Descanso (Outubro de 2025)
- Revista O Cristão
- há 6 horas
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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
J. E. Batten, Christian Friend, Vol. 10
J. A. Trench, Truth for Believers, Vol. 1
W. J. Prost
D. C. Buchanan
T. E. P.
Christian Truth, Vol. 37
Christian Truth, Vol. 3
J. N. Darby
F. G. Patterson, Words of Truth, Vol. 1 (adaptado)
Thomas Raffles
E. G. Cherry
Descanso

Ao passarmos por circunstâncias de deserto em nosso caminho (muitas vezes tão dolorosas e desafiadoras) rumo ao descanso de Deus, não há nada que tanto revigore a alma e alegre o coração, transmitindo uma nova fonte de vida, energia e gozo, quanto a percepção do que o próprio Deus é e, podemos acrescentar, do que Ele deve necessariamente ser, nas profundas perfeições de Seu Ser. Sentimos as provações do caminho – tristeza, sofrimento, pressão, necessidade –, mas a alma que conhece bem a Deus sabe que Ele é a origem e a fonte dessas coisas, porque é Seu gozo abençoar, Sua natureza fazer o bem e, sendo assim, somente o que é bom, e, portanto, digno d’Ele mesmo, pode fluir do coração do Deus bendito. Nenhuma mancha de pecado, nenhuma semente de sofrimento ou tristeza havia para macular aquela cena bela e maravilhosa de uma criação completa quando o Criador, ao contemplar a obra de Suas mãos, declarou tudo muito bom. E, ao olharmos para a ruína e a desolação e sentirmos seus tristes efeitos, seja em nós ou fora de nós, só podemos dizer: “Um inimigo é quem fez isso”, enquanto ansiamos por aquele descanso abençoado e sem fim, o descanso do próprio Deus, no qual tudo será o testemunho eterno, a demonstração eterna da suprema bondade que deve ser derramada, mas que nunca se esgota, para a bênção de tudo que estiver sob seu domínio.
J. E. Batten, Christian Friend, Vol. 10
O Seu Descanso e o Nosso
Sofonias 3:17; Mateus 11:16-30
É maravilhoso que possamos falar de descanso em nossa jornada atravessando um mundo como este. Mas há algo ainda mais maravilhoso na primeira passagem diante de nós: Ele “descansará no Seu amor” (Sf 3:17 – TB). É que Deus fale de encontrar descanso para Si mesmo nos pensamentos e caminhos de Seu amor por nós. Ele Se satisfez a Si mesmo. Ele salva, mas isso é porque Ele “Se deleitará em ti com alegria”. E este é o pensamento principal daquela parábola do Seu coração em Lucas 15. É a perfeita e bendita alegria de Deus não apenas receber e comer com pecadores, como disse o fariseu, mas deliberadamente buscar para que Ele tivesse a eles para receber, e isso para que pudessem comer com Ele. Ele também não descansará até que o pobre e condenado filho pródigo se assente à Sua mesa. Ele descansa no Seu amor. Isso satisfaz a Ele mesmo, porque nada mais Ele tem a fazer. Ele nos tem diante de Seu olhar na perfeição de Cristo e está satisfeito. Que maravilhosa bem-aventurança para nós! Mas as primícias disso são para Ele. E isso nos dá a fonte de todo o descanso para nós; ela se encontra no descanso que há para Deus, nos pensamentos do Seu amor e na sua realização.
Seu descanso em Seu amor
Mas, se Ele descansa em Seu amor (Mt 11), Ele nos leva a descansar nele. Mas observe a maneira como isso é apresentado, pois é isso que lhe confere seu caráter pleno (leia Mateus 11:16-25). O Senhor Jesus havia passado por este mundo e não havia encontrado nada em que pudesse descansar. Mas Ele tinha um segredo do descanso: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da Terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. A provação que O pressionava era a ordenação da infinita sabedoria e do amor de um Pai. Assim Ele foi testado e se provou perfeito em confiança e obediência. A glória mais profunda de Sua Pessoa está diante d’Ele e da obra que Ele veio realizar em conexão com isto: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar”. Rejeitado quando apresentado como Messias a Israel, Ele revela o Pai a quem Ele quer.
Nosso descanso de consciência
Mas agora vem a pergunta ansiosa: A quem Ele deseja revelá-Lo? “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. Existem corações atribulados que não encontram nada que os satisfaça, nenhuma fonte de descanso neste pobre mundo? Ele nos convida a ir a Ele para que Ele nos revele o Pai e, assim, nos introduza no segredo do Seu próprio descanso perfeito, para que onde Ele reclinou a Sua cabeça, que não tinha onde recliná-la neste mundo, possamos recostar a nossa agora, sim, no seio de amor de um Pai.
A conexão imediata dos versículos deve ser mantida, pois isso confere a ambos os aspectos do descanso de que Ele fala seu pleno caráter e preciosidade. Este primeiro descanso não é somente o descanso da consciência no perdão dos pecados, embora este deva ser o primeiro e deva estar incluído nele. Mas isso não é nada menos que a revelação do Pai à nossa alma.
Relacionamento
O coração deseja relacionamento; nada a não ser relacionamentos divinos o satisfará, e é a isso que Ele nos introduz. Não é de uma só vez que entramos no conhecimento do Pai, e, ainda assim, em 1 João 2 os filhinhos da família de Deus são mencionados porque conhecem o Pai. Portanto, é privilégio de todos. Quando chegamos a Jesus, Ele quer que saibamos que é ao Pai que viemos: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Que bendito descanso é esse!
Isso nos traz à fonte de todas as provações que surgem, seja qual for seu caráter. O amor de um Pai nos colocou nelas, independentemente do que possa parecer tê-las causado, direta ou indiretamente. Quão distante, em Seu caso, a provação pode ter parecido do tratamento do Pai com Ele; mas é o direito da fé não tomar nada como vindo de outra fonte senão do conhecido amor de um Pai. Então haverá algo mais presente e real para o coração do que as circunstâncias da provação, a saber, Aquele que nos coloca nelas e a certeza de Sua sabedoria e amor ao fazê-lo: “Graças Te dou, ó Pai… sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”.
O descanso da submissão e obediência
Mas isso nos leva simples e naturalmente ao próximo caráter de descanso, e isso também foi ilustrado no caminho do Senhor Jesus. “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”. É o descanso em que entramos pela submissão e obediência à vontade do Pai, pois qual era o jugo de Jesus que Ele nos ordena a tomar sobre nós? Foi o que acabamos de ver n’Ele: aquela perfeita obediência que se submeteu em tudo à vontade do Pai. Ela nos é maravilhosamente apresentada nas palavras de Isaías 50:4-6. Aquele que era Jeová (v. 4) tomou, em graça, o caminho do aprendiz. “Aprendeu a obediência por aquilo que padeceu” (Hb 5:8). “Desperta-Me de manhã em manhã, desperta-Me o ouvido para que Eu ouça como os que são instruídos”. Assim, Ele pode dizer: “O Senhor Jeová deu-Me a língua dos que são instruídos, para que Eu saiba sustentar com palavras o que está cansado” (TB). Quão profundamente isso realça a preciosidade de Ele ter falado isso a partir da experiência que adquiriu em Sua própria jornada no mundo, pela qual temos que passar. Agora, Ele nos chama para aprender d’Ele, para tomar sobre nós o Seu jugo. Esta é a única condição necessária para o nosso desfrute do descanso contínuo da alma. Seu descanso foi perfeito em Seu caminho, em meio a circunstâncias de provação sem igual, porque Sua submissão foi perfeita, e Ele deseja que conheçamos o mesmo descanso perfeito em tudo o que tivermos que passar, provando que Seu jugo é suave e Seu fardo, leve.
A ação da vontade
É a ação da vontade na provação que lhe confere sua amargura; Deus precisa Se opor a qualquer ação dessa vontade em nós, esmagá-la, para nossa bênção. No instante em que aceitamos a parte de Deus ao nos submetermos totalmente a Ele, o aguilhão da provação desaparece. Somos trazidos ao caminho de Cristo, e há o pleno conforto da compaixão d’Aquele que não conhecia vontade própria. Fomos santificados para a obediência de Cristo. Foi o conhecimento do Pai em que Ele primeiro nos introduziu, e o direito que temos de tomar tudo como vindo de Seu coração, que agora torna possível e fácil nos submetermos à Sua mão.
O descanso de Deus que permanece para nós
Mais um caráter do descanso permanece. É o que nos é apresentado em Hebreus 4. Os vários aspectos do descanso que temos observado são para o presente. Este é futuro: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (v. 9). Estamos a caminho dele. Os crentes entram nele (v. 3 – ARA), mas o que lhe confere seu caráter é que é o descanso d’Ele. É o descanso de Deus, e é assim desenvolvido: “aquele que entrou no descanso de Deus, esse também descansou de suas obras, assim como Deus das suas” (v. 10 – AAIB). Não é o descanso em que uma alma entra agora por crer no evangelho. O que resta para o povo de Deus é o descanso no fim da jornada, quando a obra da fé, o trabalho do amor e a paciência da esperança terminam. As obras das quais Deus descansou não eram obras más. Ele viu que eram “muito boas”. Ele descansou quando a Sua obra foi concluída, e o povo de Deus entrará no Seu descanso quando as suas obras forem concluídas. Não são as obras de uma busca vã por estabelecer nossa própria justiça, mas o trabalho, o esforço e a energia da fé que são necessários agora para cada passo no caminho da nossa vocação celestial. Há uma esfera de descanso que Deus tem; é o Seu próprio descanso, onde essas obras não terão mais lugar.
Aqueles que buscaram obrigar o Senhor Jesus a descansar no dia de sábado pouco conheciam o coração de Deus em uma cena em que um homem estava afligido por uma doença por 38 anos (Jo 5). Quando tudo ainda era tão belo quanto Ele o havia feito, “Deus... descansou no sétimo dia de toda a Sua obra, que tinha feito”, mas, quando o pecado entrou trazendo consigo miséria e morte, tudo isso foi rompido. “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” – até que aquela obra maravilhosa fosse consumada, com base na qual poderíamos ser introduzidos, fora de toda a inquietação aqui, no descanso de Deus. O descanso de Deus é um cenário adequado ao Seu próprio coração para a bênção dos Seus, onde nenhum vestígio de pecado ou suas consequências jamais poderá ser encontrado, onde nenhuma lágrima ou sopro de provação jamais virá. O perigo é que nenhum de nós pareça ficar aquém dele, isto é, pensando em encontrar descanso em qualquer lugar que não seja aquele dos conselhos de Deus para nós – o descanso de Deus que nos resta.
O caminho da fé agora precisa ser trilhado, passo a passo, com diligência de coração, através de um mundo cujos princípios se opõem a nós. Quando chegarmos ao descanso de Deus, poderemos relaxar a diligência e deixar o coração se entregar a tudo. Tudo ali será apenas o reflexo de Sua glória e beleza. No descanso de Deus, é para que “descansem de seus trabalhos”, mas agora temos que trabalhar (ou “usar diligência” – JND) para entrar nesse descanso. E temos a Palavra de Deus como nossa guarda mais poderosa e necessária para detectar para nós, como a que discerne os pensamentos e intenções do coração, tudo o que nos faria perder o ritmo em prosseguir por tudo aqui para alcançar a cena abençoada que se abre diante do nosso coração – a brilhante visão de um descanso eterno, o descanso de Deus. Aqui, Deus estará, por assim dizer, no limiar de um novo céu e uma nova Terra, para enxugar todas as lágrimas e todo vestígio da tristeza que veio pelo pecado na velha criação. Mas foi neste mundo arruinado e pela própria ruína que fomos levados a conhecer Aquele que nos revelou o Pai, e onde as provações e os exercícios de nossa jornada por ele produzem frutos tão ricos em bênçãos para nossa alma. Aprendendo, então, com Aquele manso e humilde que trilhou o caminho antes de nós, que possamos nos submeter absolutamente a Ele, até que a cena de Seus caminhos conosco se feche na de Seu descanso e glória para sempre.
J. A. Trench, Truth for Believers, Vol. 1
Descanso do Coração e da Alma
Existem diferentes tipos de descanso mencionados na Palavra de Deus, e é importante reconhecer a diferença entre eles. Em outros artigos desta edição de O Cristão, já consideramos o que pode ser chamado de “descanso de consciência”, que é o descanso obtido quando aceitamos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador. Esse descanso de consciência deve ser o ponto de partida de qualquer descanso na presença de Deus, pois não podemos ter comunhão com Deus a menos que a questão dos nossos pecados tenha sido resolvida. Lemos em Romanos 8:8 que “os que estão na carne não podem agradar a Deus”. Enquanto nossa vida for caracterizada por aquela velha natureza pecaminosa que a Escritura chama de “carne”, não podemos ter um relacionamento com Deus. É por isso que o Senhor Jesus disse: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Ele estava Se referindo ao descanso de consciência, e, como já observamos, isso deve vir em primeiro lugar em qualquer relacionamento com Deus.
O descanso da consciência é muito precioso e nos leva a um maravilhoso relacionamento com Deus, mas Deus não quer que paremos por aí. O Senhor Jesus é um Salvador que nos acompanha até o fim da jornada! Ele não nos salva da pena dos nossos pecados e depois nos deixa tratar com todas as lutas e dificuldades da vida sozinhos. É por isso que o próximo versículo em Mateus 11 diz assim: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11:29).
Onde não há descanso
Antes de discutirmos os detalhes desse “descanso para a nossa alma”, devemos observar onde NÃO encontraremos descanso. O homem natural, e até mesmo alguns de nós, como crentes no Senhor Jesus, podemos pensar que de alguma forma seja possível organizar nossa vida e circunstâncias para que possamos ter descanso neste mundo. Isso é essencialmente o que Caim tentou fazer depois que “saiu Caim de diante da face do SENHOR” (Gn 4:16), tentando se acomodar o mais confortável possível em um mundo que havia sido corrompido pelo pecado. O homem sem Deus tem tentado fazer isso desde então, mas todos os seus esforços resultaram em decepção. Não há nada neste mundo que possa dar descanso duradouro ao coração e à alma do homem. Qual é então a resposta?
O jugo do Senhor Jesus
Antes de tudo, devemos estar prontos para tomar sobre nós o jugo do Senhor Jesus. O que isso significa? Significa que a vida aqui na Terra não será fácil, não apenas porque vivemos em um mundo que foi corrompido pelo pecado, mas também porque estamos seguindo Aquele que foi rejeitado por este mundo – o Senhor Jesus. Quando tomamos sobre nós o Seu jugo, aprendemos a andar com Ele e aprendemos como Ele passou por este mundo. Ele não lutou contra as circunstâncias, mas perseverou. Ele perseverou por dois motivos. Perseverou porque reconheceu a vontade de Seu Pai em tudo; Ele podia dizer constantemente: “assim é, Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mt 11:26 – TB). Mas Ele também perseverou porque pôde dizer: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai” (Mt 11:27). Ele aceitou todas as circunstâncias adversas como vindas de Seu Pai, mas também andou em toda a dignidade de Quem Ele era e do que Lhe foi entregue. Pela graça de Deus, podemos aprender a mesma coisa ao tomar esse jugo sobre nós.
Alguém colocou desta forma: “Jesus tinha suportado o ‘fardo’, Jesus tinha suportado o ‘jugo’ Ele mesmo e, portanto, podia dizer: 'Aprendei de Mim’. Não estou falando sobre o fardo dos nossos pecados; o Senhor Jesus veio também para aprender ‘obediência por aquilo que padeceu’. Jesus foi Aquele que descobriu toda a amargura da rejeição e do desprezo, e ainda assim pôde dizer, ‘assim é, Pai’; portanto, é, ‘aprendei de Mim’”. Aprendemos o maravilhoso descanso que vem ao aceitarmos de Deus tudo em nosso caminho e então levarmos nossas dificuldades a Ele em oração.
Além disso, é o santo que tem plena consciência do que ele é em Cristo e do que Deus fez dele – ele que era apenas um pecador perdido e culpado – que pode se curvar e se humilhar alegremente neste mundo. Isso é o que significa ser “manso e humilde de coração”, pois mansidão não é sinônimo de fraqueza. Não, mansidão é uma humildade voluntária que vem facilmente para aquele que sabe o que ele é em Cristo. Novamente, alguém disse bem: “Um pecador salvo pela graça deve, de fato, ser humilde, mas a humildade que um santo tem por ser um santo e um herdeiro da glória é de um tipo muito mais profundo do que aquele ocasionado pela descoberta do pecado. Nada rebaixará tanto uma alma e a tornará tão disposta a servir a outro no mais humilde dos serviços quanto à consciência de sua posição diante de Deus. Observe o Senhor Jesus Cristo aqui. Ele Se apresenta na possessão consciente de todas as coisas: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai”. E, no entanto, Ele diz: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”. Você consegue juntar as duas coisas? Eu acredito que sim; a alma do santo verdadeiramente instruído discerne a necessária conexão entre elas. O Senhor Jesus, na possessão consciente de todas as coisas, podia permitir-Se humilhar-Se. O que O capacitou a fazer isso, senão Sua real grandeza, porque Deus estava cuidando d’Ele? ‘Aquilo que é verdadeiro n’Ele e em vós’ (ARA). Nada nos capacita a ir lavar os pés dos santos, a nos prostrar para sermos pisados, senão o conhecimento da nossa real grandeza. Podemos então nos permitir sermos humilhados” (Christian Truth, Vol. 7).
Meu fardo é leve
Em Mateus 11:30, nos é dita a notável verdade de que, de fato, “o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve”. Como isso pode ser possível, em meio à rejeição e talvez a provações de todos os tipos? É por causa da companhia em que estamos. A presença do Senhor em nossa vida e nossa comunhão com Ele nos permitem achar esse jugo suave e o fardo leve. Se nos ocuparmos com as dificuldades em si, o jugo pode parecer pesado. É somente na presença de Cristo que o jugo pode se tornar leve.
As dificuldades do caminho foram diferentes em vários momentos da história da Igreja. Alguns foram chamados ao martírio e ainda são chamados dessa forma, mesmo hoje. No entanto, muitos foram para a morte regozijando-se e triunfando sobre seus inimigos dessa maneira. Como isso poderia ser possível, quando em alguns casos significava deixar para trás entes queridos que, em um sentido natural, dependiam deles para sustento? Novamente, era a companhia de Cristo, Aquele que havia sofrido antes deles e foi vitorioso sobre a morte. Sua presença com eles no jugo, o que quer que esse jugo pudesse envolver, permitia que os Seus alcançassem a vitória. Essa mesma vitória pode ser nossa também, mesmo nestes últimos e difíceis dias da história da Igreja, se estivermos dispostos a ser “manso[s] e humilde[s] de coração” e a estar no jugo com Cristo.
W. J. Prost
Descanso Sob as Asas de Deus
Esta história é sobre como uma recompensa plena foi dada a duas mulheres viúvas sem marido, sem filhos e sem herança. Isso aconteceu por causa da boa graça de um homem sob cujas asas elas passaram a confiar. Há muito a aprender observando como elas chegaram a esse triste estado, mas a parte da história com a qual nos preocupamos é como elas venceram. O resultado de bênção recaiu sobre um homem que havia passado por circunstâncias semelhantes em sua criação, tornando-se gracioso e forte. Ao observar a devoção dessas duas mulheres uma à outra, ele percebeu que qualquer misericórdia e bondade demonstradas a elas não seriam menosprezadas ou abusadas. Esse homem chamava-se Boaz, que significa “nele está a força”; ele fez jus ao seu nome. Por meio dele, duas mulheres, Noemi e Rute, obtiveram um lugar de descanso e segurança sob as “asas” do Deus de Israel, além de garantirem o nascimento de um filho que pertence à linhagem real. O nome do filho era Obede; ele foi o pai de Jessé, que gerou Davi.
A terra natal
Nos dias seguintes à perda do marido e dos dois filhos, Noemi hesitou em levar consigo suas duas noras moabitas para sua terra, Belém de Judá. Aparentemente, ela não conseguia ver um futuro para elas em sua terra natal. Noemi buscou meios de persuadi-las a retornarem à terra natal delas. Em seu estado de espírito naquele momento, ela mal sabia como uma delas, Rute, seria o instrumento de uma grande restauração e a ajuda para apaziguar a inquietação delas. Rute recusou todos os pedidos para se separar de Noemi e voltar para a “casa de sua mãe” em Moabe. Rute demonstrou comprometimento com sua sogra e fé no Deus de Israel, apesar do julgamento governamental do Senhor sobre a família que havia deixado sua terra de bênção. Ela ainda trocaria de bom grado seu lugar em Moabe por uma parte com Noemi em Belém de Judá, embora Rute fosse estrangeira em Belém de Judá. Além disso, Noemi não tinha como prover nenhum meio de recuperar a herança de seu marido, que havia sido deixada para trás na época da partida da família de Belém de Judá.
Um marido
Na época de sua partida de Moabe, Noemi passou a abençoar suas noras, dizendo: “O SENHOR vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido” (Rt 1:9). A fé de Noemi não se elevou a ponto de o “descanso” que ela buscava para suas noras poder ser melhor encontrado em Belém de Judá. Sem dúvida, Noemi pensou que Moabe seria um lugar melhor para encontrar um marido. Ter um cônjuge é um fator importante para se estar em descanso. Viver a vida sem um cônjuge não é o ideal. Quando o Senhor nos criou, Ele disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Mas na história da humanidade, depois que o pecado entrou, o descanso não prevaleceu. Deus ainda tem um plano para restaurar o que foi perdido, embora a família de Noemi tenha partido da terra da bênção prometida. Após eles partirem, o Senhor tirou a companhia de seus maridos.
Filhos
Noemi continuou a argumentar com Orfa e Rute, desta vez com base em como elas poderiam ter filhos. Ela não tinha mais filhos para casar, e, se elas a seguissem, ter mais filhos estava fora de questão. Em suas terríveis circunstâncias, ela não via esperança para elas em Israel. Ela se via apenas como uma fonte de muita tristeza para elas. Nesse momento, Orfa a beijou e foi embora, mas Rute se apegou a ela. Sua sogra significava mais para ela do que qualquer outro benefício. Este é um ponto importante. Se Noemi e seu marido Elimeleque tivessem percebido de antemão o valor do que tinham um com o outro como família, provavelmente nunca teriam levado seus filhos para Moabe. No entanto, como às vezes dizemos, a falha do homem é a oportunidade de Deus, ou, para dizer de acordo com a perspectiva de Deus, “conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as Suas obras” (At 15:18). Nenhum dos nossos erros frustra os Seus propósitos.
Quando Noemi chega à sua terra natal com Rute e vê o que ela perdeu, sua tristeza se transforma em amargura. Mas a amargura não leva ao caminho do descanso. Rute, por outro lado, segue outro caminho; começa a trabalhar para conseguir comida. Ela não fica de braços cruzados, lamentando suas circunstâncias. Ela pede permissão à sogra para recolher alimentos nos campos de Belém de Judá. Era a época da colheita da cevada, e havia a opção de recolher as sobras nos campos depois dos ceifeiros. Às vezes chamamos esse alimento de “sobras”, mas, se recebido do Senhor, é o melhor alimento. Além disso, ela estava otimista em relação à possibilidade de recolher no campo de uma pessoa graciosa. O Senhor viu sua situação e a guiou para o campo de uma pessoa muito atenciosa e generosa. Desde o primeiro dia em que ela saiu, isso deu início a um novo capítulo em sua vida.
Casamento
A próxima fase da história de Rute, contada no capítulo 3, fala sobre obter descanso. Até então, Noemi havia recebido de Rute coisas que ela não podia mais prover para si mesma, sem dúvida devido à sua idade. Portanto, Noemi considera o que ela pode prover para Rute. Rute havia recusado a oferta de retornar a Moabe para encontrar um marido. A devoção de Rute e os resultados de seu trabalho nos campos de Boaz iniciaram Noemi em um novo caminho. Deixando suas próprias tristezas para trás, ela zelava pelo bem-estar e descanso de Rute. Sendo ambas viúvas e sem filhos, elaboraram um plano para aconselhar Boaz, um parente próximo, sobre a necessidade de terem uma família. O plano de Noemi foi uma ação ousada para Rute, mas baseava-se em uma provisão especial na lei feita para o caso de alguém morrer sem filhos (Dt 25:5-10). O caso exigia que um dos irmãos do falecido se casasse com sua viúva e gerasse descendência para que a família não perecesse em Israel. Este caso com Noemi e Rute era ainda mais complicado, pois envolvia o casamento com uma mulher moabita para restaurar a linhagem familiar. Boaz estava disposto a fazer isso, sendo ele próprio filho de Raabe, uma estrangeira. Ele cresceu sabendo como era viver nessas circunstâncias e conseguiu ter empatia e amar alguém como Rute, que era estrangeira. Graças à generosidade e ao favor de Boaz, o plano funcionou. A família inquieta encontrou descanso. O livro de Rute termina com a linhagem de Davi.
As complexidades desta história nos dão uma imagem do que deve ser feito para obtermos descanso em suas várias formas. É uma demonstração viva do que o Senhor Jesus fez para poder nos dizer: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11:28-29). Esse descanso que Ele nos dá nos traz de volta a Deus e durará até o dia eterno do descanso – a eternidade.
D. C. Buchanan
Descansando na Palavra
“Está na Palavra”, foi a bendita confissão de alguém que aprendeu a confiar no Salvador e a descansar no que a Palavra de Deus declara a respeito d’Ele e na obra que Ele realizou pelos pecadores. Enfraquecida por uma doença cardíaca, incapaz de beber das correntes do mundo como os outros, essa querida jovem ouviu o alegre som, recebeu as boas novas da salvação e agora tinha certeza absoluta de que estava salva. Por que essa certeza? De onde vem esse descanso de consciência e coração?
Ela difere de você ou de mim? Ela é menos pecadora por estar excluída do mundo ao redor? Não, ela não fez menção à sua própria bondade, seus sentimentos felizes, sua boa educação, suas grandes experiências. O que então a fez ter tanta certeza de sua salvação?
“Bem, aconteça o que acontecer com ela, ela está pronta para os dois mundos”. Voltando-me para a jovem doente, perguntei-lhe se isso era verdade. “Sim”, disse ela imediatamente. Desejando ser bem claro com ela, perguntei: “Então você está realmente salva?” “Sim”, foi sua resposta decidida novamente. Buscando ainda mais conhecer o fundamento de sua confiança, perguntei o que a fazia estar tão certa disso. Com um sorriso radiante, ela olhou para mim e repetiu: “ESTÁ NA PALAVRA”. E assim foi; pois, como uma pecadora perdida, ela havia crido no registro de Deus sobre Seu Filho, de que Ele viera buscar e salvar o que estava perdido. Em outras palavras, ela havia se apropriado do Salvador que a Palavra de Deus revela. A “Palavra fiel” de Deus (1 Tm 1:15) e a obra consumada de Cristo (Jo 19:30) eram a base de sua confiança, e, portanto, ela podia estar bastante feliz com a salvação de sua alma.
Muitos outros têm essa mesma confiança e endossariam a doce e abençoada confissão dessa jovem crente radiante: “Está na Palavra”. Que resposta perfeita a toda a incredulidade do coração humano e às insinuações do diabo! E, se a confiança na Palavra de Deus dá certeza, descanso e paz em vista da eternidade, não desejamos isso também? É comum falar da “incerteza da vida”; mas quão abençoado é ter a autoridade do próprio Deus de que estou “seguro para a eternidade”, como li certa vez em uma lápide no campo.
A Palavra do Senhor permanece para sempre
O apóstolo Pedro (1 Pe 1:24-25), após comparar o homem à erva que seca, prossegue com o glorioso contraste: “Mas a Palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada”.
O próprio Cristo diz: “O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35). Se esta Palavra não for a base da nossa confiança, então ainda estamos no caminho errado e destinados ao juízo. Mas, se cremos na Palavra de Deus, então podemos nos alegrar com as boas novas e nos gloriar na obra que foi realizada e, melhor ainda, n’Aquele que a realizou. Se desafiados pelo homem ou pelo diabo quanto à nossa salvação, que esta seja a nossa simples resposta: “Está na Palavra”. Que lugar de descanso! Aquela Palavra que nunca pode falhar – aquela “Palavra fiel” que é tão verdadeira amanhã quanto hoje e tão certa para a eternidade quanto agora.
T. E. P.
Descanso ao Meio-dia
“Dize-me, ó Tu, a Quem ama a minha alma: Onde apascentas o Teu rebanho, onde o fazes descansar ao meio-dia; pois por que razão seria eu como a que anda errante junto aos rebanhos de Teus companheiros?” (Ct 1:7).
“Descansar ao meio-dia”! Como isso soa convidativo! Para entender este cântico, precisamos nos imaginar em terras orientais. É meio-dia, e os raios do Sol escaldante incidem sobre a Terra ressequida e cansada. Não há como escapar do seu brilho implacável. Mas há Alguém que é hábil em encontrar descanso até mesmo ao meio-dia para o Seu rebanho; Ele é chamado de Aquele “a Quem ama a minha alma”.
Caro Cristão atribulado e ansioso, já chegou o meio-dia para você? Os raios abrasadores da tribulação, da provação, da fraqueza do corpo, ou das esperanças frustradas e de um espírito quebrantado o alcançaram a ponto de você sentir que não aguentava mais? O que você precisa é de DESCANSO.
Há Um, o mesmo a Quem sua alma ama, que pode lhe dar o descanso de que você precisa. Ele O ama profundamente, e foi Ele Quem permitiu a tribulação, a fraqueza do corpo, o espírito quebrantado, para que, sedento e cansado, você pudesse finalmente se voltar para Ele e poder “descansar ao meio-dia”. Mesmo ao meio-dia, há um lugar de perfeita paz. Que descanso é esse! Deitar-se perfeitamente passivo em Suas mãos, sabendo que o amor, o perfeito amor divino que planejou seu caminho, mediu o peso da sua tristeza. Ele está empenhado em realizar os propósitos do Seu amor em você, primeiro para a Sua própria glória, e depois para o seu ganho supremo. No conhecimento desse amor, seu coração pode descansar – “descansar ao meio-dia”.
Conheci um Cristão que estava morrendo. Alguém poderia pensar que ele não suportaria maior pressão e enfraquecimento, mas quanto mais feroz a provação, mais belo era o descanso que ele desfrutava. Não há combinação possível de circunstâncias em que não se possa conhecer esse descanso.
“E será Aquele Homem... como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” (Is 32:2).
“Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28).
A mesma verdade é dita de maneiras diferentes. Em todo o nosso cansaço, conhecemos Aquele que conheceu o cansaço e a sede. Aquele que é “sobre todos, Deus bendito eternamente”, mas verdadeiramente Homem, agora está glorificado, Aquele que socorre Seu povo e é seu Grande Sumo Sacerdote, compadecido das “nossas fraquezas”. Certamente podemos encontrar descanso n’Ele, como sob “a sombra de uma grande rocha em terra sedenta”. Ele faz o convite: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. Todo pecador cansado que se aproxima d’Ele encontrará descanso. Bendito Jesus! Aquele a Quem nossa alma ama é o mesmo que pode dar descanso ao Seu rebanho ao meio-dia. “Descansar ao meio-dia”! Você sabe alguma coisa sobre isso?
Christian Truth, Vol. 37
Trabalho e Descanso
“E os apóstolos ajuntaram-se a Jesus, e contaram-Lhe tudo, tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado. E Ele disse-lhes: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai [descansai – TB] um pouco. Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer. E foram sós num barco para um lugar deserto” (Mc 6:30-32).
Há uma palavra de grande doçura e conforto nesses versículos. Somos apresentados a uma cena de verdadeiro trabalho e labuta. O Senhor havia chamado os doze e os enviado de dois em dois, sem nada para a viagem, exceto um cajado. Eles partiram sem alforje, pão ou dinheiro; eles pregaram, expulsaram demônios, curaram os doentes; foi um tempo de serviço diligente e trabalho incessante, mas um tempo de trabalho árduo que resultou em frutos. Depois disso, encontramos os apóstolos retornando, reunindo-se e relatando ao seu bendito Mestre tudo o que haviam feito e ensinado.
Ele os havia enviado, por assim dizer, de mãos vazias e destituídos de todos os recursos humanos, e agora eles retornaram e estão depositando a Seus benditos pés os tesouros adquiridos, o fruto de seu trabalho e fadiga. Ele, com toda aquela terna graça e bondade que sempre Lhe foram próprias, aceita tudo e, no divino e bendito amor que sempre buscou o bem dos Seus, diz: “Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai [descansai – TB] um pouco”. Notemos bem. Ele não diz: “Ide e descansai”, mas sim: “Vinde e descansai”. Ah! Não é o lugar deserto que poderia proporcionar o descanso; se assim fosse, poderia ter sido “Ide”, mas é Ele mesmo ali – ali onde nenhuma distração pode se intrometer, nenhuma onda de preocupação, nenhum sopro de cuidado pode entrar por um momento sequer. Oh! Quão bendita é a Sua companhia naquele doce retiro, feito assim somente por Ele! Quão bem podemos cantar sobre esse descanso!
“Nenhuma mancha da maldade da natureza,
Nenhum toque da mão rude do homem
Jamais perturbará ao nosso redor
Aquela terra brilhante e feliz;
Os encantos que conquistam nossos sentidos
Serão tão puros, tão belos,
Pois tudo, ao nos envolver suavemente,
Falará de Jesus ali.”
Mas há um outro pensamento precioso aqui. Nosso próprio Mestre e Senhor conhece a armadilha do serviço ativo, mesmo para Ele – o perigo de dar ao trabalho aquele lugar que só a Ele mesmo pertence. Há a tentação para Seu pobre e fraco filho e vaso de se concentrar mais nisso do que n’Ele; por isso, quantas vezes O ouvimos dizer: “Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco”. Nos é dito que “havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer”.
Necessidades avassaladoras
No mundo de hoje, há necessidades avassaladoras por toda parte. Embora reconheçamos plenamente nosso dever claro e distinto para com a Igreja e o mundo, que todos os que amam Seu bendito serviço tenham em mente a lição de nossa passagem, que é claramente esta: a qualidade do nosso trabalho será realmente pobre se não estiver conectado com Cristo, de Cristo, para Cristo. Aqueles que realmente e verdadeiramente trabalham para Ele devem, antes de tudo, ser sustentados e alimentados por Ele mesmo, ao ouvirem Ele dizer de tempos em tempos: “Vinde... e descansai”. E oh! Quão gracioso de Sua parte levar o Seu pobre e cansado trabalhador Consigo mesmo, para um lugar deserto, afastando-o de tudo, exceto de Si mesmo, para que, com a mente imperturbada e o coração não distraído, tudo possa ser revisto com Ele, em descanso e quietude. Pensamentos renovados sobre Ele e Seu amor são então gravados no coração, produzindo vigor e energia renovados para continuar servindo a Ele.
Depois disso, registramos um exemplo encantador da profunda compaixão daquele coração que sempre foi tocado pela angústia e pela necessidade. Nos é dito que alguns do povo “chegaram primeiro do que eles, e aproximavam-se d’Ele”. Oh, como Ele atraiu os cansados e necessitados! Como Ele também os encontrou, ensinou e saciou! Como Ele fez com que o deserto produzisse pão suficiente e ainda sobrasse, e então, tendo concluído tudo em Sua compassiva ternura e bondade, Ele mesmo Se retirou para o monte a fim de orar; Sua comida era fazer a vontade d’Aquele que O enviou e realizar a Sua obra.
Na partida de Jesus para o monte (v. 46), nos é mostrado, em figura, Ele tomando Seu lugar de intercessão lá no alto. Seus discípulos atravessam as águas em um barco, e temos uma mudança em suas circunstâncias, juntamente com dificuldades. É um grande consolo pensar no que é dito aqui: “E vendo que se fatigavam a remar”. Nem as sombras da noite, nem a fervorosa vigília que Ele mantinha em oração no topo do monte, nem o lago açoitado pela tempestade que eles atravessavam poderiam esconder Seus pobres servos dos olhos do Mestre. Então, Aquele que os “viu” veio até eles na parte mais escura da noite, caminhando sobre as águas em suprema majestade, mas em amor, e proferiu tais palavras de conforto: “Tende bom ânimo, sou Eu, não temais”.
“Nas mais escuras sombras, se Ele aparecer,
Minha manhã terá começado.”
Por fim, observe que é dito: “logo falou com eles”. Quão bendito foi o descanso daquela conversa depois de todo o trabalho e fadiga!
Christian Truth, Vol. 3
O Descanso de Deus – O Descanso dos Seus
O coração do homem naturalmente busca descanso, e o busca aqui. Ora, não há descanso a ser encontrado aqui para o santo; ao contrário, está escrito: “Portanto, resta ainda um repouso [descanso – JND] para o povo de Deus” (Hb 4:9). Saber disso é algo ao mesmo tempo repleto de bênçãos e de tristezas: tristeza para a carne, porque ela está sempre buscando seu descanso aqui e sempre terá que se decepcionar. Mas é bênção para o espírito, porque o espírito, sendo nascido de Deus, só pode descansar no próprio descanso de Deus, como é dito: “Se eles entrarem no Meu descanso” (Hb 4:3, 5 – JND). Deus não pode descansar na corrupção do pecado. Ele só pode descansar naquilo que é perfeitamente santo. E porque Aquele que assim descansa é amor e nos ama, Ele nos faz entender que Ele mesmo nos levará ao Seu próprio descanso, ao Seu próprio deleite.
Assim, uma vez que a alma saiba o que é esse descanso de Deus, e que o coração se volte para ele, haverá gozo inefável em entender que o amor de Deus não pode descansar em nada menos do que nos trazer ao Seu próprio deleite. Haverá então também a plena e firme consciência de que não podemos encontrar descanso em nenhum outro lugar. De fato, existem alegrias pelo caminho, mas no momento em que descansamos nelas, elas se tornam, como as codornizes de Israel, em veneno (Nm 11).
Sempre que, na prática, a alma perde o conhecimento de que seu descanso está no descanso de Deus, no momento em que o olhar se desvia daquilo que “resta”, começamos a buscar descanso aqui e, consequentemente, ficamos inquietos, agitados e insatisfeitos. Cada vez que encontramos algo em que tentamos nos fixar, essa mesma coisa se mostra apenas uma nova fonte de problemas e conflitos para nós, uma nova fonte de exercício e cansaço do coração. Deus nos ama demais para nos deixar descansar aqui.
Nosso contentamento
Será que estamos contentes em não ter ou buscar nosso descanso em nenhum outro lugar, a não ser no descanso de Deus?
Qual é o segredo da infelicidade e inquietação de muitos santos? Um anseio por descanso aqui. Deus é, portanto, obrigado a disciplinar e exercitar essa alma – permitir, porventura, que alguma circunstância detecte o real estado do coração, tocando naquilo que concerne à vontade. As circunstâncias não nos perturbariam se não encontrassem em nós algo contrário a Deus; elas passariam como o vento. Deus trata com aquilo em nós que impede a comunhão e nos impede de buscar descanso somente n’Ele. Sua disciplina é o exercício contínuo e incansável do amor, que não descansa agora, para que possamos entrar no Seu descanso. Se Ele destrói nosso descanso aqui, se Ele transforma nossa comida em veneno, é apenas para que Ele possa nos trazer ao Seu próprio descanso, para que possamos ter aquilo que satisfaz Seus desejos, não os nossos. “Ele descansará em Seu amor” (JND).
J. N. Darby
A Promessa de um Descanso
Hebreus 4
É um pensamento animador para o Cristão, em meio à turbulência e confusão da vida, que há uma promessa de “descanso” (um descanso eterno diante dele), que ainda resta um descanso para o povo de Deus! Isso animou o coração e aliviou os passos de Calebe, enquanto ele sofria pela infidelidade de seus irmãos e era obrigado a retornar das fronteiras de seu descanso na Canaã terrenal (Nm 14) para vagar por 40 anos no deserto. Animou seu coração saber que, não importa o que viesse, fossem adversidades e provações pelo caminho, seu descanso seria certo; que Canaã, cujos cachos de uvas temporãs ele havia provado e cuja terra de montes e vales ele havia percorrido por 40 dias (Nm 13), estava diante dele. Ele tinha a garantia de que, quando o trabalho e a labuta no deserto terminassem, ele entraria em seu descanso e desfrutaria o que sua alma ansiava, durante seus 40 anos de peregrinação (Js 14)!
Animou o coração de Paulo, cuja alma se banqueteou por um momento com as delícias de sua Canaã celestial, quando foi arrebatado ao terceiro céu e ouviu “palavras inefáveis” (2 Co 12). Animou seu coração saber que, além dos trabalhos, provações e abnegações de sua jornada no deserto, restava ainda aquele “repouso para o povo de Deus” – um descanso que seria de Deus! E é uma perspectiva animadora para os crentes agora terem esta “promessa de entrar no descanso de Deus” (ARA) diante de si, quando o trabalho, a provação e a fadiga das circunstâncias do deserto terminarem. É uma perspectiva maravilhosa que o próprio Deus tenha deixado de ser “um Trabalhador”, o que o nosso pecado O tornou!
Descanso futuro
Veja que a “promessa... de descanso” que nos é “dada” neste capítulo não é um descanso que já veio e do qual estamos em possessão agora. O crente já possui descanso de consciência agora, por causa da obra consumada de Cristo. Mas aqui o crente é mencionado como alguém que se esforça para alcançar esse descanso em Deus. O crente ainda não entrou nesse descanso; isso ainda permanece algo futuro. Paulo tinha acabado de falar, no capítulo 3, de Jesus como o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão de fé, e o pensamento análogo surge em sua mente a respeito dos filhos de Israel sob a liderança de Moisés e Arão – Moisés, sendo o mensageiro ou apóstolo de Deus e Arão, Seu sumo sacerdote, durante toda a jornada pelo deserto até o descanso em Canaã. Tudo isso é uma figura marcante e impressionante daqueles sob a “vocação celestial”, que professam o nome de Cristo e estão seguindo adiante por uma jornada no deserto neste mundo. Cristo, como um “Filho sobre a Sua própria casa”, desde a cruz, está nos conduzindo ao descanso que resta ao povo de Deus. E temos razão para buscar instrução nessas coisas; elas servem como advertências, motivos e fundamentos para nos exortarmos. “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10:11).
Que cuidado e amor revelam por parte do Senhor essas solenes advertências contra “a incredulidade e o pecado” da natureza e da carne entre nós que professamos o nome de Cristo! Somos avisados para que aquilo que fez com que muitos israelitas caíssem no deserto também não impeça alguém de entrar no reino celestial! Mas observe isto: Ele nunca levanta a menor sombra de dúvida de que o verdadeiro crente finalmente o alcançará. Ele diz: “Nós, porém, que cremos, entramos no descanso” (ARA). É tão certo para o crente como se ele já estivesse lá. Mas Ele impõe isso a todo coração que professa o Seu nome: “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás” (Hb 4:1).
“Pareça que algum de vós fica para trás”
Ora, o que significa, “pareça que algum de vós fica para trás”? Isso é dito para que não nos esqueçamos de que somos redimidos para esse descanso de Deus e para que não nos afundemos nos caminhos do mundo ao nosso redor. Significa nos estabelecermos como se este fosse o nosso mundo, em vez de sermos como “estrangeiros e peregrinos” e não termos “pousada certa”. Esquecer isso é praticamente como olhar para trás, ansiando pelas “panelas de carne” do Egito e esquecendo nossa “vocação celestial”. É abrir a porta do nosso coração para as incursões da “desobediência” e, assim, praticamente nos “apartar do Deus vivo”; é nos colocar no caminho de sermos “endurecidos pelo engano do pecado”. Falo àqueles que têm professado o nome de Cristo; não me dirijo ao seu verdadeiro estado diante de Deus. Mas pergunto: “Há algo em seus caminhos nos quais você nega, na prática, sua vocação celestial?” Nosso lugar é nos apressarmos em avançar por um mundo contaminado que não é o nosso descanso. Acaso você está se apegando aos planos e projetos de amor ao dinheiro, de desenvolvimento próprio e egoístas deste presente século mau? Ou você já ouviu uma voz no íntimo da sua alma dizendo: “Levantai-vos, e ide-vos, porque este não é lugar de descanso; por causa da imundícia que traz destruição, sim, destruição enorme” (Mq 2:10)? Acaso as concupiscências da carne, as concupiscências dos olhos, a soberba da vida e as vaidades do mundo estão enchendo o seu coração, de modo que, em seus caminhos práticos, você “pareça que... fica para trás” da sua profissão de fé? Você ouviu as boas novas de um descanso celestial, como Israel ouviu as boas novas de um descanso terrenal dos lábios dos espias, que enviaram para espiar a terra (Nm 13). A palavra em seus ouvidos tem sido como a que soou nos deles – uma palavra sem proveito, porque não estava “misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hb 4:2)? Ou você está entesourando em seu coração o pensamento deste descanso de Deus e considerando “como escória” todas as coisas que o atrapalhariam no caminho? Quantas vezes o mundo se apega aos caminhos, pensamentos e desejos daqueles que fazem a mais bela profissão de fé, sem oferecer nada tangível para mostrar ao observador que sua cidadania está de fato no céu! Assim, eles parecem como quem “fica para trás”. Quantas vezes o “eu” é retratado, ao invés do nome de Cristo!
Deus ainda trabalha
Mas alguém poderia dizer: “Deus descansou na criação quando terminou Sua obra (Gn 2:2-3); e como é que o ‘descanso de Deus’ parece ser falado aqui como ainda por vir?” (Gn 2:3) Certamente, respondo, Deus descansou de todas as Suas obras que havia criado e feito, mas a Sua criatura, o homem, não entrou no Seu descanso com Ele, nem Ele mesmo o desfrutou por muito tempo. O pecado entrou no Seu descanso e o desfez (Gn 3), e, em vez de descansar onde o pecado estava, Deus tornou-Se novamente um “Trabalhador” para tirá-lo! O homem tornou-se um trabalhador e um árduo trabalhador em um mundo contaminado pelo pecado. Sua sentença foi: “No suor do teu rosto comerás o teu pão”. E sobre o Senhor Deus, lemos: “E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gn 3:19-21). Ou, como o Senhor Jesus expressa em João 5:17: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também”. O Pai (o nome de Deus em graça) tornou-Se um Trabalhador quando o pecado entrou; o Filho foi um Trabalhador, e o Espírito Santo é um Trabalhador, porque Deus não pode descansar onde há pecado.
Resta um descanso para o povo de Deus
Como diz a epístola aos Hebreus, se um homem tivesse entrado nesse descanso, ele não estaria trabalhando – ele teria cessado de suas obras, assim como Deus cessou na criação, naquele momento, de Suas próprias obras. “Esforcemo-nos [ou usemos de toda diligência], pois, por entrar naquele descanso [de Deus], a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (ARA). O crente prossegue laboriosamente pelo deserto com plena consciência da graça na qual está firme. Sua própria posição como crente o constituiu um “trabalhador”. Sua posição como pecador excluía tal pensamento, pois a salvação é para aquele “que não trabalha, mas crê n’Aquele que justifica o ímpio” (Rm 4:5 – AIBB). A obra do Cristão é uma “obra da fé”, e seu trabalho é um “trabalho do amor” (1 Ts 1:3 – AAIB).
O descanso que resta é uma certeza gloriosa, e, com o coração animado e passos jubilosos, o crente segue labutando em sua carreira, com o descanso de Deus em vista. O coração do crente é animado quando descobre que a Palavra detecta tudo aquilo que o impediria ou o faria tropeçar no caminho. Sua confiança também é sustentada pelo Grande Sumo Sacerdote, que já percorreu Ele próprio o caminho, e assim ele finalmente entra no descanso que resta para o povo de Deus!
F. G. Patterson, Words of Truth, Vol. 1 (adaptado)
Descanso Eterno
No alto dos reinos de luz,
Muito acima destes mais baixos céus,
Belas e requintadamente brilhantes,
As mansões celestiais imperecíveis se erguem;
Alegres nestas moradas abençoadas
Moram os santos arrebatados lá em cima,
Onde nenhuma preocupação ansiosa corrói,
Felizes no amor do Emanuel.
Uma vez a grande lágrima involuntária,
Deslizando furtivamente pela face sulcada,
Contava, em eloquência sincera,
Contos de aflição que eles não conseguiam contar.
Mas esses dias de choro acabaram,
Passada esta cena de labuta e dor,
Eles não sentirão mais angústia,
Nunca, nunca mais chorarão!
Em meio ao coro dos céus,
Em meio às liras angelicais acima,
Ouçam! Seus cânticos elevam-se melodiosos,
Cânticos de louvor ao amor de Jesus!
Espíritos felizes! Vocês partiram,
Para onde nenhuma dor pode encontrar entrada,
Embalados para descansar a cabeça dolorida,
Acalmando a angústia da mente.
Tudo é tranquilo e sereno,
Repouso calmo e imperturbável;
Ali nenhuma nuvem pode intervir,
Ali nenhuma tempestade furiosa sopra;
Toda lágrima é enxugada,
Suspiros não mais farão o peito arder,
A noite se perde no dia sem fim,
E a tristeza, no descanso eterno.
Thomas Raffles
Descansamos em Ti
Descansamos em Ti, nosso Escudo e Defensor;
Não avançamos sozinhos contra o inimigo;
Fortes em Tua força, seguros em Tua terna guarda;
Descansamos em Ti e em Teu nome nós vamos.
Sim, em Teu nome, ó Capitão da salvação!
Em Teu querido nome, acima de todos os outros nomes;
Jesus, nossa Justiça, nosso Fundamento seguro,
Nosso Príncipe da glória e nosso Rei do amor.
Vamos com fé, sentindo a nossa grande fraqueza,
E precisando mais a cada dia Tua graça conhecer:
No entanto, de nosso coração, um cântico de triunfo ressoa;
Descansamos em Ti e em Teu nome nós vamos.
Descansamos em Ti, nosso Escudo e Defensor;
Tua é a batalha; Teu será o louvor
Ao reinar no reino do Teu esplendor;
Vitoriosos, descansamos Contigo, por dias sem fim.
E. G. Cherry
“Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”
Mateus 11:28
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