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Dependência e Obediência (Março de 2010)

Atualizado: 17 de abr.

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Revista mensal publicada originalmente em março/2010 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          H. Smith (adaptado)

          J. N. Darby, selecionado

          F. G. B., Christian Truth, 12:141

         G. H. Hayhoe

          H. B. W.

          A. H. Rule

          J. A. Trench (adaptado)

          W. Kelly

G. V. Wigram

          Christian Truth 

 

Dependência e Obediência

 

Dependência e obediência são as atitudes apropriadas a uma criatura. “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4:4). O homem é dependente de Deus para conseguir comida para comer e viver, e sua vida é dependente da obediência a toda palavra de Deus. No jardim do Éden foi dada a ele uma regra para ser obedecida, que unia o seu lugar de dependência e obediência. Se ele agisse em independência de Deus para comer, ele morreria. Se ele obedecesse e não comesse do que era proibido, ele viveria.

 

“A obediência é o único estado correto da criatura, ou Deus deixaria de ser supremo – deixaria de ser Deus. Não há nada tão humilde, nada que marque tanto a presença do Espírito, nada tão oposto à insubordinação, nada que faça com que todas as vozes impiedosas sejam caladas, como a obediência”.

 

“A obediência de Cristo foi perfeita. Todas as provações nas quais Ele foi colocado só manifestaram que n'Ele não havia pecado. No jardim do Getsêmani Ele escolheu ter a face de Deus escondida de Si do que falhar em obedecer. Ele Se tornou obediente até a morte, e morte de cruz. Não há nada tão humilde ou não egoísta como a obediência. Ela pressupõe que não temos vontade própria”.

 

Nesta edição focaremos no perfeito Homem de dependência e obediência, nosso Senhor Jesus Cristo, e como somos chamados “em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2).

 

Tema da edição

 

A Amabilidade de Cristo

 

Toda Escritura é proveitosa, mas as que apresentam “o que d'Ele Se achava em todas as Escrituras” devem ter um encanto especial para o Cristão. É isto que faz o Salmo 16 ser tão atrativo, pois ele apresenta a perfeição moral de Cristo, o Homem perfeito, como Ele trilhou a senda de vida por este mundo de pecado e morte. Quão bom, então, olhar para fora do “eu”, e contemplar este Homem perfeito em toda a Sua excelência. Neste Salmo podemos certamente dizer que Davi, guiado pelo Espírito, desvenda diante de nós a amabilidade de Cristo.

 

Sabemos que Cristo é uma Pessoa divina e que foi a manifestação perfeita de Deus ao homem. Mas também sabemos que Ele foi um verdadeiro Homem e, como Tal, foi a expressão perfeita do homem diante de Deus. É neste último aspecto que Cristo é apresentado no Salmo 16. Aqui, então, temos apresentada, em toda sua bem-aventurança, a vida interior do Homem perfeito que trilhou essa senda de vida em perfeição e que alcançou o fim deste caminho – a destra de Deus.

 

Dependência e confiança 

“Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (v. 1). Essa vida perfeita é uma vida de dependência e confiança – dependência do poder de Deus e confiança no amor de Deus. O Senhor Jesus não dependia de Si mesmo; Ele era inteiramente dependente da mão do poder de Deus, porque tinha total confiança no coração de Deus. Com confiança ilimitada no amor sem limites, Ele espera em Deus para preservá-Lo.

 

Ele não era ignorante nem indiferente a Seus inimigos. Ele conhecia o seu número, força e traição, mas sabia que Deus estava acima de todos os Seus inimigos. Ninguém estava acima de Deus, e em perfeita confiança, Ele olha apenas para Deus.

 

Ele às vezes foi muito abatido em Suas circunstâncias e, portanto, foi testado de uma maneira que nunca saberemos. Às vezes, Ele não tinha onde reclinar a cabeça e, às vezes, não tinha nem um copo de água fria. Mas tais testes apenas trouxeram à perfeição a Sua humanidade, pois ainda assim ele pôde dizer: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio”. Deus respondeu a Sua oração e usou uma mulher caída para saciar Sua sede e alguma pessoa desconhecida para fornecer um travesseiro para Sua cabeça.

 

Seguindo os passos do Senhor, Paulo pôde dizer em sua prisão: “O Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial” (2 Tm 4:18). Será que temos tanta confiança no amor do Pai e de Cristo que, na presença de inimigos, perigos e deserções, podemos dizer: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio”?

 

Sujeição de todo o coração 

“A minha alma disse ao SENHOR: Tu és o meu Senhor,” (v. 2). A vida perfeita é uma vida de sujeição de todo o coração à vontade de Deus. Fazendo apenas a vontade do Pai, tudo o que Ele fez foi perfeitamente bom. Havia também bondade divina para com o homem, perfeitamente expressa no Filho de Deus. Mas a bondade de que este salmo fala é a bondade de Cristo como Homem para com os homens e, apesar de perfeita em seu lugar, não se eleva à altura da bondade divina. Assim, o Senhor pode dizer sobre essa bondade: “a Minha bondade não chega à Tua presença”.

 

Somente quando estivermos sujeitos à vontade do Pai, faremos o bem ao longo de nosso caminho. Quando foi convertido, a primeira pergunta feita por Paulo foi: “Senhor, que farei?” (At 22:10). Até então ele havia feito sua própria vontade; agora ele se submete à vontade do Senhor. O fariseu orgulhoso e dominador se torna o homem humilde em sujeição ao Senhor.

 

Uma vida humilde 

Aos santos que estão na Terra, e aos excelentes Tu tens dito, neles está todo o Meu prazer” (v. 3 – JND). Esta vida perfeita é uma vida humilde que encontra seu prazer com o povo pobre de Deus. A perfeição de Jesus em toda a Sua graça humilde é vista no lugar que Ele leva em associação com os pobres da Terra. “Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2:5) Por mais fracos e pobres, eles são os excelentes da Terra, e neles Deus encontra o Seu prazer. Somos humildes o bastante a nossos olhos, e temos aprendido nosso próprio nada para que possamos nos associar com o povo pobre de Deus e encontrar nosso prazer onde Ele encontra o Seu?

 

Recusa 

“As dores se multiplicarão àqueles que fazem oferendas a outro deus; eu não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios” (v. 4). O Senhor recusou todos os objetos que pudessem se interpor entre a alma e Deus. O diabo se esforçou de todas as maneiras para desviar o Senhor do caminho separado e Lhe ofereceu “todos os reinos do mundo”, se Ele tão somente adorasse o diabo. A resposta do Senhor foi: “Está escrito: Adorarás o SENHOR, teu Deus, e só a Ele servirás” (Lc 4:5-8). Um pouquinho deste mundo é muitas vezes suficiente para prender nossa alma, e assim nos desviarmos para buscar alguma satisfação passageira nas coisas deste mundo, apenas para descobrir que multiplicamos tristezas para nós mesmos. O Senhor recusou os ídolos deste mundo. Ele não quis colocar os nomes deles em Seus lábios.

 

Doce apreciação 

“O SENHOR é a porção da minha herança e o meu cálice; Tu sustentas a minha sorte. As linhas caem-me em lugares deliciosos; sim, coube-me uma formosa herança” (vs. 5-6). Não somente o Senhor estava completamente separado do mundo, mas Deus foi a Sua parte em outro mundo. Além disso, ao seguir Seu caminho para a herança eterna, o Senhor encheu Seu cálice em Seu caminho diário. O cálice é o gozo presente da porção celestial futura. Com o Senhor como Sua porção celestial, bem como a fonte de Seu gozo presente, Ele pode dizer: “As linhas caem-Me em lugares deliciosos; sim, coube-Me uma formosa herança”. Quanto às circunstâncias, Ele era de fato o Homem de dores e familiarizado com a aflição (JND). Não são, no entanto, as circunstâncias de que fala o salmo, mas a vida interior vivida nessas circunstâncias. A vida foi vivida no doce desfrute do amor e apoio do Pai, e essas experiências transformaram os caminhos mais difíceis em “lugares deliciosos”.

 

No desinteresse do nosso caminho, pouco percebemos qual deve ser o gozo de uma vida que é vivida no relacionamento com o Pai e o desfrute constante de tudo o que o Pai é. Conheceremos a plenitude do gozo dessa vida em um dia vindouro, mas o Senhor Jesus a conheceu sem nenhuma sombra enquanto trilhava o caminho da vida por este mundo.

 

Conselheiro e Guia 

“Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite” (v. 7). Esta vida perfeita é uma vida em que o Senhor é o Conselheiro e o Guia. Não é apenas que recorremos ao Senhor em alguma grande emergência, mas que habitualmente esperamos no Senhor nos detalhes da vida. Reconhecendo-O, descobriremos que Ele nos guia. Então poderemos dizer: “Louvarei ao SENHOR que me aconselhou”.

 

“Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que Ele está à minha mão direita, nunca vacilarei” (v. 8). A vida perfeita tem apenas um Objeto – o próprio Senhor. Cristo andou na Terra com um olho simples. Ele colocou Jeová diante d'Ele como Seu único Objeto. Numa vida assim, não há nada do “eu” e nem espaço para a vontade própria.

 

Esse é o caminho aberto para o crente. Se, dia após dia, colocamos o Senhor diante de nós como nosso único Objeto, para fazer Sua vontade, não descobriremos que Ele estará à nossa destra para nos apoiar? E sendo apoiados, não seremos movidos por circunstâncias difíceis que possamos ser chamados a enfrentar.

 

Alegria e gozo 

“Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno [Sheol – JND], nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção” (vs. 9-10). Esta vida perfeita tem seu gozo e alegria, embora não seja como o gozo deste mundo que depende de circunstâncias exteriores. A alegria está no coração, como Davi pode dizer: “Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram o trigo e o vinho” (Sl 4:7). A alegria do mundo está em circunstâncias prósperas, o trigo e o vinho. O Senhor pôde dizer a Seus discípulos: “Tenho-vos dito isto, para que o Meu gozo permaneça em vós” (Jo 15:11).

 

O gozo do Senhor permanece até em vista da morte, pois Sua confiança ainda está em Deus. “Pois não deixarás a minha alma no inferno [Sheol – JND], nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção”. Cristo é realmente o “Santo”, mas os crentes são “santos e amados” e, como tais, podem conhecer a bem-aventurança da vida de Cristo como Homem. Eles também podem olhar com confiança, sabendo que Deus não deixará a alma na morte nem o corpo na corrupção.

 

A luz da glória 

Far-me-ás ver a vereda da vida; na Tua presença há fartura de alegrias; à Tua mão direita há delícias perpetuamente” (v. 11). Esta vida é uma vida vivida à luz da glória à qual ela leva. “A vereda da vida” leva à presença do Senhor, onde há plenitude de alegria e delícias para sempre. Em toda a oposição que o Senhor Jesus teve que enfrentar – a contradição dos pecadores, os insultos e as reprovações do mundo religioso, a ignorância e o abandono dos Seus – ele suportou à luz da glória diante d'Ele. A palavra para nós é: “Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos”.

 

Frequentemente desanimamos porque perdemos de vista a glória no fim do caminho – o gozo que nos está proposto. Em vez de silenciosamente suportar os insultos e a vergonha, muitas vezes retribuímos o mal com mal e as injúrias com injúrias. Podemos tentar justificar nossas palavras fortes e nossos atos precipitados, mas o único teste é: Jesus agiu como nós?

 

Nosso Grande Sumo Sacerdote 

Lembremos que a graça que permitiu ao Senhor trilhar a vereda da vida está disponível para nós; Ele ainda nos serve como nosso Grande Sumo Sacerdote tendo empatia e nos sustentando à medida que procuramos segui-Lo em Suas pisadas. O que quer que tenhamos que enfrentar, lembremo-nos da palavra: “Fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2:1).

 

Tal é a formosura de Cristo quando Ele trilhou a vereda da vida, viveu em toda a sua beleza diante de Deus e a traçou para que o Seu povo O siga – uma vida de dependência na mão poderosa do Pai, de confiança no coração do amor do Pai, e de sujeição à vontade do Pai. É uma vida de humildade que encontra seu deleite com o povo pobre de Deus – o excelente da Terra; uma vida de separação do mal, encontrando no Senhor sua porção futura e seu presente cálice de bênção; uma vida que tem o Senhor como seu único Objeto e tem o Senhor sempre presente para apoiá-lo; uma vida de secreto gozo e alegria que termina finalmente na presença do Senhor, onde há plenitude de alegria e delicias para sempre.

 

H. Smith (adaptado)

 

Obediência ou a Liberdade do Santo

 

O espírito de obediência é o grande segredo de toda piedade. A fonte de todo mal desde o início tem sido a independência de vontade. A obediência é o único estado legítimo da criatura, ou Deus deixaria de ser supremo – deixaria de ser Deus. Onde há independência, sempre há pecado. Essa regra, se lembrada, nos ajudaria maravilhosamente a guiar nossa conduta.

 

Nossa vontade própria 

Não há nenhum caso em que devamos fazer nossa própria vontade, pois não temos a capacidade de julgar corretamente sobre nossa conduta ou de apresentá-la a Deus. Posso ser chamado a agir independentemente da mais alta autoridade do mundo, mas nunca deve ser no princípio de que estou fazendo minha própria vontade, que é o princípio da morte eterna.

 

A liberdade do santo não é licença para fazer sua própria vontade. Uma total renúncia própria é o único meio de andar com a bênção completa que pertence à nossa feliz posição de serviço a Deus, a nossos irmãos e à humanidade. Se algo pudesse ter tirado a liberdade do Senhor Jesus, isso O teria impedido de ser sempre obediente à vontade de Deus. Tudo o que se move na esfera da vontade do homem é pecado. Somos santificados para a obediência (1 Pe 1:2); a essência da santificação é não ter vontade própria. Lembremo-nos de que a verdadeira escravidão é estar sendo escravizado por nossa própria vontade, enquanto a verdadeira liberdade consiste em ter nossas próprias vontades inteiramente colocadas de lado. Quando fazemos nossa própria vontade, o “eu” é o nosso centro.

 

Verdadeiro serviço 

O Senhor Jesus tomou “forma de Servo” e, “achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:6-8). Quando o homem se tornou pecador, ele deixou de ser um servo, embora seja, em pecado e rebelião, o escravo de um rebelde mais poderoso que ele. Quando somos santificados, somos trazidos ao lugar de servos, bem como ao de filhos. O espírito de filiação apenas se manifestou em Jesus, ao fazer a vontade do Pai. Satanás procurou fazer Sua filiação divergir da obediência irrestrita a Deus, mas o Senhor Jesus nunca faria nada, desde o início até o fim de Sua vida, exceto a vontade do Pai.

 

Em Hebreus 13:17-25, o espírito de obediência é imposto àqueles que governam na Igreja – “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles” (ARA). É para nosso proveito em tudo, buscar esse espírito. Eles “velam por vossa alma”, diz o apóstolo, “como aqueles que hão de dar conta delas”. Aqueles a quem o Senhor coloca em serviço, Ele faz responsável diante d’Ele mesmo. Este é o verdadeiro segredo de todo verdadeiro serviço. Deve ser obediência, seja naqueles que governam ou nos que obedecem. Eles são servos, e essa é a responsabilidade deles. Se eles não guiarem, dirigirem, repreenderem etc., “o Senhor” cobrará deles. Por outro lado, aqueles aconselhados tornam-se diretamente responsáveis perante o “Senhor” pela obediência.

 

Responsabilidade ao Senhor 

O grande princípio guardião de toda conduta na Igreja de Deus é responsabilidade pessoal para com o “Senhor”. Nenhuma orientação de outra pessoa pode jamais se interpor entre a consciência de um indivíduo e Deus. Aqueles que são mencionados neste capítulo como tendo o governo na Igreja tiveram que “dar conta” de sua própria conduta, e não das almas que foram confiadas a eles. Não existe algo como dar conta da alma de outras pessoas; “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14). A responsabilidade individual sempre assegura a manutenção da autoridade de Deus. Se aqueles que olhavam pela alma de outros tivessem sido fiéis em seu serviço, não teriam que prestar contas “gemendo”, no que dizia respeito a eles, mas ainda assim seria muito “inútil” para os outros, se agissem desobedientemente.

 

Onde quer que o princípio de obediência não esteja em nosso coração, tudo está errado; não há nada além de pecado. O princípio que nos atua em nossa conduta nunca deve ser: “Devo fazer o que acho certo”, mas “importa obedecer a Deus” (At 5:29).

 

Uma boa consciência 

O apóstolo então diz: “Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente” (Hb 13:18). É sempre uma armadilha, para aqueles que estão continuamente ocupados com as coisas de Deus, não ter uma “boa consciência”. Ninguém está tão propenso a cair, quanto aquele que está continuamente ministrando a verdade de Deus, se não tiver o cuidado de manter uma “boa consciência”. O contínuo falar sobre a verdade e estar ocupado com outras pessoas tem uma tendência a endurecer a consciência. O apóstolo não diz: “Ore por nós, pois estamos trabalhando duro” e coisas do gênero, mas o que lhe dá confiança em pedir suas orações é para que ele tenha uma “boa consciência”. Vemos o mesmo princípio mencionado em 1 Timóteo 1:19: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé”. Onde não há diligência na busca de manter uma “boa consciência”, Satanás entra e destrói a confiança entre a alma e Deus, ou entramos em falsa confiança. Onde existe o sentido da presença de Deus, existe o espírito de humilde obediência. No momento em que uma pessoa é muito ativa no serviço ou tem muito conhecimento e é colocada à frente de alguma forma na Igreja, existe o perigo de não ter uma boa consciência.

 

O Deus da paz 

Ele é “o Deus da paz”, tanto em relação aos nossos pecados quanto em nossas circunstâncias. Mas é somente em Sua presença que há paz estabelecida. No momento em que entramos em pensamentos e raciocínios humanos sobre as circunstâncias, ficamos perturbados. Não somente a paz nos foi feita pela expiação, mas repousa sobre o poder d’Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos, e, portanto, o conhecemos como “o Deus de paz”.

 

A bênção do santo não depende da velha aliança da qual o homem era parte e que poderia falhar, mas de Deus que, por meio de toda a angústia, pecado e poder de Satanás, “tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo” e assim assegurou a “eterna redenção” (Hb 9:12). Tudo o que o próprio Deus havia pronunciado quanto ao julgamento contra o pecado e todo o poder perverso de Satanás repousava sobre Jesus na cruz, e o próprio Deus o ressuscitou dentre os mortos. Aqui, então, temos total conforto e confiança da alma. Nada “nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” argumenta a fé (veja Rm 8:31-39), pois, quando todos os nossos pecados foram colocados sobre Jesus, Deus interveio com grande poder, e “o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, Grande Pastor das ovelhas”. O sangue era tanto a prova e testemunho do amor de Deus pelo pecador quanto a justiça e majestade de Deus contra o pecado. Essa aliança é baseada na verdade e santidade do Deus eterno, tendo sido plenamente cumprida e respondida na cruz do Senhor Jesus. Seu precioso sangue encontrou todas as reivindicações de Deus. Se Deus não é “o Deus de paz”, Ele estaria afirmando a insuficiência do sangue de Seu querido Filho. E sabemos que isso é impossível. Deus descansa nele como um cheiro suave.

 

Comunhão com Deus ao fazer Sua vontade 

Então, quanto ao efeito de tudo isso na vida do santo, o conhecimento disso produz comunhão com Deus e deleite em fazer Sua vontade. Ele está “operando em vós”, como é dito aqui, “o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus”.

 

A única coisa que deveria causar alguma hesitação na mente do santo quanto a partir para estar com Cristo é fazer a vontade de Deus aqui. Podemos imaginar alguém pensando na alegria de estar com Cristo e depois seja preso pelo desejo de fazer a vontade de Deus aqui (veja Fp 1:20-25). Isso pressupõe confiança em Deus, como “o Deus de paz”, e confiança em Seu poder sustentador enquanto estiver aqui. Se a alma está trabalhando no tumulto de sua própria mente, não pode ter a bênção de conhecer a Deus como “o Deus de paz”.

 

A carne é tão facilmente despertada que muitas vezes há a necessidade da palavra de exortação – “Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta exortação” (v. 22). O espírito de obediência é o único espírito de santidade.

 

Que o Senhor nos dê graça para andar em Seus caminhos.

 

J. N. Darby, selecionado

 

Dependência

 

A única atitude verdadeira para o Cristão é a da dependência. No momento em que sairmos do terreno de dependência de Deus, certamente iremos sofrer. Isso é verdade tanto individual quanto coletivamente.

 

Pedro saiu do terreno de dependência quando, confiante, disse: “Ainda que todos se escandalizem em Ti, eu nunca me escandalizarei” (Mt 26:33). Infelizmente, ele logo teve que aprender por amarga experiência que não tinha força para resistir quando chegasse a hora da provação. Então, assim é conosco; se pensamos que somos fortes e capazes de enfrentar o inimigo, é só então que estamos na posição mais perigosa de todas. Deus tem que permitir que alguma peneiração venha nos mostrar que não somos nada e que toda a nossa força está n'Ele.

 

Para um servo de Deus, até o sucesso na obra do Senhor tem seus perigos. Ele está apto a se credenciar com o que Deus fez por meio dele e a pensar que ele realizou alguma coisa. Nesse sentido, é interessante notar que os apóstolos, depois de retornarem de uma obra missionária bendita, não relataram o que eles haviam feito, mas tudo o que Deus havia feito por meio deles (veja Atos 14:27; 15:4, 12; 21:19).

 

É somente na presença e proximidade do Senhor que pode haver essa ausência do “eu” e a constante dependência d'Ele, tão necessária para a vida e o serviço Cristão. A mesma necessidade de dependência é verdadeira coletivamente. No momento em que uma assembleia de Cristãos começa a dizer (ou a pensar, se não o disser), “Nós somos o povo, o testemunho”, o fracasso chegou; eles estão fora do terreno de dependência. O “eu”, e não Cristo, tornou-se objeto de atenção. De fato, eles deram o primeiro passo na ladeira da ocupação consigo mesmo, que com certeza terminará em desastre se não se arrependerem disso.

 

O verdadeiro exemplo 

Nosso bendito Senhor foi o verdadeiro Exemplo de dependência. Ele nunca Se desviou do caminho da absoluta dependência do Pai, nem por um momento. O Último Adão ficou firme onde o primeiro Adão falhou. Nenhuma sedução sutil de Satanás poderia induzi-Lo a estabelecer uma vontade independente ou deixar o terreno da simples dependência.

 

Assim, Ele poderia dizer: “Eu desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo 6:38); “Não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou” (Jo 5:30); “Eu faço sempre o que Lhe agrada” (Jo 8:29). E Ele poderia responder a Satanás “está escrito”. Ele viveu pelo Pai e por toda palavra que procedeu da boca de Deus. Seu caminho era de perfeita obediência, perfeita dependência, perfeita submissão à vontade do Pai e, portanto, de perfeita luz e gozo interior, quaisquer que fossem as dores que O pressionavam desde o exterior.

 

Oh, que possamos aprender mais de Sua graça! Apenas para me debruçar sobre o caminho do Homem humilde, Jesus, que poderia dizer nas profundezas de Sua abnegação: “A Minha alma disse ao SENHOR: Tu és o Meu Senhor, a Minha bondade não chega à Tua presença, Mas aos santos que estão na Terra, e aos ilustres [excelentes – JND] em quem está todo o Meu prazer” (Sl 16:2-3). Que lugar de perfeita submissão e dependência!

 

E não foi nosso Senhor Jesus verdadeira e realmente “sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9:5)? Certamente Ele era, mas Ele não assume essa posição no salmo que acabamos de citar. Em nenhum lugar, de fato, Ele Se mostra mais verdadeiramente como Deus do que no ato de tomar, voluntariamente e em amor divino, a forma humilde de um Servo. E quão abençoadamente Ele marcou o caminho para nós e manifestou as verdadeiras características da vida divina no homem, em Seu humilde caminho de dependência de Deus.

 

Bendito Salvador, que possamos aprender de Ti e estarmos ocupados Contigo! E assim possa aquele miserável “eu” que tanto se apega a nós ser deslocado e esquecido na presença de Tua humilde graça, Tua perfeita devoção e Tua humilde submissão à vontade do Pai em tudo!

 

F. G. B., Christian Truth, 12:141

 

O Espírito da Obediência

 

A sabedoria de Deus é muito superior à do homem, e um menininho, ainda que jovem, pode ser protegido de todo o mal que existe no mundo, com o simples princípio de sujeição e obediência à Palavra de Deus. Você não precisa conhecer todo o mal que existe no mundo. Você não precisa planejar contra algum inimigo esperto. Basta você caminhar em obediência à Palavra de Deus, e tenho certeza de que será mantido, não importa o quão tenebroso o dia, não importa o quão difícil seja o caminho. Há apenas um princípio simples que o manterá fiel até o fim – ou seja, o espírito de obediência.

 

G. H. Hayhoe

 

Obediência do Amor

 

O Senhor Jesus disse: “Se alguém Me serve, siga-Me” (Jo 12:26). Se estou seguindo minha própria vontade em uma questão, assumindo a liderança, estou praticamente O ignorando! Eu devo “segui-Lo”; em outras palavras, obedecê-Lo, a cada dia, a cada hora. Isso é “retendo a Cabeça”; é aguardando n’Ele – seguindo, portanto, de acordo com Sua Palavra, Seu caminho, Seu desejo – isto é comunhão. O Senhor está agora ganhando o amor daqueles que são Seus para que eles o sigam. Não é mera obediência formal à lei, mas a obediência do amor a Ele. “Senhor, que queres que faça?” é uma questão de vida, de coração e de submissão. É o clamor de alguém que é sujeito.

 

H. B. W.

 

Obediência e Amor

 

A perfeita obediência caracterizou a vida de Cristo aqui na Terra. Ele sempre foi o Dependente, sempre o Obediente. “No princípio do livro está escrito” d'Ele: “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade”. E quando na Terra Ele poderia dizer: “Não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou”. E novamente: “Eu faço sempre o que Lhe agrada”. Isso foi perfeita obediência.

 

Seu caminho de obediência ao Pai também foi a manifestação perfeita do amor de Deus pelo homem. Suas palavras, seus caminhos e seus atos todos falavam do amor de Deus por Suas criaturas culpadas. E a cruz foi a revelação completa disso, juntamente com a expressão infinitamente perfeita de Sua obediência a Deus Pai. Na vida de Cristo como Homem na Terra, perfeita obediência e perfeito amor foram unidos. A vida em que estas foram manifestadas em Cristo é a vida que, pela graça, é transmitida ao crente.

 

Não havia imperfeição em Cristo. A vida d'Ele era de perfeita obediência – amor perfeito. Em nós, há muito para impedir a manifestação desta vida, mas a vida em nós é a mesma em sua natureza, seus traços e características – é a mesma vida. Seja n'Ele ou em nós, é caracterizada pela obediência. Obediência é o estado em que ela subsiste. “E nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos” (1 Jo 2:3). Não importa qual seja a nossa pretensão, ela não vale nada a menos que haja essa obediência. “Aquele que diz: Eu conheço-O e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (v. 4).

 

Amor 

A outra característica da vida divina não está separada disso. Onde houver obediência, também haverá amor, porque eles pertencem à mesma vida – à mesma natureza. “Mas qualquer que guarda a Sua palavra” – isto é obediência – “o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos n’Ele” (1 Jo 2:5). Sua Palavra é a expressão do que Ele é, de Sua natureza, e “Deus é amor”, de modo que, se guardarmos Sua Palavra, Seu amor será aperfeiçoado em nós. “Seus mandamentos” não são apenas a expressão do que Ele é, mas também de Sua autoridade. Somos chamados a obedecer, e a obedecer como Cristo obedeceu. Somos santificados para a obediência de Cristo. E se dissermos que n'Ele permanecemos, também devemos andar como Ele andou, isto é, em obediência a Deus, pois toda a Sua vida foi assim. Não havia um único movimento em Sua alma, nem um único ato de Sua vida, que não fosse obediência à vontade de Seu Pai. Bem-aventurado, de fato, é contemplar aquele Perfeito no caminho de perfeita obediência! E felizes são os que seguem Suas pisadas, que andam como Ele andou!

 

Os antigos e novos mandamentos 

O mandamento de obedecer como Cristo obedeceu, de andar como Cristo andou, não era um novo mandamento. Era a palavra que eles ouviram desde o princípio em conexão com a manifestação da vida divina em Cristo. Era o mandamento do Pai para Cristo, de acordo com as próprias palavras de Cristo: “Porque Eu não tenho falado de Mim mesmo; mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o Seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai Mo tem dito” (Jo 12:49-50). Então, João diz que o mandamento era “antigo”. Novamente, era um “novo mandamento”, porque verdadeiro n'Ele e em nós. O mandamento era a expressão da vida divina – “O Seu mandamento é a vida eterna” e foi visto pela primeira vez em Cristo. Mas agora também é verdade em nós, “porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia”.

 

Deus havia Se revelado pela cruz, e a luz da vida agora brilhava para o homem e dissipava as trevas. Esta vida para o homem, e no homem, como fruto da redenção, vida em Cristo, vida no Espírito, era uma coisa nova. É Cristo em nós, Cristo como nossa vida. O mandamento é “antigo” porque a obediência que caracteriza esta vida foi vista n'Ele, que era desde o princípio “a palavra da vida”. É “novo” porque a mesma coisa é vista no crente agora. Se eles estavam procurando algo novo, de acordo com a filosofia gnóstica, o veneno para o Cristianismo naquele dia, o apóstolo João lhes deu isso. Mas ele não o desconectou de Cristo, a vida do crente, “O que era desde o princípio”.  “Que é verdadeiro n’Ele e em vós”.

 

Até que a redenção fosse realizada, Cristo permaneceu sozinho. Agora Ele não está mais sozinho; nós estamos n'Ele, e Ele em nós. Essa é uma verdade maravilhosa e dá um caráter maravilhoso aos filhos de Deus. O Espírito Santo em nós é o poder de tudo – a resposta divina em nós, aqui em baixo, para tudo o que Cristo está na glória como Homem. Já não é Cristo como um Homem andando sozinho neste mundo, mas Cristo nos santos e a “vida eterna” manifestada neles.

 

Obediência e desobediência – Amor e ódio 

Na epístola de João, Cristo é visto como a “vida eterna” aqui neste mundo, primeiro sozinho e depois nos santos, “que é verdadeiro n’Ele e em vós”. E essa vida, seja apenas em Cristo, ou n'Ele e em nós, é primeiro uma vida obediente e depois uma vida de amor. Primeira João 2:3-8 é obediência e desobediência; Os versículos 9 a 11 são amor e ódio.

 

Obediência e amor caracterizam aqueles que estão na luz. Desobediência e ódio caracterizam aqueles que estão nas trevas. Um homem pode dizer que está na luz, mas se ele odeia o irmão, ele ainda está nas trevas e nunca viu a luz. Ele não conhece “a luz da vida”. Mas se vemos as consequências do amor divino em direção a um irmão, podemos dizer que ele é um homem que habita na luz. Ele encontrou Deus que é luz; tendo encontrado a luz, ele também tem o amor, pois “Deus é luz” e “Deus é amor”. Não podemos ter um sem o outro, assim como não podemos ter o Sol sem ter luz e calor.

 

Será que nossos olhos foram abertos para ver a luz? Nosso coração provou o amor? Oh! Então “E andai em amor, como também Cristo vos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”. Devemos “andai como filhos da luz (porque o fruto do Espírito está em toda bondade, e justiça, e verdade), aprovando o que é agradável ao Senhor” (Ef 5:2, 8-10). Que andemos na luz e no brilho da Sua presença, como quem pudesse dizer: “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade”, nunca desviando deste caminho e que, “como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.

 

A. H. Rule

 

Obediência Cristã – a Obediência de Cristo

 

“Para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2).

 

O caráter dessa obediência envolve todo o princípio e bem-aventurança da posição Cristã e a vida que pertence a ela. Nesta passagem, as palavras “obediência” e “aspersão do sangue” dependem igualmente de “Jesus Cristo”, e isso traz à tona o caráter distinto da obediência. Para a nação de Israel, a condição de entrada nas bênçãos era a obediência à lei, à qual estavam vinculados pelo sangue que Moisés aspergiu sobre o povo (Êx 24:6-8). Para o Cristão, é um caráter totalmente diferente de obediência – “de Jesus Cristo” – isto é, obedecer como Ele obedeceu. O sangue de Jesus Cristo, em vez de estabelecer a autoridade da lei por uma pena de morte por desobediência, se torna o poder libertador de uma obediência segundo o Seu próprio padrão.

 

O homem na carne 

A lei foi dirigida ao homem na carne, mas sabemos que ela é “inimizade contra Deus”, de modo que “os que estão na carne não podem agradar a Deus”. A obediência de Cristo difere totalmente com isso. Ele obedeceu perfeitamente à lei, mas não como tendo que ser proibido de ter o Ele que desejava. “Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de Mim: Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Sl 40:7-8). Tampouco foi o caráter de Sua obediência que Ele renunciou Sua própria vontade em deferência à vontade do Pai, pois Ele diz: “Porque Eu desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo 6:38). Assim, vemos Aquele cuja única vontade era fazer a vontade de Deus.

 

O novo homem 

“Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Mas essa condenação ocorreu na morte d'Aquele que Se entregou por mim para que Ele pudesse ser minha vida, vejo que tenho o direito de contar tudo o que aconteceu em Sua morte como tendo acontecido comigo. Assim, sabemos que “nosso velho homem”, isto é, tudo que éramos caracterizados pelo pecado e pela carne, “foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado” – todo o seu sistema e poder – “seja desfeito [anulado – JND], a fim de que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6:6).

 

A Paulo é dado apresentar esta nova criação sob a visão da nossa posição em Cristo, de acordo com os conselhos eternos de Deus, enquanto na epístola de João ela é trazida sob a visão de Cristo como nossa vida, envolvendo a participação na natureza divina. Em 1 João, então, não é o crente sendo visto agora como uma guerra de dois princípios opostos dentro dele – a carne com a qual ele nasceu neste mundo e a natureza divina como nascida de Deus. Em vez disso, como tudo o que era do primeiro homem se foi com a morte de Cristo, Deus coloca diante de nós os privilégios e a natureza característicos da vida para a qual fomos trazidos, como se nunca tivéssemos tido outra.

 

Separados para a obediência 

Assim, vemos que fomos separados para a obediência de Cristo, para que nenhum caráter inferior de obediência possa pertencer ao Cristão. O princípio essencial da posição Cristã em seu mais profundo privilégio é revelado. A vida que era verdadeira somente n'Ele quando Ele estava aqui, agora é “verdadeira” n'Ele e em nós “porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz ilumina”. Os mandamentos e a Palavra que eram a plena expressão da vida n'Ele, agora são dados para direcionar essa vida em nós. Quaisquer que sejam os traços abençoados dessa vida expressos no caminho de Cristo aqui, se tornam Sua Palavra, com autoridade divina sobre mim como Seus mandamentos também, para indicar a expressão da mesma vida em mim.

 

A obediência de Cristo é, portanto, um contraste total com qualquer coisa apresentada ao homem antes. Em vez de uma lei agir de fora sobre uma natureza totalmente oposta a ela, trata-se da vontade revelada de Deus, expressa nos mandamentos e na Palavra de Cristo, chegando com autoridade para uma natureza que responde e se deleita nessa vontade e encontra sua liberdade na obediência.

 

É doce nos voltarmos para a vida humilde de Jesus, onde essa obediência é vista em toda a sua perfeição, ainda que a glória incomparável dela nos humilhe, e sentimos cada vez mais a pobreza de todos os nossos pensamentos sobre Ele. O Salmo 40, do qual já citei, nos leva à Sua entrada nesse lugar de obediência. O coração de Deus agora encontra toda a Sua satisfação n'Aquele que diz: “os Meus ouvidos abriste”.

 

Cristo em dependência 

Em Isaías 50, O encontramos vindo, e trilhando o caminho. Em que caráter Ele veio? “O Senhor DEUS [Jeová – JND] Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem. O Senhor DEUS [Jeová – JND] Me abriu os ouvidos” (vs. 4-5). Aquele que era Jeová veio como Homem para ser dependente e obediente, buscando a direção de Deus, com os ouvidos despertados manhã após manhã para recebê-la. Que estudo para nosso coração! Que obediência é assim prenunciada – Aquele que, sozinho, tinha direito à Sua própria vontade, mas Se tornou Homem apenas para cumprir a vontade do Pai!

 

Em Filipenses 2, a mente que estava em Cristo Jesus deve estar agora em nós – uma mente que, em vez de se elevar como fez o primeiro Adão para ser como Deus, desceu até não poder descer mais. Como Deus, Ele Se esvaziou, como Homem, Ele Se humilhou, e Sua obediência nessa posição foi até a morte, e morte de cruz, na qual Sua obediência foi colocada à última prova possível e se mostrou perfeita – tudo em que Ele estava entrando e dando o caráter dela a cada passo do Seu caminho. Como homem, Ele era dependente e obediente, mas o fato de que Ele, em Quem “toda a plenitude da Divindade aprouve habitar” (JND), deveria ocupar a posição de sujeição do homem para glorificar a Deus, submetendo-Se a Ele perfeitamente, dá à humilhação, à dependência e à obediência manifestadas n'Ele sua única medida e glória infinita.

 

Ele nunca havia estado em circunstâncias nas quais a obediência pudesse ser prestada. Não que houvesse algo naquela santa natureza contrário à obediência; como vimos, Ele Se tornou Homem apenas para obedecer e encontrou Seu único motivo para tudo na obediência. Mas assim Ele aprendeu obediência.

 

A obediência de Cristo 

Sabemos realmente que essa é a obediência à qual fomos santificados? Não estou falando de fracassar em andar de acordo com ela, mas já nos curvamos sem reservas ao princípio dela, como provado em sua absoluta perfeição no bendito Senhor? Então saberemos como julgar, no segredo de nosso coração, qualquer fonte de pensamento ou ação que não tenha sua origem na vontade conhecida de Deus. Digo conhecida, porque não existe uma forma mais sutil de tentação do que quando é pressionado sobre nós que as circunstâncias exigem ação, quando não há palavra de Deus, nem intimação de Sua vontade. No entanto, se agirmos sem conhecer a vontade de Deus, nada pode ser mais certo do que estar fazendo a nossa própria, e essa é a essência do pecado. “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria” (1 Sm 15:22-23). Nada é apropriado no homem, exceto a obediência. A confiança em Deus será certamente necessária para esperar, assim como aconteceu com o Senhor, que ficou quarenta dias sem comida, mas, para aqueles que conhecem Seu coração perfeitamente revelado no Filho, é algo estranho que devamos confiar n'Ele?

 

Amor – a fonte 

Mais uma passagem conecta a obediência à fonte dela, que, seja n'Ele ou em nós, lhe confere todo o seu caráter e aceitação abençoados – amor. Refiro-me a João 14:30-31. “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim; Mas é para que o mundo saiba que Eu amo o Pai, e que faço como o Pai Me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui”. Que ponto de partida o inimigo poderia encontrar em uma vida composta de nada além de amor e obediência?

 

Teste final de Satanás 

Lucas nos leva ao ataque final de Satanás; no Getsêmani, a força plena da tentação vem diante de nós. Satanás, tendo o poder da morte sobre o homem, procurou pressioná-la nesse caráter sobre Ele, para detê-Lo de seguir todo o caminho em obediência. “Todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua”, registra a Sua entrega a ela, na perfeição da obediência aqui levada à sua prova absoluta e final. Assim, em profundezas infinitas de sofrimento, Ele suportou o julgamento da vontade da carne que uma vez nos caracterizou. Oh, que possamos saber, em verdadeira dependência e proximidade de coração do Senhor, como viver “levando sempre no corpo o morrer de Jesus” (ARA), para que nada além de Sua vida sem vontade própria possa se manifestar em nosso corpo!

 

Cristo nosso objeto 

E agora, para encerrar, eu diria a mim e a meus amados irmãos – estaria nosso coração sempre fazendo as coisas que Lhe agradam? É proveitoso para nossa alma passar nossa vida em revisão diante de Deus à luz de tal obediência e considerar quanto disso teria sido deixado de fora se Cristo estivesse enchendo nosso coração! Profundamente humilhante, como uma revisão do passado deve ser para cada um de nós, é bom que apenas magnifique a graça que está n'Ele! Se somos santificados à obediência de Jesus Cristo, podemos procurar realizá-la, não por esforço, mas permanecendo n'Ele. Mas essa permanência n'Ele deve ser onde Ele está, de modo a viver apenas a vida em uma esfera onde tudo é contrário a ela. Que cada um de nós saiba mais sobre essa vida – Cristo Se torna tudo como nosso Objeto, pois Ele é a nossa vida (Cl 3:11).

 

J. A. Trench (adaptado)

 

Nossa Preservação

 

A melhor posição e os mais altos privilégios não conseguirão manter um homem em retidão para com Deus; somente a dependência do Senhor e a obediência podem fazer isso. Quanto maior o privilégio, pior será a queda, se a alma não esperar em Deus. É um grande erro pensar que somente os iníquos podem cair; o Cristão pode, e deve cair, se não for vigilante. A condição do verdadeiro adorador não é tal que ele permaneça imóvel como uma estátua. Ele está vivo para Deus, mas ele é responsável moralmente; ele deve crescer, mas pode declinar. Sem dúvida, ele tem seu “velho homem”; a única coisa a fazer com ele é julgá-lo, tratando-o como vil e mau, de acordo com a cruz, onde ele foi condenado, tanto a raiz como o ramo, em Cristo, que foi feito pecado por nós (Rm 6:6; 8:3).

 

W. Kelly

 

Nosso Único Guia Seguro

 

Cada vez mais fica claro para mim que “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os Meus olhos” é o único guia adequado e seguro para nós. É melhor errar ao procurar andar com Deus do que seguir por uma estrada nivelada sem fé individual sendo exercitada. Devo andar com Deus e gastar e ser gasto com outras pessoas aqui em baixo. Isso não é orgulho; o orgulho logo murchará e diminuirá se eu andar no espírito de dependência e obediência a Deus. E, além disso, temos que aproveitar toda ajuda que Deus nos dá, mas também tentar todas as coisas e provar o que é de Deus, e apartar o precioso do vil, para que sejamos como Sua boca.

 

G. V. Wigram

 

Dependência 


Só Tu sabes, Senhor, quão frágil e fraco

É cada passo que dou, cada palavra que falo;

Como tudo é fracasso – que não posso suportar

A menos que Tu me segures com Tua graciosa mão.

 

Mas como o anseio de meu coração por Ti

É apenas o eco de Teu amor por mim,

E já que é aos famintos que Tu sacias,

O coração cansado Tu gentilmente guias,

 

Já que é aos sedentos que Tu satisfazes

Com água viva, e aos fracos com força,

Em Ti repousa minha total necessidade,

Através da pobreza mais profunda, mais ricamente abençoada.

 

O que faz com que minha alma prove Tua força na fraqueza,

E se apoiar mais inteiramente em Teu precioso amor;

Meu Senhor, eu Te agradeço por não poder ficar

Um momento seguro sem Tua mão amorosa

Christian Truth

 

 “Eu faço sempre o que Lhe agrada”

João 8:29

 

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