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Nazireado (Janeiro de 2025)

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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


          Christian Friend, Vol. 12

          Christian Friend, Vol. 14

          W. J. Prost

          J. N. Darby (adaptado)

          W. J. Prost

          D. C. Buchanan

          W. J. Prost

          F. G. Patterson (adaptado)

          H. L. Rossier (adaptado)

          W. Kelly

          J. T. Mawson

          H. H. Snell

          G. V. Wigram

F. R. Havergal

 

Nazireado


A percepção moral depende da manutenção de uma separação nazireia de tudo e de qualquer coisa que possa obscurecer nossa alma. Tomemos os filhos de Arão, por exemplo. Eles foram ordenados a não beber vinho ou bebida forte quando entrassem no tabernáculo da congregação, para que não morressem, e “para fazer diferença entre o santo e o profano, e entre o impuro e o limpo” (Lv 10). Esse é um princípio permanente. Quando um crente se esquece de seu chamado celestial, e cede à satisfação dos gozos terrenais, e “se embriaga com vinho” em vez de “se encher do Espírito”, é impossível para ele discernir as coisas que diferem ou perceber o que é moralmente adequado a Deus. Não podemos esperar um julgamento correto sobre questões morais se formos Cristãos mundanos. Podemos ser perfeitamente sinceros e íntegros e, ao mesmo tempo, desejar ver a verdade, mas teremos perdido nosso discernimento espiritual.

 

Christian Friend, Vol. 12

 

João Batista – Um Nazireu

 

As palavras de Gabriel a respeito de João Batista – “porque será grande diante do Senhor” – não expressam tudo o que deveria caracterizá-lo, pois o anjo acrescenta: “e não beberá vinho nem bebida forte”. Isso é o nazireado, pelo menos a primeira marca dele. João só poderia ser grande aos olhos do Senhor sendo um nazireu.

 

Separado para Deus 

Em Números 6, vemos que ser um nazireu era “se separar para o SENHOR”. Havia três sinais distintos:

 

·     O nazireu se abstinha de vinho e bebida forte;·      

·     Ele deixava crescer o cabelo de sua cabeça;·      

·     Não lhe era permitido se aproximar do “corpo de um morto”.

 

Ele se privava de vinho, sinal de alegria para o coração do homem natural na companhia de seus iguais. Seus cabelos crescidos proclamavam que ele abandonou a dignidade e os direitos do homem por sujeição à vontade de Deus, cujas reivindicações sobre ele eram por ele reconhecidas. Por fim, ele evitava tudo o que pudesse colocá-lo em contato com o pecado, cujo salário é a morte. Tal era a ordem e o segredo de um nazireu.

 

A separação para Deus só poderia subsistir à custa dessas três coisas, e elas foram cumpridas na vida de João Batista. Mas nessa passagem ele nos é apresentado como especialmente separado de tudo o que constitui a alegria de um homem na sociedade. O mundo, ao vê-lo, sem dúvida teria dito: “Ele é um solitário triste e sombrio”. Que erro! Essa alegria natural, a única conhecida no mundo, foi substituída no coração do profeta por uma alegria que a comunhão com o Salvador dá. Essas duas alegrias são opostas uma à outra e não podem subsistir juntas; é apenas na proporção em que nos negamos a primeira que podemos desfrutar da segunda. Ao longo de sua carreira, a alegria divina foi um dos traços característicos desse tão austero homem. Como um bebê no ventre de sua mãe por milagre, seu primeiro movimento de alegria foi quando a saudação da mãe de seu Senhor chega aos ouvidos de Isabel (Lc 1:44), e no final de seu percurso ele diz novamente: “já essa minha alegria está cumprida” (Jo 3:29).

 

Christian Friend, Vol. 14

 

Graus do Nazireado

 

No artigo anterior, abordamos as três características do nazireu: evitar o uso de vinho ou bebida forte, deixar o cabelo crescer e não tocar em nenhum corpo morto. Desses, deixar o cabelo crescer era decididamente um sinal exterior que todos observariam imediatamente. Beber vinho poderia ser feito ocasionalmente em segredo sem ninguém perceber, e certamente comer uvas, que também era proibido, poderia ser feito em segredo. O mais importante de tudo é que ele poderia tocar um corpo morto em algum momento, e, se ninguém estivesse olhando, ninguém saberia a menos que o nazireu o revelasse.

 

A esse respeito, é importante notar que não era permitido ao nazireu exibir o sinal exterior sem ter a realidade interior. Se ele “contaminar a cabeça de seu nazireado”, mesmo que isso ocorresse quando alguém viesse a “morrer junto a ele... subitamente”, então ele deveria raspar a cabeça, como um sinal de que ele havia quebrado seu voto. Seu tempo até aquela data era perdido; ele deveria começar de novo. Para ser um verdadeiro nazireu, todos os três aspectos de seu voto deveriam ser mantidos.

 

Ao considerar esses aspectos do nazireado, acredito que o Espírito de Deus nos instrui, em figura, sobre como podemos estar em desiquilíbrio em nosso caráter nazireu. Mais do que isso, somos lembrados de que houve apenas Um que exibiu perfeitamente todas as características do nazireu.

 

Um nazireu desde o ventre 

Se olharmos para Sansão, lemos que o anjo anunciou à mãe que ela daria à luz um filho e que ele seria “nazireu de Deus desde o ventre” (Jz 13:5). Assim, sua mãe foi instruída: “guarda-te de que bebas vinho ou bebida forte, nem comas coisa imunda” (Jz 13:4). Em princípio, essa instrução abrangia duas facetas do nazireu – evitar o vinho e evitar qualquer impureza. Deixar o cabelo crescer não seria aplicável no caso de uma mulher.

 

Podemos notar de passagem que foi para a mãe de Sansão que o anjo foi enviado, embora o nome dela não seja citado. Seu marido Manoá certamente estava envolvido e interessado, mas parece que sua esposa era a mais espiritual dos dois. Foi a ela que o anjo apareceu pela segunda vez, quando seu marido quis saber mais sobre como criar o filho prometido. Foi ela quem teve o discernimento e foi capaz de acalmar os medos de seu marido quando ele pensou que eles morreriam por terem, como ele pensou, “visto a Deus” (Jz 13:22). Além disso, quando Sansão mais tarde desceu para tomar uma esposa das filhas dos filisteus, notamos que, no final, apenas seu pai é mencionado (Jz 14:10). Isso nos faz pensar se sua mãe tinha dúvidas mais profundas sobre essa união ímpia.

 

O sinal exterior 

No entanto, com Sansão, descobrimos que em seu nazireado a ênfase estava em seu cabelo crescido, e não há menção de que ele evitasse o vinho ou qualquer contato com o morto. Na verdade, é difícil imaginar uma festa envolvendo os filisteus, durando uma semana inteira, sem vinho envolvido (veja Juízes 14:10-17). No entanto, a Escritura não nos diz se ele participou dela ou não. Da mesma forma, Sansão estava constantemente envolvido em combate contra os filisteus, tocando ainda o corpo do leão que ele havia matado e no qual havia um enxame de abelhas. Dessa forma, ele certamente foi contaminado pelos mortos muitas vezes, mas não há registro de que ele tenha tomado conhecimento de que isso afetava seu nazireado. Em resumo, então, e em figura, podemos dizer que Sansão levava o sinal exterior de um nazireu e certamente era usado pelo Senhor, mas sua diligência naquilo que fala de consagração interior estava em falta, e isso acabou sendo sua queda.

 

Gozos terrenais 

Se formos para o Novo Testamento, para João Batista, novamente encontramos uma ênfase especial, desta vez em evitar vinho e bebida forte. Sua mãe aparentemente não recebeu nenhuma instrução especial sobre si mesma, mas foi dito a ela que seu filho “não beberá vinho nem bebida forte”. Mas então algo muito importante foi adicionado: “e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1:15). A Escritura tem o cuidado de não dizer que ele era habitado com o Espírito Santo, pois isso não poderia acontecer até que nosso Senhor Jesus houvesse consumado a obra da redenção e subido de volta ao céu. Mas João era cheio do Espírito Santo, e, embora nenhuma menção específica seja feita de seu cabelo ou se ele alguma vez tocou em um corpo morto, descobrimos que ele foi fiel ao Senhor, em vez de falhar como Sansão. O próprio Senhor lhe fez o maior elogio, dizendo que “entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista” (Lc 7:28).

 

O que caracterizava João era que ele evitava as multidões e todo o convívio social que ele pudesse ter. Ele estava “nos desertos” antes mesmo de começar seu ministério público e, quando começou esse ministério, ele estava “pregando no deserto” (Mt 3:1). Tudo isso era tipificado pelo fato de ele evitar vinho e bebida forte, o que fala de gozo terrenal. Embora tudo isso fosse adequado para João e fosse devidamente característico do serviço que lhe foi confiado, mais uma vez, vemos, em figura, o imperfeito equilíbrio que inevitavelmente existe mesmo no melhor dos servos de Deus.

 

Um nazireu em caráter 

O apóstolo Paulo certamente também foi um nazireu em caráter, embora o termo não seja especificamente aplicado a ele. Ainda assim, em uma ocasião ele estava evidentemente pronto para fazer o voto de nazireu sob as condições do Velho Testamento. Ele estava totalmente preparado exteriormente para se identificar com vários homens Judeus que tinham cumprido voto de nazireu e estavam prestes a raspar a cabeça (veja Atos 21:22-26). Deus misericordiosamente interveio e impediu Paulo de se envolver nisso, pois teria sido tornar a “edificar as coisas” que ele havia destruído (Gl 2:18). Teria sido uma séria mancha em seu chamado como apóstolo dos gentios. Novamente, vemos essa falha em alguém que, de outra forma, exemplificava grandemente o caráter nazireu.

 

Houve Um – nosso Senhor Jesus Cristo – que mostrou o caráter nazireu em absoluta perfeição. Ele não exibiu esse caráter da maneira exterior de acordo com a descrição dada em Números 6, mas sim de maneira espiritual. Nosso bendito Senhor certamente bebeu vinho em algumas ocasiões e tocou muitos corpos mortos – os quais Ele ressuscitou. Não temos nenhuma razão bíblica para pensar que nosso Senhor Jesus tinha cabelos crescidos. É muito provável que todos os sinais do Velho Testamento do verdadeiro nazireu estivessem ausentes em nosso Senhor Jesus. Mas devemos deixar esse assunto para uma consideração mais completa em outro artigo.

 

W. J. Prost

 

 O Divino Caminho de Unidade

 

Deus está trabalhando em meio ao mal para produzir uma unidade da qual Ele é o centro e a fonte, e que reconhece, de forma dependente, Sua autoridade. Ele ainda não faz isso pela remoção judicial dos ímpios, mas Ele não pode unir-Se aos ímpios nem ter uma união que os beneficie. Como então pode ser essa união? Ele separa os que são chamados do mal para Si mesmo. “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos  e Eu vos receberei e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (2 Co 6:17-18). Como está escrito: “Neles habitarei e entre eles andarei” (2 Co 6:16). Aqui temos isso claramente exposto. Essa era a maneira de Deus reunir; Ele não poderia ter reunido verdadeira unidade ao Seu redor de outra forma. Uma vez que o mal existe (sim, ele é nossa condição natural), não pode haver união da qual o Deus santo é o centro e poder, a não ser pela separação do mal.

 

O grande princípio da energia do Espírito de Deus em nós, enquanto passamos pelo deserto, é trazido à tona no livro de Números. Em Números 6 temos a separação positiva para Deus na energia do Espírito Santo – “para o SENHOR” (v. 2). Assim, o Senhor Jesus, particularmente após Sua ascensão, pôde dizer: “e por eles Me santifico a Mim mesmo” (Jo 17:19), para que, pela energia do Espírito em nós, estejamos separados agora no deserto, andando de branco, mantendo nossas vestes sem manchas da carne. Novamente, o Senhor Se separou para que pudesse cuidar dos negócios de Seu Pai, e por isso Ele Se separou até mesmo dos “filhos de Sua mãe” (Sl 69:8), pois essa era a natureza – a carne, que pelo pecado estava sob o poder da morte. Ele ainda mantém o caráter nazireu, porque todos os Seus discípulos não estão ainda reunidos a Ele, e agora, em certo sentido, conosco também é separação do gozo – o “fruto da vide”; não devemos agradar ao nosso coração. Na glória será o grande espírito de descanso; não haverá necessidade de cingir o coração então. Agora, o efeito da energia do Espírito é cingir os lombos de nossa mente para que não sejamos contaminados, mas na glória deixaremos nossas vestes fluírem, porque não temeremos contaminação lá.

 

Separação do vinho – do gozo 

“De vinho... se apartará” (v. 3), isto é, do gozo. Pelo caráter de Sua vinda, o Senhor veio esperando encontrar gozo entre os homens, esperando encontrar uma resposta ao Seu amor no coração dos homens, mas não encontrou nenhuma, e assim foi um Nazireu desde o princípio. Ser nazireu é ser separado de toda afeição natural que pode ser tocada pela morte – ser separado para o Senhor. Nenhum mel poderia ser oferecido ao Senhor, e agora o Espírito é um novo poder que entra para nos desapegar de tudo o que é natural. O Senhor, cheio do Espírito para servir, disse à Sua mãe: “Mulher, que tenho Eu contigo?” Toda a natureza por causa do pecado passou a estar sob o poder da morte, por isso o nazireu “por seu pai, ou por sua mãe... por eles se não contaminaráporquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça” (v. 7). Veja também Lucas 14:26. O vínculo natural do Senhor era com os Judeus como o Filho de Davi, mas Ele renunciou a tudo isso como natural, pois, “quando tira para fora as Suas ovelhas, vai adiante delas” (Jo 10:4). As afeições naturais vêm de Deus e, portanto, são boas em si mesmas, mas elas não conduzem a Deus, se ocupando com o objeto. João Batista era um nazireu desde o ventre. Paulo era um nazireu, e Jeremias também. Assim, somos nazireus, pois nosso próprio gozo pessoal está além da morte. Portanto, tudo o que eu renuncio aqui que tem cheiro de morte é apenas renunciar aquilo que impede a apreensão mais profunda do gozo e bênção daquela vida que está além do poder da morte. Na cruz, o Senhor quebrou o elo entre nós e o poder da morte. “Senhor, por estas coisas vivem os homens, E inteiramente nelas está a vida do meu espírito: Por isso restabelece-me Tu, e faze-me viver” (Is 38:16).

 

Santo para Deus 

“Todos os dias do seu nazireado santo será ao Senhor” (v. 8). Este é o grande princípio no nazireu – santo para Deus, e por menor que seja a medida em que ele alcance esse caráter, em Cristo o nazireado é perfeito. Tudo isso é algo distinto da inocência. Adão era inocente, mas não separado para Deus. A separação para Deus pressupõe um conhecimento do bem e do mal e, ainda assim, a separação do mal. Adão adquiriu o conhecimento do bem e do mal pela queda; o Espírito Santo veio para nos livrar desse mal. O Espírito é um poder totalmente novo, separando-nos para Cristo em glória agora que o mal e a vontade própria entraram. É algo muito difícil para nós conhecer o bem e o mal, pois por natureza estamos no mal – amando o mal e aborrecendo o bem. O Espírito Santo está agora nos livrando do mal, e aqui está a dificuldade – Sua energia em nós está nos guardando do mal enquanto passamos por um mundo de pecado e morte. Não podemos ser inocentes agora que o pecado entrou, mas somos santos em Cristo.

 

Se um homem morrer subitamente – contaminação 

“E se alguém vier a morrer junto a ele por acaso, subitamente” (v. 9) – um pensamento descuidado, e a comunhão é perdida naquele instante.

 

A morte chegou em tudo na natureza como o sinal do ódio de Deus ao pecado. O espírito da verdadeira devoção a Deus sempre foi perfeito em Cristo, mas ele é falho em nós. Onde quer que o velho homem atue, há o princípio da morte. Portanto, entramos na morte pelo tempo em que o velho homem está agindo. A palavra para nós é: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as paixões e concupiscências” (Gl 5:24), e novamente: “já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo” (Cl 3:9-10). Tudo isso é solene. Não apenas temos paz, mas, enquanto passamos por essa cena de pecado, precisamos ser mantidos santos e devotados a Deus pela energia do Espírito Santo em nós.

 

O cabelo crescido  – força 

“Todos os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha” (v. 5). Se eu recuar da devoção a Deus, é verdade que o cabelo pode crescer novamente, mas a cabeça deve ser raspada rente, e o tempo perdido. Nesse caso, não é uma questão de pecado, mas de perda quanto à energia da vida. Uma árvore que foi muito mutilada e quebrada crescerá novamente; ela não foi morta, mas apenas ferida, porém sua estatura não será a mesma de uma árvore ilesa. É permitir que Satanás estrague e impeça a obra do Espírito. Sansão deixou seu coração entrar na fraqueza da natureza, e, quando deixamos a natureza entrar, nossa força se vai. Sansão, como um nazireu, era uma figura da energia do Espírito de Deus; ele revelou o segredo de sua força, e ela o deixou, e ele se tornou fraco como os outros homens. É verdade que, no devido tempo, sua força voltou e, com poderosa energia, ele ergueu os alicerces do templo. Se não formos cuidadosos e vigilantes em manter o segredo de nossa força em comunhão com Deus e o mundanismo e o pecado entrarem, nós mesmos podemos não estar conscientes disso, mas a verdade aparecerá quando nos levantarmos para agir – pode ser no serviço – e nos encontrarmos fracos como os outros homens. E quando estivermos em nossa fraqueza, como Sansão, o diabo arrancará nossos olhos.

 

O verdadeiro nazireu 

O Senhor foi o verdadeiro Nazireu, e Ele nunca Se afastou, em todo o curso de Sua caminhada, de Seu nazireado. Não foi uma coisa leve para Ele trilhar o caminho do sofrimento, mas Ele orou. No jardim, “estando em agonia, orava mais intensamente” (ARA) antes que a tentação viesse, e então vemos que Ele não parou; Ele não podia. Portanto, devemos primeiro passar pela provação com Deus, e então Deus estará conosco na provação. Pedro dormiu e não orou, e, quando veio a prova, ele a enfrentou na carne e desembainhou sua espada. Jesus havia orado para que o cálice passasse d’Ele, mas, quando os principais dos sacerdotes e os soldados chegaram, embora Satanás estivesse envolvido em tudo, Ele viu a mão de Deus e pôde dizer: “o cálice que o Pai me deu”. Então não foi tentação alguma, mas um ato de obediência.

 

Os versículos 13-21 mostram as ofertas a serem oferecidas. Tudo o que estava em Cristo é apresentado a Deus (v. 20), então realmente chegamos a Deus no poder desses sacrifícios, mas até que a Igreja seja reunida, o Senhor mantém Seu caráter nazireu.

 

J. N. Darby (adaptado)

 

Cristo, o Nazireu Perfeito

 

Em nossa exposição sobre o nazireado em outros artigos desta edição, vimos como o caráter nazireu pode estar em desequilíbrio, com uma característica se destacando de forma marcante, enquanto as outras não são mencionadas. Veremos também como alguém como Sansão poderia falhar em seu nazireado, embora preservado pela graça de Deus ao passar por muitos desvios nos quais ele se envolveu ao longo do caminho. Vimos como João Batista manteve seu caráter nazireu apesar das tentações e foi altamente elogiado pelo próprio Senhor. No entanto, também mencionamos várias vezes que houve apenas Um que exemplificou perfeitamente o voto nazireu e o manteve em perfeito equilíbrio até o fim de Seu caminho aqui na Terra. Mais do que isso, Ele continua esse caráter nazireu lá no céu, como um Homem ressuscitado e glorificado à direita do Pai. Vejamos as três características do verdadeiro nazireu e consideremos como elas foram exibidas na vida de nosso bendito Senhor Jesus.

 

Um nazireu moral 

Antes de começarmos, no entanto, é importante reconhecer que o nazireado de nosso Senhor era completamente moral, e não físico, como dado a Israel em Números 6. Nisso Ele é o Exemplo perfeito para nós, pois nesta dispensação da graça de Deus não somos chamados a exibir as características literais e físicas do nazireu. Em vez disso, aqueles atributos físicos do nazireu do Velho Testamento devem ser para nós figuras das qualidades morais e espirituais que devem ser exibidas em nossa vida hoje.

 

A primeira característica que deveria fazer parte do voto de um nazireu era separar-se do “vinho e da bebida forte”. Mais do que isso, ele não deveria nem mesmo comer uvas, frescas ou secas, nem qualquer coisa feita da videira. Já foi apontado em outra parte desta edição que o vinho fala de gozo terrenal – os gozos naturais dos quais a natureza pode participar. No entanto, agora que o pecado entrou neste mundo, todas essas alegrias naturais foram tocadas pela morte. Por causa disso, nosso Senhor Se manteve apartado de tudo isso. Toda a Sua vida foi dedicada a fazer a vontade de Seu Pai, e tudo o mais foi subserviente a isso. No entanto, devemos salientar que nosso Senhor também estava em perfeito equilíbrio em Sua separação do mal. Ele não evitou o convívio social, como fez João Batista, mas voluntariamente Se misturou com as multidões e aceitou convites para fazer refeições em vários lares. (Podemos observar, a esse respeito, que não há registro de que nosso Senhor tenha agraciado a mesa de um saduceu com Sua presença, pois eles ensinavam má doutrina e negavam a ressurreição. No entanto, o Senhor foi às casas dos fariseus várias vezes. Esse é um exemplo de Sua perfeita separação e, ainda assim, perfeita acessibilidade.) O Senhor Jesus não Se tornou um recluso para manter uma separação santa, mas Se misturou com os pecadores, enquanto estava completamente separado do gozo terrenal. Ele não provará esse gozo até um dia vindouro, quando Ele o beber novo, conosco, no reino de Seu Pai (Mt 26:29).

 

Vinho, o gozo terrenal 

Por essa razão, Ele não recusou beber vinho, e até mesmo o supriu por Seu poder divino nas bodas de Caná. Com o objetivo de criticá-Lo, os líderes Judeus o chamaram de “comilão e bebedor de vinho” (Lc 7:34). No entanto, sempre houve aquela clara e definitiva separação moral do verdadeiro gozo terrenal, mas combinada com a maior demonstração de amor e graça para com os pecadores. Publicanos e pecadores arrependidos se sentiam em casa em Sua companhia, quando essas mesmas pessoas eram desprezadas pelos líderes Judeus. Alguém expressou isso bem: “Os sacerdotes não devem, em hipótese alguma, afastar-se de sua consagração; portanto, eles devem ser nazireus... Há coisas lícitas, verdadeiras alegrias, que, no entanto, não pertencem ao sacerdócio – alegrias que fluem das bênçãos de Deus e que não mantêm a carne sob controle como faz Sua presença, pois há sempre uma certa restrição ao coração, à natureza e à sua atividade, produzida pela presença de Deus” (J. N. Darby, Synopsis, Vol. 1, pág. 148). 

 

O significado moral do cabelo crescido 

A segunda característica do nazireu do Velho Testamento era que ele deveria deixar seu cabelo crescer. Isso falava de abrir mão da própria dignidade, direitos e respeito como homem. Certamente nosso Senhor Jesus fez isso de maneira real, como lemos em Filipenses 2:5-8. Sua humilhação como Homem foi completa, pois como lemos em Isaías 53:2: “não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos”. Mesmo em Sua aparência física, não havia nada que distinguisse o Senhor Jesus de outros homens. Muitas imagens de nosso Senhor feitas pelo homem O retratam como tendo cabelos crescidos, mas não há Escritura para apoiar isso. De fato, é digno de nota que na Palavra de Deus nada é dito sobre a aparência física do Senhor Jesus, dos discípulos ou de quaisquer outros que eram proeminentes na Igreja primitiva. As únicas descrições dadas são morais.

 

Nosso Senhor sempre ocupou um lugar inferior, recusando-Se a responder aos insultos lançados contra Ele, mas, novamente, com um equilíbrio perfeito. Se Ele respondia àqueles que O atacavam, Ele não Se defendia, mas falava de modo a alcançar cada consciência. Nisso, Ele foi mais uma vez o Exemplo perfeito para nós, de como devemos responder a quaisquer opositores neste mundo.

 

Não toque em corpo morto 

A qualidade final do verdadeiro nazireu do Velho Testamento era que ele “não se chegará a corpo de um morto”. Mesmo dentro de sua própria família imediata, ele não deveria se contaminar dessa maneira. Isso traz diante de nós (em figura) a separação total do mal e de qualquer contaminação pecaminosa. No entanto, como bem sabemos, o Senhor Jesus podia tocar, e tocou, em corpos mortos muitas vezes, não para enterrá-los, mas para dar-lhes vida. Aquele que era o Doador da vida, e cuja obra na cruz do Calvário anularia a morte, não foi contaminado pelos mortos. Em vez disso, Seu toque lhes devolveu a vida que o pecado havia tirado. Tudo isso claramente O marcava como o Messias.

 

No entanto, no sentido moral de evitar qualquer contato com um corpo morto, nosso bendito Senhor estava completamente livre de qualquer conexão com o mal. Ele podia Se encontrar com a mulher no poço de Sicar, expor o pecado dela e atraí-la para Ele, mas sem pecado. Ele podia expulsar os animais e os cambistas do templo com ira justa, mas nunca permitir que essa ira justa degenerasse em pecado. Ele podia ignorar insultos pessoais, mas responder com fidelidade às observações que refletissem na glória de Deus. Ele podia ser “amigo dos publicanos e dos pecadores”, mas nunca tolerar seus caminhos pecaminosos. De todas as maneiras, Ele viveu e andou entre aqueles que estavam “mortos em delitos e pecados”, e mostrou Seu amor a eles. No entanto, Ele nunca foi afetado pelos caminhos pecaminosos deles, e Seu único desejo era mostrar-lhes o caminho da vida.

 

Como nazireus, somos chamados a imitar o bendito caminho de nosso Senhor e Mestre, enquanto percebemos o quão longe estamos daquela perfeição que Ele exibiu. No entanto, Ele nos deixou “o exemplo, para que sigais as Suas pisadas” (1 Pe 2:21).

 

W. J. Prost

 

O Equilíbrio entre Acessibilidade e Separação

 

O Senhor Jesus combinou perfeitamente a acessibilidade ao mundo ao mesmo tempo em que manteve separação da imoralidade daqueles ao Seu redor. Seu coração não foi seduzido por nada no mundo. Isso é demonstrado no exemplo de Sua conversa com a mulher no poço de Sicar em João 4. Ali vemos uma combinação perfeita de Um que mantinha santidade enquanto alcançava aqueles ao Seu redor. Ele demonstra como vencer o pecado enquanto liberta aqueles que vivem em pecado. A história termina com a mulher sendo libertada de seus caminhos pecaminosos. Muitos outros na cidade também creram no testemunho. O final da história de outra família, onde havia uma mulher a quem Sansão amava, é muito triste. Ela e toda a sua família foram destruídas pelos filisteus como resultado das associações de Sansão com eles. A vida de Sansão contrasta com Aquele que Se assentou junto ao poço de Sicar e livrou uma mulher de sua vida de pecado. Sansão, enquanto esteve em estreita proximidade com os filisteus, renunciou seu voto de separação a Jeová. O propósito do voto nazireu era dedicar a vida inteiramente ao serviço do Senhor. Acompanhando o voto de separação estava a força, dada a Sansão para vencer todo o poder do inimigo. Isso foi dado em uma época em que a nação de Israel estava empobrecida pelos filisteus. Enquanto Sansão guardou seu voto, ele teve poder sobre os filisteus. Mas, com o passar dos dias em que Sansão viveu entre os filisteus, seu coração se sentiu atraído por uma mulher que o seduziu pouco a pouco a renunciar ao seu voto de separação. Isso resultou em Sansão perdendo seu poder e se tornando um prisioneiro.

 

O voto nazireu 

Havia três partes no voto nazireu que Sansão foi chamado a cumprir. Ele não deveria beber vinho nem mesmo comer nada da videira. O vinho alegra o coração (Jz 9:13), mas também impede o discernimento (Pv 20:1). Viver para agradar a si mesmo foi como Sansão começou a cair. Ele disse a respeito da mulher filisteia: “Tomai-me esta, porque ela agrada aos meus olhos” (Jz 14:3). Assim, ele começou a comprometer seu chamado e a perder o bom discernimento.

 

O segundo requisito para o nazireu era não se contaminar com nada impuro. A aplicação disso a Sansão era por contaminação física, mas também se aplica à contaminação moral. Sansão pegou o mel de um corpo morto imundo, comeu-o e deu-o a seus pais sem que eles soubessem. Sem dúvida, eles teriam recusado se soubessem sua fonte. Os que sucumbem às tentações gostam da companhia de outros para aplacar sua consciência, mas isso não remedia a contaminação. Vemos que, quando Sansão viveu para agradar a si mesmo, isso levou à permissão da impureza também. O exemplo do Senhor Jesus enquanto conversava com a mulher em Sicar revela Sua pureza e domínio próprio. Com Ele não havia exercício de Sua própria vontade, nem qualquer compromisso com a impureza. Mais tarde, quando os discípulos Lhe trouxeram comida, Ele pôde dizer: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Então Ele continuou a explicar como Ele Se deleitava em obedecer. “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a Sua obra” (Jo 4:32, 34). Não houve comprometimento da santidade; Seu prazer era fazer a vontade do Pai (Sl 40:8). Depois, a mulher pôde dizer d’Ele: “Vinde e vede um Homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é Este o Cristo?” (v. 29). Todos os pecados secretos dela foram descobertos e trazidos à luz, onde o perdão é encontrado. Aquela parte da vida dela já havia passado, e ela estava ocupada com a perfeição d’Ele.

 

O terceiro requisito para o nazireu era não raspar a cabeça. Essa era a marca exterior de sua separação para Jeová por uma causa especial. A distinção de ter cabelos crescidos deveria ser mantida até que o voto fosse encerrado. Essa foi a última coisa de que Sansão desistiu, e, quando o fez, o Senhor Se afastou dele. O resultado foi que Sansão não tinha mais poder, e os filisteus puderam prendê-lo. Ele perdeu seu poder de separação santificador. Foi dito que o sal é uma imagem disso. Assim, a Escritura diz: “bom é o sal; mas, se o sal vier a tornar-se insípido, como lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos” (Mc 9:50). Nesse sentido, poderíamos dizer que Sansão perdeu seu sal; ele perdeu seu poder de santidade por sua falta de separação para o Senhor.

 

O Senhor Jesus era o Nazireu perfeito como Aquele moralmente separado do mal. Isso permitiu que Ele estivesse perto dos pecadores fisicamente sem ser contaminado. Ele é Aquele que manteve perfeitamente o voto nazireu. Ao fazer isso, Ele mostra como a separação moral pode afetar aqueles que a veem. Esse é o estilo de vida que tem o poder de testemunhar para aqueles que estão no mundo – o estilo de vida que está próximo do mundo, mas moralmente separado dele. Em resumo, podemos dizer que o estilo de vida de Sansão é um exemplo do que acontece quando alguém professa estar separado do mundo, mas depois desiste dessa separação, enquanto o Senhor Jesus é um exemplo do que acontece quando alguém mantém a separação. Nunca é demais enfatizar a importância dessas coisas para os Cristãos hoje. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. À medida que o mundo degenera, a impureza se torna mais pronunciada e abertamente má, mas há oportunidade de viver um estilo de vida piedoso que tem poder para vencer o mundo.

 

D. C. Buchanan

 

Nazireado e Relações Naturais

 

Nas instruções relativas àquele que fez o voto de nazireu, um dos requisitos era que “Todos os dias que se separar para o SENHOR, não se chegará a corpo de um morto. Por seu pai, ou por sua mãe, ou por seu irmão, ou por sua irmã, por eles se não contaminará, quando forem mortos; porquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça” (Nm 6:6-7).

 

Podemos ver facilmente como isso pode ser difícil às vezes. Se um parente próximo, tal como um pai, uma mãe ou um irmão, morresse, o nazireu não tinha permissão para ajudar no enterro; ele não deveria tocar em nenhum corpo morto, mesmo o de um ente querido com quem ele tinha um vínculo próximo.

 

À primeira vista (e falamos com reverência), isso pode parecer um pouco duro e irracional. Não poderia ser feita uma exceção para um caso como esse? Não, pois, como lemos no final do versículo 7, “porquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça”. A Escritura reconhece que algo pode acontecer de repente; um homem pode “morrer junto a ele por acaso, subitamente” (v. 9), e, na tensão e emoção do momento, o nazireu pode ser induzido a ajudar a lidar com a situação. Mas, se isso acontecesse, nenhuma desculpa poderia ser dada: ele contaminou “a cabeça do seu nazireado” (v. 9). Ele perdeu seu caráter nazireu; devendo raspar a cabeça, passar por um processo de purificação e começar seu voto novamente.

 

A importância moral 

O impacto moral de tudo isso, sem dúvida, não estava claro para os israelitas no Velho Testamento, exceto que eles entendiam que, se alguém fizesse o voto de nazireu e se separasse para o Senhor, ele deveria obedecer implicitamente aos mandamentos dados por Jeová. Não poderia haver exceção às instruções.

 

Nesta dispensação da graça, podemos ver a importância moral dos três requisitos para quem fez o voto de nazireu, e especialmente o que se relaciona a evitar qualquer contato com um corpo morto. A morte fala de contaminação, e este mundo está cheio de todo tipo de contaminação para o crente. Devemos estar constantemente em guarda, pois até mesmo um pensamento errado pode ser como um homem morrendo repentinamente ao nosso lado. Podemos ser pegos desprevenidos, e nosso caráter nazireu ser estragado se nos entretivermos com esse pensamento e permitirmos que nossa mente seja contaminada.

 

Laços familiares 

Alguém observou apropriadamente, “Ser nazireu é ser separado de toda afeição natural que pode ser tocada pela morte – ser separado para o Senhor”. Uma das áreas em nossa vida que pode ser afetada por essas reivindicações da natureza são os laços familiares, e isso talvez possa explicar por que o mandamento em Números 6:7 é tão rigoroso e não permite nenhuma exceção. Essa dificuldade frequentemente se apresenta em nosso caminho Cristão. O Senhor Jesus a reconheceu e nos alertou sobre isso. Ele podia dizer: “Se alguém vier a Mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:26). Isso não significa, é claro, que devemos realmente odiar nossos parentes mais próximos, mas sim que, em comparação com Cristo, Ele deve sempre ter o primeiro lugar em nosso coração. Ele mesmo exemplificou isso, pois Se recusou a reconhecer Sua mãe e Seus irmãos naturais de qualquer maneira especial durante Seu ministério terrenal. Nas bodas de Caná da Galileia, quando Sua mãe Lhe disse que precisavam de vinho, Ele respondeu: “Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a Minha hora” (Jo 2:4). Em outra ocasião, quando alguns O lembraram de que Sua mãe e Seus irmãos estavam esperando para falar com Ele, Ele reagiu dizendo: “Quem é Minha mãe e Meus irmãos?” E então, olhando “em redor para os que estavam assentados junto d’Ele”, Ele disse: “Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos!” (Mc 3:33-34). No entanto, enquanto estava na cruz, no final de Sua jornada aqui, como o Filho mais velho de Sua família terrenal, Ele graciosamente entrega Sua mãe aos cuidados de João.

 

Contudo, em nossa própria vida, quantas vezes os laços familiares podem atrapalhar o julgamento espiritual correto e, mais importante, as ações espirituais corretas. Nosso julgamento pode, em alguns casos, ser correto, mas nosso coração pode temer agir para a glória do Senhor por causa do risco de ofender aqueles que são nossos parentes. Às vezes, isso pode envolver uma dificuldade que surge entre marido e mulher, e isso exercita nosso coração profundamente. Devo ser fiel ao Senhor e correr o risco de causar dissensão e dificuldades em meu lar? Sob tais circunstâncias, alguns cederam e agiram contra sua consciência, em vez de destruir um relacionamento humano. Mas outros, enquanto honrando suas próprias responsabilidades dentro do vínculo matrimonial, agiram para a glória do Senhor e serão recompensados por isso.

 

O Rei Asa 

O rei Asa se viu confrontado com uma difícil responsabilidade em sua vida, quando sua mãe Maaca, filha de Absalão (na verdade, ela era sua avó) fez “um horrível ídolo”. Está registrado que ele “a depôs, para que não fosse mais rainha... e... destruiu o seu horrível ídolo, e o despedaçou, e o queimou junto ao ribeiro de Cedrom” (2 Cr 15:16). Sem dúvida, foi uma coisa difícil de fazer, especialmente porque Maaca deve ter sido uma mulher mais velha na época, mas a fidelidade ao Senhor exigia isso.

 

Que nós também, nestes últimos dias, não nos desviemos da fidelidade ao Senhor cedendo à influência dos laços familiares, em situações em que tais laços podem nos levar a desonrar o Senhor. Prever as dificuldades que envolvem ser fiel pode fazer com que situação pareça impossível, uma que não conseguimos enfrentar. Mas o caminho da fidelidade é sempre de bênção no final, e podemos contar com o Senhor para Sua graça soberana trazer essa bênção.

 

O espírito de mansidão 

Tendo feito essas observações, talvez eu possa acrescentar uma advertência ao encerrar. Conheci aqueles que, em seu zelo em serem supostamente fiéis ao Senhor, lidaram com os membros da família de maneira orgulhosa, arrogante e autoconfiante. Eles abandonaram arbitrariamente as relações familiares sem procurar, com cuidado pastoral, alcançar a consciência daqueles de quem discordavam. Esse não é o Espírito de Cristo. Sempre que a separação do mal é necessária, a humilhação precisa acompanhá-la. Devemos sempre lembrar a determinação do apóstolo em Gálatas 6:1: “se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa... encaminhai [restaurai – TB] o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado”. Conheci aqueles que, quando foram outros que estavam envolvidos, mantiveram um firme posicionamento quando os laços familiares enfraqueceram a determinação de alguns que deveriam ter se posicionado mais fortemente contra o mal. Mais tarde, quando o Senhor permitiu um problema em sua própria família, eles também acharam muito difícil dissociar-se das emoções naturais que dificultavam agir de maneira correta.

 

O Senhor é capaz de nos dar graça para agir para Sua glória, com firmeza, mas também para fazê-lo com humildade e amor em nosso coração para com aqueles que se opõem a nós. Devemos sempre lembrar que pode chegar o momento em que seremos testados da mesma maneira.

 

W. J. Prost

 

Nazireado entre os Incircuncisos

 

No caso de Sansão, vemos que em tudo a mão de Deus está trabalhando em soberania. Ele escolhe a já desonrada tribo de Dã, a primeira entre Israel a cair na idolatria (Jz 18). Ele pode fazer o que Lhe agrada. Sem ser solicitado, o Senhor apareceu à esposa de Manoá e anunciou o nascimento dessa criança. Os detalhes do capítulo são muito belos em muitos aspectos, e especialmente brilhantes nas novas deduções de fé, da esposa de Manoá. Três fortes características se apresentam para nós aqui:

 

Primeiro, temos o nazireu – aquele separado para o Senhor.

 

Em seguida, depois da oferta do holocausto e da oferta pacífica, o Anjo, cujo nome era “Maravilhoso” (Is 9:6), sobe ao céu na chama do altar.

 

E, por último, temos “tudo isto” mostrado a Manoá e sua esposa.

 

O nazireado de Cristo 

Agora, gostaria de me referir por um momento ao nazireado de Cristo. Nos primeiros evangelhos, o Senhor é visto no poder do reino, comendo e bebendo com os filhos desse reino, se eles estivessem dispostos a ouvir. No Evangelho de João, tudo isso muda. Ele é um homem solitário desde o início desse Evangelho, e “os Seus” são deixados de lado (Jo 1:11-12). Ele é um Nazireu do começo ao fim, reunindo e conduzindo uma companhia celestial à casa do Pai. Em João 17, onde o resumo disso é visto, encontramos em linhas gerais essas três coisas de Juízes 13 trazidas à tona novamente em toda a sua intensidade e realidade. Seu povo é separado: eles “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo” (Jo 17:14). Ele diz ao Pai: “Mas, agora, vou para Ti”: Ele sobe ao alto, no valor do holocausto completo e da oferta de manjares, nos quais eles foram aceitos perante o Senhor. E “digo isto no mundo, para que tenham a Minha alegria completa em si mesmos”.

 

A Igreja de Deus era uma nazireia [separada]. Em vez de manter esse lugar, ela começou “a comer, e a beber com os bêbados”. Mas Cristo sempre foi um verdadeiro Nazireu (espiritualmente, não literalmente), e, quando a Igreja caiu como um todo, o único recurso é o nazireado individual – devoção especial ao Senhor. A Igreja de Deus está sempre unida a Cristo em glória, mas para ser reconhecida em tal estado, aqueles que seriam reconhecidos devem estar separados para Ele. Não existe outra maneira. Eles devem ser nazireus, e devem manter o segredo disso, também, com o Senhor. Ser assim exteriormente, sem separação interior, é terrivelmente solene. É descobrir, quando chega o momento da prova, que perdemos nossa força.

 

A história de Sansão 

A história de Sansão é dividida em duas partes distintas, cada uma terminando com a frase “e julgou a Israel... vinte anos” (veja o final de Juízes 15 e 16).

 

A primeira divisão de sua história está registrada em Juízes 13-15. Nela notaremos quão cheio de poder é este libertador de seu povo. Quão completa é a sua vitória sobre os filisteus! Em toda essa porção, notamos também que “o Espírito do Senhor” veio sobre ele, em seus poderosos atos. Também notamos que ele não é acompanhado por Israel nesses atos. Até os homens de Judá desceram para amarrá-lo e entregá-lo nas mãos dos filisteus!

 

Quão impressionante é tudo isso para nossa alma! Se os santos de Deus aceitarem o caminho do nazireado nestes dias, Deus estará com eles em poder e bênção. Essa bênção pode se estender em grande parte até mesmo àqueles que não se separaram para o Senhor, trazendo libertação também para eles. Mas eles se opõem àqueles que tomaram esse caminho separado. Aceitar aqueles que buscam Sua face é apenas julgar seu próprio caminho como não santificados para Deus.

 

O lugar de nazireu é perdido 

Na segunda divisão de sua história, tudo muda! Não há ali nenhum vestígio do poder do “Espírito do Senhor”. Sansão perde o lugar de nazireu e cai nas mãos dos filisteus. Seus inimigos o cegam, uma prova, pelo menos para eles, de que Dagom é mais forte que Deus! Não é o que fez o povo de Deus hoje? Não perderam o seu nazireado, misturando-se com o mundano? E, assim, aceitando o mal, eles ficam cegos e cativos, e incapazes de quebrar suas amarras. Quão bem a Escritura pode dizer a tais pessoas: “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5:14).

 

Quando o cego Sansão é chamado para brincar diante dos príncipes dos filisteus em Gaza e quando ele se apoiou nas colunas da casa em que eles estavam, Deus ouviu seu clamor. E quando ele se inclinou com todas as suas forças, a casa caiu sobre ele e sobre todos os que estavam lá. “E foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara na sua vida”, mas ele mesmo cai na destruição deles.

 

Assim será com o mundo quando Deus remover a Igreja desta cena, como aconteceu com o próprio Sansão quando foi removido. Mais de seus inimigos serão destruídos em sua morte do que ela havia feito em sua vida, pois sua remoção será o sinal para os juízos esmagadores de Deus sobre a igreja professa, que, infelizmente, é somente o mundo!

 

A analogia com Laodiceia 

Há uma analogia com essas duas seções da história de Sansão nas duas últimas mensagens às sete Igrejas na Ásia: uma, do nazireado em poder e vitória; a outra, do nazireado perdido, e da cegueira e derrota. Encontramos essas duas características, claramente, em Filadélfia e em Laodiceia.

 

Filadélfia é de fato o caminho nazireu – aquele nazireado moral que encontra a aprovação de Cristo. Tudo é vitória com tal estado. No entanto, é um caminho no qual o segredo deve ser guardado entre Cristo e a alma. “Eu sei as tuas obras”: isso deve bastar ao coração sincero. Pode-se perguntar: “Diga-me onde está sua grande força?”, mas é um segredo que não deve ser revelado. Isso corresponde à primeira parte da história de Sansão.

 

Mas Laodiceia vem em seguida. Ela é cega, e seu nazireado foi perdido. Ela ainda se considera “rico... e estou enriquecido, e de nada tenho falta”, mas sua força se foi. Ela é aconselhada a ungir os olhos com colírio, para que possa ver. Ela é morna – nem fria nem quente, mas repugnante para Cristo: Ele vomitará tal estado de coisas de Sua boca.

 

Meus irmãos, há lições aqui para nossa alma! Talvez tenhamos que começar de novo; os dias de nossa separação anterior podem ter sido perdidos. Mas podemos começar de novo! Temos um Deus de misericórdia com Quem tratar, que revelou o que Lhe é agradável. Está chegando o momento em que a Igreja de Deus será removida, em sua última etapa aqui; então o julgamento dos filisteus ocorrerá. O Senhor, então, sairá para a batalha contra Seus inimigos, e exultarão “os santos na glória” (Sl 149:5).

 

“Retende-o até que Eu venha” 

Que Filadélfia então se lembre de que Ele disse: “o que tendes, retende-o até que Eu venha” e “que ninguém tome a tua coroa”. Está chegando o dia em que saberemos o significado das palavras: “e depois o nazireu pode beber vinho” (Nm 6:20). Será então de Cristo a bênção de José, que assim foi expressa: “O Todo-Poderoso, o Qual te abençoará... as bênçãos de teu pai... estarão sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça d’Aquele que foi separado [nazireado] de Seus irmãos”! (Gn 49:25-26). Os dias do Reino terão chegado, e aqueles que permaneceram firmes e andaram como nazireus aqui serão então reconhecidos. (A palavra “separado” em Gênesis 49:26 é a mesma que a palavra “nazireu” usada em outras partes da Escritura.)

 

Aqueles que se separaram para Davi no passado, nos dias de rejeição dele, receberam sua recompensa nos dias do reino. Mas as joias mais brilhantes da glória de Davi foram aqueles especialmente mencionados pelo nome, que enfrentaram esses inimigos especiais – “os incircuncisos”. Em 2 Samuel 23, onde lemos as últimas palavras de Davi, descobrimos que ele falou muito bem daqueles que venceram os filisteus.

 

F. G. Patterson (adaptado)

 

Sansão: A Serpente e o Leão

 

Juízes 14 

Somente Cristo cumpriu plenamente Seu nazireado, uma separação moral absoluta para Deus, durante toda a Sua vida aqui embaixo. Esse ainda é o caso no céu, onde Ele permanece o verdadeiro nazireu – “separado dos pecadores” (Hb 7:26).

 

Cristo encontrou Satanás em dois caráteres: no deserto, como a serpente astuta e enganadora, e, no final de Seu percurso, como o leão que ruge e que despedaça e devora.

 

No deserto, o Senhor enfrentou as ciladas do inimigo com a Palavra de Deus e total dependência d’Ele, e obteve a vitória. No início de sua carreira, Sansão também encontrou a serpente, que procurou seduzi-lo por meio de uma das filhas dos filisteus. É dito duas vezes que “ela muito lhe agradou” (vs. 3, 7 – TB). A partir desse momento, ele teve a intenção de se unir a essa mulher que pertencia à raça dos opressores de Israel. O mesmo acontece com o indivíduo ou com a Igreja quando surge um conflito com o enganador. Satanás, que não tinha nada em Cristo (Jo 14:30), facilmente encontra uma resposta em nosso coração. Isso não significa necessariamente que nós vamos cair, pois a graça e a Palavra que nos revela essa graça são capazes de nos manter. Apesar das tendências de seu coração, Sansão, mantido pela graça providencial de Deus, nunca se casou com a filha dos filisteus.

 

Desobediência à Palavra 

O desejo de Sansão mostrou que a Palavra de Deus não tinha o peso correto para ele. A Palavra era de fato explícita sobre este ponto: “nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, pois elas fariam desviar teus filhos de Mim, para que servissem a outros deuses” (Dt 7:3-4 – ARA). Cristo, o Nazireu perfeito, reconheceu a autoridade absoluta da Escritura e Se alimentou de toda Palavra que procede da boca de Deus. A falta do peso correto da Palavra de Deus para Sansão fez com que ele entrasse por um caminho descendente que só poderia levá-lo à queda.

 

No entanto, Sansão não era desprovido de afeição por Jeová e Seu povo. Está escrito: “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do SENHOR; pois buscava ocasião contra os filisteus” (v. 4). A dominação destes era odiosa para ele. Ele buscava uma oportunidade favorável para desferir o golpe que quebraria o jugo que pesava sobre os filhos de Israel. Mas Sansão não tinha olhos simples; ele trouxe um coração dividido para a obra. Tentando conciliar agradar aos próprios olhos com seu ódio contra o inimigo de seu povo, ele estava estendendo a mão esquerda para o mundo e, ao mesmo tempo, querendo combatê-lo com a direita. No entanto, Deus notou o que havia para Ele nesse coração dividido. “Isto vinha do Senhor” (v. 4), que podia usar até mesmo as fraquezas de Sansão para cumprir Seus propósitos de graça para com Seu povo.

 

Essa propensão de buscar no mundo o que “agrada aos olhos” levou Sansão a intermináveis dificuldades das quais apenas o poder de Deus poderia livrá-lo. Há muitos casos na Palavra nos quais um primeiro olhar voltado para o mundo envolve o crente em problemas irreparáveis.

 

Sansão estava em terreno escorregadio. Seus olhos estavam enamorados; ele desejava tomar essa mulher como esposa; pois a aliança com o mundo segue a concupiscência dos olhos. Então ele fez um banquete (v. 10), mas esse banquete teve um doloroso fim para ele.

 

O leão que ruge 

Antes de prosseguir, vamos levar em consideração o que precedeu o banquete na história de Sansão. Já dissemos que Satanás não apenas se apresenta como uma serpente, mas também como um leão que ruge. Foi nesse caráter que o Senhor Jesus o encontrou no Getsêmani e na cruz. Nada é mais aterrorizante do que o rugido do leão. Satanás procurou amedrontar a alma santa de Cristo para fazê-lo abandonar o caminho divino que levava ao sacrifício. No poder do Espírito Santo e em perfeita dependência de Seu Pai, o Senhor resistiu a ele no jardim do Getsêmani. Na cruz, onde ele abriu a boca contra Cristo “como um leão que despedaça e que ruge” (Sl 22:13), o Senhor na “fraqueza de Deus” (1 Co 1:25) venceu o “valente” e, por meio da morte, aniquilou seu poder (Hb 2:14). Satanás se apresenta exatamente da mesma forma aos filhos de Deus. “O diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5:8). Se ele não consegue nos enganar, ele tenta nos amedrontar.

 

Sansão foi então confrontado por um filho de leão, vindo contra ele do país dos filisteus, e aqui seu nazireado se manifestou em todo o seu poder, que é o do Espírito de Deus. “Então, o Espírito do SENHOR se apossou dele tão possantemente, que o fendeu de alto a baixo [despedaçou – TB], como quem fende [despedaça – TB] um cabrito, sem ter nada na sua mão” (v. 6). É assim que temos que agir ao encontrar Satanás. Não devemos poupá-lo nem um pouco, pois, se o fizermos, ele voltará ao ataque. Devemos, em nossa luta, despedaçá-lo como despedaçaríamos um cabrito. Ele não pode fazer nada conosco enquanto resistirmos a ele sem medo (veja Tiago 4:7; 1 Pedro 5:9); pois Jesus já o venceu por nós na cruz.

 

Compartilhando doçura pela vitória 

Mais tarde, Sansão, passando pelo mesmo caminho, virou-se para o lado para ver o corpo do leão morto e encontrou nele “um enxame de abelhas com mel” (v. 8). Ele comeu um pouco enquanto andava e deu um pouco aos pais. Como fruto da vitória de Cristo na cruz, todas as bênçãos celestiais foram colocadas em nossas mãos. Se obtivermos uma vitória sobre ele, nossa alma se encherá de força e doçura. Seremos capazes de compartilhar com outros o que recebemos; mas, como Sansão, que comeu enquanto caminhava, nossa própria alma terá sido alimentada primeiro. Nunca tratemos Satanás como um amigo; se o fizermos, sairemos de tal encontro derrotados e enfraquecidos.

 

Os segredos de Sansão 

A vitória de Sansão sobre o leão de Timna não foi apenas uma prova de força; era um segredo entre ele e Deus. Quando seus olhos foram atraídos para a filha dos filisteus, ele contou isso a seus pais: a respeito de sua vitória ele não contou a ninguém. A vida de Sansão era repleta de segredos e, ao mesmo tempo, de atos de poder. Até mesmo seu nazireado era um segredo, um elo, desconhecido dos outros, entre sua própria alma e Jeová. Esse elo para nós é a comunhão. Encontramos quatro segredos nesse capítulo. Sansão não havia divulgado suas intenções a seus pais, nem a parte que Jeová tinha nessas coisas (v. 4); ele não lhes havia contado sobre sua vitória (v. 6), nem o lugar de onde havia adquirido o mel (v. 9), nem seu enigma (v. 16). Tudo isso, mantido continuamente entre sua alma e Deus, era para ele o único meio de seguir um caminho de bênção no meio deste mundo.

 

Perda da comunhão 

Voltemos ao banquete de Sansão. Ele propôs seu enigma aos filisteus, mas o inimigo conseguiu roubar dele o que ele havia escondido com tanto cuidado. O mundo tem um efeito traiçoeiro sobre nós, levando à perda de nossa comunhão com Deus. Se nosso coração, como o de Sansão, de alguma forma se apegar ao que o mundo pode nos apresentar, não demorará muito para perdermos nossa comunhão. A ausência de comunhão não implica, a princípio, perda de força; é, no entanto, o caminho que leva a ela. Enquanto o nazireado existir, mesmo exteriormente, não faltará força, como Sansão provou aos filisteus na questão das trinta mudas de vestes. Mas esse homem de Deus teve muita paz e alegria durante os dias da festa? Pelo contrário, foi uma luta com lágrimas, preocupação e pressão (v. 17). Ele foi traído pela própria mulher de sua escolha. Sansão nunca teria pensado que seus trinta companheiros, ajudados por sua esposa, colocariam armadilhas para saqueá-lo, pois as trinta mudas de roupas por direito pertenciam a ele. Satanás pode nos separar da comunhão com o Senhor, pode nos tornar infelizes; ele também pode impedir que sejamos testemunhas aqui embaixo, mas graças a Deus, ele não pode nos arrancar da mão de Cristo.

 

A graça de Deus preservou Sansão das consequências finais de seu erro e o livrou de uma aliança que Deus não podia aprovar. Tendo vindo sobre ele o Espírito de Jeová, ele realizou obras poderosas. “Acendeu-se a sua ira” (v. 19). Sansão era um homem de um caráter muito egoísta e foi guiado em sua ação pelo senso do mal que lhe havia sido feito. Apesar disso, ele foi vitorioso sobre os inimigos do Senhor e não guardou para si nenhum dos seus despojos; estes voltaram ao mundo, de onde haviam sido tomados. Então ele deixou a cena de tanta infelicidade e “subiu à casa de seu pai” (v. 19), que ele nunca deveria ter deixado para ir para o meio dos filisteus. Que possamos tirar proveito dessa lição; e se, em nossa interação com o mundo, passamos por experiências dolorosas, apressemo-nos a retornar à casa do Pai. A comunhão com Cristo é a fonte da nossa paz e felicidade em todo o nosso caminho de peregrinação, até que chegue o momento em que entraremos para sempre naquela casa – nossa morada eterna!

 

H. L. Rossier (adaptado)

 

O Puro e Santo Nazireu

 

Além de outras e maiores glórias de Sua Pessoa, Cristo foi o Homem bem-aventurado que nunca andou no conselho dos ímpios, nem Se deteve no caminho dos pecadores, nem Se assentou na roda dos escarnecedores (Sl 1:1). Há outros homens bem-aventurados cujas transgressões são perdoadas, cujos pecados são cobertos (Sl 32). Mas Cristo foi o único Homem bem-aventurado que, considerado como nascido de mulher, nascido sob a lei, não tinha transgressões a serem perdoadas, nem pecados a serem cobertos. Antes, o deleite d’Ele estava na lei do Senhor, e na Sua lei Ele meditava de dia e de noite. Nisso, então, Ele estava sozinho, verdadeira e totalmente separado para o Senhor, totalmente separado do mundo para Deus. Aqui embaixo, em carne, Ele era o puro e santo Nazireu, bem-aventurado em Si mesmo. Todos os outros eram pecadores. Se esses foram bem-aventurados, eles foram bem-aventurados exclusivamente por meio d’Ele, e isso foi pela morte e ressurreição.

 

W. Kelly

 

O Leão e o Mel

 

Tenha em mente que Sansão veio ao mundo com o propósito expresso de derrotar os filisteus e, assim, libertar o povo de Deus. Vendo que essa era sua missão, não é de surpreender que um filho de leão, típico do poder de Satanás, rugisse contra ele.

 

Mas Sansão era mais do que páreo para o leão, e o rasgou como quem rasga um cabrito. Da mesma forma, todos os poderes das trevas se reuniram contra o Senhor Jesus Cristo, pois Ele veio para expor tudo o que era falso e estabelecer tudo o que era verdadeiro. Mas na morte Ele obteve a vitória; ao morrer, Ele derrotou o inimigo. Assim como o corpo morto do leão de Sansão produziu comida e doçura, a morte de Jesus produz vida e alimento para a alma e verdadeiro gozo para o coração. Vemos a realidade e a fidelidade do amor divino demonstradas naquele grande conflito e vitória, e devemos todas as nossas bênçãos a ele.

 

A mão que feriu o leão segurava o mel, e Sansão o compartilhou com seus pais, enquanto caminhavam em companhia dele. Era o fruto notável de sua vitória. O grande Antítipo disso deve trazer abundante gozo para nós. Toda bênção é mantida na mão poderosa que feriu o poder da morte, e é o deleite de nosso Senhor Jesus Cristo nos conceder daquilo que Ele detém de forma tão segura.

 

J. T. Mawson

 

Ele Não Sabia

 

Em Êxodo 34, descobrimos que “o rosto de Moisés... resplandecia”; estava radiante de glória, mas “Moisés não sabia”. Como foi isso? Ele estava ocupado com Deus, e não consigo mesmo. Ele havia estado no monte com Deus. Ele havia estado no brilho da glória divina, e isso fez seu rosto brilhar. Devemos saber o que é estar na presença de Deus se quisermos ser realmente piedosos. Nada mais produzirá isso. A ocupação com o mero conhecimento bíblico, com o devido cuidado exterior pela moralidade, pode ser uma imitação disso, mas maneiras reais, práticas e semelhantes a Cristo só podem fluir da comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. Devemos estar, pela fé, na presença de Deus, onde Jesus está agora, e, pela Palavra escrita e pelo Espírito, tendo nossa mente permeada com os pensamentos de Deus. Nosso coração deve estar sob o poder transformador do Seu amor. Somente assim seremos frutíferos e piedosos. Podemos não estar conscientes de que estamos crescendo em graça e piedade, assim como Moisés não estava ciente de que seu rosto resplandecia tão intensamente; no entanto, será assim. Deus sempre estará com aqueles que estão com Ele. “Aos que Me honram honrarei”.

 

Mas a Escritura também nos adverte contra o perigo de sair desse terreno abençoado de comunhão com o Senhor e recuar por meio da incredulidade. A história de Sansão contrasta notavelmente com a de Moisés a esse respeito. Sansão era um homem de fé com certeza, e Deus operou maravilhosamente com ele por Seu Espírito. Ele também era nazireu, estando no lugar de separação para Deus. Mas, depois de todas as vitórias da fé, ele se tornou descuidado e carnal. Dalila o atraiu e o enredou de tal forma que ele se tornou uma presa das sedutoras maquinações dela. Por fim, por meio dela, ele perdeu as tranças da separação de seu nazireado, e então sai a confissão solene, de que “ele não sabia que já o Senhor Se tinha retirado dele” (Jz 16:20). Quão particularmente solene é isso!

 

É-nos dito que Sansão saiu como das outras vezes. Antes disso, sempre que ele buscava a Deus, Deus sempre era seu Ajudador. Mas agora ele era abertamente, diante de todos, como um homem comum; ele havia perdido seu nazireado e não era mais um homem separado para Deus. Ele havia tratado essa sua posição com leviandade e a perdeu, e não conseguia mais resistir ao inimigo. Ele foi feito cativo, seus olhos foram arrancados, e o fizeram moer na prisão. Mais tarde, zombaram dele numa festa pagã. No final houve alguma recuperação, mas seu fim foi a destruição.

 

Que imagem comovente da miserável experiência de uma alma que se afastou do Senhor! Felizmente sabemos que, “se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9). Que possamos ser mantidos em nosso único lugar seguro, de real fraqueza sentida e abominação própria, apegados Àquele que disse “permanecei em Mim” (TB).

 

H. H. Snell

 

O Choro de Boquim

 

Confissão e humilhação convêm aos filhos de Deus nos dias de hoje. Nem a glória de Deus, nem a honra de Cristo, nem a presença do Espírito Santo foram fielmente cuidadas por nós. E a Igreja – onde está ela, e qual é a sua condição na Terra?

 

E o que é que impede tantos queridos de nós, e nós mesmos também, de perceber que Sua honra foi atacada? A verdadeira resposta, temo eu, é o mundanismo e a mentalidade terrenal – o fruto de nossas próprias ações. Acredito que um andar mais nazireu da minha parte e da parte de outros poderia dar poder para agir nas consciências e levar almas a se separarem de um caminho errado.

 

Reconheço que o estado baixo, mundano e de mentalidade terrenal dos santos é uma consequência de o Espírito Santo ter sido entristecido e extinguido.

 

G. V. Wigram

 

Consagração

 

Toma minha vida, e que ela seja

Consagrada, Senhor, a Ti;

Toma minhas mãos, e que elas se movam

Pelo impulso do Teu amor.

 

Toma meus pés, e que eles sejam

Ligeiros e belos para Ti;

Toma minha voz, e que eu cante

Sempre, apenas, para o Rei.

 

Toma meus lábios, e que eles sejam

Cheios de mensagens vindas de Ti;

Toma minha prata e meu ouro;

Nem um centavo eu reteria.

 

Toma o meu amor, meu Deus: derramo

Aos Teus pés o seu tesouro;

Toma-me a mim mesmo, e serei

Sempre, somente, todo para Ti.

F. R. Havergal

 

 

“Por eles Me santifico a Mim mesmo”

 Marcos 6:34

 

 

 


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