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Foto do escritorE. Dennett (1831-1914)

O Lar Cristão e Seus Deveres (Parte 2)


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ÍNDICE


 

Esposas


“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a Cabeça da Igreja, sendo Ele próprio o Salvador do corpo. De sorte que, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido” (Ef 5:22-24).


“Vós, mulheres, estai sujeitas a vosso próprio marido, como convém no Senhor” (Cl 3:18).


“Pra que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem [a se apegarem ao – JND] seus maridos, a amarem [a se apegarem aos – JND] seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada” (Tt 2:4-5).


“Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à Palavra, pelo procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra, considerando a vossa vida casta, em temor. O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (1 Pe 3:1-4).


“Teu desejo será para teu marido, e ele te dominará” (Gn 3:10).


O primeiro relacionamento que nos é apresentado, tanto em Efésios quanto em Colossenses, é o da esposa. Todas essas exortações, de fato, começam com aqueles de quem a submissão é requerida. Como alguém disse: “Este é o caráter do Cristianismo em nosso mundo maligno, no qual a vontade do homem é a fonte de todo o mal, expressando seu afastamento de Deus, a Quem toda submissão é devida. O princípio da submissão e da obediência é o princípio de cura da humanidade; só Deus deve ser trazido a ele para que a vontade do homem não seja o guia, afinal. Mas o princípio que governa o coração do homem no bem, é sempre e em toda parte a obediência. Devo ter que dizer que Deus deve ser obedecido em vez do homem; mas afastar-se da obediência é entrar em pecado. Como pai, um homem pode ter que comandar e dirigir; mas ele faz mal se não o fizer em obediência a Deus e à Sua Palavra. Esta era a essência da vida de Cristo: ‘Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade’.


Consequentemente, o apóstolo começa suas exortações, no que diz respeito aos relacionamentos, dando o preceito geral: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” (Ef 5:21). Deve-se observar que a leitura correta é “no temor de Cristo” (JND). Portanto, é de acordo com uma ordem divina que aquele que deve submissão nos relacionamentos, em cada um dos casos, deva vir em primeiro lugar; e, consequentemente, as esposas são tratadas antes dos maridos.


“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a Cabeça da Igreja, sendo Ele próprio o Salvador do corpo. De sorte que, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido” (Ef 5:22-24). Será visto nesta Escritura que a posição da esposa é de sujeição. Dizemos “posição” porque, como o leitor atento perceberá, a exortação é baseada no caráter do relacionamento. A esposa é de fato ordenada à sujeição, mas é com base no lugar que ela ocupa. Isso foi um tanto obscurecido pela inserção de duas palavras na tradução. Lemos: “assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido”; mas omita as palavras “sejam” e “sujeitas”, que foram introduzidas, como indicam os itálicos na versão King James e a ausência delas na versão J. N. Darby, temos então uma simples declaração de fato: “Assim como a Igreja está sujeitada a Cristo, assim também as mulheres a seus próprios maridos em tudo” (JND). É importante notar isso, porque a sujeição, que aqui é ordenada à esposa, é vista como aquela que deve fluir da posição em que ela está colocada – o fruto natural do relacionamento. Em outras palavras, a sujeição ao seu marido não é deixada à escolha da esposa, mas deve ser prestada por causa de seu lugar relativo. É este fato que o Espírito de Deus traz à nossa atenção.


1) A lei, então, da esposa é a vontade de seu marido; ou melhor, ela é colocada no lugar de sujeição à sua autoridade. Parece haver uma limitação a essa afirmação, indicada pelas palavras encontradas em Colossenses: “Vós, mulheres, estai sujeitas a vosso próprio marido, como convém no Senhor” (Cl 3:18). Se, portanto, a vontade do marido interferir na responsabilidade individual da esposa para com o Senhor – entrar em conflito com a vontade do Senhor, conforme expressa em Sua Palavra – se a alternativa for forçada sobre ela de obediência ao marido ou obediência ao Senhor, então o Senhor deve ter a reivindicação suprema. Com essa única exceção, a sua submissão ao marido deve ser completa. “De sorte que, assim como a Igreja está sujeitada a Cristo, assim também as mulheres a seu próprio marido, em tudo”. Portanto, não pode haver nenhuma exceção permitida além da que foi citada.


A base disso está na natureza do relacionamento: “porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja”. A comparação é assim traçada – sendo um o tipo ou figura do outro – entre a união de marido e mulher e a união de Cristo e a Igreja; e, consequentemente, entre a posição da esposa, por um lado, e a posição da Igreja, por outro. E se nos voltarmos por um momento para o que pode ser chamado em um aspecto, a instituição original do casamento, podemos ver quão notavelmente o mistério da Igreja foi prenunciado. “Então, o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem formou (edificou) uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa [“Isha”, em hebraico], porquanto do varão [“Ish”, em hebraico] foi tomada. Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2:21-24). Quem pode deixar de ver que, nessa figura, Cristo, o último Adão e a Igreja estavam diante da mente do Espírito de Deus? Tão claramente nos fala daquele sono mais profundo, da morte de Cristo e da formação da Igreja, por assim dizer, tirada de Seu lado. De fato, continua até o tempo mencionado em Efésios 5:27, quando a Igreja “será trazida ao Homem”, e quando Ele, na complacência de Seu perfeito amor pela noiva que “brotou” para Seu próprio gozo, a reconhecerá como “osso dos Meus ossos e carne da Minha carne” (Gn 2:23; Ef 5:30 JND).


A esposa, portanto, ocupa o mesmo lugar em relação ao marido que a Igreja em relação a Cristo; e, portanto, sua posição, como antes dito, é de sujeição. E pode ser necessário observar que o lugar dela não é de forma alguma afetado pelo caráter do marido. É bem verdade que sua posição pode, em muitos casos, tornar-se extremamente difícil. Por exemplo, uma esposa Cristã, convertida após o casamento, pode ter um marido ímpio e que torna sua vida tão miserável quanto possível pelo mal que há no coração dele; ainda assim, seu lugar permanece intocado por essa ou qualquer outra circunstância; e quanto mais difícil for a submissão, mesmo pela ausência de afeição por parte do marido, ou de características de caráter que exigiriam o respeito dela, mais cuidadosa ela deve ser para ocupar seu lugar em fidelidade ao Senhor. Assim como nossos deveres para com os reis, “as autoridades que há”, são totalmente independentes do caráter pessoal daquele que ocupa tal posição, o dever de uma esposa para com o marido nunca é alterado pelo caráter dele.


Pode parecer a alguns como se o dever da esposa, como assim explicado, fosse uma das palavras mais difíceis de receber. E para a natureza, sem dúvida, muitas vezes seria impossível. Mas observe a provisão feita para isso na Palavra: “Vós, mulheres, estai sujeitas a vosso próprio marido, como convém no Senhor”. Assim, o próprio Senhor é trazido diante da mente da esposa; e todos nós sabemos que as coisas que em si são cansativas e de fato intoleráveis são tornadas leves e alegres quando feitas para o Senhor. Então, no caso suposto, se a esposa mantiver o Senhor diante dela – ela vê o Senhor como se estivesse atrás de seu marido - ela achará a obediência fácil às ordens mais irracionais dele, porque então receberá tudo do Senhor.


Se, no entanto, “um marido ordenasse o que seria positivamente pecaminoso, então imediatamente a esposa aprende que não está presa, porque é dito que a sujeição ao marido é como ao Senhor. O Senhor nunca consentiria com o que é pecaminoso. Ele pode me colocar na peneira, e eu posso não entender a princípio o bem ou a necessidade disso; mas a fé constantemente encontra sua força e orientação na sabedoria do Senhor – em confiar n’Ele, e não na minha sabedoria para entendê-Lo. Mas temos que nos vigiar com muito cuidado neste assunto. Onde quer que haja a menor tendência a sair do caminho da submissão, temos que procurar e ver se somos sábios de acordo com Deus.


A natureza nunca gosta de se submeter. E onde quer que haja o perigo de alegar a verdade de Deus para qualquer ato que possa parecer uma falta de submissão à autoridade de outro, preciso me vigiar com maior zelo do que em qualquer outra coisa”.


2) A Escritura também aponta a maneira pela qual a esposa deve se comportar em relação ao marido. Assim, “a mulher reverencie o marido” (Ef 5:33). Pedro, da mesma maneira, fala do “vosso honesto comportamento cheio de temor” (1 Pe 3:2 - ARA). A palavra “temor” é a mesma que é traduzida como “reverência” em Efésios, e ensina que deve haver um reconhecimento, manifestado no comportamento, da posição que o marido ocupa na ordem e determinação de Deus. Não há pensamento de pavor escravo, mas simplesmente a reverência amorosa que procura agradar e teme ofender. Isso, de fato, surgirá naturalmente nela dando ao marido seu verdadeiro lugar – seu lugar como sua cabeça; e, portanto, ao render-lhe reverência, ela engrandece também a determinação de Deus.


É em tal esposa que, “o coração do seu marido está nela confiado.Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida”. E ele será, assim, levado a confessar que, “O que acha uma mulher acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do SENHOR” (Pv 31:11-12; Pv 18:22).


3) A Escritura também não é silenciosa quanto à bênção relacionada à aceitação fiel da verdadeira posição da esposa. O apóstolo Pedro, ao escrever sobre esse assunto, especifica o caso mais difícil de todos – o de uma esposa Cristã que tem um marido incrédulo. Não se deve supor que ele consinta com o casamento de um crente com um incrédulo. Isso é proibido, tanto expressamente quanto implicitamente (veja 1 Co 7:39; 2 Co 6:14-18); mas na Igreja primitiva deve ter acontecido continuamente que esposas convertidas – isto é, esposas convertidas após o casamento – se viam ligadas a maridos incrédulos e idólatras. (Veja 1 Co 7:10-16.) É desse grupo que o apóstolo fala quando diz, “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à Palavra, pelo procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra, considerando a vossa vida casta, em temor”. (1 Pe 3:1-2). Isso equivale quase a uma promessa de que a sujeição amorosa, a caminhada Cristã consistente e a pureza de vida serão abençoadas para a conversão de maridos ímpios; ou, se não tanto quanto isso, é pelo menos uma afirmação de que tal é o meio designado por Deus para trazer a verdade diante da mente e consciência deles. E o que, de fato, poderia ser mais eficaz do que a constante apresentação silenciosa de Cristo a um incrédulo durante a caminhada e a vida? É digno de particular observação que o apóstolo não pressiona à esposa a exortar seu marido a receber a verdade. É “sem palavra” que o marido deve ser conquistado – pela conduta (andar, comportamento, atitude, todo o modo de vida) da esposa. A razão é clara. A exortação seria a presunção de uma posição superior, esquecendo que o marido é a cabeça da esposa e, portanto, incompatível com a posição da esposa. Mas a beleza calma de uma vida refletindo, no poder do Espírito, gentileza, mansidão e humildade de Cristo, constituiria, na ordem e bênção de Deus, um apelo muito mais poderoso do que suas palavras, e provaria que os meios eficazes, talvez fosse a chance de ele ser trazido das trevas para a maravilhosa luz de Deus.


4) Existem outras direções para as quais se faz necessária uma advertência para uma visão completa do assunto; pois não podemos com segurança negligenciar uma única palavra que Deus, em Sua terna misericórdia, Se agradou em conceder para nossa orientação, durante o pouco tempo em que estamos esperando o retorno de nosso Senhor.


a) A primeira delas é quanto ao vestuário. O apóstolo prossegue assim: “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de joias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (1 Pe 3:3-4). Em total concordância com isso, pois é a mente do mesmo Espírito, Paulo escreve: “da mesma maneira as mulheres, em comportamento e em vestidos decentes, se adornem com modéstia e discrição, não com cabelo franzidos e ouro, ou pérolas, ou vestidos caros, mas aquilo que convém às mulheres que professam o temor de Deus, por boas obras” (1 Tm 2:9-10 – JND). Em ambos as passagens, reconhece-se a tentação que tantas vezes se apresenta à mente de uma esposa – de parecer tão bonita quanto possível aos olhos de seu marido e, ao mesmo tempo, estimular e alimentar a vaidade pessoal por adornos externos e vestes caras.


Ora, às vezes é dito que essas questões de adornos e vestes são deixadas para a consciência individual; mas é difícil entender tal linguagem à luz dessas precisas orientações. É bem verdade que, quando o coração está satisfeito com Cristo, pode não haver necessidade de sua aplicação; mas, se for esse o caso, o menor conhecimento das assembleias de Deus revela o humilhante fato de que elas são compostas de um número imenso de pessoas cujo coração não está assim satisfeito. Nada pode ser mais triste do que a cena que muitas vezes é apresentada à mesa do Senhor. Quando estamos assim reunidos pelo Espírito de Deus, é para anunciar a morte do Senhor até que Ele venha (1 Co 11:26). E certamente, ao nos lembrarmos d’Ele na morte, somos lembrados também de que por Sua cruz o mundo está crucificado para nós e nós para o mundo (Gl 6:14). Que contradição, portanto, se alguns, esquecidos do caráter já julgado da cena pela qual estamos passando, aparece lá com traços evidentes do Egito sobre eles. E como é doloroso para o próprio Senhor ver aqueles que estão professamente fora do arraial carregando Seu opróbrio, com tantos sinais externos de mundanismo no vestuário e ornamentos – evidências de estarem praticamente “vivos no mundo”, o que quer que seja verdade para eles diante de Deus.


Não é recomendável negligenciar o vestuário, ou mesmo o adorno; por outro lado, deve-se prestar atenção a isso, mas de acordo com a Palavra de Deus. Assim, Paulo diz que as mulheres devem se adornar com roupa decente; isto é, veste “moderada”, “bem ordenada”. Vestes que sejam do tipo condizente com o “espírito manso e quieto”, de modo que possa haver adequação entre o vestido e o caráter. Ornamentos também são permitidos; mas eles devem ser feitos, não de ouro ou pérolas, mas de boas obras, “como convém às mulheres que fazem profissão de temer a Deus” (JND). Todas as passagens que tratam desse assunto exigem a consideração, em oração, de todas as esposas Cristãs; e os resultados certamente seriam para a glória do Senhor em um testemunho exterior mais distinto do lugar da rejeição (em comunhão com os sofrimentos de Cristo) e da separação para a qual fomos chamados pela graça de nosso Deus.


b) Outra direção, especialmente para as esposas jovens, é a de que elas devem ser “diligentes nos trabalhos da casa” (Tt 2:5 – JND), ou, de acordo com a versão Almeida Corrigida, “boas donas de casa”. O significado em ambos os casos é o mesmo; pois as esposas são lembradas de que sua esfera de serviço é o lar e que nenhum trabalho ou prazer deve interferir em sua posição doméstica. Foi Deus Quem lhes deu o lar como seu campo de trabalho; e, portanto, é uma questão de fidelidade a Ele que elas o ocupem diligentemente.


c) Outras orientações especiais não precisam ser detalhadas; mas combinadas com as passagens anteriores, elas apresentam o padrão divino para a esposa; portanto, toda mulher Cristã que ocupa essa posição usará essas passagens especiais como seu espelho, e nunca é demais olhar para ele. Essa é uma esfera maravilhosa que a esposa é chamada a preencher; e ocupar-se com ela, em obediência à Palavra “como ao Senhor”, é a única coisa que lhe é dada a fazer. Salomão fala assim de tal esposa:


“A força e a glória são as suas vestes,

E ri-se do dia futuro.

Abre a boca com sabedoria,

E a lei da beneficência está na sua língua.

Olha pelo governo de sua casa

E não come o pão da preguiça.

Levantam-se seus filhos, e chamam-na bem-aventurada;

Como também seu marido, que a louva, dizendo:

Muitas filhas agiram virtuosamente,

Mas tu a todas és superior”.


(Pv 31:25-29 - ACF)

 

Maridos


“Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à Igreja; porque somos membros do Seu corpo. Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja. Assim também vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido” (Ef 5:25-33).


“Vós, maridos, amai a vossa mulher e não vos irriteis contra ela [não sejais amargos para com ela – JND] (Cl 3:19).


“Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus coerdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações” (1 Pe 3:7).


O dever do marido é tão simples quanto o da esposa. Como o dever dela está compreendido na palavra “sujeição”, o dele está contido na palavra “amor”. Com exceção de uma orientação enviada a uma classe especial (Tt 2:4), a esposa nunca é orientada a amar seu marido. É dado como certo que ela o fará; e, na verdade, ela raramente falha nessa direção. Mesmo que ela esteja em jugo desigual – esteja unida a alguém que não tenha a menor empatia por seus sentimentos mais santos e receba pouco amor além de indelicadeza, seu amor sobreviverá ao tratamento mais severo. Esmagado e pisado, ele surgirá e dará as boas-vindas diante da primeira demonstração de bondade com um abraço de perdão. O amor dela é uma fonte perene. Mas com o marido muitas vezes é o contrário. Com menos emoções ternas, absorvido por suas ocupações diárias e exposto, talvez, a tentações mais severas, ele corre o risco de esquecer sua responsabilidade de amar sua esposa escolhida ou de manifestar seu amor a ela. Por isso, o Espírito de Deus traz sua responsabilidade à mente e dá esta ordem: “Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5:25-26).


1) Consideremos qual deve ser o caráter do amor do marido como aqui ordenado. “Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja”. É um padrão muito maravilhoso; e sem dúvida aqui introduzido por causa do caráter que representa o verdadeiro casamento, porque o casamento primordial – o entre Adão e Eva – manifestou, em figura, a união entre Cristo e a Igreja. Isso deve sempre nos ensinar a santidade e o verdadeiro caráter do casamento diante de Deus. Então, podemos perguntar, qual era o caráter do amor de Cristo pela Igreja? A resposta é dada aqui. Primeiro, Ele provou isso dando a Si mesmo por ela (v. 25); e Ele deu a Si mesmo à morte por ela, e assim de fato comprou Sua noiva. “Ele entregou a Si mesmo, não foi somente Sua vida, por mais verdade que seja, mas a Si mesmo. Tudo o que Cristo era foi dado e dado por Ele mesmo; significa toda a devoção e entrega de Si mesmo. E agora tudo o que está n’Ele – Sua graça, Sua justiça, Sua aceitação com o Pai, Sua sabedoria, a excelente glória de Sua Pessoa, a energia do amor divino que pode Se dar a Si mesmo – tudo é consagrado ao bem-estar da Igreja. Não há qualidades, não há excelências em Cristo, que não sejam nossas em seus exercícios como consequência da entrega de Si mesmo. Ele já as deu e as consagrou para bênção da Igreja à qual Ele Se entregou para tê-la. Não só tudo é dado, mas foi Ele que deu; Seu amor cumpriu isso”. E essa entrega de Si mesmo é grandemente realçada quando nos lembramos de que foi na cruz que essa entrega foi consumada. Em segundo lugar, Seu amor é demonstrado ao santificar e purificar a Igreja com a lavagem da água pela Palavra (v. 26). Essa exibição de amor é uma coisa presente, aquela que acontece agora, e pela qual Ele amolda a Igreja a Si mesmo. “É importante observar que Cristo não santifica aqui a Igreja para torná-la Sua, mas a torna Sua para santificá-la. Ela primeiro é d’Ele, depois Ele a adapta a Si”. O meio é a Palavra, a lavagem da água pela Palavra, a verdade ensinada em João 13 pelo lavar dos pés dos discípulos pelo Senhor. E lá, lembremos-nos disso, está em conexão com o Seu amor. “Como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. A santificação e purificação da Igreja é, portanto, a expressão de Seu amor permanente e imutável – amor que encontra seu prazer em torná-la moralmente adequada a Si mesmo e, portanto, nunca Se cansa de vigiar, cuidar e prepará-la para Si mesmo. Em terceiro lugar, o fruto de Seu amor é visto no objeto que está diante d’Ele – “para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Isso se refere ao tempo em que o Senhor terá retornado para receber Sua Igreja para Si, ou mais exatamente, ao período indicado quando é dito: “vindas são as bodas do Cordeiro” (Ap 19:7), quando a Igreja como Noiva está aperfeiçoada em glória, “E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente” (Ap 21:11). E nunca até então a medida e a extensão do amor de Cristo pela Igreja serão apreendidas, porque só então seu efeito e consumação serão exibidos.


E por que temos essa maravilhosa descrição do amor de Cristo pela Igreja? Para mostrar qual deve ser o caráter do amor do marido por sua esposa. “Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja. Sem forçar demais a comparação em todas as suas partes, ainda não podemos deixar de observar que, como o amor de Cristo precedeu Sua entrega pela Igreja, então não pode haver uma verdadeira união aos olhos de Deus a menos que tenha surgido do amor. O amor, e somente o amor, deve ser o motivo da escolha; e o amor deve consolidar e embelezar a união quando formada. Todo o elemento da vida conjugal deve ser o amor; e não apenas isso, mas se o marido olhar para o padrão aqui dado, ele verá que a única e constante exigência que a esposa fará a ele é por amor. O amor dele deve suportar – sobreviver a todas as provações, buscando incansavelmente aproximar sua esposa cada vez mais de si mesmo, e sempre mantendo diante dele (quanto à Terra) o objeto de uma união que, como surgiu, só pode ser consolidada por um amor imutável e infatigável. Nada menos do que isso pode ser pretendido por esse modelo divino. Uma aplicação especial talvez não esteja fora de lugar. Muitos maridos Cristãos se encontram unidos a uma incrédula; mas seu dever permanece o mesmo. E assim como o amor de Cristo busca a bem-aventurança eterna da Igreja, o amor do marido não se satisfará em procurar garantir o conforto e a felicidade presentes de sua esposa; mas será exibido no ministério vigilante e terno daquela Palavra que traz o conhecimento da salvação, por meio da fé no Senhor Jesus. Todo marido, de fato, sentirá a obrigação de cuidar do bem-estar espiritual de sua esposa; pois é nessa direção que seu amor mais de perto compartilhará o mesmo caráter que o amor de Cristo pela Igreja. Verdadeiramente, portanto, o casamento, de acordo com Deus, não é uma coisa sem importância; e quanto mais profundamente isso for sentido, maior será a necessidade de dependência constante do marido, a fim de cumprir de alguma forma sua responsabilidade. E, pode-se acrescentar, quanto mais constantemente ele mesmo permanece na percepção do amor de Cristo, mais livremente seu amor fluirá para com sua esposa.


2) Mas novamente é acrescentado: “Assim devem os maridos amar sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à Igreja; porque somos membros do Seu corpo. Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja. Assim também vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido” (Ef 5:28-33). Aqui somos levados de volta, como foi observado, ao jardim do Éden, à criação e apresentação de Eva a Adão, que em si é uma figura manifesta da união entre Cristo e a Igreja; e esse fato explica a maneira pela qual o apóstolo tece as duas coisas nessas exortações. (Veja Gn 2:21-25). A união é assim considerada tão completa – como Adão disse de Eva: “Esta é agora osso de meus ossos e carne da minha carne”; e novamente: “serão ambos uma carne” – ou seja, cada homem deve amar sua esposa como a seu próprio corpo. Nesse aspecto, o amor-próprio deve ser a medida do amor de um homem por sua esposa; e como este é um dos instintos de nossa natureza – e naturalmente seu princípio governante – é impossível conceber uma direção mais definida e abrangente. Que, portanto, a unidade da união – eles dois serão uma só carne – seja apreendida, e o amor seguirá; pois o marido então não considerará mais sua esposa como uma parte distinta, mas como parte de si mesmo. Assim, o que quer que a toque, o tocará; e seu amor-próprio, movendo-se agora em um círculo mais amplo, a inclui, e tudo o que afeta e diz respeito a ela, estará dentro de sua esfera. Tudo o que ele deseja para si mesmo, ele também desejará para sua esposa; todo o cuidado que ele exerce para si mesmo, ele exercerá por ela; e tudo o que ele recebe, ele receberá por ela, bem como por si mesmo. Em uma palavra, todo o bem que ele busca e todo o mal que ele desaprova, ele também procurará e desaprovará por sua esposa, assim como por si mesmo; pois juntos eles são “uma só carne” e, portanto, aquele que ama sua esposa ama a si mesmo. A Palavra de Deus fornece assim um antídoto perfeito contra o egoísmo e conduz o marido ao sacrifício próprio, que é o fruto de todo o amor verdadeiro, e que encontra sua mais alta exemplificação em Cristo, que amou a Igreja e Se entregou por ela.


Dissemos que o amor-próprio deve ser a medida, no aspecto considerado, do amor do marido por sua esposa; mas é notável como isso também está ligado a Cristo, ensinando-nos que em nenhum amor-próprio humano, mas apenas no amor de Cristo pela Igreja, seu verdadeiro padrão e exemplo podem ser encontrados. Pois, mostrando o outro lado, o apóstolo prossegue: “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor [1] à Igreja”.

 

[1] N. do A.: “Cristo” é a correta leitura. Sendo, portanto, a esposa “uma só carne” com seu marido, ele deve nutri-la e valorizá-la, assim como Cristo à Igreja. Que alturas e profundidades estão contidas nessa comparação! Mostrando de fato que a dívida do amor nunca é paga, mas sempre devida. E, no entanto, esse amor se deleita em reconhecê-lo e em pagá-lo sempre, generosamente, com cuidado e ternura por aquela que assim se tornou uma com ele aos olhos de Deus.

 

Isso deve ser acrescentado novamente, pois se quisermos ter uma percepção completa da responsabilidade, essa obrigação de amor também independe do caráter da esposa. Nenhuma quantidade de indignidade na esposa, a não ser o único pecado especificado por nosso Senhor, pode desculpar o marido do dever do amor; pois Cristo ama a Igreja incessantemente, e apesar de todas as falhas e fracassos, e ainda pior; sim, Ele está até mesmo procurando afastá-la de suas falhas e purificá-la de suas contaminações por Sua perfeita caridade; e Seu amor, seja isso sempre lembrado, é o modelo daquele do marido. Pode ser que ele deixe de copiá-lo em sua infinita perfeição; mas, não obstante, é Seu amor que o marido deve ter diante de seus olhos. Contemple nisso a sabedoria de Deus; pois aqui está a provisão para direcionar o olhar do marido para Cristo, para mantê-lo diante de sua alma, e assim ele certamente será atraído à imitação de Seu amor; pois ninguém jamais falhou enquanto seus olhos e coração estavam fixos em Cristo.


3) O apóstolo Pedro se limita a certos aspectos da responsabilidade do marido. “Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus coerdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações” (1 Pe 3:7).


Coabitar com a esposa “com entendimento” é ter o relacionamento e os afetos adequados a ele ordenados pela verdade, pelo conhecimento que o Cristão tem do relacionamento aos olhos de Deus. E isso é extremamente importante; pois aqui reside a diferença entre o crente e o incrédulo nessas posições relativas; e cabe ao Cristão agir, em tudo isso, de acordo com o novo lugar em que ele foi trazido pela morte e ressurreição de Cristo. O marido Cristão, portanto, habitará com sua esposa de acordo com a verdade de sua união com ela, conforme revelada na Escritura.


Além disso, ele deve honrar sua esposa, e isso por dois fundamentos. Primeiro, no terreno natural, porque ela é o vaso mais fraco. Não há dúvida de que essa referência é à estrutura e à constituição mais delicadas da mulher, exigindo e merecendo um tratamento mais gentil e terno. De modo que, assim como a fraqueza constitui uma reivindicação de força para consideração e apoio, a esposa, como “o vaso mais fraco”, tem uma reivindicação sobre o marido por vigilância e cuidado atenciosos e amorosos. Ele deve dar-lhe honra, prestando a ela toda a atenção que sua natureza mais delicada exige. É possível, no entanto, que possa haver uma referência ao fato de que “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2:14), e assim ela mostrou ser “o vaso mais fraco”, sendo a primeira a cair por meio da sutileza do diabo. Mais vulnerável, especialmente por meio dos afetos, ela precisa e exige de seu marido cuidados vigilantes e ternos para protegê-la das tentações peculiares às quais, com sua natureza mais fraca, ela está constantemente exposta. Mas, em segundo lugar, essa exortação é fundamentada na graça, bem como na natureza, “porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida” (1 Pe 3:7 – ARA). Em Cristo não há homem nem mulher (Gl 3:28 – ARA). Todas as distinções naturais, portanto, como constituindo qualquer superioridade relativa em Cristo, são abolidas. Ainda que o marido reivindique a sujeição natural de sua esposa, ele nunca deve esquecer que, se ambos são filhos de Deus, eles são juntos “herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8:17). E, como tal, ele deve honrar sua esposa; pois esses laços naturais e essas conexões conjugais são apenas para a Terra; e quando o Senhor vier para receber Seu povo para Si mesmo, maridos e esposas serão igualmente arrebatados nas nuvens, para encontrar o Senhor nos ares; e então ambos serão semelhantes a Cristo e estarão para sempre com Ele.


A atenção a essa determinação é mais necessária pelo motivo dado, “para que não sejam impedidas as vossas orações”. Pressupõe-se que marido e mulher se unam habitualmente em oração; e, portanto, o aviso é que qualquer falha do marido em honrar sua esposa tenderá a perturbar a harmonia de sentimentos e, assim, impedir a oração. Seria bom se todos os maridos e esposas Cristãos ponderassem essas palavras com frequência. Pois nas atividades deste tempo presente há grande perigo de negligenciar essa união em oração; e a menor perturbação da concórdia sempre os tentará a negligenciá-la ainda mais. Satanás sabe disso e, portanto, sempre procura obscurecer a paz desses relacionamentos; pois ele não se esquece de que é impossível para marido e mulher irem juntos ao trono da graça quando há discórdia, por menor que seja, no coração deles. O marido deve vigiar contra essa armadilha, lembrando-se da importância de suas orações não serem impedidas. Pois quantas coisas estão constantemente ocorrendo em cada família que precisam ser derramadas diante de Deus! E como é abençoado quando marido e mulher podem ir juntos, com um só coração, em relação a toda dificuldade e perplexidade, ao trono da graça!


4) Há uma coisa que o marido é ensinado a evitar: “Vós, maridos, amai a vossa mulher e não vos irriteis contra ela [não sejais amargos para com ela – JND] (Cl 3:19). Pode-se pensar que, se o amor fosse garantido, não haveria lugar para a amargura. Mas é assim na experiência real da vida? Muitos maridos que verdadeiramente amam sua esposa proferem, em momentos de falta de vigilância, quando estão fora da presença de Deus, palavras precipitadas, que são tão amargas quanto fel para um coração terno. O objetivo da advertência parece, portanto, o de garantir o exercício constante de um espírito de julgamento próprio, para que o marido possa evitar tudo o que possa incomodar ou irritar o espírito de sua esposa. A amargura – qualquer que seja a provocação – deve ser cuidadosamente evitada; e isso será feito com mais facilidade se ele se lembrar de sua responsabilidade de amar sua esposa, assim como Cristo amou a Igreja e Se entregou a Si mesmo por ela.


Tais, então, são as exigências divinas para o marido. Talvez pudéssemos nos esquivar delas, se não nos lembrássemos de que Aquele que os ordena está sempre à mão para suprir a graça necessária e nos capacitar a andar de acordo com Sua Palavra. O poder para tal caminhada é encontrado no Espírito Santo que habita em nós; e na medida em que Ele sempre nos leva a Cristo, descobriremos que o caminho assim indicado é de paz e bênção, levando-nos ao gozo de uma comunhão que antecipa, de forma evidente, aquela entre Cristo e a Igreja. Como Cristo para a Igreja, assim é o marido para a esposa. Portanto, para cumprir os deveres de um marido, é necessário que Cristo, em Seu amor pela Igreja, esteja sempre diante da alma; e então, se os olhos estiverem voltados para Cristo, haverá transformação à Sua semelhança (2 Co 3:18) e a consequente expressão de Cristo no relacionamento que o marido mantém com sua esposa.


Edward Dennett

 


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