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Laodiceia (Fevereiro de 2010)

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Revista mensal publicada originalmente em janeiro/2010 pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Tema da edição

          W. J. Prost

          H. Smith

          J. N. Darby, selecionado

         J. W. Smith

          W. T. Turpin (adaptado

          Adaptado de The Christian Friend, 1899

          C. H. Mackintosh, adaptado

          Dicionário Bíblico Conciso

          Zinzendorf, Hinário Little Flock – hino 45

 

Laodiceia

 

Apocalipse 3:14-22 

Ao ler os artigos desta edição, fico impressionado com o fato de que, se sou um laodicense, não estou ciente disso e, se você é um, também não perceberá. Imagine ser desgraçado, ou miserável, ou pobre, ou cego, ou nu e não saber disso. Imagine eu sendo todas essas coisas ao mesmo tempo e, no entanto, pensando que sou rico e que tenho um aumento de bens e que de nada preciso. Se eu precisar de colírio para os olhos, que o Senhor, em misericórdia, trabalhe em meu coração para que eu responda quando Ele bater à porta do meu coração.

 

“No entanto, mesmo aqui, diante dessa condição mais deplorável das coisas, a graça infinita e o amor imutável do coração de Cristo brilham em todo o seu brilho invariável. Ele está lá fora; isso diz o que é a Igreja. Mas Ele está batendo, chamando, esperando; isso fala de Quem Ele é. Honra eterna e universal ao Seu nome! ‘Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te’ (Ap 3:19). O ouro, as vestes brancas e o colírio são oferecidos. O amor tem vários encargos a cumprir, vários caracteres dos quais se vestir, mas ainda é o mesmo amor – ‘o mesmo ontem, hoje e eternamente’, embora deva ‘repreender e castigar’. Aqui, Sua atitude e Sua ação falam muito, tanto quanto à Igreja como de Si mesmo”.

 

Tema da edição

 

Laodiceia – Um Diagnóstico e Uma Prescrição

 

O discurso da assembleia em Laodiceia pode, à primeira vista, parecer bastante negativo e até desanimador para quem deseja honrar o Senhor. Será que quando consideramos todas as superlativas bênçãos que Deus deu à Igreja, tudo isso acaba (pelo menos na Terra) no que é descrito em Laodiceia?

 

O diagnóstico 

Devemos encarar o fato solene de que em todas dispensações o homem falhou miseravelmente em qualquer responsabilidade que Deus lhe deu, e que o período da Igreja não foi melhor do que aqueles que o precederam. Podemos até dizer que temos sido muito piores, quando consideramos o grau muito maior de luz e privilégio que nos é oferecido, em comparação com as dispensações passadas. Em vez de ser uma testemunha fiel, a Igreja professa corrompeu a verdade confiada a ela, se aliou ao mundo e, de fato, como testemunho, acabará sendo vomitada da boca de Cristo.

 

Há, no entanto, um incentivo real no que o Senhor diz a Laodiceia, se nos encontrarmos cercados por essa condição das coisas. Antes de tudo, devemos lembrar que as quatro últimas assembleias endereçadas em Apocalipse 2 e 3 continuam até a vinda do Senhor. Todas estão na esfera da Cristandade. Tiatira (que, sem dúvida, representa o catolicismo romano e sistemas similares, como a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Copta) e Sardes (que representa as muitas denominações do chamado protestantismo) existirão quando o Senhor vier. Depois, haverá Laodiceia, que se orgulha de seus próprios pensamentos e julgamento e não percebe sua verdadeira pobreza. Mas também haverá uma Filadélfia até o fim – aqueles que guardam Sua Palavra e não negam Seu nome. Sem dúvida, existem grupos distintos que exibem o caráter da Filadélfia ou de Laodiceia, mas ambos representam um estado de alma e não um sistema definido e identificável, como foi o caso de Tiatira e Sardes.

 

O laodiceianismo é luz e verdade de Filadélfia, mas sem o poder dela em nossa caminhada. Quando Deus, por Sua graça, permitiu um reavivamento da verdade nestes últimos dias, muitos de bom grado se apoderaram dela. Mas andar em um caminho de reprovação, carregar a cruz para Cristo, andar em separação deste mundo – de tudo isso pode-se dizer: “Duro é este discurso” (Jo 6:60). Como resultado, muitas vezes mantivemos a verdade intelectualmente, mas sem o efeito prático dela em nossa vida. Esse é o verdadeiro caráter de Laodiceia e resulta em orgulho humano, um foco em nós mesmos e a adoção do humanismo secular, a filosofia predominante de nossos dias.

 

A prescrição 

Mas Deus dá um remédio para quem quiser ouvir. Antes de tudo, Cristo é apresentado como “o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”. Se o homem falhou o tempo todo, Deus agora apresenta Aquele que é o Cabeça da nova criação. Se o homem corrompeu a primeira criação, Deus acabará por criar novos céus e uma nova Terra, que o homem nunca corromperá. Se ao nosso redor vemos os tristes resultados da infidelidade do homem no Cristianismo, Deus nos aponta para Aquele que nunca falha. Se estivermos dispostos a tomar o remédio de Deus, podemos abrir para o Senhor, que está parado à porta e bate, e desfrutar de uma comunhão abençoada com Ele. Ele não mudou!

 

Estamos dispostos a tomar o remédio de Deus? Sem dúvida, a referência à compra de ouro, vestes brancas e o colírio tem uma voz para aqueles que não são verdadeiros, mas o crente também precisa desse remédio, embora a aplicação possa ser diferente. O incrédulo precisa entender sua verdadeira condição pecaminosa diante de Deus e perceber que ele não pode ter justiça diante de Deus sem o sangue de Cristo. O crente, no entanto, tendo sido infectado pelo orgulho religioso e pelo espírito do mundo ao seu redor, também pode precisar ser trazido de volta à cruz e perceber que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). Não teremos sentimentos de orgulho se ficarmos ao pé da cruz.

 

O incrédulo precisa ter vestes brancas como resultado do perdão de seus pecados, mas o crente pode precisar mudar sua caminhada exterior e suas maneiras, pois lemos em Apocalipse 19:8 (ARA) que “o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos”. Se o verdadeiro filho de Deus já está diante de Deus em toda a perfeição do próprio Cristo, então Deus espera por uma caminhada que corresponda a isso. Infelizmente, isso pode nos faltar hoje, de modo que o mundo não veja diferença entre nós e os incrédulos. Nossas roupas podem ter ficado sujas, de modo que parecemos com os incrédulos ao nosso redor.

 

O colírio nos fala do Espírito Santo. O incrédulo, que não é habitado pelo Espírito Santo, acha impossível ver claramente as questões morais e espirituais. Ele precisa de nova vida em Cristo e no Espírito Santo para capacitá-lo a entender as coisas de Deus. Mas o crente que está andando na carne também encontrará sua visão embaçada e sua percepção espiritual insensível. Ele também precisa julgar seus caminhos, para que o Espírito que habita nele possa mais uma vez ministrar Cristo à Sua alma e capacitá-lo a ver claramente o que agradaria ao Senhor.

 

Seu conselho 

No amor, o Senhor aconselha os Seus a usarem desses remédios, pois Ele não mudou, e deseja sinceramente a comunhão deles. Aquele cujo amor O levou à cruz do Calvário quer a companhia daqueles por quem Ele morreu. Teremos isso com Ele por toda a eternidade, mas quão abençoado é desfrutar dessa comunhão agora, onde Ele ainda é rejeitado!

 

Essa dispensação pode terminar no laodiceianismo, mas todos os recursos que Deus deu no início do período da Igreja ainda são nossos para nos aproveitarmos deles. Se tomarmos o remédio de Deus, Ele é capaz de produzir um caráter de Filadelfia em nós hoje!

 

W. J. Prost

 

A Carta à Laodiceia

 

O Senhor Se apresenta à Laodiceia de uma maneira que condena totalmente a condição da Igreja, e ainda assim oferece o maior encorajamento ao vencedor. Ele é “o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”. Como Amém, Ele é Aquele em Quem todas as promessas de Deus foram assumidas e asseguradas em todos os seus aspectos, para levar a cabo todo bem e derrotar todo mal, e eternamente glorificar a Deus ao fazer isso. Como Testemunha fiel, Ele sempre foi leal Àquele que O enviou. Ele amou o Pai e veio fazer a vontade do Pai. Qualquer que seja o custo para Ele, Ele nunca Se desviou dessa vontade e nunca Se recusou a executá-la. Ele é o Princípio da criação de Deus, que, em toda a sua vasta extensão, será marcada pela vontade de Deus.

 

Na perfeição de Seu caminho como o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus, Ele eclipsou todos os outros. Ele era mais justo que os filhos dos homens. E, contudo, infelizmente, Aquele que deveria estar exclusivamente diante da Igreja como o Incomparável é Aquele que é excluído pela Igreja dos laodicenses e tratado com insensível indiferença. A Igreja foi preparada para brilhar para Cristo, testemunhar a graça de Deus e exibir as qualidades da nova criação. Infelizmente falhou em todas as suas responsabilidades. Ela deveria ter brilhado para Cristo, em um mundo sombrio, apontando para Ele como Aquele em Quem todas as promessas de Deus têm seu pleno cumprimento – que Ele é o “Sim” e o “Amém”, e que toda bênção que Deus tem para o homem é encontrado n’Ele. Então, de fato, a Igreja foi estabelecida no mundo para ser uma testemunha fiel e verdadeira da graça de Deus. Infelizmente, longe de ser testemunha da graça, no último estágio de sua história a grande massa é estranha à graça e até se opõe a Deus.

 

Por fim, a Igreja deveria ter sido as “primícias das Suas criaturas”, exibindo os frutos da nova criação – “caridade [amor], gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Tg 1:18; Gl 5:22, 6:15). Quão poucos são esses frutos da nova criação encontrados no círculo Cristão professante! A Cristandade não é marcada por ódio, miséria e guerra, em vez de amor, gozo e paz? Infelizmente não é verdade que nada na face de toda a Terra se opõe diametralmente a Deus como Cristandade não convertida?

 

Assim, aprendemos, da maneira que Cristo Se apresenta à Igreja de Laodiceia, a maneira pela qual a Igreja deveria ter representado Cristo diante do mundo.

 

Indiferença a Cristo 

Tão absolutamente a Igreja falhou em seu testemunho de Cristo que, no último estágio, o Senhor não pode encontrar nada para elogiar. Tudo o que Ele encontra é um estado que causa uma completa náusea para Ele. Ele diz: “Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente”. O Senhor vê uma condição que não tem nem a frieza da morte, como em Sardes, nem o calor da devoção, como em Filadélfia. Há aquilo que, aos Seus olhos, é mais desesperador para o homem e mais desonroso para Ele do que a frieza da morte, pois o Senhor pode dizer: “Tomara que foras frio ou quente!”. Ele resume essa condição, em sua última fase, nas solenes palavras: “Assim, porque és morno”. O que é isso senão a indiferença a Cristo e o que está sempre ligado à indiferença, a não ser a tolerância do mal? Na última fase da Cristandade, existem aqueles que tomam o nome de Cristo e fazem uma profissão de Cristianismo, mas quando testados pela grande pergunta: “O que pensais de Cristo?” são totalmente indiferentes a Ele.

 

Eles estarão profundamente interessados no aperfeiçoamento do homem, na elevação das massas, na melhoria das condições sociais; mas as boas novas a respeito de Cristo, os interesses de Cristo e o povo de Cristo despertam dentro deles, apenas um interesse apático, e para Cristo mesmo, eles são totalmente indiferentes. Enquanto as pessoas forem sinceras, caridosas e respeitáveis, os laodicenses não se importam com o que acreditam a respeito de Cristo. Sua Divindade pode ser negada e Sua Humanidade perfeita difamada; Laodiceia é bastante indiferente. A expiação pode ser deixada de lado, as palavras inspiradas de Cristo negadas, a vinda de Cristo ser feito um motivo de escárnio, e, no entanto, tudo é da maior indiferença ao laodicense “de mente aberta”, descontraído e morno.

 

Tal condição é absolutamente nauseante para Cristo. O Senhor expressa sua aversão alertando esta Igreja que o fim será sua completa rejeição como Igreja. Ele diz: “Vomitar-te-ei da Minha boca”.

 

Satisfação própria 

Há, no entanto, uma condenação adicional, pois, ligada à indiferença a Cristo, existe a mais arrogante suposição e satisfação própria. Laodiceia diz: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”. Embora indiferente a Cristo, a Igreja de Laodiceia está cheia de si mesma e de suas reivindicações. A Igreja que foi deixada aqui para testemunhar por Cristo caiu a tal profundidade que não apenas deixa de testemunhar por Cristo, mas começa a testemunhar de si mesma. A Igreja deixa de falar de Cristo e fala sobre a Igreja. A assembleia é exaltada e Cristo é menosprezado. A assembleia procura atrair para si mesma e não para Cristo. Usurpa o lugar de Cristo, alegando ser o vaso de riquezas e graça. Cristo está fora, e ainda assim pode dizer: “Eu... de nada tenho falta”.

 

Essa é então a condição da Igreja de Laodiceia, indiferente a Cristo, ocupada e satisfeita consigo mesma, e ainda assim totalmente ignorante de sua verdadeira condição perante o Senhor. “Eu sei”, o Senhor pode dizer, mas “você não sabe”. Segundo a estimativa deles, os laodicenses não precisavam de nada; aos olhos do Senhor, eles precisavam de tudo, pois Ele tem que dizer: “não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”.

 

“De Mim compres” 

Tendo exposto sua terrível condição, o Senhor os aconselha. Ele diz: “Aconselho-te que de Mim compres” – palavras que mostram a necessidade deles de Cristo e que não há bênção fora de Cristo. Eles devem vir a Cristo para obterem as riquezas verdadeiras. Que graça é essa que convida, não apenas os pecadores confessos, mas esses professos ocupados e satisfeitos consigo mesmos a virem a Ele! Será que isto não demonstra de forma bendita a atitude de graça que Cristo ainda mantém em relação à profissão de fé que está sem Cristo? Eles professam ter riquezas, então o Senhor, tomando-os em seu próprio terreno, os convida a vir e comprar. O único custo será o abandono de sua justiça própria, pois, afinal, as bênçãos positivas que o Senhor deve dispensar são sem dinheiro e sem preço.

 

Eles são convidados a comprar “ouro provado no fogo”, que fala da justiça divina assegurada pelo julgamento da cruz; “vestes brancas”, que fala da justiça prática, que, se vestida, cobrirá a vergonha de sua nudez. A falta de justiça prática diante dos homens era uma prova solene da falta de justiça divina diante de Deus. “Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7:15-20). Além disso, eles precisam de colírio para que os olhos pudessem ver, que fala da unção do Espírito que nos permite ver nossa necessidade de Cristo, bem como a perfeição de Sua Pessoa e obra para satisfazer nossa necessidade e nos suprir com verdadeira riqueza e adequação à glória de Deus.

 

A repreensão do amor 

O Senhor, no entanto, não se contenta em falar com a consciência desses laodicenses mornos. Ele procurará alcançar o coração de qualquer verdadeiro crente que ainda possa ser encontrado em Laodiceia. Ele diz “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te”. A Igreja há muito deixou o primeiro amor, mas o Senhor nunca deixou Seu primeiro amor pela Igreja. Ele não pode mais falar do amor deles, mas ainda pode falar de Seu amor. Não é, no entanto, o amor à complacência, mas um amor que deve agir em repreensão.

 

Batendo à porta 

Além disso, o Senhor permanece em graça à porta deles. Ele fala à consciência; Ele apela ao coração; Ele está à porta; Ele bate à porta. Existe o chamado ao arrependimento, mas não há expectativa de que a massa se arrependa, pois esse último apelo é apenas para o indivíduo. “Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele Comigo”.

 

Esse é o último estágio da história da Igreja na Terra. Aquilo que foi estabelecido para dar testemunho de Cristo na Terra se torna testemunho de sua própria miséria e fecha Cristo do lado de fora de sua porta. Será que não vemos na condição de Laodiceia, o resultado completo do primeiro desvio em Éfeso? O começo de todo declínio foi deixar o primeiro amor por Cristo; o final é total indiferença a Cristo em uma Igreja que está bem contente em ter Cristo do lado de fora de sua porta. O último estágio da Cristandade, que com calma indiferença fecha a porta a Cristo, parece quase pior em sua insensibilidade do que o último estágio do Judaísmo que, em sua hostilidade, pregou Cristo em uma cruz.

 

Assim como Cristo Se demorou diante do Judaísmo corrupto com lágrimas, assim Ele aguarda do lado de fora da porta da Cristandade com infinita paciência, se acaso houver “algum homem” na profissão Cristã que lhe abra a porta. Para a massa, não há esperança; está prestes a ser vomitada de Sua boca, mas até que esse ato solene de rejeição final aconteça, existe esse convite amoroso feito ao indivíduo que ouvir a voz de Cristo. Se alguém cuja consciência foi alcançada pela exposição da condição da Cristandade pelo Senhor, que foi despertada por Suas advertências, que ouviu Seus conselhos e foi tocado por Seu amor, deixe que apenas abra a porta e, mesmo neste último estágio, Cristo entrará para ele e ceará com ele, e ele ceará com Cristo. O que é isso senão a doce comunhão do primeiro amor? Será que isso não prova que, no último estágio da história da Igreja na Terra, quando o julgamento está prestes a cair sobre a grande massa da profissão, é possível que o indivíduo seja trazido de volta ao primeiro amor? O Senhor não fala de alguma recuperação do testemunho público para Si mesmo, mas de comunhão secreta Consigo mesmo.

 

Ao vencedor 

Ao vencedor há a promessa de assentar-se com Cristo em Seu trono, assim como Cristo também Se assentou com o Pai em Seu trono. Aquele que vencer a indiferença de Laodiceia e abrir a porta para Cristo, no dia em que a grande massa fechar a porta sobre Cristo, desfrutará, não apenas da comunhão secreta com Cristo, no dia de Sua rejeição, mas será associado com Cristo em manifestação no dia de Sua glória. Cristo venceu um mundo que rejeitou o Pai e Se assentou no trono de Seu Pai; quem vencer um mundo que rejeitou a Cristo se assentará com Cristo em Seu trono.

 

A carta termina com o apelo àquele que tem ouvido que ouve. É bom que prestemos atenção ao que o Espírito diz à Igreja de Laodiceia, pois não estabelece uma condição que possa se desenvolver mesmo entre os de Filadelfia? Mas, pela graça de Deus, a própria luz e privilégios dados podem levar à autocomplacência própria de Laodiceia. Que tenhamos a graça necessária para ouvir o que o Espírito tem a dizer às Igrejas.

 

H. Smith

 

A Carta à Laodiceia

 

“E ao anjo da Igreja que está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”. O caráter de Cristo dado aqui é notável. Encontramos uma nova revelação especial de Si mesmo, de acordo com as circunstâncias da igreja endereçada. Não são os mesmos traços de Seu caráter como aqueles da visão de João; uma nova revelação de Cristo é feita para a necessidade da Igreja. Quando o que leva o nome da Igreja de Deus for vomitado, serão necessários uma dupla medida e um caráter peculiar de graça para sustentar os fiéis no caminho estreito e muitas vezes solitário em que serão chamados a andar.

 

O Senhor aqui vai julgar a Igreja professa, que toma o lugar da Igreja de Deus, como o testemunho de Deus no mundo. Se a Igreja como um vaso de testemunho de Deus é deixada de lado pelo Senhor em desgosto, então o Senhor apresenta a Si como “o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira”, não tanto na dignidade de Sua Pessoa, como é mostrado no capítulo 1, mas como Aquele que tomará o lugar daquilo que havia falhado inteiramente como testemunho de Deus na Terra.

 

A igreja professa ainda não está totalmente amadurecida na condição final de Laodiceia; se estivesse, não adiantaria avisá-la. Deus está segurando as rédeas e ainda não permite que o mal seja tão completamente desenvolvido. Tudo começou em Éfeso, no momento em que a Igreja se afastou de seu primeiro amor, mas não o achamos desenvolvido até o estado de Laodiceia. Lembremo-nos de que é a igreja professa que será assim vomitada, e não a Igreja do Deus vivo, o corpo e a noiva de Cristo.

 

“O Amém” 

No momento em que Laodiceia é vomitada, Deus termina com a Igreja como testemunho. Então, Cristo a substitui como a “Testemunha fiel e verdadeira” de Deus. Cristo é o Grande Amém de todas as promessas de Deus; a Igreja deveria ter mostrado como todas as promessas de Deus são em Cristo Jesus o Sim; e por Ele o Amém, mas ela falhou em colocar o seu Amém nas promessas de Deus.

 

Amém significa “firme veracidade e verdade” – ver Isaías 7:9. “Se o não crerdes, certamente, não ficareis firmes”, isto é, “se não crerem [ou amém, porque é a mesma palavra – אָמַן], não ficareis firmes [ou amém]. O significado é que, se você não confirmar Minhas promessas, você não será confirmado. Certamente, não há um pensamento da possibilidade de Deus falhar em Seus propósitos em Cristo, e, portanto, a Igreja, o corpo de Cristo, estará em glória com sua Cabeça, mas se for uma questão de testemunho na Terra, então, verdadeiramente, a Igreja não colocou seus améns de maneira prática nas promessas de Deus em Cristo. A Igreja foi chamada para manifestar o poder de seu chamado celestial na Terra, mas em sua conduta não correspondeu àquilo que Deus afirmou. Portanto, Cristo Se apresenta imediatamente como a Pessoa que selará todas as promessas e profecias, Aquele que coloca o Grande Amém em tudo como “a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”. Como se costuma dizer, “a corrupção da melhor coisa é a pior das corrupções”; então não há nada na Terra tão diametralmente oposto a Deus, como o Cristianismo professo.

 

“O Princípio da criação de Deus” 

Cristo aparece aqui como a bendita Testemunha de que Deus ainda estabelecerá a criação de acordo com Sua própria vontade, sendo o próprio Cristo o Principal e o Centro de tudo – veja Provérbios 8. Nesse caráter, Cristo substitui a Igreja na manifestação dos propósitos e promessas de Deus, que não podem falhar. Se a Igreja tiver irrevogavelmente desaparecido, Cristo como testemunha permanece, e isso será o suporte dos fiéis. É aqui que a fé é sustentada; aqui está um terreno sólido que nada pode tocar, a força sobre a qual a alma pode permanecer, pois o suporte de toda alma é confiar n’Ele.

 

É realmente muito assustador pensar na apostasia ostentando um caráter religioso como ela faz! Quão cedo o espírito dela se manifestou! Quão cedo houve motivo para dizer que “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus”! Que o Senhor graciosamente abra os olhos de Seus santos para ver o verdadeiro caráter desses últimos dias! Embora Ele tenha tido muita paciência enquanto recolhe almas para a salvação, Seu julgamento, embora postergado, não muda. O único remédio para o mau presente é o julgamento.

 

Pretensão às riquezas espirituais 

Desde o início, vemos os princípios de corrupção entrando. O joio foi semeado e o mistério da iniquidade estava operando. Como resultado, descobrimos que há dois pontos de importância especial ao caracterizar esta Igreja de Laodiceia – grande pretensão de riquezas espirituais em si mesma, e nem quentes nem frias em relação a Cristo. Não é um ódio declarado a Cristo, mas não é um zelo declarado por Cristo. É a Igreja que segue em mundanismo e, ao mesmo tempo, faz grandes pretensões de riquezas espirituais, que é um indubitável sinal de pobreza. E por quê? Porque essas riquezas só podem ser encontradas em Cristo. Quando a Igreja se orgulha de riquezas em si mesma, ela não coloca seu “amém” nas promessas de Deus em Cristo Jesus, nem é a testemunha verdadeira e fiel de Deus, pois no momento em que estou olhando para a igreja e não para Cristo, estou olhando para ELA em vez de para ELE, por mais que eu finja honrá-Lo.

 

Em Filadélfia, eles tinham pouca força, e o Senhor poderia dizer que eles haviam guardado Sua Palavra e não haviam negado Seu nome. Enquanto havia pobreza sentida na Igreja, Cristo Se deleitava neles. Mas quando há a pretensão de riqueza em si mesma, há uma expressão de verdadeiro nojo: “vomitar-te-ei da Minha boca”. A Igreja de Laodiceia, tendo o pensamento de plenitude e riqueza dentro de si mesma, era perfeitamente ignorante de seu estado diante de Deus. Portanto, diz o Senhor: “Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3:18).

 

A igreja não estava buscando essas coisas no Senhor e, portanto, carecia de cada uma delas. O ouro é a justiça divina – aquilo que caracteriza a posição e o fundamento dos santos. “As vestes brancas” são as obras dos santos, que decorrem da possessão da justiça divina. Os que estavam em Laodiceia careciam até da justiça dos santos, pois, estando sem a justiça divina, não podiam ter justiça prática, espiritual, nem obras santas, pois “o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Ap 19:8 – ARA).

 

Eles também estavam em falta de “colírio”, pois eram cegos quanto às coisas de Deus e não tinham discernimento espiritual em nada. Assim, não tendo a justiça divina nem os frutos consequentes do Espírito, e ainda permanecendo na cegueira da natureza, Laodiceia carecia de tudo.

 

O Senhor fora 

Havia abundância de pretensão, mas o Senhor ainda não desiste de todo o tratamento com eles. Aqui em Laodiceia, o Senhor assume um caráter exterior, pois quando a igreja nominal praticamente entra em uma posição Judaica, o Senhor Se posiciona do lado de fora e chama individualmente as almas que estão dentro: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz”. O Senhor deseja ganhar atenção; Ele quer ser acolhido. Ele adverte a Igreja do julgamento certo, mas até que esse julgamento seja executado, Ele continua necessariamente no exercício de Sua própria graça abençoada. Mas seus objetivos são individuais, pois a Igreja é abandonada. “Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, Comigo”; ele terá sua porção à Minha mesa.

 

A promessa 

“Ao que vencer, lhe concederei que se assente Comigo no Meu trono”. Aparentemente, essa é uma grande promessa, mas para mim parece a menor, pois é meramente um lugar na glória celestial. Não lhes é dito nada sobre uma associação especial com Cristo, como encontramos na promessa a Pérgamo, ou mesmo aos fiéis em Sardes ou em Tiatira, nem qualquer pensamento de proximidade individual, exclusivamente da parte da noiva, revelado como motivo. Reinar com Cristo é meramente uma demonstração pública de recompensa e glória, o que é muito diferente da intimidade secreta do “maná oculto” e da “pedra branca”. A batida na porta foi ouvida e pela graça obedecida, e eles subiram para a glória celestial. Eles venceram e, portanto, certamente devem receber sua recompensa: “se assente Comigo no Meu trono”. Mas não há a mesma intimidade, não há o mesmo deleite especial, não há a alegria que Filadélfia tem de ver Cristo tendo a Igreja por causa do que isso é para ela, e de ver a Igreja tendo Cristo por causa do que isso é para Ele. Ainda assim, eles obtêm seu lugar na glória.

 

A igreja professa é vomitada 

O solene testemunho do Senhor é que a igreja professa será vomitada da Sua boca, e isso deve causar mais tristeza em nosso coração do que o julgamento do mundo, tendo um caráter muito mais terrível para o coração do que o julgamento do próprio anticristo. É algo que repugna a Cristo – que é nauseante para Ele – por ela ter tido uma espécie de conexão exterior Consigo mesmo. A igreja professa no dia em que vivemos, comumente chamada Cristandade, carrega o nome de Cristo, mas O nega com suas obras. A igreja professa pode agora ser o orgulho e a jactância do homem, mas no final será vomitada da boca de Cristo. Ela tem toda a pretensão, mas nada que dê a Cristo o Seu valor, mas atribui todo o valor a si mesma, creditando-se com isso.

 

Que o Senhor nos guarde na condição de Filadélfia – pode ser com pouca força – mas ainda assim guardando a palavra de Sua paciência e no gozo sensível de uma perfeita associação com Ele mesmo, que colocou diante de nós uma porta aberta e a manterá aberta até que Ele venha e nos leve para Si mesmo.

 

 J. N. Darby, selecionado

 

Colírio

 

O que é colírio?  É uma transliteração da palavra grega κολλούριον – kollourion.

 

É difícil imaginar uma perda maior em todo o reino da natureza do que a da visão. Uma pessoa cega não pode mais olhar cenas familiares ou rostos queridos e amados; ela está na escuridão perpétua. O apurado órgão, que desempenhou um papel tão proeminente em sua vida e porção, agora é inútil e ela é necessariamente dependente da mão orientadora e bondosa de outra pessoa.

 

Cegueira espiritual 

Agora, grande parte da Cristandade perdeu sua visão espiritual. Tornou-se cega! Nem sempre foi assim. Nem sempre seus ouvidos foram “negligentes para ouvir”, nem espiritualmente insensíveis, mas, infelizmente, quando, como sistema, ela é exteriormente triunfante e pode se orgulhar de aprendizado, riqueza e posição mundana, Aquele que anda entre os sete castiçais de ouro diz a Laodiceia, “e não sabes que és... cego”! Solene acusação! E, assim como vemos em Éfeso, a Igreja em sua primeira e mais bela fase, também encontramos em Laodiceia sua condição final; enquanto nas histórias intermediárias de Apocalipse 2-3, vemos seus variados estágios de declínio espiritual, aliviados, reconhecidamente, por um remanescente brilhante nos dias sombrios de Esmirna, e uma expressão ainda mais brilhante e completa em Filadélfia. Mas a tendência, a profunda corrente, está sempre em queda. A falha fatal ocorreu em Éfeso, ao deixar seu primeiro amor. Nada poderia ser mais sério do que isso. Trabalho e resistência, mesmo sendo pelo nome do Senhor, não podiam compensar a perda do primeiro amor.

 

O resultado lento, mas certo, de tal perda é encontrado no absoluto descuido de Laodiceia em relação a Cristo. Sua verdade, Sua graça, Seus interesses são todos cruelmente ignorados, enquanto o humanismo ocupa seu lugar.

 

Quão triste, portanto, relatar e quão humilhante sentir, como deveríamos, a desonra e a tristeza trazidas ao nosso bendito Senhor, enquanto diariamente aprendemos o verdadeiro caráter dessa fase final de Laodiceia! No entanto, os corações que O amam não podem deixar de sentir e lamentar a terrível corrupção da melhor coisa que já foi comunicada ao homem. Tais corações têm verdadeiramente o caráter de Filadelfia e não param de bater até que o Senhor venha.

 

Dois fatos demonstram o caráter absoluto da ruína: Primeiro, Laodiceia diz: “de nada tenho falta” e, segundo, como consequência, Cristo diz: “Eis que estou à porta e bato”. Onde não há necessidade sentida, não pode haver lugar para o Senhor. A graça pode bater para sempre enquanto a autossuficiência reina por dentro.

 

A necessidade de nada é o orgulho do dia, e o que Laodiceia menos deseja é a santa presença e operação do Senhor.

 

Colírio para os olhos 

“De Mim compres”, diz o Senhor, “e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3:18). Sim, Aquele que a acusou de ser cega pede que comprem d’Ele colírio para os olhos, para que o olho cego possa ser ungido e a percepção espiritual adquirida. Também eram necessários ouro e vestes brancas, e cada um devia ser comprado. A compra pode ser cara. Certamente haveria o humilde reconhecimento da pobreza e da nudez, além da cegueira, mas esse era o Seu conselho.

 

O que é esse colírio? Como as escamas pode ser removidas dos olhos? Como a percepção espiritual deve ser adquirida?

 

Clara visão espiritual 

A primeira parte do pagamento é confessar nossa necessidade, nossa queda, nossa miséria, e admitir que o mundo e o orgulho obscureceram e embaçaram os olhos até que, como Isaque antigamente, confundimos homem com homem e erro com verdade.

 

E podemos esperar que até essa primeira parte do preço seja paga por Laodiceia? Penso que não. Há muito tempo aquela paciente e tenra mão bate à sua porta firmemente fechada; por muito tempo ela disse: “Não preciso de Ti”; por muito tempo a abundância a encheu e o orgulho cegou seus olhos para nos fazer esperar deste sistema decaído qualquer humilhação geral. Mas Aquele que bate tão pacientemente apela, finalmente, individualmente e acrescenta generosamente: “Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, Comigo”.

 

“Em sua casa”. Exceção encantadora! Àquele que ouvir e abrir, essa graça será dada! Aquilo que a massa orgulhosa perderá, a alma humilde desfrutará.

 

Para esse tal, esse colírio é vendido – esse precioso e celestial colírio para os olhos que produz clareza de visão espiritual e uma abençoada apreciação de Cristo como rejeitado e fora de Sua própria casa, mas tão imutável como sempre em Seu amor e graça indizivelmente pacientes.

 

A verdadeira percepção de Cristo, Quem Ele é, onde Ele está de fato e moralmente, e o que Ele é em santidade e amor, é o mais alto e mais sublime privilégio do Cristão neste dia de corrupção e dificuldade eclesiástica. Mas essa percepção precisa ser comprada; certamente custará algo.

 

J. W. Smith

 

Irrealidade de Laodiceia

 

Ao escrever para os coríntios, Paulo usa a expressão “dia do homem” (1 Co 4:3 – JND), e estamos vivendo um dia em que os homens e seus princípios se manifestam claramente como tais. Como resultado, muitos são espiritualmente incapazes de detectar onde os direitos de Cristo ou os princípios da verdade estão sendo violados. Surgiu um caráter de Cristianismo professo que encontra sua expressão apropriada no título “humano”. Separação passou a significar tolerância; unidade do Espírito agora significa coalizão; separação do mundo agora significa o quanto você pode manter dele; aquilo que a Escritura designa como cobiça agora significa ser prudente.

 

Não há nada nessa atitude que ofenda a consciência; não é uma negação da verdade. Pelo contrário, a verdade é reconhecida, exceto onde o reconhecimento dela interfira com o mundo ao qual muitos se apegam firmemente! O grande objetivo de Satanás é apresentar na mesma pessoa ou grupo um reconhecimento da verdade com uma certa credulidade e, ao mesmo tempo, apresentar uma negação prática dela. Desse modo, ele adultera especialmente a verdade, porque é exibida por aqueles em cuja consciência a verdade não tem poder. Isso é igualmente verdadeiro em relação à posição em que a verdade conduz a alma: Isso é alardeado de modo que tanto a verdade quanto a posição eclesiástica conveniente a ela sejam ambas aceitas. Aqui reside a maior armadilha da mornidão! Que a verdade possa ser aceita sem qualquer resposta divina às suas reivindicações é pior do que se fosse abertamente recusada, porque no último caso, poderia-se supor que efeitos se seguiriam. Mas a outra situação apresenta a flagrante inconsistência de a verdade ser aceita e seu poder prático negado; este é o pântano moral em que Satanás fará a Igreja cair, tão repulsiva à Cristo. Esse fermento está agindo rapidamente e encontra sua expressão mais adequada nos princípios e maneiras adotados e defendidos abertamente por todos os lados. Não há nada que se ajuste tão bem ao diabo como os santos mantendo uma posição sem haver um efeito prático, enquanto o mundanismo aberto e a permissividade se infiltrem sem contestação, sob o traje de uma posição divina. Em 2 Timóteo 3:5, o apóstolo pelo Espírito descreve o estado como “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”.

 

Que solene! Que o Senhor nos mantenha muito próximos e fiéis a Ele! Onde esse princípio não é detectado, a névoa de Laodiceia cega os olhos. O fermento está permeando a Igreja rapidamente. O homem foi reconhecido ao invés de ser ignorado, abordado por meio de seu intelecto ou sentidos, recebendo um lugar, plantando assim as sementes que amadurecem no final. O estado de indiferença característica é testado por Aquele que é “a Testemunha fiel e verdadeira”. Que o Senhor, em misericórdia, no meio deste mal crescente, preserve para Si alguns dos quais se possa dizer: “Então aqueles que temeram ao SENHOR falaram frequentemente um ao outro” (Ml 3:16 – ACF).

 

W. T. Turpin (adaptado)

 

Um Perigo Presente

 

Um dos dispositivos mais bem-sucedidos de Satanás é juntar pessoas (até mesmo Cristãos) com o objetivo de atacar um mal manifesto enquanto ele se esforça para fortalecer e estabelecer uma iniquidade mais sutil e perigosa. Isso tem sido frequentemente testemunhado na história da Igreja, como, por exemplo, quando o inimigo persuadiu os homens a defender a verdade de Deus recorrendo à espada ou pedindo ajuda dos poderes civis por meio da perseguição. O próprio Senhor advertiu Seus discípulos que chegaria o momento em que os que os matassem pensariam que estavam fazendo o serviço a Deus. Dessa maneira, Satanás frequentemente realiza seus próprios desígnios por meio do zelo equivocado dos filhos de Deus. Mais de cem anos atrás, muitas forças antagônicas se uniram contra o ritualismo e, em particular, contra o catolicismo romano. O triste espetáculo foi apresentado por políticos, Cristãos nominais e reais, unidos contra o que eles consideravam um inimigo comum. Mais recentemente, vimos a derrubada de muito mais tradições humanas, supostamente em nome da busca da verdade.

 

Em guerra contra o ritualismo 

Não podemos subestimar o mal do ritualismo e da tradição humana. Por um longo período, eles ajudaram a apagar a pura luz do evangelho da graça de Deus. No entanto, um perigo tão grande, se não maior, está oculto na controvérsia que está agora sendo travada. Esse perigo é o racionalismo, ou humanismo secular, que na sua verdadeira essência é a infidelidade. Assim, há nas fileiras dos agressores sobre o ritualismo muitos que negam a inspiração da Escritura, que são insanos quanto à Pessoa de Cristo e que não aceitam a apresentação bíblica da expiação. Quando o ritualismo é varrido, é apenas para dar mais espaço àquela infidelidade racionalista que está corrompendo os canais da vida espiritual em todos os sentidos pela literatura do dia.

 

Racionalismo 

Pode ser útil considerar brevemente o que a Escritura tem a dizer sobre o racionalismo. Em Colossenses 2, Paulo nos adverte contra três inimigos do Cristianismo, racionalismo, ritualismo e superstição, e pode-se observar que ele coloca o racionalismo em primeiro lugar. Estas são as suas palavras: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. O que então se entende por filosofia e vã sutileza? É a aplicação da mente humana, poderes humanos de raciocínio, à Escritura e às coisas divinas, e a expressão da competência do homem para julgar a Palavra de Deus e o que essa Palavra revela. Isso é feito, e o direito de fazê-lo é reivindicado por todos os lados. O efeito sobre as almas é que elas não sabem em que acreditar e, consequentemente, caem muito no estado de Pilatos, conforme consubstanciado na pergunta que ele dirigiu ao Senhor: “O que é verdade?” O mal está espalhado por toda parte, e está se espalhando cada vez mais amplamente. Ele penetrou despercebido em muitos círculos familiares piedosos e encheu a mente de muitos jovens de dúvidas e questionamentos, se não de infidelidade.

 

Adaptado de The Christian Friend, 1899

 

O Remanescente – Passado e Presente

 

Quanto a Laodiceia, nada pode ser mais impressionante do que o contraste entre ela e Filadélfia. Temos aqui a última fase do corpo Cristão professo. Ele está prestes a ser vomitado como algo insuportável que causa náusea para Cristo. Não é uma questão de imoralidade grosseira. Laodiceia pode, aos olhos do homem, apresentar uma aparência muito respeitável, mas para o coração de Cristo sua condição é mais repulsiva. É caracterizada por mornidão e indiferença. Ele diz: “Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara [Desejaria] que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3:15-16).

 

A atitude para com Cristo 

Quão solene é encontrar a Igreja professa em tal condição! E pensar em quanto tempo passamos das atrações da Filadélfia – tão gratificantes para o coração de Cristo, tão reconfortantes para Seu espírito – para a devastadora atmosfera de Laodiceia, onde não há um único recurso redentor! Temos uma cruel indiferença quanto a Cristo e Seus interesses, combinada com a mais deplorável congratulação própria. “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3:17-18).

 

Quão solene é tudo isso! Pessoas se vangloriando de suas riquezas e de não terem necessidade de nada, e Cristo do lado de fora. Eles perderam o senso de justiça divina, simbolizada por “ouro” e justiça humana prática, simbolizada por “vestes brancas”, e ainda estão cheios de si mesmos e de seus atos – o contrário do querido grupo de Filadelfia. Lá, Ele não reprova nada; aqui, Ele não elogia nada. Lá, Cristo é tudo; aqui, Ele está realmente do lado de fora, e a Igreja é tudo. É extremamente aterrorizante contemplar isso. Estamos chegando ao fim. Chegamos à última e solene fase da Igreja como testemunha de Deus na Terra.

 

Atitude de Cristo 

No entanto, mesmo aqui, diante dessa condição mais deplorável das coisas, a graça infinita e o amor imutável do coração de Cristo brilham em todo o seu brilho invariável. Ele está lá fora; isso diz o que a Igreja é. Mas Ele está batendo, chamando, esperando; isso fala o que Ele é. Honra eterna e universal ao Seu nome! “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3:19). O ouro, as vestes brancas e o colírio são oferecidos. O amor tem vários encargos a cumprir, vários caracteres dos quais se vestir, mas ainda é o mesmo amor – “o mesmo ontem, hoje e eternamente”, embora deva ‘repreender e castigar’. Aqui, Sua atitude e Sua ação falam muito, tanto quanto à Igreja como de Si mesmo. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, Comigo” (Ap 3:20).

 

Aqui não é para o pecador exterior, mas para a Igreja professa, o Senhor faz esse apelo mais solene e pesado. Não é Cristo batendo à porta do coração do pecador (por mais verdadeiro que seja isso também), mas à porta daqueles na Igreja professa.

 

O indivíduo 

Na Igreja de Sardes, o remanescente é mencionado como “algumas pessoas”; em Laodiceia, existe um “se alguém”. Mas, mesmo que haja um único ouvido que ouça, se houver alguém para abrir a porta, esse alguém será assegurado de elevado privilégio, o imenso favor de cear com Cristo – de ter aquele Precioso como hóspede e anfitrião: “Eu... com ele, e ele Comigo”. Quando o testemunho corporativo atinge o ponto mais baixo, a fidelidade individual é recompensada com uma íntima comunhão com o coração de Cristo. Tal é o amor infinito e eterno de nosso amado Salvador e Senhor!

 

C. H. Mackintosh, adaptado

 

A Igreja de Laodiceia

 

Esta igreja é caracterizada, não por algum mal identificado, seja de doutrina ou prática, mas pelo orgulho de suas aquisições e pela autossuficiência, acompanhada de indiferença a Cristo. Embora se gabasse de ser rica e de nada precisar, era desgraçada, miserável, pobre, cega e nua. O homem em sua satisfação própria é a característica principal, e Cristo não é apreciado. Representa a arrogância do racionalismo e da alta crítica nos últimos dias da Igreja na Terra: Cristo está do lado de fora, mas ainda apelando, batendo para ser admitido no coração individual.

 

Concise Bible Dictionary

 

Nossa Justiça

 

Jesus, o Senhor, nossa justiça!

Tu és nossa beleza, nossa veste gloriosa!

Ante o trono, assim revestidos,

Com regozijo levantaremos a cabeça.

 

Ousados estaremos naquele grande dia,

Pois quem poderá nos acusar de algo,

Se pelo Teu sangue somos absolvidos

Do pecado e da culpa, da vergonha e do medo?

 

Assim Abraão, o amigo de Deus,

Assim todos os santos redimidos com sangue,

Proclamam-Te, Salvador dos pecadores,

E toda a sua ostentação está em Teu nome.

 

Esta túnica imaculada permanece a mesma

Nos anos sem fim da nova criação;

Nenhuma era pode mudar seu esplendor;

A túnica de Cristo é sempre nova.

 

Até que Te contemplemos em Teu trono,

Em Ti nos gloriamos, em Ti somente;

Nossa beleza é esta, nossa veste gloriosa:

Jesus, o Senhor, nossa justiça.

 

Zinzendorf, Hinário Little Flock – hino 45

 

 “Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas”

Apocalipse 3:18

 


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