída pelo Cristianismo após a vinda de Cristo). O resultado disso em nossos dias foi visto na Alemanha antes e durante a Segunda Guerra Mundial, quando a terra que era um dos berços da Reforma se tornou palco de uma das piores atrocidades da história moderna.


Uma consciência cauterizada

Conectado com tudo isso, está o que as Escrituras chamam de “consciência cauterizada” (1 Tm 4:2). Isso não é o mesmo que uma consciência contaminada, embora talvez tenha algumas das mesmas características. Uma consciência cauterizada é aquela que está além do sentimento, tendo perdido sua sensibilidade ao mal. Com constante exposição ao mal e sem a influência da Palavra de Deus, a consciência se torna tão calejada e endurecida que pode realizar os atos mais terríveis sem remorso. Vemos isso manifestado ao extremo naqueles que este mundo descreve como ‘psicopatas’.


Esses indivíduos têm traços de personalidade gravemente anormais e acentuado comportamento desviante, mas frequentemente parecem muito normais e totalmente no controle da situação. Eles geralmente são inteligentes e encantadores, enquanto por baixo dos panos permanecem totalmente egocêntricos, cruéis e aparentemente sem sentimentos ou remorso. Eles também são caracterizados por impulsividade, necessidade de estímulo, falta de responsabilidade, engano e mentiras frequentes.


Declínio moral

No passado, os efeitos da vida familiar estável, disciplina firme e princípios Cristãos na sociedade tendiam a controlar esse comportamento, pelo menos em grande parte, mas as últimas décadas testemunharam um declínio moral nos países ocidentais que levou a um aumento acentuado de crimes graves. Mais do que isso, esses crimes estão sendo cometidos por crianças cada vez mais jovens, e estamos vendo crianças com menos de dez anos que parecem capazes do tipo de violência sem sentido que antes era vista apenas em criminosos adultos endurecidos. Ficamos tristes com tudo isso, mas não devemos nos surpreender, pois quando o homem abandona a Deus, Deus pode abandonar o homem para que ele experimente todo o efeito do que escolheu.


Sem dúvida, o psicopata é geneticamente predisposto à sua estrutura de má personalidade, mas sua vontade toma essa tendência e permite que ela atue em pecado aberto. Alguns diriam que esses indivíduos nasceram sem consciência, mas isso não é verdade. A verdadeira raiz do problema é encontrada no Salmo 53:1: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. A consciência do homem precisa de luz para funcionar adequadamente, e se Deus e Suas reivindicações são rejeitadas, o homem se comporta como se não houvesse Deus. Alguém comentou mais apropriadamente sobre esse versículo:


“O segredo desta rota também é antigo [...] todo o caminho dos ímpios vem disso. Para ele Deus não existe. A fé não existe, e Deus não é visto. Este é o segredo de todo erro na prática e no raciocínio humano. Quanto mais examinamos todo o curso da ação humana, as falhas de nós Cristãos, as várias andanças da filosofia, mais descobriremos que o “não há Deus” está na raiz de tudo. Aqui é o caso em que a consciência não percebe Deus. O coração não tem nenhum desejo por Ele, e ele agirá como se não houvesse nenhum. O homem realmente diz (que não há Deus) em seu coração. Por que ele diria isso? Porque sua consciência diz a ele que não há nenhum. Sua vontade não quer ter um, e, já que Deus não é visto em Suas obras, a vontade vê apenas o que ela quer. Deus é posto de lado, e toda a sua conduta está de acordo com a influência da vontade, como se não existisse Deus” (J. N. Darby).


Nova vida em Cristo

Tendo em vista todo o declínio moral, esse mundo, e até mesmo crentes, podem levantar algumas questões assim como fez Israel nos dias de Ezequiel: “Visto que as nossas prevaricações e os nossos pecados estão sobre nós [...] como viveremos então?” (Ez 33:10).


Para o mundo, a única solução é Cristo, pois, a menos que tenhamos nova vida em Cristo, não temos poder para nadar contra a maré do mal que está engolindo este mundo. A resposta para o problema não é o homem tentar se erguer por seu próprio poder, mas aceitar a Cristo como seu Salvador.


Para o crente, a resposta é estar cada vez mais familiarizado com a Palavra de Deus. Sua luz é tão forte quanto sempre foi, e fará sábio ao simples, fará o coração se regozijar, e iluminará os olhos (Sl 19:7-8). A Palavra de Deus permanecerá para sempre, muito tempo depois que a consciência no crente tiver passado. E ela nos manterá agora no caminho agradando ao Senhor.


W. J. Prost


 

A Consciência e a Cruz


A obra de Cristo na cruz traz o Cristão a uma possessão real da herança de bênçãos que os santos do Velho Testamento só poderiam contemplar de longe. Das muitas bênçãos que a morte de Cristo traz aos que creem, não é menor o alívio que ela traz à consciência deles. A consciência, sendo a faculdade do julgamento moral do homem, é uma parte muito importante da natureza espiritual, e exerce grande influência em sua experiência. A aprovação ou desaprovação de si mesmo é aquela que contribui mais do que qualquer outra coisa para a felicidade ou miséria de sua vida interior. Alguns têm chamado a consciência de voz de Deus no homem, e outros, o árbitro de Deus na alma. Pode fazer o rosto do homem ficar mortalmente branco bem como corar de vermelho. Uma consciência má ou boa fará um covarde do pecador ou um herói do santo.


A tendência geral da religião judaica era trazer à atividade a consciência do homem, resultando no que é chamado de “consciência dos pecados” – uma consciência iluminada quanto às reivindicações de Deus e, portanto, devido ao estado caído do homem, sobrecarregado com um senso de pecado. Não apenas a moral, mas a lei cerimonial, e até os próprios sacrifícios oferecidos, contribuíram para “recordação de pecados”. Isso, por si só, criou um estado de escravidão, do qual até um homem pagão seria comparativamente livre. Sem a lei, o homem está, em certo sentido, vivo, mas sob a lei sua natureza pecaminosa revive, e a consciência, fiel à sua função, age apenas para condenar.


Libertação

É a libertação dessa condenação que a cruz de Cristo traz. O sangue de Jesus purifica essa consciência culpada tão perfeitamente que não resta “consciência de pecado” (Hb 10:2). O sangue de Cristo é eficaz não apenas para a completa remoção da consciência dos pecados, mas também para purifica a consciência das obras mortas.


Quando as reivindicações de Deus e do homem são pressionadas na consciência humana, o homem recorre a vários recursos para acalmá-la. De fato, as atividades dos homens, em suas tentativas de aliviar suas próprias consciências dessa maneira insatisfatória, contribuem com grande parte de toda a história da Igreja. Por motivos de medo e com vistas ao mérito, eles construíram igrejas, saíram como missionários e se engajaram em todos os tipos de empreendimentos religiosos. Mas, à luz da cruz, tais esforços são infrutíferos. Nossas más ações não devem ser expiadas por um número correspondente de boas ações. Tais esforços de justificação própria diante de Deus são maus em si mesmos, e a extrema repulsividade de tais atos só pode ser expurgada da consciência pelo sangue expiatório do Filho de Deus. É somente após essa limpeza que a consciência está apta a servir ao Deus vivo. Antes de serem purificados, os motivos são legalistas, e não Cristãos.


Consciência imperfeita

A consciência dos adoradores judeus era imperfeita, porque a imperfeição estava estampada em todos os sacrifícios que eles ofereciam, mas é a perfeição o que o sangue de Cristo traz à consciência do Cristão. O que a obra expiatória de Cristo faz pela consciência do crente não poderia ser melhorada, pois nada pode ser acrescentado à perfeição da obra de Cristo. Quando Ele disse, “Está consumado”, incluiu nessa maravilhosa expressão o alívio divinamente perfeito que Sua propiciação traz à consciência do pecador.


Sabemos que todas as graças santas e celestiais, em toda a sua variedade, serão finalmente produzidas perfeitamente em nós, pois somos predestinados a ser conformados, moral e corporalmente, à imagem do Filho de Deus. O erro é que os homens frequentemente buscam essas coisas antes de estabelecerem a paz. Deus não começa com o caráter; Ele começa com a consciência, e no gozo da paz que Cristo fez pelo sangue de Sua cruz, o bebê em Cristo cresce para a maturidade e perfeição Cristãs. Nada além dessa paz pode capacitar o crente a suportar calmamente as grandes responsabilidades da vida e do dever Cristão. Mas o crente em Cristo, no instante em que crê, é imediatamente tornado mais alvo que a neve, para a presença e adoração a Deus, por causa da eficácia divina do sangue de Cristo.


De todo está limpo

Essa perfeição permanece. A consciência não precisa ser purificada pelo sangue de Cristo uma segunda vez, pois enquanto, por um lado, o que Cristo fez ao morrer pelo pecador, Ele fez para sempre, por outro, o novo relacionamento no qual o crente é trazido não pode jamais ser quebrado. Por uma questão de fato, o Cristão em sua caminhada, embora sincero, não é perfeito. Ele precisa da lavagem da água pela Palavra. Mas por meio do sangue de Cristo, “no mais todo está limpo” e “necessita de lavar senão os pés” (Jo 13:10). É quando alguém esquece que foi expurgado de seus pecados antigos (não quando se lembra disso e adora a Deus por isso) que se diz que ele “é cego, nada vendo ao longe” (2 Pe 1:9); consequentemente, há falta dos frutos em sua vida.


Não significa que nenhum judeu piedoso tenha uma boa consciência. Sempre houve almas individuais entre as pessoas que fizeram o que era reto aos olhos do Senhor, adequadas à condição das coisas em que eles então viviam. No entanto, o que era apropriado para a consciência do judeu não será para o Cristão. A consciência do santo do Velho Testamento era boa por causa de sua condição moral e por esperar ansiosamente por Cristo, não por ser aperfeiçoada para sempre pela oferta do corpo de Jesus. O Cristão agora desfruta da resposta de uma boa consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos; nenhum dos patriarcas ou profetas tinha isso.


Consciência iluminada

A cruz de Cristo é divinamente adaptada à consciência do homem que crê. A consciência iluminada, em vista da morte de Cristo, entra em um novo campo de julgamento e fica extremamente satisfeita com a perfeita adaptabilidade da morte de Cristo às necessidades mais profundas do homem. Em vista dessa morte, está agora tão pronta para justificar o crente quanto antes para condená-lo. A consciência do homem nunca ficará satisfeita com mais nada, pois a cruz de Cristo é o resultado da sabedoria de Deus, para suprir essa necessidade. Por outro lado, a eterna reprovação da consciência do que a rejeita será, não apenas que ele pecou, mas também que ele rejeitou o remédio que Deus providenciou para seu pecado. É essa consciência purificada que faz a diferença em vista da morte, a diferença que existe entre os santos do Velho Testamento e os dos tempos do Novo Testamento.


Cristo morreu para que, pela morte, Ele aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos a servidão. Homens piedosos como Davi e Ezequias foram submetidos a escravidão por medo da morte; isso não aconteceu com o apóstolo Paulo. Não deveria ser assim com nenhum Cristão. O apóstolo estava desejando “antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor”. Sem a “consciência de pecado”, mesmo em vista da eternidade e da presença imediata de Deus, não há mais nada a temer. Cristo morreu por nossos pecados e somos purificados por Seu precioso sangue de uma vez por todas.


Gospel Gleanings, Vol. 1 (adaptado)


 

Consciência Diante de Deus


O Espírito Santo frequentemente coloca Paulo à frente porque nele se manifestam os caminhos do coração sob a graça. Podemos ver os caminhos de Deus e do coração humano na história que o Espírito Santo nos deu de Paulo. Ele demonstrou uma paciência verdadeiramente admirável ao cuidar da Igreja. Tinha uma atividade imensa e grande força de caráter. Atos 22 contém circunstâncias que mostram o que é uma boa consciência diante de Deus.


Se a consciência não está boa, o Espírito Santo Se entristece, e alguns, tendo deixado de lado uma boa consciência, chegaram a naufragar a respeito da fé. Se uma criança ofendeu seu pai, ela não ficará mais à vontade diante dele e não pode abrir seu coração.


Na história de Paulo, temos o registro de sua conversão em Atos 22:3-16. Então, ele está em transe ou êxtase em Atos 22:17-21, onde o Senhor ordena que ele se afaste de Jerusalém. Cabe a Ele regular essas coisas. Paulo em sua resposta diz ao Senhor que ele é precisamente o homem adequado para dar testemunho d’Ele em Jerusalém. Eu Te persegui, e eles sabem disso; eles não verão em mim a eficácia de Tua graça? Esse era o raciocínio de Paulo, mas o Senhor não leva em conta isso.


Purgado

O que mais nos impressiona é que Paulo recorda ao Senhor toda a sua iniquidade, e isso porque sua consciência foi perfeitamente purgada diante de Deus. É necessário que seja assim se alguém se atreve a falar com Deus em detalhes de todas as suas ofensas, de todos os seus pecados. Existe um falso repouso em um filho de Deus quando a consciência não é perfeitamente boa e se abre diante de Deus. Paulo coloca diante dos olhos do Senhor todos os detalhes de seu pecado. Ele não se limita a dizer: Tu sabes tudo; antes, ele confessa tudo livremente diante de Deus, sabendo que nada pode ser imputado a ele. Ele fala sobre seus pecados como um caso resolvido de forma irrevogável. Ele pode até apresentar esses pecados como motivo para ser apóstolo, para prestar testemunho de Jesus em Jerusalém. Paulo argumenta com o Senhor como uma pessoa com seu amigo íntimo. É isso que Ananias também faz (At 9:13-16).


Quando Deus purificou a nossa consciência por Sua perfeita graça, os interesses de Jesus são nossos. Jesus não é mais nosso Juiz; Ele levou nossos pecados, nos uniu a Si mesmo, tendo tomado nossa causa em Suas mãos. Em vez de ver em Jesus nosso Juiz, vemos n’Ele um Amigo. Em vez de ter medo de Cristo, estamos cheios de confiança n’Ele, porque temos certeza do Seu amor. Há no coração uma mudança completa.


O raciocínio de Paulo era verdadeiro, como vemos em 1 Timóteo 1:15. Deus havia preparado Paulo, pois ele havia sido o maior inimigo do Senhor Jesus e o principal dos pecadores. Se Paulo falou de outras coisas além da justiça de Deus pela fé e o perfeito perdão do homem, sua boca deve ter sido fechada.


Purificado

Pedro foi preparado negando a Cristo, o que é ainda pior do que ser Seu inimigo. Isso fechou a boca para qualquer outra coisa que não pregar graça. Tanto Paulo como Pedro tinham uma profunda convicção de pecado. Se quisermos ser fortes e prestar testemunho da graça, precisamos ter o sentido do mal, de onde Deus nos tirou. Se a ocasião se apresentar, podemos falar diante dos homens de nossos pecados, desde que tudo tenha sido colocado claramente diante de Deus. Os Cristãos convertidos em Éfeso trouxeram seus livros de magia e confessaram todas as suas ações pelo poder do Espírito Santo. Se o amor de Deus é derramado em nosso coração, temos mais vergonha por nossos pecados diante de Deus do que diante dos homens. Para ter uma boa consciência, devemos manter a consciência pura. Paulo se exercitou para ter em tudo uma consciência sem ofensa a Deus e aos homens. Quando entristecemos o Espírito Santo, não sentimos o amor de Deus da mesma maneira. Uma consciência contaminada não pode estar à vontade diante de Deus, e quando Deus entra, existem cantos escuros que ocultamos d’Ele. Impossível, então, ter essa perfeita confiança no raciocínio com Deus como com um Amigo. Se tivermos previamente a sensação de nossa debilidade, seremos forçados a buscar força em Deus.


Podemos com ousadia e sem dor recordar diante de Deus tudo o que pensamos, dizemos e fizemos? Ser incapaz de fazer isso não é estar na presença de Deus; fazer isso é recordar a Deus Sua imensa graça por ter nos perdoado. Sem Cristo, quem se aventuraria nessas coisas? O pecado oculto corrompe o coração, endurece a consciência e nos torna cegos e orgulhosos. É de toda importância para nós que nossa consciência seja totalmente esvaziada diante de Deus. Depois podemos esquecer essas coisas; não seremos julgados por causa disso. Seja fiel neste sentido – ter uma consciência pura diante de Deus e dos homens.


Bible Treasury, Vol. 13 (adaptado)


 

Consciência – O Evangelho de João


No evangelho de João, vemos o Senhor indo em direção aos pecadores. Ele não é tanto o Curador de Israel; é antes, a alma que Ele busca e, portanto, é a consciência com a qual lida. Isso nos dá a conhecer o que Ele é e qual é o Seu propósito e Seus negócios em todas as cenas. Pode ser uma consciência feliz, uma consciência desperta, inquieta, uma consciência apática, não quebrantada ou uma má consciência. Ele lida com toda essa variedade, mas em tudo vemos a consciência em alguma condição ou outra diante d’Ele.


Em André, temos uma imagem simples de uma consciência feliz ou de um pecador feliz. Ele foi a Jesus como pecador, como “o Cordeiro de Deus”, portanto, ele foi aceito e acolhido por Jesus e isso o deixou feliz. Seu coração estava livre e, portanto, ele pôde pensar nos outros; ele disse ao primeiro companheiro pecador que encontrou – seu irmão Simão – que ele tinha achado “o Cristo”. Então, em plena e consistente benevolência, ele convida Simão a se achegar e compartilhou o Cristo de Deus com ele. Aqui vemos uma consciência em liberdade, porque o pecador encontrou Jesus.


Uma consciência despertada

Em Natanael, a consciência já tinha sido despertada. Sob a figueira, ele se confessou um pecador, pois é o espírito de confissão que nos torna “sem dolo”. O Senhor reconheceu esse caráter em Natanael, pois ele era um homem de coração partido. O Senhor, portanto, já estava, em espírito, em companhia dele, antes de Filipe O chamar, pois os anseios de uma alma despertada são sempre queridos por Ele.


E em Sua graciosa saudação e deixando-o saber que Ele o conhecia, a alma de Natanael se maravilhou. “Rabi”, diz ele, “Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel”. Isso foi um avivamento em seu coração.


Esse caso nos mostra as relações abençoadas do Senhor com uma consciência despertada, revivida e que se alegra, ou tornando-a uma consciência aliviada e liberta. Na mulher samaritana no poço de Sicar, a consciência ainda estava dormindo. Tinha que ser despertada – trazida à presença de Deus – e o Senhor a força a descobrir a si mesma. Todos os segredos de culpa de sua alma foram arrastados para a luz. Embora oprimida pela luz que a detectou e a expôs, ela permaneceu em Sua presença, pois o Senhor rapidamente preencheu esse lugar com os símbolos de Sua graça e não permitiu mais que fosse apenas o testemunho de sua culpa. O Salvador Se revelou; o Estranho provou ser o Messias que ela havia identificado, e ela ficou ao mesmo tempo abençoada e satisfeita.


Aqui vemos o que o Senhor fará com uma consciência que precisa ser despertada, se o pecador, apesar da vergonha e da exposição, ainda respeitar Sua presença, pois é certamente o caminho da bem-aventurança para valorizar a Cristo mais do que o caráter. Podemos dizer, de certo modo, que tudo depende disso. Ela não se escondia mais, mas dizia aos vizinhos que havia sido completamente exposta.


Uma má consciência

No caso dos fariseus que acusaram a adúltera em João 8, a consciência era má. Um propósito perverso estava enchendo o coração deles o tempo todo em que estavam na presença de Cristo. O que Ele deveria fazer com esse povo? Sua presença era considerada intolerável para eles. “Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos” (ARA).


Que lição poderia trazer um assunto tão chocante? Pois isso assim será mais tarde. Todos os ímpios perecerão na presença do Senhor, não sendo esse o caminho normal de Jesus, pois Ele veio para salvar, não para julgar. Mas quando esses acusadores da pecadora com prazer a acusaram, então o Senhor pode lhes dar uma amostra do dia da destruição quando os iníquos perecerão na presença do Senhor. Ao contrário da pobre samaritana em que eles valorizaram seu caráter. Aqui, sendo expostos, eles preferiram esconder seus pecados a expô-los em público e depois tê-los removidos. Para tal pecador Cristo morreu em vão.


Assim, o Senhor Jesus é visto lidando com a consciência em diferentes condições. Com a consciência despertada, Ele lida com toda a graça. Com o pecador que ainda permanecerá com Ele, embora exposto à sua vergonha, lidará com ele até que Ele o alivie e satisfaça. Com os iníquos que praticam suas iniquidades e, quando expostos, O deixam, Ele mostra que a presença é intolerável.


Nestas narrativas simples e despretensiosas, obtemos esses segredos preciosos dos caminhos de Deus em Cristo, assim revelados para nós. Resta, no entanto, outro que eu não devo deixar passar – o mendigo cego de João 9.


Uma consciência honesta

Nele vemos uma consciência honesta. Não é uma consciência feliz, despertada, apática ou má. Não vemos nele nenhuma inquietação sobre sua alma, nem que a flecha da convicção tenha entrado nele, mas ele era honesto. Ele foi fiel à luz que tinha, e sofreu antes de render-se à sua integridade. Os fariseus o expulsaram, porque a religiosidade persegue a veracidade – um caso comum.


Jesus poderia deixar tal pessoa só ou ser indiferente a ela? Sabemos que Ele não podia. Ouviu que o expulsaram, e Ele imediatamente o procurou e fez dele Seu alvo, e o ponto de vista de Jesus e essa reunião com o mendigo pela segunda vez foi cheia de bênçãos e conforto.


Até então, esse pobre homem O conhecia apenas em Seu poder de curá-lo. Não houve exercício da alma como pecador, embora houvesse uma consciência honesta. Mas ao ver Jesus pela segunda vez, fora do templo, sua alma foi exercitada. Jesus o chamou para este exercício. “Crês tu no Filho de Deus?” E o pobre homem estava imediatamente preparado para aceitar qualquer coisa de Jesus. “Quem é Ele, Senhor, para que n’Ele creia?” E Jesus Se revela a ele como Aquele que o viu quando estava cego, e então o toma quando todos o tinham expulsado. “Tu já o tens visto”, diz o Senhor, “e é Aquele que fala contigo”. A alma então descobre Jesus. Amor e poder assim combinados e, agindo em virtude divina, eram suficientes. “Creio, Senhor”, respondeu ele, e depois “O adorou”.


Assim, Jesus alcançou sua alma e lidou com ele. E estamos conscientes de que, embora ele fosse apenas um homem honesto antes, ele então era uma alma vivificada, pois uma consciência honesta não é uma alma salva.


Uma consciência purificada

Mas, além de tudo isso, notemos que Paulo está lidando com a consciência em suas epístolas. Ele não vê nenhuma dessas variedades. Ele vê o pecador como ele é, um pecador. Ele instrui a consciência sobre como deve lidar com Deus e Seu evangelho, em vez de nos mostrar, como no Evangelho de João, como Cristo lida com isso. Ele diz à consciência que ela pode desfrutar de uma condição purificada – não apenas uma condição despertada, convicta ou honesta, mas uma condição purificada.


Este argumento é encontrado em Hebreus 9-10. O apóstolo ali ensina que, pela fé em Cristo, podemos ter uma consciência boa ou purificada, porque depois que Cristo fez Sua única oferta, Ele entrou no lugar santíssimo e nunca mais sairá dali. Sua oferta foi eficaz para afastar os pecados, porque era um sacrifício que era prestado “imaculado” e era “pelo Espírito eterno”. O próprio Espírito Santo, ao revelar a nova aliança, também estabeleceu o fato de que pecados e iniquidades não são mais lembrados.


Assim, sob os ensinamentos do apóstolo, a consciência é ensinada a lidar com Deus. O pecador é exortado a ser feliz em Seu amor, tendo entrado no reino ainda criança, sem ter o entendimento, mas recebendo.


Em João, vemos casos vivos em que o Senhor estava lidando com a consciência; em Hebreus, somos ensinados de que maneira a consciência deve lidar com o Senhor e como alcançar a condição em que a consciência de André, Natanael, a samaritana, a adúltera e o mendigo foi deixada por Jesus.


J. G. Bellett (adaptado)


 

Uma Boa Consciência


“Conservando a fé e a boa consciência, rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé” (1 Tm 1:19).


Nós, que fomos levados a Cristo pela graça salvadora de Deus, somos presentemente abençoados com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo e na posse atual da vida eterna em Seu Filho. Que bênção indescritível! No entanto, ainda neste mundo, precisamos de graça dia após dia, pois temos a jornada pela vida selvagem, no deserto diante de nós, no caminho para a casa de nosso Pai acima. Para esta jornada, temos a provisão sábia e suficiente de nosso Salvador, visto que Seu poder divino nos deu “tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Mas, assim como José deu a seus irmãos “provisão para o caminho” antes de partirem do Egito de volta a Canaã, ele também lhes deu uma exortação: “Não contendais pelo caminho”. Também precisamos dessa exortação, para que, em vez de cair no caminho, recebamos uma entrada ‘amplamente concedida’ no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, conforme nos falou o apóstolo Pedro.


O Espírito Santo

Ao concluir a grande obra de expiação na cruz do Calvário e provar a morte por todo homem, o Senhor Jesus foi exaltado à destra de Deus. “E tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. Isso é o Cristianismo. Crendo, individualmente, na Palavra da Verdade, no evangelho de nossa salvação, cada um de nós foi “selado com o Espírito Santo da promessa”, o Consolador divino que permanecerá conosco para sempre. Nunca antes homens e mulheres de fé foram habitados pelo Espírito Santo de Deus; nunca antes os filhos de Deus poderiam se dirigir a Deus conscientemente como Pai, tendo o Espírito de filiação, pelo Qual clamamos: “Abba, Pai”. Não admira que tenha sido dito: “Toda bênção Cristã é um pico da montanha”. Em humilde adoração, nos curvamos nesta graça, declarando como o mestre do banquete das bodas em Caná: “Tu guardaste até agora o bom vinho” (Jo 2:10).


Mas essa provisão da presença permanente do Espírito Santo em nós, por si só, garante um bom sucesso em nossa vida espiritual para a jornada mencionada acima? Sabemos que não, e que é possível até mesmo um verdadeiro crente, habitado pelo Espírito Santo, ser desviado e ser infrutífero no conhecimento de Jesus Cristo. Portanto, somos ensinados que, tendo recebido o Espírito, agora é essencial que sejamos guiados pelo Espírito (Gl 5:18) e que andemos no Espírito (Gl 5:25). Portanto, em um sentido prático, em minha vida diária, como posso saber que sou guiado pelo Espírito? Como é possível que Ele esteja livre para me ensinar todas as coisas, para me permitir entender e apreciar as coisas que são discernidas apenas espiritualmente, e para exibir o fruto do Espírito em minha vida para Sua glória? Notavelmente, Ele usa algo que eu tinha antes mesmo de ser salvo e esse homem adquiriu milhares de anos atrás: minha consciência.


Discernindo o bem e o mal

Podemos dizer que, assim como o olho é uma parte do corpo que pode discernir a luz, e discernir as coisas pela luz, a consciência é uma parte do homem moralmente capaz de discernir o bem e o mal, ou o certo e o errado. Deus escolheu dar essa habilidade moral ao homem após a queda de Adão, que foi por meio do exercício de sua vontade em desobediência a um conhecido mandamento de Deus, em Quem ele deveria confiar, honrar e obedecer. Esse conhecimento interior incutido em todo homem o deixa sem desculpa, pois Deus garantiu que quando o pecado entrasse no mundo, a consciência também fosse dada ao homem. Mas, assim como o olho não pode gerar luz, o homem não pode determinar o que é necessário para guiar sua vida. O mero conhecimento de que roubar e matar está errado e que trabalho, doação ou outras coisas podem ser boas não orienta adequadamente a vida do homem. O ditado no mundo, “Deixe sua consciência ser seu guia” não é verdadeiro; a consciência não é suficiente. Por isso, damos graças a Deus, pois recebemos a Palavra de Deus, Sua revelação ao homem. Uma revelação é algo que não poderíamos saber por meio de nossos próprios esforços de descoberta ou pela razão; Deus revela certezas e fatos, e a própria verdade, e estes só podem ser recebidos pela fé.


Luz

Como crentes que possuem agora os mais altos privilégios da dispensação da graça de Deus, recebemos, pela fé, o testemunho de Deus em Seu Filho, que veio como a Luz do mundo. Agora, nossa consciência é capaz de funcionar na mais brilhante de todas as luzes possíveis e, em vez de apenas nos ajudar em questões simples e naturais do certo e do errado, servem para nos ajudar de acordo com a liderança do Espírito Santo de Deus e de acordo com a revelação de Si mesmo em Sua Palavra. Assim como nosso corpo, que possuíamos antes de nossa conversão, agora pode ser apresentado em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, também nossa consciência pode desempenhar essa função espiritual e exaltada de garantir que nossa vida seja consistente com nosso chamado, porque somos imitadores de Deus, andando em amor e andando como filhos da luz. Para o crente, agora se pode afirmar: “Todas as coisas são suas” e “todas as coisas são por sua causa”.


Prazer

Ao tornar-se conhecido por seus irmãos no Egito, José disse-lhes com um coração transbordante: “Chegai-vos a mim”. Já foi dito que o objetivo do amor de Cristo é nos levar ao gozo de tudo o que Ele aprecia. Como nos faz humildes saber que Deus deseja nossa companhia dessa maneira e que Ele deseja isso agora mesmo enquanto ainda estamos aqui neste mundo. Nossa comunhão, é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo, e isso será sentido e desfrutado por nós, ao guardarmos Sua Palavra em resposta ao Seu amor derramado em nosso coração. Esta é a promessa de João 14, de o Pai e o Filho virem a nós e fazerem Sua morada conosco (v. 23).


Somos chamados a essa comunhão com alguém que é santo, e devemos ser santos em todo tipo de conversa. É pela aplicação contínua da Palavra de Deus, pelo Espírito, a nosso coração e mente que somos mais conformados a Ele moralmente, e o efeito prático do lavar da água pela Palavra nos santifica e limpa para que possamos ter “parte com Ele”. Como a fé nos permite ter a esperança n’Ele, também nos leva a nos purificar, assim como Ele é puro. Isso é para manter uma boa consciência. E assim Paulo poderia dizer que se exercitava para ter sempre uma consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens.


Uma boa consciência

Uma boa consciência não significa que não falhamos, mas que nos julgamos à luz da Palavra de Deus, se o fizermos. Esse processo interior resgata a raiz das coisas, e tomamos o lado de Deus no que o Espírito chama nossa atenção. Se deixamos de fazer isso, o Espírito se entristece e nossa consciência se torna contaminada. Deus gostaria que guardássemos o mistério da fé em pura consciência.


O fracasso crônico de nossa parte em julgar a nós mesmos e manter uma boa consciência nos rouba o prazer de que precisamos para correr a corrida que está diante de nós; também nos rouba a confiança n’Ele. Se isso progredir, o incômodo de uma má consciência pode nos levar a acomodar nossa fé ao nosso fracasso e inconsistência, ou desviar a verdade para tentar aliviar a consciência. Essa espiral descendente endurece ou amortece a consciência. Dizem que a consciência de um homem nunca será infiel, mas certamente pode se tornar ineficaz, “queimada com ferro quente” ou cauterizada.


Restauração

“Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). A mão disciplinadora de Deus pode nos restaurar, pois temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Mas quão melhor é experimentar a obra de nosso grande Sumo Sacerdote, sendo mantidos perto d’Ele, com nosso coração se regozijando nos estatutos do Senhor e nossos olhos iluminados com a pureza de Seus mandamentos (Sl 19). “Também por eles é admoestado o teu servo”; somos purificados de falhas secretas e preservados de “grande transgressão”.


Talvez tenhamos passado muitos dias com um “espírito ferido” de má consciência; quão maravilhoso é quando lemos, “Mas contigo está o perdão, para que sejas temido”. Ele pode restaurar nossa alma e fazer “que gozem os ossos que Tu quebraste”, fazendo-nos novamente “ouvir júbilo e alegria” (Sl 51). Ter uma boa consciência, aberta e honesta diante de Deus, permite que a nossa alegria seja plena e nos ajude a servir a Deus de maneira aceitável com toda a humildade da mente.


“Ora, o fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” (1 Tm 1:5). Que assim seja com cada um de nós!


B. Conrad


 

O Senso do Bem e do Mal


Existem três ideias conectadas à consciência que devemos observar se não tivermos confusão em nossa mente. Primeiro, o senso de responsabilidade para com um Ser acima de nós, principalmente com Deus; não o dever de amá-Lo (isso é lei), mas autoridade. Adão tinha isso antes da queda. Em segundo lugar, o senso do bem e do mal. Terceiro, o juízo próprio ou repulsa do coração (a respeito dos outros) produzido por esse senso do bem e do mal, quando um ato é condenado ao ser pesado. Pelo que entendo, o segundo é chamado apropriadamente de consciência.


J. N. Darby


 

Uma Boa Consciência


A condição da alma tem muito a ver com combater o bom combate. A fé deve ser mantida, brilhante, simples, e exercitada, os olhos do coração sempre nas coisas invisíveis e eternas. Com tudo isso, uma boa consciência é imperativa. Pois se a fé traz Deus para dentro, uma boa consciência se julga e mantém o pecado fora. Isso, de toda importância para todo Cristão, é preeminentemente necessário para aquele que é dedicado ao serviço de Cristo. Nada há que, de tal modo endureça o coração, como os contínuos desvios da verdade, distanciando-se da comunhão e do caminho. Veja o caso extremo de Judas caindo sob o poder do diabo; mas olhe também para Pedro, que estava longe de ser um traidor, mas foi traído por ter negado seu Mestre. Em 1 Timóteo 1, no entanto, é a manutenção não apenas da fé, mas também de uma boa consciência que “rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé”.


Raramente, se é que alguma vez, a alma que adota má doutrina mantém uma boa consciência; e como não pode haver uma boa consciência sem fé, por outro lado, onde a consciência se torna ruim na prática, a fé diminui e pode finalmente ser totalmente pervertida. Um homem não se sente à vontade em ser continuamente sobrecarregado com o senso de sua própria inconsistência. Ele é, portanto, tentado a acomodar sua fé ao fracasso, e ao que gosta, ele finalmente acredita na destruição da verdade; ou, como o apóstolo coloca aqui, “rejeitando a qual alguns” a uma boa consciência, “naufragaram na fé”.


W. Kelly


 

Teu Sacrifício Excelso

10.10.10.10. - Eventide; Abide With Me (Christ, The Heavenly Lamb)


1.O sangue de qualquer limpo animal – Oh! Derramado em altar terrenal – A consciência imunda e sem paz, Lavar não pôde ou ser eficaz.

2.Mas Tu, Senhor, quiseste Te entregar E nossa culpa toda expiar; Teu sacrifício excelso em seu poder, De sangue tão precioso, traz viver.

3.Atrás, olhamos para contemplar A carga que o amor Te fez levar, Quando sofreste na terrível cruz, Morte maldita, sem nenhuma luz!

4.Crendo, nos alegramos já em ver A maldição tirada e seu poder. A Ti, Senhor, louvamos com fervor, Cantando alegres Teu excelso amor.


Hino 14

 

“Quanto mais o sangue de Cristo... purificará a vossa consciência”

(Hb 9:14).

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