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Foto do escritorJ. G. Bellett (1795-1864)

Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus: Os Céus Abertos - Parte 3/3

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ÍNDICE


 

Meditações Sobre a Epístola aos Hebreus

Os Céus Abertos

John Gifford Bellett

 

Hebreus 11


Chegamos a Hebreus 11. Acho que observamos que Hebreus 10:35 é um elo de ligação entre os dois grandes pensamentos da epístola – que o Cristianismo coloca você dentro do véu e fora do arraial – isto é, desfaz a obra de Satanás, que afastou você de Deus e fez para você moradia em um mundo corrompido. A religião do Senhor Jesus vem justamente para desestabilizar a obra de Satanás. Nada pode ser mais bonito do que o contraste que, assim, se mostra entre a serpente e o Esmagador da serpente.

 

O “grande e avultado galardão” mostra-se na vida de fé sobre a qual vamos ler agora. Somos chamados, como diz John Bunyan, a “agir como adulto”.

 

Se estivermos felizes por dentro, estaremos lutando por fora. Hebreus 11 mostra os eleitos de todas as eras “agindo como adultos” no poder deste princípio de confiança.

 

“Não rejeiteis, pois, a vossa confiança”, pois isso mostra que há “grande e avultado galardão”. A fé é um princípio que apreende duas coisas diferentes de Deus. Ela O vê como um Justificador dos ímpios, como em Romanos 4, mas aqui ela apreende Deus como o “Galardoador dos que O buscam”. No momento em que apreendemos Deus por uma fé sem obras, entramos em uma fé que obra. E embora valorizemos corretamente uma fé que salva nossa alma, não sejamos indiferentes a uma fé que serve ao nosso Salvador. Quão corajosamente às vezes afirmamos nosso título, mas será que valorizamos nossa herança? É uma coisa pobre e miserável se vangloriar em nosso título, e ainda assim mostrar que o coração está pouco tocado pela esperança da herança. Da mesma forma, se eu me vanglorio de uma fé justificadora, é uma coisa pobre ser indiferente à fé que temos aqui em Hebreus 11. “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11:1 – ARA).

 

Então você é informado de que ela foi a força de todos os dignos dos tempos antigos, que por meio dela “alcançaram testemunho”. É outra prova de que, como dissemos, tudo nesta epístola é para colocar de lado a lei. Se considero a lei como o poder secreto da minha alma para fazer qualquer coisa para Deus, não estou fazendo isso para Deus, mas para mim mesmo. A lei pode me castigar e me açoitar e me convidar a produzir um título para a vida. Mas isso seria servir a mim mesmo. A fé deixa a lei de lado. Então, tendo estabelecido fé como um princípio de se trabalhar, o apóstolo começa a revelar as diferentes fases dela desde o início. Creio que o versículo 3 pode ser uma referência a Adão. Se Adão foi um adorador no jardim, era pela fé. Ele pode ter observado todas as maravilhas que o cercavam e apreendido o grande Artífice.

 

Agora, dizem alguns, que ainda podem adorar a Deus na natureza, mas quando deixamos a inocência, também deixamos a criação como um templo, e não podemos voltar para lá. A natureza era um templo para Adão, mas se eu me volto a ela, eu me volto a Caim. Aqui chegamos a Abel e à revelação. Somos pecadores, e a revelação, que revela a redenção, deve edificar um templo para nós. Você deve tomar o seu lugar como adorador no templo que Deus, em Cristo, edificou para você.

 

Então chegamos a Enoque. A vida de Enoque era um tipo comum de vida, mas ele a viveu com Deus.

 

Em Gênesis é dito que ele andou com Deus, e aqui nos é dito que ele agradou a Deus. Como o apóstolo diz em 1 Tessalonicenses 4: “recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus”. Andar com Deus é agradá-Lo. Pode algo ser mais bem-vindo para nós do que o pensamento de que podemos agradar a Deus? Não havia nada na vida de Enoque para um registro na história; mas qualquer que seja nossa condição de vida, nossa ocupação é vivê-la andando com Deus. É bonito, portanto, ver uma vida sem nada notável precedendo uma vida de grandes eventos. Você pode ouvir alguns dizerem: “Sou alguém pobre e despercebido, em comparação com alguns que se destacaram no serviço ao Senhor”. “Bem”, eu responderia: “você é um Enoque”.

 

Agora, a de Noé foi uma vida muito distinta. A fé se apoderou do aviso. Ela não espera o dia da glória ou o dia do juízo para ver glória ou julgamento. A fé no profeta não pedia que seus olhos se abrissem. Aqui, por cento e vinte anos, a fé parecia ser uma tolice. Noé estava construindo um navio para terra seca; e provavelmente foi o escárnio de seus vizinhos; mas viu o que era invisível. Que repreensão para nós! Supondo que você e eu vivêssemos sob a autoridade da glória vindoura, que tolos iríamos parecer!

 

Mas eu não deveria ter passado sobre a palavra que tomei para o meu texto. Ele é “Galardoador dos que O buscam”. Mais uma vez, ousadamente digo: você não teria essa definição de fé em Romanos 4, “Galardoador dos que O buscam”! “Ora, que linguagem legalista!” alguns diriam se lessem isso em um livro qualquer. Ah! Mas como é bonita em seu lugar. A fé de um santo é uma coisa intensamente trabalhada. Deus será devedor de algum homem? Não, Ele pagará aos que semeiam abundantemente.

 

A vida de Abraão é a próxima; e um quadro dos variados exercícios de fé. Havia uma magnificência em sua fé – uma qualidade vitoriosa – uma bela apreensão – todas essas qualidades de fé aparecem na vida de Abraão. Ele partiu com os olhos vendados, mas o Deus da glória o guiou pela mão. Então ele foi para a terra, mas a ele não foi dado nem um palmo dela. Ele teve que ter a paciência de fé, mas tudo o que saía dos lábios de Deus era bem-vindo a Abraão. Abraão andou toda a sua vida no poder da lembrança do que tinha visto sob a mão do Deus da glória.

 

Agora, suponha que eu lhes diga que a visão de Estêvão foi dada a cada um de vocês. Você não precisa esperar ter a mesma visão que Estevão teve, mas, você a viu por meio dele. Os homens podem levar você à fogueira, mas você pode dizer: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus”. Se você e eu formos pessoas simples e de coração sincero, seguiremos em frente como Abraão fez quando viu o Deus da glória.

 

Então, a fé de Sara era outro tipo de fé. Precisamos ver Deus como o Vivificador dos mortos. Noé apreendia Deus dessa forma. Os israelitas, sob a verga manchada de sangue, O receberam no mesmo caráter. A morte estava lá, e ligada a todas as casas da terra, mas os israelitas conheciam a Deus como o Vivificador dos mortos. Isso foi o que Noé, Abraão, Sara, apreenderam de Deus. Se eu fizer de Deus menos do que o Vivificador dos mortos, eu me torno mais do que um pecador morto. É como o Vivificador dos mortos que eu preciso encontrá-Lo.

 

O versículo 13 é belo. A primeira coisa a fazer com uma promessa é apreendê-la – depois exercer fé sobre ela – e depois recebê-la com o coração. Eles as “abraçaram”. O coração deles as abraçou. Até que ponto meu coração abraçou as promessas? Cada um conhece a sua própria “magreza”. Mas certamente, quanto mais de perto as abraçarmos, mais abençoadamente consentiremos em ser estrangeiros e peregrinos neste mundo. Esta é uma imagem maravilhosa de um coração levado à fé. Eles se consideraram estrangeiros por terem deixado a Mesopotâmia? Não, mas porque não haviam chegado ao céu. Eles poderiam ter encontrado o caminho de volta. Abraão poderia ter dito isso a Eliézer, mas isso não mudaria a condição dele de estrangeiro.

 

Supondo que houvesse uma mudança em suas circunstâncias, isso mudaria sua condição de estrangeiro? Não se você estiver entre o povo de Deus. Voltar à Mesopotâmia não removeria sua condição de estrangeiro. Nada poderia mudar, terminar ou remover essa condição, a não ser a herança. Eles seguiram em direção ao céu; e Deus não Se envergonhou de ser chamado o Deus deles.

 

Em Hebreus 2, lemos que Cristo não Se envergonha de nos chamar irmãos. Assim, lemos que Deus não Se vergonhava de chamar esses estrangeiros de Seu povo. Por que Cristo “não se envergonha de chamá-los de irmãos”? Porque eles estão unidos em um propósito divino e eterno com Ele. Uma família abrange os eleitos e Cristo. Como Ele poderia ter vergonha de tal povo? E se vocês se afastaram do mundo, Deus não Se envergonha de vocês. Pois o próprio Deus rompeu com este mundo, e Ele não poderia Se envergonhar de vocês porque vocês são uma só mente com Ele. Portanto, quando eles disseram que eram estrangeiros, Deus chamou a Si mesmo de Deus deles. Nosso coração é terrivelmente repreendido aqui. Quanta coisa resta no nosso coração de enraizada aliança e amizade com o mundo!

 

Então vemos Abraão sob outra luz.

 

Toda esperança de Abraão dependia de Isaque. Entregar Isaque parecia não apenas um fracasso no mundo, mas um fracasso diante de Deus. Ele poderia ter dito: “Será que é para eu ser um fracasso diante de Deus e de Mesopotâmia?” Poderia ter havido um distanciamento maior no princípio da crença. Você já temeu que Deus levasse você ao fracasso perante Ele? Será que Ele já Se afastou para nunca mais voltar?

 

Bem, Abraão recebeu Isaque de volta em figura, selado como um novo testemunho da ressurreição. Alguma vez perdemos alguma coisa por confiar cegamente em Deus? Se alguma vez alguém confiou n'Ele desse modo, esse foi Abraão.

 

Depois de passar por ele, chegamos a Isaque. Isaque mostrou sua fé ao abençoar Esaú e Jacó sobre as coisas que estavam por vir. Essa é a pequena e única parte da vida dele que o Espírito observa. Se observarmos sua vida, descobriremos que esse é o trabalho mais importante nela. Esse ato brilha aos olhos de Deus.

 

Jacó é mais notável, assim como Noé tinha sido mais notável do que Enoque. A vida de Jacó foi cheia de acontecimentos, mas a única coisa que temos aqui é: “pela fé, Jacó... abençoou cada um dos filhos de José”. Isso é de uma beleza extraordinária. E mostra quantas coisas sem valor pode haver na vida Cristã. Não acredito que a vida de Jacó tenha sido uma exibição de um servo de Deus. Foi uma exibição de um santo que se desviou, e cuja vida inteira foi dedicada em se recuperar, e não temos esse ato de fé até que chegamos ao final dela, quanto ele “abençoou cada um dos filhos de José”. Lá ele entrou em contato com coisas invisíveis, e coisas que superam a corrente da natureza. Sua vida foi a de um homem que estava se recuperando, e bem no final ele fez este belo serviço de fé a Deus diante dos ressentimentos de seu próprio coração e do apelo de seu filho José.

 

A vida de José foi encantadora – uma vida de fé desde o início. José era um homem santo durante todo o tempo, mas justamente no final houve um magnífico brilho de fé. Ele tinha a mão sobre os tesouros do Egito e o pé sobre o trono do Egito; no entanto, em meio a tudo isso, ele falou a seus irmãos a respeito de sua morte. Isso era ver coisas invisíveis. Essa foi a única coisa que o Espírito sinalizou como um ato de fé. Por que ele falou dessa forma? É como se Ele tivesse dito a seus irmãos: “Ah! Não ando por vista. Eu sei o que está por vir, e eu lhes digo, vocês vão sair desta terra, e quando isso acontecer, me leve com vocês”.

 

O curso geral de sua vida foi irrepreensível, mas encontramos em suas palavras, quando ele estava partindo, a mais sublime expressão de fé. E é isso que você e eu queremos. Queremos ser justos apenas? Você precisa ser justo, mas isso constituirá uma vida de fé? Você precisa procurar ficar sob o poder das coisas que se esperam – coisas invisíveis – a expectativa da volta do Senhor, e até que faça isso com alguma energia, você pode ser irrepreensível, mas não está andando naquela vida de fé pela qual “os antigos obtiveram bom testemunho” (ARA). Assim, até agora vemos a fé como um princípio operante. Não a fé do pecador, que é uma fé que não opera. No momento em que a fé que não opera me fez santo, devo assumir a fé operante e viver no poder dela.

 

Mas temos que prosseguir. Não esqueceremos o que sugerimos – de que todo este capítulo de Hebreus 11 depende e é a ilustração de Hebreus 10:35. Quanto mais forte for nossa fé, mais nossa alma está na posse de energia poderosa e moral. Este capítulo mostra como esse princípio de fé ganhou força. Não o leiam como se fossem os louvores de Noé, Abraão, Moisés e outros. Eles são os louvores da fé como demonstrada em Noé, Abraão, Moisés e outros. Que coisa simples e abençoada é o Cristianismo! Fico admirado quando vejo como o diabo cometeu um duplo mal ao nos colocar fora do véu e dentro do arraial, e como Cristo operou o correspondente duplo remédio – fora do arraial e dentro do véu. Será que me regozijo com o pensamento de que ganhei a Deus com a perda do mundo? Isso é o Cristianismo.

 

“Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso”. Qual é o significado disso? Significa que, quando ele nasceu, havia uma expressão em seu semblante que a fé percebeu. “Formoso para Deus” é a palavra. Havia nele uma certa beleza que despertou a fé de Anrão e Joquebede, e eles a obedeceram. Não havia uma beleza na face de Estevão, enquanto morria? Não deveriam seus homicidas ter sido obedientes a ela? Estes se levantam em contraste moral com os pais de Moisés. Sob o dedo de Deus eles viram o propósito de Deus e esconderam a criança.

 

Agora, em Moisés vemos um belo poder de fé. Ela obteve uma vitória tripla – três vitórias esplêndidas e as próprias vitórias para as quais você é chamado.

 

Primeiro, sua fé obteve a vitória sobre o mundo. Ele era um enjeitado, resgatado do Nilo e adotado como filho da filha do Faraó. Isso era degradação pessoal traduzida em magnificência adotiva. O que ele fez com isso? Ele “recusou ser chamado filho da filha de Faraó”. Que vitória sobre o mundo foi essa! Gostamos daquelas coisas que colocam a honra do mundo sobre nós. Moisés não iria aceitar isso, e tenho certeza de que a fé está no mesmo campo de batalha e é desafiada a obter a mesma vitória até hoje.

 

Em seguida, vemos Moisés obtendo vitória em meio às provações e sobressaltos da vida. “Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei”. Que coisa terrível a vida de fé é para a natureza! Você tem uma vitória hoje – deve lutar novamente amanhã. “Para que possamos resistir... e, havendo feito tudo, ficar firmes”. Aqui a pressão da vida estava vindo sobre Moisés depois que as atrações da vida obtiveram dele a resposta.

 

Então, em terceiro lugar, Moisés teve uma resposta para as reivindicações de Deus. É magnífico ver uma alma apoiada no poder de uma fé como essa. “Pela fé, celebrou a Páscoa”. O anjo destruidor estava atravessando a terra, mas o sangue estava na verga da porta. Desde o início, a graça proveu ao pecador uma resposta às reivindicações de Deus; e é o simples papel da fé reivindicar essa resposta. Deus providenciou o sangue e a fé o usou. Cristo é a provisão de Deus. Ele é a grande ordenança de Deus para a salvação, e a fé percorre junto com Ele desde a cruz até a esfera de glória.

 

Então, “pela fé, passaram o Mar Vermelho” – “pela fé, caíram os muros de Jericó” – “pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos”. E o que mais diremos? Falta tempo – não podemos contar a história. É a história que anima toda a Escritura. A história da graça e da fé – graça da parte de Deus e fé da nossa parte – anima todo o livro de Deus. Nunca somos chamados para fora do arraial até que estejamos dentro do véu.

 

Os primeiros capítulos desta epístola mostram ao pecador seu direito a um lar na presença de Deus; e então você deve sair desse lar e deixar o mundo saber que você é um estranho para ele. Essa é a estrutura desta bela epístola. Ela nos diz qual é o nosso título para estar na presença de Deus antes de revelar o chamado que nos é atribuído. Antes que Abraão fosse chamado para uma terra que ele não conhecia, o “Deus da glória” apareceu a ele. Alguma vez Ele enviou um homem à guerra às suas próprias custas? Alguma vez Ele já o enviou para lutar com o mundo antes de você estar em paz com Ele? Tudo está a meu favor a partir do momento em que me volto para Deus. Eu sou chamado por Deus para tudo aquilo que é para mim. Cheguei “ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial”, e assim por diante. Isso é Hebreus 12. Antes mesmo de Davi ser caçado como uma perdiz, ele tinha o azeite da unção de Deus sobre ele.

 

Devemos nos deter um pouco nos dois versículos finais. Eles são versículos de muito peso, preciosos e cheios de significado. Esses antigos obtiveram um bom testemunho, mas com o bom testemunho, não obtiveram a promessa. Isso me lembra o profeta Malaquias. “E há um memorial escrito diante d'Ele, para os que temem ao SENHOR, e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o SENHOR dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro”. Eles ainda não são constituídos Seu tesouro, mas Ele tem seus nomes em Seu livro, e Ele os compensará e os exibirá como Suas joias em breve. E assim será com esses anciãos. Por que eles ainda não obtiveram a promessa? Porque deveríamos entrar primeiro nos ricos ornamentos desta dispensação do evangelho, ou tudo o que eles tinham em sua pobre dispensação nunca teria sido de proveito para eles.

 

Encontramos a palavra “melhor” constantemente ocorrendo nesta epístola. “Um melhor testamento” (ARA) – “um melhor concerto” – “alguma coisa melhor a nosso respeito” – “que fala melhor do que a [aliança] de Abel”. E também encontramos a palavra “perfeito” em uso constante, porque agora tudo está aperfeiçoado. Todas as coisas que dão repouso a Deus são aperfeiçoadas, como já dissemos, e Deus não está procurando nenhuma satisfação além da qual Cristo Lhe dá. Ele tem Sua demanda atendida – Sua glória vindicada – Seu caráter revelado – e tudo em Cristo.

 

Agora, o que é essa “coisa melhor” no último versículo? Se não tivéssemos introduzido nosso Cristo, por assim dizer, nada teria sido feito. Deus, tendo introduzido Cristo nesta dispensação, todos os santos antigos que dependiam dela são aperfeiçoados. Pois, à luz disso, olhamos para esta epístola (como faremos agora breve e rapidamente) como um tratado sobre a perfeição. Assim, em Hebreus 2, lemos que convinha à glória de Deus nos dar um Salvador perfeito; não apenas minha necessidade, mas a glória de Deus exigiu isso – “Porque convinha que Aquele” – em consideração à Sua própria glória. Convinha a Ele dar ao pecador um Autor para iniciar a salvação e um Consumador para encerrá-la. A diferença entre um Autor e um Consumador é a mesma diferença entre Moisés e Josué. Moisés foi o autor da salvação quando resgatou os pobres cativos no Egito; Josué foi o consumador da salvação quando os carregou por meio do Jordão até a terra prometida. Cristo é Aquele que nos carrega por meio do Mar Vermelho assim como do Jordão – Aquele que fez a obra de iniciativa de Moisés e a obra consumadora de Josué.

 

Então, em Hebreus 5, lemos: “tendo sido aperfeiçoado, tornou-Se o Autor da salvação eterna” (ARA). Não a perfeição moral – todos sabemos que Ele era moralmente imaculado – mas a perfeição como “o Autor da salvação”. Ele nunca teria sido aperfeiçoado assim se não tivesse ido à morte, mas como convinha a Deus nos dar um Salvador perfeito, também convinha a Cristo fazer-Se a Si mesmo um Salvador perfeito. Então, em Hebreus 6: “Prossigamos até a perfeição [avancemos para aquilo que pertence ao crescimento completo – JND], diz o apóstolo, isto é, “vamos aprender nossa lição sobre este assunto”. Alguns leem isso como se fossem continuar até que não tenham mais pecado em si mesmos. Isso não tem nada a ver com o que esta sendo dito. É como se o apóstolo dissesse: “Vou ler um tratado sobre perfeição, e vocês devem vir e aprender sobre ele comigo”.

 

Então ele continua com o assunto, e em Hebreus 7 Ele diz, você não pode encontrar essa perfeição na lei – “pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou”. Você precisa procurar em outro lugar. Pela lei aqui não se entende os dez mandamentos, mas as ordenanças levíticas. No meio desses rudimentos fracos, você deve procurar a perfeição em outro lugar. Hebreus 9 mostra, então, que ela está em Cristo, e diz que no momento em que a fé toca o sangue, a consciência é purificada, e Hebreus 10 diz que no momento em que Cristo o toca, você é aperfeiçoado para sempre. Não em relação à pureza moral na carne – não existe tal coisa aqui.

 

No momento em que Cristo toca o apostolado, Ele o aperfeiçoa. No momento em que Ele toca o sacerdócio, Ele o aperfeiçoa. No momento em que Cristo toca o altar, Ele o aperfeiçoa. No momento em que Ele toca o trono, Ele o aperfeiçoa. E se Ele aperfeiçoa essas coisas, Ele aperfeiçoará você, pobre pecador, quanto à sua consciência. Portanto, esta epístola é, sob uma grande luz, um tratado sobre a perfeição. Deus lhe deu um Salvador perfeito – Cristo Se fez a Si mesmo um Salvador perfeito. Vamos adiante para a perfeição. Se eu a buscar na lei, estou num mundo de sombras. Quando vou a Cristo, estou no meio da perfeição. “E lá estou eu, pobre verme”, como diz Gambold.

 

Portanto, aqueles santos da antiguidade não poderiam obter a herança até que nós chegássemos carregados com todas as glórias desta dispensação. Mas então, eles poderão compartilhar a herança conosco, quando se completar o tempo.

 

Que glórias brilham nesta epístola! Que glórias enchem os céus, porque Cristo está lá! Que glórias se ligam a nós porque Cristo nos tocou! Não é glória ter uma consciência purificada – entrar no Santo dos Santos com ousadia – para dizer a Satanás: “Quem é você, para apontar o dedo para o tesouro de Deus?” Nos arrastamos e engatinhamos quando deveríamos estar entrando no meio dessas glórias e encorajando nosso coração.

 

Hebreus 12


Agora leremos Hebreus 12. Temos analisado a doutrina da epístola. Estamos agora eminentemente na parte prática, no entanto, a bem-aventurança da doutrina também brilha. Em primeiro lugar, eu diria somente que temos olhado para os vários caracteres com os quais o Senhor entrou no céu. Agora, aqui no versículo 1, O temos no céu em outro caráter. Não é Ele possuidor de muitas coroas? Você não colocaria uma coroa real – uma coroa sacerdotal – em Sua cabeça? Você poderia colocar coroas demais nela? Que variedade de glórias enche os olhos quando olhamos para Cristo no céu à luz desta magnífica epístola!

 

Agora, entre outros caracteres, O vemos lá como Aquele que aperfeiçoou uma vida de fé na Terra – “o Autor e Consumador da fé”. O conselho de Deus está ocupado em coroar Jesus. É o deleite do conselho de Deus coroá-Lo – é o deleite do Espírito de Deus exibi-Lo como coroado – e é o deleite da fé vê-Lo coroado. Deus, o Espírito e a fé do pobre pecador crente se reúnem em torno d'Ele, seja para coroá-Lo ou para se deleitar em vê-Lo coroado.

 

Agora o vemos reconhecido no céu como Aquele que aperfeiçoou a vida de fé. Ele passou por ela, até a perfeição, desde a manjedoura até a cruz e é assim aceito nos mais altos céus. Isso, é claro, O colocou em conflito com o homem. “Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo”. Isso está maravilhosamente impregnado com o pensamento de que Ele estava “separado dos pecadores”. Você não ousaria usar essa linguagem para si mesmo. É um estilo muito elevado para qualquer um, exceto para o Filho de Deus. Algo assim foi dito sobre Abraão ou Moisés? Não, o Espírito não teria falado assim de um deles. Então, quando você coloca o Senhor Jesus no meio do sofrimento e das lágrimas da vida em companhia dos mártires, você O vê, como em todas as outras coisas, assumindo a preeminência.

 

É tão natural o Espírito glorificar Cristo! Se Ele está olhando para Cristo em Seu ofício, como na primeira parte desta epístola, o Espírito facilmente O vê com muitas, muitas coroas sobre Ele. Ou, olhando para Ele aqui, é fácil para o Espírito colocar esta coroa de beleza peculiar em Sua cabeça. Ele que “suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo”. Essa é uma descrição que seu coração o condenaria se a tomasse para si mesmo, ainda que você fosse levado para uma fogueira.

 

A cruz, em um aspecto, era o martírio. Jesus foi tanto um Mártir nas mãos do homem quanto uma Vítima nas mãos de Deus. É como um Mártir que O vemos aqui – e, como tal, somos colocados em companhia d'Ele “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado”. Você não tem nenhum inimigo mais terrível contra o qual lutar do que o seu próprio coração. Foi o pecado nos fariseus – pecado na multidão – pecado nos principais sacerdotes – que levou o Senhor Jesus à cruz. Mas Ele nunca teve em Si mesmo um ínfimo pecado contra o qual lutar. Foi o pecado dos outros.

 

O apóstolo então prossegue, e nos coloca como alguém sofrendo castigo em companhia do Pai. Aqui deixamos a companhia de Cristo. Pois Ele nunca esteve sob o castigo do Pai. No momento em que fico sob o açoite e a correção do Pai, eu saio da companhia de Cristo. Estou intimamente em Sua companhia ao percorrer uma senda de martírio. Não dou um passo em Sua companhia quando estou sob o castigo do Pai.

 

Portanto, do versículo 5 em diante, você está em companhia de seu Pai celestial. Ah! Esses toques santos e divinos – que sabem quando introduzir Cristo e quando deixá-Lo desaparecer! Como, ou em que forma de excelência, exibi-Lo, e como deixá-Lo fora da nossa vista! Há uma glória, uma plenitude, no próprio modo como a tarefa do Espírito é executada. O Senhor caminhou pela vida suportando a contradição dos pecadores. Eu caminho por ela lutando contra o pecado. Então estou em companhia do Pai que corrige – tudo resultando em uma participação abençoada em Sua santidade, mas Cristo não está lá comigo. Se toda a sagacidade dos intelectos fosse reunida, poderia isso dar a eles esses toques divinos que brilham no livro de Deus?

 

No versículo 12, somos exortados a não deixar as mãos caídas. Não há razão para que elas fiquem assim. Embora você esteja sob açoite, não há uma única razão pela qual suas mãos devem ficar caídas ou seus joelhos desconjuntados, porque o Espírito mostrou, primeiro que você está em companhia de Cristo, e depois na de seu Pai, que o ama. Há alguma razão para você caminhar como se não conhecesse a estrada? Essa é uma bela conclusão. Todos sabemos como nossas mãos irão ficar descaídas, mas eu confirmo cada uma dessas palavras e digo: “Verdade, Senhor”. Não há razão para que ficássemos desanimados. Então, tendo chegado a isso, o apóstolo olha ao seu redor. Não deixe suas próprias mãos caídas, e com respeito aos outros sigam a paz – com respeito a Deus sigam a santidade. “Que comunhão tem a luz com as trevas” – “que concórdia há entre Cristo e Belial?”

 

“Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”. Se você consultar Deuteronômio 29, encontrará lá a referência de uma raiz de amargura, mas é um tipo diferente dessa mencionada acima. Lá ela surgiu de algum homem que servia falsos deuses – aqui provém da falta da graça de Deus. Toda a epístola tem como objetivo e propósito, pregar a sua orelha, na linguagem da Escritura, à porta d'Aquele que está falando sobre graça. Não é um legislador que é ouvido, mas Aquele que está publicando a salvação dos mais altos céus. Anjos, principados e potestades são tornados sujeitos ao Purificador de nossos pecados, e o Purificador de nossos pecados elevou nossa consciência aos mais altos céus e toda língua que poderia nos acusar é silenciada, como lemos em Romanos 8 (Veja também 1 Pedro 3:21-22).

 

Agora, tome cuidado para que você não se prive da graça assim publicada. Isso pode terminar no caráter profano de Esaú. Alguém disse que essa referência a Esaú deve ter sido muito impressionante para a mente de um judeu. “Se você se privar da graça de Deus, será deixado na posição de alguém a quem a sua nação repudia”. Não importa o que você toma em Seu lugar, se você se afastar de Cristo, poderá estar amanhã na posição do reprovado Esaú. Como Esaú se apresenta a você? Como figura daquela geração que em breve dirá: “Senhor, Senhor, abre-nos a porta!”. Mas as lágrimas deles serão tão ineficazes quanto às de Esaú ao lado do leito de morte de seu pai. Ele chegou tarde demais. Então, quando Deus tiver Se levantado e fechar a porta, eles não encontrarão lugar de arrependimento. Este versículo 17 é muito solene. Ele diz que essa ação de Esaú é a apresentação aos nossos pensamentos daquilo que ainda está para ser realizado em uma geração de Esaú – e somente com essa – “Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei”. Esaú desprezou seu direito de primogenitura, e essa geração tem recusado a graça de Deus e desprezou o Cristo que passou pelo mundo e morreu pelos pecadores.

 

Depois disso, no versículo 18, temos uma visão magnífica das duas dispensações. É como se o apóstolo tivesse dito: “Tenho mostrado a vocês uma senda de martírio, mas agora digo que, no momento em que olharem para Deus, todas as coisas estarão a seu favor”. A senda de martírio e a correção do Pai são somente mais provas de amor.

 

Agora, deixando Cristo e o Pai, chegamos a Deus, e você vê que todos os conselhos eternos de Deus se uniram para fazer de você uma pessoa abençoada, assim como se uniram para fazer de Cristo uma Pessoa gloriosa. Não tenha medo. Você não chegou ao monte que ao ser tocado arde como fogo. Dê as costas para ele. Quanto mais deliberadamente tenho dado as costas para ele, mais deliberadamente encontro e respondo à graça e à sabedoria de Deus e presto a obediência de fé. Devo virar a cabeça – olhar por cima do ombro – dar algumas olhadas? Essa é a obediência de fé? Então, quanto ao meu rosto, Para onde ele está voltado? A uma variedade de bênçãos. Fui apresentado pela minha própria autoconfiança à lei e não encontrei nada para mim. Agora virei meu rosto para outro lado e vejo todas as coisas para mim. “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos, à universal assembleia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos”. O Senhor, mesmo em juízo, é por nós, pois o ofício de um juiz é defender os oprimidos. Então, “E (chegastes)... aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão”. Tudo isso é para você. E é para lá que seu rosto deve se direcionar sem se desviar. Deixe o seu rosto totalmente voltado para um dos montes, e as suas costas totalmente voltadas para o outro monte.

 

Mas aqui neste lugar, em Hebreus 12, vamos ao início da epístola novamente. E

 

m Hebreus 2, lemos: “como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor”. Agora lemos: “Vede que não rejeiteis O que fala”. Do começo ao fim, o Espírito está pregando seu ouvido à porta da casa do Mestre da graça.

 

Então, o capítulo se fecha muito solenemente: “Porque nosso Deus é um fogo consumidor”, isto é, o Deus desta dispensação. Do fogo do Sinai houve um alívio ao que se voltou e se refugiou em Cristo, mas não há alívio se o alívio de Deus for desprezado. Se você se afastar do alívio que esta dispensação traz, não haverá mais alívio. “Nosso Deus é um fogo consumidor”.

 

Eu pergunto a você, o que o coloca em companhia de Deus como a simplicidade da fé? Como dissemos antes, o propósito dos conselhos eternos e do gozo do Espírito é este: colocar coroas na cabeça de Cristo; e quando sou simples na fé, tenho o deleite de preencher o campo da minha visão com essas glórias. Assim, sou colocado na companhia mais digna em que poderia estar – Deus e o Espírito Santo. Que o Senhor conceda que você e eu estejamos lá! Se sabemos essas coisas, felizes, três vezes felizes somos se descansarmos nelas!

 

 

Hebreus 13

 

 

Estamos chegando ao final da epístola e encontramos o que é comum em todas as epístolas – alguns pequenos detalhes. É eminentemente a estrutura das epístolas de Paulo começar com doutrina e terminar com exortação. O mesmo ocorre aqui. “Permaneça a caridade [amor – ARA] fraternal”.

 

Nesse caso um irmão pode ser um visitante. “Não vos esqueçais da hospitalidade”. E para incentivá-los a cumprir esse dever, eles são lembrados de que alguns, sem saber, hospedaram a anjos. Em seguida, outro dever, “Lembrai-vos dos presos”, e o encorajamento segue – “como se estivésseis presos com eles”. Tome seu lugar no corpo de Cristo como prisioneiros do Senhor, não fisicamente presos, mas em sentido místico (ou figurado). Quando o apóstolo fala de sofrimento por causa de Cristo, ele apela a você em sua posição mística, mas quando ele fala de sofrer adversidades (v. 3), de uma forma comum e usual, ele apela para a vida natural “maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo”.

 

Em seguida, temos os deveres divinos de pureza e não-mundanismo. A ausência de mundanismo é expresso nas palavras: “contentando-vos com o que tendes”, não procurando ser mais rico amanhã do que hoje. Então o Senhor fala no versículo 5, e você responde a Ele no versículo 6. É a resposta de fé à graça – a resposta do coração do crente ao coração do Senhor Deus. Então vem o dever de sujeição – “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus”. Não os seguindo cegamente, como quando eram pagãos (1 Co 12:2) seguindo aos ídolos mudos. Você deve ser levado com os olhos vendados? Não, você deve ser conduzido de forma inteligente. “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”. Somos um povo vivo de um templo vivo. Então, “atentando para a sua maneira de viver”. Eles morreram em fé, enquanto pregavam a fé. Como alguém disse pouco antes de morrer: “Preguei Jesus, vivi Jesus e anseio por estar com Jesus”.

 

Agora o apóstolo deixa tudo isso e começa no versículo 8 de outro ponto; e este versículo 8 pode ser chamado de lema da epístola. No que concordo somente sob um aspecto. O que quero dizer é que, como vimos antes, o Espírito de Deus nesta epístola está olhando para uma coisa após a outra – dando uma olhada passageira nos anjos, em Moisés, em Josué, em Arão, ao antigo concerto, aos altares com suas vítimas, e colocando cada um deles de lado para dar lugar a Cristo. E não poderia ser de outra forma. Com todo o seu coração e toda a sua alma, coloque o seu selo sobre isso. Deixe tudo de lado para dar lugar a Cristo, e quando Cristo for introduzido, não O deixe ir por nada. Isso é o que você tem no versículo 8. O apóstolo está contemplando por um momento o objeto da epístola. “Deixei todas as coisas para deixá-Lo entrar e agora O mantenho diante de vocês”. Esse é o mais abençoado desfecho de todo o ensino da epístola.

 

Então vem um complemento – uma conclusão para isso: “Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas”, doutrinas estranhas a Cristo. Você tem tudo em Cristo; tome cuidado de se apegar com firmeza a Ele. Então, se eu tiver Cristo como minha religião, receberei a graça. “Bom é que o coração se fortifique com graça”. O Senhor está diante de você e de mim como a essência de nossa religião, e essa é uma religião que oferece graça ao pobre pecador.

 

Agora, não leia o versículo 9 como se pudesse, até certo ponto, firmar seu coração com manjares. Os manjares não fazem nada por você, como diz em outro lugar – “não toques, não proves, não manuseies”. Eles não trazem proveito nem honra para você. Suponha que você acumule, na carne, ordenanças religiosas. Se Colossenses 2 me diz que não há honra nelas, isso me diz que não há proveito nelas. Quando são provadas e examinadas, são todas para satisfação da carne. No momento em que o Senhor entra, tenho o coração estabelecido em graça. Você já ouviu dizer que, com exceção da religião divina, não há uma única religião na Terra que tenha a graça como seu segredo? Todas elas tentam manter Deus em silêncio, como se pudessem. A religião de Deus é a única religião já concebida que toma a graça como sua base. Isso é exatamente o que é contemplado aqui. Não se deixem levar por doutrinas estranhas a Cristo.

 

“Temos um altar”. Qual é o altar desta dispensação? É um altar exclusivo para holocaustos – serviços de ações de graça. Os judeus tinham um altar para o sacrifício expiatório. Não temos tal altar. Cristo esteve no altar da expiação, e agora nós, como sacerdotes, ministramos em um altar de serviços de ações de graças. Lembramos de que o Filho de Deus derramou Seu sangue e servimos em um altar onde sabemos que o pecado foi cancelado, apagado, jogado para trás, e em seu altar você está prestando um serviço constante de ação de graças. Mas aqueles que voltam aos serviços do tabernáculo não têm o direito, nem competência, para permanecer como sacerdotes no altar da atual dispensação. Muitas almas amadas e amorosas estão lutando com uma mente legalista, mas isso é uma coisa muito diferente de substituir a Cristo por qualquer coisa, como os gálatas estavam fazendo, colocando uma muleta sob Ele. O Espírito nesta epístola não discute com a pobre alma em luta, mas se você está procurando oferecer sacrifícios expiatórios e não guardando seu altar, com zelo, para os serviços de ações de graças, você está blasfemando contra o sacrifício do Filho de Deus.

 

Agora, tendo colocado você no seu altar, e também dentro do Santo dos Santos, o apóstolo mostra a você o seu lugar, fora do arraial. Jesus foi aceito no Santo dos Santos por Deus e foi colocado fora do arraial pelos homens. Você deve estar com Cristo, precisamente, nas duas posições. É aí que a atual dispensação o coloca; e se alguma vez a glória moral está ligada a uma criatura de Deus, é esta que está ligada a você neste momento. Chamado para fora do arraial com Ele para levar Seu vitupério! São essas as condições dos anjos? Alguma vez foi dito a eles: “E vós sois os que tendes permanecido Comigo nas Minhas tentações”? Os anjos nunca foram convidados como companheiros de Sua tristeza. Ele nunca colocou tal honra em anjos como em você. Portanto, em breve a Igreja estará mais perto do trono do que os anjos. “Não temos aqui cidade permanente”. Cristo não tinha nenhuma.

 

Mas, além disso, vemos no versículo 16 outra coisa bonita, outro caráter de serviço para o seu altar: “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação”. Em várias passagens, descobrimos que quanto mais gozo tivermos em Deus, mais generosos seremos uns com os outros. É o próprio caráter do gozo ampliar o coração. Como em Neemias 8, onde o profeta disse ao povo: “Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força... Então, todo o povo se foi... a enviar porções, e a fazer grandes festas”. Um homem que é feliz tem a capacidade de olhar ao redor e fazer os outros felizes com ele.

 

Depois disso, o apóstolo se refere àqueles que atualmente têm o governo. Os do versículo 7 eram os que já tinham morrido. Isso é uma sujeição cega, pergunto de novo? Não, devemos reconhecê-los. “Porque velam por vossa alma”. O ofício sem poder, sem a unção do Espírito Santo, é uma coisa que esta dispensação não conhece, e se sabemos disso, entramos em seu elemento corrupto e saímos do elemento de Deus. Faz parte da sua fidelidade a Deus manter a dispensação em pureza; uma mera autoridade oficial é um ídolo.

 

O apóstolo, um vaso do Espírito Santo, o servo mais poderoso que já serviu em nome de Deus, desce ao santo mais fraco: “Orai por nós”, e ele o pede com a autoridade de uma boa consciência. Você poderia pedir a outra pessoa para orar por você se tivesse a intenção de errar? Vou responder por isso, você não poderia. E aqui é com base em uma boa consciência que o apóstolo pede oração. Então ele lhes dá um assunto de oração. Oh! A familiaridade com a Escritura! Ela não nos tira do nosso próprio mundo de afeições e empatias. Então, o apóstolo começa sua doxologia.

 

Agora, se nos lembrarmos do que estávamos falando, encontraremos aqui algo novo e estranho. O versículo 20 nos apresenta o Senhor na Sua ressurreição, não na ascensão. O grande tema da epístola é, como vimos desde o início até agora, Cristo exibido no céu, mas aqui o apóstolo não vai além da ressurreição. Por que, no final, ele traz Cristo do céu? Ele tem mantido nossos olhos atentos a Ele no céu, e bem no final, Ele O traz para a Terra. Sim, pois é muito doce saber que não precisamos viajar além da morte e da ressurreição para entrar em contato com o Deus da paz. Você alcançou o Deus da paz quando alcançou o Deus da ressurreição. A ressurreição mostra que a morte foi abolida. A morte é o salário do pecado; e se a morte foi abolida, o pecado foi abolido, porque a morte depende do pecado como a sombra depende da matéria.

 

O concerto é chamado de “eterno”, porque nunca será substituído. O concerto antigo foi abandonado. A nova aliança é sempre nova, nunca será revogada. O sangue está tão fresco neste momento para falar de paz à consciência quanto quando rasgou o véu. Então, quando chegamos à vida diária, somos levados a estar, em toda a simplicidade, em companhia do Deus da paz que ressuscitou o grande Pastor dentre os mortos, pelo sangue que selou a remissão dos pecados, para sempre. Para que você se esqueça do pecado. Em um grande sentido, devemos lembrá-lo para sempre, mas no que diz respeito àquilo que constitui sua condição diante de Deus, você pode esquecê-lo para sempre.

 

Então ele ora para que Deus possa nos ajustar e nos moldar para fazer Sua vontade. Que ajuste pobre há em você e em mim em comparação com esse versículo. Somos desajeitados em nossos trabalhos, como se não estivéssemos à vontade neles. E então, no final, ele apenas fecha com algumas palavras comuns aos irmãos. “A graça seja com todos vós. Amém!”

 

Conclusão


Podemos lembrar que observei várias linhas distintas de pensamento percorrendo esta epístola. No encerramento dela, podemos considerá-la e ver como todas essas várias linhas se encontram em harmonia e nos dão, como resultado, uma conclusão infinitamente divina. As linhas de pensamento são as seguintes:


  1. O Espírito está deslocando uma coisa após a outra para introduzir Cristo.

  2. Tendo introduzido Cristo, o Espírito O sustenta nas variadas glórias em que Ele agora está enchendo os céus.

  3. O Espírito mostra como Cristo, sendo introduzido, age em tudo para aperfeiçoá-Lo; que tudo o que Cristo glorificado toca, Ele aperfeiçoa; e entre outras coisas, Ele aperfeiçoa nossa consciência.

  4. Sendo assim, com base na minha reconciliação como pecador, sou introduzido em um templo de louvor.


Essas quatro coisas podem ser vistas de forma independente, mas é muito abençoado ver que elas adquirem nova glória quando vistas em conexão umas com as outras. Agora eu digo que há uma magnificência em tal escrita divina que não precisa de nada além de si mesma para contar sua glória. Estou em contato com algo que é o infinito da mente de Deus, com algumas mais maravilhosas revelações que Deus pode fazer de Si mesmo para mim.

 

Mas antes de terminarmos a nossa tarefa doce e feliz, olharemos um pouco particularmente para essas quatro coisas. Em Hebreus 1 e 2, o Espírito coloca de lado os anjos para permitir a entrada de Cristo. Em Hebreus 3 e 4, Ele coloca de lado a Moisés e Josué. Em Hebreus 5-7, Ele coloca de lado a Arão. Em Hebreus 8, Ele coloca de lado toda a aliança com a qual Cristo não tem nada a ver. Em Hebreus 9, Ele coloca de lado as ordenanças do antigo santuário com seus altares e serviços para deixar entrar o altar onde Jesus como o Cordeiro de Deus estava. Uma coisa após a outra, Ele tira e coloca de lado para dar espaço a Jesus. Essa é uma agradável tarefa para o Espírito. Deus conhece Seus próprios deleites. Se o Espírito pode ser entristecido, Ele também pode ser deleitado.

 

Então, tendo o Espírito trazido Cristo, o que faz com Ele? Ele O mantém para sempre. Cristo não tem sucessor. Quando o Espírito O recebe, Ele O contempla. E o que é ser espiritual? É ter a mente do Espírito Santo. Você já teve o deleite de dar lugar na casa para dar espaço a Jesus? Indignadamente, o Espírito fala das coisas que temos visto como “rudimentos fracos”. Você já os tratou assim? O Espírito não vê nenhum sucessor de Cristo. Nos conselhos de Deus não há ninguém depois d'Ele. É assim nos conselhos e pensamentos de nossa alma?

 

Assim, tendo-O introduzido, Ele O contempla. E o que Ele vê n'Ele? Ele vê glória sobre glória. Em Hebreus 1, Ele o vê assentado à destra da Majestade, nas alturas, como o Purificador de nossos pecados, e ouve uma voz dizendo: “Ó Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos”. Ele olha em Hebreus 2 e O vê como nosso Apóstolo falando conosco da salvação. Então, Ele O encontra como o Senhor de uma casa permanente, como o Doador do descanso eterno, e O vê no santuário acima, assentado ali com um juramento, e O ouve proferindo a saudação: “Tu és Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque”. Dessas várias maneiras, o Espírito Se deleita em Cristo. Então, em Hebreus 9, O vemos contemplado nos céus como o Doador da herança eterna, tendo obtido primeiro a eterna redenção.

 

Em Hebreus 10, O vemos assentado ali em outro caráter, com esta voz saudando-O: “Assenta-te à Minha destra, até que ponha a Teus inimigos por escabelo de Teus pés”. Você já seguiu Cristo em espírito até o céu e ouviu essas vozes se dirigindo a Ele? Queremos dar personalidade à verdade. Estamos terrivelmente propensos a tratar isso como um mero dogma. Tenho pavor de tê-Lo diante de mim como uma coisa que eu poderia aprender intelectualmente. Nesta epístola, é a Pessoa que é mantida diante de você, é uma Pessoa viva com a Qual você tem que lidar. Essas são realidades celestiais. Moisés edificou um templo no deserto. Salomão edificou um templo na terra; Deus edificou um templo no céu. E oh! Como isso mostra o interesse que Deus tem no pecador quando, para o nosso Sacerdote, Ele construiu um Santuário, e isso porque Ele é nosso Sacerdote e está preparado para tratar de nossos interesses. Então, em Hebreus 12, quando Ele subiu, Ele foi recebido e assentado no céu como o Autor e Consumador da fé.

 

Essa é a segunda linha de pensamento, e vemos como ela depende da primeira. O Espírito, tendo fixado Cristo diante de nós, O exibe para nós.

 

A terceira coisa que temos nesta epístola é a perfeição. Se eu tenho Cristo perfeito como Salvador, eu estou perfeito como salvo. Se eu não for salvo, Cristo não é um Salvador. Não estou falando agora de uma mente fraca lutando com a legalidade, mas do meu título – e não tenho mais dúvidas de que tenho o direito de olhar para mim mesmo como um pecador salvo, assim como Cristo tem o direito de olhar para Si mesmo como um Salvador perfeito. A salvação é uma coisa relativa. Se eu me considero um pecador para Cristo e duvido que sou salvo, devo ter alguma dúvida da perfeição de Seu caráter de Salvador. Mas já olhamos para a epístola como um tratado sobre a perfeição. Convinha a Deus me dar nada menos que um Salvador perfeito. Que maravilha! Ele ligou Sua glória com a perfeição da minha consciência diante d'Ele. Ele condescendeu em me deixar saber que isso conveio a Ele. Será que convém a você vir e Me servir de alguma forma? Você poderia fazer isso por bondade, mas eu não deveria pensar em dizer isso. No entanto, essa é a linguagem que Deus usa.

 

Então, em terceiro lugar, encontramos um tratado sobre a perfeição na epístola. Contudo, não a perfeição dos dias milenares. Cristo será o Reparador de todas as brechas. Mas a maior brecha de todas estava na consciência do pecador. Ainda há o mal e a confusão na criação. Ainda o mal reina na casa de Israel. Cristo ainda não recorreu à Sua mão para reparar isso. Há uma brecha no trono de Davi – Cristo ainda não Se aplicou para corrigi-la. Mas a brecha mais poderosa de todas foi entre você e Deus. Em breve, Ele transformará os gemidos da criação nos louvores da criação, mas Ele começou Seu caráter como Reparador aplicando-Se a reparar a brecha que separava você de Deus, e agora temos ousadia para entrar no Santo dos Santos.

 

E então, em quarto lugar, encontramos nesta epístola o Espírito fazendo nada menos do que construir um templo para louvor. Será que Ele está prestes a levantar novamente o véu, que o sangue do Cordeiro de Deus rasgou em dois? Ele vai reviver as coisas de que falou com indignação como “rudimentos fracos”? Indizivelmente gloriosa é esta quarta e última linha de pensamento. O Espírito de Deus construiu um templo para você louvá-Lo – o fruto dos seus lábios dando graças ao Seu nome.

 

O que não temos nesta epístola? Embora possamos olhar para cada linha de pensamento de forma independente, elas se completam com uma glória extraordinária e crescente. O Espírito está, por assim dizer, fazendo um chicote de pequenas cordas e dizendo a todos que se retirem para dar lugar a Jesus. Claro que sei que eles estavam dispostos a se retirarem. João Batista expressou as vozes de todos eles quando disse: “O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim” (ARA). Moisés, Aarão, anjos – todos se regozijaram por terem dado lugar na casa para Cristo.

 

Essas coisas combinadas estão servindo à sua alma, levando você a apreensões mais profundas do Cristo de Deus. Que Servo para nossa alma é o Espírito Santo nesta dispensação – como o Senhor Jesus foi um Servo da manjedoura ao Calvário.

 

Acredito que cada um de nós precisa ser fortificado individualmente com a verdade. Não sabemos até que ponto os erros do romanismo e da infidelidade podem estar avançando. Se não tivermos a verdade, podemos ser um joguete de Satanás amanhã. Vou lhe dar um exemplo disso. Os gálatas eram um povo sincero e entusiasmado (e eu não discuto com o entusiasmo do avivamento); eles teriam arrancado os olhos por causa do apóstolo, mas chegou o dia em que ele teve que começar de novo com eles, desde o início. “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”. Houve entusiasmo sem um fundamento na verdade; e quando o mal veio, os pobres gálatas estavam próximos do naufrágio – e esta epístola é uma testemunha da mesma coisa. Os santos hebreus eram inábeis na palavra. Mas devemos ser fortalecidos pela verdade. Um estado de despertamento requer o fortalecimento da verdade de Deus.

 

E agora o que mais diremos? Oh, a profundidade das riquezas! Ó altura da glória – a profundidade da graça – a maravilha das maravilhas – Deus Se revelando de tal forma que podemos muito bem cobrir nossos rostos, enquanto confiamos n'Ele em silêncio e O amamos com as emoções mais profundas de nossa alma! Mas alguns de nós certamente podem dizer: “Minha fraqueza, minha fraqueza!”

 

Fragmento 


Há alguns que, porque a epístola não é descritiva de nós como a Igreja, não veem nada nela para nós. Verdadeiramente ela NÃO é sobre nós, é somente sobre Cristo”.


G. V. Wigram

 

 

 

 

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